XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. DETERMINAÇÃO DOS COMPONENTES DO BALANÇO DE ENERGIA EM PASTAGENS NO SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO. Francis Henrique Tenório Firmino¹, Apolo Alves Ribeiro², Cássia Bezerra Machado², Rodolfo Marcone Silva Souza³; Jéssica Emanuella da Silva Oliveira1; Eduardo Soares de Souza4; José Romualdo de Sousa Lima5. Introdução Uma forte característica da pecuária brasileira é o fato de que a maior parte do rebanho é criada a pasto (Ferraz & Felício, 2010) com sistema extensivo de produção em virtude da extensão territorial do país, que garante o cultivo de grandes áreas de gramíneas. Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006, no Brasil existem aproximadamente 172 milhões de hectares cultivados com pastagens (naturais e plantadas), sendo que no estado de Pernambuco esta área é de 2.506.730 ha (IBGE, 2006). Apesar da grande importância das pastagens, foram realizados poucos estudos sobre os parâmetros agrometeorológicos que atuam na evapotranspiração de pastagens. O balanço de energia é um dos métodos utilizados para medir a evapotranspiração de forma simples e menor custo, quando comparado aos lisímetros de pesagem (Lima et al., 2011). Próximo a superfície e de forma simplificada, o balanço de energia é representado pela participação do saldo de radiação (Rn), nos seguintes fluxos: fluxo de calor no solo (G), fluxo de calor sensível (H) e em fluxo de calor latente (LE). Bowen (1926) desenvolveu o método do balanço de energia baseado no quociente entre os fluxos de calor sensível e latente, o qual combina as variáveis atmosféricas e a energia disponível na superfície evaporante. Métodos micrometeorológicos quantificam estes fluxos e permitem avaliar as transformações da energia radiante em calor latente e sensível, simulando assim, a contabilidade destas interações. O objetivo do trabalho foi determinar os componentes do balanço de energia, pelo método da razão de Bowen em solo cultivado com pastagem no semiárido pernambucano. Material e métodos As medidas para a determinação dos fluxos de energia foram efetuadas em área de pastagem cultivada com capim corrente. Essa área está localizada na Fazenda Buenos Aires situada no município de Serra Talhada - PE (7º59’31” S e 38º17’59” O, 430 m), Microrregião do Vale do Pajeú. O clima é classificado por Köppen como Bsh, caracterizado como sendo quente e semiárido, com chuvas de verão concentrada entre dezembro e maio (85%). A precipitação média anual é de aproximadamente 600 mm. O solo da área é classificado como Luvissolo Crômico. Para determinação do Balanço de Energia instalou-se uma torre no centro da área contendo dois sensores de medidas da temperatura e da umidade relativa do ar, e da velocidade do vento, em dois níveis (z 1 = 50 cm, e z2 = 100 cm) acima do dossel da pastagem. Também foi instalado um piranômetro para a medida da radiação global, um radiômetro para as medições do saldo de radiação, e um pluviógrafo, para a medida da precipitação pluvial, sendo instalados na mesma torre, 2,0 m acima da superfície do solo. Para a medida do fluxo de calor no solo, a obtenção se dá por meio de fluxímetros em dois locais numa profundidade z1 = 5,0 cm, juntamente com um sensor de umidade do solo na mesma profundidade, além de duas sondas térmicas instaladas horizontalmente nas profundidades de z 1 = 2,0 cm e z2 = 8,0 cm. Todas as medidas citadas acima são armazenadas como médias a cada 30 minutos, a exceção da pluviometria onde será calculado seu valor total, em um sistema de aquisição de dados CR 1000 da Campbell Scientific. O balanço de energia na superfície do solo pode ser escrito através da seguinte equação (Lima et al., 2011): Rn G H LE (1) Sendo Rn saldo de radiação (W m-2); G fluxo de calor no solo (W m-2); H fluxo de calor sensível (W m-2) e LE fluxo de calor latente (W m-2). A partição da energia disponível (Rn-G) entre fluxo de calor latente e fluxo de calor sensível pode ser obtida pelo método do balanço de energia – razão de Bowen, baseado na razão das densidades de fluxo de calor sensível e calor latente, sendo determinada pela razão entre as diferenças na temperatura do ar e na pressão de vapor em dois níveis: 1Graduandos em Agronomia da UFRPE/UAG, Av. Bom Pastor s/n, Boa Vista, CEP: 55292-270, Garanhuns-PE, e-mail: [email protected]; ² Mestrandos do Curso de Produção Agrícola da UFRPE/UAG, Av. Bom Pastor s/n, Boa Vista, CEP: 55292-270, Garanhuns-PE. 3 Mestrando do Curso de Produção Vegetal da UFRPE/UAST, Fazenda Saco s/n, Boa Vista, CEP: 56.900-000, Serra Talhada-PE 4 Professor da Unidade Acadêmica de Serra Talhada da UFRPE, Fazenda Saco s/n, Boa Vista, CEP: 56.900-000, Serra Talhada-PE 5Prof.º Dr.º da Unidade Acadêmica de Garanhuns da UFRPE, Av. Bom Pastor s/n, Boa Vista, CEP: 55292-270, Garanhuns-PE, e-mail: [email protected] XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. H T LE e (2) sendo a constante psicrométrica (0,066 kPa oC-1); T a diferença de temperatura do ar (oC) e e a diferença de pressão de vapor (kPa). A partir das medições do saldo de radiação (Rn), do fluxo de calor no solo (G) e das diferenças de temperatura do ar () e de pressão de vapor (e), juntamente com a equação do balanço de energia (equação 1), utilizando-se a razão de Bowen ((equação 2), procedeu-se o cálculo dos fluxos de calor latente (LE) (equação 3) e calor sensível (H) (equação 4): LE Rn G 1 (3) H 1 Rn G (4) Resultados e Discussão Os dados apresentados são referentes aos componentes do balanço de energia durante o período de 01/08/2012 a 12/06/2013, totalizando 316 dias. A Figura 1 apresenta a evolução diária da radiação solar global (Rg) e dos componentes do balanço de energia (fluxos de calor latente (LE) e fluxo de calor sensível (H)). Esses componentes foram obtidos utilizando o método do balanço de energia, baseado na razão de Bowen. Observa-se que a radiação solar global (Rg) variou de 6,43 a 22,280 MJ m-2 dia-1, com valor médio de 16,97 MJ m-2 dia-1; Para os valores médios dos fluxos de calor latente (LE) e sensível (H) foi de 1,43 e 5,72 MJ m-2 dia-1, respectivamente. A baixa demanda hídrica compromete a pastagem no que diz respeito ao desenvolvimento, alterando assim o seu processo de transpiração tendo em vista o baixo índice de calor latente (LE) e maior participação do fluxo de calor sensível (H). A não visibilidade dos fluxos no gráfico do período de 16/02/2013 a 07/03/2013 foram comprometidos no ato de manutenção da torre. Juárez (2004) discorre que não apenas o saldo de radiação é controlador do fluxo de calor sensível, como também a cobertura do dossel presente na área. A baixa oferta de umidade ocasionada pelo período seco da região é um forte fator ao não desenvolvimento da vegetação, consequentemente diminuição da atividade fotossintética. Com a diminuição da pastagem uma maior quantidade de energia fica disponível para ser convertida em fluxo de calor sensível. A variação horária dos componentes do balanço de energia de pastagem para o dia 12/04/2013, sem precipitação pluviométrica, característicos do período seco, é apresentada na Figura 2-A. O valor médio dos fluxos de calor latente (LE) e sensível (H) foi 16,59 e 76,45 W m-2, respectivamente. Para o máximo e o mínimo do dia os mesmos estão entre 54,6 à -3,23 W m-2, para o fluxo de calor latente (LE) e 334,01 à 18,05 W m-2, para o fluxo de calor sensível (H). A não ocorrência da precipitação ocasiona à secagem do solo, favorecendo que a maior parte da radiação líquida começa a ser usada no processo de aquecimento do ar e do solo, diferente do que ocorre na figura 2-B, que apresenta a variação horária dos componentes do balanço de energia (saldo de radiação, fluxos de calor no solo, latente e sensível) na pastagem num dia com precipitação pluviométrica, característico do período úmido. Com um total de chuvas de 4,06 mm, com distribuição desuniforme durante todo o dia 18/01/2013, observa-se um efeito direto sobre o calor sensível (H), visto que na presença de precipitação o calor latente (LE) assume maior participação do que o calor sensível (H). Para os valores médios dos fluxos de calor latente (LE) e sensível (H) foi de 92,18 e 13,21 W m-2. A presença da disponibilidade hídrica é a principal responsável por esse aumento do calor latente e consequentemente por maiores taxas no processo de evapotranspiração. Prevedello et al., (2007), medindo o consumo de água na cultura de trigo, afirmaram que a adição de água ao sistema tem importante efeito no armazenamento de água no solo, contribuindo diretamente na participação do calor latente (LE) e consequentemente nas taxas evapotranspirativas. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq/UFRPE, pela concessão da bolsa de Iniciação Científica, aos proprietários da Fazenda Buenos Aires, pelo espaço cedido para realização do trabalho, e toda a equipe dos Laboratórios de Solos da Unidade Acadêmica de Garanhuns/UFRPE. Referências BOWEN, I.S. The ratio of heat losses by conduction and byevaporation from any water surface. Phys. Rev., 27:779787,1926. IBGE. Banco de dados agregados. [Online]. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em 02/11/12. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. FERRAZ, J. B. S.; FELÍCIO, P. E. D. Production systems ‐ An example from Brazil. 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Evolução diária da radiação solar global (Rg) e dos componentes do balanço de energia (LE e H ) sobre uma pastagem no semiárido durante o período de 01/08/2012 a 12/06/2012 em Serra Talhada –PE. Figura 2. Evolução horária dos componentes do balanço de energia em Capim corrente, em Serra Talhada –PE, em ADia sem Precipitação; B- Dia com Precipitação.