Variação sazonal da partição dos componentes do balanço de energia em plantios jovens de eucalipto Mariana Gonçalves dos Reis1 Aristides Ribeiro1 Raquel C. Evangelista Baesso¹ Aline Santana de Oliveira1 Yhasmin Gabriel Paiva1 1 Universidade Federal de Viçosa –– DEA/UFV Av. P.H. Holfs - Departamento de Engenharia Agrícola – 36570-000 – Viçosa – MG. Brasil. [email protected] / [email protected]/ [email protected] / Abstract: Plantations with initial age of discontinuity in development have mulching, tending to have higher exposure of the canopy to wind and solar radiation. The objective of this study to evaluate the partition of the components of energy balance in terms of heat fluxes in the soil (G), latent (λE) and sensible (H) in young eucalyptus plantations. The experimental site is located in an area belonging to the firm of cellulose Fibria in city of Aracruz - ES. It appears that throughout the period studied, the fraction of energy available for evapotranspiration was always greater than the fraction for the heating of the soil-plant-atmosphere, giving a ratio of 59.57% of λE / Rn. It is also observed that precipitation influences the partition of energy balance. The larger trees, higher rates of leaf area and root system, promote evapotranspiration, showing that most of the available energy is used to change the phase of water. Keywords: partition of energy, latent heat and eucalyptus. 1. Introdução O conhecimento do saldo de energia para florestas, dado pelo balanço de radiação no dossel vegetativo, é de suma importância tanto para melhor estimar a evapotranspiração, como para conhecer a quantidade disponível para a biossíntese. Segundo Perez (1999), a partição de energia disponível entre os calores sensível e latente pode ser obtida pelo método do balanço de energia da razão de Bowen (BERB), baseado na relação fluxo-perfil de energia e troca de massa, para estimar a evapotranspiração sobre a vegetação ou solo descoberto. Especificamente, plantios com idade inicial de desenvolvimento, ou seja, culturas com até dois anos de idade, apresentam descontinuidade na cobertura do solo, ficando estas plantas isoladas sujeitas a maior interação com a atmosfera, tendendo a apresentar maior exposição do dossel ao vento e à radiação solar. Assim, o tratamento aerodinâmico dado a esses plantios deve ser diferente em relação a plantios em idade adulta, com cobertura total do solo. Normalmente, os modelos de crescimento consideram na estimativa da condutância estomática, o dossel como sendo uma folha grande, única e contínua (teoria do “Big Leaf”). Esta aproximação não é adequada na etapa inicial de desenvolvimento de florestas. Esta idade em relação às outras tem uma grande importância, sendo que nesse período as plantas apresentam maior taxa de crescimento, uma vez que o ganho de biomassa está diretamente relacionado aos processos de evapotranspiração (perda de vapor d’água) e fotossíntese (ganho de CO2). Neste estudo objetivou-se avaliar a variação sazonal da partição de energia disponíveis entre os fluxos de calor latente (λE), sensível(H) e do solo (G), em plantios jovens de eucalipto. 2. Material e Métodos Os estudos foram conduzidos no sítio experimental pertencente à Empresa Fibria Celulose S.A., cujas coordenadas geográficas limítrofes são latitude de 16º51’16” a 19º52’18” S e longitude de 40º13’15” a 40º11’44” W. Os dados meteorológicos foram coletados por sensores instalados em uma torre de 38 m de altura, sendo esta disposta entre quatro árvores, obedecendo ao espaçamento do plantio no sítio experimental. Foram instalados dois sensores de fluxo de calor no solo, sendo um na linha e o outro entre as linhas do plantio. A razão entre os calores sensível e latente foi proposta por Bowen, em 1926, como forma de estudar a partição da energia disponível, isto é: β= λE (1) H onde: β é a razão de Bowen; λE é o calor latente, W m-2; H é o calor sensível, W m-2. O valor de β depende fundamentalmente das condições hídricas da superfície evaporante. Se a superfície estiver umedecida, maior parte do saldo de radiação (Rn) será utilizada em λE, resultando em um β pequeno. Se, pelo contrário, a superfície evaporante apresentar restrições hídricas, maior parte de Rn será utilizada no aquecimento do ar, resultando em um β elevado. Com a razão de Bowen, a equação do balanço de energia pode ser escrita da seguinte forma: λE = Rn − G 1+ β , para β ≠ −1 (2) em que: Rn é o saldo de radiação medido, W m −2 ; G é o fluxo de calor no solo medido, W m −2 . Os fluxos de calor latente e sensível podem ser estimados pelas seguintes equações: λE = − K e ρλ δq δz (3) analogamente, H = −K H c p δθ δz onde: θ é a temperatura do ar,°C; q é a umidade específica do ar, kg kg-1; ρ é a massa específica do ar, kg m-3; (4) c p é o calor específico do ar a pressão constante 1,013 MJ kg-1 °C-1; λ é o calor latente de vaporização, 2,45 MJ kg-1; Ke é o coeficiente de transferência turbulenta de vapor de água KH é o coeficiente de transferência turbulenta do calor sensível. 3. Resultados e Discussão A Figura 1 apresenta a variação diária dos componentes do balanço de energia para o período estudado, ou seja, a radiação liquida (Rn) e os fluxos de calor latente (λE) e sensível (H). Também apresenta os valores mensais de precipitação e a razão percentual média do fluxo de calor no solo (G/Rn), e os fluxos de calor sensível (H/Rn) e latente (λE/Rn) em relação à radiação liquida. a) 8000 Wm -2 6000 4000 2000 15/2/06 15/1/06 15/12/05 15/11/05 15/10/05 15/9/05 15/8/05 λE H 400 350 300 250 200 150 100 50 0 fev-06 jan-06 dez-05 nov-05 out-05 set-05 ago-05 jul-05 jun-05 mai-05 abr-05 mar-05 fev-05 jan-05 dez-04 nov-04 out-04 set-04 % 70 60 50 40 30 20 10 0 ago-04 mm 15/7/05 Diário Rn b) 15/6/05 15/5/05 15/4/05 15/3/05 15/2/05 15/1/05 15/12/04 15/11/04 15/10/04 15/9/04 15/8/04 0 Meses PRC - mm λE/Rn H/Rn G/Rn Figura 1 - Variação diária dos componentes do balanço de energia (a) e variação mensal da precipitação e da partição dos componentes do balanço de energia para o período estudado (b). No início do plantio, nos primeiros meses a partição da radiação liquida foi semelhante para os fluxos de calor latente e sensível (Figura 1a). Com o crescimento das arvores verifica-se um aumento do índice de área foliar e do sistema radicular, resultando num aumento do potencial evapotranspirativo da floresta, fazendo com que a maior parte da energia fosse destinada para mudança de fase da água. Os valores de precipitação influenciam diretamente na partição de energia, podendo observar uma maior diferença percentual entre os fluxos de calor latente e sensível quando houve um aumento da disponibilidade de água no sistema (Figura 1b). A fração da radiação liquida utilizada para o aquecimento do solo permaneceu constante para todo o período estudado. Verifica-se que a fração da energia disponível destinada a evapotranspiração foi sempre maior que a fração destinada ao aquecimento do sistema solo-planta-atmosfera. Observa-se também que os fluxos de calor latente são maiores no final período estudado, 59,57% de Rn. Pereira (2001) verificou que a maior parcela da energia foi utilizada na forma de calor latente, com irradiância solar global elevada e água suficientemente disponível na floresta, chegando atingir um percentual de 66 % no mês de dezembro (inicio da estação chuvosa). 4. Conclusão Dois fatores influenciaram na maior partição para o fluxo de calor latente da energia disponível no sistema solo-planta (floresta de eucalipto) - atmosfera. O primeiro é o desenvolvimento rápido da floresta jovem, relacionada ao aumento da capacidade evapotranspirativa (aumento do índice de área foliar e sistema radicular). O segundo refere-se à maior disponibilidade hídrica do solo, verificado nos períodos chuvosos. 5. Referências Bibliográficas BOWEN, I.S. The ratio of heat losses by conduction and by evaporation from any water surface. Physical Review, New York, 27: 779-787, 1926. PEREIRA, M. G. P. Balanço de radiação e de energia em um ecossistema de floresta tropical na Amazônia Central. Viçosa, MG. 54p. Dissertação (Mestrado em Meteorologia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, 2001. P. J. PEREZ et al., Assessment of reliability of Bowen ratio method for partitioning fluxes, Agricultural and Forest Meteorology, Volume 97, Issue 3, 18 November 1999, Pages 141150.