Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura
julho de 2013
Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura
Renata Ribeiro Neves - [email protected]
Master em Arquitetura
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Goiânia, 29 de outubro de 2012
1 – RESUMO
Este artigo tende a apresentar o conceito, a origem, disseminação dos centros culturais e as
atividades exercidas neste espaço, promovendo a união entre a comunidade e os acontecimentos
locais, proporcionando cultura para os diferentes grupos sociais. O objetivo de realizar uma
pesquisa sobre Espaços Culturais está no interesse de compreender a proliferação destes no
mundo, procurando entender seu papel nas políticas públicas bem como sua produção
arquitetônica. Os centros de cultura são espaços onde os mundos da cultura e das artes se
misturam. Porém, no mundo contemporâneo extremamente competitivo, a cultura vem sendo
abordada como um entretenimento por empresários, políticos, agentes culturais, ou seja, vista
como uma mercadoria espetacularizada na imagem da cidade tendo se tornado um “bom
negócio”, iniciando uma nova maneira de “fazer cidade”. O surgimento do Centro Cultural vai,
além disso, provocando modificações nos ambientes construídos, podendo recuperar, revitalizar e
dar uma nova funcionalidade para os espaços considerados degradados. Este enorme interesse
despertado nos centros culturais, transformando-os em edifícios monumentais e emblemáticos,
possuindo a sua importância no contexto global, sua localização em cidades-marca, cujo projeto
arquitetônico é concebido por arquitetos de renome internacional, ou seja, “o objeto-marca na
cidade-marca”.
Palavras-chave: centro cultural; cultura; arquitetura; cidade-marca; cidade espetáculo;
espetacularização.
2 – INTRODUÇÃO
O objetivo desse artigo é apresentar o significado de centro cultural, suas características
formais e funcionais mais recentes e as razões de sua origem e proliferação no mundo. Abordando
itens relacionados ao conceito geral e funções atribuídas a um centro de cultura; a
promoção/divulgação da cultura na cidade.
Através deste, busca-se questionar o conceito, a origem e proliferação, e as atividades
exercidas em um espaço cultural. Os espaços culturais permitem a descoberta do conhecimento e o
acesso às atividades relativas à informação, discussão e criação. O centro de cultura é um espaço
que deve construir laços com a comunidade e os acontecimentos locais, funcionando como um
equipamento informacional, no qual proporciona cultura para os diferentes grupos sociais, buscando
promover a sua integração.
Um espaço cultural, além de exercer atividades culturais diversificadas, deve possuir no
programa de necessidades atributos ambientais essenciais para o seu bom funcionamento e
qualidade de bem-estar do usuário. Esses atributos estão relacionados a democratização do espaço,
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acessos, integração do público, comunicação do interior com as atividades exercidas, dentre outros,
por meio de salas de aula, praça e áreas de convivência, iluminação adequada, etc.
Ao longo dos anos, as sociedades vêem sofrendo grandes transformações. Dentre essas
transformações aparecem preocupações, especialmente, dos poderes públicos, relacionadas às
imagens de promoção das cidades. Tendo isso como relação, a cidade constrói centros históricos e
culturais para que sua imagem seja uma “mercadoria a venda”, impulsionada pelas mídias.
Em um mundo extremamente competitivo, a cultura é abordada como uma mercadoria de
espetáculo, no qual utiliza a cidade contemporânea como instrumento de divulgação para além dos
seus limites locais. Esse tipo de divulgação realizada pelas políticas urbanas fixa as questões sociais
relacionados aos espaços renovados, requalificados e readequados, onde são consumidos eventos e
a cultura propriamente dita, dando início a uma nova maneira de “fazer cidade”. Assim, surge um
interesse despertado nos centros culturais, transformando-os em edifícios monumentais e
emblemáticos.
Contudo, esses espaços culturais emblemáticos possuem a sua importância no contexto
global, pois eles estão localizados em cidades-marca, sendo o projeto arquitetônico concebido por
arquitetos de renome internacional, ou seja, “o objeto-marca na cidade-marca”.
3 – Conceito e Origem do Centro Cultural
Não é à toa que a arquitetura torna-se exuberante quando projeta obras ligadas à esfera
cultura. O caráter monumental diz que a própria beleza é um discurso ligado à Cultura
como posse. Um Centro Cultural feio seria uma contradição. Tudo isso leva a apontar para
a supremacia do caráter formal dos prédios que proliferam com essa denominação sobre a
sua própria razão de existir. (Luís Milanesi, 2003)
Embora não haja um modelo definido de centro cultural, a proliferação desse título em
fachadas dos edifícios indica a necessidade de se questionar o que realmente é um centro cultural e
qual sua característica. Tornando-se atualmente um objeto de desejo, principalmente dos órgãos
públicos, é identificado como civilidade, um elemento de status. Participando da construção da
imagem das cidades, tão decantada, no mundo de competição entre elas.
Em função disso, normalmente, a preocupação maior está voltada para a forma do edifício e,
menos para a sua funcionalidade, assim inclina-se para o discurso de cidade culta. A conceituação
difícil do centro cultural está diretamente relacionada ao próprio significado de cultura, que sempre
é um objeto de discussão e polêmica.
No entanto, o centro cultural pode ser definido pelo seu uso e atividades nele desenvolvidas.
Podendo ser tanto um local especializado, de múltiplo uso, proporcionando opções como consulta,
leitura em biblioteca, realização de atividades em setor de oficinas, exibição de filmes e vídeos,
audição musical, apresentação de espetáculos, etc, tornando-se um espaço acolhedor de diversas
expressões ao ponto de propiciar uma circulação dinâmica da cultura.
Os centros culturais são instituições criadas com o objetivo de se produzir, elaborar e
disseminar práticas culturais e bens simbólicos, obtendo o status de local privilegiado para práticas
informacionais que dão subsídios às ações culturais. São espaços para se fazer cultura viva, por
meio de obra de arte, com informação, em um processo crítico, criativo, provocativo, grupal e
dinâmico.
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Não existe um modelo para centro cultural, mas sim uma ampla base que permite diferenciálo de qualquer outro edifício (um supermercado, um shopping, uma academia, etc) possibilitando a
discussão e a prática de criar novos produtos culturais. Porém, pode-se ressaltar que, qualquer hall
de banco ou shopping é chamado de centro cultural ou corredor cultural e, qualquer ante-sala é
considerada uma galeria. Mas, quem entra num centro cultural deve viver experiências
significativas e rever a si próprio e suas relações com os demais.
Existe a precisão de assegurar a relação entre centro de cultura e a realidade local, não
havendo a possibilidade de se fazer cultura distanciada e fora da realidade onde se encontram os
grupos sociais, deve-se, portanto, obter vínculos com a comunidade e os acontecimentos locais.
Entretanto, esses espaços precisam estar antenados com as necessidades e formulações culturais
características do mundo contemporâneo, com a importância da informação e do conhecimento,
atuando também como equipamento informacional.
A questão popular pode levar a concepção de um centro de cultura em locais menos
favorecidos, tais como favelas, áreas carentes, já a opção erudita pode condicionar a localização
desses núcleos nos centros da cidade, áreas nobres identificando-os com a “cultura superior”.
Porém, não deve ser um meio que permita a passividade, o comodismo da personalidade e das
emoções.
O centro cultural tem por objetivo reunir um público com características heterogêneas,
promovendo ação cultural, “um espaço que seja a simbiose, o amálgama torturado das relações
humanas, parece ser próprio à Cultura e desejável como proposta” (MILANESI, 2003, p. 172),
evidenciando seus requisitos mais gerais: informar, discutir e criar.
O verbo informar refere-se à ação mais praticada nos centros de cultura e elabora processos
e procedimentos que asseguram ao público o acesso à informação. Atribuída às bibliotecas por meio
de coleção de livros e centros multimídias, disseminando o acervo de informações, fundamentais
para o desenvolvimento da cidadania. Pois, é a partir da interação da informação e do conhecimento
da realidade que o cidadão torna-se mais hábil para discutir e criar.
O segundo verbo, discutir, preconiza que se ultrapasse a organização passiva das
informações e passe a atender a outra necessidade, relacionada à criação de oportunidades de
discussões, reflexões e críticas. O responsável por um espaço divulgador de informação deve criar
alternativas por intermédio de seminários, ciclos de debates, etc; proporcionando potencialização da
informação. Discutir é uma das principais atividades em um centro de cultura.
O verbo criar surge para dar “sentido aos dois outros verbos (informar e discutir). A criação
permanente é o objetivo de um centro de cultura. Ele deve ser o gerador contínuo de novos
discursos e propostas. Ao lado dos acervos e das salas de reuniões e auditórios deverão estar os
laboratórios de invenção, as oficinas de criatividade, espaços essenciais” (MILANESI, 2003, p.
180). Ou seja, a criação é um produto de interação entre a informação e a discussão, através do
conhecimento da realidade existente e da discussão de hipóteses para transformação, gerando novas
idéias e propostas.
Centro cultural não pode ser um espaço que funcione como uma distração, mas sim, ser
conceituado como um local onde há centralização de atividades diversificadas e que atuam de
maneiras interdependentes, simultâneas e multidisciplinares.
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Há indícios que a origem dos espaços culturais pode estar na Antiguidade Clássica, em um
complexo cultural como a Biblioteca de Alexandria ou “museion”. A Biblioteca era conposta por
palácios reais, onde abrigavam variados tipos de documentos com o objetivo de preservar o saber
existente na Grécia Antiga, abordando os campos da religião, mitologia, filosofia, medicina, dentre
outros. Funcionava como um local de estudo e de culto às divindades e armazenava estátuas, obras
de arte, instrumentos cirúrgicos e astronômicos; ela possuía também um anfiteatro, um
observatório, salas de trabalho, refeitório, jardim botânico e zoológico, o que a caracterizaria como
o mais nítido e antigo Centro de Cultura (RAMOS, 2007).
No século XIX foram criados os primeiros centros culturais ingleses, denominados como
centros de artes. Porém, somente no final da década de 1950, na França, surgiram as bases do que,
contemporaneamente, entende-se como ação cultural. Os espaços culturais foram lançados a partir
de uma opção de lazer para os operários franceses, com o objetivo de melhorar as relações entre as
pessoas no trabalho, criando áreas de convivências, quadras esportivas e centros sociais. Mais tarde,
em casas de cultura.
A França atraiu ainda mais os
olhares de todo o mundo após a
construção e divulgação do Centro
Cultural Georges Pompidou, que passou
ser um incentivo para a explosão de
centros culturais no mundo. Através
dessa obra, a França impôs um novo
estilo e deu um salto qualitativo no que
considera realmente um trabalho
cultural. Tendo sido a responsável pela
propagação de um novo conceito de
centro cultural, concretizado no George
Pompidou, atribuído à sua grandiosidade
física e à qualidade das ações ali
realizadas. Inspirando no mundo
inúmeros centros culturais, no qual o
identifica como “modelo” de centro de
cultura.
a
se
Centro Cultural Georges Pompidou, França
Foto: Renata Ribeiro Neves
O Brasil veio a se interessar por
centro cultural a partir da década de
1960, mas só efetivou-se por volta dos
anos 80, com a criação do Centro
Cultural do Jabaquara e do Centro
Cultural São Paulo, ambos em São
Paulo.
O centro de cultura teve um
crescimento gigantesco nos últimos
anos, alimentado por investimentos pelas
de incentivo à cultura. Atualmente, o que
leis
Centro Cultural Georges Pompidou, França
Foto: Renata Ribeiro Neves
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mais é realizado por órgãos públicos é
a construção de espaços culturais.
Os centros culturais brasileiros, diante de uma diversidade da produção, possibilitam
identificar quatro formas: a grande construção; a restauração; o remendo; e a mistura grossa.
A grande construção é definida com base de decisão política. Exige altos investimentos,
geralmente, constitui de uma arquitetura de destaque, maiores dimensões e apresentam serviços
modernos.
A restauração relaciona-se a intervenção em uma construção antiga, de caráter histórico,
ponto de referência na vida da cidade. Quando possui valor histórico, por lei, ocorre seu
tombamento e sua preservação deve ser garantida. Em alguns casos, aceitam-se pequenas mudanças
no seu interior, mas em outros momentos são vetadas quaisquer tipo de interferências que venha a
alterar suas características originais. Devido a esses fatores, os arquitetos devem utilizar a
criatividade de transformar uma edificação, que tinha outra função, em uma casa ou centro de
cultura, conservando a preservação e funcionalidade equilibradas.
O remendo conduz a prática da instalação do centro cultural em qualquer espaço, só
necessitando da disponibilidade do imóvel, sendo transformado, por meio de reformas, em espaço
razoavelmente útil.
A mistura grossa remete-se à falta de recursos para a ausência espaços, onde as atividades
culturais possam ser organizadas. São agregadas em edifícios, os quais, por exemplo, desenvolvem
outros tipos de atividades.
No entanto, os projetos são realizados, os edifícios são construídos, reformados ou
restaurados, para abrigar os Centros Culturais.
[...] os centros culturais, sendo espaços criados com a finalidade de se produzir e se pensar
a cultura, tornam-se o território privilegiado da ação cultural e da ação informacional na
Sociedade da Informação e do Conhecimento (RAMOS, 2007).
A programação do centro cultural e suas características físicas devem ser definidas, através
do meio onde ele será construído e o perfil de público que ele atenderá, cujas atividades culturais
não devem ser realizadas para as pessoas, mas com elas.
Os centros devem realizar ações que integrem três campos comuns ao trabalho cultural: a
criação, visando à estimulação, a produção de bens culturais, por meio de oficinas, cursos e
laboratórios, a formação artística e a educação estética; a circulação de bens culturais, pois assim
evita-se que os eventos transformem a casa de cultura em espaço de puro lazer, atuando na
formação do público; e a preservação do campo do trabalho cultural, resguardando o bem cultural e
a manutenção da memória daquela coletividade.
Esses campos apresentados (criação, circulação e preservação), juntamente com os verbos
(informar, discutir e criar) mencionados, auxiliam a compreender a finalidade e funcionamento de
um centro cultural.
As atividades relacionadas ao verbo informar são desenvolvidas em espaços como teatros de
arena, bibliotecas, cinemas, espaços de exposições, e outros ambientes semelhantes funcionalmente.
O segundo, discutir, é viabilizado em ambientes como auditórios, salas de vídeo conferências, e até
mesmo em espaços de convivência social, salas de reuniões e de múltiplo uso, pátios, dentre outros.
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Já o verbo criar são necessários espaços como ateliês de produção de obras novas, restauração, ou
ainda de ensino para profissionais e aprendizes, mais conhecidas como oficinas de arte.
Uma instituição ao conceber um espaço cultural deve estabelecer quais os objetivos e
funções desse espaço. O arquiteto ao planejar um centro de cultura deve levar em consideração a
necessidade de espaços para o acesso ao conhecimento, para a convivência e discussão, e criação.
“A riqueza de um projeto está na integração desses elementos e na forma como esses espaços se
relacionam”, explica Milanesi (2003, p. 199).
Para proporcionar um bom funcionamento de um centro cultural deve exercer funções
necessárias como espaços de apoio, contendo dependências administrativas, almoxarifado, reservas
técnicas, sanitários, espaços que proporcione suporte para a realização dos objetivos principais.
Sendo acrescentadas aos espaços “complementares”, estendendo o programa de necessidades,
visando atender a demanda relacionada aos interesses econômicos, tais como: as cantinas,
restaurantes, lanchonetes, livrarias, lojinhas de artesanatos, dentre outros. Ao propor o programa de
necessidades de um centro cultural, o profissional deve ter consciência que enfrentará várias
diversidades programáticas existentes, decorrentes das necessidades culturais que são bastante
variadas no contexto social e saber ao certo o conceito de cultura.
A casa de Cultura, para a maioria, é um local que pode causar estranheza. [...] A recepção é
o local onde ocorre o primeiro contato do visitante com a instituição. Se o acolhimento for
positivo, o ambiente se torna mais generoso e envolente. A ação cultural é feita, essência,
pelas relações humanas a partir da porta de entrada. (MILANESI, 2003, p. 199)
Milanesi (2003) questiona ainda que, a justificativa oscila para a execução de uma
construção de um centro cultural, pois, de uma forma geral, ligam para a importância da Cultura, ou
seja, para alguns é de extrema relevância um espaço com atividades cultura, sendo estes sabendo o
seu valor, para outros é algo que de mau uso dos recursos públicos. No entanto, a edificação
abrigará atividades adequedas a essa idéia, fundamentada para fazer parte de uma coletividade e
possuindo uma vida, cujo prefil do centro constituirá da forma no qual foi concebido e suas ações
ratificarão esses objetivos ou, simplesmente haverá o rompimento com eles.
Os atributos ambientais decorrem do entendimento do conjunto das necessidades e
aspirações humanas relativas ao espaço arquitetônico, que orientam o arquiteto na definição de
soluções, melhorando a forma de condições de uso para o espaço.
As qualidades ambientais genéricas surgem a partir de decisões arquitetônicas tomadas pelos
autores de projetos determinados por situações provenientes de critérios técnicos e ambientais. Com
relação aos centros de cultura, os principais atributos são: possibilidade de vários acessos,
democratização dos espaços, integração das diversas atividades através de visuais livres, adequação
ambiental nas salas de exposições, integração do público.
O primeiro atributo está relacionado às existências de vários acessos, diminuindo a inibição
das pessoas, provocado pelo sentimento de invasão que pode acontecer se um espaço não lhe for
receptivo. A idéia de acessibilidade se estende, deparando-se com acessos em continuidade com os
espaços públicos, assim facilitando a ligação para qualquer parte da edificação. A democratização
dos espaços no centro de cultura advém da sua organização em volta de um espaço central – praça,
traduzido em um local de convívio “democrático e fluído”. O terceiro relaciona-se à integração
visual dos ambientes e suas respectivas atividades, um requisito ambiental muito rico e importante,
já que, provoca a participação no espaço programado.
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Todos os espaços devem apresentar adequação ambiental, em especial, as salas de
exposições. Elas devem apresentar boas dimensões, possuindo facilidade para circulação, condições
de ventilação e iluminação, atributos essenciais para a apreciação das obras. Pois, os sistemas de
iluminação, tanto artificial quanto natural realçam os objetos expostos tornando-os mais atrativos e
auxiliam na delimitação do espaço arquitetônico.
A reunião do público disperso em locais como ateliês de exposição, auditório ou em
qualquer outra atividade cultural, tornou-se uma questão desafiadora na organização espacial dos
centros de cultura. Para isso, é exigido no programa de necessidade do espaço cultural, ambientes
que possa provocar a reunião dos usuários, por meio de áreas de convivência (restaurantes,
lanchonetes, cafés, etc), transpassando harmonia através de apresentações artísticas e horários de
estudo e pesquisa. Esses espaços podem funcionar fora do horário de atendimento do centro,
tornando-se, assim, flexíveis, canalizando-o em um ponto centralizador de encontros.
4 – Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura
Como parte das grandes campanhas para “revitalizar” as áreas urbanas [...], as cidades
realizaram amplos programas de renovação urbana [...]. Governos, bancos, grandes
empresas e instituições culturais como os museus adotaram a arquitetura moderna como sua
marca, em prédios geralmente bem construídos. Mas os arquitetos ganharam crescente
prestígio ao produzirem edifícios para incorporadores mais preocupados com a rapidez, o
custo baixo e o efeito espetacular. (GHIRARDO, 2002, p. 5-6)
A cidade moderna materializava as idéias do urbanismo progressista, onde prevalecia a
morfologia pouco densa e grande segregação dos fluxos de pedestres e veículos, fragmentação da
cidade em partes especializadas. Os edifícios e conjuntos históricos excepcionais eram privilegiados
e preservados, isolados do seu entorno, sujeitos à destruição impulsionada pela modernização.
No entanto, foram surgindo diferentes formas de pensar a cidade por meio de fenômenos
complexos, considerando a realidade histórica das cidades, absorvendo o pensamento
preservacionista, estendendo-se dos monumentos aos tecidos urbanos.
A especialização funcional da cidade não se é mais realizada pela eleição de zonas de usos,
cuja definição se dá por uma seqüência de enclaves urbanos que fragmentam sua totalidade. O papel
especial da cidade é reservado para os grandes eventos arquitetônicos. Midiatizados e
espetacularizados, como museus, grandes aeroportos, estações de trens e transbordos, assinados por
arquitetos de renome, transformando em estratégias a produção de imagens urbanas.
A construção de centro histórico e cultural associa-se à formação de uma imagem a ser
vendida, criando uma marca que se completa com objetos-espetáculos urbanos. Com isso, a
produção de espaços em locais particulares acaba transformando-os em mercadoria.
Os projetos de renovação urbana desenvolvidos em algumas cidades, principalmente no
ocidente, pautam-se na especialização econômica e funcional do território, na segregação de
ambientes urbanos e na tematização da paisagem. Assim, para compor uma cultura baseada no
consumo tematizado dos espaços urbanos, as relações entre mercado e lugar passam por uma
redefinição, na qual, a arquitetura e o desenho urbano são utilizados como instrumentos para a
produção padronizada de paisagens comuns (MUÑOZ, 2005, p. 79).
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Segundo Arantes (2002), as estratégias culturais de redesenvolvimento urbano residia na
propagação da imagem de um centro de inovação, consistindo na manipulação de linguagens
simbólicas, ou seja, o “visual” de uma cidade, refletindo nas decisões sobre o que poderá ser visível
ou não, cujo desenho arquitetônico passa a ser um dos instrumentos mais cobiçados.
A política urbana tem contribuído bastante para este cenário assumindo a transformação
econômica e física de alguns fragmentos da estrutura urbana. A falta de complexidade das políticas
urbanas tanto nos processo de dispersão urbana como em operações de renovações dos espaços em
uso dentro das cidades, salienta a intervenção urbana concebida como um instrumento de
regeneração ou de revitalização, com o objetivo de vender a cidade como um produto em um
mercado global, segundo Muñoz (2005, p.82).
A comunicação, a produção do espaço e a cultura estabeleceram uma união dentro de uma
lógica cultural do pós-modernismo, cujas transformações ocorreram no contexto contemporâneo do
espaço e tempo, representado em uma etapa da globalização, passando a ser um consumo de bens
para ser de serviços, em especial de entretenimento, espetáculos e distrações, em muitas áreas da
produção cultural favorecendo o capitalismo de forma feroz.
Ghirardo (2002) explica que o conceito de espaço público se aplica na medida em que ele é
aberto a todos, constatando-se a existência de práticas exclusivistas, que limitam a definição de
público de modo significativo. No final do século XX, explicitaram-se duas noções de espaço
público: os espaços voltados para o consumo e os espaços segregados, ambos monitorados e
controlados. Tendo como exemplos para esse tipo de espaço o centro comercial e o parque temático
e, por incrível que pareça eles têm ressonância em várias outras espécies de edifícios, como: o
museu, a biblioteca, o teatro e as salas de concertos.
Diante das atitudes relacionadas ao espaço público que enfatizam o consumo de massa e o
controle oficial e empresarial, começam a surgir discussões sobre a concepção desses espaços, pois
estes foram os tipos mais comuns de edificações públicas a proliferar no final do século XX e no
âmbito cultural.
A mudança cultural e a reestruturação do espaço proporcionam mudanças não apenas no
consumo, mas também no modo de vida e diferentes formas de apropriação do espaço. A
conectividade com a mídia nos projetos da cidade privilegia o espaço espetacular e a venda destas.
No qual, a política urbana passa por um processo de simplificação e festivalização.
A conceituação da “festivalização” refere-se ao desenvolvimento urbano partindo de um
grande evento dando início à transformação urbana e que tem por objetivo a participação nos
principais mercados globais de produção e consumo, criando, assim, uma imagem urbana capaz de
vender a cidade e atrair capital.
[...] este processo de marketing desenvolvia-se depois que o território havia sido produzido
ou renovado. Hoje em dia, parece evidente que a imagem se converteu em uma condição
necessária do processo de transformação urbana, o que explica por que a imagem urbana
necessita promover-se e adquirir publicidade antes que se coloque um só tijolo. […] o papel
das políticas urbanas e, também, da arquitetura se reduz em certa medida à produção e
reprodução de imagens. (MUÑOZ, 2005, p. 82).
As grandes transformações urbanas sofridas pelas cidades para a construção de sua imagem
formaram a cidade espetáculo, ou seja, transformando-a em um lugar de “inovações urbanas”.
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O encontro entre cultura e economia constrói um campo propício para a sociedade do
espetáculo. A cultura é considerada uma mercadoria destacada pelo capitalismo, assumindo um
status de que a “cultura é um grande e bom negócio”. A sua centralidade no meio contemporâneo,
traduz no surgimento de ambientes destinados às atividades culturais. Com isso, o aparecimento de
grandes equipamentos públicos, tais como museus, centros culturais, tomam parte das estratégias
urbanas contemporâneas. A arquitetura de grandiosidade concebida por arquitetos de renome
internacional, reabilitação de áreas urbanas, propagação de mega-eventos, preservação de edifícios
na condição de patrimônio, tornando-as símbolos das ações de renovações urbanas. Todas essas
estratégias transformam-se em “grandes vitrines publicitárias da cidade-espetáculo” (SÁNCHEZ,
2003, p. 495).
As centralizações de áreas urbanas estão divididas em atividades e fluxos, com espaços
denominados como oferta cultural (como exemplos os museus e os centros de lazer). Pois, de
acordo com os padrões culturais, lugares como antigas fábricas, portos marítimos, armazéns, etc,
são revitalizados e transformados em novos complexos culturais, recebendo novas funções para
atender, também, às políticas urbanas.
Assim, essa produção criada através das intervenções, reforça, cada vez mais, o consumo de
serviços, eventos e circuitos culturais e de lazer, reunidos em espaços-síntese, indicando uma
maneira nova de se “fazer cidade” (SÁNCHEZ, 2003, p. 499).
As renovações urbanas associadas à oferta cultural vêm sendo construído pelas principais
imagens e representações internacionais. Fazendo com que os representantes das cidades sejam
[...] movidos pela pedra de toque da monumentalidade espetacular: ter um Frank Gehry, um
Christian de Portzamparc ou um Richard Méier passou a significar, em si, um luminoso
sinal e um promissor efeito daquilo que é considerado um verdadeiro processo de
reinvenção das cidades. O edifício-marca torna a renovação urbana um espetáculo
(SÁNCHEZ, 2003, p. 514).
O edifício emblemático é considerado pelas cidades modelos mais do que uma qualificação,
são considerados ícones midiáticos, transformando-a em um local ideal para negócios. No entanto,
alguns projetos são apenas cenários para um “público não existente”, ou seja, um público fictício,
que recebe alto investimento em obras monumentais justificado pela ideologia de criação dos locais
públicos.
A fragmentação, a efemeridade, o ecletismo, a forma anteposta à função, [...] são elementos
identificáveis de uma estética pós-moderna nos novos espaços urbanos. A estética do lazer
pode também ser vista como ícone da pós-modernidade nos novos espaços culturais; a
arquitetura adquire uma nova obrigação expressiva nos seus marcos urbanos onde a
centralidade da forma é mais importante [...] dos espaços criados. (HARVEY, 1994. Apud
SÁNCHEZ, 2003, p. 524)
Os empreendedores culturais são grandes influenciadores da cultura na cidade-mercadoria,
implantando edifícios para fins culturais, investindo na renovação de áreas urbanas consideradas
degradadas. Estes investimentos na esfera cultural estão voltados, principalmente, para reciclagens
de edifícios, adequando-os às novas funções, ou obras de edifícios culturais assinadas por arquitetos
reconhecidos internacionalmente.
Contudo, os projetos possuem a intenção de tornar a obra arquitetônica em monumento
simbólico da cidade, assim, transformando-a em atração, tanto cultural quanto turística.
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5 – Conclusão
No decorrer deste artigo, discutiu-se sobre o conceito de espaços culturais, sendo estes
espaços pensados somente para que a parte culta da população. Porém, não só a cultura, mas
também, o lugar onde ela é exercida deve pertencer à sociedade em um todo, proporcionando
acesso direto aos conhecimentos divulgados pelo centro cultural, girando em torno da informação,
criação e discussão.
No entanto, atualmente, os administradores políticos buscam construir, cada vez mais, a
imagem urbana da cidade por meio de requalificação, renovação e readaptação de áreas degradadas
transformando a cultura em consumo.
As cidades tornam-se “cidades-modelo”, cultivando uma marca urbana e lançando
“tendências” de centros culturais, unindo-se à venda da imagem da cidade no mercado global,
através da mídia, no qual se contempla a espetacularização da cultura. Com isso, na cidadeespetáculo a cultura é considerada uma mercadoria, gerando um grande número de equipamentos
públicos. As obras são concebidas com o intuito de se transformarem em monumentos
emblemáticos, caracterizando as cidades como vitrines direcionadas à publicidade.
Já no Brasil, os centros culturais nos últimos anos ter ocorrido um “boom”, até mesmo para
promover as cidades, eles são encontrados em locais acessíveis, para que a população possa
ingressar facilmente e, assim poder participar das atividades proporcionadas, pois estes espaços não
estão apenas direcionados para o conhecimento e informação sobre a cultura, mas também para
oferecer lazer e integração entre a população de diferentes níveis de classes sociais.
A grande maioria dos centros culturais estão localizados nos centros urbanos, em locais
estratégicos que visam o crescimento da cidade, proporcionando melhorias para os bairros que o
circundam. Promovendo a renovação de lugares ditos degradados, integrando culturalmente com as
comunidades. Os novos edifícios buscam a sua implantação em locais de fácil acesso, tendo como
observação os fatores históricos e as características do entorno.
A topografia, a localização do terreno, exerce uma forte influência na concepção do partido
arquitetônico, o qual proporciona destaque para as melhores fachadas, implantação de ambientes no
subsolo ou com vistas panorâmicas para o exterior. Com essa influência, os centros culturais
possuem um equilíbrio formal, tanto na horizontalidade quanto na verticalidade, gera um diálogo
com o entorno.
As atividades programáticas exercidas nos espaços culturais resultam em uma composição
de ambientes como: bibliotecas, salas de Internet, teatro, salas de exposição, entre outros (verbo
informar); espaços de convivência e eventos, lanchonetes, salas de reunião, salas de jogos, etc,
(verbo discutir); salas de múltiplo uso, ateliês, oficinas de arte, etc, (verbo criar); podendo contar
também com ambulatórios, consultórios de odontologia, além de quadras de esportes e piscinas.
Para atrair mais freqüentadores, o centro cultural deve se adaptar à tecnologia virtual, com salas de
Internet, cibercáfe, ambientes interativos, galerias multimídias e temáticas.
Para evitar a criação de barreiras que limitam a procura pelo centro cultural, foram propostos
acessos que facilitam a integração do exterior com o interior. Dentro da edificação, a comunicação
entre os ambientes é realizada por meio de circulações horizontais e verticais (corredores de acesso,
escadas, rampas e elevadores).
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013
Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura
julho de 2013
A tecnologia é um fator importante para a concepção do projeto arquitetônico. Em novos
edifícios, o uso da estrutura metálica é bastante visada, pois permite vencer grandes vãos,
principalmente, onde há teatros, auditórios. Além do aço, o concreto é bem utilizado,
principalmente nas fundações e, até mesmo em partes da estrutura, conduzindo a certa flexibilidade
e efeitos extraordinários. Para se destacar na paisagem urbana, alguns centros culturais contam com
suas fachadas em cores marcantes, diferenciando seus volumes, e outros em cores mais claras,
obtendo um contraste e criando uma surpresa para quem adentra no espaço.
Contudo, os centros culturais vêem sofrendo grandes modificações. Sendo que, as atividades
foram as mais influenciadas, pois, no dias atuais, os arquitetos e agentes culturais buscam um
conceito de espaço cultural mais aprofundado. Eles proporcionam salas de múltiplo uso, onde
podem ser realizados diferentes tipos de atividades, sem que haja segregação entre os ambientes.
Mesmo com toda essa modificação houve permanências, elementos importantes para um centro
cultural, destinados a informação e divulgação: a biblioteca, o teatro e o museu. Sendo estes
insubstituíveis em um espaço que trabalha cultura e conhecimento.
Enfim, conclui-se que, um centro cultural deve ser um pólo de cultura viva, proporcionando
ao público, liberdade de se fazer cultura e favorecendo a sua conscientização.
Referências
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São Paulo: Martins Fontes, 2002
MILANESI, Luís. A Casa da Invenção: Biblioteca, Centro Cultural. 4º ed. revisada e ampliada. São Paulo: Ateliê
Editorial, 2003.
MUÑOZ, Francesc. Paisajes banales: bienvenidos a la sociedad del espectáculo. In: SOLÁ-MORALES, Ignasi de y
COSTA, Xavier. Metrópolis. Barcelona: Gustavo Gili, 2004.
ARANTES, Otília. Uma estratégia fatal: A cultura nas novas gestões urbanas. In: ARANTES, Otília; VAINER,
Carlos; MARICATO, Ermínia. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2000.
PEIXOTO, Elaine Ribeiro. A cidade genérica. In: Estudos: Revista da Universidade Católica de Goiás. Goiânia: Ed. da
UCG, v. 31. nº 11, 2004.
SÁNCHEZ, Fernanda. A reinvenção das cidades para um mercado mundial. Chapecó: Argos, 2003, 588 p.
NEVES, Renata Ribeiro. Centro Cultural: A espetacularização da Cultura na cidade. Goiânia: FAU / UCG, 2008.
OLIVEIRA, Sérgio Amorim. Centros Culturais: A produção arquitetônica brasileira nas duas últimas décadas.
Goiânia: FAU / UCG, 1998.
RAMOS, Luciene Borges. Centro Cultural: Território privilegiado da ação cultural e informacional na sociedade
contemporânea. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2007/lucieneborgesramos.pdf>. Acessado e Impresso
em 2007.
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