FÓRUM PESQUISAS CIES 2008 DESIGUALDADES SOCIAIS EM PORTUGAL BALANÇO DOS TRABALHOS Ao encerrar os trabalhos deste Fórum Pesquisas dedicado às Desigualdades Sociais em Portugal as minhas primeiras palavras são de agradecimento e de felicitação. Agradecimento por me terem convidado a estar presente e acompanhar toda a sessão, com o enriquecimento pessoal daí proveniente, mas também por estar em representação do CES-UA, como sua directora. De felicitação pela iniciativa de divulgação simultânea de alguns dos muitos projectos que estão ao ser desenvolvidos pelo CIES, Centro de Investigação de grande dinamismo e grau de profissionalização, e do Observatório das Desigualdades, com todas as potencialidades que ele comporta. A divulgação e a partilha dos resultados da investigação por parte do CIES, já na sua 3ª edição, focalizada em temáticas específicas, centraramse este ano nas Desigualdades Sociais em Portugal. Com a apresentação, mais factual ou mais problematizada de um número significativo de projectos, possibilitou-se o conhecimento e a reflexão sobre temas centrais da sociedade portuguesa e seu enquadramento internacional por parte de um público alargado. É o exemplo de um trabalho continuado, que não se limita ao somatório da actividade individual e que exemplifica algo da maior importância no ensino universitário – o Fazer Escola, muito bem referido na Sessão de Abertura, pelo Presidente do Departamento de Sociologia do ISCTE, José Manuel Viegas. O Observatório das Desigualdades é, como tivemos oportunidade de verificar, um projecto com enormes recursos e potencialidades, pela disponibilização em site próprio, de informação em dados estatísticos, indicadores, bibliografia, estudos ou ligações a outros sites. Releva-se também o ter sido criado apelando à convergência de várias entidades, desde logo o CIES, seu principal promotor, mas também o Instituto de Sociologia do Porto (ISP) e o Centro de Estudos Sociais da Universidade dos Açores (CES-UA), consubstanciando o trabalho em rede e o alargamento 1 dos intervenientes com a consequentemente maximização dos resultados esperados, como foi salientado por Fernando Luís Machado. Cumpre sublinhar agora a relevância do tema geral das Desigualdades Sociais que, como referiu António Firmino da Costa, também na Sessão de Desigualdades, Abertura, se enquanto distingue pela Director sua do actualidade, Observatório das intensificação e internacionalização. Com efeito, hoje esta é uma realidade globalizada, que abrange tantos os países desenvolvidos, como os que estão em via de desenvolvimento e que, não obstante as diferenças de grau e natureza, se torna cada vez mais presente, apelando a uma maior concertação na definição de Políticas Públicas. Se é um facto que algumas das Desigualdades Sociais se têm vindo a atenuar, outras, ao contrário, acentuam-se, surgindo com grande visibilidade as associadas à distribuição do rendimento, facto que é especialmente visível no nosso país. Os aspectos relacionados com o mercado de qualificações trabalho respectivas adquiriram transversalidade intervenções. e nesta remunerações, sessão uma as profissões centralidade e e uma notória, sendo referidas em praticamente todas as Surgiram ainda configuradas, tanto em problemáticas específicas, como em populações particulares, de que são exemplo, no primeiro caso, as classes sociais e os modos de vida e, no segundo, através dos grupos etários dos jovens, adultos e seniores, como ainda no caso das prostitutas acompanhantes. No que respeita aos conteúdos é de realçar a conferência de Carlos Farinha Rodrigues intitulada “Desigualdade salarial e trabalhadores de baixos salários”. A sua elevada qualidade permitiu-nos ver, de modo claro e quantificado, a evolução das desigualdades salariais em Portugal e a sua periodização, que se apresenta distinta em ciclos governativos, dando, assim, uma melhor compreensão da definição e eficácia das respectivas Políticas Públicas. Se entre 1985 e 1994 se assiste a um agravamento acentuado das desigualdades, já entre 1994 e 2000 estas atenuam-se podendo identificar-se este como sendo um período de relativa estabilidade, para entre a última data e 2005 se voltar a observar um agravamento, neste caso principalmente devido a um acréscimo significativo dos altos salários. Nas suas próprias palavras ”o motor da desigualdade depende não 2 tanto dos pobres estarem mais pobres mas dos ricos estarem mais ricos”. Neste contexto, de diferenças na acção governativa e nas dinâmicas sociais, parece-nos ter havido alguma eficácia no campo das Políticas Sociais, dedicadas aos economicamente mais desfavorecidos, mas não na implementação das Políticas Fiscais, direccionadas para os detentores de rendimentos mais elevados. Desigualdade salarial num mercado de trabalho no qual foram apresentadas as questões da regulação, sublinhando-se o poder dos empregadores. Apesar da importância das convenções colectivas e do associativismo a fragmentação sindical revela uma prática que é penalizadora. Com efeito, parece que uma regulamentação densa e abrangente e uma boa taxa de contratação colectiva não resultam tanto do poder do associativismo mas da intervenção do Estado, havendo dificuldades visíveis no nível de negociação e coordenação dos sindicatos. Assim, regulamentação pode não ser sinónimo de regulação eficiente e de resolução dos problemas nas relações de poder no mundo laboral. Igualmente penalizadora é a realidade do trabalho precário, designadamente nos países do Sul da Europa, com destaque para Espanha e Portugal. Contudo, a diversidade legislativa e prática dos diversos países leva-nos a questionar o sentido generalizado da precariedade nesta forma de contratação laboral. No nosso país agravaram-se as dificuldades de inserção neste segmento do mercado de trabalho, principalmente para os mais jovens, embora existam dificuldades não negligenciáveis em outros grupos etários. As desigualdades sociais foram ainda perspectivadas pela óptica das qualificações e das profissões que sustentaram abordagens diversificadas, associadas, por exemplo, com as trajectórias escolares nos mais novos, com os constrangimentos familiares nos adultos e com o agravamento das condições de vida nos mais idosos ou até na diversidade existente na actividade da prostituição. Um relevo especial para as diferenças nos estilos de vida das diferentes classes sociais, pontuando-se o caso particular das situações de pobreza. Evidenciou-se, assim, ao longo dos trabalhos a situação especialmente gravosa de Portugal no contexto internacional, em especial no europeu, sublinhando-se a abrangência das desigualdades sociais, 3 visíveis nos rendimentos, nas profissões e qualificações, mas também em termos territoriais, de género, nos modos de vida e consumos, o que contribuiu para um maior conhecimento destas múltiplas realidades e para a necessidade de alterar alguns lugares-comuns que os estudos científicos não confirmam. Gilberta Pavão Nunes Rocha 4