Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 ESTIMATIVA DE FORÇAS DE INTERAÇÃO PARA EXOESQUELETO DE MEMBROS INFERIORES VICTOR C. CHAIM, ADRIANO A. G. SIQUEIRA, SAMUEL L. NOGUEIRA Departamento de Engenharia Mecânica, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo Avenida Trabalhador São-Carlense, 400, Pq. Arnold Schmidt, 13566-590, São Carlos, SP, Brasil E-mails: [email protected], [email protected], [email protected] Abstract This paper deals with estimation of the interaction forces between the patient and the exoskeleton, thereunto the computed-torque control and the force estimation based on observers were applied in a walking simulator in different system's (patient and orthosis) conditions. Two simulations will be presented, the first one simulating the walking of a patient with an ankle deficiency, whether interacting or not with the exoskeleton. The second simulation shows the results for the estimated torque for different gain values. Keywords Computed Torque, Force Estimation, Exoskeleton, Estimation based on Observers, Control Resumo O objetivo deste trabalho é estimar as forças de interação entre o paciente e o exoesqueleto, para tanto o controle de torque calculado e a estimativa de forças baseada em observador foram aplicados em um simulador de caminhar para diferentes condições do sistema (paciente e órtese). Duas simulações são apresentadas, a primeira simulando o caminhar de um paciente com deficiência no tornozelo, interagindo ou não com o exoesqueleto. A segunda simulação mostra os resultados obtidos para o torque estimado para diferentes valores de ganho. Palavras-chave Torque Calculado, Estimativa de Força, Exoesqueleto, Estimativa baseada em Observador, Controle 1 A estimativa de forças de interação em exoesqueletos provocadas pelo paciente são de extrema importância, tanto durante testes de validação do dispositivo quanto durante a utilização pelo paciente. Em teste de validação, a estimativa de força auxiliará aos pesquisadores verificarem como possíveis macro-incompatibilidades (tais como: diminuição de graus de liberdade em determinados membros) do exoesqueleto afetariam o movimento natural do paciente. Tais estimativas também poderão ser utilizada como limitantes de segurança e compensação de forças exercidas e recebidas pelo paciente. Durante a utilização do equipamento, a estimativa servirá como entrada para o controlador do exoesqueleto e como limitante de segurança. Na Figura 1, é exibido um laço de controle idealizado da interação entre um homem e o exoesqueleto. Neste temos o SNC (Sistema Nervoso Central), atuando nos músculos e produzindo movimento. Por outro lado o exoesqueleto sentiria esta mudança através de seu sistema de sensoriamento e sendo este alimentado por uma lei de controle, acionaria seus atuadores produzindo forças nos membros do usuário (Pons, 2008). Introdução O desenvolvimento de tecnologias para reabilitação, usos assistenciais ou mesmo auxiliares ao caminhar humano, tem despertado grande interesse em pesquisadores desde o início do século XXI. Entretanto numerosos desafios ainda impedem que tais tecnologias sejam clinicamente utilizadas e tornem-se uma realidade viável (Pons, Moreno, Brunetti e Roccon, 2007). Dentre estas destaca-se o desenvolvimento de tecnologias robóticas vestíveis, do inglês Wearable Robots (WR), sendo que tais dispositivos podem ser utilizados de forma assistenciais ou para reabilitação de indivíduos com deficiência de locomoção. Segundo Pons (2008) uma importante característica de WR está na intrínseca interação entre o ser humano e o robô. Esta interação implica na cooperação entre o robô e o indivíduo, levando à aplicação de controladores de força e impedância. A ação destes dois agentes deve ser coordenada e adaptada mutualmente pois o comportamento inesperado de um destes durante uma interação poderá ocasionar sérias lesões ao usuário. A interação física homem-robô representa uma das formas mais críticas de interação entre homens e máquinas. Qualquer movimento do robô que ocorra em contato com o ser humano, e qualquer força exercida pelo robô, deve ser suave e complacente e nunca exceder a força máxima suportada pela pessoa, para sua própria proteção. Desta força o sensoriamento de WR deve ser extremamente cuidadoso, pois pequenas falhas nestes poderão provocar erros de medição e estimativa, fornecendo informações não reais aos controladores. Figura 1: Interação entre homem e exoesqueleto 1537 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 interação de força/torque no efetuador robótico. Portanto a equação dinâmica de um dispositivo robótico, pode ser dada por: Desta forma torna-se evidente a necessidade de estimativa de forças em exoesqueletos. Tais estimativas podem ser realizadas de forma direta utilizando sensores de força, como células de carga multi-eixos, ou de forma indireta utilizando informações de acionamento das juntas, tais como torque utilizado no acionamento. A grande vantagem dessa segunda forma está em não ser necessário a utilização de sensores força ou mesmo células de carga, que possuem alto valor agregado e por tanto encareceriam o projeto. Van Damme et al. (2011) apresentam duas abordagens para estimativas de forças de interação em efetuadores robóticos, sendo que a primeira combina uma abordagem baseada em equações dinâmicas filtradas com um algoritmo de estimativa recursivo baseado em mínimos quadrados. Já a segunda consiste de uma generalização do momento, baseado na perturbação do observador. Ambas as abordagens eliminam a necessidade de medida da aceleração e inversão da matriz de inércia. Neste trabalho, a abordagem baseada em observador proposta por Van Damme et al. (2011) é utilizada para estimar as forças de interação entre o paciente e o exoesqueleto. A estimativa é avaliada por meio de um simulador de caminhar que considera dois sistemas dinâmicos (paciente e exoesqueleto) acoplados e controlados pelo método do torque calculado. A justificativa da utilização deste método é a sua simplicidade de aplicação, apesar de que estudos mostram que o modelo mais próximo da lógica de controle humano é o controle baseado em economia de energia, como apresentado por Hartmut Geyer et al. (2007) e Frank Anderson e Marcus Pandy (2001). Diferentes situações com relação a uma possível deficiência do paciente, nível de interação com o exoesqueleto, e ajuste de ganhos do estimador são analisadas. O artigo é organizado da seguinte forma: na Seção 2 é apresentado o procedimento de estimativa de força em robôs manipuladores baseada no momento generalizado; na Seção 3 é apresentado o método do torque calculado; na Seção 4 é apresentada a modelagem dos sistemas paciente e exoesqueleto e as simulações considerando a interação entre eles; na Seção 5 são apresentadas as simulações da estimativa do torque de interação; e na Seção 6 são apresentadas as conclusões. 𝐻(𝑞)𝑞̈ + 𝐶(𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ + 𝐺(𝑞) + 𝜏𝑓 (𝑞̇ ) = 𝜏 + 𝜏𝑑 , ( 1 ) sendo 𝑞 o posicionamento das juntas, 𝐻(𝑞) a matriz de inércia, 𝐶(𝑞, 𝑞̇ ) a matriz de termos centrífugos e forças de Coriolis, 𝐺(𝑞) vetor contendo os torques gravitacionais presente nas juntas, 𝜏𝑓 (𝑞̇ ) vetor contendo os torques de atrito e 𝜏 vetor contendo os torques nos atuadores. A matriz 𝐶(𝑞, 𝑞̇ ) pode ser escolhida de acordo com Siciliano, Sciavicco, Villani e Oriolo (2009) H(𝑞) = 𝐶(𝑞, 𝑞̇ ) + 𝐶 𝑇 (𝑞, 𝑞̇ ). (2) O observador é baseado no momento generalizado do robô, o qual é definido como 𝑝 = 𝐻(𝑞)𝑞̇ . (3) Sua derivada no tempo é 𝑝̇ = 𝐻(𝑞)𝑞̈ + 𝐻̇ (𝑞)𝑞̇ . (4) Utilizando as equações (1) e (2) pode-se reescrever a equação (4) como 𝑝̇ = 𝜏 + 𝐶 𝑇 (𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ − 𝐺(𝑞) − 𝜏𝑓 (𝑞̇ ) + 𝜏𝑑 . ( 5 ) Esta equação demonstra a vantagem de utilizarmos o momento generalizado, pois a evolução temporal de 𝑝 é desacoplada do distúrbio de torque, e o iésimo componente de 𝑝̇ depende somente do i-ésimo componente de 𝜏𝑑 . Neste ponto, assume-se que o objetivo está em desenvolver um observador para 𝑝 em vez de 𝜏𝑑 . Dessa forma, ignorando o termo 𝜏𝑑 por este não ser uma informação de medição, e aplicando uma entrada extra contendo o erro de predição 𝑒 = 𝑝 − 𝑝̂ , pode-se escrever 𝑝̂ como uma predição de 𝑝, sendo que as dinâmicas do observador podem ser dadas por: 2 Estimativa de Força em Manipuladores Robóticos 2.1 Estimativa de Força Baseada em Observador: 𝑝̂̇ = 𝜏 + 𝐶 𝑇 (𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ − 𝐺(𝑞) − 𝜏𝑓 (𝑞̇ ) + 𝐾𝐼 𝑒, ( 6 ) Nesta abordagem foi escolhido um momento generalizado baseado na perturbação do observador, este mesmo conceito foi utilizando por De Luca e Mattone (2003 e 2005) e De Luca, Albu-Schaffer, Haddadin e Hirzinger (2006). O momento generalizado baseado na perturbação do observador assume a presença de um distúrbio de torque 𝜏𝑑 nas juntas do dispositivo robótico, que será assumido como sendo o resultado da com 𝐾 uma matriz de ganho diagonal definida positiva. Desde que não existam incertezas na modelagem do sistema, verifica-se que 𝐾𝐼 em (6) corresponde a 𝜏𝑑 em (5). Escrevendo 𝑟 = 𝐾𝐼 𝑒, através de (5) e (6) temse 1538 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 𝑟̇ = 𝐾𝐼 (𝑝̇ − 𝑝̂̇ ) = 𝐾𝐼 𝜏𝑑 + 𝐾𝐼 𝑟. (7) Depois desta substituição, o sistema se torna linear: Integrando ambos os lados da equação (7) no tempo, e assumindo condições iniciais nulas para 𝑝̂̇ , tem-se: 𝑒̇ 0 [ ]=[ 𝑒̈ 0 𝐼 𝑒 0 ] [ ] + [ ] 𝑢. 0 𝑒̇ 𝐼 ( 16 ) 𝑡 𝑟 = 𝐾𝐼 (𝑝 − ∫0 (𝜏 + 𝐶 𝑇 (𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ − 𝐺(𝑞) − 𝜏𝑓 (𝑞̇ ) + + 𝑟)𝑑𝑡). Portanto, o torque calculado será: (8) 𝜏 = 𝐻(𝑞)(𝑞̈ 𝑑 − 𝑢) + 𝐶(𝑞, 𝑞̇ ) + 𝐺(𝑞), ( 17 ) Assumindo que o distúrbio de torque seja provocado por uma força externa 𝑓𝑒 no efetuador robótico, então 𝑓𝑒 é dada por: 𝑓𝑒 = (𝐽𝑇 (𝑞))−1 𝑟. e por fim, substituindo a expressão (17) na equação dinâmica (10): 𝐻(𝑞)𝑞̈ + 𝐶(𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ + 𝐺(𝑞) = 𝐻(𝑞)(𝑞̈ 𝑑 − 𝑢) + 𝐶(𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ + 𝐺(𝑞), (9) A metodologia de estimativa de forças de contato descrita nesta seção será adaptada para ser utilizada em exoesqueletos para membros inferiores, buscando estimar de forma robusta as forças de interação entre o paciente e o exoesqueleto. 𝑒̈ = 𝑢. ( 18 ) ( 19 ) Sendo assim, a malha fechada do sistema com a aplicação deste método é como mostrado na figura 2. 3. Método do Torque Calculado Este método utiliza o modelo dinâmico do sistema a ser controlado para linearizar e desacoplar o sistema, facilitando assim o cálculo da ação de controle, no caso um torque de entrada. Sendo assim, assumindo o modelo dinâmico do sistema na forma: 𝐻(𝑞)𝑞̈ + 𝐶(𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ + 𝐺(𝑞) = 𝜏. ( 10 ) Figura 2: Malha Fechada - Método do Torque Calculado Derivando-se o erro de acompanhamento da trajetória: 𝑒̇ = 𝑞̇ 𝑑 − 𝑞̇ , ( 11 ) 𝑒̈ = 𝑞̈ 𝑑 + 𝑞̈ . ( 12 ) Neste projeto se considerou um controle PD, tanto para o exoesqueleto quanto para o paciente, substituindo assim seu controle biológico para que se pudesse realizar as simulações. Portanto, o torque calculado mais o controle proporcional derivativo resulta em: 𝑢 = −𝐾𝑣 𝑒̇ − 𝐾𝑝 𝑒, Substituindo 𝑞̈ : 𝑒̈ = 𝑞̈ 𝑑 − 𝐻(𝑞)−1 [𝜏 − 𝐶(𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ − 𝐺(𝑞)]. ( 13 ) 𝜏 = 𝐻(𝑞)(𝑞̈ 𝑑 + 𝐾𝑣 𝑒̇ + 𝐾𝑝 𝑒) + + 𝐶(𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ + 𝐺(𝑞), 𝑇 Considerando o espaço de estados: 𝑥 = [𝑒𝑒̇ ] 𝑒̇ 0 [ ]=[ 𝑒̈ 0 ( 20 ) ( 21 ) sendo 𝐾𝑣 e 𝐾𝑝 os ganhos derivativo e proporcional, respectivamente. 𝐼 𝑒 0 ] [ ] + [ ] (𝑞̈ 𝑑 − 𝐻(𝑞)−1 [𝜏 − 0 𝑒̇ 𝐼 −𝐶(𝑞, 𝑞̇ ) − 𝐺(𝑞)]). ( 14 ) E, por fim, a equação dinâmica do erro será: 𝑒̈ + 𝐾𝑣 𝑒̇ + 𝐾𝑝 𝑒 = 0. ( 22 ) Define-se a variável de controle como sendo: Utilizou-se, como já dito anteriormente, o método do torque calculado para o cálculo dos torques do 𝑢 = 𝑞̈ 𝑑 − 𝐻(𝑞)−1 [𝜏 − 𝐶(𝑞, 𝑞̇ )𝑞̇ − 𝐺(𝑞)]. ( 15 ) 1539 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 exoesqueleto e do paciente que são necessários para que se atinja a trajetória desejada. Assume-se aqui que o paciente possui um modelo interno do caminhar e acompanha a trajetória desejada conforme este modelo. 4. Simulações de Trajetória Angular – Paciente e Exoesqueleto 4.1 Sem Interação entre o Paciente e o Exoesqueleto Nesta etapa foram realizadas diferente simulações para as trajetórias angulares do paciente e o exoesqueleto, considerando diferentes parâmetros de interação e torque exercido pelo paciente. Para o cálculo dos torques foi utilizado o método do torque calculado, descrito em seção anterior. Todos os gráficos nesta seção serão referentes à disposição de juntas, tanto do paciente quanto da órtese, mostrada na Figura (3). Para esta configuração consideram-se os ganhos 𝐾𝑖𝑛𝑡 e 𝐵𝑖𝑛𝑡 (referentes à rigidez e amortecimento da interação, respectivamente) nulos, desse modo não existem forças de interação entre o paciente e a órtese. A movimentação de ambos é independente, como pode-se observar claramente no gráfico abaixo: Figura 4: Deslocamento Angular x Tempo - 7 Juntas Nota-se também que o deslocamento angular das juntas do paciente e do robô estão sobrepostos, indicando que ambos seguem devidamente a trajetória desejada. É importante destacar que o modelo matemático do paciente está sendo utilizado tanto para o cálculo da trajetória do mesmo quanto para o controle baseado no torque calculado, desse modo as trajetória são exatamente as mesmas. O que não ocorreria na aplicação prática deste processo, pois o modelo não representa a realidade com perfeição, afinal muitas considerações para simplificação de cálculos são consideradas. Nesta primeira simulação também foi considerado o paciente em perfeitas condições, sem deficiência em nenhuma das suas juntas. Figura 3: Numeração das Juntas do Paciente e do Exoesqueleto Para as simulações são considerados dois modelos dinâmicos, um do paciente e outro exoesqueleto, com o torque de interação 𝜏𝑖𝑛𝑡 acoplando os dois modelos. As equações dinâmicas são dadas por: 𝐻𝑝𝑎𝑐 (𝑞𝑝𝑎𝑐 )𝑞̈ 𝑝𝑎𝑐 + 𝐶𝑝𝑎𝑐 (𝑞𝑝𝑎𝑐 , 𝑞̇ 𝑝𝑎𝑐 )𝑞̇ 𝑝𝑎𝑐 + + 𝐺𝑝𝑎𝑐 (𝑞𝑝𝑎𝑐 ) = 𝜏𝑝𝑎𝑐 − 𝜏𝑖𝑛𝑡 , ( 23 ) 𝐻𝑒𝑥𝑜 (𝑞𝑒𝑥𝑜 )𝑞̈ 𝑒𝑥𝑜 + 𝐶𝑒𝑥𝑜 (𝑞𝑒𝑥𝑜 , 𝑞̇ 𝑒𝑥𝑜 )𝑞̇ 𝑒𝑥𝑜 + +𝐺𝑒𝑥𝑜 (𝑞𝑒𝑥𝑜 ) = 𝜏𝑒𝑥𝑜 + 𝜏𝑖𝑛𝑡 , ( 24 ) 4.2 Sem Interação entre o Paciente e o Exoesqueleto - Paciente com Deficiência no Tornozelo sendo Nesta configuração se utilizou novamente os ganhos 𝐾𝑖𝑛𝑡 e 𝐵𝑖𝑛𝑡 iguais à zero, porém com uma diferença, considerou-se o torque aplicado pelo paciente na articulação do tornozelo somente um décimo do torque necessário para desenvolver-se o trajeto original. Esta condição representa uma deficiência na articulação do tornozelo do paciente decorrente da incapacidade de realizar o torque necessário. O comportamento apresentado pela articulação do tornozelo se as- 𝜏𝑖𝑛𝑡 = 𝐾𝑖𝑛𝑡 (𝑞𝑝𝑎𝑐 − 𝑞𝑒𝑥𝑜 ) + 𝐵𝑖𝑛𝑡 (𝑞̇ 𝑝𝑎𝑐 − 𝑞̇ 𝑒𝑥𝑜 ), ( 25 ) o torque de interação, modelado aqui como possuindo elementos de rigidez e de amortecimento entre as juntas de cada sistema. Os valores de 𝜏𝑝𝑎𝑐 e 𝜏𝑒𝑥𝑜 foram calculados utilizando o controle do torque calculado. 1540 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 jada, enquanto que a do exoesqueleto se afastou ligeiramente. Este fato comprova a interferência da dinâmica do paciente sobre o robô, e vice-versa, ou seja, o robô mais o paciente gerarão uma nova trajetória que não será a original, mas que dela se aproximará, dependendo do valor dos parâmetros de acoplamento entre ambos, 𝐾𝑖𝑛𝑡 e 𝐵𝑖𝑛𝑡 . semelha ao problema do pé caído de pessoas hemiparéticas. Note que a trajetória angular do tornozelo do paciente não é mais a desejada. Para ilustrar esta situação mostrar-se-á somente os gráficos da junta do tornozelo tanto para o paciente, quanto para a órtese, Figura (5). 4.4 Com Forte Interação entre o Paciente e o Exoesqueleto - Paciente com Deficiência no Tornozelo Por fim, aumentou-se os ganhos 𝐾𝑖𝑛𝑡 e 𝐵𝑖𝑛𝑡 para 60 e 0,2, respectivamente, ainda com a mesma deficiência. Novamente, o gráfico apresentado, Figura 7, contém as três curvas de trajetórias: a do paciente, a do robô e a desejada. Figura 5: Tornozelo com Deficiência - Sem Interação Observa-se a diferença entre as duas trajetórias, uma vez que não existe esforço por parte da órtese para manter o paciente na trajetória desejada. 4.3 Com Pequena Interação entre o Paciente e o Exoesqueleto - Paciente com Deficiência no Tornozelo Agora os ganhos 𝐾𝑖𝑛𝑡 e 𝐵𝑖𝑛𝑡 assumem os valores de 10 e 0,1, respectivamente, mantendo-se ainda a deficiência no tornozelo do paciente. A simulação gerou o gráfico da Figura 6, que apresenta não só a trajetória da última junta do robô e do paciente, mas também a trajetória desejada. Figura 7: Tornozelo com Deficiência - Alta Interação Conclui-se desta configuração, que com estes valores de ganho, a nova trajetória intermediária gerada pelo sistema paciente/órtese se aproximará ainda mais do trajetória desejada, ou seja, tornando a interação mais intensa e aproximando o movimento do tornozelo do paciente do esperado. 5. Estimativa do Torque de Interação O torque de interação entre o exoesqueleto e o paciente pode ser determinado através do método da estimativa de força em observador (Seção 2). Para isso, permanecem os mesmos valores de 𝐾𝑖𝑛𝑡 e 𝐵𝑖𝑛𝑡 utilizados na simulação com forte interação entre o paciente e o exoesqueleto, 60 e 0,2, respectivamente. Além dessa consideração, o paciente ainda apresenta deficiência no tornozelo. Sendo assim, o torque de interação estimado será o da junta 7, referente ao tornozelo do paciente. Este torque de interação está presente nas equações dinâmicas do robô e do paciente, representado por um torque de ação e reação, como mostrado nas equações (23) e (24), que representam o robô e o paciente, respectivamente, e reproduzidas aqui: Figura 6: Tornozelo com Deficiência-Baixa Interação Pode-se observar que a trajetória angular do tornozelo do paciente aproximou-se da trajetória dese- 1541 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 𝐻𝑝𝑎𝑐 (𝑞𝑝𝑎𝑐 )𝑞̈ 𝑝𝑎𝑐 + 𝐶𝑝𝑎𝑐 (𝑞𝑝𝑎𝑐 , 𝑞̇ 𝑝𝑎𝑐 )𝑞̇ 𝑝𝑎𝑐 + +𝐺𝑝𝑎𝑐 (𝑞𝑝𝑎𝑐 ) = 𝜏𝑝𝑎𝑐 − 𝜏𝑖𝑛𝑡 , ( 26 ) 𝐻𝑒𝑥𝑜 (𝑞𝑒𝑥𝑜 )𝑞̈ 𝑒𝑥𝑜 + 𝐶𝑒𝑥𝑜 (𝑞𝑒𝑥𝑜 , 𝑞̇ 𝑒𝑥𝑜 )𝑞̇ 𝑒𝑥𝑜 + +𝐺𝑒𝑥𝑜 (𝑞𝑒𝑥𝑜 ) = 𝜏𝑒𝑥𝑜 + 𝜏𝑖𝑛𝑡 , ( 27 ) sendo 𝜏𝑖𝑛𝑡 = 𝐾𝑖𝑛𝑡 (𝑞𝑝𝑎𝑐 − 𝑞𝑒𝑥𝑜 ) + 𝐵𝑖𝑛𝑡 (𝑞̇ 𝑝𝑎𝑐 − 𝑞̇ 𝑒𝑥𝑜 ), ( 28 ) A equação (28) representa um modelo do torque de interação real, uma vez que este torque não representa a realidade com perfeição e que de alguma forma também é uma estimativa. A próxima etapa para estimar o torque de interação é dada pela equação (3), na qual o valor de 𝑝 é calulado. Então, a equação (8) é integrada numericamente para que se obtenha o valor de 𝑟. E por fim, com este último valor calculado, através da equação (7) obtemos o 𝜏̂𝑖𝑛𝑡 (torque estimado). Agora só resta ajustar o valor do ganho de 𝐾𝐼 , e para isso os seguintes gráficos foram gerados. Figura 9: Torque estimado e modelado - KI = 1,0 Para os valores de 𝐾𝐼 igual a 1,5 e 2,0 nota-se que a curva do 𝜏̂𝑖𝑛𝑡 ultrapassa a curva do torque modelado, além de distorcer sua forma. Figura 10: Torque estimado e modelado - KI = 1,5 Figura 8: Torque estimado e modelado - KI = 0,5 Como se pode observar pela Figura (8) para 𝐾𝐼 igual a 0,5 o gráfico de 𝜏̂𝑖𝑛𝑡 ainda está distante do 𝜏𝑖𝑛𝑡 modelado. Para o próximo valor de 𝐾𝐼 = 1,0, as curvas se sobrepoem em um primeiro instante e se distanciam, mas a curva do 𝜏̂𝑖𝑛𝑡 mantém a forma. De todos os valores testados este foi o que resultou em um melhor ajuste. Figura 11: Torque estimado e modelado - KI = 1,5 1542 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 Conclui-se destas simulações que para um 𝐾𝐼 obteve-se uma verdadeira estimativa para o torque de interação, comprovando assim a eficácia do método baseado em observador. (ICRA), 2011 IEEE International Conference on, pp. 1108 – 1113. Blickhan, R., Seyfarth, A., Geyer, H., Grimmer, S., Wagner, H. and Günther, M. (2007). Intelligence by mechanics. Philos. Trans. R. Soc. A 365, 199220. Anderson, F. C., Pandy, M. G. (2001). Dynamic Optimization of Human Walking. Journal of biomechanical engineering (2001). Volume 123, pp. 381. 6. Conclusão A partir das simulações realizadas para o caminhar do paciente constatou-se a instabilidade do seu caminhar, quando uma deficiência no tornozelo está presente, e a fundamental correção deste movimento com a presença do exoesqueleto. Observou-se também a interferência mútua entre as dinâmicas do robô e do paciente, gerando assim uma trajetória intermediária que tende ao valor da trajetória desejada. Sobre a parte da estimativa do torque, pode-se dizer que ao aplicar o método da estimativa de forças baseada em observador o resultado obtido foi uma estimativa fiel, mas não ideal, do torque de interação modelado entre o paciente e o exoesqueleto. Agradecimentos Este trabalho é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo no. 2013/09513-0. Referências Bibliográficas De Luca, A. e R. Mattone (2003). Actuator failure detection and isolation using generalized momenta. In Robotics and Automation, 2003. Proceedings. ICRA ’03. IEEE International Conference on, Volume 1, pp. 634 – 639 vol. 1. De Luca, A. e R. Mattone (2005). Sensorless robot colision detection and hybrid force/motion control. In Robotics and Automation, 2005. ICRA 2005. 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