Segurança de prédios depende mais de morador que
de tecnologia, diz delegado
Maioria das invasões ocorre por falha de porteiros e moradores.
Especialistas recomendam que condôminos obedeçam as regras.
Marília Juste Do G1, em São Paulo
Câmeras, portões, grades e alarmes ajudam, mas a melhor maneira de garantir
a segurança de um condomínio, segundo especialistas ouvidos pelo G1, é a
observação e a cooperação entre funcionários e de moradores. Segundo o
Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado), a maioria das
invasões a edifícios ocorre por uma falha de porteiros e condôminos, não por
falta de equipamentos modernos de segurança.
Nesta quinta (26), uma quadrilha fez um arrastão em um prédio no bairro da
Lapa, em São Paulo. Em troca de tiros com policiais, três morreram e seis
foram presos. Segundo a polícia, foi a 32ª invasão a condomínios neste ano no
estado.
“O marginal não chega no prédio e se identifica: ‘sou bandido, estou
entrando’.”, afirma o delegado Waldomiro Milanesi, titular da Divisão de
Investigações de Crimes contra o Patrimônio do Deic.
“Na grande maioria dos casos, ele entra enganando as pessoas. Ou simulando
ser um morador, um entregador ou aplicando um golpe”, explica.
Para evitar uma invasão, o prédio necessita criar uma rotina de segurança,
afirma Hubert Gebara, vice-presidente de administração imobiliária e
condomínios do Secovi (Sindicato das Empresas de Compra e Venda de
Imóveis).
“Os condôminos precisam participar das assembléias e definir um
procedimento de segurança comum ao edifício”, orienta. “Depois, todos
precisam obedecer as regras”, diz ele.
Parece simples, mas nem sempre é. Eduardo Zangari trabalha como
administrador de cem condomínios na capital paulista e afirma que o maior
empecilho para a segurança, quase sempre, é o morador que se irrita com as
regras.
“O condômino precisa entender que o funcionário está fazendo o trabalho dele,
pelo bem de todos, quando ele impede, por exemplo, um entregador ou um
visitante de entrar”, afirma.
“Cada vez que um morador grita com um porteiro, ele enfraquece a segurança.
Porque esse porteiro pode se sentir constrangido, numa próxima vez, de
impedir a entrada de um visitante e esse visitante pode ser um ladrão”, afirma.
Equipamentos
Para o delegado Milanesi, o bom preparo de funcionários e a cooperação dos
moradores é mais importante para evitar assaltos do que equipamentos de
segurança.
“Daqui a pouco, a pessoa vai precisar passar por dez portões para chegar em
casa”, diz ele. “Nada disso adianta se o porteiro abrir a porta quando não
conseguir ouvir o que alguém está dizendo no interfone”, afirma.
Zangari concorda. “O equipamento não trabalha sozinho. A câmera não vai
impedir o assalto, ela só vai filmar”, afirma. “Às vezes alguma coisa pode
parecer uma medida extrema [para o morador], mas os ladrões estão cada vez
mais sofisticados”, diz ele.
A gerente da administradora de condomínios Lello, Angélica Arbex, também
defende as medidas que podem irritar moradores.
“Um condômino pode ter sido rendido na esquina de casa e entrar pela porta
da frente com uma 'visita' que na verdade é um assaltante”, afirma. Ela
recomenda que edifícios tenham o hábito de criar senhas de entrada, com uma
opção que o usuário digite quando está sendo coagido.
“Ao mesmo tempo que o portão é liberado para a entrada do condômino é
possível acionar os alertas de segurança que estejam disponíveis, permitindo a
notificação da empresa de segurança ou da polícia para a presença de
assaltantes no local”, diz ela.
Exemplo de sucesso
Os moradores do Edifício Buckingham, nos Jardins, em São Paulo, conhecem
bem essa rotina. Nos últimos dez anos, houve três tentativas de invasão no
edifício, segundo o zelador Joel Burlamaqui. As três foram evitadas pela
desconfiança do porteiro, que se sentiu seguro em aplicar a regra seguida por
todos.
“Nós investimos muito em segurança, mas, mais do que isso, em treinamento.
E eles fazem cursos de reciclagem de segurança a cada seis meses”, conta
Burlamaqui.
Na última tentativa de arrastão, os assaltantes clonaram o carro de um dos
moradores e tentaram entrar. O porteiro, no entanto, desconfiou do horário,
diferente daquele em que o dono do veículo normalmente chegava em casa.
“Ele também viu, pelo vulto, que tinha quatro pessoas dentro do carro”, conta o
zelador.
O funcionário prendeu o carro na “gaiola” entre o portão principal e o que de
fato dá entrada ao edifício. “Ele perguntou quem era, o cara disse que era o
novo motorista. Ele pediu nome, RG, disse que ia falar com o morador. Daí
eles ficaram nervosos, deram marcha ré no portão e fugiram”, conta.
As outras duas tentativas envolveram mulheres. Na primeira, uma grávida
fingiu um mal estar e um homem bem vestido que a acompanhava pediu para
entrar para usar o telefone. O porteiro disse que faria a ligação por eles. A
dupla insistiu e o funcionário disse que tinha chamado a polícia para ajudar a
grávida. Os dois fugiram. “O delegado viu a gravação e disse que estava atrás
dos dois fazia tempo”, diz Burlamaqui.
Na terceira vez, uma mulher loira e uma morena disseram que tinham uma
entrevista com um morador do prédio, mas desistiram após a insistência do
porteiro em pedir dados pessoais.
A experiência de sucesso do edifício só foi possível porque os moradores
aprenderam a obedecer as regras comuns, acredita Burlamaqui.
“Eles sabem que têm que avisar quando vão receber visitas e orientam seus
visitantes a colaborar com a segurança”, afirma. “Aí a gente não fica na dúvida
quando alguma coisa acontece fora do esperado.”
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