CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA (UEFS) SOBRE ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NO ENSINO DE CIÊNCIAS. Débora Maria Marchesine de Almeida (Universidade Estadual de Feira de Santana) Marilene Lopes da Rocha (Universidade Estadual de Feira de Santana) Introdução O ensino de Ciências está atrelado à compreensão de que a construção do conhecimento científico depende de um enfoque experimental, pelo fato de sua organização estar baseada nos processos de investigação (GIORDAN, 1999). Em geral alunos e professores de ciências possuem a ideia de que a experimentação seja um instrumento motivador e de grande significado para o aprendizado, sendo um consenso que a realização de atividades experimentais é fundamental para o ensino de Ciências (GALIAZZI et al , 2001). Contudo, concordamos com Giani (2010) no sentido de que pouco adianta ter um laboratório didático se os professores não estão preparados e persistem numa visão ingênua sobre a experimentação, que considera como papel exclusivo da atividade experimental corroborar leis e teorias e desenvolver nos estudantes algumas habilidades técnicas. Atividades experimentais podem contribuir bastante no processo de ensinoaprendizagem de Ciências, sendo um instrumento enriquecedor para a construção do conhecimento pelos alunos, mas da mesma forma que a Ciência tem na experimentação um alicerce fundamental, como adverte Melo (2010), é preciso estar atento às suas interpretações, “para que não se caia no erro da interpretação ingênua e positivista da ciência, de que tudo pode ser explicado pela experimentação e que há apenas um método para fazer ciência” (p. 15-16). A partir dessas observações buscamos com esse trabalho compreender de que forma os licenciandos em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Feira de Santana compreendem, ou melhor, quais as suas concepções sobre o papel da experimentação no ensino Ciências e Biologia, justificando-se a realização desta pesquisa pela necessidade e importância de se conhecer tais concepções para promover uma reflexão sobre a formação de futuros docentes de Ciências e Biologia. Metodologia Este trabalho envolveu uma abordagem qualitativa (LÜDKE; ANDRÉ, 1986) fazendo-se uso de um questionário normatizado, direcionado para 10 alunos de graduação em Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Feira de Santana, cursando o oitavo período do curso, com retorno de 07 questionários respondidos. O questionário foi construído tanto com perguntas abertas, como fechadas, assim como perguntas dicotômicas, de intenção, de opinião, de múltipla escolha, de acordo com a classificação de Marconi e Lakatos (2006), de modo a identificar as concepções desses estudantes sobre o significado das atividades experimentais e sua importância para o ensino de Ciências e Biologia. Resultados Quando questionados sobre o significado das aulas práticas, os sujeitos da pesquisa acreditam que esse tipo de aula é o momento de reforçar o conteúdo visto na teoria, isto é, como afirma um dos sujeitos da pesquisa, “qualquer tipo de experimentação, que permita interação entre o conhecimento teórico e o objeto da experimentação”, ou ainda, segundo outro estudante, “é a representação de fenômeno dito em teoria ou pode ser o momento em que o aluno através de instrumentos, treinam suas habilidades, participam e tem contato com objeto de estudo para análise e obter conclusões sobre o que foi observado”. Na resposta desses estudantes fica clara a idéia de experimentação como comprovação de conteúdos teóricos, embora na última fala haja uma abordagem centrada no aluno e não apenas no conteúdo. Com relação à realização de experimentos, a maioria dos participantes também crê que a experimentação contribui para um maior aprendizado em Ciências e Biologia, pois, segundo a justifica de um dos estudantes, “é o momento em que o aluno terá a oportunidade de fazer a ligação com o conceito que aprendeu e a pratica”, ou na fala de outro, “pois permite observar, analisar, perceber que às vezes pode existir variações entre os experimentos e problematizar e pensar sobre os condicionantes que possibilitaram a mudança de resultados”. Mais uma vez, a perspectiva empirista prepondera nas respostas dos alunos, no entanto, essa última fala foi a única onde prevaleceu, implicitamente, uma idéia mais pautada no desenvolvimento de habilidades próprias da ciência, como questionamentos, problematização, investigação e a busca por respostas. Considerações Finais A análise das respostas dos estudantes indica que o papel de experimentação ainda é visto pela maior parte dos estudantes sob uma perspectiva empirista, o que na nossa visão é preocupante, pois é reflexo de uma concepção simplista sobre ciência. Essa visão torna o trabalho cientifico desvalorizado, levando ao aluno a compreender a ciência como algo detentor de verdades absolutas, além de tornar o pensamento cientifico rígido e intolerante, fundamentando ainda mais a dicotomia entre teoria e prática, o que dá a atividade experimental um papel meramente demonstrativo que apenas comprova o conhecimento teórico aprendido em sala de aula (GIANI, 2010). Como afirma Galiazzi et al (2001), para que essa realidade seja mudada é preciso transformar e superar concepções ingênuas presentes em professores em exercício e em formação, portanto é necessário uma reflexão sobre a formação de professores de Ciências e Biologia, focada em como as instituições estão preparando esses sujeitos para a compreensão da natureza da ciência e do papel da as atividades práticas como ferramenta de desenvolvimento de habilidades científicas. Referências GALIAZZI, M.C.. et al. Objetivos das atividades experimentais no ensino médio: a pesquisa coletiva como modo de formação de professores de ciências. Ciência e Educação, v. 7, n. 2, p. 249-263, 2001. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v7n2/08.pdf>. Acesso em: 08 fev. 2012. GIANI, Kellen. A experimentação no Ensino de Ciências: possibilidade e limites na busca de uma Aprendizagem Significativa, Brasil. 2010. 190 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências) -- Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2010. Disponivel em:<http://www. repositorio.bce.unb.br/handle/10482/9052>. Acesso em: 07 jan. 2012 GIORDAN, M. O Papel da Experimentação no Ensino de Ciências. Química Nova na Escola, n.10, p. 43-49, 1999. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo, SP: Atlas, 2006. 315 p. LUDKE, M. ANDRÉ, M. E. K. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2. ed. São Paulo: EPU, 1986. MELO, Júlio Fátimo Rodrigues. Desenvolvimento de Atividades Práticas Experimentais no Ensino de Biologia – Um Estudo de Caso, Brasil. 2010. 75 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências) -- Programa de PósGraduação em Ensino de Ciências, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2010. Disponivel em:<http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/7399/1/2010_JulioFatimoRodrigues Melo.pdf >. Acesso em: 01 mar. 2012.