RESUMO A cicatrização de feridas na pele dos seres humanos, à excepção de um curto período durante o estadio fetal, ocorre através de mecanismos de reparação, resultando muitas vezes na formação de tecido fibrótico contrátil com uma matriz extracelular altamente desorganizada, com função limitada e ausência de órgãos anexos. Com vista a ultrapassar esta problemática, têm sido sugeridas numerosas abordagens de engenharia de tecidos, resultando na criação de vários substitutos da epiderme, derme ou substitutos combinados, tendo já uma longa história de comercialização e disponibilidade clínica, apesar do seu sucesso ser limitado. Esta abordagem clássica de substituição da pele, imitando a sua morfologia e organização tem sido cada vez mais abandonada. A produção dispendiosa e o período de tempo alargado, que se deve principalmente aos requisitos para a expansão celular, à baixa sobrevivência e integração dos análogos, bem como a uma regeneração incompleta, têm sido apontadas como as causas mais importantes. Outra dificuldade que tem sido associada à função limitada de equivalentes de pele ao longo do tempo, é a diferenciação terminal das células da epiderme, que exibe um reduzido número de unidades altamente proliferativas devido à prolongada cultura in vitro. Actualmente são então necessárias alternativas de engenharia de tecidos de pele que promovam a regeneração, em vez da reparação. Para além disso, espera-se que, através da compreensão gradual dos processos biológicos e dos principais intervenientes envolvidos na cicatrização de feridas, as possibilidades de desenvolver substitutos funcionais capazes de conduzir a regeneração da pele sejam ampliadas. Um dos objectivos principais desta tese foi propor estratégias de engenharia de pele tridimensionais, tirando partido dos principais intervenientes do processo de cicatrização, as células e a matriz extracelular, como trajectos inovadores até uma pele regenerada. O papel destas duas ferramentas principais in vivo foi descrito como altamente dinâmico, no processo de progressão da cicatrização de feridas. No entanto, dependente do tipo de células utilizado, bem como a sua disposição tridimensional, principalmente definida pelas interacções célula-célula e célula-matriz extracelular. Seguindo esta perspectiva, nichos artificiais que integram o potencial da maquinaria celular intrínseca e microambientes 3D naturais ou extracelular matrix-like (ECM-like), foram explorados, levando à formulação duas perguntas principais. Numa perspectiva dinâmica e integrada, a necessidade de organização epidérmicadérmica clássica, que é normalmente utilizada em análogos da pele, foi investigada, propondo tanto cell sheet (CS)-based constructs organizados com células da pele incorporadas na sua própria matriz extracelular, como um sistema tridimensional spongy-like hydrogel 3D contendo fracções celulares da pele, dispostas aleatoriamente no seu interior. Diferentes combinações de CS com células de pele, produzidas por CS engineering, mostraram um impacto na aceleração da reepitelização e melhoramento da vascularização, promovida por interacções de células da epiderme-endoteliais. Por outro lado, ao contrário do que foi proposto, as fracções celulares da pele dissociadas aprisionadas em spongy-like hydrogels, de goma gelana e ácido hialurónico não se auto-organizaram no interior deste modelo artificial. A dimensão do potencial de abordagens baseadas em células estaminais para melhorar a cicatrização de feridas da pele foi também examinada. Foi proposta uma nova metodologia para deslindar e aumentar a fracção de stem-like cells da epiderme entre queratinócitos primários recém-isoladas a partir de células humanas adultas, aumentando as possibilidades para estudos mais sofisticados e para combater a funcionalidade limitada dos queratinócitos primários, observada aquando da expansão dos mesmos. Para além disso, foi explorado o potencial da maquinaria celular de constructs formados a partir de células obtidas de tecido adiposo, de uma forma sofisticada, mas ainda rápida. As células estaminais humanas de tecido adiposo, embebidas na sua matriz extracelular nativa, mostraram-se capazes de promover a morfogénese da neoepiderme, através de sinalização parácrina com os queratinócitos do hospedeiro. No entanto, por si só, estas células estaminais humanas do tecido adiposo não contribuíram para um efeito adicional observado nos spongy-like hydrogels, que necessitou da sinergia das células endoteliais microvasculares, co-cultivadas com células estaminais humanas do tecido adiposo, na remodelação da matriz para uma rápida e melhor cicatrização. Numa perspectiva clínica, todas as estratégias propostas foram baseadas num princípio de produção num curto espaço de tempo, como alternativas às abordagens actuais, que exigem um longo período de tempo de preparação. Neste contexto, os constructs à base de CS foram produzidos num período de cinco dias. Por sua vez, os ECM-like constructs artificiais como foram gerados a partir de redes poliméricas off-the-shelf que, após re-hidratação com suspensões celulares directamente isoladas dos tecidos ou expandidas num curto período de tempo, dão origem a spongy-like hydrogels gerados imediatamente antes da implantação. Os resultados das estratégias aqui exploradas mostraram estar fortemente associados às interacções célula-célula e célula-matriz extracelular. Além disso, a recreação arquitetónica da pele mostrou desempenhar apenas um papel secundário na eficácia das estratégias utilizadas. O potencial de células estaminais foi ainda maximizado através da promoção da interacção directa entre as células transplantadas e as células do hospedeiro.