O mobiliário de escritórios e sua influência na rotina de trabalho de arquitetos e designers de interiores
Julho 2014
O mobiliário de escritórios e sua influência na rotina de trabalho de
arquitetos e designers de interiores
Pablo Henrique Neves Barreto – [email protected]
Especialização em Iluminação e Design de Interiores
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Belo Horizonte, MG, 15 de setembro de 2013.
Resumo
O presente artigo aborda o mobiliário de escritórios e sua influência na rotina de trabalho de
arquitetos e designers de interiores. Trata da importância do móvel corretamente
dimensionado para a melhoria na rotina de trabalho destes profissionais. Um olhar mais
apurado, revela o expressivo número de pessoas com postura corporal inadequada,
aparentando desconforto no exercício de suas tarefas. Em decorrência disso, podem surgir
doenças ocupacionais, absenteísmo e prejuízos para as empresas. De que maneira então,
estes móveis podem contribuir para maior produtividade, sendo ergonomicamente
confortáveis? Parte-se da hipótese de o uso de mobília adaptada às características dos
usuários e à natureza das funções desempenhadas, pode contribuir sensivelmente para
espaços mais agradáveis e produtivos. O objetivo desta pesquisa foi, portanto, explorar esta
relação. Como método investigativo, optou-se por revisão bibliográfica, observando-se
estações de trabalho e aplicando-se questionários junto a arquitetos e designers de interiores,
profissionais que passam grande parte de seu tempo em escritórios. Os resultados
corroboram a hipótese levantada. Conclui-se que o desenvolvimento e aquisição de móveis
adequados, além de hábitos de vida saudáveis, são requisitos indispensáveis para ambientes
de trabalho mais aprazíveis e profissionais producentes, somando-se assim, maior qualidade
e eficiência aos espaços de trabalho.
Palavras-chave: Conforto. Produtividade. Mobiliário. Design. Ergonomia.
1. Introdução
O ritmo frenético dos grandes centros urbanos vem contribuindo em larga escala para o
estresse cotidiano das pessoas, dificultando uma qualidade de vida satisfatória. Dormir bem,
alimentar-se adequadamente ou simplesmente locomover-se em tempo hábil, tornam-se cada
vez mais, artigos de luxo na atualidade.
Considerando-se o tempo gasto no deslocamento entre casa e trabalho, além da própria
jornada laboral, parte expressiva dos trabalhadores chega a passar mais de 10 horas por dia
fora de casa (IBGE, 2001 apud SOARES e SABÓIA, 2007:21).
Deste modo, o ambiente de trabalho precisa oferecer um mínimo de conforto aos seus
usuários. Algumas empresas já atentam para essa necessidade e vêm demonstrando maior
responsabilidade social, por meio da humanização dos espaços. Percebe-se a crescente
preocupação com o bem-estar dos funcionários, pois esse fator está diretamente ligado ao
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aumento de lucro e à maior competitividade para as organizações (FERNANDES, 1996 apud
GRÜNSPAN, 2005:153).
Dentro desse contexto, uma orientação adequada na concepção dos espaços corporativos é
fundamental. Soluções criativas, técnica e esteticamente atraentes, proporcionando qualidade
de vida e cultura para os usuários fazem parte do trabalho de arquitetos e designers de
interiores, considerando-se questões associadas à saúde, conforto, segurança, durabilidade dos
materiais e necessidades especiais dos clientes (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DESIGN,
2012).
Nesse sentido, a ergonomia mostra-se uma ferramenta eficaz na detecção e solução de
problemas, na medida em que estuda interações das pessoas com a tecnologia, a organização e
o ambiente de trabalho. Tem como objetivos, as intervenções e projetos que visem melhorar
de forma integrada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA, 2001; CÂMARA E VAZ, 2001:72).
Brasil (2007) corrobora esse conceito, ressaltando a importância dos vários aspectos
ergonômicos para avaliação dos ambientes: levantamento, transporte e descarga de materiais,
mobiliário, equipamentos, as próprias condições ambientais e organização dos postos de
trabalho. Este artigo tratará especificamente do mobiliário em escritórios e a relação do seu
uso com o conforto dos usuários. Assim, cabe o questionamento: De que maneira a mobília
pode contribuir para maior produtividade, sendo ergonomicamente confortável?
Parte-se da hipótese de que nesses locais, o uso de mobiliário adaptado às características dos
usuários e à natureza das funções desempenhadas, pode contribuir sensivelmente para espaços
mais agradáveis e produtivos.
2. Metodologia de Pesquisa
Como metodologia, optou-se por pesquisa bibliográfica associada à de campo, onde foram
observados postos de trabalho e aplicados questionários com perguntas abertas e de múltipla
escolha, incluindo respostas situadas em escala intervalar de sete pontos (SANZI, 2006:62).
O objetivo foi investigar a importância do mobiliário ergonomicamente confortável e de que
maneira isso pode interferir na produtividade dos seus usuários.
Para escolha da amostra seguiu-se o critério de que fossem profissionais que atuassem
predominantemente em escritórios. Foram pesquisados vinte profissionais entre arquitetos e
designers de interiores, alunos de uma turma de pós-graduação realizada na cidade de Belo
Horizonte, Minas Gerais. São de diversas regiões do estado, dos quais, 90% do sexo
feminino, na faixa etária entre 22 e 25 anos, principalmente arquitetos (Figura 01).
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Figura 1 – Perfil da amostra
Fonte: O autor, 2013.
3. Discussão teórica
A partir da Revolução Industrial, que tem na invenção da máquina a vapor em 1776, seu
marco inicial, o trabalho artesanal é substituido pela produção em massa, difundindo-se pelo
mundo a partir do século XIX. No período entre 1856 e 1915, Frederick Winslow Taylor
desenvolve a Teoria Clássica da Administração, dando forma às primeiras preocupações com
a produtividade e os problemas administrativos, os quais ganham um enfoque científico.
Complementando o trabalho de Taylor, Fayol propõe uma abordagem mais ampla, tratando o
conceituando empresa como a soma dos diversos orgãos que a compõem. Estabece as funções
clássicas do administrador: organizar, planejar, coordenar, comandar e controlar (TOFFLER,
1990 apud CAVALCANTI, 1995; MATOS e PIRES, 2006).
Através das contribuições de Henry Ford em 1913, a organização do trabalho passa a contar
com um sistema de produção mais eficaz. Aplica na prática de sua própria companhia, o
método apresentado por Taylor, reduzindo a carga horária dos trabalhadores e dinamizando os
processos fabris. Inova com a introdução de linhas de montagem, utilizando-se de esteiras
rolantes. Setoriza as atividades, dedicando atenção especial à eficiência e qualidade (MATOS
e PIRES, 2006).
Apesar dos avanços trazidos pelas Teorias Clássicas da Administração, tinha-se até então, uma
visão focada principalmente na estrutura organizacional. Tal abordagem entretanto, viria a ser
questionada pela linha de pensamento humanista, defendida por Elton Mayo, o seu estudioso
mais expoente. Postulava que o desempenho das pessoas está relacionado mais a fatores
emocionais ou comportamentais do que dos métodos de trabalho defendidos pela
Administração Científica (MAXIMIANO, 2002 apud ROSSÉS et al, 2010:3).
Com a década de 50, a expansão de negócios gera uma demanda por espaços de escritórios
planejados, comportando um grande número de pessoas. Com a introdução dos
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microcomputadores, a partir da década de 80, os escritórios sofrem uma profunda mudança no
uso das suas diversas superfícies de trabalho e na própria postura dos trabalhadores. Assim, a
evolução tecnológica, juntamente aos elevados custos de construção e à crescente valorização
da terra (escassez de áreas urbanas edificáveis), tornam o planejamento indispensável,
especialmente considerando-se as dimensões humanas como fatores decisivos no processo do
projetar (IIDA, 2005:578; PANERO E ZELNIK, 2008:170).
Escritórios podem ser classificados em dois tipos, conforme suas características: tradicionais,
onde as salas são delimitadas por divisórias até o teto e acessadas por corredores bem
definidos; e os do tipo aberto, também conhecidos como landscape offices, com divisórias
baixas e desprovidos de portas. Comparando-se as duas tipologias, a primeira é a mais antiga,
sendo a solução mais cara, menos flexível e ocupa mais espaço do que a segunda, na qual se
pode obter uma redução da ordem de 40 a 50 % do espaço necessário. Além disso, escritórios
abertos permitem economia de até 95% em custos de instalações e alterações no layout,
possibilitando ainda, poupar 20% de custos em manutenção. No entanto, a privacidade e
acústica dos ambientes são melhores preservadas no modelo tradicional (BROOKES E
KAPLAN, 1972 apud IIDA, 2005).
Estes espaços de trabalho são considerados como ambientes de permanência prolongada, onde
se exige solicitação intelectual e atenção constantes dos seus usuários. Portanto, os móveis
devem contribuir para que os trabalhadores tenham condições de boa postura, visualização e
operação de suas tarefas. As peças devem atender a requisitos mínimos de dimensionamento e
compatibilidade com o tipo de atividade realizada, possibilitando fácil alcance,
posicionamento e movimentação adequados para os segmentos corporais (BRASIL, 2007:2).
Recomenda-se ainda, que a mobília permita que o trabalhador se sinta à vontade para variar a
postura corporal, pois segundo Brasil (2001:1), após longos períodos em postura estática, a
tensão muscular comprime os vasos sanguíneos, dificultando a oxigenação e o provimento de
nutrientes aos músculos. Deste modo, a retirada de resíduos metabólicos é prejudicada,
resultando em dor e fadiga muscular, além de possíveis desgastes de articulações, tendões e
discos intervertebrais. Podem surgir doenças como: Lesões por Esforços Intensos (LEI),
Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Doenças Osteomusculares Relativas ao Trabalho
(DORT) e Lesões por Traumas Cumulativos (LTC). Somente LER e DORT representam 80%
das causas de afastamentos dos trabalhadores, sendo que alguns sintomas podem surgir
mesmo depois do trabalhador se afastar do agente causador (GRÜNSPAN, 2005:151;
MORAES, 2010 apud LIMA, 2011).
Além das doenças ocupacionais mencionadas, a própria modernização na organização do
trabalho, em que as tarefas são fragmentadas e as estações de trabalho individualizadas,
contribui para que o funcionário se sinta isolado e desmotivado, especialmente em escritórios
do tipo tradicional (REBECCHI, 1990 apud LIMA, 2012:11; BROOKES E KAPLAN, 1972
apud IIDA, 2005).
O estresse (ou stress) ocupacional é outra consequência dos novos tempos. Segundo Lipp
(2013), stress é a forma como o organismo humano se comporta em situações que exigem
grande adaptação ou grande esforço emocional. Envolve componentes psicológicos, físicos,
mentais e hormonais, podendo resultar em sensação de desgaste e cansaço, dificuldade de
memória, úlceras, psoríase e até mesmo enfarte. Em uma pesquisa realizada por Sadir e Lipp
(2009:118), os principais agentes estressores identificados nos locais de trabalho foram: o
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excesso de atividades, conflitos de interesse e valores, dificuldades interpessoais, entre outros
(Tabela 1).
Tabela 1 – Fontes de Stress no trabalho.
Fonte: Sadir e Lipp (2009:118)
Jornadas de trabalho prolongadas são frequentes em empresas de projeto e construção, muitas
vezes chegando-se a comprometer o período de descanso dos trabalhadores. No entanto, o
intervalo intrajornada constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho. (BRASIL;
1943, 1988, 2012).
Todos os problemas mencionados prejudicam não somente o trabalhador, que se torna
improdutivo, mas também afetam as empresas, já que o absenteísmo resulta em aumento de
custos para as mesmas (BARKOKÉBAS JÚNIOR et al, 2006 apud PEGATIN et al,
2008:134).
Para Morais (1983) apud Silva (2006:614), o trabalhador, ao perceber um ambiente de
trabalho seguro, confiável e bem dimensionado, tende a sentir-se satisfeito, pois máquinas e
equipamentos corretamente projetados contribuem sensivelmente para a diminuição de erros,
acidentes, desconforto e fadiga. Pugliesi e Wac (1989:14) ratificam que o trabalhador
satisfeito produz mais e melhor, tornando-se amigo e propagandista da firma, contribuindo
para redução de custos e eliminação de acidentes.
Diante disso, Neufert (1976:246) defende que mobiliário e acessórios devem estar à escala do
homem para que os trabalhos se desenvolvam com comodidade e sem esforços supérfluos.
Para tanto, deve-se avaliar as variáveis envolvidas, apoiando-se na Antropometria, ciência que
objetiva dimensionar o corpo humano e suas variações (SILVA et al, 2007:09).
Há registros de métricas relacionadas ao homem a partir do ano 3000 A.C. Eram utilizadas em
diversos campos de conhecimento, tendo sido objeto de estudo de pensadores ligados às artes
e ciências, tais como: Michelangelo, Vitrúvio, da Vinci, Le Corbusier e outros. Esses
sistemas de medidas tinham em comum a comparação entre comprimentos e determinadas
partes do corpo humano (cabeça, face ou os pés) (NEUFERT, 1976:19).
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No final do século XVIII, Linne, Buffon e White deram início à pesquisas que posteriormente
(1870) possibilitaram ao matemático belga Quetlet formalizar a antropometria como ciência.
(PANERO E ZELNIK, 2008:23).
A antropometria fornece dados sobre as diferenças antropométricas de diversas populações,
permitindo a fabricação de produtos sob medida para a maior gama possível de
consumidores. Porém, o mobiliário deve antes de tudo, priorizar a acessibilidade ou seja, “a
possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com
segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamentos urbanos e
elementos” (IIDA, 2005:98; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
2004:2).
Deste modo, deve ser dada uma atenção especial a portadores de mobilidade reduzida,
àqueles que “temporária ou permanentemente, têm limitada sua capacidade de relacionar-se
com o meio e de utilizá-lo” (pessoas com deficiência, idosos, obesas, gestantes entre outros)
No caso de mesas de trabalho, por exemplo, a norma define que 5% do total (no mínimo
uma) devem ser acessíveis a cadeirantes, com mais 10% adaptáveis. As medidas mínimas
devem ser respeitadas para que se tenha um ambiente cômodo e uma circulação eficiente. A
Figura 2 ilustra alguns parâmetros dimensionais que devem ser seguidos (IDEM, 2004).
Figura 2 – Medidas para adequação de mesas de trabalho aos cadeirantes.
Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2004:11-88)
Assim, Panero e Zelnik (2008:30) defendem as dimensões humanas e corporais como fatores
decisivos em projetos. Na figura 3 são apresentadas as medidas corporais de maior uso pelos
designers. Os dados antropométricos mais relevantes a serem observados no caso de
escritórios são: altura dos olhos (pessoa sentada), largura do quadril, espaço livre para as
coxas, altura do joelho, altura do sulco poplíteo, comprimento nádega-sulco poplíteo,
compriemento nádega-joelho, alcance lateral do braço e profundidade corporal máxima. .
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Figura 3 – Medidas corporais de maior uso pelos designers.
Fonte: Panero e Zelnik (2008:30)
Dentro desse contexto, projetos e desenvolvimento de produtos podem agregar grande
vantagem competitiva para as empresas, na medida em que tenham como fatores diferenciais
a ergonomia e o design. Para tanto, é importante que sejam levados em consideração os
princípios do projeto universal e da usabilidade (IIDA, 2005:319-320).
Projeto universal pode ser definido como aquele que imprime determinadas características a
um produto, facilitando o seu uso pela maioria das pessoas, conforme Null (1993) apud Iida
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(2005:319-320). Deste modo a concepção de mobiliários deve se pautar pelos seguintes
princípios:
 Uso equitativo: os produtos devem ser acessíveis ao maior número possível de pessoas,
apresentando segurança, proteção e privacidade a todos os usuários;
 Flexibilidade na utilização: devem adaptar-se às forças e ritmos próprios de cada
operador;
 Funcionamento simples e intuitivo: as complexidades devem ser eliminadas, bem como
as dificuldades linguísticas ou barreiras culturais;
 Informação perceptível: a leitura da informação deve ser facilitada, superando-se
condições ambientais adversas;
 Tolerância ao erro: deve minimizar possíveis riscos de acidentes, desencorajando ações
inseguras, dispondo de advertências contra falhas e acionamentos involuntários;
 Redução do gasto energético: devem utilizar o mínimo esforço do usuário, evitando-se
desgastes físicos desnecessários;
 Espaço apropriado: acesso, alcance e manipulação devem ser adequados, evitando-se
movimentações desnecessárias e acomodando as diversas medidas dos trabalhadores;
 Custo mínimo e facilidade de manutenção: Em sua concepção, deve haver economia de
recursos e possibilidade de reposição de peças, caso necessário.
Já o conceito de usabilidade permite se traçar um paralelo entre facilidade e comodidade no
uso de produtos. Assim, o funcionamento de móveis deve ser de fácil entendimento, operação
simplificada e evitar erros durante o seu manuseio. Para tanto, Jordan (1998) apud Iida
(2005:321-322) apresenta alguns fundamentos, os quais, aplicados ao universo do design de
móveis, podem ser assim elencados:
 Evidência: Devem destacar sua função e modo de operação, reduzindo o tempo de
aprendizagem e ocorrência de erros.
 Consistência: A padronização de produtos permite que os usuários tenham uma
experiência cognitiva continuada, facilitando o uso de objetos semelhantes;
 Capacidade: Devem ser respeitados os limites físicos dos usuários, evitando-se saturá-los
com demasiada informação ou esforços desnecessários;
 Compatibilidade: O mobiliário deve interagir com o seu operador. É importante se
considerar a cultura do público-alvo a que o mesmo se destina e o contexto em que será
utilizado.
 Prevenção e correção de erros: Mecanismos de segurança são bem-vindos, tais como
sistemas de redundância e travas para se evitar acidentes.
 Realimentação: Devem ser previstas interfaces que permitam às pessoas entenderem se o
objetivo de suas ações foi atingido ou não. Por exemplo, um som característico que indique
que a regulagem de uma cadeira foi realizada com sucesso.
Contudo, tornar um ambiente agradável ao uso e à permanência, demanda mais do que
especificação de medidas tecnicamente corretas. Segundo Panero e Zelnik (2008:57), um
móvel antropometricamente adequado pode não ser necessariamente confortável. Parâmetros
dimensionais devem ser encarados como diretrizes e utilizados com bom senso, exigindo-se
uma parcela considerável de criatividade para se unir demandas a oportunidades.
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Na etapa de projeto, cabe o levantamento de questões do tipo: escolha por matérias-primas
alternativas, durabilidade, facilidade para limpeza, montagem e desmontagem, custobenefício, entre outras. Bons exemplos deste tipo de projeto são os bancos “Vitória Régia”,
feitos a partir de pedaços descartados de tecidos, tapetes, forrações e plásticos coloridos, e o
banco “Inflated Woods”, confeccionado a partir de madeira de demolição, desenvolvidos
pelos irmãos Campana e Zanini de Zanine, respectivamente (Figuras 4 e 5) (FERREIRA,
2012; FOLHA DE SÃO PAULO, 2013).
Figura 4 – Banco Vitória Régia (Irmãos Campana).
Fonte: Ferreira (2011)
Figura 5 – Banco Inflated Woods (Zanini de Zanine).
Fonte: Folha de São Paulo (2013)
Muitas vezes, móveis que poderiam ser reciclados, são descartados diante do alto custo em se
fazer um retrofit. Se num primeiro momento, a aquisição uma nova peça se mostra mais
vantajosa do que uma reforma, ações como essa trazem para o meio ambiente um ônus
dispendioso (TUKKER et al, 2006 apud FUKUSHIMA, 2009:22; SILVA, 2011:76).
Nesse contexto, o debate em torno do design sustentável vem ganhando corpo, pois
reciclagem, reuso e economia não devem estar dissociados do conforto para os usuários. O
uso de materiais ecologicamente corretos, o chamado ecodesign vem se mostrando como uma
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tendência forte no mercado, em função da evidente escassez de recursos que se pronuncia
sobre as necessidades ilimitadas do homem.
Segundo Brundtland (1987) apud Gonçalves e Duarte (2006:52), desenvolvimento sustentável
pode ser explicado como “aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer o
atendimento às necessidades das gerações futuras.”
Já Cabaças (2011:91) apresenta uma caracterização mais ampla, definindo um sistema ou
projeto sustentável como aquele que pode ser mantido indefinidamente, abarcando três pilares
centrais: o desenvolvimento econômico, a proteção ambiental e a inclusão social.
De fato, o impacto de resíduos produzidos de maneira indiscriminada no meio ambiente,
resulta em danos irreversíveis para o mesmo, trazendo para a própria sociedade, riscos reais as
suas perspectivas de futuro.
Nesse sentido, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, um novo enfoque incide sobre o
ciclo de vida dos produtos. Através da Lei n°12.305 de 2010, está prevista a responsabilidade
compartilhada sobre resíduos gerados em toda a cadeia produtiva da matriz brasileira
(BRASIL, 2010). Ou seja, compete não somente ao poder público, mas também ao
empresariado e toda a coletividade, a realização de logística reversa, que pode ser assim
definida:
Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto
de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em
outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.
(BRASIL, 2010)
Desse modo, as empresas precisam se adequar às novas diretrizes. Algumas já identificam
nesse segmento, uma oportunidade real de crescimento. Tal fato se reflete diretamente na
produção industrial, inclusive do setor moveleiro, em que um crescente número de fábricas
vem se empenhando em buscar os chamados “selos verdes”.
Sistemas de certificação de qualidade como os da família ISO e os selos de sustentabilidade, a
exemplo do norte-americano LEED (Leadership in Energy & Environmental Design) e o
nacional PROCEL, vêm sendo gradualmente inseridos no mercado, embora não tenham
caráter obrigatório. São sistemas que medem o grau de sustentabilidade de projetos conforme
determinados critérios de performance, tais como consumo de energia e impacto ambiental de
empreendimentos (MELO, 2012:9).
Essas etiquetagens trazem vantagens claras por contribuirem para a adoção de medidas
ecologicamente corretas, mitigando-se os efeitos nocivos de determinadas ações antrópicas
sobre o meio. Além disso, trazem maior credibilidade para as empresas que as adotam, já que
através da normatização dos processos, criam uma imagem positiva junto aos consumidores.
Consequentemente, fomenta-se maior competitividade entre as organizações, possibilitandose reduções nos valores dos produtos para os usuários finais e ganhos inestimáveis em termos
de qualidade de vida para as próximas gerações.
4. Resultados obtidos
Procurou-se investigar o mobiliário no ambiente corporativo, além de outros fatores
complementares que podem interferir no desempenho dos trabalhadores, tais como: tempo
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despendido na jornada de trabalho, hábitos alimentares, postura corporal e prática de
exercícios.
Com relação ao tempo médio gasto no deslocamento entre casa e trabalho, a maioria dos
pesquisados relatou já ter passado mais de uma hora presa no trânsito, tendo chegado ao
extremo de duas horas e meia perdidas neste intervalo. Perguntados sobre o tempo de
permanência no local de trabalho, mais de 85% dos entrevistados responderam já ter levado
12 horas ou mais no escritório, tendo em alguns casos, superado a marca de 22 horas
trabalhadas.
Referente a complicações decorrentes de má postura, 50 % dos entrevistados revelaram
possuir algum tipo de problema, dentre os quais: dores nas costas, lordose, escoliose,
tendinite, bursite e hérnia de disco. A maioria dos respondentes, no entanto, demonstrou ter
algum tipo de cuidado com a alimentação e a postura, sendo que mais de 60% dos
entrevistados pratica algum tipo de atividade física, o que concorre para se minimizar os
efeitos do estresse em suas rotinas de trabalho, pois segundo Lipp (2013), “para se proteger
do stress excessivo, as recomendações principais concentram-se na alimentação, relaxamento,
atividade física, estabilidade emocional e qualidade de vida”.
No tocante a bem-estar e produtividade, todos consideraram haver entre os dois tópicos uma
relação direta, tendo sido ainda mencionada, a interferência dessa escolha na questão da
qualidade. Descanso, lazer, alimentação adequada e postura mostraram-se como fatores mais
importantes para o bem-estar. De fato, pontos imprescindíveis à produtividade.
Os móveis utilizados nos espaços de trabalho (dos quais alguns estão representados nas
figuras seguintes) foram considerados adequados, contribuindo para a realização das
atividades, além de permitirem boa postura na maioria dos casos, com destaque para a estética
diferenciada.
Apesar dos pontos positivos, de modo geral, através dos questionários foi possível observar a
pouca atenção dispensada à acessibilidade, já que apenas 5% dos entrevistados revelou ter em
seus escritórios, móveis considerados acessíveis. No quesito sustentabilidade dos materiais, o
percentil de casos onde esta característica é levada em consideração também foi baixo, com
apenas 20% dos casos.
Levando-se em conta os critérios julgados mais importantes pelos profissionais na aquisição
de móveis, os termos utilizados com maior frequência nas respostas foram respectivamente:
ergonomia, conforto, design, funcionalidade, flexibilidade, leveza, facilidade de limpeza e
organização.
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Figura 6 – Escritório Arquitetura e Interiores.
Fonte: Ferreira (2013)
Figura 7 – Escritório Design de Interiores.
Fonte: Menezes (2013)
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Figura 8 – Escritório Arquitetura e Interiores.
Fonte: Ferreira (2013)
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Figura 9 – Escritório Design de Interiores.
Fonte: Menezes (2013)
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Figura 10 – Mobiliário de escritório.
Fonte: Mendes (2013)
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Figura 11 – Escritório Design de Interiores (Home office).
Fonte: Aleixo (2013)
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Figura 12 – Layout escritório de arquitetura.
Fonte: Lopes (2013)
Figura 13 – Escritório de arquitetura.
Fonte: Lopes (2013)
Figura 14 – Escritório de arquitetura
Fonte: Lopes (2013)
5. Conclusão
A pesquisa realizada reflete a intensa jornada de trabalho dos profissionais participantes, em
que pressão e estresse são constantes. Entretanto, há grande preocupação por parte dos
mesmos com a própria saúde. Muitos têm hábitos saudáveis, praticando atividades físicas e
dedicando cuidados especiais à alimentação, o que evidencia o importante papel do bem-estar
em suas rotinas e contribui de fato para qualidade de vida como um todo, para além dos
escritórios.
Contudo, ficou claro que são necessários avanços nos processos de concepção para móveis
corporativos. Os participantes demonstraram menor interesse em acessibilidade e
sustentabilidade comparando-se estes com outros critérios de projeto e aquisição de móveis.
Assim, pode-se estar deixando de produzir a demanda necessária para que o mercado invista
mais no desenvolvimento de projetos pautados nestes conceitos. Apresenta-se assim, um
importante desafio. Apesar de toda literatura técnica disponível, na prática do dia-a-dia, estes
pontos ainda são deixados a segundo plano, delineando-se um quadro preocupante.
O tema do artigo merece ser ampliado por outros pesquisadores, por meio de métodos mais
precisos de levantamento e com amostras maiores, investigando-se mais a fundo as variáveis
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envolvidas. O uso de estatística avançada seria um caminho interessante, porém, não foi o
objetivo deste trabalho, que buscou objetivamente servir de alerta para a existência do
problema. Deste modo, tentou-se contribuir para o debate em torno do assunto.
Os obstáculos para a implantação de sistemas que favoreçam a qualidade assegurando
melhorias aos espaços de trabalho sugerem a urgência por uma mudança de paradigma.
De um lado, competem a projetistas de móveis assumir o seu papel como criadores de
soluções efetivamente diferenciadas, e do outro, cabe a própria conscientização
mercadológica para que se produzam peças de padrão superior, resgatando-se o ser humano
como elemento-chave para o sucesso de qualquer empreendimento.
Dentro desse contexto, o mobiliário ergonomicamente correto, leia-se confortável, tem um
papel central. Seu custo-benefício torna-se viável na medida em que contemple outras
características importantes, tais como beleza, durabilidade, facilidade para montagem e
desmontagem e flexibilidade no arranjo de layouts alternativos.
A praticidade quanto a transporte, limpeza e organização também podem agregar valor e
qualidade às peças, consequentemente, influenciando no resultado final, ou seja, aumentar o
conforto dos usuários e contribuir na melhora do desempenho de suas atividades.
Conclui-se, portanto, que o desenvolvimento e aquisição de móveis adequados, além de
hábitos de vida saudáveis, são requisitos indispensáveis para ambientes de trabalho mais
aprazíveis e profissionais producentes, somando-se assim, maior qualidade e eficiência aos
espaços de trabalho.
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Anexo
Questionário
Este questionário é instrumento para realização de Trabalho de Conclusão do Curso Especialização
em Iluminação e Design de Interiores pelo IPOG (Instituto de Pós-Graduação de Belo
Horizonte/MG). Todas as respostas terão o sigilo resguardado. Obrigado pela participação.
Data de realização: ___/___/___
PERFIL DO RESPONDENTE
Sexo:
( ) Masculino
( ) Feminino
Idade:
( ) 18 a 21
( ) 22 a 25
Atividade predominante no escritório:
( ) 26 a 30
( ) Arquitetura
( ) Mais de 30 anos
( ) Design de Interiores
1) Quanto tempo gasta em média e o máximo de tempo que já permaneceu em trânsito no
deslocamento entre casa e o trabalho?
2) Seria possível estimar quantas horas passa em média e o máximo de tempo que já permaneceu no
escritório?
3) Tem alguma preocupação com a postura corporal?
4) Pratica algum esporte ou atividade física? Com que frequência?
5) Tem algum cuidado especial com a alimentação?
6) O entrevistado possui algum problema relacionado a postura (problemas de coluna, LER, etc)?
Caso afirmativo, de que tipo?
7) Na sua opinião, os móveis em seu ambiente de trabalho (caso julgue pertinente, marque mais de
uma alternativa):
( ) Permitem boa postura
( ) Favorecem o conforto visual
( ) Contribuem para a realização das atividades
( ) Têm o dimensionamento satisfatório
( ) São adequados ao ambiente de trabalho (quanto ao tipo de material, peso, resistência, etc.)
( ) Permitem acessibilidade a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
( ) São sustentáveis do ponto de vista dos materiais (tecidos, estrutura, etc).
8) Qual classificação julgaria mais indicada para os móveis em seu ambiente de trabalho, dentro da
escala e dos critérios propostos a seguir (marcar somente uma alternativa):
8.1) Favorecem boa postura para o trabalho?
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( )1
( )2
( )3
( )4
( )5
( )6
( )7
8.2) São compatíveis com a atividade (quanto ao material, peso, resistência, etc.) ?
( )1
( )2
( )3
( )4
8.3) Praticidade de limpeza?
( )5
( )6
( )7
( )1
( )5
( )6
( )7
( )5
( )6
( )7
( )2
( )3
( )4
8.4) Contribuem para a produtividade?
( )1
( )2
( )3
( )4
8.5) São acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida (cadeirantes, idosos, grávidas, obesos, etc.)?
( )1
( )2
( )3
( )4
( )5
( )6
( )7
8.6) Utilizam materiais sustentáveis (peças de reaproveitamento ou recicláveis)?
( )1
( )2
( )3
( )4
( )5
( )6
( )7
( )5
( )6
( )7
8.7) Têm um design atraente?
( )1
( )2
( )3
( )4
8.8) Apresentam algum risco de queda ou acidentes?
( )1
( )2
( )3
( )4
( )5
( )6
( )7
9) Como usuário do espaço de trabalho, quais são as principais dificuldades ou vantagens
apresentadas nos móveis de uso cotidiano e os critérios mais importantes na aquisição de um
móvel?
10) Considerando-se o sua rotina de trabalho, qual a sua opinião a respeito de bem-estar e
produtividade?
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