NOVOS ELEMENTOS TEÓRICOS PARA PENSAR AS PRÁTICAS ECOLÓGICAS NO BRASIL Agripa Faria Alexandre1 RESUMO O artigo critica a interpretação do movimento ambientalista brasileiro como um movimento histórico e multissetorial. Explica os pontos fracos desta interpretação, sua repercussão que orientou pesquisas sobre o comportamento político brasileiro, e que, afinal, também serviram para difundir uma interpretação equivocada sobre as políticas ecológicas em prática no Brasil. Em segundo lugar, apresenta a teoria do ambientalismo político, seletivo e diferencial como uma variável interpretativa da configuração e difusão das atividades ecológicas em curso no país. Introdução Neste artigo, o objetivo relacionado à exposição de novos referenciais teóricos e metodológicos para a compreensão das práticas ecológicas que vêm sendo desenvolvidas no Brasil parte das seguintes questões: 1) A interpretação do movimento histórico e multissetorial, traçada por Eduardo Viola, pode significar ainda a mais correta interpretação sobre a gênese e o desenvolvimento do movimento ambientalista no Brasil, desde a sua formulação 2 ?; 2) Qual seria uma interpretação distinta com maior poder de convencimento para explicar as práticas ecológicas atuais? Nossa hipótese consiste em demonstrar, em primeiro lugar, que a interpretação do movimento histórico e multissetorial jamais conseguiu captar a gênese e o desenvolvimento do ambientalismo no Brasil. Fundamentalmente, o artigo procura explicar o pontos fracos desta interpretação, sua repercussão que orientou pesquisas sobre o comportamento político brasileiro, e que, afinal, também serviram para difundir uma interpretação equivocada sobre as políticas ecológicas em prática no Brasil. Em segundo lugar, trata-se de apresentar a teoria sobre o ambientalismo político, seletivo e diferencial como uma variável interpretativa da configuração e difusão das atividades ecológicas em curso no país. A título introdutório convém ainda salientar que, apesar da crítica desenvolvida ao longo deste trabalho, há a relevância da obra de Eduardo Viola como desbravador teórico da temática do movimento verde no Brasil. O seu trabalho destaca-se pelo potencial analítico preciso e singular, com larga utilização de material empírico. Não quero aqui impor uma reflexividade alternativa sem considerar portanto a influência que dele recebemos e precisamente argumentar que sua discussão em torno do ambientalismo continua a merecer grande simpatia, embora eu não possa me incluir nela. O ambientalismo como um movimento histórico e multissetorial 1 Professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Doutorando do Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC. Membro fundador do Instituto de Ecologia Política. E-mail: [email protected] 2 Referente ao ano de 1991, quando apresentada no Grupo de Trabalho “Ecologia, Política e Sociedade” no XV Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, Caxambu, MG, entre 15 e 18 de outubro de 1991, por Eduardo Viola. O movimento ambientalista brasileiro compreendido como um movimento histórico e multissetorial: “(...) parte da conceituação de que a civilização contemporânea é insustentável a médio e longo prazo devido a quatro fatores: 1) crescimento populacional exponencial; 2) depleção da base de recursos naturais; 3) sistemas produtivos que utilizam tecnologias poluentes e de baixa eficiência energêtica; e 4) sistema de valores que propicia a expansão ilimitada do consumo material” (VIOLA, 1992:51). No Brasil, trata-se da abordagem mais corrente e usual. Interpretado originalmente por Viola, o ambientalismo como movimento histórico é chamado enquanto tal em decorrência da hipótese sobre a existência de uma clivagem sócio-política profunda no mundo contemporâneo, a qual estaria se dando entre as forças conservadoras da civilização predatória-perdulária e as forças reformistas que apontam na direção de uma civilização ecologicamente sustentável (VIOLA, 1992:51). A explicação aqui sobre a existência do ambientalismo como força transformadora da história mostra que tal fenômeno ocorre devido à emergência de valores pós-materialistas engendrados no Ocidente desde a década de 1960 por forças de setores mais educados da população. Esses setores estariam dispostos a demandar qualidade de vida ao invés de expansão indiscriminada do consumo de bens materiais, e a razão para tanto decorreria de uma já alcançada satisfação das necessidades materiais básicas pelos integrantes desses setores. É preciso ressaltar ainda, segundo Viola, que a essa demanda por qualidade de vida soma-se, em especial a partir da segunda metade da década de 1980, a percepção sobre os graves riscos envolvidos nos problemas ambientais do planeta, como: 1) 2) 3) 4) depleção da camada de ozônio; aquecimento global; perda de biodiversidade; e devastação intensa das florestas tropicais (VIOLA, 1992:51). O ponto fundamental, entretanto, observado também por Viola, é o pressuposto de análise para explicar o nascimento e o desenvolvimento do ambientalismo no Brasil que estaria ligado à teoria da ‘agenda aquisitiva’ de Ronald Inglehart (1990) , a qual confere importância decisiva ao elemento cognitivo para explicar as mudanças políticas a partir do Segundo Pós-Guerra. A tese de Inglehart retira da explicação da psicologia existencialista de Abraham Maslow (1972) a idéia da ‘hierarquia das necessidades humanas’, a via principal da sofisticação cognitiva do ator social. Para Inglehart assim como para Maslow, a causa das importantes mudanças sociais estaria diretamente relacionada com o fabuloso desenvolvimento econômico deste período, razão que teria possibilitado incrementos significativos nas áreas da educação e tecnologia nos países centrais do capitalismo. A sociedade do Bem-Estar Social gerou assim uma nova disposição cultural e uma atitude política que vieram a desafiar as elites. O modo de fazer política inverte-se, passando da direção das elites, quando se pressuponha um público passivo, porque pouco educado e portanto com poucas necessidades satisfeitas, para um contexto de pressão advinda de um público fortemente reivindicante, o que dificultaria a permanência da confortante situação de manipulação e arregimentação por organizações e líderes políticos. A proposta de Inglehart sobre o advento de novos movimentos sociais dispostos a reivindicar, de maneira inédita, melhor qualidade de vida está condicionada à pressão do 2 mundo das necessidades humanas. Em outras palavras, Inglehart entende que o redirecionamento dos conflitos de classe para conflitos de ordem imaterial ou pós-material depende da supressão fundamental dos problemas de ordem econômica. Isso, no entanto, amara o comportamento individual às premissas de um ‘economicismo filosófico’ e que coloca, na verdade, o valor do alcance da modernidade como etapa a ser vencida inquestionavelmente. Em outras palavras, o advento dos movimentos libertários ou novos movimentos sociais como o ambientalismo estaria dependente de um contínuo e crescente aumento de toda a engenharia social moderna. O argumento de Inglehart não altera, na verdade, aquilo que faz descrever, uma vez que seu desenho interpretativo sublinha um pano de fundo progressivo. A necessidade econômica seria, portanto, ao mesmo tempo o freio e a libertação das mudanças culturais modernas. A partir desse dado são descritas mudanças sociais se dando em diferentes setores sociais. A clivagem sócio-política profunda da descrição do ambientalismo enquanto um movimento histórico poderia ser percebida amplamente não só entre as organizações nãogovernamentais preocupadas com a questão ambiental mas também em: a) setores do empresariado cujos sistemas produtivos preenchem em medida significativa o critério do desenvolvimento sustentável; b) grupos e instituições científicas cujo esforço de pesquisa coloca-se no rumo da sustentabilidade; e c) certos órgãos governamentais oficialmente criados para a proteção ambiental, desenvolvendo atividades de fiscalização e certificação ambiental, por exemplo (VIOLA, 1992:52-53). Independentemente da ideologia (VIOLA, 1992:52), o enfoque do movimento histórico privilegia o conjunto das organizações não-governamentais e grupos comunitários ambientalistas e a estrutura de redes que estas constituem com os outros atores, sejam estes empresários, cientistas, agências governamentais ou internacionais. O enfoque do movimento histórico aborda as oportunidades intermediárias resultantes dos choques ideológicos entre o sistema político e os grupos radicais do ambientalismo. Dessa forma, o pressuposto básico é de que o conflito social, definido enquanto clivagem sócio-política profunda, não encontra-se nitidamente delineado na sociedade, havendo pois uma trajetória difusa dos valores ambientalistas que percorre todos os setores sociais. Em termos mais práticos, a abordagem do movimento ambientalista como um movimento histórico e multissetorial no Brasil, propõe eminentemente percebê-lo como um movimento que surge primeiramente preocupado com ações de denúncia e desenvolvimento de trabalhos educativos de conscientização ambiental (1971-1986), passando a ser caracterizado em seguida por formação de redes multissetorias (1987 em diante), o que subentende a aceitação das práticas ditas ‘ecológicas’ por diversos setores da sociedade. Entre estes setores, a teoria destaca: 1. O movimento dos atingidos pelas barragens (CRAB), surgido no Sul, no início da década, mas expandido nacionalmente no presente momento (SCHERERWARRER e REIS, 1988; e SILVA, 1991); 2. O movimento dos seringueiros – a interação com grupos ambientalistas permitelhes elaborar o programa das reservas extrativistas, de relevância internacional depois do assassinato de Chico Mendes (HECHT e COCKBUM, 1989; e DWYER, 1990); 3. Os movimentos indígenas – a interação com grupos ambientalistas, particularmente internacionais, levou-os a explicitar melhor o conteúdo de proteção ambiental de sua luta pela terra e demarcação de reservas (SEVÁ, 1989); 3 4. Alguns setores dos movimentos dos trabalhadores rurais sem-terra, particularmente no Sul, colocam uma dimensão ambiental na sua luta pela reforma agrária (SCHERER-WARREN, 1990); 5. Os setores do movimento de mulheres têm mostrado disposição para articular as questões feministas às ambientalistas, embora não exista nenhum grupo ecofeminista equivalente aos do Primeiro Mundo; 6. Os setores dos movimentos de bairros, através de dois caminhos diferentes. De um lado, o que surge após a agressão ostensiva ao ambiente por parte de uma fábrica, por exemplo; de outro lado, aqueles que se fazem a partir de mutirões e núcleos pró melhoria da qualidade de vida, com reciclagem de lixo, limpeza de rios, lagoas etc. (JACOBI, 1989); 7. O movimento pacifista, embora de dimensões muito reduzidas, tem forte interinfluência com o ambientalismo, destacando-se os grupos articulados pelo Serviço de Justiça e Paz; 8. Os movimentos de defesa do consumidor – uma parte significativa de seus membros tinha experiência prévia em ambientalismo; 9. Os movimentos pela saúde ocupacional, que reúnem ativistas sindicais e médicos sanitaristas, tendem a ampliar o escopo de seu trabalho incluindo a qualidade do ambiente exterior à fábrica; 10. Um setor reduzido do movimento estudantil, em alguns campi, tem tratado de debater a problemática ambiental dentro da universidade (poluição criada pelos laboratórios e hospitais, lixo, cuidado com as áreas verdes, conservação de energia; 11. Os grupos para o desenvolvimento do potencial humano (homeopatia, acupuntura, ioga, tai-chi-chuan, escolas alternativas etc.) têm enfatizado a relação entre o meio ambiente externo e a “ecologia pessoal.” (VIOLA, 1992: 63-64) E mais ainda: 1) grupos comunitários ambientalistas de profissionais, semiprofissionais e amadores; 2) as agências estatais ambientais no nível federal, estadual e municipal; 3) os grupos sócio-ambientalistas de ONGs, sindicatos e outros movimentos sociais preocupados, por exemplo, com questões ligadas a problemas de pessoas atingidas pela construção de grandes obras públicas (represas e reservatórios), problemas de saúde de trabalhadores rurais contaminados pela utilização de agrotóxicos, problemas ainda de associações de bairro que procuram priorizar o enfrentamento da falta de esgoto e habitação em zonas urbanas de periferia, enfim, poder-se-ia incluir aqui também outros movimentos sociais (feministas, pacifistas etc.), que redefinem suas bandeiras em prol da ecologia; 4) os grupos de cientistas e pesquisadores de instituições universitárias preocupados com a temática ambiental; 5) o ambientalismo dos políticos e partidos; 6) o ambientalismo dos religiosos; 7) o ambientalismo dos empresários; e, por fim, 8) o ambientalismo dos educadores, jornalistas e artistas (VIOLA e LEIS, 1995: 135). Em termos de aplicação metodológica, o referencial analítico do multissetorialismo empreendeu um projeto de grande repercussão nacional, porque fomentado pelo Ministério de Meio Ambiente, com a coordenação de Samyra Crespo e Pedro Leitão e que resultou nas versões em livro de: O que o brasileiro pensa da ecologia (1993); e por Samyra Crespo: O que o brasileiro pensa sobre o meio ambiente, desenvolvimento e sustentabilidade (1997), ambos com a consultoria técnica de Eduardo Viola. 4 O primeiro estudo, concebido sob a forma de relatório, está dividido em duas etapas, a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa. A primeira etapa procura satisfazer uma curiosidade sobre o sentido da vida para uma população de brasileiros na sua maioria (75%) composta por pessoas habitantes de centros urbanos e que, relativamente, sente seus problemas como problemas urbanos, desfazendo assim a imagem, construída pela mídia internacional, de um país apenas possuidor de uma grande floresta tropical, cuja realidade reduz-se às queimadas que destroem a floresta em volumes anuais alarmantes (CRESPO & LEITÃO, 1993: VII). A amostra, no entanto, só é representativa do universo social “ambientalizado” com relação à problemática ambiental, cujo perfil social conta com o elevado nível de instrução – 83%, com superior completo, grande parte dele com pós-doutorado e doutorado no exterior (ibidem: 06). Em outras palavras, o estudo aponta, de saída, para a intenção de corroborar a tese inglehartiana. Na conclusão desta pesquisa, chama a atenção o entendimento segundo o qual seria indicativo, àquela época (1991-1992), de que o ambientalismo não se enraizou no país pela ausência de conflitos, tal como não ocorreu contra a reforma agrária com a criação da UDR ( União Democrática Ruralista) (ibidem: 176). Como o trabalho procura destacar, o ambientalismo somente apresentaria reflexo maior dentro de uma sociedade moderna padrão, disposta a reclamar valores pós-materiais. A segunda etapa, referente à pesquisa quantitativa, colheu respostas de 3.650 brasileiros, entre homens e mulheres, dos 16 (6%) aos 51(22%), habitantes da região Sul à região Norte, sobre como eles interpretam, valorizam e priorizam o tema ecologia, quais as informações conceituais e factuais que detêm, enfim, qual sua principal fonte de informação, como se comportam face aos problemas ambientais. Vale a pena transcrever aqui algumas das sínteses sobre essa pesquisa: Referente ao conhecimento e adesão a valores relacionados com o meio ambiente: “considerando as tendências majoritárias manifestadas neste bloco, pode-se dizer, em síntese, que o brasileiro valoriza a natureza em abstrato, colocandose favoravelmente a sua preservação em si, inclusive considerando-a sagrada. Por outro lado, ele se mostra dividido no que diz respeito à necessidade de preservação da natureza brasileira, do mesmo modo que se apresenta dividido sobre a capacidade da ciência e dos cientistas para resolverem ou explicarem os problemas ambientais da atualidade. O brasileiro demonstra não possuir informações específicas sobre questões ambientais, chegando a afirmar que o petróleo é um recurso natural inesgotável. No entanto, no nível de sua intervenção direta e pessoal, o brasileiro acredita ser necessário controlar o crescimento populacional, estando assim propenso a aderir a um dos temaschave do pensamento ambiental contemporâneo” (ibidem: 196). Referente à ecologia, pobreza e desenvolvimento: “a julgar pelas informações obtidas neste bloco, a população brasileira encontra alguma dificuldade em posicionar-se com relação ao conjunto ecologia, pobreza e desenvolvimento, na medida em que se mostra contraditória e dividida em relação a alguns desses temas. (...)Quando indagado, de diferentes modos, sobre o conceito de desenvolvimento e sobre o atual estilo de desenvolvimento, o brasileiro posicionou-se de maneira diversa ante aspectos associados dessas temáticas. No geral, o brasileiro tem claro que qualidade ambiental é condição inerente ao desenvolvimento, já que associa positivamente o conceito de país rico ao cuidado com o meio ambiente. Por outro lado, não associa os padrões de produção e consumo do atual estilo de desenvolvimento à degradação ambiental, quando indica ser 5 possível a manutenção desse ‘modo de produção’, desde que adequadamente compatibilizado à preserrvação ambiental. O brasileiro diz reconhecer que só com grandes mudanças nos nossos hábitos poderemos evitar problemas ambientais futuros. (...) No entanto, a aventada adequação do atual estilo de desenvolvimento à preservação ambiental não dependeria das contribuições da ciência, na medida em que o brasileiro diz também duvidar que a ciência e os cientistas entendam de fato os problemas ambientais da atualidade ou que sejam capazes de encaminhar soluções para eles. Parece, pois, tratar-se de um caso de crença no sistema capitalista industrialista, mas não na fonte de alimentação das inovações que o dinamizam, que é o par ciência-tecnologia contemporâneas. (...) Coerentemente com a identificação de riqueza com qualidade ambiental, o brasileiro acha que, apesar de pobre, o Brasil deve cuidar do seu meio ambiente. Mas apresenta-se dividido ao identificar os principais responsáveis pela degradação da natureza, se os países ricos ou os pobres. Também está dividido sobre a pertinência da troca de parcelas da dívida externa nacional por projetos de conservação da natureza. Por último, e surpreendentemente, o brasileiro, de forma claramente majoritária, se diz disposto a abrir mão de emprego se isso causar mais poluição; do mesmo modo, diz que o conforto trazido pelo progresso é menos importante que preservar a natureza.Tudo isso revela haver contradição e divisão na opinião pública ante a temática da pobreza, o meio ambiente e o desenvolvimento” (ibidem: 208). O segundo trabalho de Samyra Crespo, realizado entre janeiro e fevereiro de 1997, está baseado na continuidade desta mesma pesquisa, e sua intenção consiste em monitorar tendências e oscilações de opiniões, atitudes e consciência dos cidadãos em relação às questões ambientais. Esta pesquisa traz dados mais atuais, principalmente quando inclui em suas discussões o binômio desenvolvimento e sustentabilidade, incorporado pela população brasileira por ocasião da Eco-92 e pelas discussões que se seguiram através da Agenda 21. É destaque deste relatório uma significativa incorporação de uma consciência ambiental da parte dos brasileiros. Ela está associada principalmente a uma reverência religiosa perante a natureza, o que confirma os mesmos dados colhidos em 1992. Segundo o estudo, o brasileiro também percebe de forma naturalista a natureza, desconsiderando-a do ambiente urbano de cidades e favelas. Os problemas ambientais mais presentes entre os brasileiros são o desmatamento e a contaminação dos recursos hídricos. Em termos gerais, convém observar, para o primeiro relatório, que os dados construídos estão viciados, como os próprios autores ponderam, pela influência do momento em que se deu a pesquisa, imediatamente antes da realização da Rio-92, o que indica possivelmente que as respostas colhidas tenham recebido grande influência da mídia, então fortemente orientada pró-presenvação ambiental (ibidem: 253). Ou seja, a percepção sobre um sentido inequívoco sobre ecologia para os brasileiros deveria levar em conta um relativismo momentâneo. Além disso, a aferição dos valores da cultura brasileira com relação a todas aquelas questões elaboradas pela pesquisa, transcritas acima, denota somente uma dualidade incômoda para os pesquisadores. Pode-se inferir daí que, no Brasil, o sentido de meio ambiente que se vem procurando fundar está relacionado estreitamente com a premissa da visão preservacionista da relação homem e natureza, desconsiderando outras posturas, regionalidades divergentes e especificidades das tradicionais correntes de pensamento político das sociedades modernas que podem ser explicita ou implicitamente reveladas pelos entrevistados. A pesquisa de 1992 apenas sustenta ao final que: 6 “devido a nossa prática desenvolvimentista historicamente, não se tem preocupado exatamente com a sustentabilidade ou com a preservação. Ou seja, na prática, a nossa experiência real não é pró-natureza. Consequentemente, no mínimo, os brasileiros vivem uma dupla e contraditória relação com ela, na medida em que lhe atribuem valor e importância, ao mesmo tempo em que a exploram sem cuidado com sua preservação” (ibidem: 253). Da mesma forma, a pesquisa de 1997 apresenta dificuldades de relacionar aspectos divergentes da cultura brasileira, acusando claramente uma relação direta entre riqueza e sensibilidade ambiental, típica das teses pós-materialistas das pesquisas de R. Inglehart (1993). Nos resultados apontados por esta pesquisa: “o meio ambiente não aparece entre as principais preocupações dos brasileiros – desemprego, saúde, educação, segurança e moradia são as prioridades mais citadas - “ele” (destaque nosso) ocupa o 7º lugar nas preocupações de pessoas com renda mais alta e mais educada. Entre as pessoas de menor escolaridade e menor renda, esta preocupação cai para 11º lugar” (CRESPO, 1997:03). O ambientalismo como um movimento político, seletivo e diferencial Uma interpretação diferencial do multissetorialismo assume, de saída, a tarefa de destacar um ponto fundamental. A descrição do movimento ambientalista tendo como pressuposto teórico subjacente a existência desse movimento como expressão de uma clivagem sócio-política profunda acentua apenas quais são os setores ou grupos sociais envolvidos com os problemas ambientais, sem contudo: 1) interpretar as mudanças que a questão ambiental provoca neles; 2) como a questão ambiental interfere nas questões sociais e políticas locais, regionais e nacionais; 3) diferenciar os resultados pontuais dessa interferência; 4) em quais oportunidades políticas os assuntos ambientais estão colocados; 5) nomear quais são as linhas políticas e suas formas de incorporação da questão ambiental. A tese de Viloa confere pouco destaque, ao nosso ver, ao aspecto central do processo de assimilação cultural da carga teórica do ambientalismo em relação aos elementos determinantes do poder (ALEXANDRE, 2000; ECKERSELEY, 1992; SOUZA, 2001,a,b). Desse modo, evidencia-se a razão pela qual a ênfase na descrição de tendência história que destaca a existência de uma chamada clivagem sócio-política profunda simplesmente elimina toda uma reflexão crítica em torno da influência das principais ideologias políticas modernas – liberalismo político (século XVII); conservadorismo (século XVIII); socialdemocracia (século XIX); comunismo (século XIX e XX); anarquismo (século XIX); para não mencionar outras posturas, também existentes entre nós, ligadas, por exemplo, às culturas indígenas e afro-brasileiras que apresentam modos diferenciados de percepção de ordens imanentes e transcendentes. Em contrapartida, nossas investigações apontam para uma comparação entre os diversos aspectos desse movimento, sem perder de vista a política e os valores culturais das diversas regiões do país. O que a nós importa é revelar o pano de fundo das principais práticas 7 sociais que se proclamam ecológicas. É sociogênica nossa tarefa, embora reconheça a grandeza da influência causal psicológica motivadora de tomadas de atitudes disruptivas para a normatividade social. Ao contrário da tese do multissetorialismo, empreende-se aqui um esforço de qualificar o sentido da ação social, recorrendo ao campo seletivo de bens culturais preexistentes que orientam as condutas humanas. É claro que, no caso das práticas ambientalistas, isso torna-se possível pela existência de um número significativo de grupos verdes no território brasileiro. Esses grupos empreendem as mais diversas ações orientadas para o desafio do entendimento intersubjetivo de seus valores culturais perante representantes das diversas esferas de governo e de segmentos classistas e setoriais da sociedade. A interpretação das atitudes diferenciais desse universo do ambientalismo político inscreve-se numa perspectiva recente de reflexão que pretende entender a política como um fenômeno de aprendizado moral referente à apreensão singular da modernidade ocidental, antevendo, de saída, que todas as categorias modernas são incorporadas seletiva e diferencialmente pelos país. Assim, entende-se aqui que comportamentos e atitudes singulares, ligadas à defesa de alguma idéia de bem cultural, só podem ser tematizados dentro desse contexto. Ao falar da democracia, no sentido contemporâneo ligado ao que se entende como procedimento de legitimação de comportamentos morais na esfera pública (HABERMAS: 1997), exige-se, por coerência, um diagnóstico do sentido da modernidade que lhe serve de chão. No caso brasileiro, há inúmeras especificidades da questão democrática ligadas à discussão dos valores do ambientalismo mundial. São influências anteriores de hábitos e instituições através das quais se modifica ou se busca afinidades eletivas para a compatibilização dos interesses e conteúdos normativos fornecidos pelas leituras da própria dinâmica societária. Em termos bastante precisos, a tese do ambientalismo multissetorial vem sendo responsável por destacar, acertadamente, o elemento cognitivo no jogo político, o que passa a ser de fundamental importância em desfavor da frequente manipulação emotiva ou instrumental do mercado na determinação de preferências valorativas culturais. O destaque à força de ação típica das posições dos verdes é irrefutável. Tampouco se desconsidera o potencial emancipatório da livre argumentação na esfera pública, como no caso das vias de debates criadas com a abertura democrática brasileira. Tal como a tese do ambientalismo multissetorial é descrita, no entanto, parece haver uma incorporação singular e monolítica dos diversos valores verdes no Brasil. Dizer simplemente que existe uma crescente incorporação de valores ambientalistas no Brasil, tal como foi destacado acima no trabalho de Crespo (1997) é muito pouco, afastado o propósito de qualificar esse ambientalismo que até então aparenta ser um amalgama multissetorial incompreensível politicamente. Nesse sentido, antes de tudo, poderia se falar de uma diferença de fundo no debate, diferença essa que teria como pressupostos analíticos uma modernidade acrítica, de um lado e, de outro, uma modernidade crítica. A modernidade acrítica estaria relacionada com as categorias padrões das teorias da modernidade, as quais foram desenvolvidas pelas ciências sociais desde o século XVIII para explicar um processo contínuo de crescimento e diferenciação das sociedades, e que cujo elogio acrítico estaria centrado na capacidade econômica, no desenvolvimento da sociabilidade humana em termos de maior racionalização e autonomia funcional dos indivíduos. A sociedade moderna seria o contraponto das sociedades antigas e medievais, considerada que foi por desenvolver, a partir da Europa, relações sociais mais secularizadas e que já carregaria em seu germe um padrão de evolução ou progresso moral e político irresistíveis e irreversíveis. Dessa forma, as ondas de modernização de um centro europeu seriam uniformemente consolidadas com o desenvolvimento de certas instituições fundamentais ‘autênticas’, como um mercado competitivo e um estado controlador geralmente democrático. 8 Como pode ser percebido, a modernidade imaginada como tal implicou na generalização excessiva para explicar um tipo único, perfeito e universal de desenvolvimento histórico, econômico e político social de todas as nações contemporâneas, inclusive repercutindo em certas metodologias antropológicas de estudo de grupos étnicos não incorporados corretamente pela distribuição dos ‘benefícios’ da construção do cenário geopolítico mundial – os povos e culturas que receberam impactos negativos dos processos de colonização. No caso do Brasil, essas interpretações do processo de modernização sempre consideram o país como um caso ‘inautêntico’ de sociabilidade moderna, com um sentido negativo aduzido às estruturas sociais não suficientemente acomodadas para receber os benefícios da modernidade. Segundo Souza (2000), tal comportamento: “(...) é visto, quase sempre, como possuindo alguma dose de afetação e superficialidade, conferindo substância à expressão, ainda hoje muito corrente no Brasil para designar comportamentos exteriores, superficiais, para ‘causar impressão’, que é o dito popular ‘para inglês ver’. Essa leitura do processo de modernização brasileiro como um processo inautêntico, tendo algo de epidérmico e pouco profundo, é precisamente o fundamento do que viemos chamando (...) de nossa sociologia da inautenticiade. Inautenticidade precisamente do processo de modernização que não teria logrado institucionalizar os valores individualistas e burgueses da Europa moderna e não-ibérica. Existem incontáveis versões desse tipo de sociologia. Ela está na base da teorização de um Roberto Schwartz sobre a sociedade do ‘favor’ e na qual as ‘idéias estão fora de lugar’, argumento defendido no contexto da sua interpretação de Machado de Assis. As idéias fora do lugar, no caso, são idéias liberais numa sociedade escravocrata” (SOUZA, 2000: 236). Nas palavras de Krischke3: “Considero que a modernidade acrítica pode ser definida nos termos usuais das chamadas teorias da modernidade como algo inteiramente positivo e inescapável, que se impõe aos indivíduos e às sociedades se que estes tenham que decidir nem refletir adequadamente sobre a sua escolha ou o seu aperfeiçoamento. Em uma palavra, é a sociedade de consumo, com toda a sua voracidade, violência e massificação, onde todos eventualmente encontrariam o seu lugar, guiados pela ‘mão invisível’ do mercado. Já a modernidade crítica reconhece a reflexão e a escolha dos indivíduos e da sociedade na deliberação sobre o seu futuro” Considerando mais de perto a repercussão do ambientalismo a partir do pano de fundo destas duas perspectivas, poderia se afirmar que um mesmo tipo positivo e inescapável de influência da modernidade ‘acrítica’ acomodaria o viés pós-materialista inglehartiana para explicar a evolução e o desenvolvimento do multissetorialismo entre nós. Numa outra perspectiva, estaria presente o viés explicativo e qualificativo da especificidade moderna brasileira, segundo o qual um tipo diferente de ambientalismo político poderia ser reconhecido criticamente. Neste último caso, reconhece-se o impacto da modernidade de modo ‘crítico’, procurando, basicamente, destacar as suas categorias políticas, seletivas e diferenciais. Vale salientar portanto que não é que a descrição multissetorialista do movimento não destaque o caráter provocativo da mudança social que repercute em políticas sociais e de 3 Entrevista ao Jornal ‘A Notícia’, Florianópolis, Sábado, 8/12/2001, p. 4. 9 mercado. A tese multissetorialista faz isso muito bem quando redefine a ordem social mobilizando seus pressupostos ‘acríticos’, aqui já identificados como riqueza, alta escolaridade formal e sensibilidade ecológica para a preservação. Por isso, antes de tudo, diferenciar temas complexos como o ambientalismo significa explicar suas mensagens dentro de um arcabouço social que lhe serve de contexto. A modernidade sempre significou uma dúvida para o ambientalismo. A sua irradiação, contudo, em termos de mensagens que faz difundir, constitui um outro tema, uma vez que, como toda linguagem de símbolos de significados, é incorporada diferentemente no tecido social. Para a via de explicação da modernidade ‘crítica’, o ambientalismo político brasileiro não sofreria de um tipo de impasse insanável de ausência de larga sensibilidade ecológica preservacionista, advinda da satisfação material e reflexiva de indivíduos autônomos no mundo. Tal atitude, inclusive, reflete satisfatoriamente hábitos e costumes da classe média brasileira. O ambientalismo entendido como um leque de possibilidades interpretativas estaria difundido segundo a forma seletiva e diferencial como a modernidade se impôs entre nós. Trata-se portanto de reconhecer uma outra perspectiva positiva de interpretação de nossa condição moderna, que não é encarada necessariamente como extensão e cópia da condição moderna européia ou norte-americana. Existiria entre nós portanto uma autenticidade ambientalista, demonstrada mais a seguir como uma variável da interpretação sociológica brasileira contrária às interpretações correntes responsáveis por atribuir uma forma epidérmica ou pouco profunda, ou ainda ‘fora do lugar’ e ‘para inglês ver’ ao processo de institucionalização dos valores individualistas e burgueses entre nós. De outra forma, o ambientalismo seria apenas uma nova atitude para ‘inglês ver’, tal como pode ser divisado o processo de incorporação da modernidade padrão na literatura sociológica e antropológica brasileira, esta última, em especial, que repercute intensamente através dos ensaios de Roberto DaMatta (1997;1998). Na perspectiva analítica desta tese, o ambientalismo não constitui mais um caso de ‘inautenticidade’ de absorção de temas modernos caros para nós, em razão de que nós não teríamos uma atitude pró-natureza no sentido da expressão empregada para referendar uma ambientalismo preservacionista não totalmente difundido no Brasil (CRESPO & LEITÃO, 1993: 253).. De acordo com a qualificação da especificidade moderna brasileira, da qual derivaria um ambientalismo político, seletivo e diferencial, postula-se, desde o início, que a história do país é uma história marcada por uma divisão radical entre um período pré-moderno e um período moderno. É Gilberto Freire a referência central da interpretação do nascimento da modernidade entre nós. Para este sociólogo existiria uma oposição entre uma sociedade escravocrata e patriarcal, com seus valores personalíssimos e hierárquicos, e uma sociedade moderna com seus valores individualistas e impessoais, representada pela força das estruturas do mercado capitalista e do aparelho centralizador e controlador do Estado que ganha força particular com a abertura dos portos às nações amigas em 1808, e que, a partir de então, torna visível uma configuração social que não permite mais pensar na sua dinâmica como motivada pela volição das elites. Em outras palavras, os dados das pesquisas anteriores O que o brasileiro pensa da ecologia (1993) e O que o brasileiro pensa sobre o meio ambiente, desenvolvimento e sustentabilidade (1997) difundiram uma impressão enganosa dos valores ambientais dos brasileiros como restritos a um universo social “ambientalizado” com relação à problemática ambiental – 83% dos entrevistados com nível de escolaridade superior, a maioria com doutorado e pós-doutorado realizados no exterior. Convém demonstrar portanto que o processo de feitura da ordem econômica e social brasileira, elegantemente traçada na obra gilbertina Sobrados e Mucambos (1985), na qual o escritor pernambucano preocupa-se em divisar a formação de uma revolução burguesa tipicamente brasileira, aponta fundamentalmente para o progressivo desfazimento do poder de mando e prestígio dos senhores de engenho em benefício dos seus próprios filhos, agora reféns de uma nova ordem estatal e de um mercado individualista que exerce sobre a sociedade brasileira uma força irresistível. São as relações sociais em torno da máquina, 10 primeiramente inglesa, e em torno da burocracia estatal que fazem nascer uma nova sociedade brasileira. A partir deste dado é fácil perceber uma refundação do sentido da modernidade entre nós. Aqui não valeria a pena destacar então o aspecto particular das elites governantes, assimilando novos valores e rejeitando outros, mas da nova estrutura que as condiciona. Todas as mudanças a partir de então precisam levar em consideração que a sociedade brasileira teria uma especificidade dentro da modernidade. Esta especificidade atestaria para uma seleção e diferenciação de todos os papéis sociais, os quais dependeriam fundamentalmente de signos competitivos considerados legítimos para a sociedade burguesa. Em outras palavras, o que estaria a fundar a modernidade brasileira não seria a assimilação ‘acrítica’ de valores vindos do centro do capitalismo, mas de uma estrutura econômica e social que depois de erguida não poderia expressar uma preferência da parte de certas classes sociais. Ao contrário, seriam as classes sociais que, de forma seletiva e diferencial, se sentiriam forçadas a competir pelos bens e valores colocados a sua disposição. Não diferentemente de uma ordem escravocrata, estruturada segundo seus interesses econômicos próprios, a sociedade liberal imporia assim a sua própria estrutura. Como diferencial, entretanto, a característica peculiar da modernidade estaria presente na possibilidade da competição, assumida por certos atores sociais para se projetarem socialmente através do trabalho, reconhecido como legitimamente talentoso. Esta categoria protestante estaria presente na sociedade brasileira que deu ao mulato liberto somente em fins do Século XIX a sua oportunidade de ascensão social, a exemplo de Machado de Assis e tantos outros. Não diferentemente a assimilação de novos valores modernos foram sempre sendo carreados através de práticas de aproximação e distanciamento de outros valores, mas que teriam um centro articulador a partir do reconhecimento ou não dentro das esferas do mercado e da burocracia estatal. O conceito de seletividade entre nós está colocado para distinguir uma modernidade que tudo conforma de uma modernidade para poucos. Diferentemente da seleção social a partir do acesso as vantagens de uma sociedade movida por forças personalistas do regime patriarcal, a seleção moderna brasileira é aquela que separa um exército de parias urbanos e rurais sem lugar no processo produtivo e também sem lugar na comunidade política (SOUZA, 2000:266). Por isso importa salientar também que o Brasil não se enquadra como um país moderno e ocidental no sentido comparativo de afluência material. Ele é legitimamente, no entanto, um país moderno, uma vez que o aprendizado político democrático vem permitindo a aceitação, como únicos, dos valores modernos da diferenciação entre indivíduos e símbolos culturais de diversos matizes. Nesse contexto, o ambientalismo político não apenas reflete uma teia complexa de difusão de seletividade competitiva e diferenciação cultural, mas permite pensar melhor os pressupostos interpretativos dominantes sobre uma suposta exclusiva definição cultural do significado de ser brasileiro. É por isso que para o indígena e para o negro ainda hoje reféns dos valores nacionalistas brasileiros homogenizantes que os estigmatizaram como ‘malandro’, ‘sem cultura’ e ‘vagabundo’, vem fazendo sentido outras formas de sociabilidade e que estão dispostas à margem dos significados pós-materialistas da classe média educada com sensibilidade ecológica. Seguindo este entendimento, procuramos oferecer a seguir alguns exemplos de referenciais teóricos que ilustrariam posições singulares do ambientalismo brasileiro. Trata-se de uma classificação elaborada para estudar o cenário político ambientalizado, da mesma forma que a pesquisa de survey com o público informado do Ministério do Meio Ambiente de Samyra Crespo e Pedro Leitão (1993). No nosso caso, entretanto, as informações referem-se não somente a entrevistas com representantes de ONG’s ambientalistas mas também a 11 projetos trabalhados pelas entidades verdes que revelaram um perfil cultural específico e diferenciado4. Segundo nossa principal referência teórica ( ECKERSLEY, 1992), 5 posições distintas podem ser encontradas nas práticas ecológicas do movimento no Brasil: 1) 2) 3) 4) 5) o ecoconservacionista; o ecopreservacionista; o ecocapitalista; o ecosocialista; e práticas de movimentos pró-qualidade de vida. Entre as principais características das atividades dos atores sociais envolvidos com práticas ecoconservacionistas estão: a) uma preocupação antropocêntrica de eficiência alocativa no uso dos recursos naturais; e b) uma tendência recente de aglutinar o saber técnico-científico com o saber tradicional5. A ecoconservação no Brasil expressa um tipo particular de ambientalismo político ligado aos diversos gostos do cientificismo acadêmico especializado e ao profissionalismo de mercado e de Estado quando estes cumprem o papel de administradores dos bens públicos. Os serviços dessa natureza gerem-se em nome de um papel centralizador do poder burocrático através do emprego de tecnologias apropriadas e do saber científico que possam garantir os chamados ‘interesses públicos’ ou ‘interesses sociais’. Dessa forma, esse conservacionismo de Estado chama para si uma responsabilidade de legislar e administrar a natureza para os fins do desenvolvimento econômico e científico. Destacam-se aqui, no caso brasileiro, a antiga escola de agronomia de Piracicaba, a ESALQ, responsável direta, entre outras coisas, pela viabilização do Proálcool, na década de 70, e recentemente pela contribuição para o primeiro mapeamento genético de um organismo fitopatogênico no mundo, tecnologia hoje liderada pelo Brasil; além do IBAMA, órgão federal responsável direto pela fiscalização das Unidades de Conservação brasileiras. Os ecoconservacionistas estão do lado oposto ao dos economistas defensores de um ‘desenvolvimento a qualquer custo’, pois toda a ênfase do movimento reside na idéia de controle racional dos mecanismos de domínio da natureza. Sua bandeira ainda hoje são a minimização e a redução dos dejetos nas fases dos processos produtivos, a reutilização e a reciclagem dos insumos e mercadorias, bem como uma preocupação de aprefeiçoamento constante na exploração dos recursos naturais para o benefício das presentes e futuras gerações. Decorre daí a grande simpatia com que são acolhidos os rótulos de ecodesenvolvimento ou de desenvolvimento sustentável para quaisquer desideratos que cumpram exigências de um controle pontual dos processos de produção de mercadorias com o aval dos mais variados tipos de experts treinados pela ciência. Como lembra Diegues, a influência das primeiras idéias do movimento foi enorme, principalmente no debate entre ‘desenvolvimentistas’ e ‘conservacionistas’. Na década de 70 elas estiveram em voga na Conferência de Estocolmo sobre o Meia Ambiente Humano e no 4 Trata-se do trabalho de pesquisa intitulado Guia de Políticas Ecológicas, empreendido pelo autor durante os meses de março e agosto de 2002. Este trabalho, realizado com financiamento da Universidade Regional de Blumenau, entrevistou 262 entidades ambientalistas das 5 regiões geográficas do país, constantes no Cadastro Nacional das Entidades Ambientalistas ( mantido pelo Ministério do Meio Ambiente) e analisou 721 projetos desenvolvidos, de 1990 a 2001, por entidades verdes com apoio financeiro do Fundo Nacional do Meio Ambiente durante um ano de pesquisa. 5 Sobre este tema, consultar meu trabalho intitulado Etnoconservação como política de meio ambiente no Brasil. In: Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Revista da Emater/RS, v.3, n.3, Jul/Set.2002. 12 Rio, na Eco-92, sendo também discutidas largamente em publicações internacionais como o relatório Nosso futuro comum, de 1986 (DIEUGUES, 2001:29-30). Já os partidários da causa ecopreservacionistas discutem a preservação incondicional da natureza do desenvolvimento. Em posição adversa a dos ecoconservacionistas, estes amantes da natureza apresentam uma profundidade cultural específica, relacionada com o contato quase espiritual com a natureza. No Brasil, o movimento preservacionista também apresenta seu vigor, sustentado não apenas por uma concepção de natureza intocada, própria do movimento pró-criação de áreas verdes onde a presença do homem como morador é indesejada, como também por uma concepção totêmica que se configura nas relações sociais, demarcando o universo de crenças, provérbios, histórias e ricas anedotas e adágios. Deste último aspecto, depreende-se, por exemplo, a atividade do jogo do bicho que compreende não somente uma atividade econômica mas também de representação fundamental, através da estratégia do jogo, da relação entre sonhos e realidade que é formada por animais que são capazes de efetivar esses sonhos, tornando o apostador rico, amoroso, ou digno de qualquer outra graça. Nas relações do jogo do bicho se estabelecem, conforme DaMatta, a confrontação com a realidade moderna, pois a natureza nele representada aduz à identidade mais íntima das crenças dos brasileiros que em público se dizem amantes da natureza e a favor da preservação da Amazônia, mas que em particular ou em segredo apostam que o animal totêmico do jogo seja capaz de lhes fazer a distinção pela graça da riqueza, da abonança e da superação distintiva sobre as dificuldades materiais da realidade (DaMATTA, 1993: 145-146). Em relação aos ecocapitalistas suas distinções mais fortes dizem respeito às bandeiras da: a) melhoria da renda através da alavancagem de iniciativas empreendedoras de uso lucrativo da natureza; b) melhoria da qualidade dos produtos comercializáveis como produtos ecológicos; e c) controle e disciplina do mercado ao invés de suplantar mecanismos de preços e lucros. Pode-se sugerir que as experiências ecocapitalistas representam algo de pouco transformador. Suas experiências estão acomodadas no espírito das vantagens patrimonialistas das elites burguesas brasileiras, sinalizando para uma reorientação estrutural do tecido social sem trazer efeitos maiores para a questão da redistribuição efetiva da renda. Como já bem destacou Philippe Pomier Layrargues como pesquisador para o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas: as empresas verdes no Brasil, que recentemente eram inimigas da ecologia, transformaram o ambientalismo: “O movimento já não se apresenta como um coeso, simples e ingênuo corpo ideológico alternativo, dividindo-se agora em duas vertentes ideológicas em disputa pelo privilégio de criar uma sociedade sustentável, a síntese da coesão social das gerações futuras. O desenrolar da questão nos anos 90 ressuscitou as antigas ideologias, agora revestidas por diversas tonalidades de verde, mas a ideologia neoliberal ainda mantém franca vantagem discursiva. Motivado por valores econômicos, e não por uma sensibilização ecológica, o ambientalismo empresarial pretende preservar não a natureza, mas a integridade da ideologia hegemônica do Ocidente. Não há indícios de que a racionalidade ecológica possa suplantar a econômica, marco da sociedade industrializada, já que o livre-mercado ainda domina o espaço organizado da sociedade. Na questão ambiental, portanto, as forças sociais dominantes conseguiram impedir a manifestação das diversidades, preservando a ordem social instituída. Isso permite afirmar que a inserção do setor empresarial verde no ambientalismo constitui não uma transição ideológica, mas uma 13 apropriação do discurso ambientalista. Em nome da coesão social, foi promovida uma ação de caráter reformista, enquanto se difunde a ilusão de vivermos uma era de mudanças, que desembocará na sustentabilidade socioambiental” (LAYRARGUES, Revista Ciência Hoje,no 158, 2000, pág. 59). No caso das experiências ecosocialistas, tais se definem como interessadas em: a) subjulgar a natureza para a conquista da liberdade; b) auto-gestão democrática com a participação do Estado; e c) novas atitudes de relacionamento laboral, com divisão de tarefas, redução de jornadas, redução de riscos à saúde, mais conforto e horas de lazer. Associadas tanto ao Estado como a empresas e ONG’s ambientalistas, as práticas ecosocialistas denotam uma nova configuração nas relações de trabalho no Brasil. Nelas não estão em jogo a discussão tanto das relações de trabalho, porém muito mais fortemente as relações no trabalho. A este respeito poderia ser citada a experiência ilustrativa das ONG’s nortistas Centro de defesa dos direitos humanos e educação popular (CDDHEP), Centro de estudos e defesa do negro do Pará (CEDENPA) e Instituto Universidade Popular (UNIPOP) que desenvolvem um ambientalismo ecosocialista, preocupado com a eliminação de excessivas injustiças sociais. Em defesa do negro e de populações carentes do norte, estas entidades manifestaram estarem desenvolvendo atividades com preocupações sobre as relações de produção mas também preocupações de relações na produção, lutando então para combater todas as formas de discriminação. No caso, finalmente, dos movimentos pró-qualidade de vida, seus expoentes perseguem-se distintamente objetivos urbanos comum a todas as cidades brasileiras, tais quais: a) b) c) d) e) f) g) o uso de tecnologias adequadas, como no transporte coletivo e no uso de ciclovias; o consumo de produtos da agricultura orgânica; a medicina alternativa; as atividades físicas e esportivas orientais; a redução, reutilização e reciclagem de produtos do lixo doméstico; o maior proveito dos estilos de vida alternativos; a valorização dos saberes locais e das qualidades do meio que possam incrementar o ecoturismo e a sua valorização histórica e artístico-cultural; e h) a facilitação do acesso ao bem-estar de bairros e cidades. Conclusão Sendo assim, está claro para nós que quando a tese inglehartiana tenta explicar o ativismo verde, o faz pressupondo todas as condições necessárias da modernidade para tanto. Se seguida uma explicação do ambientalismo brasileiro ‘autêntico’, isto é, descortinadas as posições sociais das quais emergem as reivindicações verdes, é fácil perceber que elas expressam particularidades seletivas e culturais próprias do mercado de bens e da diversidade cultural que reclama espaço no processo recente de democratização da esfera pública do país. Para nós, a tese do multissetorialismo continua a representar a exterioridade e o artificialismo do processo de assimilação dos valores ambientalistas, porque resume o discurso mais fácil dos slogans, como preservação da natureza, desenvolvimento sustentado e ecologia à 14 observação superficial de survey com o grande público. Não se pode porém confundir uma observação tópica, um instantâneo que se retira da simples opinião, com o desafio de compreender a reprodução simbólica e valorativa de nossas relações materiais de produção. Os processos sociais de seletividade e reconhecimento social expressam a autenticidade das formas de incorporação dos valores ambientalistas a partir da disposição dos grupos num cenário de distinção típico das sociedades democráticas modernas. A definição das opções por valores depende menos da escolha dos atores sociais do que das condições competitivas colocadas. O que está por detrás desse argumento é a hipótese de Elias (1994) segundo a qual os comportamentos sociais adotados como comportamentos diferenciais prestam-se a um esforço dos indivíduos no sentido de diminuir o contraste social. Sua análise social acurada do processo de formação da civilização ocidental nos alerta para as diferenciações que desde a Renascença serviram para opor indivíduos e classes sociais. Para Elias entender o ethos moderno exige compreensão histórica da gravitação de valores. Entre nós, a civilisation como modelo cultural expressou um domínio humano em oposição a esfera da natureza, da animalidade e da desrazão desde os Médicis de Florença. O que vingou deste período permanece até hoje, pois civilização está relacionada a valores como polimento, educação e progresso. O forte desenvolvimento do período industrial vai opor a vontade de permanecer na cidade, compreendida primeiramente em oposição à rudeza do meio rural, com a satisfação em fugir dela para uma classe burguesa já confrontada com os reflexões de tanto industrialismo, como poluição e pobreza urbana, e que então irá valorizar as áreas silvestres, as montanhas e a paisagem do padrão rural. O romantismo enquanto expressão da vida idílica antevê com Rousseau um refluxo colorido de politização da esfera pública que a partir da segunda metade do século XX tenta expressar a mais aguda crítica ao capitalismo industrial através dos movimentos sociais com ideários emancipatórios. Repousa aqui talvez a narrativa de maior recursividade do ambientalismo político e que, muitas vezes, ao permanecer no discurso ético-político do espírito de seu tempo, tão inaugural quanto emblemático, esquecese de perceber as diferenças entre aquilo que antes era contracultural e hoje está subsumido como práticas ambientalistas concretas. Entre a racionalidade da explicação adotada e a prática social concreta existe uma teia de relações sociais que ‘puxam’ o indivíduo a transferir seu domínio de conhecimento à funcionalidade econômica e às regras de controle do Estado. É por isso que os acertos dos ecologistas sobre o diagnóstico das espécies em extinção ou a necessária mudança do processo produtivo, levando-se em consideração os regimes de minimização da poluição, podem ser entendidos como medidas ‘conscientes’ somente em relação a uma adequação sofisticada que as práticas das sociedades industriais requerem. Os indivíduos pensam e agem segundo a grande estrutura social que os determina. Isso não afasta entretanto o relacionamento humano empreendido de uma forma não instrumental. As práticas ecológicas autênticas podem ser percebidas a partir do engajamento dos seus atores por inteiro. Em outras palavras, o que Charles Taylor (1994) nos ensina com sua tese da autenticidade serve para o desafio de perceber o ambientalismo também como um movimento de reflexão, em oposição a tese inglehartiana adaptada a explicar as mudanças sociais economicamente prováveis. Apesar também da consideração de Elias referente ao condicionamento democrático moderno que força os indivíduos à diferenciação, é importante perceber que, para Charles Taylor, indivíduos têm a opção de diferir entre um bem e um dever quando na verdade estão sempre experienciando as oportunidades inerentes ao desenvolvimento moral e normativo da modernidade, que afinal se funda num conflito entre estas esferas. 15 Bibliografia ACOT, P. (1990). História da ecologia. Rio de Janeiro: Campus. AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Rio, 1992. ALEXANDRE, A . F. (2000). A perda da radicalidade do movimento ambientalista brasileiro. Uma contribuição à crítica do movimento. Florianópolis/Blumenau: Ed. UFSC, EDIFURB,. ____________ A . F. (2002). Os ecologistas sabem fazer política ? In: Ambiente & Sociedade, No 8. Campinas: Ed. Unicamp. ALIER, J. M. (1998). Da economia ecológica ao ecologismo popular. Blumenau: Ed. FURB. BARTEMUS, Peter. (1989). 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