MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Alfenas . Unifal-MG Rua Gabriel Monteiro da Silva, 714 – Alfenas/MG – CEP 37130-000 Fone: (35) 3299-1000 . Fax: (35) 3299-1063 JULIANA APARECIDA GONÇALVES ESTUDO TEÓRICO DA ADSORÇÃO DE MOLÉCULAS DE OXIGÊNIO EM FOLHAS DE SiC ALFENAS/MG 2013 JULIANA APARECIDA GONÇALVES ESTUDO TEÓRICO DA ADSORÇÃO DE MOLÉCULAS DE OXIGÊNIO EM FOLHAS DE SiC Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte de requisitos para a aprovação da disciplina de TCC2 do Curso de Física – Licenciatura da UNIFAL. Área da concentração: Física da Matéria Condensada. Orientadora: Profa. Dra. Juliana M. Morbec ALFENAS/MG 2013 Sumário 1 INTRODUÇÃO 7 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 7 3 METODOLOGIA 11 4 RESULTADOS 14 4.1 – ESTUDOS EM NANOFOLHAS 4X4 DE SiC 14 4. 2 – ALTERANDO A CONCENTRAÇÃO DE MOLÉCULAS O2 17 5 CONCLUSÃO 20 REFERÊNCIAS 20 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Sequências de empilhamento dos politipos 6H-, 4H-, 3C- e 2H-SiC projetadas no plano [1120]................................................................................................................................ 8 Figura 2 - Ligação tetragonal de um átomo de C com os demais quatro átomos, mais próximos de Si. ........................................................................................................................... 9 Figura 3 - Ilustrações esquemáticas de diferentes nanoestruturas de SiC: (a)nanotubos, (b) nanofios, (c) nanofolhas, e (d) nanofitas. ................................................................................... 9 Figura 4 - (a) Nanofolha limpa de SiC 4x4, (b) nanofolha de SiC com os possíveis sítios ocupados pela molécula de O2 (configuração inicial),(c) nanofolha de SiC com os possíveis sítios ocupados pela molécula de O2 (configuração final após a relaxação) . ......................... 14 Figura 5 - Configuração mais estável para adsorção de moléculas de O2 em nanofolhas de SiC. ........................................................................................................................................... 15 Figura 6 - Estrutura de Bandas, da (a) folha limpa e (b) folha dopada com O2 (configuração mais estável). ............................................................................................................................ 16 Figura 7 – Densidades de estados da configuração mais estável com moléculas de O2 em nanofolhas de SiC. .................................................................................................................... 17 Figura 8 - Densidade de Carga (0,1 e/ ) na nanofolha de SiC dopada com moléculas de O2. ............................................................................................................................................. 17 Figura 9 - Representação dos diferentes tamanhos de nanofolhas de SiC estudadas. .............. 18 Figura 10 - Estrutura de bandas da nanofolha (a) 2x2, (b) 5x5, (c)6x6 de SiC com moléculas de O2. ........................................................................................................................................ 19 Figura 11 - Densidade de Estados da nanofolha 5x5 de SiC com moléculas O2. .................... 19 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Energia de ligação das configurações investigadas. Os sítios, 1...,5 são mostrados na Figura 4(c). .......................................................................................................................... 15 Tabela 2 - Energia de ligação, (em eV), das nanofolhas de SiC com diferentes concentrações de O2 . ...................................................................................................................................... 18 RESUMO Nos últimos anos, diversos trabalhos teóricos e experimentais foram dedicados ao estudo de nanotubos, nanofios e nanofitas de SiC. Alguns destes estudos revelaram que as nanoestruturas de SiC apresentam excelentes propriedades físicas, eletrônicas e mecânicas, e que são materiais promissores para futuras aplicações em nanoeletrônica e spintrônica. Apesar das nanoestruturas de SiC possuírem excepcionais propriedades, há poucos estudos que examinam o efeito de impurezas e defeitos sobre essas propriedades. Assim, motivados pela alta potencialidade tecnológica das nanoestruturas de SiC e pela escassez de estudos sobre impurezas nessas estruturas neste trabalho investigamos, através de métodos de primeiros princípios baseados na Teoria Funcional da Densidade, a adsorção de moléculas de oxigênio em folhas de SiC. Observamos que a adsorção de moléculas de oxigênio em folhas de SiC é um processo exotérmico e, embora haja uma diminuição considerável no gap de energia, o sistema mantém seu caráter semicondutor. ABSTRACT In recent years, several theoretical and experimental works have been dedicated to the study of SiC nanotubes, nanowires and nanoribbons. Some of these studies have revealed that SiC nanostructures present excellent physical, electronic, and mechanical properties, and they are promising materials for future applications in nanoelectronics and spintronics. In spite of the exceptional properties of SiC nanostructures, studies of the effects of impurities and defects in the properties of the planar structures of SiC are very scarce. Motivated by the great potential of SiC nanostructures for technological applications and by the relative lack of studies about impurities in these structures, in this project we have investigated, using first-principles methods based on density-functional theory, the adsorption of oxygen molecules on SiC sheets. We observed that the adsorption of oxygen molecules on SiC sheetsis an exothermic process and, although there is a considerable decrease in the energy gap, the system maintains its semiconductor character. 7 1 INTRODUÇÃO O Carbeto de Silício (SiC) é um material semicondutor com excelentes propriedades físicas, eletrônicas e mecânicas, tais como: largo gap de energia, alta elasticidade, baixa densidade, estabilidade a altas temperaturas, elevado índice de refração, alta resistência a corrosão, alta mobilidade eletrônica, alta condutividade térmica, entre outras [1,2]. Devido a essas excepcionais propriedades, o SiC tem sido considerado (desde a década de 1950) um promissor substituto do Si em dispositivos eletrônicos que precisem operar com altas frequências ou em altas temperaturas. No entanto, as propriedades do SiC podem ser modificadas pela presença de impurezas, que em geral, injetam elétrons ou buracos no sistema. Nos últimos anos tem-se realizado, por diversos pesquisadores teóricos e experimentais, estudos com nanotubos, nanofios e nanofitas de SiC [3-19]. No entanto, não há até o momento trabalhos experimentais em nanofolhas e nanofitas de SiC. Mas a síntese de nanotubos de SiC de parede única [5] abriu as portas para estudos com nanofitas e folhas de SiC. Sendo assim, motivados pela alta potencialidade tecnológica das nanoestruturas de SiC e pela escassez de estudos sobre impurezas em nanofolhas e nanofitas de SiC, examinamos utilizando cálculos de primeiros princípios baseados na teoria funcional da densidade, a interação de moléculas de Oxigênio com folhas de SiC e os efeitos dessas moléculas sobre as propriedades eletrônicas dessas estruturas. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Em 1824, Jöns Jakob Berzelius notou, pela primeira vez, que poderia existir a possibilidade de compostos ligados quimicamente a partir de carbono e silício[20,21]. Posteriormente em 1893, cristais de SiC foram encontrados pela primeira vez em um meteorito que caiu nos Estados Unidos. Assim, nesta mesma data, foi realizado o primeiro trabalho de síntese deste material. Com excelentes propriedades químicas, físicas e mecânicas, tais como alta velocidade de saturação e alta condutividade térmica, o SiC é atualmente um dos matérias mais promissores para aplicações, que necessitem de alta potência, alta frequência, alta temperatura de operação. 8 Existem diferentes sequências de empilhamento dos átomos de Si e C e, conseqüentemente, estes empilhamentos formam diferentes estruturas cristalinas (chamadas de politipos). Existem mais de 200 politipos conhecidos, porém a maior parte das pesquisas realizadas atualmente estão direcionadas para quatro configurações mais comuns: 3C-SiC, 2H-SiC, 4HSiC e 6H-SiC, onde C é estruturas cúbicas e H estruturas hexagonais. Na Figura 1 apresentamos as sequências de empilhamento desses 4 politipos. Os vários politipos existentes possuem diferentes propriedades físicas. Por exemplo, o politipos 3C-SiC possui gap de energia igual a 2,40 eV, enquanto o gap do politipo 2H-SiC é 3,33 eV. Essa característica faz do cristal de SiC um interessante material pois é possível obter diferentes propriedades físicas controlando a forma de crescimento dos cristais. Todos estes polítipos, possuem uma estrutura haxagonal, onde o átomo de C está situado acima de um átomo de Si e no centro de massa desse tetraedro de átomos de Si e C, como vemos na Figura 2. Nesta figura, a ≅ 3,08 Å é a distância entre os átomos de Si mais próximos; z ≅ 2,52 Å é a distância entre os dois planos consecutivos dos átomos de Si. Como C situa-se no centro de massa do tetraedro a distância (d), entre C e os quatro átomos de Si vizinhos é a mesma, de aproximadamente 1,89 Å. Figura 1 - Sequências de empilhamento dos politipos 6H-, 4H-, 3C- e 2H-SiC projetadas no plano [1120]. 9 Figura 2 - Ligação tetragonal de um átomo de C com os demais quatro átomos, mais próximos de Si. Atualmente existem vários processos de síntese das estruturas de SiC e isto têm permitido a formação de estruturas confinadas em uma ou duas dimensões, por exemplo nanotubos e nanofios (1D) [3,9,10], e nanofitas e folhas (2D) [11]. Estas estruturas, que atraíram a atenção de diversos pesquisadores nos últimos anos [3,4, 9-19], combinam as excelentes propriedades do cristal de SiC com efeitos provocados pelo confinamento de carga em escala nanométrica, e são interessantes materiais para aplicações em nanoeletrônica e para reforços em nanocompósitos e sistemas eletromecânicos [22]. Na Figura 3 apresentamos ilustrações esquemáticas dessas diferentes estruturas. Figura 3 - Ilustrações esquemáticas de diferentes nanoestruturas de SiC: (a)nanotubos, (b) nanofios, (c) nanofolhas, e (d) nanofitas. Vários estudos foram e estão sendo realizados com nanotubos, nanofios e nanofitas de SiC [3-19]. Nanotubos de SiC foram sintetizados pela primeira vez em 2001 através da reação de vapor de SiO com nanotubos e nanofibras de Carbono [10]. A estabilidade estrutural e as 10 propriedades eletrônicas de nanotubos de SiC foram investigadas por vários pesquisadores nos últimos anos [5-8]. Menon e colaboradores [7], por exemplo, examinaram diferentes configurações de nanotubos de SiC por meio de simulações de dinâmica molecular utilizando o método tight-binding . Eles puderam observar a formação de uma superfície ondulada onde os átomos de Si e C formam diferentes cilindros com diferentes diâmetros. Zhao e colaboradores [8] investigaram o valor do gap de energia em função do raio do nanotubo e da quiralidade, e observaram que todas as estruturas analisadas são semicondutoras, e que os nanotubos zigzag apresentam gap direito enquanto os nanotubos armchair exibem um gap indireto. Além disso, eles verificaram que o gap de energia cresce com o aumento diâmetro do nanotubo. Nanofios de SiC foram sintetizados pela primeira vez em 1995, usando nanotubos de carbono como matriz [23]. Neste trabalho os autores mostram uma abordagem alternativa para a síntese de estruturas em escala nanométrica com base em nanotubos. A partir disso várias técnicas foram e estão sendo desenvolvidas para a síntese de nanofios em SiC, principalmente técnicas baseadas nos mecanismos de crescimento vapor-sólido (VS) e vapor-líquido-sólido (VLS). Diferentes estudos teóricos e experimentais realizados nos últimos anos mostraram que as propriedades dos nanofios de SiC são muitas vezes superiores ao do cristal de SiC. Por exemplo, nanofios de SiC possuem maior elasticidade que SiC bulk [24], e apresentam gap direto (enquanto o SiC bulk exibe gap indireto) [25]. Além disso, nanofios de SiC apresentam intensa emissão de luz com comprimentos de onda na faixa entre o azul e o verde, e são potenciais materiais para a fabricação de diodos de emissão de luz (LEDs) [26]. O potencial tecnológico e a síntese bem sucedida de nanotubos e nanofios de SiC motivaram várias pesquisas teóricas e experimentais das propriedades dessas nanoestruturas (tais como os trabalhos citados nos parágrafos anteriores). Porém, poucos trabalhos foram dedicados, nos últimos anos, ao estudo de nanofitas e folhas de SiC. Isto é devido, provavelmente, à dificuldade de elaborar estruturas planares estáveis de Si, uma vez que os átomos de Si preferem a hibridização sp3. Entretanto, a síntese de nanotubos de SiC de parede única [5] abriu possibilidades para a formação de estruturas planares com átomos de C e Si. Neste trabalho, os autores investigaram a estabilidade dos nanotubos de SiC, focando em nanotubos de parece única. Eles observaram que os nanotubos de SiC, com um diâmetro menor que 1,6 nm, são mais estáveis que os nanofios, enquanto estes são mais estáveis que os nanotubos com diâmetros acima desse valor. 11 Recentemente, nanofitas de SiC foram sintetizadas [11] e alguns estudos teóricos mostraram que estruturas bidimensionais planares de SiC (com os átomos de Si e C na razão 1:1 e formando uma estrutura do tipo honeycomb) são estáveis [27-29]. Alguns estudos teóricos (utilizando métodos de primeiros princípios) foram realizados nos últimos anos para examinar as propriedades magnéticas e eletrônicas de nanofitas de SiC [3032]. Em um desses estudos, Sun e seus colaboradores [30] observaram que as nanofitas armchair são semicondutoras (com largo gap de energia) e não-magnéticas, enquanto nanofitas zigzag com largura menor que 4 nm são meio-metálicas (half-metallic). Essa característica faz das nanofitas zigzag de SiC materiais promissores para futuras aplicações em spintrônica (como filtros de spin, por exemplo). Porém, impurezas e defeitos podem modificar as características dessas estruturas. Isto pode ser visto em um recente trabalho de Costa e Morbec [14], onde eles verificaram que a presença de impurezas substitucionais de nitrogênio (átomos de N ocupando sítios de C) em nanofitas zigzag transforma nanofitas meio-metálicas em materiais metálicos. Os autores também notaram que a presença dessas impurezas em nanofitas armchair leva à perda de degenerescência dos canais de transmitância de spin, reduzindo o gap de energia dos canais spin-up. Uma característica interessante de nanotubos e folhas de SiC é que esses materiais possuem superfícies altamente reativas. Por isso, é importante investigar a adsorção de átomos e moléculas sobre essas estruturas, e estudar seus efeitos nas propriedades eletrônicas e magnéticas desses materiais. Alguns estudos teóricos de adsorção de moléculas de O2 em nanotubos de SiC foram realizados recentemente. Por exemplo, Rui-li e colaboradores [17] verificaram que a forte interação entre a molécula de O2 e o tubo dá uma caráter metálico ao nanotubo de SiC. Além disso, eles verificaram que a adsorção de moléculas de O2 em nanotubos de SiC é mais eficaz do que em nanotubos de Carbono. Isso pode ter grande utilidade para a detecção de gás e armazenamento de energia [17]. Além disso, a adsorção de moléculas O2 em nanotubos de SiC é um processo exotérmico com grandes energias de ligação e transferência de carga considerável, de acordo com Fenglei Cao e colaboradores [18]. Assim motivados pelos os estudos citados anteriormente e pela escassez do mesmo com nanofolhas de SiC, examinamos a interação de diferentes concentrações de moléculas de O2 na respectiva folha e os efeitos que estas moléculas causam nas propriedades eletrônicas dessas estruturas. 3 METODOLOGIA 12 Nosso interesse em realizar este trabalho deve-se a ausência de estudo sobre adsorção de impurezas em folhas de SiC. Nesse projeto examinamos a interação de moléculas de Oxigênio em folhas de SiC e investigamos os efeitos dessas moléculas sobre as propriedades eletrônica. Os cálculos foram realizados dentro da Teoria Funcional da Densidade (DFT) [33-35], utilizando Aproximação Generalizada do Gradiente (GGA) [36] para tratar os termos de troca e correlação, onde fizemos uma pesquisa para ver qual seria o mais adequado GGA ou Aproximação de Densidade Local (LDA) [34]. Foram usadas bases “double-zeta” (DZP) com função de polarização e para a realização dos cálculos, empregou-se o programa SIESTA [37]. As folhas de SiC foram simuladas através da aproximação de supercélulas [39] com condições peródicas de contorno e com um vácuo de ~ 20 Å .Este vácuo foi utilizado com o objetivo de evitar interações entre as folhas. A DFT foi formulada na década de 1960, e é atualmente, uma das mais populares e bem sucedidas formulações da teoria de muitos corpos empregada no estudo de átomos, moléculas e sólidos e podemos dizer que ela até o momento tem se mostrado a mais eficiente para formulação ods cálculos eletrônicos e estruturais do estado fundamental. A DFT propõe a utilização da densidade eletrônica, ao invés da função de onda para encontrar a solução da Equação de Schrödinger do sistema de muitos corpos, e é fundamentada em dois teoremas que foram formulados por Hohenberg e Kohn [33]: Teorema I: O potencial externo ʋ(r), atuando em um sistema de partículas que interagem-se, é o funcional único da densidade de elétrons do estado fundamental ρ0 (r), a menos de uma constante aditiva. Teorema II: A densidade do estado fundamental ρ0 minimiza a energia total E0 [ρ] do sistema. Kohn e Sham [34] promoveram um grande avanço na aplicatividade da DFT, através do esquema Kohn-Sham para resolução do problema de muitos corpos. As equaações de KohnSham (que são equações de partícula única) tem forma: [- + ʋ( ) + + ]ϕi ( ) = ϵi ϕi ( ) (1) 13 e ρ = ρs 2 = (2) A expressão exata para o termo de troca-correlação pois estes funcionais são (ρ) na DFT não pode ser determinado complexos. Para serem empregados existem diferentes aproximações, as mais utilizadas são LDA [34]e GGA (36). A LDA, foi proposto por Kohn e Sham [34], sendo o método mais simplificado para descrever a energia de troca-correlação. Na LDA a energia de troca-correlação por um elétron em um ponto r de um gás de elétron , e assumindo ser a mesma que em um gás de elétrons homogêneo, é necessário uma variação suave da densidade. Este método tem mostrado ser uma boa aproximação, porém se a densidade eletrônica ρ( ) não for bem distribuída o método LDA não retorna bons resultados. Para tentar corrigir este pequeno impasse, o funcional (ρ) é escrito em termos do gradiente da densidade de carga total. Como mencionado para melhorar a descrição do funcional (ρ), resultou GGA, onde expressa-se o funcional em termos do gradiente da densidade e o valor de ρ em cada ponto. Foi utilizado para a realização do presente trabalho o programa computacional SIESTA (Spanish Initiative for Eletronic Simulations With Thousands of Atoms) [37]. Ele é utilizado para cáculos de estrutura eletrônica e simulações ab initio de dinâmica molecular de sólidos e moléculas. Ele é baseado na Teoria Funcional da Densidade e utiliza as aproximações (LDA) [34] e (GGA) [36] para os funcionais de troca e correlação. O SIESTA substitui os elétrons do caroço por pseudopotencias para descrever as interações elétron-íon [38] e expande a função de onda da partícula única usando combinação linear de orbitais atômicos numéricos. Os elétrons de moléculas e sólidos são divididos em elétrons do caroço e de valência. Sendo os elétrons do caroço mais próximos do núcleo e fortemente ligados e os de valência são responsáveis pelas ligações químicas. Os elétrons de caroço possuem funções que quase não se alteram quando são colocados em diferentes ambientes químicos e a sua contribuição apenas considera os elétrons de valência que determinam as propriedades eletrônicas de moléculas e sólidos. A Aproximação Pseudopotencial utiliza estes princípios e o potencial 14 atômico verdadeiro que é substituído por um pseudopotencial que possui os mesmo efeito dos elétrons do caroço. 4 RESULTADOS 4.1 – ESTUDOS EM NANOFOLHAS 4X4 DE SiC O primeiro passo foi determinar o tamanho da nanofolha de SiC, onde optamos pela configuração 4x4, como mostra a Figura 4(a), devido ser um tamanho relativamente bom para o início dos cálculos. (a) (b) (c) Figura 4 - (a) Nanofolha limpa de SiC 4x4, (b) nanofolha de SiC com os possíveis sítios ocupados pela molécula de O2 (configuração inicial),(c) nanofolha de SiC com os possíveis sítios ocupados pela molécula de O2 (configuração final após a relaxação) . Feito isto, analisamos os diversos sítios em que a molécula de oxigênio (O2) poderia ficar na folha, como mostra a Figura 1(b). Neste caso a concentração de moléculas de O2 é de 3,125%. Para determinar a configuração mais estável, calculamos a energia de ligação (Eb) através de: Eb= ET [folha + O2] – ET [folha] – ET [O2] (3) Sendo, ET [folha + O2] a energia total da folha dopada com O2, ET [folha] a energia total da folha pristine (isolada), e ET [O2] a energia total de moléculas de O2 (isolada) . 15 As energias de ligação obtidas são mostradas na Tabela 1. Tabela 1 - Energia de ligação das configurações investigadas. Os sítios, 1...,5 são mostrados na Figura 4(c). Sítios 1 2 3 4 5 Energia de ligação (eV) -0,2 -0,6 -0,6 -0,5 -0,6 Os sítios 1, 2, 3, 4, 5, são mostrados na Figura 4 (c). Encontramos que a energia de ligação mais estável é Eb = -0.6 eV correspondentes aos sítios 2, 3 e 5 (equivalentes). A Figura 5 mostra a configuração mais estável da molécula de O2 na nanofolha de SiC. Figura 5 - Configuração mais estável para adsorção de moléculas de O2 em nanofolhas de SiC. Segundo Fenglei Cao e colaboradores [18], a adsorção de moléculas de O2 em nanotubos de SiC é um processo exotérmico. Em nossos estudos, vimos que a adsorção de moléculas de O2 em nanofolhas de SiC também possui esta semelhança com os nanotubos, sendo um processo exotérmico. A Figura 6 mostra as estruturas de bandas da configuração pristine e da configuração mais estável para a nanofolha de SiC . . 16 (a) (b) Figura 6 - Estrutura de Bandas, da (a) folha limpa e (b) folha dopada com O2 (configuração mais estável). Analisando as propriedades estudadas até o momento vemos que a nanofolha limpa Figura 6(a), é semicondutora com um gap indireto de aproximadamente 1,68 eV . Quando dopamos a folha limpa com O2 há uma diminuição consideravél no gap de energia , como vemos na Figura 6(b), mas ela continua com as mesmas características da folha limpa, ou seja, o valor da energia de gap (distância entre as bandas)é consideravelmente pequeno sendo que a última banda de condução é preenchida e a última banda de valência é vazia. Em seguida fizemos uma análise através da densidade de estados para vermos quais dos elementos, Si, C ou O2, contribuíram para esta nova característica. A densidade de estados está apresentada na Figura 7. 17 Figura 7 – Densidades de estados da configuração mais estável com moléculas de O2 em nanofolhas de SiC. Analisando a densidade de estados da nanofolha de SiC dopada com O2 notamos que o estado desocupado acima do nível de Fermi tem grande contribuição dos átomos de Si, e uma pequena contribuição dos átomos de C e O. Posteriormente, realizamos o cálculo da densidade de carga para analisarmos se realmente houve a ligação da molécula de O2. Como podemos ver na Figura 8 houve a interação da molécula de O2 com a nanofolha de SiC, ou seja, estão ligadas. Figura 8 - Densidade de Carga (0,1 e/ O2. ) na nanofolha de SiC dopada com moléculas de 4. 2 – ALTERANDO A CONCENTRAÇÃO DE MOLÉCULAS O2 Em seguida modificamos a concentração de O2 na nanofolha de SiC para assim vermos se alterava estas respectivas propriedades. Na Figura 9 esta representado os diferentes tamanhos das folhas estudadas. 18 Figura 9 - Representação dos diferentes tamanhos de nanofolhas de SiC estudadas. Para estes próximos cálculos, partimos do ponto em que já sabemos como é o comportamento da molécula de O2 na folha de SiC. Com isto, vimos que realmente elas ficam na posição em que supomos, ou seja, a molécula de O2 fica ligada em um Carbono (C) e um Silício (Si) . Para estas respectivas nanofolhas de SiC realizamos os cálculos de energia de ligação(utilizando a Equação 3), cujos os resultados são apresentados na Tabela 2. Tabela 2 - Energia de ligação, (em eV), das nanofolhas de SiC com diferentes concentrações de O2 . Nanofolhas de SiC Energia de ligação (eV) 2x2 -0,6 4x4 -0,6 5x5 -1,3 6x6 -1,4 Fazendo uma análise dos dados da Tabela 2, notamos que a nanofolhas 2x2 com uma concentração de 12,5% de O2 possui a mesma energia de ligação da nanofolha 4x4. Quando diminuímos a concentração de O2 (2%), vemos que é mais favorável acontecer a adsorção de moléculas de O2, com uma energia de ligação -1.3 eV, o mesmo acontece com a nanofolha 6x6, onde esta tem uma concentração de O2 (1,2%). Realizamos os cálculos das estruturas de bandas para os diferentes tamanhos das nanofolha de SiC, como mostra a Figura 10. 19 (a) (b) (c) Figura 10 - Estrutura de bandas da nanofolha (a) 2x2, (b) 5x5, (c)6x6 de SiC com moléculas de O2. As nanofolhas de SiC 2x2, 5x5, 6x6 tiveram uma diminuição nos seus respectivos gaps de energia. Visto que a nanofolha 5x5 e 6x6 teve uma diminuição considerável em seu gap, como vimos na nanofolha 4x4. Pela semelhança entre a nanofolha de SiC 5x5 e 6x6, fizemos a densidade de estados para a nanofolha 5x5, como mostra a Figura 11. Figura 11 - Densidade de Estados da nanofolha 5x5 de SiC com moléculas O2. Analisando a densidade de estado obtida, vemos que o mesmo aconteceu quando diminuímos a concentração de O2.Onde temos uma grande contribuição dos átomos de Si, e uma pequena contribuição dos átomos de C e O. 20 5 CONCLUSÃO Neste trabalho examinamos a interação de diferentess concentrações de moléculas de O2 em nanofolhas de SiC e os efeitos que estas moléculas nas suas propriedades eletrônicas. Observamos que o processo de adsorção de moléculas de O2 em nanofolhas de SiC é exotérmico e deve ocorrer espontaneamente. Notamos ainda que em nanofolhas de SiC com maiores concentrações de O2 ,o seu caráter semicondutor não é modificado,embora haja uma diminuição no gap de energia e em nanofolhas de SiC com menores concentrações de O2 há uma diminuição considerável no gap de energia. REFERÊNCIAS [1] Silicon Carbide: Recent Major Advances, editado por W. J. Choyke, H. Matsunami, and G. Pensl (Springer, Berlin, 2004). [2] MELINON, P. et al. Playing with carbon and silicon at the nanoscale. Nature Materials, v. 6, n. 7, p. 479-490, 2007. [3] SHEN, G. et al. Silicon carbide hollow nanospheres, nanowires and coaxial nanowires. Chem. Phys. Lett., v. 375, n. 1-2, p. 177-184, 2003. [4] ] ZHAO, J.-X.; DING, Y.-H. Silicon Carbide Nanotubes Functionalized by Transition Metal Atoms: A Density-Functional Study. J. Phys. Chem. C, v. 112, n. 7, p. 2558-2564, 2008. [5] ZHANG, Y.; HUANG, H. Stability of single-wall silicon carbide nanotubes – molecular dynamics simulations. Comput. Mat. 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