POTENCIALIDADES ECOTURÍSTICAS DO ESTADO DA PARAÍBA: O LAJEDO DE PAI MATEUS, CABACEIRAS-PB Márcio Balbino Cavalcante1, Ana Raquel Fernandes Perazzo2 1 Universidade Estadual da Paraíba - UEPB/Departamento de Geografia/Centro de Humanidades, Rodovia PB 75, km 01, Bairro Areia Branca, Guarabira - PB. CEP 58200-000, [email protected] 2 Universidade Federal da Paraíba – UFPB/Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, Rua da Mangueira, S/N, Centro, Rio Tinto - PB. CEP 58297-000, [email protected] Resumo- Este trabalho apresenta uma discussão sobre as potencialidades ecoturísticas do município de Cabaceiras, estado da Paraíba. A metodologia da pesquisa pautou-se na pesquisa bibliográfica e documental; elaboração e aplicação dos instrumentos de pesquisa de campo, como questionários para coleta dos dados turísticos e geográficos da área; e sistematização dos resultados. Os dados obtidos demonstram que o município conta com um potencial notável para o turismo, em especial, o ecoturismo; porém, precisa-se um planejamento de ações de gestão territorial, com o intuito de subsidiar o ordenamento do uso turístico no local. Palavras-chave: Geografia do Turismo, Ecoturismo, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Área do Conhecimento: Ciências Humanas Introdução Atualmente o turismo é um dos segmentos que mais cresce no mundo, como empresa ele só veio se organizar em meados do século XIX, porém foi a partir dos anos de 1950 que os serviços turísticos se solidificaram (TRIGO, 1993). Nesse contexto, a cada ano a atividade turística torna-se um empreendimento bastante promissor no mercado mundial, passando a ser um importante vetor de produção do espaço, por isso a preocupação que essa atividade influencie nas relações ambientais, devido a este fato um dos seguimentos que tem tido maior índice de crescimento é o ecoturismo (CAVALCANTE, 2008, p.17). Sendo assim, o ecoturismo no Brasil começou a ser organizado a partir do ano de 1987 com a criação de uma comissão técnica nacional, constituída por técnicos do IBAMA e da EMBRATUR. Segundo Trigo (1993, p. 22) o turismo no Brasil situa-se ainda muito no âmbito doméstico. Para o autor, falta infraestrutura e marketing para que o turista internacional venha desfrutar das potencialidades naturais e culturais do país. Drew (1998) destaca a importância dos estudos a respeito das potencialidades do turismo, em especial os relativos aos temas rurais; quando ressalta o valor das propriedades com atividades produtivas diversas e de destaque, como paisagens naturais e panorâmicas, trilhas para caminhadas e cavalgadas, recursos geológicos, paleontológicos e paleoantropológicos, interessante rede hidrográfica e uma diversidade grande de eventos e festas populares com temas rurais. Diante disso, o presente trabalho consiste em analisar as potencialidades ecoturísticas do “Lajedo de Pai Mateus”, localizado na cidade de Cabaceiras – PB, tendo como objetivo principal apresentar os atributos físicos, naturais e históricos que propiciam ao turista um roteiro diferenciado. Metodologia Para atingir os objetivos supracitados, o trabalho teve como caminho metodológico a abordagem qualitativa, a qual orientou o levantamento de dados e a análise da pesquisa. Sendo assim, a metodologia foi dividida em três etapas: pesquisa bibliográfica e documental; elaboração e aplicação dos instrumentos de pesquisa de campo, como questionários para coleta dos dados turísticos e geográficos da área; e a sistematização e análise dos resultados. Para a fundamentação do estudo, utlizou-se da pesquisa e revisão bibliografia teórico-conceitual da temática proposta que fundamentaram o presente trabalho, em diversas áreas do conhecimento científico, a saber: Geografia, Turismo, Meio Ambiente, Legislação Ambiental e outras. Resultados A cidade de Cabaceiras foi fundada no ano de 1735 (século XVIII), por bandeirantes oriundos da Bahia. Sendo a sexta cidade mais antiga da XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 1 Paraíba e a segunda do cariri.È uma cidade cheia de historias, especialmente de cangaceiros, a exemplo de Antonio Silvino, que no ano de 1916, invadiu o mercado público e a cadeia em busca de alimentos, em especial aqueles enviado pelo governo federal. Havendo um intenso combate entre policiais e o bando do cangaceiro, ocasionando varias mortes. Antônio Silvino foi preso durante um período de três meses, até que seu bando conseguiu libertá-lo após um novo confronto (PCM, 2012). A cidade possui uma herança histórica bastante rica, com a presença de sítios arqueológicos a exemplo do sítio “Manoel de Souza” e o “Lajedo de Pai Mateus”. Cabaceiras possui além do patrimônio arqueológico, um patrimônio histórico e cultural, com um conjunto arquitetônico em estilo clássico, no qual se destacam alguns prédios como a cadeia pública, o mercado municipal, vários casarões no entorno da praça central da cidade, que datam do período de sua formação e que permanecem em bom estado de conservação. No ano de 1998 a cidade recebeu do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, e do Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR, o selo de município prioritário para o desenvolvimento do turismo, estando hoje, cotada para ser patrimônio cultural da humanidade. A cidade também foi palco de gravação de longas metragens como o “Auto da Comparecida”, que foi filmado no local devido a peculiaridades do patrimônio arquitetônico que se mantém em bom estado de conservação. O município de Cabaceiras localiza-se no cariri paraibano. Está situada à 7° 28’ 48’’ S e 36º 16’12’’ W, a uma distância de aproximadamente 189 km da capital do estado, João Pessoa (Fig. 1). Figura 1 – Mapa de localização do município de Cabaceiras, estado da PB. A toponímia Cabaceiras é originária de uma planta do mesmo nome, muito abundante na região. A planta é rasteira, de folhas grandes e produz o cabaço, um fruto de forma oblonga. Quando seca, serra-se a parte superior em forma de gargalo, transformando-o em um ótimo recipiente de água. A área de estudo está localizada na província da Borborema, uma superfície de 380.000 km² que abrange os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Ceará, é basicamente coberta por estruturas paleozóicas e mesozóicas, associadas às pequenas bacias tatrogênicas; geradas por reativações de falhas antigas e cujos sedimentos são remanescentes de coberturas mais amplas ligadas á primitiva extensão das bacias do Parnaíba e Recôncavo Tucano-jatobá. O relevo cinzento é formado por grandes rochas com aspecto arredondado conhecido como bolderes (Fig. 2). Figura 2 – Relevo do município de Cabaceiras/PB A região possui clima quente, semiárido, com índices pluviométricos baixos, ocorrendo predominantemente no inverno, não possui estações e sim dois períodos, o verão e o inverno que são caracterizados por meio da vegetação. Diante disso, esse município é conhecido como o de menor índice pluviométrico do Brasil; chove em média 250 mm/ano. A vegetação é predominantemente formada pela caatinga “mata branca” nome originário dos indígenas, plantas xerófilas recobrem a região como os facheiros (Cereus Squamosus), o xiquexique (Pilocerus Setosus) e a coroa-de-frade (Helocactus sp). A vegetação espinhosa, agressiva, tem como característica armazenar em suas folhas, caules e raízes a água que necessita para se manter nos meses de ausência de chuva. Cabaceiras possui um das maiores criações de caprinos e ovinos da Paraíba. A criação de animais é responsável por parte da sustentabilidade econômica da cidade, juntamente com as feiras de artesanato (cerâmica), eventos e festas turísticas, como a festa do Bode Rei que é XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 2 uma grande manifestação popular que atrai turistas de todas as partes do mundo. O artesanato local aproveita o couro do bode para transformar em sandálias, botas, cintos, chapéus, pulseiras e bolsas. Estes produtos em couro acabaram proporcionando a criação de cooperativas que garantem a renda para dezenas de famílias da região. Discussão Na análise sobre a segmentação turística no município de Cabaceiras, verificou-se que a área do lajedo se caracteriza por suas serras que são marcos divisórios de municípios; tendo o “Lajedo de Pai Mateus”, três serras que divide a Serra da Aldeia, do Ceará e do Jatobá, que dividem as cidades de São João do Cariri, Serra Branca e Boa vista. A área do lajedo compreende uma extensão de aproximadamente 75 km². Formada por grandes blocos rochosos graníticos produzidos pela ação do tempo, resultado de um forte intemperismo físico-químico e de uma intensa ação eólica. Ao longe, o que se vê é uma enorme base de granito onde grandes rochas de formato arredondado dão um aspecto único, como se tivessem sido distribuídas estrategicamente naquele imenso espaço. A forma mais conhecida do local é de um boldere em formato de capacete (Fig. 3). térmicas, onde a temperatura oscila dos 42º C diurnos aos 22º C noturnos, este resfriamento produz contração e dilatação nas rochas, num processo contínuo e abrupto, fazendo com que se abram fendas e partes se separem (rachaduras). Inicialmente são blocos retangulares ou quadrados que vão se desgastando, num processo chamado de esfoliação esferoidal, ou seja, vão tomando as formas arredondadas denominadas de matacões ou formando grandes volumes arredondados, que se apresentam hoje distribuídos por toda a superfície do lajedo. Esse lajedo recebeu esse nome devido à lenda de um negro eremita que habitou o local no século XVIII realizando suas rezas e abençoando o povo da cidade. O lajedo tornou-se um marco na atividade turística na Paraíba, já que o local possui atributos físicos, naturais e históricos que propicia ao turista um roteiro diferenciado (PCM, 2012). A região oferece uma vasta lista de atividades relacionadas ao ecoturismo, tais como cavalgadas, trilhas, escaladas e visitações as pinturas rupestres deixadas pelos indígenas no local (Fig. 4). Figura 4 – Ecoturismo em Cabaceiras. Figura 3 – Pedra do Capacete Sobre as rochas que conglomeram e produzem uma paisagem cênica única no lajedo, são formações que datam de aproximada aproximadamente 500 milhões de anos. Todo o processo nessa imensa região começa no centro da Terra, em que as rochas, ao se formarem a 70 quilômetros de profundidade, são impelidas para a superfície e começam a sofrer um processo de desgaste contínuo. Fissuras naturais e a constante mudança de temperatura diurna/noturna que há na região, ocasionada pelas grandes amplitudes A poucos quilômetros do “Lajedo do Pai Mateus” encontra-se outro monumento natural que lembra as grandes construções erguidas pelo homem. A “Saca de Lã” recebe este nome por lembrar sacos de algodão empilhados, segundo o imaginário do lugar. São pedras gigantescas, retangulares, que se encaixam perfeitamente e formam uma espécie de pirâmide de mais de 40 metros de altura. Sendo o mesmo processo de formação do “Lajedo de Pai Mateus” e do “Bravo”, o diferencial é que o desgaste ocorreu apenas de forma retangular, observado pelas fissuras exatas nas rochas. Para quem visita a “Saca de Lã”, existe a opção da aventura da escalada até a última rocha sobreposta, contraditoriamente arredondada, e que no imaginário do cenário local a “Saca de Lã” XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 3 é um grande monumento rochoso em forma de totem. Conclusão Considerando o que foi exposto sobre as potencialidades turísticas do município de Cabaceiras na Paraíba, ficou observado que o aproveitamento desse potencial ainda é pouco explorado, pois, em relação aos recursos naturais e culturais em abundância, não identificamos planejamento com rotas turísticas que interligue sua diversidade turística. Para tanto, é preciso inferir as seguintes considerações: profissionalização do setor através da capacitação de mão de obra, a melhoria na qualidade dos serviços turísticos, a exploração das vocações regionais e locais através do incremento do turismo do tipo “alternativo” (ecoturismo, turismo rural, turismo ambiental e outros); e a adoção de uma estratégia de planejamento socialambiental na atividade turística de maneira integrada com outras atividades econômicas. Por fim, é preciso pôr em ação uma política de turismo ajustada aos objetivos estratégicos do desenvolvimento sustentável como um todo para a região. Outro aspecto importante está relacionado a uma metodologia própria que Cabaceiras terá que desenvolver para o incremento e a gestão da atividade turística, considerando suas peculiaridades e diversidade turística, definindo seus critérios e padrões de exploração. De imediato, cabe destacar o forte apelo ao ecoturismo, cujo desenvolvimento tem como apoio as indiscutíveis potencialidades que já estão atraindo uma demanda turística nacional significativa; assim como a operação de roteiros ecológicos que já vem sendo realizada por agências especializadas, e que deverá merecer planejamento estratégico – combinado com políticas públicas − a ser adotado em especial integrado ao Plano Diretor do Município. Diante de toda essa diversidade natural e cultural, recomenda-se: programas de educação ambiental; infraestrutura que atenda às necessidades do público variado, além de algumas práticas cabíveis para as áreas do turismo ecológico, em especial: adoção de um controle de quantidade de pessoas durante as visitações; criação de roteiros interligados de acordo com sua diversidade tipológica. Referências - BRASIL. MINISTÉRIO DO TURISMO. Segmentação do Turismo: marcos conceituais. Brasília, 2000. CAVALCANTE, Márcio Balbino. Turismo sustentável na Pedra da Boca. João Pessoa: Fotograf, 2008. -DREW, D. Processos Interativos Homem – Meio Ambiente. 4.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. -EMBRATUR. Plano Nacional Desenvolvimento Sustentável. EMBRATUR, 2001. de Caeté: - PMC. Prefeitura Municipal de Cabaceiras. Disponível em:<www.paraiba.com.br/cabaceiras/>. Acesso em: 2012. - TRIGO, Luis Gonzaga Godoi. Turismo e qualidade tendências contemporânea. São Paulo: Papirus, 1993. (Coleção Turismo). Agradecimentos À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e a Universidade Estadual da Paraiba (UEPB), pelo fomento desta pesquisa. XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 4