Jupiter comportamento Liquid Library romance. “Sofrem menos de amor e por amor, mas também vivem menos intensamente suas relações descartáveis. Os jovens acham que perdem alguma coisa se ficarem só com um: ‘Muito é melhor do que um’. Experiência é melhor do que compromisso em um universo que cresceu aprendendo a deletar o que não interessa, o que exige sacrifício e trabalho”, revela. Dr. Thiago ressalta que essa realidade efêmera vai além do namoro. “A abreviação do tempo está presente em vários outros cenários da contemporaneidade, como nos vínculos empregatícios e na rarefação dos relacionamentos outrora sólidos e duradouros, tais como os de vizinhança, amizade e familiares”, frisa. Namoro na internet Romantismo, lealdade, companheirismo... O namoro ainda tem espaço nos relacionamentos atuais? gabriela jaya AGÊNCIA UNIPRESS INTERNACIONAL n ão é nenhuma novidade afirmar que o perfil dos jovens mudou muito conforme os anos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto LatinPanel, de São Paulo, apontou que cerca de 3,3 milhões de famílias – com renda superior a R$ 9.000 – são formadas por jovens cangurus, ou seja, não largam a casa dos pais. Entre 25 e 29 anos, 62% permanecem debaixo do mesmo teto; dos 30 aos 34 anos, 30%; e entre os que têm de 35 a 39 anos, 15%. Esses dados podem ajudar a reafirmar o conceito de que a juventude de hoje prefere focar estudos e sucesso profissional antes de buscar um namoro sério e, consequentemente, constituir família. Dessa forma, mergulham em relacionamentos relâmpagos, superficiais e sem compromisso. Na contramão da tendência, a estudante Isabela Mota, 16 anos, afirma que já “ficou”, mas descobriu que essa “onda” não é para ela e diz que agora só beijará alguém se for para namorar, com grande possibilidade de dar certo. Moisés Franco, 18 anos, concorda com a atitude da moça – eles estão desde março conversando para se conhecerem melhor. Românticos, eles querem dar o primeiro beijo – e iniciar o namoro – dia 12 de junho, pois assim será uma data marcada para sempre na vida do casal. “Espero que esse namoro seja especial, único e verdadeiro, com muito companheirismo e conFabríc Alfredoia e fiança. Pretendo ficar muito tempo com ele e, se tudo der certo, quem sabe a gente não case e conte essa história para os nossos filhos”, prevê. De acordo com o psicote- rapeuta de casais Thiago de Almeida, pesquisador pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (Departamento de Psicologia Experimental/USP), o namoro mudou com o tempo, modernizou-se, mas não perdeu a importância para os casais. “Hoje, de uma forma geral, o relacionamento entre namorados é mais aberto, existe mais diálogo e liberdade”, explica. Para a antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mirian Goldenberg, a maioria dos jovens alimenta a ideia de que se relacionar sem compromisso é muito melhor do que se comprometer com uma única pessoa, tornando tudo mais provisório, com menos encantamento e brary e quid Li 14 • P L E N I T U D E : junho . 2009 . fotos Li Cerca de 80% dos jovens internautas entre 5 e 18 anos de todo o Brasil preferem sites de relacionamento, 27% disseram já ter encontrado com amigos que conheceram pela internet e 65% foram a esses encontros sozinhos sem o conhecimento dos pais. Os dados são de uma pesquisa divulgada, ano passado, pela organização não-governamental SaferNet, responsável pela Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, que atua em parceria com o Ministério Público Federal de São Paulo. Apesar de ser maior de 18, o analista de sistemas Alfredo de Nunes Rodrigues, hoje com 25, já fez parte da lista de pessoas que frequentam as salas de bate-papo e foi “bem-sucedido” na busca por um amor na web. Em julho de 2006, ele começou a namorar a engenheira química Fabrícia de Souza Moreira, 27 anos, com quem vai se casar em outubro deste ano. O analista de sistemas conta que não foi fácil encontrar alguém com quem realmente pudesse ter um relacionamento sério, mas afirma que a internet foi uma grande aliada e que valeu a pena. “Sou caseiro e muito tímido. As pessoas assim têm mais dificuldade de encontrar alguém ideal na maneira tradicional. Na internet, o conhecimento começa pelas partes mais importantes, que são as afinidades e personalidades. É claro que a química e o contato também são importantes, mas como primeiro passo é ótimo, principalmente para os tímidos”, brinca. Fabrícia concorda: “Eu jamais encontraria o Alfredo se não fosse por meio da internet. Nós vivemos em ambientes diferentes, e mesmo se a gente se esbarrasse por este mundo, talvez não repararíamos um no outro porque eu também sou tímida”, ressalta a engenheira. O psicólogo Thiago de Almeida salienta que muito ainda se discute sobre a efetiva contribuição da inter- net para unir ou separar casais. “A internet pode ajudar algumas pessoas a encontrar seus pares ou mesmo fazer amigos. Pessoas tímidas, inseguras e com pouco tempo para lazer podem se beneficiar de suas facilidades. Contudo, a rede também pode atrapalhar ou destruir relacionamentos. Além disso, oferece riscos em sites não confiáveis e é um meio usado por pessoas que atraem outras somente para se aproveitarem. É necessário estar atento quanto ao uso da web na busca por relacionamentos. Todo cuidado é pouco”, alerta. O que as pessoas realmente querem? Hoje em dia, começar e terminar uma relação é muito mais fácil do que outrora, o que contribui para que muitos indivíduos vivam em busca de algo que eles mesmos não sabem o que é. Ter claro qual o seu objetivo com a outra pessoa ajuda o solteiro a conseguir um relacionamento sério e a evitar frustrações. Antes de iniciar um namoro, é importante se questionar: “Para que eu quero esta pessoa? Amizade, paquera ou namoro?” O psicólogo Thiago de Almeida explica que, em geral, a queixa da sociedade é sobre a dificuldade de se encontrar alguém com qualidades, com conteúdo e que não fuja de um compromisso. “Em suma, tanto antigamente quanto nos dias de hoje, as pessoas querem as mesmas coisas: amor, felicidade, confiança, companheirismo, relação estável. Mas o que acontece é que muitas tiram proveito dos relacionamentos amorosos ocasionais que vão surgindo, até encontrarem quem realmente procuram”, declara. élio José C . junho . 2009 : P L E N I T U D E • 15