A moda
hard candy
chega ao verão
De repente, a moda global se encheu de propostas com misturas insólitas. Entre elas, looks em tons suaves e cravejados de
spikes, vestidinhos leves bordados com caveiras e outras impropriedades semelhantes. Vem dessa mistura algo que é doce
e leve com algo que é pesado e agressivo. Para denominar a tendência, a expressão "hard candy", que pode ser interpretada
em português como agridoce. Para entender como isso surgiu, e como a tendência pode ser aplicada na moda brasileira,
vamos voltar um pouco no tempo...
Das ruas para as lojas
Em 1953, interpretando um personagem marginalizado, Marlon Brando usou uma jaqueta de couro preto. Adotada pela
turbulenta juventude da época, a peça tinha status negativo. Não demorou muito para que ela se transformasse em item
de desejo também para quem não a via com bons olhos. Oficialmente, foi a primeira vez que a moda de rua, associada a
comportamentos transgressores, chegava à moda das elites. Na história da moda recente, são muitos os momentos em que
algo agressivo e restrito a grupos “suspeitos" migrou para as vitrines de lojas sofisticadas. A minissaia de Mary Quant era
uma afronta às famílias da época, passando a ser adotada logo depois por garotas de todos os estilos. Todo o figurino dos
movimentos hippie e punk cumpriram este trajeto, saindo do underground para o guarda-roupa elegante. A moda das ruas,
aquela que de início fica associada a indivíduos e grupos considerados ameaçadores, sempre foi uma ótima fonte de referência para a moda comercial.
A REINVENÇÃO DOS SPIKES
Um exemplo recente deste fenômeno são os spikes. As pontudas pecinhas de metal, inspiradas no corte de cabelo punk, até
pouco tempo atrás, eram exclusivas da tribo rocker, sendo consideradas acessório de gente de comportamento duvidoso e
pouco recomendável para os padrões da boa sociedade. Gradativamente, a moda comercial reinventou este sentido e transformou o spike em um adorno admirado e cobiçado por todo tipo de público, inclusive no Brasil. Reforçando de vez esta
transformação, a Valentino, marca clássica, adotou o spike como peça ícone injetando uma imagem de juventude no seu
perfil conservador. O spike, agora a serviço da moda de luxo, adoçou a ponto de agradar consumidores e consumidoras de
todo o mundo. Repare como ele foi adaptado para equilibrar a fragilidade feminina tradicional, adicionando um pouco de
força e representando bem a ideia e o potencial comercial da moda Hard Candy.
Caveiras e a moda
Outro exemplo claro dessa ressignificação aconteceu com as caveiras. Elas, que um dia já foram malditas, atualmente, são
socialmente aceitas e desejadas por todos. Um dos responsáveis por essa transformação no Brasil foi o estilista Alexandre
Herchcovitch. Ele aproximou a caveira do público geral, fazendo dela um ícone da marca. Alexander McQueen é outra marca
que investiu na caveira de luxo e vende a imagem em roupas e acessórios.
Hard candy
A essa maneira de aproximar a contracultura com a moda comercial, misturando os elementos e trabalhando com contrastes, foi nomeada como "hard candy". Inúmeros são os exemplos, entre eles, o editorial da Vogue Japão, que coloca
spikes rosas na sandália, além do look totalmente em tons de rosa, o que aproxima o duro (hard) da doçura (candy). Outro
exemplo é a bolsa McQueen em que elementos da contracultura - spike e caveira, misturam-se com elementos românticos:
rosa em tom pastel. Em teoria, o "hard candy" lida com contrastes entre elementos pesados com elementos leves.
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