n. 143, 9 de fevereiro de 2010. Ano III. "a estupidez insiste sempre" (albert camus). contrarrevolução... Se alguém falar em revolução, imediatamente, liberais e conservadores bradarão: equívoco, coisa ultrapassada, nostalgia, etc. e tal! Por outras razões, muitos descrêem de uma nova revolução mundial como preconizavam os socialistas do século passado. Até aí, tudo bem! Ou quase! Hoje em dia, setores deliberadamente reacionários se proclamam abertamente contrarrevolucionários. Ninguém esbraveja! Dentre eles, destacam-se os adeptos do tea party estadunidense, que se declaram reformadores antimoderação entre os republicanos. Para eles, Obama é socialista! Como?! É assim que a massa desempregada, abúlica e covarde se organiza, reagindo a uma relativa ampliação da intervenção do Estado atual. Eis o fascismo mais que latente e propício para sustentar a ordem! e libertarismo! Os moralizadores do tea party recorrem ao passado dos republicanos e se autoproclamam libertários. Como? Mais uma vez, assim como os neoliberais do século passado, em nome da crítica à governamentalização do Estado, roubam a palavra libertária dos anarquistas para justificar suas ações reacionárias. No passado, fizeram-no proclamando um suposto anarco-capitalismo como sinônimo de neoliberalismo. Hoje, menos cultos, esses contrarrevolucionários juramentados, procuram capturar a palavra-ação direta dos anarquistas para tentar reduzi-la a Estado mínimo e perpetuação da propriedade. Roubam como velhas pulhas da dignidade em nome da propriedade. São os voluntários defensores do capital e do Estado! Enfim, a soberania só se mantém pelo medo e desejo dos súditos! sexo livre? Baseando-se em lei promulgada em 1805, policiais de New Orleans prenderam recentemente dezenas de homens e mulheres, sobretudo jovens, delatados por vizinhos ou em flagrante, acusados de praticarem “cópula antinatural”. Cerca de quinhentas pessoas estão presas por terem experimentado livremente as inúmeras possibilidades de prazer que ocorrem quando dois, três, ou mais corpos se encontram. Diante do sexo preso, um escritor estadunidense interessado em existências escrachadas e liberadas diria que esta é “a velha história americana de salvar os jovens do sexo. Só que é sempre tarde demais. Tarde demais, porque eles já nasceram”. quem chamou? Gamboa, Rio de Janeiro. Uma denuncia anônima. Malfeitores armados estariam escondidos em terrenos baldios. A polícia chegou em ritmo de blitz e encontrou crianças brincando de tiroteio com toquinhos de pau. Mesmo sem duvidar disso, os policiais levaram todos para a delegacia. Spin Boldak, Afeganistão. Uma suspeita de que Talebans estariam preparando um ataque. A polícia afegã chegou matando. Eram sete meninos da região buscando lenha. Nova Iorque, América. Uma menina rabiscou “Lex esteve aqui” na carteira de sua escola com uma canetinha. Denunciada, saiu algemada pelos policiais. Os gestos mais simples espontâneos e corriqueiros de crianças estão se tornando “caso de polícia”. Mas, se a polícia veio, alguém ofendido e com medo exigiu tal presença. Quem? o justo meio Ele é moderno, democrático, terapeuta, neurocientista e artista plástico, um homem de nosso tempo. Entrou na polêmica sobre a Comissão da Verdade, do PNDH-3, para dizer que é preciso buscar a verdade de maneira verdadeira e tratar torturadores e subversivos de igual maneira. Argumenta contra a falta de espírito democrático em ambos. Quer que a discussão encontre um justo meio. Aproxima-se, em sua neutralidade, do discurso que relativiza a ação das forças armadas e acaba por fazer coro com o jurista, que na mesma sessão de jornal, disse que era preciso queimar o texto do PNDH-3, recomendando não queimar quem o escreveu. Eis o justo: a fogueira. trocando as bolas? A polícia militar, fardada, armada e motorizada nas ruas da cidade, lembra o muito que está presente da ditadura militar, mesmo após mais de 25 anos de regime democrático. O governador de São Paulo quer renomear polícia de Força Pública como maneira de apagar esse passado presente e fazer crer que no passado ela era boa e justa. Confunde ou troca as bolas, pois o aprendizado político de 20 anos de ditadura se expande para além da instituição que persegue, tortura e mata os mesmos outros perigosos. A ditadura e a democracia estão impregnadas das condutas de cada um que, mesmo em silêncio, ama a ordem e deseja a polícia, seja qual for o seu nome mais adequado na ocasião. manicômio, matadouro Em Pernambuco, no município de Camaragibe, nos arredores de Recife, mais de 2500 pessoas encontram-se internadas em manicômios. No maior hospício do estado, Hospital Psiquiátrico José Alberto Maia, conhecido como a cidade dos loucos, estão mais de 600 homens e mulheres provenientes de 32 municípios. Na cidade dos loucos a ração diária é constituída “por um almoço”, derivado de liminar do Ministério Público expedida em 2009. Homens e mulheres largados, famélicos, catatônicos, gente em forma de dejeto, desfigurados, robotizados, fedorentos, mijados e cagados. A cada mês morrem cinco. Nos últimos dois anos morreram mais de 250. Menos 250 farrapos de gente. Não é só de fome que se morre! manicômio e familiaridades do matadouro Menos 250 farrapos de gente. Mais números a mobilizar especialistas-psi e especialistas em saúde e segurança. No último dia 4, inúmeros conselhos, dentre eles, de enfermagem, de medicina, de nutrição, de psicologia, de serviço social reuniram-se com representantes da secretaria de saúde de Pernambuco e da coordenação de saúde mental de Camaragibe para discutir “um sistema substitutivo” para a cidade dos loucos. Resultado: ampliação do número de residências terapêuticas articuladas ao manicômio pela mediação do hospital dia. Que as autoridades, os especialistas e os condoídos não esqueçam e nem posem de indignados. Não é de óbito que se morre! "tão-somente o diminuto banquete da aranha basta para romper o equilíbrio de todo o céu" (federico garcía lorca).