Regionalização das Vazões Médias Este documento apresenta apenas uma versão simplificada da metodologia utilizada. Uma descrição mais detalhada do estudo de regionalização de vazões médias de longo período para o estado do Ceará pode ser encontrada em Alexandre e Martins (2005). Introdução A vazão média de longo período permite caracterizar a maior vazão possível de ser regularizada em uma bacia, permitindo a avaliação dos limites superiores (abstraindo as perdas) da disponibilidade de água de um manancial. A vazão média de longo período é definida como a média das vazões médias anuais para toda a série de dados, sendo denominada como específica quando dividida pela área da bacia hidrográfica de interesse. Para uma bacia com dados este cálculo é uma tarefa simples. No entanto, nem sempre há disponibilidade de dados de vazão ou séries suficientemente longas para um determinado local de interesse. Nestes casos, o uso de informação regional torna-se importante para a obtenção da variável de interesse em locais sem dados ou de estatísticas mais precisas em locais com séries curtas. Metodologia A metodologia de regionalização utilizada emprega análise de regressão, onde se obtém uma relação empírica entre a vazão média específica e as características climáticas e fisiográficas das bacias. Para isto foi utilizado o modelo de regressão conhecido como GLS (mínimos quadrados generalizados). O modelo de regressão GLS leva em consideração que as estimativas de vazão média de longo período nos postos não possuem a mesma precisão, e que estas estimativas podem apresentar correlação espacial. A estimativa dos parâmetros do modelo, bem como da variância do erro, foram obtidas pelo método dos momentos generalizados [Stedinger e Tasker, 1985, 1986]. Para este estudo foram utilizadas 25 estações fluviométricas que cobrem aproximadamente 50% do Estado do Ceará (-02°46’,-41°26’ e -37°13’,-07°50’)[Ver Figura 1]. As estações selecionadas têm uma série de no mínimo 10 anos de dados e não estão sob a influência de reservatórios artificiais. A média de registros nas estações é de 28 anos e as vazões médias específicas de longo período variam entre 21 e 348 mm. Os dados climáticos e fisiográficos utilizados no estudo de regressão foram: (Dec) declividade em m/km, (P) precipitação média em mm, (CT) comprimento do talvegue em km, (CTD) comprimento total de drenagem em km, (DD) densidade de drenagem km-1, (CAD) capacidade de armazenamento do solo em mm (valor estimado considerando uma profundidade média de 1 m), (CN) número de curva do SCS médio, (Kc) índice de compacidade da bacia, (Dir) direção dominante do rio principal, seguindo uma numeração de 1 a 8 com o sentido sul-norte igual a 1 e modificando a numeração a cada 45º no sentido horário, e (Cr) percentual da bacia situada no cristalino e (L) espelhos de lagos naturais e artificiais na bacia em m2/km2. A Tabela 1 apresenta os valores destas variáveis para as 25 bacias utilizadas no estudo. Todas as combinações possíveis de variáveis explanatórias foram avaliadas, totalizando 2048 modelos. As variáveis foram centradas de modo que a constante do modelo representa a média regional da vazão média de longo período. Embora as variáveis explanatórias tenham sido centradas para a análise de regressão, os valores das características climáticas e fisiográficas a serem utilizados na página de estimativa de vazões médias são os valores reais. Seleção do modelo A seleção do modelo para estimar a vazão específica média de longo período foi baseada na variância média de predição VMP [Tasker e Stedinger, 1986], que nada mais é do que a média das variâncias de predição de cada posto utilizado no estudo. Em princípio, o melhor modelo é aquele que apresenta a menor VMP entre os modelos estudados, desde que os mesmos apresentem parâmetros que sejam significativos com 95% de confiança. Entretanto, houve uma preocupação em escolher um modelo que fosse relativamente simples e fácil de usar. O modelo com menor VMP contém quatro variáveis explanatórias, um número considerado elevado, o que dificultaria o seu uso. Decidiu-se por uma modelo mais simples, com três variáveis. A capacidade de predição deste modelo, medida pela VMP, é quase tão boa quanto a do modelo com menor VMP. O modelo escolhido para estimar a vazão específica média de longo período, em mm, foi: E[µ̂] = −159,53 + 8,02 D + 0,29P + 0,74Cr onde a declividade D é utilizada em m/km, a precipitação média P é utilizada em mm, e o Cr é o percentual da bacia situada no cristalino. Para a maior acuracidade dos resultados é importante utilizar as variáveis dentro da variação dos dados utilizados no modelo identificado, estando D entre 1,7 e 22,1 m/km, P entre 590 e 1152 mm, e Cr entre 0 e 100%. Estimativa Regional da Vazão Média de Longo Período A vazão média de longo período, em m3/s, para um local sem dados é estimada pela seguinte expressão: E[Q m ] = A(−159,53 + 8,02 D + 0,29P + 0,74Cr )(10 3 ) (3600)(24)(365) Referências Citadas: Alexandre, A.M.B., Martins, E.S. (2005). “Regionalização de Vazões Médias de Longo Período para o Estado do Ceará”, Revista Brasileira de Recursos Hídricos, 10(3). Stedinger, J.R.; Tasker, G.D. (1985). “Regional Hydrologic Analysis, 1. Ordinary, Weighted and Generalized Least Squares Compared”, Water Resources Research, 21(9), 1421-1432. Stedinger, J.R.; Tasker, G.D. (1986). “Regional Hydrologic Analysis, 2. Model-Error Estimators, Estimation of Sigma and Log-Pearson Type 3 Distributions”, Water Resources Research, 22(10), 1487-1499. Tasker, G.D.; Stedinger, J.R. (1986). “Estimating Generalized Skew With Weighted Least Squares Regression”, Journal of Water Resources Planning and Management, 112(2), 225-237. Figura 1: Distribuição espacial das estações fluviométricas utilizadas e suas respectivas bacias de contribuição. Tabela 1: Vazão média e características climáticas e fisiográficas das 25 bacias utilizadas no estudo Qmed Dec P CT Área CTD DD CAD Posto (m3/s) (m/km) (mm) (km) (km2) (km) (km-1) (mm) 4.51 921.6 49 1012.0 592.4 0.585 65.5 34730000 7.94 34.10 945.4 255 18339.5 12525.5 0.715 63.6 34750000 2.4 6.39 1114.2 61 1532.2 1486.8 0.970 76.5 35125000 7.5 25.93 1151.8 149 3859.2 3416.1 0.885 71.9 35170000 3.45 6.82 779.5 120 1642.6 1623.7 0.989 48.4 35210000 6.57 10.15 848.1 142 3526.9 3498.1 0.992 59.8 35217001 5.87 3.64 766.0 95 1537.9 1355.4 0.881 65.0 35240000 7.14 10.01 719.6 155 2817.8 2652.5 0.941 40.1 35260000 3.88 0.22 881.2 9 39.4 37.3 0.947 67.9 35279000 4.82 2.47 956.9 63 453.9 381.6 0.841 77.6 35650000 9.52 2.61 1023.7 70 486.5 403.9 0.830 79.0 35668000 8.78 2.16 1107.6 32 217.4 103.9 0.478 96.7 35740000 22.06 5.66 803.0 90 2055.8 1503.1 0.731 78.5 35950000 1.7 7.14 590.4 124 5521.5 4359.9 0.790 46.9 36020000 2.79 2.67 629.3 108 3958.5 2086.0 0.527 71.0 36045000 4.19 5.35 923.6 106 2094.8 1250.6 0.597 77.9 36110000 5.68 3.92 738.4 139 3746.1 2353.2 0.628 83.5 36125000 3.15 7.78 1036.3 127 1708.4 966.7 0.566 90.8 36130000 3.02 24.45 694.1 264 20608.9 14309.1 0.694 69.9 36160000 1.73 3.88 1041.2 121 1755.9 1155.9 0.658 76.8 36210000 4.52 3.59 887.3 157 4372.0 3104.6 0.710 68.7 36250000 3.38 17.44 938.4 126 8987.0 7806.5 0.869 71.9 36270000 5.09 26.49 927.6 176 12680.4 11202.8 0.883 73.9 36290000 4.21 12.73 764.4 142 4838.3 4102.2 0.848 67.4 36470000 2.12 12.23 675.8 126 6794.6 6163.2 0.907 56.0 36520000 4.64 CN Kc Dir 63.7 75.4 80.6 80.0 77.8 79.8 83.1 81.1 82.0 80.6 80.6 82.2 77.1 78.4 73.3 79.0 76.2 79.4 69.7 76.8 72.0 79.9 78.0 75.0 78.2 1.22 1.60 1.30 1.38 1.71 1.51 1.63 1.64 1.26 1.76 1.94 1.47 1.33 1.51 1.86 1.68 1.49 1.59 1.58 1.36 1.65 1.29 1.42 1.40 1.33 5 7 2 1 8 1 1 8 7 1 1 3 2 4 2 2 2 1 4 3 3 1 1 3 3 Cris. (%) 0.0 85.1 90.6 82.2 100.0 95.2 100.0 99.6 100.0 97.2 97.5 100.0 83.8 97.8 71.7 64.0 67.2 55.9 81.6 18.5 24.4 44.2 59.0 100.0 100.0 Lagos (m2/km2) 0.0 178.5 1626.9 1996.6 2109.1 2537.1 1890.6 1822.3 0.0 1633.8 0.0 0.0 6146.4 1691.4 448.1 1237.1 1171.7 1442.5 1436.6 2390.7 979.2 1680.3 1862.8 2452.7 2567.4