VARIABILIDADE ESPACIAL DOS TEORES DE K, CTC E RAZÃO K/CTC EM SOLOS CULTIVADOS COM ARROZ NO RIO GRANDE DO SUL Felipe de Campos Carmona(1); Amanda Posselt Martins(2); Marcelo Hoerbe Andrighetti (2); Eduardo Giacomelli Cao(2); Ibanor Anghinoni(3); Eliseu José Weber(4) (1) Pesquisador, Estação Experimental do Arroz, Instituto Rio Grandense do Arroz, Av. Bonifácio Carvalho Bernardes, 1494, Cachoeirinha, RS, CEP 91540-000, Caixa Postal 29. Endereço eletrônico: [email protected]; (2) Estudante de graduação, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves, 7712, Porto Alegre, RS, CEP 91540-000; (3) Professor Colaborar, Programa de Pós Graduação em Ciência do Solo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves, 7712, Porto Alegre, RS, CEP 91540-000; Pesquisador, Instituto de Biociências, Centro de Ecologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av Bento Gonçalves, 9500, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970, Caixa Postal 15007. Resumo – A região das planícies costeiras do Rio Grande do Sul tem vastas áreas aptas ao cultivo de arroz irrigado. Entretanto, devido ao material de origem, os solos tendem a apresentar baixos níveis de CTC e K, o que pode se refletir no rendimento da cultura. O objetivo deste estudo foi avaliar a variabilidade espacial dos teores de K, da CTC e da razão K/CTC em solos das planícies costeiras do Estado, cultivados com arroz irrigado. Foram coletadas 766 amostras de solo, tanto na Planície Costeira Interna (PCI), quanto externa (PCE) à Lagoa dos Patos, em solos aptos ou com histórico de cultivo de arroz. Foram analisados os teores de K, a CTC e a razão K/CTC. Para a observação do comportamento geral desses atributos, foram elaborados histogramas de frequência. Foram gerados, também, mapas, pelo método de interpolação. De modo geral, os teores de potássio variam de baixo a médio, embora haja uma grande amplitude de valores na região de estudo, o mesmo ocorrendo com a CTC do solo e a razão K/CTC. A maior parte dos solos apresenta teor de K inferior a 60 mg dm-3, estando os solos mais pobres ao norte da PCI. A CTC dos solos, em geral, é inferior a 15 cmolc dm-3, em especial nos arredores de São Lourenço do Sul (PCI) e Mostardas (PCE). A razão K/CTC, na grande maioria dos solos é inferior a 2,0 %, o que aumenta a possibilidade de resposta à adubação potássica. Palavras-Chave: Lagoa dos Patos, mapeamento, potássio. INTRODUÇÃO O cultivo de arroz irrigado no Rio Grande do Sul ocorre em seis diferentes regiões orizícolas na metade Sul do Estado, denominadas Fronteira Oeste, Campanha, Depressão Central, Zona Sul e Planícies Costeiras Interna (PCI) e Externa (PCE). As produtividades obtidas são variáveis entre as regiões, embora os níveis de tecnologia disponíveis sejam basicamente os mesmos. Nas planícies costeiras, por exemplo, as produtividades são menores em relação às demais, sendo que, na safra 2009/10, a produtividade média foi de 6,15 t ha-1, em uma área de 273.400 ha, enquanto que na Fronteira Oeste, foi de 6,97 t ha-1, em uma área superior a 300.000 ha (IRGA, 2010). As discrepâncias observadas entre algumas regiões podem ser atribuídas a variações na radiação solar (Mota, 1995; Custódio, 2007), estresses específicos, como a salinidade, (Carmona et al., 2011) e à ocorrência de diferentes tipos de solo (Streck et al., 2008). Nas planícies costeiras, a formação do solo tem caráter evolutivo, como decorrência da sedimentação marinha e flúvio-lacustre (Villwock e Tomazelli, 1995), o que pode conferir àqueles solos, em muitos casos, baixos teores de argila, baixa capacidade de troca de cátions e, portanto, baixos teores de potássio. Dessa forma, os rendimentos inferiores verificados na região poderiam ser atribuídos, ao menos em parte, aos teores de potássio, já que a cultura do arroz é altamente exigente desse nutriente (Yoshida, 1981). Nesse sentido, o agrupamento de solos, utilizando-se como critério a CTC, permite uma melhor interpretação da disponibilidade de K para as plantas (Silva e Meurer, 1988), já que este atributo de solo engloba, indiretamente, outros fatores que influem sobre a disponibilidade de K (Saharawat, 1983). Genro Jr et al. (2007), em estudo realizado em 16 solos de várzea cultivados com arroz irrigado no Rio Grande do Sul, inclusive na área de abrangência do presente estudo, concluíram que a relação do K na troca pode ser utilizada como índice de sua disponibilidade em solos com ampla faixa de CTC. Ainda segundo esses autores, o valor da razão K/CTC acima do qual o incremento em produtividade é pequeno ou nulo situa-se entre 2 e 3%. Os baixos rendimentos verificados ao longo dos anos nas planícies costeiras do RS vêm causando a descapitalização dos produtores e marginalizando a região em relação às demais, o que gera uma série de conseqüências sócio-econômicas desfavoráveis para as comunidades do entorno da Lagoa dos Patos. Tendo em vista as aptidões inerentes à região e a importância da cadeia produtiva do arroz nesse contexto, o Instituto Rio Grandense do Arroz vem concentrando esforços no sentido de identificar e atacar as deficiências que tornam a atividade menos competitiva em relação às demais. - XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO - Resumo Expandido Este trabalho teve como objetivo avaliar a variabilidade espacial dos teores de K, da CTC e da razão K/CTC em solos das planícies costeiras do Rio Grande do Sul, cultivados com arroz irrigado. MATERIAL E MÉTODOS Foram coletadas 766 amostras de solo em áreas das planícies costeiras com histórico de cultivo de arroz irrigado por inundação, ou áreas com potencial de uso pela a cultura, no caso, planossolos e gleissolos. Todos os pontos de coleta foram georreferenciados com aparelhos GPS. A camada de solo amostrada foi de 0 – 20 cm utilizando-se um trado calador. Cada amostra foi composta de três sub-amostras. Foram determinados os cátions Na+, K, Ca2+, Mg2+ e H++Al3+ (Tedesco et al., 1995). A partir da soma destes, obteve-se a CTC a pH 7,0. O trabalho foi realizado entre os meses de julho e setembro de 2008 e maio e agosto de 2009. A abrangência de amostragem se estendeu entre os municípios de Rio Grande, localizado às margens da extremidade sul da Lagoa dos Patos, e Torres, último município do Litoral Norte do Rio Grande do Sul (Figura 1), na divisa com Santa Catarina. Torres Porto Alegre RS Tapes Arambaré Osório Viamão Lagoa dos Patos Mostardas seguem uma distribuição normal, pois são superiores a 0 e 3, respectivamente (Snedecor e Cochran, 1967). Isso é reflexo da discrepância entre os valores da média e mediana, que são muito distintos para os três atributos de solo avaliados, demonstrando distribuição assimétrica. A assimetria observada foi sempre positiva, indicando uma maior freqüência de valores abaixo da média e poucos valores situados bem acima dela. Adotando-se os limites de coeficiente de variação (CV) propostos por Warrick e Nielsen (1980) para a classificação de variáveis do solo, nota-se que todos os atributos avaliados apresentaram CV alto (Tabela 1), o que era esperado pela abrangência das amostragens, realizadas em uma faixa de aproximadamente 400 km. Os valores mínimos e máximos obtidos para cada atributo retratam os altos coeficientes de variação. Já com relação ao desvio padrão, quanto maior o seu valor, maior a dispersão e mais afastados da média estarão os eventos extremos. Isto é, o desvio padrão mede a dispersão dos valores individuais em torno da média. À semelhança dos demais, este parâmetro estatístico também foi elevado (Tabela 1). Tabela 1. Estatística descritiva das variáveis potássio (K), capacidade de troca de cátions (CTC) e razão K/CTC na camada arável de 766 amostras de solo nas planícies costeiras do Rio Grande do Sul Estatística descritiva K CTC K/CTC Média Mediana Desvio padrão CV (1) Pelotas Rio Grande Figura 1. Localização da área de estudo no Estado do Rio Grande do Sul. Região escurecida representa a abrangência das amostragens de solo nas Planícies Costeiras Interna e Externa à Lagoa dos Patos. Com o objetivo de se observar o comportamento geral dos teores de K, da CTC e da razão K/CTC, foram elaborados histogramas de frequência. Para verificar a dependência espacial das variáveis, foram gerados mapas, empregado-se o método de interpolação calculado a partir do inverso do quadrado da distância entre os pontos amostrados no terreno. Para isso, utilizou-se o software IDRISI 15.0 “The Andes Edition”. RESULTADOS E DISCUSSÃO Numa primeira análise, a estatística descritiva do universo de 766 amostras de solo (Tabela 1) indicaria que, em média, os solos estudados têm teor de K alto, em função da CTC (SOSBAI, 2010), e que haveria reposta à aplicação desse nutriente, de acordo com o valor médio da razão K/CTC (Genro Jr et al., 2007). Entretanto, os valores de assimetria e curtose não Curtose (1) Assimetria Mínimo Máximo (1) (1) mg dm-3 66,9 57,1 48,7 cmolc dm-3 12,1 10,4 5,98 % 1,54 1,34 1,13 0,73 0,50 0,73 16,3 9,05 22,5 2,74 1,92 525 2,41 4,44 57,0 3,18 0,05 12,6 parâmetros adimensionais. Com relação ao teor de K no solo, a maior frequência de amostras se situou em níveis entre 41 e 60 mg dm-3 (22,7 % - Figura 2a), seguido dos teores entre 21 e 40 mg dm-3 (19,3 %). Considerando-se que a CTC de praticamente 80 % das amostras ficou entre 5 e 15 cmolc dm-3 (Figura 2b), pode-se inferir que grande parte dos solos estudados apresenta teores baixos ou médios de K (SOSBAI, 2010). Some-se a isso o fato de que quase 75 % das amostras apresentou razão K/CTC inferior a 2,0 % (Figura 2c), o que indica alta probabilidade de resposta do arroz irrigado à adição desse nutriente (Genro Jr et al., 2007). Por outro lado, deve-se levar em consideração que uma parcela importante de amostras, cerca de 30 %, apresentou teores de K superiores a 80 mg dm-3 (Figura 2a). Além disso, em mais de 18 % das amostras foi verificada CTC superior a 15 cmolc dm-3 (Figura 2b) e cerca de 26 % tiveram razão K/CTC superior a 2 % (Figura 2c). Esses dados indicam que, apesar da semelhança do material de origem e das condições de relevo, 2 - XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO - Resumo Expandido predominantemente plano em uma extensa área da região, há uma heterogeneidade importante entre os solos estudados, especialmente no que se refere aos atributos avaliados. Valores extremamente baixos de K no solo (11 % das amostras com teor ≤ 20 mg dm-3 – Figura 2a), CTC (0,4 % das amostras com índice ≤ 5 cmolc dm-3 – Figura 2b) e razão K/CTC (12 % das amostras com índice ≤ 0,5 % - Figura 2c), foram encontrados. Entretanto, solos muito pobres em determinado atributo podem ser considerados exceção, e não a regra. (a) 200 Considerando-se os níveis de K na PCI a Lagoa dos Patos, verifica-se que os menores teores desse nutriente foram encontrados ao norte do município de Tapes, assim como, em menor escala, nos arredores de Arambaré e entre São Lourenço do Sul e Pelotas (Figura 3). Muito embora tenha sido verificado, ao sul de Tapes, mesclas entre solos pobres em potássio e solos com teores elevados, como pode ser verificado principalmente nos arredores de Pelotas, em solos mais próximos à Lagoa dos Patos. Já na PCE, os menores teores de K foram observados em uma ampla faixa ao sul e norte de Mostardas. Nas proximidades de Bojurú e São José do Norte, por outro lado, foram encontrados, em geral, teores mais elevados, assim como nas adjacências da porção norte da Lagoa dos Patos e ao norte de Imbé (Figura 3). Freqüência 160 Torres • 120 80 Imbé • 40 0 20 40 60 80 100 120 Viamão• Mais -3 Teor de K, mg dm Tapes • (b) 400 Arambaré• Lagoa dos Patos • Mostardas 300 Freqüência K, mg dm-3 São L. do Sul• 200 • Bojurú 100 0 5 10 15 20 25 30 Mais •Pelotas • São J. do Norte -3 CTC, cmol c dm (c) 200 Freqüência 160 120 80 40 0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 Mais Razão K/CTC, % Figura 2. Histogramas de frequência das classes de teor de potássio (K) no solo (a), capacidade de troca de cátions (CTC) (b) e razão K/CTC (c), em solos cultivados com arroz irrigado nas planícies costeiras a Lagoa dos Patos, Rio Grande do Sul. Figura 3. Variabilidade espacial dos teores d e potássio em solos cultivados com arroz irrigado nas planícies costeiras do Rio Grande do Sul. Na PCI, a CTC do solo (Figura 4) apresentou padrão oposto ao verificado com os teores de potássio (Figura 3) na faixa de solo ao norte de Tapes, principalmente. Por consequência, a razão K/CTC naquela área foi baixa (Figura 5) na maioria das amostragens, o que indica possibilidade de resposta à adubação potássica nos solos da região. A faixa de solo entre Viamão e Torres foi a que apresentou os maiores índices de CTC (Figura 4). Entretanto, a razão K/CTC nessa região foi inferior a 2,0 % na maioria dos casos, embora a ocorrência de mesclas (Figura 5). Nesse sentido, pode-se dizer de maneira geral, que existe probabilidade de resposta à adubação potássica em grande parte da área de abrangência do estudo, tanto na PCI, quanto na PCE. Isto indica que a correta adubação potássica, portanto, pode contribuir para a diminuição da lacuna de produtividade em arroz irrigado existente entre as planícies costeiras e as demais regiões do Estado 3 - XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO - Resumo Expandido - Torres • Imbé • Viamão• CTC, cmolc dm-3 Lagoa dos Patos Tapes • Arambaré• CONCLUSÕES 1. A maior parte dos solos das planícies costeiras apresenta teor de K inferior a 60 mg dm-3, estando os solos mais pobres nesse atributo localizados ao norte da Planície Costeira Interna. 2. A CTC dos solos, em geral, é inferior a 15 cmolc dm-3, sendo que os solos mais pobres nesse atributo se encontram nos arredores de São Lourenço do Sul (PCI) e Mostardas (PCE). 3. A razão K/CTC, na grande maioria dos solos é inferior a 2,0 %, o que aumenta a possibilidade de resposta do arroz irrigado à aplicação desse nutriente. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a CAPES, IRGA e Fundação IRGA pelo apoio financeiro e logístico para a condução desse trabalho. • Mostardas São L. do Sul • REFERÊNCIAS • Bojurú Pelotas • • São J. do Norte Figura 4. Variabilidade espacial da capacidade de troca de cátions em solos cultivados com arroz irrigado nas planícies costeiras a Lagoa dos Patos, Rio Grande do Sul. Torres • Imbé • Viamão• Tapes • Arambaré• Razão K/CTC, % Lagoa dos Patos • Mostardas São L. do Sul • • Bojurú • • São J. do Norte Figura 5. Variabilidade espacial da razão K/CTC em solos cultivados com arroz irrigado nas planícies costeiras do Rio Grande do Sul. CARMONA, F.C.; ANGHINONI, I.; WEBER, E. Salinidade da água e do solo e seus efeitos sobre o aroz irrigado no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Instituto Rio Grandense do Arroz, 2011. 54p. (Boletim Técnico). 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