XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL IDENTIFICAÇÃO TAXONÔMICA DOS ANIMAIS EVIDENCIADOS EM FILMES DE ECO-HORROR E A EXPRESSIVIDADE DOS VERTEBRADOS Ana Cecília Correia Santos das Chagas¹; Elineí Araújo de Almeida². ¹Estudante de graduação de Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); e-mail: [email protected]. ²Professora de Zoologia do Departamento de Botânica e Zoologia da UFRN. INTRODUÇÃO O gênero horror do cinema, o qual faz uso das ansiedades e temores de uma grande parcela da sociedade para manter a plateia interessada, é capaz de demonstrar quais medos assolavam as mentes das pessoas que criaram seu enredo, e das gerações que serviram de público alvo para a história (Brandão, 2012). O subgênero “eco-horror” em particular reúne filmes em que a natureza (ou alguns de seus elementos, como animais e plantas) ataca a raça humana, muitas vezes em um ato de retaliação pelos abusos da humanidade contra o planeta em que vive (Dale et al., 2010). De acordo com Hendershot (1999), o eco-horror tomou força na década de 1950, durante a chamada Guerra Fria, período em que diversos cineastas usaram animais para representar a chamada “ameaça atômica”. Adicionalmente, muitos de seus enredos envolviam animais virando monstros após serem geneticamente modificados por meio de substâncias radioativas. O Japão, em especial, criou o chamado ícone dos monstros gigantes, com o filme Godzilla (“Godzilla”, de 1954), representando a destruição que assolou o país no fim da Segunda Guerra Mundial (Inouye, 2004). Os movimentos ambientalistas da década de 1970 mais tarde acarretaram uma revitalização desse subgênero (Mcginniss, 2012), ao explorar a temática da natureza finalmente se cansando dos abusos cometidos pelos humanos e se vingando. No caso do filme “Tubarão” (Jaws, 1975), houve um aumento na hostilidade contra tubarões (em especial, tubarões brancos) e o aumento de sua caça, no chamado “efeito Jaws” (Lovgren, 2005). Movimentos ambientalistas no início do século XXI também causariam uma segunda revitalização do eco-horror, dessa vez com o ecossistema inteiro se vingando da humanidade pela poluição e desmatamento (Dale et al., 2010; Piepenburg, 2012). OBJETIVOS O presente trabalho objetiva identificar o táxon dos animais que aparecem como vilões em filmes de eco-horror e ressaltar acerca da frequência mais relacionada para alguns grupos taxonômicos e considerações acerca de temáticas especiais emergentes. METODOLOGIA A pesquisa, direcionada pelo levantamento de dados considerados significativos para o estudo, foi guiada por elementos da análise de conteúdo de Bardin (2010). Foi selecionado um corpus de 223 filmes inseridos no distinto 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL gênero, que explorou apenas um grupo de animais servindo como antagonista e cujo enredo fora encontrado, de forma ampliada, nos sites Wikipedia ou IMDb (escolhidos por serem sites de fácil acesso e com organização dos conteúdos passível de uma comparação interpretativa). Os enredos das amostras foram arquivados e lidos integralmente para obtenção de padrões emergentes guiados pelas questões “qual é o táxon do animal antagonista?” e “que conteúdo subjacente encontra-se correlacionado ao padrão repetitivo do táxon em evidência?” RESULTADOS Na ordem de maior frequência para a de menor, relacionada aos filmes de eco-horror analisados foram identificados 12 diferentes táxons, entre eles, “Reptilia” (28,699%); “Pisces” (24,797); Mammalia (23,318%); Insecta (13,901%); Arachnida (7,174%); Mollusca (4,035%); Aves (3,139%); Oligochaeta (2,69%); Malacostraca (0,896%); Merostomata (0,448%); Amphibia (0,448%); Hirudínea (0,448%). Conteúdos sobre vingança dos animais e aspectos relacionados às consequências das modificações genéticas dos organismos foram evidenciadas. Todos os grupos de Vertebrados receberam atenção e os maiores percentuais de animais explorados nos filmes de eco-horror estão relacionados aos grupos: Reptilia, “Pisces” e Mammalia. Enquanto isso, os táxons invertebrados foram proporcionalmente pouco explorados, sendo evidenciados: Insecta, Arachnida, Mollusca, Oligochaeta, Malacostraca, Merostomata e Hirudinea. Os animais explorados, em sua maioria centrou naqueles exemplos mais temidos pelos humanos. Fugindo a esse padrão foi o grupo dos Mammalia dos quais foram utilizados tanto animais inofensivos (ovelhas e coelhos), quanto mortíferos (ursos e leões). DISCUSSÃO De acordo com Iovgren (2005), a atenção nos filmes de eco-horror, dada ao grupo Reptilia, é ocasionado pela má reputação para com esse táxon entre as pessoas, expressa na sua forma física amedrontadora. Justifica-se a ênfase dada aos vertebrados, por ser um grupo de animais mais precisamente conhecidos pelos cientistas, e também mais relacionados evolutivamente com os seres humanos (Almeida et al., 2011). Com relação ao conteúdo relativo à “ameaça atômica” e a vingança da natureza como temas recorrentes nos enredos, isso é proporcionado pelos efeitos causados pelos temores evidenciados na ações de guerra contra a natureza (Hendershot, 1999; Dale et al., 2010). A frequência com que o tema de acidentes radioativos apareceu nos filmes consolida a teoria de que as pessoas da época em que os filmes foram lançados realmente estavam preocupadas com as consequências de um manuseio errado de substâncias nucleares (Hendershot, 1999). CONCLUSÃO Os animais mais utilizados como antagonistas de eco-horror são os répteis, seguido por “peixes” e mamíferos. Filmes de eco-horror por si sós não são capazes de criar uma reputação negativa para um determinado animal. Na verdade, eles apenas aumentam hostilidades já existentes na sociedade, enquanto que animais costumeiramente vistos de maneira positiva não são hostilizados mesmo se forem o vilão de um filme de eco-horror. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, E. A. et al. 2011. Invertebrados negligenciados: implicações sobre a compreensão da diversidade e filogenia dos Metazoa. Ensino de Zoologia: ensaios metadisciplinares. João Pessoa: EdUFPB, p. 135-156. BARDIN, L. 2010. Análise de Conteúdo. Edições 70. 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL BRANDÃO, V. G. 2012. O Monstro, o Cinema e o Medo ao Estranho. DALE, T. M.; FOY, J. J.; MULGREW, K. 2010. Homer Simpson Marches on Washington – Dissent Through American Popular Culture. The University Press of Kentucky. HENDERSHOT, C. 1999. Paranoia, the Bomb and 1950s Science Fiction Films. Bowling Green State University Popular Press. INOUYE, J. 1979. Godzilla and Postwar Japan. Japanese Fantasy Film Journal. LOVGREN, S. 2005. “Jaws” at 30: Film Stoked Fear, Study of Great White Sharks. Nacional Geographic News. MCGINNISS, P. E. 2012 Levinson’s Eco-Horror Film “The Bay” Highlights Need to Protect our Water. EcoWatch. PIEPENBURG, E. 2012. Treacherous Mother Nature, Out to Get Us All. The New York Times. 3