Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura Renata Ribeiro Neves - [email protected] Master em Arquitetura Instituto de Pós-Graduação - IPOG Goiânia, 29 de outubro de 2012 1 – RESUMO Este artigo tende a apresentar o conceito, a origem, disseminação dos centros culturais e as atividades exercidas neste espaço, promovendo a união entre a comunidade e os acontecimentos locais, proporcionando cultura para os diferentes grupos sociais. O objetivo de realizar uma pesquisa sobre Espaços Culturais está no interesse de compreender a proliferação destes no mundo, procurando entender seu papel nas políticas públicas bem como sua produção arquitetônica. Os centros de cultura são espaços onde os mundos da cultura e das artes se misturam. Porém, no mundo contemporâneo extremamente competitivo, a cultura vem sendo abordada como um entretenimento por empresários, políticos, agentes culturais, ou seja, vista como uma mercadoria espetacularizada na imagem da cidade tendo se tornado um “bom negócio”, iniciando uma nova maneira de “fazer cidade”. O surgimento do Centro Cultural vai, além disso, provocando modificações nos ambientes construídos, podendo recuperar, revitalizar e dar uma nova funcionalidade para os espaços considerados degradados. Este enorme interesse despertado nos centros culturais, transformando-os em edifícios monumentais e emblemáticos, possuindo a sua importância no contexto global, sua localização em cidades-marca, cujo projeto arquitetônico é concebido por arquitetos de renome internacional, ou seja, “o objeto-marca na cidade-marca”. Palavras-chave: centro cultural; cultura; arquitetura; cidade-marca; cidade espetáculo; espetacularização. 2 – INTRODUÇÃO O objetivo desse artigo é apresentar o significado de centro cultural, suas características formais e funcionais mais recentes e as razões de sua origem e proliferação no mundo. Abordando itens relacionados ao conceito geral e funções atribuídas a um centro de cultura; a promoção/divulgação da cultura na cidade. Através deste, busca-se questionar o conceito, a origem e proliferação, e as atividades exercidas em um espaço cultural. Os espaços culturais permitem a descoberta do conhecimento e o acesso às atividades relativas à informação, discussão e criação. O centro de cultura é um espaço que deve construir laços com a comunidade e os acontecimentos locais, funcionando como um equipamento informacional, no qual proporciona cultura para os diferentes grupos sociais, buscando promover a sua integração. Um espaço cultural, além de exercer atividades culturais diversificadas, deve possuir no programa de necessidades atributos ambientais essenciais para o seu bom funcionamento e qualidade de bem-estar do usuário. Esses atributos estão relacionados a democratização do espaço, ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 acessos, integração do público, comunicação do interior com as atividades exercidas, dentre outros, por meio de salas de aula, praça e áreas de convivência, iluminação adequada, etc. Ao longo dos anos, as sociedades vêem sofrendo grandes transformações. Dentre essas transformações aparecem preocupações, especialmente, dos poderes públicos, relacionadas às imagens de promoção das cidades. Tendo isso como relação, a cidade constrói centros históricos e culturais para que sua imagem seja uma “mercadoria a venda”, impulsionada pelas mídias. Em um mundo extremamente competitivo, a cultura é abordada como uma mercadoria de espetáculo, no qual utiliza a cidade contemporânea como instrumento de divulgação para além dos seus limites locais. Esse tipo de divulgação realizada pelas políticas urbanas fixa as questões sociais relacionados aos espaços renovados, requalificados e readequados, onde são consumidos eventos e a cultura propriamente dita, dando início a uma nova maneira de “fazer cidade”. Assim, surge um interesse despertado nos centros culturais, transformando-os em edifícios monumentais e emblemáticos. Contudo, esses espaços culturais emblemáticos possuem a sua importância no contexto global, pois eles estão localizados em cidades-marca, sendo o projeto arquitetônico concebido por arquitetos de renome internacional, ou seja, “o objeto-marca na cidade-marca”. 3 – Conceito e Origem do Centro Cultural Não é à toa que a arquitetura torna-se exuberante quando projeta obras ligadas à esfera cultura. O caráter monumental diz que a própria beleza é um discurso ligado à Cultura como posse. Um Centro Cultural feio seria uma contradição. Tudo isso leva a apontar para a supremacia do caráter formal dos prédios que proliferam com essa denominação sobre a sua própria razão de existir. (Luís Milanesi, 2003) Embora não haja um modelo definido de centro cultural, a proliferação desse título em fachadas dos edifícios indica a necessidade de se questionar o que realmente é um centro cultural e qual sua característica. Tornando-se atualmente um objeto de desejo, principalmente dos órgãos públicos, é identificado como civilidade, um elemento de status. Participando da construção da imagem das cidades, tão decantada, no mundo de competição entre elas. Em função disso, normalmente, a preocupação maior está voltada para a forma do edifício e, menos para a sua funcionalidade, assim inclina-se para o discurso de cidade culta. A conceituação difícil do centro cultural está diretamente relacionada ao próprio significado de cultura, que sempre é um objeto de discussão e polêmica. No entanto, o centro cultural pode ser definido pelo seu uso e atividades nele desenvolvidas. Podendo ser tanto um local especializado, de múltiplo uso, proporcionando opções como consulta, leitura em biblioteca, realização de atividades em setor de oficinas, exibição de filmes e vídeos, audição musical, apresentação de espetáculos, etc, tornando-se um espaço acolhedor de diversas expressões ao ponto de propiciar uma circulação dinâmica da cultura. Os centros culturais são instituições criadas com o objetivo de se produzir, elaborar e disseminar práticas culturais e bens simbólicos, obtendo o status de local privilegiado para práticas informacionais que dão subsídios às ações culturais. São espaços para se fazer cultura viva, por meio de obra de arte, com informação, em um processo crítico, criativo, provocativo, grupal e dinâmico. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 Não existe um modelo para centro cultural, mas sim uma ampla base que permite diferenciálo de qualquer outro edifício (um supermercado, um shopping, uma academia, etc) possibilitando a discussão e a prática de criar novos produtos culturais. Porém, pode-se ressaltar que, qualquer hall de banco ou shopping é chamado de centro cultural ou corredor cultural e, qualquer ante-sala é considerada uma galeria. Mas, quem entra num centro cultural deve viver experiências significativas e rever a si próprio e suas relações com os demais. Existe a precisão de assegurar a relação entre centro de cultura e a realidade local, não havendo a possibilidade de se fazer cultura distanciada e fora da realidade onde se encontram os grupos sociais, deve-se, portanto, obter vínculos com a comunidade e os acontecimentos locais. Entretanto, esses espaços precisam estar antenados com as necessidades e formulações culturais características do mundo contemporâneo, com a importância da informação e do conhecimento, atuando também como equipamento informacional. A questão popular pode levar a concepção de um centro de cultura em locais menos favorecidos, tais como favelas, áreas carentes, já a opção erudita pode condicionar a localização desses núcleos nos centros da cidade, áreas nobres identificando-os com a “cultura superior”. Porém, não deve ser um meio que permita a passividade, o comodismo da personalidade e das emoções. O centro cultural tem por objetivo reunir um público com características heterogêneas, promovendo ação cultural, “um espaço que seja a simbiose, o amálgama torturado das relações humanas, parece ser próprio à Cultura e desejável como proposta” (MILANESI, 2003, p. 172), evidenciando seus requisitos mais gerais: informar, discutir e criar. O verbo informar refere-se à ação mais praticada nos centros de cultura e elabora processos e procedimentos que asseguram ao público o acesso à informação. Atribuída às bibliotecas por meio de coleção de livros e centros multimídias, disseminando o acervo de informações, fundamentais para o desenvolvimento da cidadania. Pois, é a partir da interação da informação e do conhecimento da realidade que o cidadão torna-se mais hábil para discutir e criar. O segundo verbo, discutir, preconiza que se ultrapasse a organização passiva das informações e passe a atender a outra necessidade, relacionada à criação de oportunidades de discussões, reflexões e críticas. O responsável por um espaço divulgador de informação deve criar alternativas por intermédio de seminários, ciclos de debates, etc; proporcionando potencialização da informação. Discutir é uma das principais atividades em um centro de cultura. O verbo criar surge para dar “sentido aos dois outros verbos (informar e discutir). A criação permanente é o objetivo de um centro de cultura. Ele deve ser o gerador contínuo de novos discursos e propostas. Ao lado dos acervos e das salas de reuniões e auditórios deverão estar os laboratórios de invenção, as oficinas de criatividade, espaços essenciais” (MILANESI, 2003, p. 180). Ou seja, a criação é um produto de interação entre a informação e a discussão, através do conhecimento da realidade existente e da discussão de hipóteses para transformação, gerando novas idéias e propostas. Centro cultural não pode ser um espaço que funcione como uma distração, mas sim, ser conceituado como um local onde há centralização de atividades diversificadas e que atuam de maneiras interdependentes, simultâneas e multidisciplinares. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 Há indícios que a origem dos espaços culturais pode estar na Antiguidade Clássica, em um complexo cultural como a Biblioteca de Alexandria ou “museion”. A Biblioteca era conposta por palácios reais, onde abrigavam variados tipos de documentos com o objetivo de preservar o saber existente na Grécia Antiga, abordando os campos da religião, mitologia, filosofia, medicina, dentre outros. Funcionava como um local de estudo e de culto às divindades e armazenava estátuas, obras de arte, instrumentos cirúrgicos e astronômicos; ela possuía também um anfiteatro, um observatório, salas de trabalho, refeitório, jardim botânico e zoológico, o que a caracterizaria como o mais nítido e antigo Centro de Cultura (RAMOS, 2007). No século XIX foram criados os primeiros centros culturais ingleses, denominados como centros de artes. Porém, somente no final da década de 1950, na França, surgiram as bases do que, contemporaneamente, entende-se como ação cultural. Os espaços culturais foram lançados a partir de uma opção de lazer para os operários franceses, com o objetivo de melhorar as relações entre as pessoas no trabalho, criando áreas de convivências, quadras esportivas e centros sociais. Mais tarde, em casas de cultura. A França atraiu ainda mais os olhares de todo o mundo após a construção e divulgação do Centro Cultural Georges Pompidou, que passou ser um incentivo para a explosão de centros culturais no mundo. Através dessa obra, a França impôs um novo estilo e deu um salto qualitativo no que considera realmente um trabalho cultural. Tendo sido a responsável pela propagação de um novo conceito de centro cultural, concretizado no George Pompidou, atribuído à sua grandiosidade física e à qualidade das ações ali realizadas. Inspirando no mundo inúmeros centros culturais, no qual o identifica como “modelo” de centro de cultura. a se Centro Cultural Georges Pompidou, França Foto: Renata Ribeiro Neves O Brasil veio a se interessar por centro cultural a partir da década de 1960, mas só efetivou-se por volta dos anos 80, com a criação do Centro Cultural do Jabaquara e do Centro Cultural São Paulo, ambos em São Paulo. O centro de cultura teve um crescimento gigantesco nos últimos anos, alimentado por investimentos pelas de incentivo à cultura. Atualmente, o que leis Centro Cultural Georges Pompidou, França Foto: Renata Ribeiro Neves ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 mais é realizado por órgãos públicos é a construção de espaços culturais. Os centros culturais brasileiros, diante de uma diversidade da produção, possibilitam identificar quatro formas: a grande construção; a restauração; o remendo; e a mistura grossa. A grande construção é definida com base de decisão política. Exige altos investimentos, geralmente, constitui de uma arquitetura de destaque, maiores dimensões e apresentam serviços modernos. A restauração relaciona-se a intervenção em uma construção antiga, de caráter histórico, ponto de referência na vida da cidade. Quando possui valor histórico, por lei, ocorre seu tombamento e sua preservação deve ser garantida. Em alguns casos, aceitam-se pequenas mudanças no seu interior, mas em outros momentos são vetadas quaisquer tipo de interferências que venha a alterar suas características originais. Devido a esses fatores, os arquitetos devem utilizar a criatividade de transformar uma edificação, que tinha outra função, em uma casa ou centro de cultura, conservando a preservação e funcionalidade equilibradas. O remendo conduz a prática da instalação do centro cultural em qualquer espaço, só necessitando da disponibilidade do imóvel, sendo transformado, por meio de reformas, em espaço razoavelmente útil. A mistura grossa remete-se à falta de recursos para a ausência espaços, onde as atividades culturais possam ser organizadas. São agregadas em edifícios, os quais, por exemplo, desenvolvem outros tipos de atividades. No entanto, os projetos são realizados, os edifícios são construídos, reformados ou restaurados, para abrigar os Centros Culturais. [...] os centros culturais, sendo espaços criados com a finalidade de se produzir e se pensar a cultura, tornam-se o território privilegiado da ação cultural e da ação informacional na Sociedade da Informação e do Conhecimento (RAMOS, 2007). A programação do centro cultural e suas características físicas devem ser definidas, através do meio onde ele será construído e o perfil de público que ele atenderá, cujas atividades culturais não devem ser realizadas para as pessoas, mas com elas. Os centros devem realizar ações que integrem três campos comuns ao trabalho cultural: a criação, visando à estimulação, a produção de bens culturais, por meio de oficinas, cursos e laboratórios, a formação artística e a educação estética; a circulação de bens culturais, pois assim evita-se que os eventos transformem a casa de cultura em espaço de puro lazer, atuando na formação do público; e a preservação do campo do trabalho cultural, resguardando o bem cultural e a manutenção da memória daquela coletividade. Esses campos apresentados (criação, circulação e preservação), juntamente com os verbos (informar, discutir e criar) mencionados, auxiliam a compreender a finalidade e funcionamento de um centro cultural. As atividades relacionadas ao verbo informar são desenvolvidas em espaços como teatros de arena, bibliotecas, cinemas, espaços de exposições, e outros ambientes semelhantes funcionalmente. O segundo, discutir, é viabilizado em ambientes como auditórios, salas de vídeo conferências, e até mesmo em espaços de convivência social, salas de reuniões e de múltiplo uso, pátios, dentre outros. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 Já o verbo criar são necessários espaços como ateliês de produção de obras novas, restauração, ou ainda de ensino para profissionais e aprendizes, mais conhecidas como oficinas de arte. Uma instituição ao conceber um espaço cultural deve estabelecer quais os objetivos e funções desse espaço. O arquiteto ao planejar um centro de cultura deve levar em consideração a necessidade de espaços para o acesso ao conhecimento, para a convivência e discussão, e criação. “A riqueza de um projeto está na integração desses elementos e na forma como esses espaços se relacionam”, explica Milanesi (2003, p. 199). Para proporcionar um bom funcionamento de um centro cultural deve exercer funções necessárias como espaços de apoio, contendo dependências administrativas, almoxarifado, reservas técnicas, sanitários, espaços que proporcione suporte para a realização dos objetivos principais. Sendo acrescentadas aos espaços “complementares”, estendendo o programa de necessidades, visando atender a demanda relacionada aos interesses econômicos, tais como: as cantinas, restaurantes, lanchonetes, livrarias, lojinhas de artesanatos, dentre outros. Ao propor o programa de necessidades de um centro cultural, o profissional deve ter consciência que enfrentará várias diversidades programáticas existentes, decorrentes das necessidades culturais que são bastante variadas no contexto social e saber ao certo o conceito de cultura. A casa de Cultura, para a maioria, é um local que pode causar estranheza. [...] A recepção é o local onde ocorre o primeiro contato do visitante com a instituição. Se o acolhimento for positivo, o ambiente se torna mais generoso e envolente. A ação cultural é feita, essência, pelas relações humanas a partir da porta de entrada. (MILANESI, 2003, p. 199) Milanesi (2003) questiona ainda que, a justificativa oscila para a execução de uma construção de um centro cultural, pois, de uma forma geral, ligam para a importância da Cultura, ou seja, para alguns é de extrema relevância um espaço com atividades cultura, sendo estes sabendo o seu valor, para outros é algo que de mau uso dos recursos públicos. No entanto, a edificação abrigará atividades adequedas a essa idéia, fundamentada para fazer parte de uma coletividade e possuindo uma vida, cujo prefil do centro constituirá da forma no qual foi concebido e suas ações ratificarão esses objetivos ou, simplesmente haverá o rompimento com eles. Os atributos ambientais decorrem do entendimento do conjunto das necessidades e aspirações humanas relativas ao espaço arquitetônico, que orientam o arquiteto na definição de soluções, melhorando a forma de condições de uso para o espaço. As qualidades ambientais genéricas surgem a partir de decisões arquitetônicas tomadas pelos autores de projetos determinados por situações provenientes de critérios técnicos e ambientais. Com relação aos centros de cultura, os principais atributos são: possibilidade de vários acessos, democratização dos espaços, integração das diversas atividades através de visuais livres, adequação ambiental nas salas de exposições, integração do público. O primeiro atributo está relacionado às existências de vários acessos, diminuindo a inibição das pessoas, provocado pelo sentimento de invasão que pode acontecer se um espaço não lhe for receptivo. A idéia de acessibilidade se estende, deparando-se com acessos em continuidade com os espaços públicos, assim facilitando a ligação para qualquer parte da edificação. A democratização dos espaços no centro de cultura advém da sua organização em volta de um espaço central – praça, traduzido em um local de convívio “democrático e fluído”. O terceiro relaciona-se à integração visual dos ambientes e suas respectivas atividades, um requisito ambiental muito rico e importante, já que, provoca a participação no espaço programado. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 Todos os espaços devem apresentar adequação ambiental, em especial, as salas de exposições. Elas devem apresentar boas dimensões, possuindo facilidade para circulação, condições de ventilação e iluminação, atributos essenciais para a apreciação das obras. Pois, os sistemas de iluminação, tanto artificial quanto natural realçam os objetos expostos tornando-os mais atrativos e auxiliam na delimitação do espaço arquitetônico. A reunião do público disperso em locais como ateliês de exposição, auditório ou em qualquer outra atividade cultural, tornou-se uma questão desafiadora na organização espacial dos centros de cultura. Para isso, é exigido no programa de necessidade do espaço cultural, ambientes que possa provocar a reunião dos usuários, por meio de áreas de convivência (restaurantes, lanchonetes, cafés, etc), transpassando harmonia através de apresentações artísticas e horários de estudo e pesquisa. Esses espaços podem funcionar fora do horário de atendimento do centro, tornando-se, assim, flexíveis, canalizando-o em um ponto centralizador de encontros. 4 – Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura Como parte das grandes campanhas para “revitalizar” as áreas urbanas [...], as cidades realizaram amplos programas de renovação urbana [...]. Governos, bancos, grandes empresas e instituições culturais como os museus adotaram a arquitetura moderna como sua marca, em prédios geralmente bem construídos. Mas os arquitetos ganharam crescente prestígio ao produzirem edifícios para incorporadores mais preocupados com a rapidez, o custo baixo e o efeito espetacular. (GHIRARDO, 2002, p. 5-6) A cidade moderna materializava as idéias do urbanismo progressista, onde prevalecia a morfologia pouco densa e grande segregação dos fluxos de pedestres e veículos, fragmentação da cidade em partes especializadas. Os edifícios e conjuntos históricos excepcionais eram privilegiados e preservados, isolados do seu entorno, sujeitos à destruição impulsionada pela modernização. No entanto, foram surgindo diferentes formas de pensar a cidade por meio de fenômenos complexos, considerando a realidade histórica das cidades, absorvendo o pensamento preservacionista, estendendo-se dos monumentos aos tecidos urbanos. A especialização funcional da cidade não se é mais realizada pela eleição de zonas de usos, cuja definição se dá por uma seqüência de enclaves urbanos que fragmentam sua totalidade. O papel especial da cidade é reservado para os grandes eventos arquitetônicos. Midiatizados e espetacularizados, como museus, grandes aeroportos, estações de trens e transbordos, assinados por arquitetos de renome, transformando em estratégias a produção de imagens urbanas. A construção de centro histórico e cultural associa-se à formação de uma imagem a ser vendida, criando uma marca que se completa com objetos-espetáculos urbanos. Com isso, a produção de espaços em locais particulares acaba transformando-os em mercadoria. Os projetos de renovação urbana desenvolvidos em algumas cidades, principalmente no ocidente, pautam-se na especialização econômica e funcional do território, na segregação de ambientes urbanos e na tematização da paisagem. Assim, para compor uma cultura baseada no consumo tematizado dos espaços urbanos, as relações entre mercado e lugar passam por uma redefinição, na qual, a arquitetura e o desenho urbano são utilizados como instrumentos para a produção padronizada de paisagens comuns (MUÑOZ, 2005, p. 79). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 Segundo Arantes (2002), as estratégias culturais de redesenvolvimento urbano residia na propagação da imagem de um centro de inovação, consistindo na manipulação de linguagens simbólicas, ou seja, o “visual” de uma cidade, refletindo nas decisões sobre o que poderá ser visível ou não, cujo desenho arquitetônico passa a ser um dos instrumentos mais cobiçados. A política urbana tem contribuído bastante para este cenário assumindo a transformação econômica e física de alguns fragmentos da estrutura urbana. A falta de complexidade das políticas urbanas tanto nos processo de dispersão urbana como em operações de renovações dos espaços em uso dentro das cidades, salienta a intervenção urbana concebida como um instrumento de regeneração ou de revitalização, com o objetivo de vender a cidade como um produto em um mercado global, segundo Muñoz (2005, p.82). A comunicação, a produção do espaço e a cultura estabeleceram uma união dentro de uma lógica cultural do pós-modernismo, cujas transformações ocorreram no contexto contemporâneo do espaço e tempo, representado em uma etapa da globalização, passando a ser um consumo de bens para ser de serviços, em especial de entretenimento, espetáculos e distrações, em muitas áreas da produção cultural favorecendo o capitalismo de forma feroz. Ghirardo (2002) explica que o conceito de espaço público se aplica na medida em que ele é aberto a todos, constatando-se a existência de práticas exclusivistas, que limitam a definição de público de modo significativo. No final do século XX, explicitaram-se duas noções de espaço público: os espaços voltados para o consumo e os espaços segregados, ambos monitorados e controlados. Tendo como exemplos para esse tipo de espaço o centro comercial e o parque temático e, por incrível que pareça eles têm ressonância em várias outras espécies de edifícios, como: o museu, a biblioteca, o teatro e as salas de concertos. Diante das atitudes relacionadas ao espaço público que enfatizam o consumo de massa e o controle oficial e empresarial, começam a surgir discussões sobre a concepção desses espaços, pois estes foram os tipos mais comuns de edificações públicas a proliferar no final do século XX e no âmbito cultural. A mudança cultural e a reestruturação do espaço proporcionam mudanças não apenas no consumo, mas também no modo de vida e diferentes formas de apropriação do espaço. A conectividade com a mídia nos projetos da cidade privilegia o espaço espetacular e a venda destas. No qual, a política urbana passa por um processo de simplificação e festivalização. A conceituação da “festivalização” refere-se ao desenvolvimento urbano partindo de um grande evento dando início à transformação urbana e que tem por objetivo a participação nos principais mercados globais de produção e consumo, criando, assim, uma imagem urbana capaz de vender a cidade e atrair capital. [...] este processo de marketing desenvolvia-se depois que o território havia sido produzido ou renovado. Hoje em dia, parece evidente que a imagem se converteu em uma condição necessária do processo de transformação urbana, o que explica por que a imagem urbana necessita promover-se e adquirir publicidade antes que se coloque um só tijolo. […] o papel das políticas urbanas e, também, da arquitetura se reduz em certa medida à produção e reprodução de imagens. (MUÑOZ, 2005, p. 82). As grandes transformações urbanas sofridas pelas cidades para a construção de sua imagem formaram a cidade espetáculo, ou seja, transformando-a em um lugar de “inovações urbanas”. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 O encontro entre cultura e economia constrói um campo propício para a sociedade do espetáculo. A cultura é considerada uma mercadoria destacada pelo capitalismo, assumindo um status de que a “cultura é um grande e bom negócio”. A sua centralidade no meio contemporâneo, traduz no surgimento de ambientes destinados às atividades culturais. Com isso, o aparecimento de grandes equipamentos públicos, tais como museus, centros culturais, tomam parte das estratégias urbanas contemporâneas. A arquitetura de grandiosidade concebida por arquitetos de renome internacional, reabilitação de áreas urbanas, propagação de mega-eventos, preservação de edifícios na condição de patrimônio, tornando-as símbolos das ações de renovações urbanas. Todas essas estratégias transformam-se em “grandes vitrines publicitárias da cidade-espetáculo” (SÁNCHEZ, 2003, p. 495). As centralizações de áreas urbanas estão divididas em atividades e fluxos, com espaços denominados como oferta cultural (como exemplos os museus e os centros de lazer). Pois, de acordo com os padrões culturais, lugares como antigas fábricas, portos marítimos, armazéns, etc, são revitalizados e transformados em novos complexos culturais, recebendo novas funções para atender, também, às políticas urbanas. Assim, essa produção criada através das intervenções, reforça, cada vez mais, o consumo de serviços, eventos e circuitos culturais e de lazer, reunidos em espaços-síntese, indicando uma maneira nova de se “fazer cidade” (SÁNCHEZ, 2003, p. 499). As renovações urbanas associadas à oferta cultural vêm sendo construído pelas principais imagens e representações internacionais. Fazendo com que os representantes das cidades sejam [...] movidos pela pedra de toque da monumentalidade espetacular: ter um Frank Gehry, um Christian de Portzamparc ou um Richard Méier passou a significar, em si, um luminoso sinal e um promissor efeito daquilo que é considerado um verdadeiro processo de reinvenção das cidades. O edifício-marca torna a renovação urbana um espetáculo (SÁNCHEZ, 2003, p. 514). O edifício emblemático é considerado pelas cidades modelos mais do que uma qualificação, são considerados ícones midiáticos, transformando-a em um local ideal para negócios. No entanto, alguns projetos são apenas cenários para um “público não existente”, ou seja, um público fictício, que recebe alto investimento em obras monumentais justificado pela ideologia de criação dos locais públicos. A fragmentação, a efemeridade, o ecletismo, a forma anteposta à função, [...] são elementos identificáveis de uma estética pós-moderna nos novos espaços urbanos. A estética do lazer pode também ser vista como ícone da pós-modernidade nos novos espaços culturais; a arquitetura adquire uma nova obrigação expressiva nos seus marcos urbanos onde a centralidade da forma é mais importante [...] dos espaços criados. (HARVEY, 1994. Apud SÁNCHEZ, 2003, p. 524) Os empreendedores culturais são grandes influenciadores da cultura na cidade-mercadoria, implantando edifícios para fins culturais, investindo na renovação de áreas urbanas consideradas degradadas. Estes investimentos na esfera cultural estão voltados, principalmente, para reciclagens de edifícios, adequando-os às novas funções, ou obras de edifícios culturais assinadas por arquitetos reconhecidos internacionalmente. Contudo, os projetos possuem a intenção de tornar a obra arquitetônica em monumento simbólico da cidade, assim, transformando-a em atração, tanto cultural quanto turística. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 5 – Conclusão No decorrer deste artigo, discutiu-se sobre o conceito de espaços culturais, sendo estes espaços pensados somente para que a parte culta da população. Porém, não só a cultura, mas também, o lugar onde ela é exercida deve pertencer à sociedade em um todo, proporcionando acesso direto aos conhecimentos divulgados pelo centro cultural, girando em torno da informação, criação e discussão. No entanto, atualmente, os administradores políticos buscam construir, cada vez mais, a imagem urbana da cidade por meio de requalificação, renovação e readaptação de áreas degradadas transformando a cultura em consumo. As cidades tornam-se “cidades-modelo”, cultivando uma marca urbana e lançando “tendências” de centros culturais, unindo-se à venda da imagem da cidade no mercado global, através da mídia, no qual se contempla a espetacularização da cultura. Com isso, na cidadeespetáculo a cultura é considerada uma mercadoria, gerando um grande número de equipamentos públicos. As obras são concebidas com o intuito de se transformarem em monumentos emblemáticos, caracterizando as cidades como vitrines direcionadas à publicidade. Já no Brasil, os centros culturais nos últimos anos ter ocorrido um “boom”, até mesmo para promover as cidades, eles são encontrados em locais acessíveis, para que a população possa ingressar facilmente e, assim poder participar das atividades proporcionadas, pois estes espaços não estão apenas direcionados para o conhecimento e informação sobre a cultura, mas também para oferecer lazer e integração entre a população de diferentes níveis de classes sociais. A grande maioria dos centros culturais estão localizados nos centros urbanos, em locais estratégicos que visam o crescimento da cidade, proporcionando melhorias para os bairros que o circundam. Promovendo a renovação de lugares ditos degradados, integrando culturalmente com as comunidades. Os novos edifícios buscam a sua implantação em locais de fácil acesso, tendo como observação os fatores históricos e as características do entorno. A topografia, a localização do terreno, exerce uma forte influência na concepção do partido arquitetônico, o qual proporciona destaque para as melhores fachadas, implantação de ambientes no subsolo ou com vistas panorâmicas para o exterior. Com essa influência, os centros culturais possuem um equilíbrio formal, tanto na horizontalidade quanto na verticalidade, gera um diálogo com o entorno. As atividades programáticas exercidas nos espaços culturais resultam em uma composição de ambientes como: bibliotecas, salas de Internet, teatro, salas de exposição, entre outros (verbo informar); espaços de convivência e eventos, lanchonetes, salas de reunião, salas de jogos, etc, (verbo discutir); salas de múltiplo uso, ateliês, oficinas de arte, etc, (verbo criar); podendo contar também com ambulatórios, consultórios de odontologia, além de quadras de esportes e piscinas. Para atrair mais freqüentadores, o centro cultural deve se adaptar à tecnologia virtual, com salas de Internet, cibercáfe, ambientes interativos, galerias multimídias e temáticas. Para evitar a criação de barreiras que limitam a procura pelo centro cultural, foram propostos acessos que facilitam a integração do exterior com o interior. Dentro da edificação, a comunicação entre os ambientes é realizada por meio de circulações horizontais e verticais (corredores de acesso, escadas, rampas e elevadores). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013 – julho/2013 Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura julho de 2013 A tecnologia é um fator importante para a concepção do projeto arquitetônico. Em novos edifícios, o uso da estrutura metálica é bastante visada, pois permite vencer grandes vãos, principalmente, onde há teatros, auditórios. Além do aço, o concreto é bem utilizado, principalmente nas fundações e, até mesmo em partes da estrutura, conduzindo a certa flexibilidade e efeitos extraordinários. Para se destacar na paisagem urbana, alguns centros culturais contam com suas fachadas em cores marcantes, diferenciando seus volumes, e outros em cores mais claras, obtendo um contraste e criando uma surpresa para quem adentra no espaço. Contudo, os centros culturais vêem sofrendo grandes modificações. Sendo que, as atividades foram as mais influenciadas, pois, no dias atuais, os arquitetos e agentes culturais buscam um conceito de espaço cultural mais aprofundado. Eles proporcionam salas de múltiplo uso, onde podem ser realizados diferentes tipos de atividades, sem que haja segregação entre os ambientes. Mesmo com toda essa modificação houve permanências, elementos importantes para um centro cultural, destinados a informação e divulgação: a biblioteca, o teatro e o museu. Sendo estes insubstituíveis em um espaço que trabalha cultura e conhecimento. Enfim, conclui-se que, um centro cultural deve ser um pólo de cultura viva, proporcionando ao público, liberdade de se fazer cultura e favorecendo a sua conscientização. Referências GHIRARDO, Diane Yvonne. Arquitetura contemporânea: uma história concisa. Tradução: Maria Beatriz de Medina. São Paulo: Martins Fontes, 2002 MILANESI, Luís. A Casa da Invenção: Biblioteca, Centro Cultural. 4º ed. revisada e ampliada. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. MUÑOZ, Francesc. Paisajes banales: bienvenidos a la sociedad del espectáculo. In: SOLÁ-MORALES, Ignasi de y COSTA, Xavier. Metrópolis. Barcelona: Gustavo Gili, 2004. ARANTES, Otília. Uma estratégia fatal: A cultura nas novas gestões urbanas. In: ARANTES, Otília; VAINER, Carlos; MARICATO, Ermínia. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2000. PEIXOTO, Elaine Ribeiro. A cidade genérica. 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