Ciência Para a Sustentabilidade: o Desafio de Investigar Sistemas Complexos Tema Estudos sobre a interação entre ambiente e sociedade abrangem questões relevantes à busca pela sustentabilidade e aos efeitos das mudanças ambientais globais. O debate sobre como a pesquisa pode contribuir para a sustentabilidade do manejo de recursos naturais ganhou força desde o Relatório Brundtland (1987), o qual propagou o termo desenvolvimento sustentável. Mais recentemente, o relatório do grupo de trabalho I do “Intergovernmental Panel on Climate Change” (IPCC) apresentou relatório demonstrando fortes evidências da existência de aquecimento global em conseqüência da ação humana (“The Physical Science Basis”, IPCC 2007a). Os relatórios do grupo II, “Impacts, Adaptation and Vulnerability” (IPCC 2007b), e do grupo III, “Mitigation” (IPCC 2007c), sumarizam o estado do conhecimento atual e indicam a necessidade de pesquisas na interface de ciências sociais e naturais. A ciência para a sustentabilidade investiga sistemas complexos nos quais processos diversos se unem para produzir mudanças. O amadurecimento da pesquisa em ambiente e sociedade traz à tona o desafio de coligar estudos tradicionalmente delimitados em fronteiras bem definidas. Objetivos O objetivo deste estudo é contribuir para o debate sobre os desafios de conectar a ciência produzida pelas diversas áreas do conhecimento que tratam da questão ambiental. Historicamente, diferentes disciplinas dividem a complexidade em sistemas fechados e com fronteiras bem definidas que podem ser estudados de um ponto de vista externo. Eu discuto que a ciência para a sustentabilidade envolve a investigação de sistemas complexos por meio de perspectivas integradoras de pesquisas sociais e naturais. Além disso, proponho que, para que possamos atravessar as fronteiras convencionais entre as áreas do conhecimento, precisamos também nos preocupar com as fronteiras entre ciência e interpretação da ciência. Metodologia e Informações Utilizadas Descrevo brevemente o contexto histórico que contribuiu para que as ciências naturais e sociais incorporassem a questão ambiental em suas agendas de pesquisa, considerando como marcos os movimentos ambientalistas que se iniciaram na década de 1960 e a Conferência Mundial Sobre o Meio Ambiente de 1972 em Estocolmo. No contexto atual, analiso as agendas de pesquisa de dois dos programas internacionais de pesquisa associados ao EESP (“Earth System Science Partnership”, uma parceria para estudos integrados do sistema terrestre, mudanças ambientais e implicações para a sustentabilidade global e regional). Analiso os planos científicos dos programas o IHDP (“International Human Dimensions Programme on Global Environmental Change”), o programa de pesquisa sobre as dimensões humanas das mudanças ambientais globais, e a DIVERSITAS, o programa internacional de pesquisa sobre Biodiversidade, de forma a levantar pontos de semelhança e diferença entre as mesmas, tanto em termos de marcos teóricos, como de desafios metodológicos. Discuto os pontos de intersecção e as disparidades encontradas e analiso maneiras de associá-los. Associo as agendas de pesquisa dessas entidades com as recomendações dos relatórios recentes do IPCC. Parte dos Resultados Apresento pontos relevantes ao debate sobre a associação de saberes de diferentes áreas do conhecimento relacionados à questão ambiental. Primeiramente, a incorporação de incertezas como fonte de informação foi encontrada nas diferentes agendas de pesquisa. Em segundo lugar, a questão das opções que precisam ser feitas quando as escalas espaciais e temporais dos estudos são determinadas permeia as diferentes agendas de pesquisa, bem como a associação de conhecimentos produzidos em escalas diferentes. Em terceiro lugar, encontrei o debate sobre a detecção de padrões e a explicação de processos em áreas do conhecimento distintas, sendo que o contraponto entre estudos de caso mais detalhados e abordagens mais generalizáveis não parece ser exclusividade de uma ou outra área do conhecimento. Por último, discuto que a necessidade do estreitamento da interface entre ciência e política é destacada nas agendas de pesquisa dos dois programas. Conclusões Parciais, Reflexões Sobre os Resultados, Propostas ao Debate As mudanças ambientais globais e suas implicações para a sustentabilidade regional e global demandam estudos integradores de conhecimentos de diferentes áreas do conhecimento. A associação de conhecimentos de áreas historicamente distintas traz à tona o desafio de atravessar os limites de sistemas fechados. As agendas de pesquisa de dois dos programas de pesquisa internacionais relacionados à temática da interação entre ambiente e sociedade contem, ao mesmo tempo, diferenças e pontos de intersecção. Discuto que não há uma abordagem única ou linear que possa explicar a interação entre sociedade e ambiente. A incorporação de incertezas como fonte de informação, as implicações decorrentes das decisões de estudar diferentes escalas espaciais e temporais e a compreensão de processos que levam aos padrões detectados em pesquisa são pontos de intersecção entre as diferentes áreas de conhecimento que podem auxiliar a aproximação entre investigação cientifica e interpretação da ciência. Referências Bibliográficas Brundtland, G. Our Common Future: From One Earth to One World. Nova York: Oxford University Press, 1987. Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC. Summary for Policymakers. In: SOLOMON, S. et al. (Eds.). Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge: Cambridge University Press, 2007a. p. 2-18. Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC. Summary for Policymakers. In: PARRY, M. L. et al. (Eds.). Climate Change 2007: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge: Cambridge University Press, 2007b. p. 7-22. Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC. Summary for Policymakers. In: METZ, B. (Eds). Climate Change 2007: Mitigation. Contribution of Working Group III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge: Cambridge University Press, 2007c. p. 2-24.