MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA (Real Academia De Artilharia, Fortificação E Desenho - 1792) AVALIAÇÃO MICROESTRUTURAL DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX 1° Ten Tamara Indrusiak Silva Rio de Janeiro 2013 MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA (Real Academia De Artilharia, Fortificação E Desenho - 1792) AVALIAÇÃO MICROESTRUTURAL DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX ENGENHARIA DE MATERIAIS Relatório Final de Projeto de Fim de Curso - IME Orientador: Fabio Pereira Alves c2013 2 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha Rio de Janeiro - RJ CEP: 22290-270 Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento. É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade dos autores e do orientador. 669.14 5586a Silva, Tamara Indrusiak Avaliação Microestrutural de juntas soldadas de aço inoxidável /Tamara Indrusiak Silva; orientado por Fabio Pereira Alves. - Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2013. 83 p.: il. Projeto de Fim de Curso - Instituto Militar de Engenharia – Rio de Janeiro, 2013. 1. Engenharia de Materiais. 2. Caracterização Microestrutural. 3. Aço Inoxidável Superduplex. 4. Corrosão por pite. 5. Fases deletérias. I. Tamara Indrusiak Silva. II. Alves, Fabio Pereira. III. Título. IV. Instituto Militar de Engenharia. CDD 669.14 3 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA 1º TEN TAMARA INDRUSIAK SILVA AVALIAÇÃO MICROESTRUTURAL DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇO INOXIDÁVEL SUPERDUPLEX Projeto de Fim de Curso apresentado ao Curso de Graduação do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para obtenção do título de Graduado em Engenharia de Materiais. Orientador: Fabio Pereira Alves – M.Sc. Aprovada em 14 de novembro de 2013 pela seguinte Banca Examinadora: _____________________________________________________________ Cap Fabio Pereira Alves – M.Sc. ____________________________________________________________ Prof.ª Leila Rosa de Oliveira Cruz– D.C. _____________________________________________________________ Maj Wagner Anacleto Pinheiro– D.C. _____________________________________________________________ Prof. Paulo Cesar Dahia Ducos– D.C. Rio de janeiro 2013 4 RESUMO Os aços inoxidáveis superduplex (AISD) são muito utilizados por diversos segmentos da indústria “offshore” devido excelente resistência à corrosão combinada com boa resistência mecânica. No caso do emprego em tubulações, a soldagem é muito utilizada na união desses tubos em que muitas vezes com a realização de múltiplos passes de solda. Esses passes múltiplos, por terem sucessivos reaquecimentos devido ao passe posterior, podem causar mudanças microestruturais e levar ao surgimento de fases deletérias ou mesmo ao desequilíbrio entre as fases ferrita e austenita, situações que comprometeriam a resistência à corrosão. Assim, este trabalho a avaliou a queda da resistência à corrosão de juntas soldadas de AISD pelo processo GTAW orbital em corpos de provas (CP) com juntas de aporte térmicos 1,5 KJ/mm. Então, os CP foram submetidos a metalografia e em seguida as juntas foram caracterizadas por difração de raios X, microscopia ótica e eletrônica de varredura com a finalidade de justificar as possíveis causas do resultados de ensaio de corrosão ao qual foi submetido. Verificou-se que as regiões que mais sofreram com a corrosão por pite foram a dos passes de enchimento e a dos passes de acabamento, isso ocorreu devido ao intenso reaquecimento destas regiões pelos passes posteriores, ocasionando um desequilíbrio de fases, com a presença predominante de austenita secundária intragranular e evidências de nitretos de cromo. A difração de raios X confirmou algumas das constatações obtidas por microscopia ótica e de varredura. Conclui-se a precipitação dos nitretos de cromo e austenita secundária intragranular, devido aos intensos reaquecimentos, promoveram a queda da resistência à corrosão ocasionando elevado número de pites nas regiões de passes de enchimento da junta soldada. Palavras-chave: caracterização microestrutural, aço inoxidável superduplex, corrosão por pite, fases deletérias. 5 ABSTRACT Super duplex stainless steels (SDSS) are widely used in many segments offshore industry due to excellent combination of corrosion resistance and good mechanical strength. When used in pipes, welding is used in the union of these tubes that often conducting multiple weld passes. These multiple passes induce successive reheating and may cause microstructural changes that probably appear secondary phase or instability phases between the ferrite and austenite so that provoke the falling corrosion resistance. This study evaluated the falling corrosion resistance in SDSS of orbital GTAW welded joint in specimens that welded with heat input 1.5 KJ / mm. Then specimens were put under metallography and the welded joints were characterized by X-ray diffraction, optical microscopy and scanning electron microscopy so that to justify the possible causes of corrosion test to which it was submitted. It was found the regions that have more pitting corrosion were filler and finish passes. It’s happen because of intense reheating these regions by subsequent passes , causing instability phases , with predominant presence secondary austenite and evidences of chromium nitrides . The X-ray diffraction confirmed some of the findings obtained by optical microscopy and scanning electron microscopy. We conclude the precipitation of chromium nitrides and intragranular secondary austenite promoted the falling corrosion resistance causing by high number of pits in the regions of filler passes. Keywords: microstructural characterization, super duplex stainless steel, corrosion, secondary phases. 6 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 17 1.1 OBJETIVO ....................................................................................................................................... 18 2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 18 2.1. AÇO INOX DUPLEX E SUPERDUPLEX ................................................................................ 18 2.2. METALURGIA FÍSICA............................................................................................................. 19 2.2.1. PRECIPITAÇÃO DE FASES SECUNDÁRIAS ................................................................ 23 2.2.1.1. FASE SIGMA (σ) ....................................................................................................... 23 2.2.1.2. FASE CHI (χ) .................................................................................................................... 25 2.2.1.3 FASE α’ .............................................................................................................................. 26 2.2.1.4. CARBONETOS E NITRETOS DE CROMO ................................................................... 27 2.2.1.5. AUSTENITA SECUNDÁRIA (γ2) .................................................................................... 27 2.3. METALURGIA DA SOLDAGEM DO AISD ............................................................................... 33 2.3.1. MORFOLOGIAS DA AUSTENITA ........................................................................................ 35 2.3.2. ZONA TERMICAMENTE AFETADA (ZTA) ........................................................................ 37 2.3.3 ZONA FUNDIDA...................................................................................................................... 38 2.4 RESISTÊNCIA À CORROSÃO ...................................................................................................... 40 2.4.1 CORROSÃO SOB TENSÃO .................................................................................................... 40 2.4.2 CORROSÃO POR PITE............................................................................................................ 41 3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................................... 45 3.1 MATERIAIS ..................................................................................................................................... 45 3.2 MÉTODOS ....................................................................................................................................... 47 3.2.1 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL ....................................................................... 47 3.2.1.1 MICROSCOPIA ÓTICA .................................................................................................... 47 3.2.1.2 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDUDA ....................................................... 48 7 3.2.1.3 DIFRAÇÃO DE RAIOS X ................................................................................................. 49 4. DISCUSSÃO E RESULTADOS ............................................................................................................ 50 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO METAL DE BASE ............................................................................... 50 4.2 CARACTERIZAÇÃO DA JUNTA SOLDADA .............................................................................. 52 4.2.1 METAL DE SOLDA ................................................................................................................. 53 4.2.1.1 REGIÃO A .......................................................................................................................... 54 4.2.1.2 REGIÃO B .......................................................................................................................... 59 4.2.1.3 REGIÃO C e D ................................................................................................................... 68 4.2.1.5 REGIÃO E .......................................................................................................................... 72 4.3 DIFRAÇÃO DE RAIOS X ............................................................................................................... 77 5. CONCLUSÃO ........................................................................................................................................ 80 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 81 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1-Micrografia do material de base de um aço inoxidável superduplex,no estado como-recebido (direção de laminação), com fases austenita (cor clara) e ferrita (cor escura).Ataque Behara.100x (ALVES, 2011). .......................................................................................................................................... 19 Figura 2- Diagrama pseudo-binário do aço inoxidável duplex (LIPPOLD, 2005). .................................... 20 Figura 3- Diagrama de fases pseudo-binário realizado no Termocalc de um aço inoxidável superduplex (LONDOÑO, 2001). ................................................................................................................................... 21 Figura 4- Diagrama TTT esquemático para a precipitação de fases secundárias ....................................... 22 Figura 5- Influência do teor de fase sigma na tenacidade ao impacto do aço AISD SAF 2507 (NILSSON, 1993). .......................................................................................................................................................... 24 Figura 6- Morfologia da fase sigma em virtude da temperatura de transformação: a)950 °C, b)850 °C e c)750 °C (POHL, 2007). ............................................................................................................................. 25 Figura 7- Representação esquemática da fase Chi em AID (ESCRIBA, 2009). ........................................ 25 Figura 8- Efeito do ensaio de corrosão galvânica quando o aço AID foi submetido ao tratamento de: (a) recozimento; (b) envelhecimento a 475°C (PARK, 2002).......................................................................... 26 Figura 9-Precipitação de nitretos de cromo na interface α/ γ: a) MO e b) MEV (LONDOÑO, 2001). ...... 27 Figura 10- Camada de γ2 ao redor de placas laterais de Widmanstätten de γ1 do aço AID UNS S32205 reaquecido a 1000◦C por 1 s (LONDOÑO, 2001 apud ALVES, 2011). .................................................... 28 Figura 11- Precipitação de γ2 intragranular a partir de uma inclusão rica em O, Al, Mg e Ce do aço AISD UNS S32760 (LONDOÑO, 2001 apud ALVES, 2011). ............................................................................ 29 Figura 12- Diagrama esquemático mostrando a precipitação cooperativa Cr2N e γ2 a partir da interface α/γ seguida da dissolução do Cr2N(LONDOÑO, 2001 apud ALVES, 2011). .................................................. 30 Figura 13- Sistema de classificação morfológica proposto por DUBÉ e AAROSON. (a) alotriomórfica; (b) placas laterais de Widmanstätten; (c) Widmanstätten serrilhadas; (d) idiomórficas; (e) Widmanstätten intragranulares (PARK, 2002; COLPAERT, 2008).................................................................................... 31 Figura 14-Microestrutura do metal de solda de um AID SAF 2205 apresentando austenita secundária de Widmanstätten e de contorno de grão (GBA – grain boun-dary allotriomorphic austenite) (WANG, 2006). .......................................................................................................................................................... 32 Figura 15-Microestrutura do metal de solda de um AID SAF 2205 apresentando austenita secundária intragranular (IGA) (WANG, 2006). .......................................................................................................... 33 9 Figura 16- Esquema de repartição térmica relacionando ao diagrama de fases pseudo-binário dos AID (ALVES, 2011). .......................................................................................................................................... 34 Figura 17- Região que sofreu influência da sobreposição de passes na zona termicamente afetada da junta soldada com aporte térmico de 1,5 kJ/mm. Microscopia ótica, ataque eletrolítico 40% KOH. Aumento 100x (ALVES, 2011). ................................................................................................................................. 35 Figura 18- Austenita de contorno de grão na matriz ferrítca (LIPPOLD, 2005) . ...................................... 36 Figura 19- Microestrutura do metal de solda do passe de enchimento em junta soldada de AISD SAF 2507 (PARANHOS, 2010). ........................................................................................................................ 36 Figura 20- Microestrutura do metal de solda revelando a presença de austenita intragranular no passe de acabamento (ALVES, 2011). ...................................................................................................................... 37 Figura 21- Ciclos térmicos de soldagem na ZTA: a) ZTA de alta temperatura e b) ZTA de baixa temperatura (LIPPOLD, 2005). .................................................................................................................. 38 Figura 22- Região típica do metal de solda, ataque KOH, 200x. Micrografia: a)bruta de fusão e b) reaquecida (ALVES, 2011). ........................................................................................................................ 39 Figura 23- Resistência à corrosão sob tensão (CST) em 1000 horas de ensaio, com tensão aplicada igual ao limite de escoamento (NILSSON, 1992). .............................................................................................. 41 Figura 24-Morfologia dos pites após tratamento térmico de solubilização de duas horas nas temperaturas: a) 1050°C; b) 1080°C; c) 1100°C; d) 1200°C (TAN, 2009)....................................................................... 44 Figura 25-PREN de cada fase e CPT em função da temperatura de solubilização (TAN, 2009). .............. 45 Figura 26 - Junta soldada do aço SAF 2507(RAMOS, 2012)..................................................................... 46 Figura 27- Região em destaque da junta soldada varrida pelo feixe de raios X (RAMOS, 2012). ............ 50 Figura 28- Micrografia do AISD UNS S32750 da região do metal de base revelando a estrutura lamelar de ferrita (fase escura) e austenita (fase clara). Microscopia ótica, ataque sucessivo de ácido oxálico e 40% NaOH, aumento 100x. ........................................................................................................................ 51 Figura 29- Difratograma do AISD UNS S32750 da região do metal de base. ........................................... 51 Figura 30-Modelo esquemático das regiões avaliadas (RAMOS, 2012). ................................................... 52 Figura 31- Comparação entre a espessura dos passes na altura da região B – (a) e (b) Esquema de cores para superposição de pites de todas as amostras da junta AP15 ensaiadas. (c) Esquema em tons de cinza para verificação dos graus de incidência dos pites verificados (RAMOS, 2012). ...................................... 53 Figura 32- Micrografia obtida por microscopia ótica da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)100X b)200X ... 56 10 Figura 33- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)200X b)800X ........................................................................................................................................... 56 Figura 34- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)3000X b)6000X ....................................................................................................................................... 57 Figura 35- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A) utilizando detector retroepalhados. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 3000X. .................................................................................................... 57 Figura 36- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 1600X.......................................................................................................................................................... 58 Figura 37 Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A) utilizando detector retroepalhados. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 1600X. .................................................................................................... 59 Figura 38- Micrografia obtida por microscopia ótica da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)100X b)200X ... 61 Figura 39-Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)200X b)800X ........................................................................................................................................... 61 Figura 40- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento1600X. .......................................................................................................................................... 62 Figura 41- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 1600X.......................................................................................................................................................... 62 Figura 42- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a) 3000X e b)6000X.................................................................................................................................... 63 Figura 43- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B), cujas regiões destacadas foram analisadas por EDS. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 4290x. .......................................................................... 64 11 Figura 44- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a) 3000X e b)6000. ..................................................................................................................................... 65 Figura 45- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 24000X........................................................................................................................................................ 66 Figura 46-Esquematização da região analisada por EDS e seus possíveis elementos químicos presentes na área analisada. de composição química ...................................................................................................... 67 Figura 47-Difratograma dos elementos químicos obtidos pela análise de EDS ......................................... 67 Figura 48- Micrografia obtida por microscopia ótica da junta soldada do passe de raiz com AP15. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 200X: a)Região C e b)Região D. .................................................................................................................................................................... 68 Figura 49- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 em uma região que foi completamente solubilizada. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 1600X: a)Região C e b)Região D................................................... 69 Figura 50- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 em uma região que foi parcialmente solubilizada. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 800X: a)Região C e b)Região D..................................................... 69 Figura 51- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 400X: a)Região C e b)Região D. ........................................................................................................................... 71 Figura 52- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 3000X: a)Região C e b)Região D. ........................................................................................................................... 71 Figura 53-Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 3000X: a)Região C e b)Região D. ........................................................................................................................... 72 Figura 54- Micrografia obtida por microscopia ótica da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)100X b)200X ........................................................................................................................................................ 74 Figura 55- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 200X ............................................................................................................................................ 74 12 Figura 56- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento1600X. .......................................................................................................................................... 75 Figura 57- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: 6000X......................................................................................................................................... 75 Figura 58-Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. %. Aumento 800X, com detector: a)ETD b)elétrons retroespalhados ........................................................ 76 Figura 59- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 6000X com detector a)ETD b)elétrons retroespalhados ............................................................. 76 Figura 60-Difratograma da região do metal de solda da junta soldada com aporte térmico de 1,5 kJ/mm 78 Figura 61- Difratograma de Análise quantitativa pelo método de Rietveld da região do metal de solda da junta soldada com aporte térmico de 1,5 kJ/mm. ........................................................................................ 79 13 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Fases observadas no aço AISD (LONDOÑO, 2001)................................................................. 22 Tabela 2- Tabela com valores de PREN de diversos tipos de aços (ALVES, 2011). ................................. 43 Tabela 3- Composição química do SAF 2507 conforme o fabricante SANDVIK. .................................... 46 Tabela 4- Composição química do metal de adição AWS A5.9 ER2553 (Sandvik 25.10.4L). .................. 46 Tabela 5- Composição química das regiões analisadas por EDS. .............................................................. 64 Tabela 6- Fases indexadas da difração de raios X da junta soldada com AP 15. ....................................... 78 14 LISTA DE SÍMBOLOS α – Ferrita α’ – Ferrita rica em Cr δ – Ferrita delta γ – Austenita γ2– Austenita secundária χ – Fase chi σ – Fase sigma 15 LISTA DE ABREVIATURAS AID – Aço Inoxidável Duplex AISD – Aço Inoxidável Superduplex ASME - American Society for Mechanical Engineering ASTM - American Society for Testing and Materials CP – Corpo de Prova CPT – Temperatura Crítica de Pite CST – Corrosão Sob Tensão EDS - Espectroscopia por Dispersão de Energia (Energy Dispersive Spectroscopy ) GBA -Austenita Alotriomófica (Grain boundary allotriomorphic austenite) GTAW - Gas Tungsten Arc Welding IGA - Austenita Intragranular (Intragranular Austenite) MET – Microscopia Eletrônica de Transmissão MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura MO – Microscopia Ótica NORSOK - Norsok Sokkels Konkuranseposisjon MS - Metal de Solda PREN – Pitting Resistance Equivalent Number UNS – Unified Numbering System ZF – Zona Fundida ZTA – Zona Termicamente Afetada ZTATE – Zona Termicamente Afetada de elevada temperatura ZTATB – Zona Termicamente Afetada de baixa temperatura 16 1. INTRODUÇÃO Os aços inoxidáveis tradicionais apresentam elevada resistência à corrosão e boas propriedades mecânicas em altas temperaturas. Eles são classificados como austeníticos, ferrítcos e martensíticos. Entretanto, não apresentam combinação adequada de resistência mecânica e a corrosão por pite necessária em aplicações principalmente em áreas com alto teor de salinidades, como em equipamento de indústria “offshore”. Com esse problema, desenvolveu-se um novo tipo de aço inoxidável denominada duplex ou superduplex, que consegue juntar eficientemente essas propriedades (SOLOMON, 1984). Os aços inoxidáveis duplex (AID) começaram a ser estudados na década de 30 e obtiveram certa importância na década de 40, mas foi em meados de 1970 que eles começaram de fato a ser desenvolvidos e explorados, após inúmeras modificações que sofreram desde composição química até em técnicas de utilização (GUNN, 2003). Eles possuem uma excelente resistência à corrosão combinada com boa resistência mecânica. Essas duas propriedades combinadas têm impulsionado o uso cada vez mais em ambientes altamente agressivos. Com o interesse de melhorar a resistência à corrosão, as ligas mais recentemente introduzidas no mercado denominado aços inoxidáveis superduplex (AISD) possuem maior quantidade de elementos de liga (SOLOMON, 1984). A maior parte da aplicação desses aços na indústria envolve o processo de soldagem. Essa etapa deve ser executada corretamente, caso ela não seja, pode ocorrer transformações metalúrgicas indesejáveis perdendo suas propriedades principais, com isso não podendo ser vantajoso o uso em relação aos inoxidáveis tradicionais. Além disso, a avaliação da resistência à corrosão nessas juntas tem sido de grande importância pela comunidade científica e produtores de aço. Essa avaliação facilitará controle eficaz dos parâmetros de soldagem permitindo que maximize as propriedades mecânicas e a resistência à corrosão desses aços (ALVES, 2011). 17 1.1 OBJETIVO Esse trabalho tem como objetivo caracterizar a microestrutura de juntas de AISD soldadas pelo processo GTAW orbital e submetidas ao ensaio de corrosão para determinação da temperatura crítica de pite. Além disso, relacionar os resultados obtidos no ensaio de corrosão com a microestrutura por microscopia ótica, microscopia eletrônica de varredura e difração de raios x. 2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 2.1. AÇO INOX DUPLEX E SUPERDUPLEX Os aços inoxidáveis duplex (AID) e superduplex (AISD) são ligas que apresentam microestrutura bifásica composta por aproximadamente quantidades iguais de ferrita e austenita em temperatura ambiente, sendo que a NORSOK admite percentual de ferrita de 30 a 70% de, e não podendo exceder mais que 0,5% de fases deletérias. Essa microestrutura confere uma excelente resistência à corrosão combinada com boa resistência mecânica em ambientes altamente agressivos. Para obtenção de uma microestrutura das fases austenita e ferrita em proporções aproximadamente iguais, como mostra a figura 1, deve-se obter um balanceamento entre os elementos de liga estabilizadores de γ (Ni, C e N) , e os estabilizadores da α (Cr, Mo e Si) e de tratamento termomecânico adequado, usualmente realizado em temperaturas entre 1000 e 1250 °C, seguido de um resfriamento rápido (SOLOMON, 1984) . Os AISD foram desenvolvidos devido a setores que exigem alta pressão e alta temperatura e exposição extrema a ambientes corrosivos. Eles são considerados como um subgrupo do AID, em que a diferença é maior teor de Cr e N, que melhora a resistência mecânica e à corrosão. Entretanto, apesar de apresentarem essa combinação de excelentes propriedades, o uso do aço AISD é limitado pela temperatura, nem em alta (acima de 250°C), já que podem precipitar fases que fragilizam a ferrita; e nem em baixa (abaixo de -50°C) em virtude da ferrita absorver pouca energia(ALVES, 2011). 18 Figura 1-Micrografia do material de base de um aço inoxidável superduplex,no estado comorecebido (direção de laminação), com fases austenita (cor clara) e ferrita (cor escura).Ataque Behara.100x (ALVES, 2011). 2.2. METALURGIA FÍSICA Os AID e AISD são baseados nos sistema Fe-Cr-Ni-N, em que a composição química possui de 20 a 30% de Cr e 6 a 10% de Ni, com teores muito baixos de carbono (menores de 0,03%) (LIPPOLD, 2005) com adições de nitrogênio, molibdênio, tungstênio e cobre (SOLOMON, 1984, apud ALVES, 2011) . Sabe-se que os AID e AISD solidificam a partir da ferrita, como mostrado na figura 2 que é um diagrama pseudo-binário de um aço AID. À medida que se realiza o resfriamento, a austenita nucleia nos contornos de grão da ferrita e cresce abaixo da linha solvus da ferrita. As demais transformações ocorrem controlando a composição química, através dos estabilizadores da ferrita (Cr, Mo e W) e austenita (Ni, C, N e Cu), e a taxa de resfriamento seja o suficiente para obter no final uma microestrutura bifásica, como mostra a região sombreada do diagrama, em que a relação Creq/Nieq entre 2,25 e 3,5 (LIPPOLD, 2005) . Esses parâmetros de Creq e Nieq são definidos como: 19 Creq = %Cr + %Mo + 1.5(%Si) Nieq = %Ni + 0.5(%Mn) + 30(%C ) + 25(%N ) (1) (2) Figura 2- Diagrama pseudo-binário do aço inoxidável duplex (LIPPOLD, 2005). Normalmente, os materiais como recebido são solubilizados em temperatura de aproximadamente 1150°C, seguida de resfriamento rápido suficiente para manter a microestrutura bifásica 50-50, próxima ao equilíbrio (LIPPOLD, 2005). Entretanto, devido à cinética de precipitação destes aços, há a possibilidade de precipitação de outras fases durante a exposição prolongada a determinadas temperaturas, como mostra a figura 3, um diagrama pseudo-binário realizado por LONDOÑO (2001) mostrando as diversas fases que podem surgir . Isso pode acontecer durante o resfriamento do aço a partir da temperatura em que a microestrutura é “homogeneizada” ou pelo aquecimento a partir da temperatura ambiente, como acontece durante a soldagem o que pode ocasionar a precipitação de fases secundárias que são suscetíveis a alguma transformação metalúrgica no aço. A precipitação dos AID pode ser divida em dois grupos (LONDOÑO, 2001), como mostra a figura 4: 20 Fragilização de baixa temperatura ou fragilização de 475 ◦C: ocorre numa faixa de temperatura de 300 a 500 ◦C. Este tipo de fragilização limita a temperatura máxima de aplicação em serviço dos AID; Fragilização de alta temperatura: ocorre na faixa de temperatura de 600 a 1000◦C, onde precipitam diversas fases intermetálicas, tais como σ, χ, R e nitretos de cromo. Figura 3- Diagrama de fases pseudo-binário realizado no Termocalc de um aço inoxidável superduplex (LONDOÑO, 2001). 21 Figura 4- Diagrama TTT esquemático para a precipitação de fases secundárias nos AID (CHARLES,1994). As características das fases secundárias estão resumidas na tabela 1. Tabela 1- Fases observadas no aço AISD (LONDOÑO, 2001). 22 2.2.1. PRECIPITAÇÃO DE FASES SECUNDÁRIAS 2.2.1.1. FASE SIGMA (σ) Sabe-se que a fase sigma possui a maior fração volumétrica dentre as fases secundárias precipitadas e essa situação é acentuada nos AISD devido ao maior teor de Cr e Mo em relação ao AID, apresentando uma curva de cinética de transformação em "C" (NILSSON, 1992). A faixa de temperatura de precipitação da fase sigma ocorre entre de 600 a 1000 ◦C, em que a ferrita se decompõe através de uma reação eutetoíde, formando σ e austenita secundária. Isso ocorre devido a concentração da fase sigma é aumentada enquanto de ferrita diminui, já que os elementos formadores da fase intermetálica (Cr e Mo) são rejeitados da ferrita, provocando o empobrecimento desses elementos e a relação Creq/Nieq diminui , favorecendo a transformação para austenita secundária (MARTINS,2005). Essa fase sigma é a mais deletéria, porque possui teores mais elevados de cromo e molibdênio, provocando uma depleção nas regiões adjacentes, prejudicando tanto a resistência mecânica como resistência à corrosão do material (POHL, 2007). Isso pode ser ilustrado na figura 5 que mostra a influência do teor de fase sigma na tenacidade ao impacto de um AISD (NILSSON, 1993), observando-se que com apenas 1% da fase sigma, a tenacidade ao impacto cai bruscamente. 23 Figura 5- Influência do teor de fase sigma na tenacidade ao impacto do aço AISD SAF 2507 (NILSSON, 1993). POHL e seus colaboradores (2007) estudaram a morfologia da fase sigma e verificaram a sua dependência com o a temperatura de tratamento isotérmico a qual o aço foi submetido, como pode ser mostrado na figura 6 onde podem ser encontradas diferentes morfologias da fase sigma com a respectiva temperatura de tratamento. Eles observaram que em temperaturas entre 850 e 900°C, a transformação ocorre mais rapidamente nessa faixa; já em temperaturas inferiores a 750°C, há uma maior fração da fase sigma, pois a velocidade de difusão é limitada ocasionando numa alta densidade de precipitação; e em temperaturas superiores a 950°C, a fase sigma encontra-se numa forma mais descontínua, já que nessas temperaturas há uma pequena força motriz para a nucleação e alta taxa de difusão. 24 Figura 6- Morfologia da fase sigma em virtude da temperatura de transformação: a)950 °C, b)850 °C e c)750 °C (POHL, 2007). 2.2.1.2. FASE CHI (χ) É uma fase intermetálica metaestável que surge ao ser exposta a uma faixa de temperaturas de 400 a 950 °C e atua como facilitadora a transformação da fase sigma, como mostra a figura 7, em que é uma esquematização onde há a nucleação nos contornos de grão ferritico e a posterior transformação para fase sigma (NILSSON, 1992). Figura 7- Representação esquemática da fase Chi em AID (ESCRIBA, 2009). 25 2.2.1.3 FASE α’ A fase α’ ocorre quando os AID são expostos a temperaturas entre 300°C e 525°C, podendo surgir por dois mecanismos: nucleação e crescimento, quando o teor de cromo na ferrita é baixo; e decomposição espinoidal, quando o teor de cromo nesta mesma fase é alto. A formação desta fase, enriquecida em cromo, tem seu efeito mais pronunciado a 475 °C, o que provoca uma diminuição brusca da resistência à corrosão, um aumento da dureza e queda da tenacidade (GUNN, 2003). O efeito dessa fase foi estudado por PARK e seus colaboradores (2002), em que submeteram o aço duplex em um ensaio de corrosão galvânica após ser submetido a dois tipos de tratamento térmico: recozido e envelhecido a 475°C, na qual os dois permaneceram durante 300h, em um ensaio numa solução de HCl a 30 °C. Os resultados do ensaio foram obtidos através de microscopia eletrônica de varredura como mostra a figura 8. A figura 8(a) fornece uma corrosão uniforme nas fases ferrita e austenita, quando o aço é submetido a tratamento de recozimento. Já a figura 8 (b) mostra a corrosão localizada na matriz ferrítica devido à presença da α’, que surge durante o tratamento de envelhecimento a 475°C. Figura 8- Efeito do ensaio de corrosão galvânica quando o aço AID foi submetido ao tratamento de: (a) recozimento; (b) envelhecimento a 475°C (PARK, 2002). 26 2.2.1.4. CARBONETOS E NITRETOS DE CROMO Os carboneto e nitretos de cromo precipitam por nucleação e crescimento na faixa de temperatura de 600 a 1050 °C, seguindo uma curva de cinética em “C”. A nucleação favorecida pela presença de elementos ferritizantes (NILSSON, 1992), podendo acontecer nas discordâncias, inclusões, contornos de grão (α/α) e interfaces (α/γ), como mostra a figura 9. Os nitretos de cromo também precipitam a partir de um resfriamento rápido do AISD que não seja o suficiente para formar a austenita e difusão do nitrogênio para essa fase ocasionando a forma mais estável desse elemento se precipitar como nitreto. A precipitação dessa fase pode levar à diminuição da resistência à corrosão do aço AID e AISD devido a sua vizinhança estarem empobrecida de Cr, sendo uma região suscetível à corrosão localizada (GENTIL, 2011). Figura 9-Precipitação de nitretos de cromo na interface α/ γ: a) MO e b) MEV (LONDOÑO, 2001). 2.2.1.5. AUSTENITA SECUNDÁRIA (γ2) Os aços inoxidáveis duplex ligeiramente abaixo da temperatura solidus são completamente ferríticos. Durante o resfriamento a partir do campo ferrítico, há transformação parcial em austenita primária (γ1). Caso o resfriamento seja muito rápido, a formação de austenita primária pode ser prejudicada e com isso, é obtida uma microestrutura metaestável com elevados teores de ferrita. Com isso, durante um o reaquecimento devido a um tratamento 27 térmico ou processo de soldagem, há o favorecimento da difusão de elementos de liga de forma a possibilitar o crescimento da austenita já existente ou a nucleação de uma nova austenita, denominada austenita secundária (γ2) (LONDOÑO, 2001). Segundo NILSSON (1992), a austenita secundária pode ser de dois tipos distintos. Uma delas é nucleada de uma pré-existente, formando-se da interface α/γ em temperaturas entre 800 e 900°C, como mostra a figura 10. O outro tipo é formado no interior da ferrita, intragranularmente, na forma de finas partículas aciculares, em temperaturas entre 800 e 1000°C, como mostra a figura 11. Figura 10- Camada de γ2 ao redor de placas laterais de Widmanstätten de γ1 do aço AID UNS S32205 reaquecido a 1000◦C por 1 s (LONDOÑO, 2001 apud ALVES, 2011). 28 Figura 11- Precipitação de γ2 intragranular a partir de uma inclusão rica em O, Al, Mg e Ce do aço AISD UNS S32760 (LONDOÑO, 2001 apud ALVES, 2011). Quando essa austenita secundária é formada no metal de solda, os teores de Cr, Mo e N são menores que austenita previamente existente. Essa austenita pode surgir a partir de um nitreto de cromo existente, na qual nucleia na interface α/γ resultando em menores teores de elementos formadores de ferrita, como cromo e molibdênio. Com isso, há o favorecimento da nucleação e crescimento de γ2 na interface e o dissolução de nitreto de cromo, já que seu crescimento é dependente dos elementos de cromo e molibdênio. A Figura 12 representa de forma esquemática a precipitação cooperativa entre Cr2N e γ2 a partir da interface α/γ (LONDOÑO, 2001 apud ALVES, 2011). 29 Figura 12- Diagrama esquemático mostrando a precipitação cooperativa Cr2N e γ2 a partir da interface α/γ seguida da dissolução do Cr2N(LONDOÑO, 2001 apud ALVES, 2011). Além da austenita secundária formada nas interfaces α/γ, pode haver nucleação intragranular de γ2 . Diversos fatores influenciam no surgimento deste tipo de austenita secundária como a presença de sítios de nucleação (nitretos de cromo, inclusões, maclas), ciclos de reaquecimento e velocidade de resfriamento do metal de solda (LONDOÑO, 2001; LIPPOLD, 2005). Normalmente, utiliza-se a descrição das morfologias da austenita a classificação morfológica de DUBÉ e AAROSON para ferrita em aços de baixo carbono, como mostra a figura 13 (PARK, 2002).. 30 Figura 13- Sistema de classificação morfológica proposto por DUBÉ e AAROSON. (a) alotriomórfica; (b) placas laterais de Widmanstätten; (c) Widmanstätten serrilhadas; (d) idiomórficas; (e) Widmanstätten intragranulares (PARK, 2002; COLPAERT, 2008). a – Alotrimórfica ou contorno de grão: nucleia nos contornos de grão da austenita e cresce preferencialmente ao longo destes contornos; b – Placas laterais de Widmanstätten: têm um formato de placas ou agulhas bastante finas, as quais crescem dentro da austenita, a partir dos contornos de grão da austenita ou da ferrita alotriomórfica de contorno de grão. Estas placas têm uma orientação preferencial é do tipo Kurdjumov-Sachs (K-S); c- Widmanstätten serrilhadas: São partículas de ferrita de formato triangular, em forma de dente de serra as quais crescem a partir dos contornos de grão da austenita ou das ferritas alotrimórficas de contorno de grão; d- Idiomórficas: Partículas de formato aproximadamente eqüiaxial precipitadas no interior dos grãos de austenita ou nos contornos de grão; e – Widmanstätten intergranulares: podem ser placas ou agulhas formadas no interior dos grãos de austenita. A sua precipitação é favorecida por grandes tamanhos de grão austeníticos, baixas temperaturas de transformação e baixos teores de carbono. Similarmente às outras 31 estruturas do tipo Widmanstätten, apresentam orientação preferencial e relação de orientação com a austenita; Em relação às morfologias da γ2 nos AID, nem todas foram encontradas. As morfologias usualmente encontradas são alotriomórfica de contorno de grão, placas laterais de Widmanstätten e Widmanstätten intragranulares (LONDOÑO, 2001; PARK, 2002; COLPAERT, 2008) Geralmente, a precipitação de austenita secundária com teores menores de Cr, Mo e N influencia na redução da resistência a corrosão localizada. Entretanto, devido a boa tenacidade da austenita, estudos elaborados por WANG e seus colaboradores (2006) revelaram que a presença de determinadas morfologias de γ2 favorecem à melhor homogeneidade das propriedades mecânicas da junta soldada. Essas diferentes morfologias são obtidas através de determinadas condições de processamento. Os melhores resultados foram obtidos para a γ2 intragranular (IGA – intragranular austenite ) na ferrita e para a γ2 de Widmanstätten (W – Widmannstätten austenite), como mostra , a microestrutura do metal de uma aço AID nas figura 14 e 15. Figura 14-Microestrutura do metal de solda de um AID SAF 2205 apresentando austenita secundária de Widmanstätten e de contorno de grão (GBA – grain boun-dary allotriomorphic austenite) (WANG, 2006). 32 Figura 15-Microestrutura do metal de solda de um AID SAF 2205 apresentando austenita secundária intragranular (IGA) (WANG, 2006). 2.3. METALURGIA DA SOLDAGEM DO AISD Como foi visto, o AISD apresenta suas vantagens por apresentar a microestrutura bifásica, mas quando ele é submetido a processo de soldagem pode ocasionar transformações metalúrgicas que cause desbalanceamento e o surgimento de fases deletérias de alta e baixa temperatura (LONDOÑO, 2001). Por isso, deve-se conjugar o conhecimento de metalurgia física e os parâmetros de soldagem para que não causem alterações microestruturais prejudiciais (ALVES, 2011). Dessa forma, o aporte térmico a ser utilizado deve promover o balanço entre ferrita e austenita tanto na ZTA quanto no metal de solda. Com isso, normalmente é empregado aporte térmico dentro da faixa de 0,5 a 1,5 kJ/mm para os AID e de 0,2 a 1,5 kJ/mm para os AISD (ALVES, 2011). A figura 16 relaciona o gráfico de repartição térmica com diagrama pseudo-binário, mostrando que a microestrututa é alterada da zona fundida (ZF) até a zona termicamente afetada (ZTA). E para ilustrar essa alteração que ocorre nos aços AID e AISD, a figura 17 mostra uma região que sofreu influência da sobreposição de passes na a ZTA (ALVES, 2011) com determinado aporte térmico. 33 Esse controle das transformações depende também além do aporte térmico, temperatura interpasse e condições de resfriamento devem ser o suficiente para obter a microestrutura bifásica e evitar as precipitações de fases deletérias. Com isso, utilizando os seguintes aportes térmicos pode ocasionar: - Aporte térmico baixo: ocasiona em um resfriamento rápido, dificultando a transformação da austenita e gera uma proporção elevada de ferrita, o que acarreta a precipitação de nitretos de cromo intragranularmente, pois o nitrogênio não consegue se difundir para austenita e nem consegue ficar em solução sólida na ferrita; - Aporte térmico elevado: resolvem o problema do resfriamento rápido, promovendo a precipitação da fase austenitica, mas favorece a formação de fases intermetálicas e o crescimento de grão (ALVES, 2011). Figura 16- Esquema de repartição térmica relacionando ao diagrama de fases pseudo-binário dos AID (ALVES, 2011). 34 Figura 17- Região que sofreu influência da sobreposição de passes na zona termicamente afetada da junta soldada com aporte térmico de 1,5 kJ/mm. Microscopia ótica, ataque eletrolítico 40% KOH. Aumento 100x (ALVES, 2011). 2.3.1. MORFOLOGIAS DA AUSTENITA Particularmente esse aço solidifica inicialmente da ferrita para posterior transformação da austenita e na soldagem desses aços em que há aquecimentos e resfriamento, a austenita pode apresentar três tipos de morfologias: austenita alotriomórfica(ou de contorno de grão), austenita Widmanstätten e austenita intragranular (GUNN, 2003; LIPPOLD, 2005). Durante o resfriamento, com taxas lentas, a primeira austenita a precipitar é alotriomófica no contorno de grão da ferrita, por ser uma região mais favorável a sua nucleação, como mostra a figura 18. Quando os sítios para a nucleação nos contornos de grão estão saturados, a austenita cresce em direção ao centro do grão de ferrita, na forma de agulhas em que a austenita é denominada de Widmanstätten, como mostra a figura 19. Essa austenita é favorecida por taxas de resfriamento um pouco mais rápida em relação à taxa da alotriomófica e também por aporte térmico elevado, como 1.5kJ/mm (ALVES, 2011). 35 Figura 18- Austenita de contorno de grão na matriz ferrítca (LIPPOLD, 2005) . Figura 19- Microestrutura do metal de solda do passe de enchimento em junta soldada de AISD SAF 2507 (PARANHOS, 2010). Para rápidas taxas de resfriamento ou aporte térmico baixo, a austenita pode precipitar intragranularmente com morfologia de placas, como mostra a figura 20. Estas partículas podem ser nucleadas nas discordâncias e nos contornos de subgrão da ferrita (LONDOÑO, 2001). Além disso, ela também pode nuclear a partir de nitretos de cromo intragranular com o reaquecimento devido a operações de multipasse na soldagem, já que a matriz ferritica está numa condição instável e esse reaquecimento é o suficiente para que ocorra a transformação (ALVES, 2011). 36 Figura 20- Microestrutura do metal de solda revelando a presença de austenita intragranular no passe de acabamento (ALVES, 2011). 2.3.2. ZONA TERMICAMENTE AFETADA (ZTA) O controle da microestrutura da ZTA no AISD é definido pela repartição térmica e ciclo térmico. A repartição térmica determina as temperaturas máximas que pode ocorrer na ZTA, enquanto que os ciclos térmicos estão associados às temperaturas máximas e a taxa de resfriamento (GUNN, 2003). A ZTA pode ser dividida em duas regiões: a submetida a elevadas temperaturas (ZTATE) e a de baixa temperatura (ZTATB). I- ZTA de alta temperatura: região em que o aquecimento é acima da temperatura solvus da ferrita, ou seja, a microestrutura está completamente ferritizada. A figura 21(a) mostra os estágios do ciclo térmico ZTATE, ressaltando que o estágio II é região ferrítica e dependendo do tempo que permanecer, pode ocorrer o crescimento de grão ferrítico e o surgimento de fases deletérias; ii. ZTA de baixa temperatura: região em que o aquecimento é abaixo da temperatura solvus, ou seja, há transformação parcial da austenita em ferrita. Com isso, os grãos da austenita não dissolvidos inibem o crescimento do grão ferrítico. A figura 21(b) mostra os 37 estágios da ZTATB, ressaltando que no estágio III, durante o resfriamento haverá uma maior fração de austenita (LIPPOLD, 2005). (a) (b) Figura 21- Ciclos térmicos de soldagem na ZTA: a) ZTA de alta temperatura e b) ZTA de baixa temperatura (LIPPOLD, 2005). 2.3.3 ZONA FUNDIDA O balanço microestrutural das fases da austenita e ferrita na zona fundida é influenciado pela composição química, metal de adição e condições térmicas que é submetida essa região. Durante o resfriamento, a temperatura de início de precipitação depende da relação dos elementos estabilizadores da ferrita e da austenita (relação Creq/Nieq) (LONDOÑO, 2001): a relação baixa indica a transformação em temperaturas um pouco abaixo do intervalo de solidificação, ocasionando em uma maior fração de austenita; já a alta induz em uma precipitação da austenita em temperaturas mais baixas e a transformação depende da velocidade de resfriamento. Existem duas microestruturas distintas no metal de solda que é a bruta de fusão e as alterações que acontece durante o reaquecimento (ALVES, 2011): 38 • Bruta de fusão: uma microestrutura típica de solidificação, com a presença de regiões com grão de ferrita grosseiros e também a presença da austenita alotriomófica e Widmanstätten, como mostra a figura 22(a). Essa microestrutura ocorre normalmente nos últimos passes da junta, o passe de acabamento, e no passe de raiz, mas também pode ser observado no interior dos passes de enchimento, onde provavelmente ocorreu em regiões que não sofreram reaquecimento no interior no metal de solda . • Zona de reaquecimento: gera um desbalanceamento de fases, podendo estimular a formação de fases secundárias, como nitreto e sigma. O reaquecimento favorece uma microestrutura predominantemente austenitica secundária intragranular (NILSSON, 1993), como mostra a figura 22(b). Há um maior o percentual de austenita secundária intragranular nessa região que as que não sofreram com reaquecimento. (a) (b) Figura 22- Região típica do metal de solda, ataque KOH, 200x. Micrografia: a)bruta de fusão e b) reaquecida (ALVES, 2011). Além da austenita, pode ocorrer a precipitação de outras fases durante o resfriamento da zona fundida, tais como nitretos, carbonetos e intermetálicos. Com isso, a microestrutura resultante no metal de solda é dependente da manutenção do equilíbrio entre as quantidades de ferrita e austenita, que influi em suas propriedades. Sendo assim, o balanço entre as fases pode 39 ser garantido pela presença de nitrogênio, seja pelo metal de adição ou pelo gás de proteção, e o uso de consumíveis com maior teor de níquel, como recomenda a SANDVIK. 2.4 RESISTÊNCIA À CORROSÃO A resistência à corrosão de um material é determinada pela capacidade de se passivar e manter nesse estado no ambiente de serviço a que estiver exposto. Nos aços superduplex, essa propriedade está relacionada principalmente aos elementos de liga presente na composição química, tais como Cr, Ni, Mo e N, com elevados teores ajudam a justificar a elevada resistência à corrosão dos AISD (GUNN, 2003). O bom desempenho desses aços depende do equilíbrio entre as fases ferrita e austenita, e da ausência de fases intermetálicas, carbonetos, nitretos e de regiões empobrecidas em cromo. Além disso, substituem os austeníticos não somente pela maior resistência mecânica e similar tenacidade, mas também pela resistência à corrosão, principalmente no que se refere à corrosão sob tensão e por pite (SOLOMON, 1984). Nos aços AISD, os mecanismos de corrosão mais comuns são a corrosão por pite e a corrosão sob tensão, apesar de apresentarem elevada resistência a todos os outros mecanismos. Essa queda da resistência à corrosão dos aços ocorre principalmente em processos de soldagem, quando envolvem processos aquecimento ou resfriamento ocasionando em alguma alteração microestrutural. As zona fundida e a ZTA são as mais suscetível a sofrer corrosão por pite e sob tensão(GUNN, 2003), já que são essas duas regiões onde ocorrem as principais transformações de fases. 2.4.1 CORROSÃO SOB TENSÃO A corrosão sob tensão (CST) é uma ação simultânea de um meio corrosivo específico e tensões de tração residuais ou aplicadas. Ela resulta em uma conjugação de tensão, meio corrosivoo, tipo de material e temperatura (GENTIL, 2008). Os meios corrosivos podem ser: 40 soluções aquecidas neutras ou ácidas contendo cloreto, os ambientes cáusticos e os meios contendo H2S. Aços com microestrutura ferrítica têm maior resistência à CST que aços austeníticos. Já os AISD são considerados muito resistentes, apesar de serem também suscetíveis a esse tipo de corrosão. Solomon e seus colaboradores (1984) afirmam que a resistência à corrosão sob tensão dos aços superduplex é alta, mas é reduzida apenas por alta temperatura, pH baixo, presença de H2S e altas tensões aplicadas. A figura 23 ilustra a resistência à corrosão sob tensão do aços inoxidável austentenítico, duplex e superduplex. Figura 23- Resistência à corrosão sob tensão (CST) em 1000 horas de ensaio, com tensão aplicada igual ao limite de escoamento (NILSSON, 1992). 2.4.2 CORROSÃO POR PITE A corrosão por pite é caracterizada pela quebra localizada da película apassivadora em regiões que apresente defeitos, inclusões ou contornos de grãos, por diversos fatores mecânicos ou químicos. Essa corrosão se agrava quando o meio em que o material se encontra favorece a corrosão, como ambiente rico em íons cloreto, que migram para interior da região atacada, que 41 reage com metal atacado e a água, sofrendo hidrólise, tornando o meio mais ácido, pH diminui e a taxa de corrosão aumenta, processo auto catalítico (GENTIL, 2008). A resistência à corrosão por pite é dependente da composição química, principalmente pela presença dos elementos de liga Cr, Mo e N. Com isso, existe um parâmetro denominado Número Equivalente de Resistência a Corrosão por Pite, o PREN (Pitting Resistance Equivalent Number), que é definido como (NILSSON, 1993): PREN = (%Cr) + 3,3 (%Mo) + 16 (%N) (3) ou PREN = (%Cr) + 3,3 (%Mo + 0,5(%W)) + 16 (%N), (4) para ligas com adição de W. O PREN permite comparar a resistência à corrosão de diferentes aços inoxidáveis. A tabela 2 mostra o PREN de diversos aços, podendo observar que essa resistência é influenciada fortemente pelos elementos de liga que conferem a resistência, como o nitrogênio. Além disso, pela tabela, pode-se concluir que quanto maior o valor do PREN, maior é a resistência por pite. No caso dos AID e AISD, por apresentarem uma estrutura bifásica de austenita e ferrita, com composições químicas diferentes, é necessário considerar a resistência à corrosão por pite de cada fase separadamente. Sendo assim, a resistência é determinada pela fase com menor valor de PREN (ALVES, 2011). Além do PREN, existe outro parâmetro que se pode utilizar para determinar corrosão por pite através da temperatura na qual surgem os primeiros pites, temperatura crítica de pite, o CPT (Critical Pitting Temperature). Esse valor pode ser estimado: CPT (°C ) = 2, 5 × (%Cr) + 7, 6 × (%M o) + 31, 9 × (%N ) − 41, 0 (5) Esse valor do CPT se baseia na Norma ASTM G48 (Standard Test Methods for Pitting and Crevice Corrosion Resistance of Stainless Steels and Related Alloys by Use of Ferric Chloride Solution) que é o método de analisar a corrosão por pite em meio com solução de cloreto de ferro, aplicando o determinado método que é de acordo com o aço. O teste é realizado nesse meio em temperatura crescente até que comecem a surgir os primeiros pites. Assim, quanto 42 maior for a temperatura do CPT, maior a resistência à corrosão por pite do aço, já que a temperatura aumenta o potencial corrosivo da solução. Tabela 2- Tabela com valores de PREN de diversos tipos de aços (ALVES, 2011). Além da composição química, a presença de fases deletérias, como de nitretos e austenita secundária, pode influenciar e reduzir à resistência a corrosão por pite do AISD, já que a algumas dessas fases como a sigma apresentam elevador teor de Cr, causando depleção na região adjacente, conforme foi afirmado anteriormente, sendo uma região suscetível ao ataque localizado ou a austenita secundária por ter um menor teor de Cr em relação a primária, também pode ser uma região que pode ser atacada. A temperatura de tratamento de solubilização também exerce uma importante influência na resistência à corrosão por pite dos AISD. A variação dessa temperatura pode promover a redistribuição de elementos de liga entre ferrita e austenita, alterando a proporção entre estas fases, o que promoverá alterações na resistência à corrosão de cada fase (TAN, 2009). Esse estudo foi comprovado por TAN e seus colaboradores (2009), em que o aço AISD foi submetido a diferentes temperatura de solubilização e investigaram a influência da microestrutura com ataque por pite, como pode ser visto na figura 24. Pode-se perceber que a cada temperatura de 43 solubilização diferente, o pite está em uma determinada fase, por exemplo, quando a temperatura é de 1050°C, o pite se localiza na fase da austenita, enquanto que em 1200°C, o pite está na ferrita. Com isso, comprava-se a influência da temperatura de solubilização. Além disso, TAN e seus colaboradores (2009) calcularam o PREN de cada fase na determinada temperatura de solubilização relacionando com CPT, como mostra a figura 25, indicando que quando a temperatura de solubilização é abaixo de 1080°C, o PREN da fase ferritica é maior que a da austenita, indica que o pite ocorreu na fase austenitica, como mostra a figura 24 (a), assim o CPT é limitado pela fase austenita. Já a temperatura acima de 1080°C, o PREN da fase ferrítica é menor, implicando que os pites iniciaram na fase ferrítica, figura 24 (c) e (d), assim o CPT é limitado pela fase ferrítica. Quando a solubilização foi feita a 1080°C, o PREN é aproximadamente o mesmo valor, que indica que os pites encontra-se na interface austenita e ferrita. Assim, a CPT é determinada pela fase com o menor valor do PREN. Figura 24-Morfologia dos pites após tratamento térmico de solubilização de duas horas nas temperaturas: a) 1050°C; b) 1080°C; c) 1100°C; d) 1200°C (TAN, 2009). 44 Figura 25-PREN de cada fase e CPT em função da temperatura de solubilização (TAN, 2009). 3. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia e os procedimentos utilizados nesse trabalho tiveram como objetivo análise microestrutural de juntas soldadas do aço AISD, nos quais as microestruturas e respectivas evoluções decorrentes do reaquecimento causado pelos sucessivos passes de soldagem foram observadas. As alterações microestruturais foram avaliadas por técnicas de caracterização que permitiram justificar a queda de resistência à corrosão na região da junta soldada devido à precipitação de fases deletérias durante o procedimento de soldagem. 3.1 MATERIAIS O material utilizados nesse trabalho foi de um tubo de AISD, classe UNSS32750 (SAF 2507), com diâmetro 6” e espessura de parede de ¾’’ (aproximadamente 19 mm), como pode ser visto na figura 26. Esse tubo foi fornecido como já soldado no processo de GTAW orbital (RAMOS, 2012) que é um processo de soldagem a arco elétrico com eletrodo de tungstênio não consumível e a poça de fusão com proteção gasosa, sobre o qual se faz o acréscimo de metal de adição. Conforme foi citado na introdução, a escolha desse aço foi devido a sua larga utilização dentre os aços AISD comercialmente usados e aplicação em situações que os austeníticos não podem ser utilizados. Entretanto, podem ocorrer transformações metalúrgicas durante a 45 soldagem modificando essas resistências, o que vem sendo um objeto para uma série de estudos para analisar e controlar os parâmetros e procedimentos de soldagem. A composição química do AISD SAF 2507 pode ser observada na tabela 3. Tabela 3- Composição química do SAF 2507 conforme o fabricante SANDVIK. Sandivik UNS SAF 2507 S32750 %(peso) elementos Cmax 0,03 Si <0,8 Mn Pmax Smax Cr Ni Mo N <1,2 0,035 0,02 25 7 4 0,3 Conforme recomenda a SANDVIK, o metal de adição tenha no mínimo 2% a mais de Ni em relação ao metal de base para que haja um balanço microestrutural durante a soldagem. Com isso, o metal de adição utilizado foi AWS A5.9 ER2553 (Sandvik 25.10.4L) e sua composição química pode ser vista na tabela 4 (SANDVIK). Tabela 4- Composição química do metal de adição AWS A5.9 ER2553 (Sandvik 25.10.4L). Sandivik EN 25.10.4.l 25 9 4 NL %(peso) elementos Cmax Si Mn Pmax Smax Cr Ni Mo 0,015 0,4 0,4 0,02 0,015 25 9,5 4 Figura 26 - Junta soldada do aço SAF 2507(RAMOS, 2012). 46 N 0,24 3.2 MÉTODOS 3.2.1 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL A caracterização microestrutural visa à investigação e análise da microestrutura, além da composição química, utilizando uma das técnicas mais versáteis: a microscopia (COLPAERT, 2008), através da microsocopia ótica e eletrônica, e também da possível identificação de fases através da técnica de difração de raios X. Como recomenda COLPAERT (2008), a caracterização inicia-se através da escala macro, seguindo para escala micro, tentando buscar mais detalhes que não pode ser visualizado na escala ou aumento anterior. Com isso, começou a caracterização microestrutural do material de base e da junta soldada de aporte térmico de 1,5kJ/mm por microscopia ótica e prosseguiu para o microscópio eletrônico de varredura(MEV). 3.2.1.1 MICROSCOPIA ÓTICA A microscopia ótica apresenta numerosas aplicações como determinar as fases presentes na microestrutura e a forma como elas estão distribuídas, diferenciar através de ataques coloridos. Entretanto, o microscópio ótico apresenta duas grandes limitações: a resolução e a profundidade de foco. Por isso, para complementar a caraterização do MO, existem técnicas de microscopia que são utilizadas para observar a microestrutura dos materiais e que produzem imagens com a resolução e o contraste necessários para a observação dos detalhes microscópicos, como o MEV. Pode-se dizer que as duas técnicas mencionadas são complementares, sendo as limitações de uma os pontos fortes de outra Nesse trabalho, a preparação de amostras para MO fora baseadas na norma ASTM E-3, iniciando pelo lixamento nas seções transversais ao cordão de solda de corpos de prova com lixas de granulometria até 1200 mesh. Em seguida, realizou-se polimento com pasta de diamante para metalografia da marca Arotec com granulometria de até 1/4µ. De acordo com a norma ASTM A-923, recomenda-se a verificação de fases intermetálicas com ataque metalográfico com solução de NaOH 20%. Já a norma ASTM E-407 afirma que o ataque com reagente com ácido oxálico é indicado para observação de nitretos, 47 principalmente os precipitados intragranulares, para o delineamento da microestrutura e para a revelação de fases intermetálicas. Entretanto, o contraste entre as fases é pobre. Com o objetivo de conciliar características presentes em diferentes ataques, tais como a capacidade de indicar a presença de fases secundárias e a obtenção de um bom delineamento e contraste entre fases, adotou-se os ataques eletrolíticos sucessivos com ácido oxálico e NaOH. O primeiro ataque foi efetuado com o ácido oxálico com o objetivo de delinear as fases presentes na microestrutura e indicar sítios de precipitação de nitretos. Em seguida, as amostras foram submetidas ao ataque com NaOH para a melhora no contraste entre as fases. Com isso, em virtude de resultados anteriores como ALVES (2011) e RAMOS e FERREIRA (2012), utilizouse nesse trabalho ataques eletrolíticos sucessivos em temperatura ambiente devido aos bons resultados e reprodutibilidade apresentados por estes ataques. Para análise, utilizou-se o seguinte equipamento: Microscópio ótico, com platina invertida ZEISS modelo Axio Vert, com software de aquisição de imagem AxioVision 6.0 (Laboratório de Microscopia do IME). 3.2.1.2 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDUDA As amostras das juntas soldadas foram observadas no microscópio eletrônico de varredura a fim de identificar a presença e morfologia de fases precipitadas no metal de solda e que não puderam ser resolvidos com a microscopia ótica. Para auxiliar a identificação das fases e completar a caracterização, realizou-se a microanálise química mediante espectrometria por energia dispersiva (EDS) com sistemas de detector de acoplados ao microscópio eletrônico de varredura. Essa técnica de EDS permite a identificação dos elementos químicos presentes nas amostras. Além disso, acoplou-se também detector de elétrons retroespalhados, que possuem maior energia do que os elétrons secundários, operando numa na faixa de energia maior. Com isso, a imagem gerada por esses elétrons fornece diferentes informações em relação ao contraste que apresentam: além de uma imagem topográfica (contraste em função do relevo), também se obtém uma imagem de composição (contraste em função do número atômico dos elementos presentes na amostra) (DEDAVID, 2007). Analogamente, como preparadas para o MO, as amostras observadas no MEV foram preparadas com lixamento até a lixa de granulometria 1200 mesh, seguida do polimento com 48 pasta de diamante para metalografia da marca Arotec com granulometria de até 1/4µ. Após isso, para revelação da microestrutura, delineamento entre as fases e revelação de nitretos, realizou-se ataque sucessivo de ácido oxálico e 20% NaOH, conforme descrito anteriormente. Para análise foi utilizado o microscópio eletrônico de varredura da FEI modelo FEG QUANTA 250 (Laboratório de Microscopia Eletrônica do Instituto Militar de Engenharia), com a tensão de aceleração utilizadas em todas as análises de 20 kV. 3.2.1.3 DIFRAÇÃO DE RAIOS X As amostras das juntas soldadas foram analisadas por difração de raios X com o objetivo de identificar as fases presentes. Com isso, a preparação das amostras seguiu o mesmo roteiro descrito para as amostras de microscopia ótica, com lixamento seguido de polimento e sem ataque com reagente químico. A área analisada seguiu uma região aproximadamente circular no metal de solda, sendo assim, somente as fases presentes no metal de solda foram analisadas, conforme apresentado na Figura 27. O equipamento utilizado foi o difratômetro modelo X’Pert PRO MDP, da Panalytical (Laboratório de Difração de Raios X do IME). Utilizou-se radiação de cobalto, tensão de 45 kV, varredura passo a passo de 0,02 e tempo por passo de 49 segundos. Os picos obtidos no difratograma foram comparados com os dados disponibilizados pelo ICDD (International Center for Diffraction Data) para as fases mais prováveis de serem encontradas em AISD. De acordo com a literatura, são as seguintes fases: ferrita (34-0396), austenita (31-0619), sigma (05-0708, 09-0550, 07-0096, 09-0224, 09-0290), Cr2N(35-0803,011232), CrN (11-0065), Cr23C6(35-0783), Cr7C3(11-0550) e M7C3(05-0720, 22-0211). Utilizou-se o método de Rietveld, que é um método de simulação numérica de difratogramas (raios X, nêutrons, sincrotron), concebido para a análise de estruturas cristalinas e é amplamente usado na análise quantitativa de fases, que considera todos os pontos do difratograma. Esse método se baseia na comparação entre o difratograma da amostra (dado laboratorial) e um calculado (modelo numérico), que considera: as fases cristalinas presentes na amostra, as condições analíticas do experimento (l e outras configurações) e a determinação do background. Com isso, o difratograma calculado é refinado através de iterações buscando a 49 redução das diferenças deste para o difratograma observado (dado) pelo método dos mínimos quadrados. Esses refinamentos inserem no modelo matemático diversos parâmetros, como radiação de fundo (background), fator de escala, parâmetros da célula unitária (a, b, c, a, b, g), entre outros. Assim, com esse método consegue-se uma melhor análise qualitativa detalhada do difratograma, conseguindo identificar todas as fases presentes na amostra (GOBBO, 2011). Figura 27- Região em destaque da junta soldada varrida pelo feixe de raios X (RAMOS, 2012). 4. DISCUSSÃO E RESULTADOS 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO METAL DE BASE A parte referente ao metal de base do aço AISD SAF 2507 apresenta uma estrutura de lamelas alternadas de ferrita e austenita, além de se observar a presença de uma microestrutura orientada, mostrado na figura 28, justificada pelo processamento termomecânico a que foi submetido. Essa micrografia da ilustra uma estrutura típica de um laminado em que a região mais escura ferrita e mais clara austenita, conseguindo-se esse contraste de fases devido ao ataque eletrolítico que delineou algumas regiões do contorno de grão da ferrita. 50 A figura 29 mostra o espectro de difração de raios X da amostra do AISD SAF 2507, na região do metal de base. O difratograma mostra as fases indexadas presentes e os planos de difração. Assegurando que no metal de base existem apenas as fases ferrita e austenita, ausente de fases de nitretos, carbonetos e intermetálicos, confirmando o que foi ilustrado na figura 28. Figura 28- Micrografia do AISD UNS S32750 da região do metal de base revelando a estrutura lamelar de ferrita (fase escura) e austenita (fase clara). Microscopia ótica, ataque sucessivo de ácido oxálico e 40% NaOH, aumento 100x. Figura 29- Difratograma do AISD UNS S32750 da região do metal de base. 51 4.2 CARACTERIZAÇÃO DA JUNTA SOLDADA A análise microestrutural das juntas soldadas com aporte 1,5 kJ/mm (AP15) foi realizada por microscopia ótica e microscopia eletrônica de varredura nas áreas indicada na figura 30, em que a região A é o passe de raiz, B, C e D passe de enchimento, regiões de multipasses e região E, o passe de acabamento. Essas regiões foram analisadas baseando-se nos resultados do ensaio de corrosão do trabalho do RAMOS e FERREIRA (2012), mostrados na figura 31 em que apresenta temperaturas críticas de pite de 45, 50 e 60°C. Figura 30-Modelo esquemático das regiões avaliadas (RAMOS, 2012). 52 Figura 31- Comparação entre a espessura dos passes na altura da região B – (a) e (b) Esquema de cores para superposição de pites de todas as amostras da junta AP15 ensaiadas. (c) Esquema em tons de cinza para verificação dos graus de incidência dos pites verificados (RAMOS, 2012). 4.2.1 METAL DE SOLDA Inicialmente, devem-se ressaltar três distintas regiões que ocorrem na área do metal de solda. Essas regiões foram classificadas de acordo com a proposta de ALVES (2011): a) Regiões não reaquecidas: regiões nas quais o metal de solda apresenta uma microestrutura de bruta de solidificação, isto é, não foi possível observar alterações microestruturais; b) Regiões parcialmente reaquecidas: são as áreas afetadas parcialmente pelo calor dissipado do passe posterior do cordão de solda. Apesar da energia não ter sido suficiente para promover alterações microestruturas, ela favorece a formação de austenita secundária ou fases deletérias, além do crescimento da austenita já existente (LIPPOLD, 2005). c) Regiões reaquecidas: são zonas que apresentam sua microestrutura totalmente alterada devido a energia do cordão de solda do passe posterior ter sido o suficiente para promover essa transformação. Consegue-se observar uma severa modificação, fazendo 53 com que não seja possível visualizar grãos de ferrita que se formaram inicialmente. Isso ocorreu, pois o calor estimulou a completa ferritização da região, solubilizando inclusive a austenita existente e com os reaquecimentos dos multipasses, há condições para precipitação de novos núcleos de austenita secundária (LIPPOLD, 2005). Além disso, o reaquecimento pode provocar o desbalanceamento entre fases austenítica e ferrítica, devido à difusão adicional que pode ocorrer. Conforme mencionado anteriormente, de acordo diagramas pseudo-binários da figura 2, a solidificação ocorre inicialmente na fase ferrítica , para posterior transformação da austenita, em várias morfologias(ALVES, 2011) que se inicia nos contornos do grão ferrítico, a alotriomórfica , podendo também surgir como austenita de Widmanstätten ou intragranular (no interior do grão ferrítico) (LIPPOLD, 2005), dependendo das condições do processo da solda e se determinada região sofreu com reaquecimento ou não. Além disso, podem-se precipitar fases deletérias durante o processo de operação multipasses de soldagem. Para isso, será apresentada brevemente a morfologia das fases ferrita e austenita para se basear na caracterização de cada região dos passes da solda. Com isso, a presença de regiões com grão de ferrita grosseiros típicos de estrutura formada durante a solidificação pode ser observada nos últimos passes da junta, denominado de passes de acabamento e pertencentes à área E, da figura 30. Entretanto, este comportamento não é exclusivo dos passes de acabamento e pode ser observado no interior dos passes de enchimento. Nos passes de enchimento, regiões B, C e D, pode-se encontrar as morfologias das austenita, como descrita anteriormente, alotriomórfica, Widmanstätten e intragranular. Já no passe de raiz, área A pode-se encontrar uma microestrutura semelhante ao passe de acabamento, podendo visualizar austenita intragranular ou alotriomórfica (LONDOÑO, 2001 apud ALVES 2011). 4.2.1.1 REGIÃO A A caracterização da microestrutura inicia-se pela região do passe de raiz da solda, a região A. Observa-se nessa região uma microestrutura típica de bruta de fusão, com um maior percentual de ferrita e a presença de grãos de austenita alotriomórfica e intragranular, como pode ser observada na figura 32 uma micrografia obtida por microscopia ótica. A ocorrência dessa microestrutura é devido à ocorrência de uma maior diluição no passe de raiz, já que a energia 54 térmica de soldagem utilizada considerada alta implicou em uma maior deposição de material em cada cordão de solda ocasionando um cordão mais largo. Pode-se afirmar também que a energia de soldagem no passe de raiz não foi suficiente para promover uma significativa precipitação da austenita Widmanstätten, por isso há a presença uma maior presença de intragranular, além de uma fina austenita alotriomórfica, visto na figura 33 . De acordo com a figura 32, nessa região houve alguns pontos de pites, com CPT DE 600C. A justificativa dado pelo trabalho anterior (RAMOS, 2012) que a ocorrência dos pites foi por causa da presença da austenita secundária intragranular, por ter um menor teor de cromo em relação a primária. Entretanto, investigou-se essa por microscopia eletrônica de varredura, constatando que há indícios de fases deletérias, sendo ilustrado nas figura 34 por pontos pretos circundando as austenitas secundárias. Com o detector de elétrons retroespalhados, pela figura 35, esses pontos pretos demonstram ser região de vazios provavelmente a fase que existia ali foi arrancada devido ao ataque eletrolítico, sendo essa fase catódica em relação a sua vizinha, por isso que foi arrancada. Com isso, por esses pontos pretos estarem circundando a austenita secundára e uma das formas dela precipitar é através do cooperativismo com o nitreto de cromo (LONDOÑO, 2001 apud ALVES 2011), pode-se evidenciar que esses pontos pretos eram nitretos de cromo que causaram a corrosão no passe de raiz. 55 (a) (b) Figura 32- Micrografia obtida por microscopia ótica da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)100X b)200X (a) (b) Figura 33- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)200X b)800X 56 (a) (b) Figura 34- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)3000X b)6000X Figura 35- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A) utilizando detector retroepalhados. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 3000X. 57 Para comprovar esse resultado de CPT na região da raiz, analisou-se exatamente a área em que houve uma maior ocorrência de pite, essa área é ilustrada pela figura 36. Nessa figura, observa-se uma maior quantidade de pontos pretos em relação aos observados na figura 34, mesmo com aumento maior. Para confirmar o que eram esses pontos pretos, utilizou-se novamente detector de elétrons retroespalhados, mostrado na figura 37, novamente observando região de vazios. Assim, com as informações já citadas anteriormente, a corrosão dessa região deve-se ao fato além da presença da austenita secundária, há evidencia dos nitretos de cromo. Esse nitreto de cromo por ter elevado teor de cromo, gera na sua vizinhança uma depleção de Cr e gera uma área suscetível ao ataque do pite, como ocorreu na região A do AISD da figura 31 o CPT de 600 C. Figura 36- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 1600X. 58 Figura 37 Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região A) utilizando detector retroepalhados. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 1600X. 4.2.1.2 REGIÃO B A região B é a área acima do passe de raiz, apresentando cordões de solda não muito largos fazendo com que não sofre tanto reaquecimentos por passes laterais, mas sofra intensos reaquecimento por passes superiores. A partir da observação das micrografias da figura 38, que apresenta áreas com diferentes colorações devido à exposição a diferentes temperaturas, ocasionando gradiente de temperatura ao longo dessa região, assim pode ocasionar áreas com intenso reaquecimento, parcialmente e não aquecidas. Com foi discutido anteriormente, as principais alterações impostas pelo reaquecimento são as alterações no balanço de fases e na morfologia da austenita. Além disso, pode estimular a formação de fases deletérias, como o nitreto de cromo e a fase sigma (LONDOÑO, 2001). Para o balanço de fases, o reaquecimento favorece uma microestrutura predominantemente austenítica, através da precipitação da austenita. Dessa forma, as regiões reaquecidas tendem a apresentar maiores quantidades de austenita que as regiões não reaquecidas (NILSSON, 1993). Para avaliar a presença dessa austenita secundária devido aos reaquecimentos de passes sucessivos, 59 NILSSON e seus colaboradores (1995), constataram que há uma preferência da austenita secundária se precipitar intragranularmente pela soldagem de com múltiplos passes em juntas de AID e AISD, conforme pode ser verificado pelas figuras 38 e 39. Como nesse trabalho, avaliou-se a microestrutura da junta AP15, ela apresenta, duas possibilidades de regiões reaquecidas: a austenita primária completamente solubilizada, ou quase, e a austenita formada durante o resfriamento é constituída basicamente por austenita intragranular e alguma austenita de Widmanstätten, mostrado na figura 40. Enquanto que a outra possibilidade do reaquecimento não ter sido suficiente para solubilizar a austenita existente fazendo com que a microestrutura seja composta por austenita alotriomórfica e austenita de Widmanstätten, além da austenita intragranular precipitada durante o reaquecimento, como ilustrado na figura 41. A existência dessa microestrutura em regiões reaquecidas das juntas AP15, seja constituída por austenita alotriomórfica e austenita de Widmanstätten, além da austenita intragranular, pode ser explicada pelo elevador aporte térmico, o tamanho de grão austenítico do passe na condição como depositado e, por fim, a distância entre região reaquecida e o passe subsequente (LONDOÑO, 2001 apud ALVES 2011). Vale ressaltar que existem diferenças significativas entre as porções do metal de base e do metal de solda submetidas a alterações microestruturais, como por exemplo, o fato do metal de solda, geralmente, possuir maiores teores de elementos de liga que o metal de base, como o Ni que é um elemento estabilizador da austenita (NILSSON, 1992) 60 (a) (b) Figura 38- Micrografia obtida por microscopia ótica da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)100X b)200X (a) (b) Figura 39-Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)200X b)800X 61 Figura 40- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento1600X. Figura 41- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 1600X. 62 Pode-se perceber que a partir da visualização da figura 38, houve regiões com intensos aquecimentos que são as áreas com uma coloração mais escura. Analisando essa área pelo MEV, a figura 39(b), houve uma elevada precipitação de austenita intragranular. Com isso, buscou-se maior detalhamento com maiores aumentos para verificar a possível existência de nitreto de cromo através da micrografia da figura 42, em que conseguiu revelar pontos pretos no interior da austenita intragranular. A identificação desses pontos pretos foi possível através do ataque eletrolítico combinado utilizado que permite visualizar além delineamento entre as fases, revela esses indícios de fases deletérias o que não foram revelados em trabalhos anteriores (RAMOS, 2012). (a) (b) Figura 42- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a) 3000X e b)6000X. Para avaliar o que eram esses pontos pretos utilizou-se a técnica de análise química através da espectroscopia de energia dispersiva (EDS). Com isso, cinco regiões que destacaram na micrografia foram analisadas através do EDS, como mostra a figura 43. Foram analisados esses pontos para que se conseguisse confirmar a composição química de cada região, identificando as fases de austenita primaria e secundaria menor teor de Cr, ferrita e o ponto preto. Através da tabela 5 que mostra a composição dos cinco pontos destacados afirmando que o objeto 1 indica ser uma austenita primária, o 2 uma fase deletéria, o 3 uma austenita secundária, pois tem menor teor de Cr e Mo em relação a primária, o 4 e 5 indica ser ferrita. 63 Ferrit aFerrita Austenita Fase deletéria Austenita secundária Ferrita Ferrita Figura 43- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B), cujas regiões destacadas foram analisadas por EDS. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 4290x. Tabela 5- Composição química das regiões analisadas por EDS. Objeto Composição química(%) Si Cr Mn Fe Ni Mo 1 0,46 24,26 0,32 55,86 7,90 3,52 2 0,42 21,89 0,34 55,40 8,04 3,16 3 0,34 20,93 0,35 56,95 9,81 2,90 4 0,46 23,82 0,37 56,35 6,75 4,30 5 0,47 23,77 0,30 54,89 6,37 4,23 64 Ao ir analisando uma região acima da figura 40, como mostra a figura 44 em que o comportamento da área B permanece o mesmo, com a presença de austenita alotriomórfica, intragranular e os pontos pretos. Além das fases da austenita e a presença das fases deletérias, não foi possível visualizar ferrita, devido a intenso reaquecimento que sofre a região B. Vale salientar que tanto a austenita alotriomófica e a intragranular placas têm uma orientação preferencial é do tipo Kurdjumov-Sachs (K-S) (LONDOÑO, 2001). (a) (b) Figura 44- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a) 3000X e b)6000. Para mais detalhes sobre o que eram esse pontos pretos em torno da austenita intragranular secundária, analisou uma pequena área da figura 44 (b), utilizando um aumento de 24000X, como mostra a figura 45. Pelo aumento utilizado, verifica-se que esses pontos pretos são fases estão localizadas na interface da austenita, seguindo uma mesma direção sobre a austenita. Com isso, para verificar qual possível seria, utilizou a técnica de EDS sobre uma região em destaque como mostra a figura 46. A partir da análise do EDS da figura 46 e seu difratograma na figura 47, pode-se concluir que esses pontos pretos são áreas que não possuem nenhum elemento químico em destaque, isto é, um vazio. Isso pode ser comprovado pela análise de EDS pelo mapeamento da região, 65 mostrado na figura 46, onde mostra traços escuros em relação à composição química em destaque, somente apresentando o elemento químico do Fe, como se era esperado. Assim, pela forma como esses traços escuros estão, na interface da austenita, pode-se evidenciar que esses vazios eram nitretos de cromo, já que uma das formas da austenita secundária é através da cooperação entre Cr2N e γ2 a partir da interface α/γ (LONDOÑO, 2001), conforme está na figura 46. Provavelmente, esses nitretos que existiam foram arrancados pelo ataque eletrolítico utilizado, por ser uma região catódica em relação a sua vizinhança Além disso, de acordo com difratograma da composição química da região, confirma a composição química do aço AISD, com presença de Fe, Ni, Cr e Mo. A partir da análise das micrografias e EDS, justificam-se os intensos os resultados CPT na região B, pela grande fração de austenita intragranular secundária nessa região e a evidencia de nitreto de cromo. Conforme discutido, o nitreto de cromo causa corrosão localizada, devido a sua fase apresentar um elevado teor de cromo, fazendo com que sua vizinhança fica empobrecida desse elemento sendo uma área suscetível ao ataque corrosivo; já austenita secundária provoca o pite, pois sua fases apresenta um menor teor de cromo em relação a primária, assim fica uma área com menor resistência a corrosão. Figura 45- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 (região B). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 24000X. 66 Si C Cr Fe Ni Mo Figura 46-Esquematização da região analisada por EDS e seus possíveis elementos químicos presentes na área analisada. de composição química Figura 47-Difratograma dos elementos químicos obtidos pela análise de EDS 67 4.2.1.3 REGIÃO C e D Optou-se por agrupar as regiões C e D já que ambas, compondo as regiões mais largas do chanfro, apresentavam comportamentos semelhantes ao terem suas micrografias analisadas, como mostra a figura 48. De maneira geral, essas áreas apresentam uma microestrutura intensamente modificada pelos reaquecimentos e com uma forte presença de austenita intragranular e dos pontos pretos, como foram observados na região B. Pode-se visualizar que essas regiões apresentam comportamento semelhante a de B, com a possibilidade das duas regiões reaquecidas aparecerem: a austenita primária completamente solubilizada, ou quase, e a austenita formada durante o resfriamento é constituída basicamente por austenita intragranular e alguma austenita de Widmanstätten, mostrado na figura 49. Enquanto que a outra possibilidade do reaquecimento não ter sido suficiente para solubilizar a austenita existente fazendo com que a microestrutura seja composta por austenita alotriomórfica e austenita Widmanstätten, além da austenita intragranular precipitada durante o reaquecimento, como a figura 50. 100 μm (a) (b) Figura 48- Micrografia obtida por microscopia ótica da junta soldada do passe de raiz com AP15. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 200X: a)Região C e b)Região D. 68 (a) (b) Figura 49- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 em uma região que foi completamente solubilizada. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 1600X: a)Região C e b)Região D. (a) (b) Figura 50- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15 em uma região que foi parcialmente solubilizada. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 800X: a)Região C e b)Região D. 69 Ainda em relação à forma dos grãos nessas duas áreas, há regiões em com grãos colunares de austenita, onde provavelmente a temperatura naquela região foi menor que a Tsolvus. Já a região um pouco acima esta diferente, pois foi uma região que ferritizou completamente, atingindo uma temperatura maior que a Tsolvus devido a um reaquecimento maior, por estar mais próxima a região do passe posterior, isso é mostrado na figura 51, onde esse comportamento foi típico tanto na área C como na D. Com isso, quando há regiões que ferritizou completamente , pela soldagem ser um típico resfriamento rápido , preferencialmente surge a intragranular, enquanto as outras, alotriomórfica e Widmanstätten, são oriundas do resfriamento bruto de fusão (ALVES, 2011). Esse comportamento pode ser observados nas micrografias, com a presença das duas últimas citadas e a grande fração de secundária intragranular. Percebe-se novamente grande quantidade de pontos pretos na interface da austenita intragranular, sendo observado com aumentos maiores, como na figura 52 e 53. Conforme foi discutido, esses traços escuros na interface da austenita secundária são evidencias de nitretos de cromo, que ocasionaram a grande quantidade de pites, além da austenita intragranular, nessas duas áreas C e D e os resultado do CPT feitos nos ensaios de corrosão realizados por RAMOS e FERREIRA (2012). 70 (a) (b) Figura 51- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 400X: a)Região C e b)Região D. (a) (b) Figura 52- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 3000X: a)Região C e b)Região D. 71 (a) (b) Figura 53-Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de raiz com AP15. Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 3000X: a)Região C e b)Região D. 4.2.1.5 REGIÃO E A região E foi onde ocorreram os passes de acabamento. O cordão de solda dessa região é mais largo, pois não sofre reaquecimento, por ser o último passe. Entretanto, algumas áreas podem sofre reaquecimento por passes lateralmente depositados. A partir de micrografias de juntas de AP15, percebe-se que, para uma microestrutura de bruta de fusão, como mostra a figuras 54, por microscopia ótica, e 55, por MEV. Percebe-se que na figura 55 há uma maior quantidade de ferrita, por ser uma região que não sofreu um reaquecimento, sendo último passe, em que os grãos colunares refletem o sentido de perda de calor durante a solidificação. Há também a presença de austenita intragranular e alotriomófica preservada nos contornos do grão ferrítico que pode ser uma região parcialmente reaquecida, como mostra da figura 56 de MEV possibilitando maiores detalhes da microestrutura e morfologias das fases. Com isso, essa microestrutura é justificada pelo resfriamento lento devido ao aporte de AP 15 que tende a ter uma alotriomórfica um pouco maior e menos austenita secundária intragranular em que sua presença no passe de acabamento 72 gera um comportamento não muito típico para essa área e pode ter surgido durante um reaquecimento de um passe lateral. Ainda na figura 56, pode-se visualizar grande presença dos pontos pretos, que são indícios de nitretos, já que o Nitrogênio tem uma solubilidade menor da ferrita que na austenita, ele se precipita na forma de nitretos de cromo. Além disso, observa-se que há maior fração de pontos pretos no contorno de grão que no interior, sendo justificado pelo aporte térmico utilizado apresentar energia elevada, gerando um resfriamento lento e favorece a difusão dos nitretos para contorno de grão da ferrita, sendo perfeitamente visto na figura 57, onde os indícios de nitretos encontram-se entre a interface austenita alotriomórfica e ferrita. Ainda existem os pontos pretos no interior do grão ferrítico, como visualizado na figura 56. Novamente, para verificar que os pontos pretos eram regiões vazias, utilizou-se o detector de elétrons retroespalhados, que obtém um contraste em função do número atômico dos elementos presentes na amostra e esses pontos pretos indicam vazios, mostrados nas figuras 58 e 59, sendo com um aumento maior. Como já discutido anteriormente, esses pontos pretos indicam ser nitretos de cromo, pela forma como eles estão distribuídos na austenita. Assim, os resultados do CPT na região E, apresentou um número significativo de pites, mesmo menor em relação as outras áreas, devido há presença dos indícios de nitretos de cromo, além da austenita secundária. 73 (a) (b) Figura 54- Micrografia obtida por microscopia ótica da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: a)100X b)200X Figura 55- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 200X 74 Figura 56- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento1600X. Figura 57- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento: 6000X. 75 (a) (b) Figura 58-Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. %. Aumento 800X, com detector: a)ETD b)elétrons retroespalhados (a) (b) Figura 59- Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura da junta soldada do passe de acabamento com AP15 (região E). Ataque eletrolítico combinado com NaOH 20% e Ácido Oxálico 10%. Aumento 6000X com detector a)ETD b)elétrons retroespalhados 76 4.3 DIFRAÇÃO DE RAIOS X Da análise dos difratograma apresentado na figura 60, e das possíveis fases indexadas para os picos na tabela 6, percebe-se uma provável superposição de picos referentes às fases secundárias com os da austenita e ferrita. Alguns indícios, como a presença de picos isolados referentes às fases nitreto de cromo e sigma aliado com a possibilidade de existência de picos de outras, confirmam a idéia de que foi possível detectar a presença destas fases na análise do aço utilizado nesse trabalho. Estas constatações estão de acordo com o que foi discutido durante a análise microestrutural do metal de solda. De acordo com a tabela 6, os picos para a junta AP15 apresenta a presença de pico individual de nitreto de cromo, mas também alguns picos indicam a presença de precipitados de carboneto , o que permite afirmar que a junta AP15 exibiu a formação de carboneto de cromo no metal de solda, região esta analisada por difração de raios X. Embora a metalurgia de AISD contemple a formação de diversos carbonetos de cromo, a observação destas fases por microscopia ótica e por microscopia eletrônica de varredura é muito limitada tendo em vista que a presença de nitretos de cromo é muito freqüente e mais abundante. A explicação para isto se deve ao baixo teor de carbono e elevado teor de nitrogênio presente nos AISD, em particular no SAF 2507, o que torna mais fácil a precipitação de nitretos de cromo que carbonetos (LONDOÑO, 2001). Cabe ressaltar que pelas fases secundárias encontradas no aço serem muitos pequenas em relação a austenita e ferrita, seria difícil a exata determinação da fase deletéria existente, mesmo utilizando o método de Rietveld (GOBBO, 2011), figura 61, comprovado através do refinamento do difratograma da figura 60, foi possível concluir que a maior porcentagem das fases existentes são austenita e ferria, e uma pequena percentagem de fase contendo Cr, com 0,4%, não sendo possível distingui-la se era nitreto e carboneto. Entretanto, a partir das outras análises feitas com outras técnicas utilizadas nesse trabalho, podese afirmar que essa fases contendo o Cr no difratograma de Rieteveld é o nitreto de cromo. Assim, as fases existentes no metal de solda são, austenita, ferrita e nitreto de cromo. 77 Intensidade (CPS) Ângulo de difração (2θ) Figura 60-Difratograma da região do metal de solda da junta soldada com aporte térmico de 1,5 kJ/mm Tabela 6- Fases indexadas da difração de raios X da junta soldada com AP 15. Pico Pos. [°2θ] Distância 1 45,7074 2,30484 Rel. Int. [%] 1,87 2 46,6792 2,25946 3,39 3 50,7266 2,08974 72,59 4 51,9457 2,04399 100 5 59,2803 1,81003 17,18 6 76,5188 1,44561 5,75 7 88,9539 1,27765 8,68 8 98,9312 1,17696 15,31 78 Fase CrC Cr-C-N Cr-C-N Austenita sigma Cr2N ferrita (Cr,Fe)7C3 Cr7C3 Cr-C-N (Cr,Fe,Mo)7C3 Austenita Cr23C6 Cr-Mo-Ni-N Cr2N Austenita Cr7C3 Sigma Ferrita (Cr,Fe)7C3 Cr7C3 Figura 61- Difratograma de Análise quantitativa pelo método de Rietveld da região do metal de solda da junta soldada com aporte térmico de 1,5 kJ/mm. 79 5. CONCLUSÃO Esse trabalhou alcançou os objetivos propostos ao avaliar a microestrutura de juntas de AISD (SAF 2507) soldadas com GTAW orbital na condição de múltiplos passes consegue-se justificar os resultados de pites apresentados após o ensaio de corrosão ao qual o aço foi submetido. A partir das análises da análise microestrutural por microscopia ótica, de varredura e difração de raios X, permitiu evidenciar às seguintes conclusões: • As regiões submetidas a sucessivos reaquecimentos apresentam uma microestrutura totalmente modificada, com a presença predominantemente austenítica e esta precipitada sob a forma de austenita intragranular e alotriomórfica. • As austenitas presentes na área analisada dependem se o reaquecimento promoveu a total ou parcial ferritização de determinada região • Os pontos pretos observado evidenciam ser nitreto de cromo pela forma onde estão localizados, na interface da austenita secundária, já que esta pode precipitar através do cooperativismo entre nitreto e a austenita secundária a partir da interface α/γ • A utilização do ataque eletrolítico sucessivo mostrou-se satisfatório para identificação de fases secundárias e delineamento entre essas fases. • A análise do metal de solda por difração de raios X indicou a existência de fases secundárias observadas por microscopia ótica e por microscopia eletrônica de varredura embora a sobreposição de picos dificulte a confirmação destas, mesmo utilizando a técnica de refinamento. • Os resultados dos CPT no passe de raiz e de acamento pode ser justificado pela por determinada fração de austenita secundária e as evidencias do nitreto de cromo. Já para as regiões onde houve maior incidência de pites e baixos valores de CPT, é justificado pela grande fração dessas duas fases: austenita secundária e nitreto de cromo. 80 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Fábio Pereira. Dissertação de Mestrado: Estudo da evolução microestrutural de Juntas de AISD em Soldagem com múltiplos passes. COPPE, UFRJ, Rio de Janeiro, 2011. ASTM A-923, “Standard Test Methods for Detecting Detrimental Intermetal.c Phase in Duplex Austenitic/Ferritic Stainless Steels”. ASTM E-23, “Standard Test Methods for Notched Bar Impact Testing of Metal. Materials”. ASTM E-3, “Standard Guide for Preparation of Metallographic Specimens.ASTM – American Society for Testing and Materials”, 2007. ASTM E-407, “Standard Practice for Microetching Metals and Alloys. ASTM - American Society for Testing and Materials”, 2007. 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