PERSPECTIVAS PARA 2011? A MAIOR QUEBRA NOS SALÁRIOS DOS ÚLTIMOS 25 ANOS! I – Aceleração da generalidade dos preços, com relevo para os produtos alimentares, energia e transportes ! A quebra nominal dos vencimentos da AP para os detentores de salários mensais acima dos 1 500! mensais, prevista para 2011 (art.º 17º da Proposta de Lei OE2011), resulta num contexto particularmente adverso, visto que nesse ano se deverá assistir a uma aceleração de preços, prolongando a tendência registada ao longo de 2010. ! O aumento da taxa de inflação em 2011 para 2,2% (prevista pelo Governo) e para 2,3% (estimada pela OCDE/CE) reflecte: - a aceleração dos preços das matérias-primas, especialmente energéticas, devendo provocar uma subida dos preços dos combustíveis com impacto na generalidade dos produtos; - os efeitos da subida da taxa do IVA de 21 para 23% e também o acréscimo de tarifas de bens essenciais, resultando da política de redução das indemnizações compensatórias destinadas às empresas públicas que prestam serviço público, nomeadamente no sector dos transportes. ! Dos aumentos de preços de produtos essenciais já conhecidos, realçam-se os da electricidade (3,8%); portagens nas auto-estradas (0,6%, a que se deve acrescentar a taxa do IVA em 2 p.p.); as taxas moderadoras do SNS em 2,2% e, finalmente os preços dos transportes públicos entre 3,5 e 4,5%. 1 ! Em Novembro de 2010, o Total dos preços em Portugal manteve-se em 2,3% em termos homólogos, correspondendo ao valor mais elevado desde Outubro de 2008 (+2,3%) devido sobretudo à aceleração, nos últimos meses, dos preços dos Transportes; Habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis (ambos em +5,1%) e Produtos Alimentares (+2,5%). ! ! Gráfico 1 – Taxa de Inflação em Portugal (Variação Homóloga em %) 6,0 5,1 4,0 2,5 2,0 0,0 -2,0 -4,0 -6,0 N -8 v o 0 z -8 e D 0 n -9 a J 0 v -9 e F 0 r -9 a M 0 r -0 b A 9 i -9 a M 0 n -9 u J 0 l -9 u J 0 o -9 g A 0 t -0 e S 9 t -9 u O 0 v -9 o N 0 z -9 e D 0 n -0 a J 1 v -0 e F 1 r -0 a M 1 r -1 b A 0 i -0 a M 1 n -0 u J 1 l -0 u J 1 o -0 g A 1 t -1 e S 0 t -0 u O 1 v -0 o N 1 -8,0 Total Transportes Hab., água, electricidade, gás e outros combustíveis Alimentares Convém também realçar que nos últimos meses: ! a taxa de inflação em Portugal ultrapassou, em Novembro, o valor da média da área do euro (1,9%), pelo 5º mês consecutivo, invertendo a tendência registada entre o início de 2008 e Junho de 2010; ! os preços de energia em Portugal continuaram a aumentar a um ritmo superior ao da média da área do euro, evolução verificada desde Julho/09 (situando-se em média até Novembro de 2010, em 9,4% em Portugal (7% na área do euro); ! os preços de produtos alimentares em Portugal aceleraram desde Julho de 2010, tendo vindo a aumentar desde esse mês, contrariamente à diminuição ocorrida entre Março/09 e Maio/10. 2 Gráfico 2 – Taxa de Inflação em Portugal (Taxa de Gráfico 3 – Preços de Energia em Portugal e na Variação Homóloga, em %) Área do Euro (Taxa de Variação Homóloga, em %) 12% 9,9% 10% 6% 6,1% 5,2% 4,9% 5,4% 4% 6,5% 3,5% 0% -2% -4% 12,0 9,0 6,0 3,0 1,2% 2% 18,0 15,0 0,0 -3,0 -6,0 -1,9% -6% Preços Energéticos -8% Taxa de Inflação -7,8% 1 9 0 2 1 0 2 0 2 3 0 2 4 0 2 5 0 2 6 0 2 7 0 2 8 0 2 9 0 2 *0 1 2 -10% -9,0 -12,0 -15,0 n -0 Ja 8 rM -0 a 8 i -0 a M 8 l -0 Ju 8 t -0 e S 8 v -0 o N 8 n -0 Ja 9 r -0 a M 9 i -0 a M 9 l -0 Ju 9 t -0 e S 9 v -0 o N 9 n -1 Ja 0 r -1 a M 0 i -1 a M 0 l -1 Ju 0 t -1 e S 0 v -1 o N 0 8% 9,4% 8,0% Portugal Fonte: INE. *Média dos 11 primeiros meses. Área!do!euro Fonte: Eurostat. Quadro 1 – Taxa de Inflação em Portugal (Variação Homóloga em %) Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas Bebidas alcoólicas e tabaco Vestuário e calçado Habit., água, electricidade, gás e outros combustíveis Acessórios, equip. doméstico e manut. corrente da habit. Saúde Transportes Comunicações Lazer, recreação e cultura Educação Restaurantes e hotéis Bens e serviços diversos Total 2008 3,7 7,5 1,6 3,9 1,7 1,4 1,5 -2,1 0,6 4,2 3,7 2,5 2,6 2009 -3,4 3,3 -1,7 2,1 1,7 -1,4 -3,6 -1,0 -1,6 3,5 2,4 1,9 -0,8 Média Primeiros 11 meses de 2010 -0,5 4,2 -1,7 4,3 1,6 -1,3 4,4 -1,9 -0,3 2,8 1,2 0,5 1,3 3 II - Quebra brutal do poder de compra dos trabalhadores, especialmente da Administração Pública A política que será implementada para reduzir o défice público em 2011 está sobretudo assente do lado da despesa, na redução dos vencimentos da função pública e no congelamento dos pensionistas e do lado da receita, na subida da taxa do IVA de 21 para 23% e do IRS, este último, com especial impacto nos pensionistas e aposentados com pensões mensais acima dos 1 600!. Após o regresso ao congelamento salarial da função pública, em 2010, o qual deve originar uma quebra do poder de compra dos trabalhadores da Administração Pública, a situar-se em cerca de 1,3 p.p., vamos assistir, em 2011, a um corte nominal dos salários, situação inédita em Portugal, em cerca de 5%, atingindo os trabalhadores da Administração Central e Local do Continente que auferem um vencimento mensal acima dos 1 500!. De facto, para os vencimentos mensais situados entre 1.600! e 2.000!, a redução será de 3,5%, equivalente a uma diminuição mensal de 56! a 70!. De 2.100! a 4.100!, a redução irá variar entre 4,1% e 9,9%, com uma diminuição do vencimento mensal entre 86! e 406!. Finalmente, acima de 4.200!, a redução do vencimento será de 10%. Assim entre 2000 e 2011, deveremos assistir a uma quebra acumulada do poder de compra de 15,64 p.p. para aqueles que tiveram um congelamento salarial nos anos de 2003/2004 e a um corte médio de 5% em 2011. Para os restantes trabalhadores da AP que não tiveram congelamento salarial em 2003 e 2004 (abaixo do vencimento de mil !) e que são detentores de um salário igual ou abaixo dos 1 500! em 2011, a quebra acumulada do poder de compra é de 7,14 p.p. (Quadro 2; Gráficos 4 e 5). 4 Quadro 2 – Tabela Salarial da Função Pública dos funcionários públicos com vencimento mensal acima de 1 000 ! nos anos de 2003 e 2004 e acima dos 1 500! em 2011 (Taxa de variação, em %) 2000 Tabela 2,5% Salarial da FP T a x a d e 2,9% Inflação Poder de compra (real) em pp -0,4 Perda do poder de compra 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2008 2009 2010 2011* 3,71% 2,75% 0,0% 0,0% 2,2% 1,5% 1,5% 2,1% 2,9% 0,0% -5,0% 4,4% 3,6% 3,3% 2,4% 2,3% 3,1% 2,5% 2,6% -0,8% 1,3%* 2,2% -0,69 -0,85 -3,3 -2,4 -0,1 -7,2 -1,6 2007 -1,0 -0,5 +3,7 -1,3* -15,64 pp (acumulado) *Previsão do Governo. Não podemos esquecer que o nível negociado para a contratação colectiva (sector privado) continuou a registar um aumento em 2010, tendo sido de 2,3% até final de Setembro, abaixo do nível registado em 2009 (2,8%), mas resultando num ganho do poder de compra de 5,6 p.p. em termos acumulados de 2000 a 2010, contrariamente ao registado na função pública. Mesmo admitindo a hipótese de um congelamento salarial médio, em 2011, continuará a assistir-se a uma variação positiva do ganho do poder de compra em termos acumulados entre 2000 e 2011, avaliado em 3,4 p.p. (contra uma perda no sector público). 5 Gráfico 4 – Tabela Salarial da Função Pública e da Gráfico 5 – Tabela Salarial da Função Pública e da Contratação Colectiva (Sector Privado) (Variação em Contratação Colectiva (Sector Privado) (Variação termos nominais) em termos reais) 3,7% 4,0% 5,0% 2,0% 4,0% 3,0% 2,0% 0,0% 1,0% -0,4% 0,0% -2,0% -1,0% -0,1% -0,7%-0,9% -1,6% -1,0% -0,5% -1,3% -2,4% -2,0% -3,3% -4,0% -3,0% -4,0% -6,0% -5,0% Total sem administrações públicas Sector Público Taxa de Inflação * Vencimento mensal acima de 1 000! nos anos de 2003 e 2004 e acima de 1 500! em 2011, tendo sido de 1,5% e de 2% para os vencimentos abaixo de mil !, em 2003 e 2004, e de 0% para vencimentos até 1 500!, em 2011. P/ Total sem AP, o valor foi de 2,3% até Setembro de 2010 e admitiu-se a hipótese de 0% para 2011. Total sem administrações públicas -7,2% -8,0% 20 201 20 203* 204* 205 206 207 208 209 201 201* 2 0 1 0 2 0 2 * 3 0 2 * 4 0 2 5 0 2 6 0 2 7 0 2 8 0 2 9 0 2 1 0 2 * 1 0 2 AP * Vencimento mensal acima de 1 000! nos anos de 2003 e 2004 e acima de 1 500! em 2011, tendo sido de -1,8% e de -0,4% para os vencimentos abaixo de mil !, em 2003 e 2004, e de -2,2% para vencimentos até 1 500! em 2011. P/ Total sem AP, o valor admitido é de +1% em 2010 e de -2,2% para 2011. III – Diminuição real de 3,5% das remunerações do trabalho em Portugal, a mais acentuada da União Europeia, em 2011 As perspectivas de remunerações médias do trabalho em termos reais, para o total da economia, no conjunto da UE não são nada animadoras, estando previsto um aumento de 0,1% em 2011, após terem estabilizado em 2010. Neste domínio, convém destacar o facto das remunerações para Portugal apresentarem a maior quebra da UE-27, correspondendo a uma diminuição de 3,5% e representando a descida mais acentuada dos últimos 25 anos (Gráfico 6). 6 Gráfico 6 – Remunerações Médias Reais do Trabalho para os 16 Países da Área do Euro, em 2011, (Variação Homóloga em %) 1,5 0,9 0,8 média da área do euro (0,2%) 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,1 0,5 -0,1 -0,1 -0,5 -0,3 -0,4 -0,8 -1,5 -2,5 -2,3 -3,5 -3,5 B a ic lg é a d lâ in F ç n ra F tria s u Á d n Irla lt a M e x L o rg u b m lia Itá re ip h C h n a p s E ia c ré G l a g rtu o P P o ix B e ís a ia u q á v lo s E A h n a m le ia n é v lo s E -4,5 Fonte: CE, Perspectivas Económicas, Novembro de 2010. Temos de regressar aos anos de 1983 e 1984, para se visualizar quebras tão importantes nos salários reais para o total da economia em Portugal, tendo-se assistido a uma diminuição de 5,7% e de 9,2%, respectivamente. Neste aspecto, o grande contributo para a perda do poder de compra dos trabalhadores em Portugal provém do elevado sacrifício sentido pela generalidade dos funcionários públicos, os quais verão os seus salários reduzidos a partir de 2011, de forma vitalícia. De facto, a despesa com o pessoal da AP em Portugal vai diminuir para 10,6% do PIB em 2011 (12,1% em 2010) representando um decréscimo de 10,8% face a 2010, figurando também como a maior quebra de entre os 27 Países da UE (Gráfico 7). 7 Gráfico 7 – Despesa com o Pessoal da Administração Pública para os 16 Países da Área do Euro, em 2011 (Taxa de Variação Homóloga, em %) 8,0 6,0 6,0 5,8 3,5 4,0 2,0 2,7 2,4 1,3 1,1 1,0 0,7 0,0 0,0 0,6 0,0 -0,9 -2,0 -1,4 -4,0 -2,0 -2,3 -2,6 -6,0 -8,0 -10,0 u o d a re Á d n Irla E h n a p s l a g rtu o P ia u q á v lo s E I lia tá ia c ré G ia n é v lo s E o ix B e ís a P C re ip h lt a M a d lâ in F a ic lg é B ç n ra F h n a m le A tria s u Á o rg b m e x u L U E-7 2 -10,8 -12,0 Fontes: OE- 2011 p/ Portugal e CE p/ restantes países da área do euro. Não nos podemos conformar! LISBOA, 2010-12-21 A DIRECÇÃO LBP/SS 8