A cauda longa da propaganda na TV digital: análise dos efeitos do direcionamento das mensagens publicitárias televisivas para agências e emissoras 1 PEREIRA, Vinícius. (Prof. Dr.)2 HECKSHER, Andrea (Prof. Ms.ª) 3 POLIVANOV, Beatriz (Doutoranda) 4 ALBERONE, Maurílio (Prof. Bacharel) 5 CARVALHO, Rafael (Bacharel) 6 LOUREIRO, Bruno (Bacharel) 7 Resumo: Em trabalho anterior discutimos sobre as demandas de potenciais consumidores sobre uma tecnologia chamada Targ.TV, capaz de entregar mensagens publicitárias direcionadas para diferentes perfis de telespectadores usando o sistema brasileiro de TV digital aberta. Dando prosseguimento à pesquisa, investigamos agora os possíveis impactos do novo modelo de anúncios televisivos — cauda longa da publicidade — na cadeia de produção da publicidade nas TVs. Para tal, entrevistados representantes das mais expressivas emissoras televisivas de canais abertos e agências de publicidade do Rio de Janeiro. Concluímos que embora as dinâmicas de consumo de mídias, particularmente aquelas relacionadas a um público mais jovem, apontem para uma profunda transformação em marcha, onde a televisão perde o lugar central de fonte de entretenimento e de informação, a forma como o modelo publicitário está estruturado nas televisões brasileiras ainda se mostra extremamente lucrativo, o que não estimula mudanças. Neste sentido, uma ferramenta como a Targ.TV se mostra pouco interessante se pensada dentro da sua proposta inicial – permitir a estruturação de um modelos de cauda longa para a 1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Digital (Cristiano Max Pereira Pinheiro) integrante do VIII Encontro Nacional de História da Mídia, 2010. O presente artigo apresenta resultados da pesquisa “A Cauda Longa da Propaganda na TV Digital”, desenvolvida por Vinicius A Pereira, Andrea Hecksher e Beatriz Polivanov, com financiamento do CAEPM, em parceria com a Peta5 e com auxílio do CNPq. 2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UERJ, doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ, coordenador do ESPM MEDIA LAB, pesquisador do CAEPM desde 2006, email: [email protected] 3 Professora da UFF e da ESPM-RJ, mestre na área de Computação de Alto Desempenho / Sistemas Computacionais do Mestrado Interdisciplinar da COPPE/UFRJ/PEC, pesquisadora do ESPM MEDIA LAB, email: [email protected]. 4 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF, mestre pelo mesmo programa, pesquisadora e assistente de coordenação do ESPM MEDIA LAB da ESPM, bolsista do CNPq, email: [email protected]. 5 Professor da ESPM, bacharel em Engenharia de Telecomunicações pela UFF, sócio-fundador da Peta5 email: [email protected]. 6 Bacharel em Engenharia de Telecomunicações pela UFF, sócio-fundador da Peta5. email: [email protected] 7 Bacharel em Engenharia de Telecomunicações pela UFF, sócio-fundador da Peta5. email: [email protected]. publicidade na TV -, mas, passível de utilização se pensada como um instrumento para a proposição de novas linguagens publicitárias, como no exemplo dos grandes anunciantes querendo apresentar variações nas suas mensagens para seus diferentes públicos. Palavras-chave: TV digital; propaganda direcionada; emissoras; agências 1 – O contexto da pesquisa A entrada em cena e a consolidação da TV digital no Brasil trazem consigo uma série de potenciais mudanças para o cenário televisivo, dentre as quais destacamos: a interatividade, a alta definição de áudio e vídeo, a mobilidade e a multiprogramação. Para além dessas questões, há também algumas empresas que estão desenvolvendo softwares para a TV digital brasileira, com finalidades diversas. Uma dessas empresas, a Peta5, incubada na Universidade Federal Fluminense, criou uma plataforma – por ora denominada Targ.TV – que permite o direcionamento simultâneo de anúncios publicitários para públicos específicos, dentro no novo padrão brasileiro de TV digital aberta (ISDB-T). Isto é, com o software desenvolvido pela Peta5, passa a ser tecnicamente viável que as emissoras de televisão possam veicular conteúdos e propagandas direcionados a diferentes perfis de telespectadores, ao mesmo tempo, criando com isso a oportunidade de alterar seus negócios, diminuindo os custos para os tradicionais anunciantes e atraindo um número maior de novos potenciais anunciantes. Com a Targ.TV é possível a veiculação de campanhas específicas para diferentes telespectadores, de acordo com seus perfis. Dessa forma, certos anunciantes de produtos de beleza, por exemplo, poderão optar por veicular seu anúncio somente para telespectadores classificados como do sexo feminino e das classes A e B. Ou ainda pequenos anunciantes poderão optar por veicular seu filme publicitário somente para os televisores localizados na área geográfica na qual se encontra seu estabelecimento, contribuindo, assim, para a emergência do que chamamos de “cauda longa da propaganda na TV digital”, uma vez que, potencialmente, abre-se espaço para pequenos nichos de mercado, antes impossibilitados de veicularem anúncios na TV, devido aos seus altos custos. Ou seja, esta tecnologia permitirá, em tese, que diferentes públicos (geográficos, sociais, econômicos etc.) que estejam assistindo a um mesmo conteúdo da TV aberta — uma novela, por exemplo — possam receber no horário do intervalo comercial mensagens voltadas para o seu perfil específico, sendo que para isso é necessário apenas possuir o aparelho de set-top box 8. Esta possibilidade parece-nos de suma importância em um cenário inflacionado por novos arranjos midiáticos e mensagens em excesso, como o que vivemos atualmente, marcado pela economia da atenção, que caracteriza o que chamamos de cultura pan-midiática (PEREIRA & HECKSHER, 2008). Em trabalho anterior9 realizamos, a partir de dados obtidos com a realização de dois grupos focais com o total de quarenta jovens universitários, o mapeamento dos usos dos meios televisão e computador e das possíveis demandas relacionados à plataforma Targ.TV. Buscamos investigar as possíveis dinâmicas de recepção que o conjunto de novidades trazidas pela cauda longa da propaganda pode promover, focando, portanto, para o público. O quadro sinóptico abaixo resume os pontos principais desta fase da pesquisa. Tabela 1: Pontos principais dos grupos focais Consumo de TV analógica (e uso do computador como plataforma complementar para o consumo de produtos de TV) Aprox. 90% participantes: TV ocupando o lugar (afetivo e de paisagem sonora) do rádio; Principal provedor de conteúdo: Internet Consumo de propaganda “padrão” Consumo de propaganda direcionada Consumo de um possível novo arranjo midiático: TV e sites de redes sociais (Social TV 10) 8 + de 50% participantes: propagandas mais interessantes do que programas em muitos casos Aprox. 90% participantes: mensagens direcionadas são interessantes para os consumidores e anunciantes Aprox. 50% participantes: a favor Aprox. 50% participantes: contra Os set-top boxes (STBs) externos ou power boxes são os aparelhos que permitem a conversão de um sinal externo em conteúdo (vídeo, áudio, jogos, sites da Internet, etc.) formatado para a TV digital, sendo, portanto, necessários para as transmissões de TV digital em televisores que ainda não possuem um sintonizador específico para recepção digital. 9 Ver o artigo “Propaganda na TV Digital: Usos e Demandas” dos mesmos autores, apresentado no XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2010. 10 O conceito de “Social TV” está relacionado à “crescente integração entre televisão e tecnologia de computador para dar apoio a experiências sociais de consumo de TV em grupo” (tradução nossa), como definido por OEHLBERG et alli (2006). Finda esta parte da pesquisa, partimos neste momento para os dois outros atores fundamentais da cadeia publicitária11: as emissoras de TV e as agências publicitárias. Assim, nosso objetivo agora é estudar os possíveis impactos do novo modelo de anúncios televisivos — cauda longa da publicidade — na cadeia de produção da publicidade nas TVs. Neste ponto específico investigaremos de que modo a Targ.TV poderia vir a afetar as diferentes etapas do processo de produção e de distribuição do filme publicitário televisivo. A hipótese inicial esboçada é a de que haveria uma série de profissionais e circuitos que poderiam desaparecer, ou serem fortemente impactados, com a entrada da tecnologia em questão como, por exemplo, o profissional de mídia, uma vez que o anunciante poderá, em tese, contratar uma pequena produtora de filmes — ou constituir a própria, considerando que a demanda de filmes poderá se transformar em uma demanda quase que cotidiana — e enviar a peça publicitária diretamente para a emissora. 2 – Metodologia De modo a testar nossa hipótese, optamos por expor o que seria a Targ.TV, como funcionaria e quais seriam os seus potenciais para os diferentes públicos contemplados pelo escopo da pesquisa – neste momento focando nossa discussão sobre as agências e emissoras – por meio de vídeos e de interfaces que simulavam o funcionamento real da ferramenta Targ.TV. Para o público, realizamos a coleta dos dados através de grupos focais, como dito acima. Para as emissoras e agências, os dados foram obtidos através de uma pesquisa que procurou analisar qual seria a percepção dessas empresas acerca de uma ferramenta como a Targ.TV, aliada a uma análise de demanda por tecnologias semelhantes. Buscamos assim, nesta segunda fase da pesquisa, averiguar a aceitação e a visão tanto por parte das emissoras, quanto por parte do mercado publicitário (agências) em 11 Em verdade, há um terceiro e extremamente importante personagem em cena, que é o anunciante. No entanto, ele se encontra, na grande maioria dos casos, em uma posição mediada pelas agências de publicidade, que dialogam com e vendem as campanhas diretamente às emissoras. Dessa forma, focou-se justamente nos players que estão nas pontas finais da cadeia: as emissoras e as agências. relação ao potencial da ferramenta Targ.TV. De modo análogo à pesquisa de recepção junto ao “público”, procuramos demonstrar o que é e como funcionaria a ferramenta Targ.TV uma vez implementada dentro da realidade da HDTV, no Brasil. Depois disso era passado um questionário que avaliava a percepção do profissional da emissora de TV ou da agência publicitária em relação à ferramenta Targ.TV. O questionário trazia uma lista de tópicos relacionados, basicamente, aos aspectos de funcionamento e de valor que a ferramenta agregaria ao mercado publicitário. Cada entrevistado deveria dar uma pontuação de 0 a 10 a cada um dos itens apresentados. Foram entrevistados representantes das maiores emissoras de TV brasileiras, tais como Globo, SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) e Band (Rede de TV Bandeirantes) e de importantes agências de publicidade do Brasil: Script, F/NAZCA, QUÊ COMUNICAÇÃO, Staff Brasil, NBS e DMAZ/B. A escolha das agências foi definida pelo conjunto daquelas que, dentro da região Sudeste, se mostraram disponíveis e interessadas em participar do estudo em questão. Focamos nossa análise em dois pontos que nos pareceram os mais interessantes para pensar possíveis alterações das dinâmicas do mercado publicitário, a partir de uma ferramenta como a Targ.TV, capaz de oferecer um maior número de anunciantes, dentro de uma mesma grade de programação televisiva. Tais pontos se traduziam, basicamente, através de duas questões: 1. Como era percebida e recebida a ferramenta Targ.TV, tal como está desenvolvida atualmente? (O que se traduz, inclusive, na possibilidade de aquisição da ferramenta pelas emissoras ou agências de publicidade); 2. O que seria a solução ideal para o produto Targ.TV, ou seja, como a ferramenta deveria ser idealmente? (O que se traduz como as funções mais apreciadas que a ferramenta deveria ter.) Apostamos que sondando as emissoras e as agências através dos dois pontos acima conseguiríamos ter uma visão acerca dos possíveis impactos do novo modelo de anúncios televisivos que a Targ.TV ou ferramentas similares poderiam engendrar — em uma espécie de cauda longa da publicidade — na cadeia de produção da publicidade nas TVs, que é um dos nossos objetivos específicos com esta pesquisa. 3 – Investigando emissoras de TV e agências publicitárias Os dados iniciais que obtivemos indicaram uma certa resistência por parte das agências em acolher a ferramenta Targ.TV ou similares, de imediato, uma vez que isso soaria, de algum modo, como modificar parte do modelo de negócio no qual atuam. Por outro lado, curiosamente, as agências ressaltaram se tratar de ferramenta original, com maior apelo para veicular publicidade de grandes anunciantes de novos modos, tal como desenvolveremos à frente. As emissoras, por outro lado, se apresentaram claramente reticentes quanto à ferramenta, supondo que a ideia de barateamento do valor da exibição do filme publicitário, ainda que pensado dentro do modelo “cauda-longa”, no qual a escala do número de anunciantes poderia ser muito maior, não parece, de imediato, um bom negócio. 3.1 – Como é percebida e recebida a ferramenta Targ.TV, tal como está desenvolvida atualmente, pelas emissoras e agências publicitárias A seguir apresentamos os dados que podem ser interpretados como as respostas mais diretas sobre a recepção da ferramenta Targ.TV, tal como está desenvolvida até agora, de acordo com as informações obtidas junto a cada representante das emissoras e agências. Destaca-se que entre as emissoras parece ser consensual o fato de que o direcionamento da propaganda, em seu início, irá atrair mais a atenção dos grandes anunciantes do que dos pequenos, mas que esse processo talvez não ocorra rapidamente. Já entre as agências, foi unânime a consideração de que a propaganda direcionada de acordo com o perfil do telespectador é bastante interessante. Três das seis agências entrevistadas afirmaram que comprariam tal tecnologia em menos de seis meses e todas demonstraram grande interesse em conhecer melhor a ferramenta Targ.TV. 3.1.1 – Emissoras 3.1.1.1 – TV Bandeirantes (Band) Enxerga a necessidade de tecnologia que permita atrair novos anunciantes (principalmente pequenos), mas não sabe responder se isso seria de interesse no momento. Segundo o diretor de novos negócios da empresa "quando você começa a pulverizar demais a audiência, a segmentar muito, aumenta o seu trabalho de venda. O modelo comercial é diferente de um Google, por exemplo”. No entanto, ele acredita que a empresa está disposta a testar novos formatos publicitários ainda inexistentes em um futuro próximo. Sobre o grau de importância da propaganda direcionada o entrevistado acredita que com a segmentação talvez não seja possível obter o mesmo valor que conseguiria antes (a soma do valor de todos os segmentos pode não compensar). Dessa forma, devese levar em conta também o custo de transação. Por isso acredita que, no início, o uso mais plausível que a ferramenta Targ.TV ganharia no mercado publicitário seria considerar a presença de anunciantes de peso personalizando seus anúncios, ao contrário da ideia dos pequenos anunciantes entrando, efetivamente, neste mercado. 3.1.1.2 – Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) O entrevistado, diretor comercial da emissora, enxerga a necessidade de tecnologias que permitam atrair novos anunciantes, principalmente os pequenos, para veicularem campanhas na TV. Mas, de modo análogo ao profissional da TV Bandeirantes, pondera que no início a tecnologia deve ser direcionada ao grande anunciante em busca de maior segmentação. Acredita que a empresa está disposta a testar novos formatos publicitários ainda inexistentes e considera bastante relevante, para a sua empresa, a propaganda direcionada de acordo com o perfil do telespectador. 3.1.1.3 – TV Globo A emissora acredita que a Internet é um bom meio para os pequenos anunciantes, mas que para TV isso necessitará de um prazo maior de amadurecimento. Acredita que a empresa estará aberta para novos formatos publicitários ainda inexistentes, mas não para TV, que é um formato ainda muito rentável e robusto, e sim para outras plataformas na Internet. Atualmente a importância atribuída à propaganda direcionada de acordo com o perfil do telespectador é pequena. Mas acredita que isso cresça. O maior interesse ainda é o anunciante de peso. 3.1.2 – Agências Os dados obtidos junto às agências podem ser resumidos coforme mostra a tabela abaixo. Tabela 2: Agências e aprovação para comprar sistema como a Targ.TV Agência Script Compraria um sistema que as ajudasse a OBS.: gerenciar informações e direcionar propaganda? Se sim, em quanto tempo? Sim. De 1 a 3 anos. F/NAZCA Sim. De 1 a 3 anos. QUÊ COMUNICAÇÃO Sim. De 6 meses a 1 ano STAFF BRASIL Sim. Em menos de 6 meses. NBS Sim. Em menos de 6 meses. DMAZ/B Sim. Em menos de 6 meses. Ressaltou como atributo importante para o software: fazer uma boa análise de perfil segmentado. 3.2 – Solução ideal de produto (funções mais apreciadas que o produto deveria apresentar) 3.2.1 – Emissoras Buscou-se investigar junto aos representantes das emissoras quais características seriam as mais relevantes na composição de uma solução ideal de produto, considerando tanto os aspectos já oferecidos pela ferramenta Targ.TV, quanto outros, que comparecem nas ferramentas abordadas com o estudo benchmarking, apresentado no início desta pesquisa. Contudo, não obstante o interesse demonstrado por todas as emissoras quando contatadas inicialmente, apenas o entrevistado do SBT respondeu a todas as questões relacionadas a este aspecto da nossa investigação12. Dentre as funções que obtiveram média máxima (10) para esta emissora estão: segmentação da propaganda de acordo com o perfil do telespectador, segmentação da propaganda de acordo com a localização geográfica do telespectador e ferramenta para 12 Ao observarmos junto à Peta5 que isso poderia comprometer a generalização dos dados fomos informados que não seria possível retornar à empresa que fez a pesquisa, solicitando novas entrevistas com as emissoras, em função dos custos e do tempo disponíveis então. mensurar o retorno da campanha veiculada e auxiliá-lo no planejamento da seguinte, conforme mostra a tabela abaixo. Tabela 3: Avaliação das funções da Targ.TV segundo o SBT FUNÇÕES MÉDIA Segmentação da propaganda de acordo com o perfil do telespectador 10 Segmentação da propaganda de acordo com a localização geográfica do telespectador Ferramenta para mensurar o retorno da campanha veiculada e auxiliá-lo no planejamento da seguinte. 10 10 Sugestão de melhores horários para a veiculação 8 Utilização de aplicativos interativos para TV digital para enriquecer as campanhas 8 Acesso on-line 8 Utilização de perfis do telespectador em redes sociais para auxílio na criação de campanhas. Auxílio na criação de campanhas (edição de vídeos, sugestão de investimento e canais etc) Auxílio na criação do vídeo 5 1 1 Como pode se ver, dentre as funções consideradas menos relevantes para o produto estão o auxílio na criação de campanhas e o auxílio na criação do vídeo, quesitos que obtiveram nota um. 3.2.2 – Agências Para as agências a função de segmentar a propaganda de acordo com o perfil do telespectador é considerada a mais relevante. Em seguida está a capacidade da ferramenta de mensurar o retorno da campanha veiculada, auxiliando-as no planejamento da seguinte (nota 10) e logo após a segmentação da propaganda de acordo com a localização geográfica do telespectador, conforme pode ser visto na tabela abaixo. Tabela 4: Avaliação das funções da Targ.TV segundo as agências FUNÇÕES Segmentação da propaganda de acordo com o perfil do telespectador MÉDIA 10 Ferramenta para mensurar o retorno da campanha veiculada e auxiliá-lo no planejamento da seguinte. 10 Segmentação da propaganda de acordo com a localização geográfica do telespectador 9,3 Sugestão de melhores horários para a veiculação 9,3 Utilização de perfis do telespectador em redes sociais para auxílio na criação de campanhas. 9 Utilização de aplicativos interativos para TV digital para enriquecer as campanhas 9 Acesso on-line 9 Auxílio na criação do vídeo 7,6 Auxílio na criação de campanhas (edição de vídeos, sugestão de investimento e canais etc.) 5,6 Novamente questões quanto à criação do vídeo e da campanha em si não são vistas como relevantes, o que é óbvio no caso das agências. De modo geral, podemos dizer que emissoras e agências, aparentemente, teriam basicamente os mesmos interesses na ferramenta Targ.TV. Uma importante diferença, no entanto, se dá em relação à função de utilizar perfis dos telespectadores em redes sociais para o auxílio na criação de campanhas, isto é, de coletar dados dos usuários que permitiriam compor um perfil detalhado de seus hábitos de consumo. Para as agências esta é uma função importante (nota 9), mas para o SBT – e essa posição certamente pode ser estendida às demais emissoras, considerando a mesma natureza do modelo de negócios todas elas não tenha sido considerada tão relevante (nota 5) pelo fato de que a preocupação em atingir os targets certos com as campanhas não é uma preocupação central das emissoras, mas sim das agências e dos anunciantes. 4 – Conclusões Quando analisamos o mercado publicitário, tendo como foco as emissoras de TV e as agências de publicidade frente a tecnologias de segmentação da publicidade televisiva, como a Targ.TV e similares, observamos que, de maneira geral, ambos segmentos do mercado se mostram interessados em conhecer melhor e mesmo, em um futuro próximo, adquirir a tecnologia como modo de conquistar mais precisão em relação aos produtos publicitários a oferecer aos seus públicos. Considerando, contudo, as especificidades do modelo de negócio da publicidade massiva televisiva, tal como está estruturado, mostra-se pouco atraente investir em tecnologias que possam significar mudanças nos modos de exibição de linguagens publicitárias, uma vez que o modelo ainda é muito lucrativo, tal como está estruturado. Por outro lado, observamos como os hábitos de consumo de mídias se alteram, com impactos diretos sobre os hábitos de consumo de televisão, o que poderá demandar, em um futuro não muito distante, novas abordagens em termos de linguagens publicitárias para que este público possa dedicar a atenção devida aos anunciantes. Será dentro deste contexto que apostamos que tecnologias como a Targ.TV poderão obter êxito. Em relação à possibilidade de uma cauda longa aplicada à publicidade na TV, tal como descrito acima, verificamos que isso é pouco factível nos próximos anos, exatamente pelos mesmos motivos descritos acima. É clara a posição unânime que há entre emissoras de TV e agências de publicidade afirmando que seria mais trabalhoso e, ao menos em um primeiro momento, menos rentável do que o modelo atual, a adoção de uma dinâmica de exibição de comerciais nas TVs, tal como possibilitado pela tecnologia Targ.TV e similares. Em contrapartida, particularmente as agências apostam que estes modelos de tecnologias poderiam servir aos grandes anunciantes que quisesse realizar experimentos quando aos seus diferentes públicos consumidores. Ou seja, a tecnologia Targ.TV poderia entrar como um diferencial para grandes anunciantes, mas ainda dentro do modelo broadcasting de exibição de anúncios na TV. Ao final de nossas pesquisas, podemos dizer, em resumo, que embora as dinâmicas de consumo de mídias, particularmente aquelas relacionadas a um público mais jovem, apontem para uma profunda transformação em marcha, onde a televisão perde o lugar central de fonte de entretenimento e de informação, a forma como o modelo publicitário está estruturado nas televisões brasileiras ainda se mostra extremamente lucrativo, o que não estimula mudanças. Neste sentido, uma ferramenta como a Targ.TV se mostra pouco interessante se pensada dentro da sua proposta inicial – permitir a estruturação de um modelos de cauda longa para a publicidade na TV -, mas, passível de utilização se pensada como um instrumento para a proposição de novas linguagens publicitárias, como no exemplo dos grandes anunciantes querendo apresentar variações nas suas mensagens para seus diferentes públicos. É possível, ainda, que outras dimensões da tecnologia, como aquelas que apostam em aplicativos que colaboram para a social TV, dentre outras, se mostrem compatíveis e mesmo interessantes para todo o conjunto de transformações nos hábitos de consumo de mídias na contemporaneidade. Os próximos movimentos da cultura mostrarão. Seja como for, apostamos na validade de acolher, dentro dos espaços universitários e científicos, propostas de estudos como a que aqui realizamos com a Peta5, em torno da Targ.TV, como de manter os espaços acadêmicos como aqueles capazes de pensar o futuro, sem a obrigatoriedade de gerar lucros imediatos, mas, antecipar mudanças, confirmar tendências, antecipar transformações. Esperamos ter contribuído com os nossos estudos nessa direção. 5 - Referências ABDI – Associação Brasileira de Desenvolvimeno Industrial – Cadernos Temáticos TICs – TV Digital Interativa – Publicação digital da ABDI, Brasília, 2010. ANDERSON, C. A Cauda Longa. Campos, 2006. 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