Registrar a memória para aprender O passado é importante. Olhando para trás, enxergamos fragmentos de histórias que se repetem no presente. Mas esses pedaços do tempo não trazem apenas semelhanças com a atualidade: dentro deles, encontramos desfechos de episódios antigos que servem de respostas para o presente. A história nos ensina sobre o futuro. O projeto Ideias Registradas nasceu como um documentário, evoluiu para este livro que você segura nas mãos e se transformou num dos maiores – se não o maior – registro sobre a propaganda gaúcha desde que Arthur do Canto Jr. fundou a primeira agência de publicidade do Rio Grande do Sul, a 10 Registrar a memória para aprender Daniel Skowronsky Presidente ARP Gestão 2010/2011 S.T.A.R. Nem o brasileiro, nem o mercado de propaganda têm o hábito de cultivar o passado, como é possível comprovar em cada outdoor da cidade. Os painéis escondem camadas de peças publicitárias, que depois de serem sobrepostas pelas campanhas mais novas jamais são resgatadas. Mas, para comemorar seus 55 anos, completados em 26 de abril de 2011, a Associação Riograndense de Propaganda (ARP) sentiu que era o momento de descolar camada por camada dos outdoors do passado e revelar os trabalhos que dão suporte ao atual momento do setor. Com o resgate das histórias dos principais empreendedores, profissionais, agências e campanhas que passaram pela propaganda do Rio Grande do Sul desde a década de 1930, a ARP espera contribuir para o aprendizado de todos os atores da publicidade gaúcha. Sem esquecer, é claro, de registrar o próprio passado da entidade. O resultado que você vê a seguir resume fatos marcantes da nossa propaganda em 16 capítulos. Uma história contada pela trajetória de Arthur do Canto Jr. e pelos empresários que transformaram o Rio Grande do Sul num dos principais polos da publicidade brasileira nas décadas de 1950 e 1960. O caminho percorre ainda as transformações sociais e econômicas responsáveis por moldar a comunicação nos anos 1970 e 1980 – e a cabeça de muitos criativos que fizeram fama no mercado gaúcho –, as revoluções do rádio e da televisão, fundamentais para ampliar o alcance da propaganda, e descreve a sucessão de negócios que deu origem às principais agências do Rio Grande do Sul nos últimos 40 anos. Na chegada, o leitor ainda é confrontado por dilemas recentes do setor de comunicação, turbinados por uma nova economia brasileira e por uma ferramenta disruptiva chamada internet. Sem a pretensão de servir como guia definitivo da história desse mercado, este projeto serve como ponto de partida para um registro que se espera contínuo da publicidade gaúcha. Talvez o grande mérito deste trabalho seja a reunião, num único volume, de um passado que estava fragmentado nos mais diversos depósitos: livros, museus, arquivos históricos, teses acadêmicas, gavetas e armários de agências. No entanto, mais importante que os documentos, o projeto Ideias Registradas contou com o depoimento de mais de 70 empresários, redatores, diretores de arte, assistentes, atendimentos, mídias, entre outros. Pessoas que construíram a propaganda todos os dias nessas mais de sete décadas de publicidade profissional e que cederam gentilmente sua memória para o livro e para o documentário. O mercado comprou o projeto. Sem a colaboração dos profissionais e das agências e veículos que apoiaram esta iniciativa, a ARP não teria o prazer de deixar este legado para as próximas gerações. Este trabalho é resultado das lembranças desses profissionais. E, como primeiro exercício de registro da nossa história, esperamos que eventuais imprecisões e omissões de pessoas e empresas sejam encaradas como um desafio e como uma oportunidade de correção e inclusão na próxima edição deste livro e do documentário, ou às novas obras que possam surgir para dar continuidade a esse trabalho. Além do passado, o leitor poderá enxergar um pouco do futuro e um tanto da essência da atividade. Todas as histórias contadas aqui revelam publicitários inspirados por ideias. Mais emotiva, mais técnica, focada em resultados, criativa: as agências e os profissionais possuem perfis moldados por ideias que refletem a cultura de uma geração, uma situação econômica ou uma vocação – pura e simplesmente. A história da propaganda também é a evolução das ideias em meio às transformações da sociedade. Este projeto chega ao mercado em um momento de questionamentos sobre o futuro da publicidade, e os episódios relatados aqui podem ajudar a inspirar os profissionais a buscarem soluções para problemas atuais. Porque a história mostra que esta não é a primeira crise de identidade da propaganda, nem a primeira vez que uma nova plataforma de conteúdo questiona as certezas de uma época. Tanto o rádio quanto a televisão exigiram uma ginástica criativa dos publicitários. E o mercado se adaptou. Algumas empresas se encaixam nas novas circunstâncias. Outras deixam de existir. A continuidade do negócio de propaganda é possível porque profissionais de diferentes gerações convivem juntos, e os mais jovens absorvem os ensinamentos dos mais experientes, numa troca que gera – mais uma vez – novas ideias. E este livro também deixa uma crítica à propaganda gaúcha. O leitor talvez perceba que o nosso mercado já foi mais forte. A economia, a dinâmica dos clientes e até o clima – literalmente – podem explicar porque o Rio Grande do Sul perdeu relevância e talentos para a publicidade brasileira. Não é a hora de buscar de novo essa representatividade? Contem com a ARP.