PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO SOBRE AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM UMA ESCOLA ESTADUAL DE BOTUCATU (SP) ATRAVÉS DO DIAGNÓSTICO DO PIBID Anderson Ricardo Carlos Jéssica Bindo Lilian Sauer Albertini Valdir Gonzalez Paixão Junior Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) Câmpus Botucatu Instituto de Biociências de Botucatu Departamento de Educação 2014 1 RESUMO A alta incidência de episódios de conflito no espaço escolar aponta para a necessidade de se trazer o tema aos debates da educação escolar brasileira. Para Chrispino (2007), uma das causas desses conflitos é a dificuldade de comunicação, de assertividade das pessoas e de condições para estabelecer o diálogo. Nesse contexto, o PIBID Botucatu avaliou a visão dos alunos sobre as relações interpessoais no ambiente escolar. Pretendeu-se fazer um diagnóstico sobre a percepção dos alunos do ensino Fundamental e Médio em uma escola de Botucatu (SP), sobre tais relações na escola, tendo em vista o desenvolvimento de ações junto a estes alunos através da atuação dos alunos bolsistas do Pibid, visando a um processo formativo voltado para a construção de valores e de afirmação de atitudes positivas entre os participantes da comunidade escolar. Foram selecionadas e aplicadas questões de múltipla escolha a 168 alunos do Ensino Fundamental e Médio da Escola, em junho de 2014. As questões foram selecionadas a partir de uma adaptação do documento intitulado “Indicadores da Qualidade na Educação”. Assim, os alunos deveriam assinalar entre quatro alternativas que concordassem. Os resultados mostraram que o respeito entre alunos e professores ocorre ocasionalmente e que o ambiente escolar favorece eventualmente a amizade dentro da comunidade escolar. A maioria dos alunos respondeu que nunca há conversas sobre atitudes preconceituosas ocorridas na escola, nem respeito e participação por parte dos alunos quanto às regras adotadas pela direção, muito menos procura na resolução dos conflitos dentro do ambiente escolar. Contudo, demonstrou-se que a escola frequentemente trata todos iguais. Verifica-se a necessidade de estabelecimento de discussões para lidar com o conflito nas relações interpessoais, compreender o conflito como instrumento de crescimento e aprender a trabalhar com ele, valorizando o diálogo e, ainda, o envolvimento dos alunos nas regras adotadas pela escola. Palavras-chave: conflito, diálogo, indicadores 2 Introdução Segundo Massaguer (2002), conflito é aquela situação que surge quando há discordância entre as tendências ou os interesses de alguém e as imposições externas que já são dadas. Ainda para ele, no modelo de escola tradicional há a tendência em evitar o surgimento de conflitos, abafando-os. Enquanto no modelo de escola democrática, há uma ênfase em tentar aproveitar-se dele para avaliar o jogo educacional implícito e sua dinâmica interpessoal e instituticional. Ou seja, há uma tendência para a reflexão à respeito das relações interpessoais no ambiente escolar, sobretudo aquelas que envolvam violência, seja ela, física, verbal, psicológica e simbólica. Nesse contexto, a alta incidência de episódios de conflito no espaço escolar aponta ao anseio em se trazer o tema aos debates da educação escolar brasileira. Vários acontecimentos que se repetem em diversos pontos do país expõem uma dificuldade brasileira pela qual já passaram outros países. Portanto, é necessário que se proponha um convite à reflexão de educadores e de gestores políticos, visto que o movimento mundial em educação indica semelhança de acontecimentos mesmo que em momentos diferentes da linha de tempo. No Brasil, podem-se enumerar certos estudos pontuais até por volta de 2000, no momento em que passamos a contar com um número maior de estudos e pesquisas sobre os diversos ângulos da violência escolar como, por exemplo, Abramovay e Rua (2002), Ortega e Del Rey (2002), Chrispino e Chrispino (2002), dentre outros. Para Chrispino (2007), uma das causas desses conflitos é a dificuldade de comunicação, de assertividade das pessoas e de condições para estabelecer o diálogo. Portanto, o PIBID – Subprojeto Licenciatura em Ciências Biológicas, Câmpus Botucatu - avaliou a visão dos alunos sobre os conflitos nas relações interpessoais no ambiente escolar. Objetivo Realizar um diagnóstico sobre a percepção dos alunos do ensino Fundamental e Médio da EE Armando de Salles Oliveira, da cidade de Botucatu (SP), sobre tais relações na escola, tendo em vista o desenvolvimento de ações junto a estes alunos através da atuação dos alunos bolsistas do PIBID, visando a caracterizar a escola (democrática ou tradicional) e a um processo formativo voltado para a construção de 3 valores e de afirmação de atitudes positivas entre os participantes da comunidade escolar. Metodologia Foram selecionadas e aplicadas questões de múltipla escolha a 168 alunos do Ensino Fundamental e Médio da Escola, em junho de 2014. As questões foram selecionadas a partir de uma adaptação da quarta edição do documento intitulado “Indicadores da Qualidade na Educação” sob a coordenação do Ação Educativa, do Unicef, do INEP e do Ministério da Educação. Assim, os alunos deveriam assinalar a alternativa que concordassem, sendo: “frequentemente”, “de vez em quando”, “raramente ou nunca” e “não sei avaliar”. Neste trabalho, selecionamos 8 questões analisando 5 indicadores de duas dimensões. As questões escolhidas pertenciam à dimensão “Ambiente Educativo” dos indicadores segundo a Tabela 1, de acordo nossa bibliografia referida. Questão Indicador 02 Amizade e Solidariedade 05 e 06 Respeito ao outro 07 Combate à Discriminação 08, 09 e 14 Disciplina e tratamento adequado aos conflitos que ocorrem no dia a dia na escola Prática pedagógica inclusiva 18 Tabela 1: Indicadores da dimensão “Ambiente educativo” utilizados para a avaliação dos conflitos nas relações interpessoais. Resultados e Discussão Em relação ao indicador “Amizade e Solidariedade”, um total de 39,28 % alunos acreditam que o espaço escolar favorece ocasionalmente a amizade entre todos os integrantes da escola (Gráfico 1). 4 O ambiente da escola favorece a amizade entre todos (entre os alunos, entre os professores e alunos)? 70 60 50 40 30 20 10 0 Frequentemente De vez em quando Raramente ou nunca Não sei avaliar Gráfico 1: Resultados da primeira questão aplicada no questionário No que diz respeito ao indicador “Respeito ao outro” 42,85% (72/168) e 41,66% (70/168) acreditam que os alunos tratam bem e respeitam o quadro do magistério e de apoio da escola e que os professores respeitam e são cordiais com os alunos. Os alunos tratam bem e respeitam os professores e os funcionários da escola? 80 60 40 20 0 Frequentemente De vez em quando Raramente ou nunca Não sei avaliar Gráfico 2: Resultados da segunda questão aplicada no questionário Em relação à visão dos alunos sobre o tratamento dos professores (Gráfico 3), estes respeitam os alunos esporadicamente. 5 Os professores tratam bem, são respeitosos e afetuosos com os alunos? 80 60 40 20 0 Frequentemente De vez em quando Raramente ou nunca Não sei avaliar Gráfico 3: Resultados da terceira questão aplicada no questionário Em contrapartida, o número de alunos que afirmaram que não existe diálogo na escola quando há atitudes preconceituosas foi significativamente alta (54,76% (92/168) (Gráfico 4). Quando os alunos têm atitudes preconceituosas , é realizada uma conversa em sala de aula ou em outro espaço da escola para que não aconteça mais? 100 80 60 40 20 0 Frequentemente De vez em quando Raramente ou nunca Não sei avaliar Gráfico 4: Resultados da quarta questão aplicada no questionário No quesito “Disciplina e tratamento adequado aos conflitos que ocorrem no dia a dia da escola”, um total de 69,64% (117/168) e 75% (126/168) dos alunos acreditam 6 que possuem conhecimento das regras adotadas pela escola e que participam na elaboração das mesmas, respectivamente (Gráficos 5 e 6). As regras de convivência adotadas pela escola são claras, conhecidas e respeitadas por toda a comunidade escolar? 70 60 50 40 30 20 10 0 Frequentemente De vez em quando Raramente ou nunca Não sei avaliar Gráfico 5: Resultados da quinta questão aplicada no questionário Os alunos participam da elaboração das regras de convivência na escola? 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Frequentemente De vez em quando Raramente ou nunca Não sei avaliar Gráfico 6: Resultados da sexta questão aplicada no questionário No entanto, 64,88% (109/168) dos alunos não acreditam que os funcionários do quadro do magistério, de apoio e os gestores procuram resolver os conflitos que ocorrem na escola, tendo por base o diálogo e a negociação (Gráfico 7). 7 Os profissionais da escola procuram resolver os conflitos que surgem entre as pessoas no ambiente escolar, tais como brigas e discussões, com base no diálogo e na negociação? 120 100 80 60 40 20 0 Frequentemente De vez em quando Raramente ou nunca Não sei avaliar Gráfico 7: Resultados da sétima questão aplicada no questionário Finalmente, quanto ao indicador “Prática Pedagógica Inclusiva”, 45,83% (77/168) dos alunos entrevistados acreditam que alunos de raças diferentes, indígenas, com deficiência, ricos ou pobres, homens ou mulheres, homossexuais ou bissexuais, recebem a mesma atenção por todos os funcionários da escola (Gráfico 8). A escola cuida para que todos os alunos recebam a mesma atenção na sala de aula independentemente se são negros, indígenas, pessoas com deficiência, pobres, homens ou mulheres, homossexuais etc? 100 80 60 40 20 0 Frequentemente De vez em quando Raramente ou nunca Gráfico 8: Resultados da oitava questão aplicada no questionário Não sei avaliar 8 Os resultados mostraram que o respeito entre alunos e professores ocorre ocasionalmente e que o ambiente escolar favorece eventualmente a amizade dentro da comunidade escolar, demonstrando um afastamento e um clima relativamente conflituoso. Portanto, respeito não foi uma questão recorrente dentro da escola. Esse dado reflete o constante problema disciplinar presente, visto que há ocorrência de constante envio de alunos da sala de aula para a direção, com o intuito da resolução de tais conflitos cotidianos dentro da sala de aula. Nesse ponto, a participação dos alunos quanto à construção das regras adotadas pela direção, o que por eles foi negado no questionário, pode ser uma ferramenta importante na discussão desses conflitos nas relações dentro da escola. A maioria dos alunos respondeu que nunca há conversas sobre atitudes preconceituosas ocorridas na escola e que não há procura na resolução dos conflitos dentro do ambiente escolar. Uma questão grave que demanda atenção por parte dos coordenadores pedagógicos. Dessa forma, segundo Massaguer (2002), isso demonstra o caráter de escola tradicional do Armando de Salles. As escolas que valorizam o conflito e aprendem a lidar com essa realidade, são aquelas onde o diálogo é frequente, com intuito de ouvir as diferenças para melhor decidirem; são aquelas onde o exercício da explicitação do pensamento é valorizado e incentivado, focando o aprendizado da exposição madura das idéias por meio da assertividade e da comunicação eficaz (Chrispino, 2007). Por outro lado, coloca-se que a escola frequentemente trata todos iguais, independente de suas diferenças. No entanto, é necessário questionar-se inicialmente se os preconceitos presenciados dentro do ambiente escolar são identificados pelos próprios alunos. Conclusões Verifica-se a necessidade de estabelecimento de discussões para lidar com o conflito nas relações interpessoais, compreender o conflito como instrumento de crescimento e aprender a trabalhar com ele, assim como visto no ponto de vista da escola democrática. É necessário valorizar o diálogo e o respeito às diferenças e, ainda, envolver os alunos nas regras adotadas pela escola. Apenas a partir do levantamento dessas questões, é possível propor uma reflexão dentro do ambiente tendo em vista à 9 melhora na convivência e no respeito. Nesse sentido, para Massaguer (2002), a chave para a solução do binômio disciplina/participação dos alunos se dá quando a escola for de nossos alunos e de todos os que fazem dela seu local de trabalho. Portanto, a participação será sua consequência natural e a disciplina, o sinal do diálogo. Referências Chrispino, A. Gestão do conflito escolar: da classificação dos conflitos aos modelos de mediação. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. v.15 n.54 Rio de Janeiro jan./mar. 2007 Indicadores da Qualidade na Educação / Ação Educativa, Unicef, Pnud, Inep, SEB/MEC (coordenadores) – São Paulo: Ação Educativa, 2013, 4ª edição ampliada. 92 p. ISBN 978-85-86382-12-3. 1.Educação. 2. Educação-Qualidade. I. Título. II. Ação Educativa. III. Unicef. IV. Pnud. V. Inep. VI. SEB/MEC. MASSAGUER, M.A. A escola é nossa. O diálogo e a confiança mútua: instrumentos para a convivência e a disciplina no Ensino Fundamental. In: ANTÚNEZ, S. et al. Disciplina e convivência escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002