18 Brasil Econômico Sexta-feira e fim de semana, 17, 18 e 19 de outubro de 2014 ▲ FINANÇAS Editora: Eliane Velloso [email protected] Alessandra Taraborelli [email protected] São Paulo O reinado absoluto da BM&FBovespa parece estar longe de terminar. A nova bolsa que estava prevista para este ano só deve sair do papel no início do 2017. A ATS Brasil, joint venture entre a Americas Trading Group (ATG) e a Nyse Euronext e, o Instituto de Seguridade Social dos Correios e Telégrafos (Postalis), um dos investidores do projeto, entrou com pedido de registro da nova bolsa junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em junho do ano passado e está aguardando a autorização do regulador. No entanto, uma fonte envolvida na operação disse que, embora toda a documentação tenha sido entregue à CVM, a autorização não deve sair enquanto não for apresentado o modelo de clearing. “Não faz sentido a CVM dar uma autorização. Como ter uma bolsa se não tem clearing? O regulador está correto. O projeto está na fase de finalização”, diz o executivo. A criação da clearing própria, segundo já divulgou a ATS, está prevista para ser feita a partir da parceria com a empresa RiskOffice e também poderá contar com a participação de um banco. Em nota, a CVM informou que apesar de ser o órgão regulador, a decisão sobre uma concorrente é decisão do mercado. A autarquia ainda ressalta que está em vigor a Instrução CVM nºº 461, que regulamenta a criação de entidades administradoras de mercado organizado, que administram as bolsas e os sistemas de mercado de balcão organizado. “Ressaltamos que o processo de concessão de autorização, pela CVM, para o funcionamento de mercado organizado de valores mobiliários, seja de bolsa, seja de balcão, é um procedimento naturalmente amplo, que demanda a apresentação de inúmeros documentos e informações. Nesse sentido, e a despeito de a ATS não ter entregue, até o momento, toda a documentação exigida, o processo permanece aberto”, afirma. O sócio do setor societário da Siqueira Castro — Advogados, Leonardo Cotta Pereira, ressalta que cabe à CVM definir e editar normas e exigências para que uma nova empresa seja admitida no mercado. De acordo com ele, a entrada de um concorrente é sempre importante e pode trazer benefícios aos participantes domercado.“Nocasodeempresas, por exemplo, a concorrência pode contribuir para reduzir os custos existentes para a abertura de capital, o que poderia ampliar o número de empresas na Bolsa”, diz. Para o diretor da Mirae Asset Securities, Pablo Spyer, os investimentos que a BM&FBovespa tem feito em modernidade e tecnologia dificulta a entrada de uma con- ‘Reinado’ da Bovespa longe de terminar Bolsa concorrente ainda demora a sair do papel pelo estágio de aprovação na CVM e BC; mercado prevê que nova plataforma só deve começar a operar no início de 2017 “ Evandro Monteiro Divulgação Raymundo Magliano Neto Leonardo Cotta Pereira Presidente da Magliano Corretora corrente. Ele cita o exemplo do novo Data Center, em Santana do Parnaíba. De acordo com ele, esse é um bom investimento da Bolsa e vai permitir que corretoras que decidam operar via o Data Center diminuam o custo com tecnologia. “Não vai haver nem um custo adicional além do hoje cobrado das corretoras. Vai ser mais barato do que ter uma estrutura interna”, avalia. “É difícil uma nova bolsa entrar. Um concorrente terá que investir um dinheiro monstro para acompanhar a BM&FBovespa, num mercado de difícil de migração”, diz. Já o presidente da Magliano Corretora, Raymundo Magliano Neto, avalia que há espaço para nova bolsa e, que, não necessariamente, implicará em aumento de custos para as corretoras. De acordo com ele, existem duas formas de acessar o mercado. A primeira, seria no atual modelo, que exigiria investimentos em tecnologia. A outra opção, segundo ele, é o modelo americano, onde a corretora manda a ordem para uma bolsa e, esta é obrigada a olhar onde esta a melhor oferta. “Neste mode- “ No caso de empresas, por exemplo, a concorrência pode contribuir para reduzir os custos existentes para a abertura de capital, o que poderia ampliar o número de empresas na Bolsa” As primeiras tentativas não deram certo, tem que se estruturar de novo e isso demora um pouquinho.Têm clientes que não operam em local que tem apenas uma bolsa. A concorrência pode atrair esse investidor” Sócio Siqueira Castro - Advogados lo, a corretora decide em qual quer operar e não precisa estar ligada a duas”, diz, ressaltando ainda, que é uma questão que precisa ser discutida e avaliada pela CVM."Para mim, esse é o melhor modelo", diz. Neto avalia ainda que a chegada de um concorrente não deve acontecer antes do início de 2017. Para ele, o fraco crescimento econômico e o ano eleitoral podem, sim, ter contribuído para o recuo da ATS. Para o executivo, a empresa que irá administrar a nova bolsa deveria esperar os 100 dias do novo governo, seja lá quem for o novo presidente do Brasil, e, se reestruturar para entrar no mercado. “As primeiras tentativas não deram certo, tem que se estrutura de novo e isso demora um pouco”, diz. Ele avalia ainda que uma nova bolsa no Brasil pode contribuir para atrair investidores estrangeiros que hoje não operam aqui. “Têm clientes que não operam onde só tem uma bolsa”, diz. O analista da UM Investimentos Ivo Seixas, também defende que uma nova bolsa vai contribuir para a concorrência. “Mercado Paulo Fridman/Bloomberg Divulgação Alan Gandelman e Arthur Machado, à frente da nova bolsa tem potencial grande. Basta a bolsa começar a performar melhor que o investidor volta”, diz. Para o analista da XP Investimentos Thiago Souza, pode ter sido estratégia da ATS postergar a entrada no mercado até que o cenário macroeconômico dê sinais de recuperação. Para ele, não faz sentido uma nova bolsa considerando o tamanho do mercado. “O volume é baixo. Teria que ter preço muito favorável, em termo de emolumentos, para atrair as corretoras”, avalia. Para o presidente da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord), Carlos Souza Barros, o surgimento da competição, via nova plataforma de negociação e novo modelo de negócio, pode trazer redução de taxas para todos os envolvidos, corretoras, distribuidoras e clientes. Além de mudança nas regras de alocação de garantias. “Concorrência sempre costuma apresentar novos produtos e alternativas para as empresas e os corretores.Competição é saudável para todos os envolvidos”, avalia o executivo.