O PRESENTE DO SULTÃO Havia há muito tempo atrás, no Oriente Médio, um sultão conhecido como Omar. tão poderoso quanto cauteloso e tão rico quanto preguiçoso. A riqueza permitiu-lhe construir uma suntuosa residência, com dois andares: o térreo reservou para área de serviços e o superior para a contemplação e para os prazeres. A preguiça levou-o a permanecer sempre nos aposentos superiores, onde tinha seu harém, sua sala de leitura, seu jardim suspenso para meditação, seu templo para orações, seu imenso quarto de banho com piscina e alguns aposentos com finalidades incompreendidas por um ocidental. Seu poder fazia com que outros potentados da região seguidamente lhe oferecessem presente, os mais variados e exóticos. Sua cautela orientou-o a ter sete assessores, todos sábios, seis deles cegos. Numa tarde modorrenta, Omar teve suas atividades interrompidas por um membro de sua guarda, que o avisava da chegada de uma comitiva de um sultão vizinho, com um presente para ele. Curioso, mas cauteloso (e porque não preguiçoso), Omar chamou seus assessores e pediu que os seis que eram cegos descobrissem de que se tratava o presente. Ao lado dele ficou o sétimo assessor. Voltou o primeiro assessor e disse: Senhor, seu presente é uma palmeira! O segundo assessor, que vinha logo atrás, disse: Meu amado sultão, ele se engana, não é uma palmeira e sim um objeto esférico de grandes dimensões que, por arte ou magia, fica acima do chão. O terceiro assessor, ouvindo os anteriores, falou: Arte ou magia é o que está nublando a mente desses dois homens sábios, levando-os a falar de palmeira e esfera. Eu vos digo, senhor, o presente que recebestes não passa de um estranho objeto, curvo e redondo, afilado em uma ponta e preso pela outra a algum suporte elevado. Quanta asneira! Diz o quarto assessor, que escutara as palavras dos seus antecessores. Quanta asneira! O que está acontecendo com meus colegas? Eu os tomava por sábios! Palmeira, esfera, objeto curvo e pontudo, ... que bebida tornou-os néscios de um hora para outra? Senhor, não lhes dê ouvidos. Eu lhe asseguro que seu presente é um estranho pássaro ou morcego, de grandes asas moles que balançam ora suavemente, ora violentamente, o que, acredito, faz com que flutue quase que sem mudar a posição. O quinto assessor, ouvindo o seu irado colega, desata a rir. Senhor... diz ele entre uma gargalhada e outra ..Senhor... eu já havia escutado alguma coisa a respeito de drogas que transformam velhos em crianças... e alteram a percepção, criando alucinações... mas nunca pude constatar, como hoje, quão poderosas elas podem ser... Nada pode ser mais absurdo do que confundir um simples espanador suspenso, por obra e arte de algum artifício, com palmeira, esfera, objeto pontudo, pássaro de grandes asas. Senhor! Peço-vos o perdão a esses pobres coitados que, com certeza inadverditamente, fizeram uso de alguma estranha e poderosa droga. O sexto assessor, que já havia chegado à sala há algum tempo, após refletir um pouco, disse: Ou aquele que falou antes de mim tem razão, e ele, ou eu, ou ambos, também ingerimos a poderosa droga, ou algo inexplicável está acontecendo, pois o que eu constatei é que o meu amado sultão recebeu uma prodigiosa cobra que flutua! O sultão, completamente atordoado com a confusão criada por seus assessores, determinou ao sétimo assessor que fosse verificar o que estava a ocorrer. Voltou o sétimo assessor e, entre sério e risonho, disse: Meu Senhor, todos os meus colegas têm razão e, ao mesmo tempo, todos estão errados. O que o sultão ganhou?