IV ENCONTRO INTERNACIONAL DE ECOMUSEUS E MUSEUS COMUNITÁRIOS APRESENTAÇÃO PROGRAMAÇÃO CONFERÊNCIA PALESTRAS MESAS REDONDAS DOCUMENTOS APRESENTADOS ÀS PLENÁRIAS DOCUMENTOS DE BASE NARRATIVAS POPULARES OFICINAS PÔSTERES CONCLUSÕES CARTA DE CARATATEUA Ecomuseu da Amazônia Belém, PA - BRASIL 12 a 16 de junho de 2012 1 E56a Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários (4.: Belém) Atas do IV EIEMC/4 Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários, 12-16, junho 2012, Belém, Brasil; Coordenação Geral: Maria Terezinha Resende Martins. – Belém : Ecomuseu da Amazônia, 2012. 329 p. ; 30cm. Texto em português, inglês, francês e espanhol Inclui textos de vários autores 1. Museus comunitários. 2. Ecomuseus-Desenvolvimento sustentável. 3. O texto desta publicação obedece às normas do Práticas sustentáveis. I. Martins, Maria Terezinha Resende, Coord. II. Título. Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa CDD: 069 2 APRESENTAÇÃO Pronunciamento da professora Therezinha Moraes Gueiros Secretária Municipal de Educação, Belém-PA Que minhas primeiras palavras sejam de boas vindas. Estamos alegres com a realização deste IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários. Alegre e honrados com a presença de todos. Iniciativa pioneira da Secretaria Municipal de Educação em 2007, o Ecomuseu da Amazônia irradia seus projetos e ações a partir de outra proposta inovadora à época, 1996, o Centro de Referência em Educação Ambiental, Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira, situada na parte insular de Belém, ilha de Caratateua. Nossa intenção é aproximar os princípios e ações que informam e conformam os ecomuseus das pretensões educativas e culturais da Coordenadoria de desenvolvimento comunitário dessa Fundação, cuja criação se deu justamente quando o termo “eco desenvolvimento”,que se seguiu aos intensos debates então em curso sobre os rumos do desenvolvimento das nações, dos quais resultaria a expressão “desenvolvimento sustentável”, como aquele capaz de satisfazer “as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades”, conforme se lê textualmente no relatório “Nosso Futuro Comum”, de 1987. Por quê a menção? Para lembrar que, em Belém do Pará, essa ordem de preocupação esteve presente nos anos noventa do século passado, inspirando iniciativas como a proposta de criação de um Subsistema de Educação e Cultura para o desenvolvimento sustentável no Município, na gestão do prefeito, Hélio Gueiros, já falecido. Ensaiamos algumas experiências educacionais centradas na realidade dos meios cultural, ambiental, social e econômico das respectivas comunidades: Escola Bosque, Caratateua. Escola Parque Amazônia, Terra Firme, Liceu Escola Mestre Raimundo Cardoso, Icoaraci. Além da base pedagógica, considerou-se, em alguns projetos, a premência de se levar em conta a geração de renda na comunidade. (Ex. Parque Amazônia). 3 Grosso modo, visava-se a implantação de microssistemas sócio-econômicoculturais, apoiados em educação ambiental e patrimonial, no âmbito da Educação ambiental e patrimonial, no âmbito da Educação Básica e profissionalizante, preconizando o surgimento de produção cultural significativa, uma profissionalização em serviços – Liceu de Artes e Ofícios Rui Meira- e uma organização social condizente com o perfil das microrregiões beneficiadas. A intenção era romper com uma certa inércia nas propostas educacionais, ao apostarmos na possibilidade de contribuir para um pensar mais amplo, necessariamente coletivo e institucionalmente, atentos às dimensões ecológica, social, educacional, cultural, alcançando possivelmente por esta via, o econômico e o político. A reflexão sobre esse nosso passado leva-me a acreditar que faz todo sentido abraçarmos a causa dos ecomuseus e museus comunitários, como constitutiva daquelas iniciativas fecundas, em tempo de questionamentos e transformação de padrões de comportamento e da afirmação de novos valores, no fundo destinadas, através de metodologias adequadas, a envolver comunidades num processo de descoberta de objetivos próprios, de engajamento coletivo até as grandes questões pertinentes ao mundo atual. No caso do Ecomuseu da Amazônia, um museu território, busca-se, neste primeiro momento, estimular o descortínio de estratégias capazes de contribuir com sugestões que gerem condições de desenvolvimento humano sustentável e articulado: comunidade/escola/comunidade, através de educação formal, se ausente, e da capacitação dos atores sociais envolvidos, segundo suas necessidades de sobrevivência e crescimento humano. Viktor Frankl, psiquiatra e psicólogo austríaco, dissidente da psicanálise freudiana aponta, dentre as vias que alguém pode seguir, na busca de um sentido para a vida, “a criação de um trabalho pelo qual se sinta responsável, por depender fundamentalmente de seus conhecimentos e de sua ação, a experiência do “novo”, a que atribua grande relevância”. Assim era Laïs Aderne. Do nosso encontro, quase casual, pelos idos de 1995, resultou um projeto ousado, que Laïs chamou de Neo-Liceu de Artes e Ofícios”, pois buscava retomar o papel impulsionador do eco-desenvolvimento de uma microrregião, 4 trabalhando no campo da educação vocacional e profissionalizante formal, informal e comunitária. Para ela, os neos-liceus, desse tipo, deveriam ser “apoiados por uma política de desenvolvimento, com base em educação alicerçada na cultura , na ecologia e na ética. No caso específico da Amazônia, essa política deverá integrar um Programa de Turismo que venha a atender ao perfil da região e propiciar, a seus habitantes, os recursos advindos dessa atividade humana, tão requisitada pela sociedade contemporânea,bem como promover a geração de renda às diferentes camadas sociais,especialmente às menos favorecidas”. E mais:”Essa proposta de educação não poderá prescindir das descobertas da ciência moderna e deverá ser apoiada na teoria sistêmica, que preconizava a valorização das partes de um todo e a preservação de suas característica, em interação com outras partes, levando o homem a respeitar, portanto, a biodiversidade e pluriculturalidade, imprescindíveis à manutenção da vida no planeta. Com tais fundamentos, nasceu o Liceu Escola Mestre Raimundo Cardoso, em Icoaraci, a partir do envolvimento da comunidade de ceramistas tradicionais do lugar, servindo de inspiração para a Escola Parque Amazônia, na Terra Firme, e a todo um trabalho que começou a se desenhar em Cotijuba, àquela época, como já referido. Capra, ao pensar na ascenção e queda das civilizações, retoma sobretudo Toynbee e a afirmação,que lhes parece hipótese muito plausível, de que as mudanças mais profundas numa sociedade advêm das “minorias criativas”, ao contrário do que possa parecer. Se assim for, guardadas as devidas proporções, não há porque desanimar se iniciativas como as dos ecomuseus ainda sejam contadas como ação de minorias, quando se trata de perceber e acompanhar a flagrante desintegração das instituições sociais neste momento histórico. Laïs sempre pertenceu a essas “minorias criativas”. Ela se esforçava, desde 2005, quando voltei à Secretaria de Educação, por uma espécie de revitalização do Liceu Escola, na esperança da retomada de caminhos porventura esquecidos. Sonhava, contudo, avançar. É hora de mais um passo, dizia-me, de retomar ideias ainda valiosas e avançar para a criação de um Ecomuseu da Amazônia, dados os rumos descortinados pela nova museologia 5 e à ideia, que se firma, de planejamento biorregional, nos moldes do que já vem acontecendo com o Ecomuseu do Cerrado, desde 1998, um museu território do entorno do Distrito Federal,Goiás à época, em fase avançada de implantação. E cá estamos nós. Por mais rudimentares que possam ter sido os primeiros passos do Ecomuseu da Amazônia, este Encontro de alguma maneira concretiza o sonho de Laïs, em especial por conta de uma preciosa herança – a presença criativa, atuante e incansável da professora Maria Terezinha Resende Martins, coordenadora do Ecomuseu da Amazônia desde o seu início. A ela, meus agradecimentos com efusivos cumprimentos. Obrigada também a Hugues de Varine, nosso consultor, presença valiosa e indispensável, com suas avaliações e orientações, à Odalice Priosti, sempre disponível, competente, ajudadora no que concerne às questões com que nos confrontamos na criação deste Ecomuseu da Amazônia, bem como à Maria Emília Medeiros de Souza, presidente da ABREMC. Registro aqui, igualmente, um agradecimento muito especial às comunidades das áreas de atuação do nosso Ecomuseu, enfim, a todos-pessoas e instituições-que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste evento. 6 1938-2007 A Laïs Fontoura Aderne, Idealizadora do Ecomuseu da Amazônia, para quem sonhar tinha a grandeza de alargar as fronteiras e levar aos povos da Amazônia o alento de sua escuta e solidariedade. In Memoriam 7 COMISSÃO ORGANIZADORA Therezinha Moraes Gueiros. Secretaria Municipal de Educação/Prefeitura de Belém-PMB. Elton de Barros Braga. Presidente da Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira-FUNBOSQUE. Maria Terezinha Resende Martins. Coordenadora do Ecomuseu da Amazônia. Hugues de Varine-Bohan. Consultor Internacional/Patrimônio e Desenvolvimento Local. Maria Emília Medeiros de Souza. Presidente da Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus ComunitáriosABREMC. Walter Vieira Priosti. Coordenador Geral do Núcleo NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz. de Orientação e Patrimônio Histórico- Luiz Tadeu Costa. Coordenador do Curso de Museologia da Universidade Federal do Pará-UFPA. Equipe Técnica do Ecomuseu da Amazônia Bruna Gondim Lopes - Assistente Administrativo Ellen Thaís Silva Azevedo - Turismóloga Gerson Barbosa Lage - Turismólogo Lecinda Maria das Chagas Moraes - Psicóloga Luana Chagas Fortuna - Engenheira Agronôma Luís Antonio Silva de Lima - Pedagogo Maria Faustina Monteiro da Costa - Cerâmista Renato Cordeiro Gomes - Engenheiro Florestal Renato Miranda de Souza - Técnico em Meio Ambiente Vinicius de Araújo Pacheco - Arte Educador Colaboradores Durval França - Engenheiro de Pesca Elton Ataíde - Motorista Éraclito Pereira - Museológo Wildinei Lima - Artista plástico COMISSÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA Therezinha Moraes Gueiros - Secretaria Municipal de Educação-Belém-PA. Hugues de Varine-Bohan - Consultor Internacional-França. Maria Terezinha Resende Martins - ABREMC/Ecomuseu da Amazônia-PA. Odalice Miranda Priosti - ABREMC/NOPH-Ecomuseu de Santa Cruz-RJ. Teresa Morales - Unión de Museos Comunitarios de Oaxaca-México. Yara Mattos - UFOP/Ecomuseu da Serra de Ouro Preto-MG. Giane Vargas Escobar - Museu Treze de Maio-Santa Maria-RS. Cláudia Feijó - Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro-Porto Alegre-RS. 8 AGRADECIMENTOS O Ecomuseu da Amazônia agradece a todos os participantes do IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários - IV EIEMC: comunidades, palestrantes, oficineiros, relatores, mediadores, grupos culturais, voluntários, e em especial a Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira em nome do seu presidente Elton de Barros Braga e a Secretária Municipal de Educação, professora Therezinha Moraes Gueiros que de maneira admirável, possibilitaram a realização deste evento. Que os saberes e fazeres amazônicos possam contribuir significativamente para os que participaram do IV EIEMC marcando uma nova etapa na construção coletiva de projetos de desenvolvimento humano sustentável. Equipe Técnica e Colaboradores do Ecomuseu da Amazônia Maria Terezinha Resende Martins Coordenadora do Ecomuseu da Amazônia/Coordenadora Geral do IV EIEMC 9 IV EIEMC IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários 12 A 16 DE JUNHO DE 2012. Belém – Pará – Brasil PARTICIPANTES BELÉM - BRASIL Nº 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. Nome Maria Terezinha Resende Martins Bruna Gonçalves Gondim Lopes Ellen Thaís Silva Azevedo Lecinda Maria das Chagas Moraes Vinicius de Araujo Pacheco Renato Miranda de Souza Gerson Luiz Barbosa Lage Renato Cordeiro Gomes Nauro Luis Pereira Chaves Durval Costa França Wildinei José de Jesus Assunção Lima Luana Chagas Fortuna Luis Antonio Silva de Lima Maria Faustina Monteiro da Costa Elton Costa Ataíde Helena do Socorro Alves Quadros Leonel Rodrigues Ferreira 18. Renata Emin-Lima 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. Roberto de Mendonça França Junior Taires Magno Pacheco Débora Hellem Souza Barros Talison Lima de Oliveira Patrick Souza de Almeida Lucas Sousa Santos Ana Carolina Coelho Douglas Zidane da Silva Luiza Paula Machado Thalia Santos dos Santos Carolina Inácio da Silva Lohana Alice Morais da Silva Yago de Jesus Barbosa de Lima Evelin de Alencar Sales Jaqueline de Vasconcelos Nunes Rubens Rafael Santa Brígida Arthur Afonso Fábio dos Santos Cardoso Rinoldo Alves Gabriel dos Santos Marlon Pereira Luan da Conceição Fagner Pantoja Gravo Adilson dos Santos Roseane Alves Mota Marta Cardoso Rodrigues Shirleny F. da Conceição Edi Santos de Souza Instituição ABREMC/Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia FUNBOSQUE/Ecomuseu da Amazônia FUNBOSQUE/Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Ecomuseu da Amazônia Museu Paraense Emilio Goeldi - MPEG Projeto Bicho D’água: conservação socioambiental. GMAM - MPEG Projeto Bicho D’água: conservação socioambiental. GMAM - MPEG ---------------------------Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Grupo de Teatro Monthuro Cia Contemporânea AMA Cia Contemporânea AMA Cia Contemporânea AMA Cia Contemporânea AMA Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi 10 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78. 79. 80. 81. 82. 83. 84. 85. 86. 87. 88. 89. 90. 91. 92. 93. 94. 95. 96. 97. 98. 99. 100. 101. 102. 103. 104. 105. 106. Nelma Marta da Conceição Vanuse dos Santos Magno Mônica Patrícia Evelin José Rodolfo B. Freitas Claudio Costa de Farias Maria Renildes dos Santos José Wilson Cardoso Machado Nilma Maria da Silva Ednéia de Sampaio Marques João Batista Costa dos Anjos Paulo Roberto Almeida de Oliveira Gleidson Everton dos Santos Carréra Adriana da Silva Ribeiro Débora Beatriz Gonçalves Coelho Marinete Boulhosa Cleber Silva de Oliveira Eber Paulo dos Santos Cardoso Sissa Aneleh Batista de Assis Maria Mirilande dos Santos Lima Fabíola Silva Pena Edi Carlos Costa Santos Diogo Jorge de Melo Maria do Socorro Reis Lima Maria do Socorro de Carvalho Ribeiro Luiz Tadeu da Costa Eliézer Miranda da Silva Junior Denize Genuína da Silva Adrião Lucimery Ribeiro de Souza Emanoel Fernandes de Oliveira Junior Mônica Gouveia dos Santos Rosangela Marques de Britto Laura Arlene Saré Ximenes Pontes Eliana Benassuly Bogéa Luiza Nayara Mendes Costa Bernardo Baia dos Santos Conceição Carla Marinete de Sousa Gemaque Bruna Caroline Castor da Silva Flavia Suammy Santana de Souza Lidiane Baia de Matos Luciana Christina de Oliveira Azulai Luis Alberto Freire dos Santos Filho Taynara Soares do Nascimento Sales Lorena Saem Pinheiro Magalhães Daniely de Oliveira Palheta Marília Tavares dos Santos Alissa Stael de Maria Pinheiro Magalhães Jéssica Luíza dos Santos Gusmão Nilma Maria da Silva Iraneide Holanda Maria Claudia Demetrio Gaia Rafael da Silva Miranda Maria Dorotéa de Lima Nazaré Pereira Maria de Nazaré do Ó Ribeiro Carla Viviane de Freitas Sandro do Espírito Santo Gonçalves Heleno Everton de Moraes Lima Jessica Monique dos S. da Conceição Nilvani Dantas Nascimento Edna Santos Grupo Parafolclórico Tucuxi Grupo Parafolclórico Tucuxi ---------------------------------------------------------------------------------Universidade Lusófona ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Espaço Cultural Coisas de Negro Espaço Cultural Coisas de Negro Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG IFPA Escola de Teatro e Dança da UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA Universidade Federal do Pará - UFPA EEETe - PA Francisco das Chagas Azevedo EEETe - PA Francisco das Chagas Azevedo Instituto Lupa Marajó Faculdade Ipiranga Ponto de Memória da Terra Firme ------------------------------------------------------------------------------------------------------------IPHAN - PA ---------------------------Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra 11 107. 108. 109. 110. 111. 112. 113. 114. 115. 116. 117. 118. 119. 120. 121. 122. 123. 124. 125. 126. 127. 128. 129. 130. 131. 132. 133. 134. 135. 136. 137. 138. 139. 140. 141. 142. 143. 144. 145. 146. 147. 148. 149. 150. 151. 152. 153. 154. 155. 156. 157. 158. 159. 160. 161. 162. 163. 164. 165. Maria Luiza do Ó Ribeiro Renan Silva Carlos André Cardoso Teixeira Maria Goret do Ó Ribeiro Tarcisio Santos João Ribeiro Luiz Fernando Corrêa Fernando dos Santos Alexandre Lauro dos Santos Bruno da Silva Ferreira Carlos Renan Pereira Cavalcanti Marcus Vinicius Pinheiro Lima José Maciel Melo Cássia Alexandra Pinheiro Sandy Cristiane da Silva Dawana Silva da Silva Sandson Paula da Silva David Jhones Ó Silva Karla Adriane da Silva Maria do Carmo da Silva Jose Macielle Silva da Silva Sandro Paulo da Silva Sabrina Paulo da Silva Constantino Pedro de Alcântara Neto Juliene Rodrigues Abreu Renan Sanches Waldenar Almeida Arthur Afonso Brenda A. Coelho Edson Jhony do Amaral Siqueira Leonel das Chagas Oliveira Jhordan Kleber T. do Nascimento Lucas Patrick Amaral da Silva David Ataíde Moraes Anderson Aguiar da Silva Reginaldo Nunes Aleixo Coelho Rosivaldo Vasconcelos Batista Rosivan Vasconcelos Batista Larissa Vasconcelos Batista Yuon Wesley Silva Rafael Nascimento da Silva Laureane Ataíde Jessica Brenda Marilia Teixeira Laiz Vasconcelos Batista Joyce Coelho Marinho Thayná de Nazaré Araujo de Brito Jaqueline Cristina Brito da Cunha Crislana Karolaine Brito da Cunha Débora Cristina de Amorim Melo Joyce Nayara Ferreira Pereira Ana Carolina de Souza Ferreira Nayara Uhly Mourão Kurline Silva Tavares Daniele Aguiar da Silva Reginaldo A. Coelho Tedi Marques Antonio Geraldo Rodolpho Zahluth Bastos Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo Parafolclórico Vaiangá e Águia Negra Grupo de Dança Enigma Grupo de Dança Enigma Grupo de Dança Enigma Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Folia de Reis do Menino Jesus Faculdade da Amazônia – FAMAZ Associação dos Angoleiros dos Quilombos Power Step Dance Power Step Dance Power Step Dance Power Step Dance Power Step Dance Ponto de Memória da Terra Firme/ Cutiboia Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Pássaro Junino Colibri Secretaria Municipal de Meio Ambiente Prefeitura Municipal de Ananindeua 12 166. 167. 168. 169. 170. 171. 172. 173. 174. 175. 176. 177. 178. 179. 180. 181. 182. 183. 184. 185. 186. 187. 188. 189. 190. 191. 192. 193. 194. 195. 196. 197. 198. 199. 200. 201. 202. 203. 204. 205. 206. 207. 208. 209. 210. 211. 212. 213. 214. 215. 216. 217. 218. 219. 220. 221. 222. 223. 224. 225. Monica Goreth Costa ribeiro Aldenora Pena da Silva Madson Oliveira Lima Bianca de Oliveira Gomes Aguiar Margareth Calandrini A. carvalho Fernanda Lima de Almeida Rosana Chermont Mesquita Diana Claudia Portal Pereira Maria Berenice Dias e Dias Ednéia de Sampaio Marques Rosivaldo Batista Valdemar da Silva Dias Edilzane Almeida Corrêa Sandra Regina Gomes Trindade Walmira de Nazaré Ferreira Paschoal Leandro Augusto Ferreira dos Santos Heliane Monteiro da Costa Leila Maria Rego do Santos Antonio Marcos Machado Borges Aline Chagas Aarão Elton Braga Otavio Pereira de Souza Junior Marcus Vinicius de Oliveira Raiol Milena de Jesus Carvalho dos Santos Maria de Nazaré Gama Oliveira Manoela Franco da Silva Evelin de Alencar Sales Waldinézia de Avelar Pamplona Martins Welligson das Chagas Lameira Wanny Marceli Costa Góes Dias Roberta da Trindade Pantoja Hage Rubens Rafael Santa Brígida Ricardo Cesar Silva Torres Natália Paixão Teixeira Natália Passos Fernandes Polyana Marcela dos Anjos Sousa Carlos Eduardo de Souza Silveira Luã Gabriel dos Santos Valber Santos de Araujo Nilma Maria da Silva Silvane Lopes Chaves Mauricio Ferreira Torres Misleny Araujo da Silva Monica Patrícia Monteiro Lisboa Maria de Nazaré Reis e Silva Kauffman Marcilio Benedito Caldas Costa Lizia Brito da Trindade Ricardo Cesar da Silva Torres Mary Fernandes da Silva Maria Ainda de Jesus Delise Pereira Marcio Alex Tavares Magalhães Katia Fernandes do Amorim Yasmin Navarro Tuji Mauricio dos Santos Macedo Renise Xavier Tavares Fidélis Junior Martins Paixão Fernanda de Fatima Madeira Ramos Monteiro Francisca Nescylene Fontenele Francis Mary Moraes Rodrigues Fabíola Natalie Coelho Brandão Lacerda Museu Parque Seringal Museu Parque Seringal Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA Centro Cultural João Fona Museu do Marajó CRAS Outeiro/ FUNPAPA Secretaria Municipal de Educação – SEMEC Secretaria Municipal de Educação – SEMEC Secretaria Municipal de Educação – SEMEC Secretaria Municipal de Educação – SEMEC Casa Escola de Pesca – CEPE Casa Escola de Pesca – CEPE Casa Escola de Pesca – CEPE Casa Escola de Pesca – CEPE Casa Escola de Pesca – CEPE Casa Escola de Pesca – CEPE Casa Escola de Pesca – CEPE Casa Escola de Pesca – CEPE Casa Escola de Pesca – CEPE Casa Escola de Pesca – CEPE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE 13 226. 227. 228. 229. 230. 231. 232. 233. 234. 235. 236. 237. 238. 239. 240. 241. 242. 243. 244. 245. 246. 247. 248. 249. 250. 251. 252. 253. 254. 255. 256. 257. 258. 259. 260. 261. 262. 263. 264. 265. 266. 267. 268. 269. 270. 271. 272. 273. 274. 275. 276. 277. 278. 279. 280. 281. 282. 283. 284. 285. Helen Marisa de Oliveira Cardoso Helane Cibele do Nascimento Campos Igor Teixeira Amaral Isabela Sena Simões Iolanda Ferreira Gonçalves Itala Cristine Castro dos Santos Aline Duarte Silva Angela Maria Bastos de Melo Adriane de Fátima Rayol da Cruz Andréa Cristina Genú Paes Barreto Amilcar de Souza Martins Sobrinho Adilton Pereira Ribeiro Andresson Carlos Elias Barbosa José Maria Andrade Filho Alickson Sergio Lopes de Souza Auriode Regina Martins Morais Arlinda Maria Amaral Gonçalves Joana Maria Farias Ferreira José Rafael Bezerra Freitas Laurenice Nogueira da Conceição Lizia Britto da Trindade Darlene Bezerra Lemos Monteiro Dayse do Socorro Borges Fonseca Camila Marreira Pacífico Patrícia de Oliveira Ribeiro Ana Paula Miranda Gomes Heloiza de Oliveira Benjamin Nara Cerli Alves Moraes Paula Cristina Reale Bastos Rosa Cristina Maria Raiol da Silva Valente Carolina Monica Gouvea de Souza Claudionor Ferreira Araujo Carla Patricia Rayol da Cruz Alcione Socorro Souza Gomes Cristina Bessa Elias Gomes dos Santos Ivana de Paula Paes Amélia Ferreira Rodrigues Sabrina Santos Emylla Karoline Thayan de Almeida Farias Cintya da Silva Aguiar Jean Pereira Marinho Samira Pereira Barbosa Arthur Afonso Paes de Freitas Karina do Espírito Santo Souza Almira do Socorro Oliveira Santos Anderson Upton de Brito Waldenor Almeida dos Santos Ana Claudia Rocha Ribeiro Suellen Alves Almeida Débora Vitória Silva de Jesus Cledyely da Rosa Pompeu Jeferson Fonseca Pereira Marcela Mendonça Trindade Wellyton Santos da Silva Waldenise Meireles de Freitas Rafael Dutra Fonseca Williane Safira dos Santos Souza Marcos Vinicius Pinheiro Lima Bruno da Silva Ferreira FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE 14 286. 287. 288. 289. 290. 291. 292. 293. 294. 295. 296. 297. 298. 299. 300. 301. 302. 303. 304. 305. 306. 307. 308. 309. 310. 311. 312. 313. 314. 315. 316. 317. 318. 319. 320. 321. 322. 323. 324. 325. 326. 327. 328. 329. 330. 331. 332. 333. 334. 335. 336. 337. 338. 339. 340. 341. 342. 343. 344. 345. Adrielle Teixeira Carmem Alana da Silva Aguiar Antonio Gabriel R. Marques Jonathan William Matos Almeida Valeria Romana Palheta dos santos Mariana Correa Jardim Leandro Rodrigues Nogueira Samuel da Silva dos Reis Alberto de Brito Mota Junior Mônica Goreth Costa Ribeiro Anna Paula Coutinho de Lima Ana Ocenil Lira Sousa Carlos Henrique Rodrigues da Silva Cleviane Cardoso da Costa Helena do Socorro B. Silva João Ricardo da Silva Viana Selma Suely Botelho de Souza Pedro Pinheiro Damasceno Maria José Alves dos Santos Regyane Dias Adilson Silva Assunção Natalia Cristina Brito David Lobo de Souza Germina Brito Neuziane Duarte do Nascimento Simone Coutinho da Silva José Martins Ferreira da Silva Rosineide Brito da Silva Hilario Ferreira do Nascimento Rosilene Mesquita Lima José de Souza Mesquita Cintia da Silva Elen Cristina Mesquita da Silva Rosilene Carneiro Pereira Maria do Socorro Mesquita da Silva Antônia Maria Mesquita Mirian Ribeiro Maria Odete Raimundo Ozario Coutinho Raquel Ozario Coutinho Mônica da Silva Lucas Constantino Correa da Silva Luciene Almeida Farias Carlos Henrique R. da Silva Maria Lidia L. dos Santos Telma Lucia Pinheiro Rita de Cassia M. de Oliveira Rufina Neves Duarte Clissia Fadia da Silva Ribeiro José Lobato Lima Angela Alves Lima Manoel Janio Serra Delgado Flavia Carla da Silva Ribeiro Maria de Nazaré dos Santos Marlene da Costa Croelhas Liliane Cristiane Palheta Guimarães Rosa Neves Elza Sales Ilson Raimundo Sodré Martins Aline Cristina Serrão Silva FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE FUNBOSQUE Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Mosqueiro Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Ilha de Cotijuba Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Distrito de Icoaraci 15 346. 347. 348. 349. 350. 351. 352. 353. 354. 355. 356. 357. 358. 359. 360. 361. 362. 363. 364. 365. 366. 367. 368. 369. 370. Comunitários – Distrito de Icoaraci Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Comunitários – Ilha de Caratateua Grupo Ambiental Natureza Viva-GANV Karem Jullyem N. dos Santos Leonildes Soares da Silva Ângela Antonia da Silva Carvalho Sonia Suelly Boares Ana Cléia Cardoso Neves Ana Maria Araújo de brito Carlos Alberto Silva Meguy Maria de Lourdes Sousa Maria Dulcirene A. de Lima Maria Lúcia Tobias Maria das Graças Figueiredo Maria das Graças A. Silva Maria de Nazaré Lima Maria de Nazaré G. Lima Maria de Lourdes Saldanha Soraya Gorett Pinheiro Searina Raiol Bello Raimunda da Silva Ferreira Rosangela Monteiro Santa Brígida Lizete Lima de Souza Sandra da Costa Ferreira Maria José de Assunção Lima Pedro de Jesus Dutra Samara Bezerra Paulo Oliveira MARANHÃO – BRASIL Nº 1. Nome Instituição Museu Casa Histórica de Alcântara/IBRAM Liz Renata Lima Dias SANTA CATARINA – BRASIL Nº 01 02 Nome Rafael Muniz de Moura Rosane Luchtenberg 03 Valda de Oliveira Fagundes Instituição IBRAM/Museu Victor Meireles Museu Comunitario Engenho do Sertão Instituto Boimamão Preservação e Fomento da Cultura Ecomuseu Dr. Agobar Fagundes CEARÁ – BRASIL Nº 1. Nome Francisco Fábio Santiago 2. 3. Jorge Araujo de Abrunhosa Nadia Helena Oliveira Almeida Instituição Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Chorozinho Ecomuseu de Maranguape/Fundação Terra Ecomuseu de Maranguape/Fundação Terra PIAUÍ – BRASIL Nº 1. Nome Marlene dos Santos Costa Nº 1. 2. Nome Karla Adriana Nascimento Cunico Maria Emília Medeiros de Souza Nº 1. Nome Instituição CICIL-FUNDHAM PARANÁ – BRASIL Instituição Universidade Federal do Paraná – UFPR Ecomuseu de Itaipu MATO GROSSO DO SUL – BRASIL Instituição Projeto Anima Izabel Brunzician SÃO PAULO – BRASIL Nº 1. Nome Luisa Helena Thesin 2. Maria Angela Piovesan Savastano Instituição Produtora Cultural Independente Instituto de Artes da UNESP Universidade Estadual Paulista Museu do Folclore – Centro de Estudos da Cultura Popular 16 3. Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP Nivea Cristina Lopes Oliveira ESPÍRITO SANTO – BRASIL Nº 1. Nome Paula Nunes Costa Nº 1. 2. 3. Nome Adirleide Greice Carmo de Souza Cleide Martins dos Santos Ivan Andrade dos Santos Nº 1. Nome Lucinete Aparecida de Morais 2. Manuelina Maria Duarte Cândido Nº 1. Nome Maiara Roberta de Melo Bezerra 2. Paulo André Roque Lopes Magalhães Nº 1. 2. Nome Rosilene Maria de Cassia Maciel Suane Ferreira Santos de Oliveira 3. Vicente de Paulo Oliveira Faustino Nº 1. 2. Nome Instituição Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo SECULT/ES AMAPÁ – BRASIL Instituição Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva Secretaria de Cultura do Amapá- SECULT/AP Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva GOIÁS – BRASIL Instituição Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França Universidade Federal de Goiás – UFG RONDÔNIA – BRASIL Instituição Sociedade Amigos do Xadrez Ecomuseu Comunitário de Rondônia Ponto de cultura Associação Beneficente dos Enxadristas e Damistas de Rondônia TOCANTINS – BRASIL Instituição Instituto Natureza do Tocatins – Naturatins Secretaria de Cultura do Estado de Tocatins – SECULT/TO Monumento Natural das Arvores FossilizadasNaturatins DISTRITO FEDERAL – BRASIL Instituição ---------------------------Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM Cibele Boaventura Gomide Marcelle Regina Nogueira Pereira PERNAMBUCO – BRASIL Nº 1. 2. 3. Nome Instituição Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes UNESCO Eliane Sotério da Silva Elinildo Marinho de Lima Vânia Brayner Rangel RIO DE JANEIRO – BRASIL Nº 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Nome Ana Paula Corrêa de Carvalho Aurelina de Jesus Cruz Carias Bianca de Moura Wild Bruno Cruz de Almeida Daisy Aderne Mercer Carneiro Diogo da Silva Cardoso Fernando Ermiro da Silva Helena Maria Marques Araújo Jose Carlos Barros da Rocha Julyanna Elena Ferreira da Costa Leonardo Boff Marcia Maria Monteiro de Miranda Lucienne Figueiredo dos Santos Lúcio Teixeira Marlucia Santos de Souza Manoel Ribeiro da Costa França Marcia Cristina de Souza e Silva Marcelly Marques Pereira Instituição NOPH / Ecomuseu de Santa Cruz ------------------------Movimento Ecomuseu de Sepetiba Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica – NOPH ---------------------NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz Museu da Rocinha – Sankofa Memória e História UERJ – PUC – RIO Ecomuseu Nega Vilma Ecomuseu Nega Vilma -----------------------------------------------------------------SIM NOPH/ Ecomuseu – SME/10ª CRE PET JCCB Museu Vivo de São Bento NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz Museu de Favela – MUF Museu da Maré 17 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. Maria Elizabeth Souza Maria Aparecida Ó. Padua Maria de Lourdes Parreira Horta Mario de Souza Chagas Nelson Crisóstomo dos Santos Filho Odalice Miranda Priosti Pablo Ramos Camilo Regina Celia dos Santos Gonçalves França Ricardo da Costa Rondelly Soares Cavulla Sinvaldo do Nascimento Souza Tereza Cristina Moletta Scheiner Tiago de Oliveira Rodrigues Walter Priosti Nº 1. 2. Nome Adenildes Santana Vargas Leal Ana Arita Souza de Araujo 3. 4. Luísa Mahin Araújo Lima do Nascimento Renata Freitas Machado 5. Rita de Cassia Oliveira Pedreira NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz Ecomuseu Nega Vilma Instituto Cravo Albin IPHAN/MINOM Trama Afroindígena NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz Ecomuseu Nega Vilma UNIRIO NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz ICOM Internacional NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz BAHIA – BRASIL Instituição Ponto de Memória de Matarandiba/ASCOMAT Associação Beneficente Cultural OyáNí/Museu Afro Cultural Ponto de Memória de Matarandiba/ASCOMAT Museu Comunitário de Matarandiba Projeto Dedinho de Prosa/cadinho de memória – UFBA MINAS GERAIS – BRASIL Nº 1. 2. 3. 4. 5. 6. Nome Adriana Piva Andressa Iza Gonçalves Barbara Maria Costa de Paula Cauê Donato Silva Araujo Carina Prata Borges Dayana Francisco Leopoldo 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Gabriela de Lima Gomes Guilherme Goretti Rodrigues Jose Marcio Barros Leonardo de Oliveira Carneiro Luana Caroline Damião Marcelo José de Marques Lima Margareth Veisac Marton Maria Stela Ferreira dos Santos Michele Louise Guimarães da Silva Rosalba Lopes Silvia de Souza Lima Vitor de Castro Morais Yára Mattos Instituição Associação Gruta Lapinha Viva Viraminas Associação Cultural Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora Laboratório de Territorialidades Urbanas (LATUR) Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF Observatório da Diversidade Cultural Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP Espaço Cultural Nhá Rita - Memorial da Fazenda Cipó Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP Espaço Cultural Nhá Rita- Memorial da Fazenda Cipó Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP Instituto Inhotim Espaço Cultural Nhá Rita - Memorial da Fazenda Cipó Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP RIO GRANDE DO SUL – BRASIL Nº 1. 2. Nome Angela Tereza Sperb Célia Maria Pereira 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 12. 13. Claudia Feijó da Silva Dulce Helena Mendonça dos Santos Eráclito Pereira Fabiano Venturotti Giane Vargas Escobar Heron Moreira Izolina Elísia de Anhaia Luana Gonzales Bassa Maria Carolina Vieira Maria Suzana Loureiro dos Santos 14. Patrícia Berg Instituição Tempus Consultoria Planejamento Ltda Centro de produção, promoção e formação em artes e cultura – Ponto de cultura ArtEstação. Museu Comunitário Lomba do Pinheiro Ecomuseu de Picada Café Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM Museu Treze de Maio Universidade Federal de Pelotas – UFPEL Museu Comunitário Lomba do Pinheiro Universidade Federal de Pelotas – UFPEL ---------------------------Centro de produção, promoção e formação em artes e cultura – Ponto de cultura ArtEstação. ABREMC 18 15. 16. Patricia Rosina Stoffel Hansen Teresinha Beatriz Medeiros Ecomuseu de Picada Café Museu Comunitário Lomba do Pinheiro ARGENTINA Nº 1. 2. Nome Silvia Durá Gabriela Alonso 3. 4. Maria Alejandra Korstanje Sebastian Carrera Instituição Museos de Quilmes/ Provincia de Buenos Aires Curaduría de Museus em Quilmes/ Provincia de Buenos Aires Instituto de Arqueologia y Museo (UNT) Grupo AmplioSalvatablas ESPANHA Nº 1. Nome Instituição Universidade de Nebrija Oscar Navajas Corral FRANÇA Nº 1. 2. Nome Instituição ---------------------------Communauté et Développement Local Beatrice de Varine Hugues de Varine-Bohan ITÁLIA Nº 1. 2. 3. Nome Instituição Ecomuseo delle Acque del Gemonese Ecomuseo d’Argenta Ecomuseu del Paisaggio - Comune di Parabiago Etelca Ridolfo Nerina Baldi Raul dal Santo MÉXICO Nº 1. 2. Nome Instituição Museo Comunitario Tepatlaxco UMCO Oscar Rodriguez Rios Teresa Morales Lersch PARAGUAI Nº 1. 2. 3. Nome Alda Carreras Derlis Reinaldo Ramoa Alcaraz Miguel Angel Mendonza Alfonzo Nº 1. 2. 3. Nome Ana Mercedes Stoffel Fernandes Graça Filipe Sonia Filipa da Silva Gaspar Instituição SNC Itaipu Binacional MD Itaipu Binacional MD PORTUGAL Instituição Museu da Batalha Ecomuseu de Seixal Projecto Tesouros da Ameixoeira/SCML/Programa K’cidade 19 PROGRAMAÇÃO DIA 12 de JUNHO – TERÇA-FEIRA CENTRO DE EVENTOS BENEDITO NUNES - UFPA 09h00 - Abertura Solene. Homenagem a Secretária Municipal de Educação – Therezinha Gueiros. 10h30 – Conferência: A Sustentabilidade e a Responsabilidade do Homem com a Preservação do Patrimônio – Leonardo Boff-Brasil-BR Mediador: Mário Chagas – MINOM-Brasil-BR 11h30 – Apresentação especial: 40 anos da Mesa de Santiago do Chile – Hugues de Varine-Bohan – França-FR Mediadora: Maria de Lourdes Parreira Horta – Instituto Cravo Albin-RJ. 12h00 – Coquetel/Lançamento de livros: VARINE, Hugues de. Raízes do futuro – França-FR MATTOS, Yára; Mattos, Yone. Abracaldabra: uma aventura afetivo-cognitiva na relação museu-educação – Brasil-BR 12h00 – Apresentações Culturais: Balé Folclórico ParAmazon, Tupiniquim, Ansoripará, Diego Carneiro. 14h00 – Palestra: Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local – Teresa Morales – UMCO – México-MX Mediadora: Maria Emilia Medeiros de Souza – Ecomuseu de Itaipu-PR-BR. Apresentação de relatos de experiências das comunidades das áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia. 14h40 – Eixo Cultura. 15h10 – Eixo Meio Ambiente. 15h40 – Intervalo. 16h00 – Eixo Turismo. 16h30 – Eixo Cidadania. 17h30 – Apresentação Cultural: Grupo Portal da Melhor Idade, grupo de carimbó de Castanhal do Mari-Mari. DIA 13/JUNHO – QUARTA-FEIRA AUDITÓRIO MARIANO KLAUTAU - FUNBOSQUE 08h30 – Mesa Redonda I: Inventário Participativo e Responsabilidade Socioambiental. Maria Terezinha Resende Martins – Ecomuseu da Amazônia-BR; Maria Emília Medeiros de Souza – Ecomuseu de Itaipu-BR; Raul dal Santo – Ecomuseu del Paesaggio-Itália-IT; Maria de Lurdes Parreira Horta – Instituto Cravo Albin-BR; Mediador: Diogo Jorge de Melo – Universidade Federal do Pará-UFPA-BR; Relator: Nerina Baldi – Sistema Ecomuseale di Argenta-IT. 10h30 – Oficinas relacionadas à Mesa Redonda I. 1. Inventário Participativo do Ponto de Memória da Terra Firme – Helena QuadrosMuseu Goeldi-Pará-BR;2.Nossas práticas e Atitudes Frente a Carta das Responsabilidades Humanas e ao Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global – Maria Claudia Demetrio Gaia-FAMAZ-PABR;3.Identificando Memórias – Diogo Jorge de Melo e Socorro Lima-UFPA-PABR;4.Sucos da Horta: Escola Bosque e Estrelado – Mary Fernandes e Maria Aida de Jesus Delise Pereira-FUNBOSQUE-PA-BR;5.Ecomuseu de Maranguape e Educação Integral no Desenvolvimento Local Sustentável – Nadia Helena Oliveira AlmeidaCeará-BR;6.Viveiro de Mudas: Semear e Plantar para uma Educação Sustentável – 20 Elias Gomes e Monica Lisboa-FUNBOSQUE-Pará-BR;7.Agenda 21 – Fidélis PaixãoPA-BR. 12h00 – Apresentação Cultural: Grupo de Teatro Monturo-PA-BR. 14h00 – Mesa Redonda II: A Relação das Organizações Sociais e os Ecomuseus e Museus Comunitários. Odalice Priosti – Ecomuseu de Santa Cruz-BR; Oscar Navajas Corral – Universidade de Nebrija-Espanha-ES; Alejandra Korstanje – Instituto de Arqueologia y MuseoArgentina-AR; Hugues de Varine-Bohan – FR; Mediadora: Maria Dorotéa de Lima – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN-Pará-BR; Relatora: Valda Oliveira Fagundes – Ecomuseu Dr. Agobar Fagundes-Santa Catarina-SC-BR. 16h00 – Oficinas relacionadas à Mesa Redonda II 1.Biscoitos da horta: jerimum e cascas de legumes – Mary Fernandes e Maria Aida de Jesus Delise Pereira-FUNBOSQUE-Pará-BR;2.Danças típicas regionais com enfoque no carimbó – Maria de Nazaré do Ó Ribeiro-Grupo Parafolclórico Vaiangá-PABR;3.Registro de passagem – Roberto França-PA-BR;4.Canto popular: Cuidados com a voz – Claúdio Samura-PA-BR. 17h30 – Apresentações Culturais: Grupo Parafolclórico Vaiangá; Grupo de Carimbó Águia Negra-PA-BR. DIA 14/JUNHO – QUINTA-FEIRA AUDITÓRIO MARIANO KLAUTAU - FUNBOSQUE 08h30 – Mesa Redonda III: Produção e Criatividade nos Ecomuseus e Museus Comunitários. Etelca Ridolfo – Ecomuseu delle Acque del Gemonese-IT; Laura Ximenes – Museu do Açaí/MAÇAÍ-UFPA-PA-BR; Yára Mattos-Ecomuseu da Serra de Ouro Preto-MG-BR; Diogo Jorge de Melo-UFPA-PA-BR; Mediador: Luiz Tadeu da Costa – UFPA-PA; Relator: Marcelly Marques Pereira – Museu da Maré-RJ-Brasil. 10h30 – Oficinas relacionadas à Mesa Redonda III. 1.Hidroponia I – Lúcio Teixeira-E.M.João Gualberto Jorge do Amaral e PET Jornalista C.Castelo Branco-RJ-BR; 2.Experiência do Museu Goeldi com Alimentação Saudável Helena Quadros – Museu Goeldi-Pará-BR 3.BiomapasComunitário – Vinicius Pacheco-Ecomuseu da Amazônia-PA-BR; 4.VerdeFoto – Gabriela de Lima GomesUFOP-BR ;O Desafio da Educação Museal e os Museus sem Paredes – Valda Fagundes de Oliveira-Ecomuseu Dr. Agobar Fagundes-SC-BR ;5.Danças Regionais – Fábio Cardoso-PA-BR. 12h00 – Apresentações Culturais: Folia de Reis Menino Jesus-PA-BR, Grupo Enigma-FUNBOSQUE, Grupo de hip hop PSD-FUNBOSQUE-PA-BR. 14h00 – Mesa Redonda IV: Relação do Turismo de Base Comunitária e o Desenvolvimento Local. Ana Mercedes Stoffel Fernandes Museu da Batalha – Portugal-PO; Marlucia Santos de Souza – Museu Vivo de São Bento-RJ-BR; Marcia Souza – Museu de Favela-RJBR;Marinete Silva Boulhosa-Instituto Federal do Pará-IFPA-BR; 21 Mediadora: Claudia Feijó – Museu Comunitário Lomba do Pinheiro-RS-BR; Relatoras: Denise Adrião – Museu Emilio Goeldi-PA-BR; Giane Vargas Escobar – Museu Treze de Maio-RS-BR. 16h00 – Oficinas relacionados à Mesa Redonda IV. 1.Hidroponia II – Lúcio Teixeira - E.M.João Gualberto Jorge do Amaral e PET Jornalista C.Castelo Branco-RJ-BR; 2.O Turismo de Base Comunitária como Indutor do Ecodesenvolvimento Local – Constatino Alcântara-FAMAZ-PA-BR;3.Homem, Natureza e a utilização dos Recursos Naturais – Wildinei Lima-Ecomuseu da Amazônia-PA-BR;4.Patrimônio e Capacitação dos Atores Sociais Para o Desenvolvimento Local no Ecomuseu de Santa Cruz – Equipe do NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz e Movimento Ecomuseu de Sepetiba-RJ-BR; Danças Regionais – Fábio Cardoso-Grupo Folclórico Tucuxi-PA-BR 17h30 – Apresentação Cultural: Grupo Musical Tupiniquim, Ansoripará, Grupo Folclórico Tucuxí, Grupo de Carimbó Juruparí, Cordão de Pássaro Junino Colibri. DIA 15/JUNHO – SEXTA-FEIRA AUDITÓRIO MARIANO KLAUTAU - FUNBOSQUE. 08h30 – Mesa Redonda 5: Cidadania e Protagonismo Comunitário. Giane Vargas Escoba – Museu Treze de Maio-RS-BR; Claudia Feijó – Museu Comunitário Lomba do Pinheiro-RS-BR; Teresa Scheiner – UNIRIO-RJ-BR; Graça Filipe – Ecomuseu Seixal-PO; Socorro Lima – Universidade Federal do Pará-PA-BR; Mediadora: Marcelle Regina Nogueira Pereira – Instituto Brasileiro de Museus-IBRAM; Relatora: Yára Mattos – Ecomuseu da Serra de Ouro Preto-MG- BR. 09h00 – Sistematização dos documentos construídos IV EIEMC. 10h00 – Fórum: Marcelle Regina Nogueira Pereira – IBRAM; Mário Chagas – MINOM. 11h00 – Reunião das Redes e Propostas ICOM/2013 (IBRAM-ICOM Brasil). 11h30 – Apresentação Cultural: Grupo de Performance Agentes e Monitores Ambientais - AMA. 14h00 – Plenária final: Apresentação das Diretrizes/conclusões dos GT’s para construção e aprovação da Carta de Caratateua. 16h00 – Pôr-do-sol Cultural: 5º aniversário do Ecomuseu da Amazônia. Manifestações Culturais: Grupo Coreográfico Sociedade São Vicente de Paulo, Grupo Musical Tupiniquim e Ansoripará, Grupo Parafolclórico Vaiangá e Cantora Nazaré Pereira. DIA 16/JUNHO – SÁBADO Visita nas áreas do Ecomuseu da Amazônia: Ilha de Mosqueiro - Comunidades: Vila, Caruaru, Castanhal do Mari-Mari e Assentamento Paulo Fonteles. Obs¹: Após cada mesa redonda, os participantes optaram por uma oficina. Obs²: No dia de campo, os participantes optaram por um roteiro. 22 SUMÁRIO O Projeto do IV EIEMC..................................................................................................30 I. TEXTO PROVOCATIVO MARTINS, Maria Terezinha Resende-BRASIL; VARINE-BOHAN, Hugues de-FRANÇA A CAPACITAÇÃO - práticas e tentativas de teorização................................................45 II. CONFERÊNCIA BOFF, Leonardo - BRASIL Desafios atuais para a construção da sustentabilidade................................................66 III. PALESTRAS MORALES, Teresa - Oaxaca - MÉXICO Capacitación de los Actores de los Museos Comunitarios…………..………………….71 VARINE-BOHAN, Hugues de - FRANÇA Où en sommes-nous après 40 ans?.............................................................................75 IV. DOCUMENTOS APRESENTADOS ÀS PLENÁRIAS BINETTE, René - CANADÁ Un musée citoyen et ses liens avec la communauté: le cas de l’Écomusée du Fier Monde............................................................................................................................78 BOULHOSA, Marinete - PA-BRASIL MUSEU DO MARAJÓ: A importância do museu para o resgate, conservação e divulgação da cultura.....................................................................................................83 ESCOBAR, Giane Vargas - RS-BRASIL; VARINE-BOHAN, Hugues de - FRANÇA Patrimônio Comunitário e Novos Museus: a face afro-brasileira da museologia comunitária....................................................................................................................87 FILIPE, Graça - PORTUGAL Cidadania e Protagonismo Comunitário: refletindo sobre os museus e a gestão patrimonial………………………………………..……………………………………………92 KORSTANJE, Alejandra; CARRERA, Sebastián - ARGENTINA La construcción de un museo rural comunitario:comunidad, turismo y proyección social en el Valle de El Bolson (Catamarca, Argentina)………………………………………….98 LIMA, Maria do Socorro - PA-BRAS IL Projeto Além dos Muros: musealização e memória coletiva.......................................103 LUGO, Raúl Andrés Méndez - MÉXICO El ecomuseo como comunidad educadora…………..……………………………….….109 MARTINS, Maria Terezinha Resende - PA-BRASIL Ecomuseu da Amazônia: a prática da partilha do patrimônio.....................................118 MATTOS, Yára - MG-BRASIL Diálogo, Sentido e Significado no Ecomuseu da Serra de Ouro Preto/MG................126 23 NAVAJAS, Óscar - ESPANHA Ecomuseos y Museología Social en España……………..…………………………...…130 OHARA, Kazuoki - JAPÃO Reforming local Activities into one Community - Making local identity by Ecomuseum in Miura Peninsula………............……………….............................….....137 PRIOSTI, Odalice; PRIOSTI, Walter - RJ-BRASIL Os Ecomuseus e o patrimônio da liberdade da ação comunitária..............................140 PRIOSTI, Walter Vieira; PRIOSTI, Odalice Miranda - RJ-BRASIL Ressonâncias das I Jornadas Formação em MC/2009...............................................149 RIDOLFO, Etelca – ITÁLIA PAN DI SORC – histoire d’ un projet………….......……………..…………………….…155 SANTO, Raul dal – ITÁLIA Can parish maps inspire future?..................................................................................167 SCHEINER, Tereza Museologia e Protagonismo Comunitário: mitos e realidades....................................171 SILVA, Cláudia Feijó da - RS-BRASIL Museus Comunitários: protagonismo e práticas cidadãs............................................172 SOUZA, Márcia - RJ-BRASIL Modos e desafios de visitação do Museu de Favela-RJ.............................................176 SOUZA, Maria Emília Medeiros de; SANTOS RIBEIRO, Tatiara Damas - PR-BRASIL Ecomuseu de Itaipu e a Rede Regional de Museus, Memória e Patrimônio Natural e Cultural: instrumentos de gestão patrimonial comunitária...........................................179 STOFFEL, Ana Mercedes - PORTUGAL MCCB - Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, o museu de todos................187 V. DOCUMENTOS DE BASE ALMEIDA, NÁDIA - CE - BRASIL Ecomuseu de Maranguape: um povo, sua cultura e seu território na educação integral da comunidade local....................................................................................................195 BASSA, Luana G; MOREIRA, Heron; CRUZ, Matheus - RS - BRASIL Políticas Públicas Patrimoniais voltadas aos museus comunitários...........................196 BASTOS, Rodolpho; BOGÉA, Eliana Benassuly; SILVA, Aldenora P. da; RIBEIRO, Mônica C; RIBEIRO, Maria do Socorro - PA-BRASIL Museu Parque Seringal, patrimônio natural e cultural.................................................200 BITENCOURT, Heliana Rodrigues de - PA - BRASIL A Ilha de Caratateua na memória de seus moradores................................................203 CÂNDIDO, Manuelina M.Duarte - GO-BRASIL A gestão e o planejamento só dizem respeito aos museus tradicionais?...................206 CARDOSO, Diogo da Silva - RJ - BRASIL 24 Repensando os conceitos geográficos e sua aplicabilidade nos ecomuseus e museus comunitários brasileiros: uma introdução....................................................................210 FRANÇA JÚNIOR, Roberto de Mendonça - PA - BRASIL Ações do Ecomuseu da Amazônia na Ilha de Cotijuba: possibilidades de interpretação do patrimônio natural e cultural local.......................................................................... 219 MOREIRA, Heron; CRUZ, Matheus; BASSA, Luana Gonzalez; LEAL, Noris M.P. M RS - BRASIL Sistema de Formação Integrado no Programa de Preservação do Patrimônio Cultural da Região do Anglo – Pelotas-RS...............................................................................228 PEDREIRA, Rita; CARDOSO, Cristiano; ALMEIDA, Ana Claúdia Borges de - BA BRASIL Disseminação da Informação Patrimonial...................................................................231 SAVASTANO, Ângela - São José dos Campos - SP - BRASIL Patrimônio e Capacitação: uma reflexão, uma caminhada. Ecomuseu Campos de São José................................................................................235 SILVA, Daniel; SILVA, Enilson; NOGUEIRA, Daniel - PA - BRASIL Transferência de Tecnologia: uma ferramenta para a promoção da segurança alimentar e do desenvolvimento local da Região Insular de Belém............................238 SILVA, Cláudia Feijó da - RS - BRASIL O Museu Comunitário Lomba do Pinheiro pela narrativa de seus atores sociais...... 243 SPERB, Ângela Teresa; HANSEN, Patrícia - RS - BRASIL Patrimônio Histórico e comunidade – Ações que geram reações...............................246 SOUZA, Antônio Carlos Ferreira; PAGLIARINI, Flávia Cristina - PA - BRASIL Turismo de Base Comunitária, Cultura e Ecomuseu: uma alternativa para o desenvolvimento socioeconômico em comunidades quilombolas no Estado do Pará.............................................................................................................................250 SOUZA, Sinvaldo do Nascimento - RJ - BRASIL Ecomuseu de Santa cruz, ansiedade comunitária pelo desenvolvimento local..........254 WILD, Bianca; ALMEIDA, Bruno Cruz - RJ - BRASIL Espelho onde se revê e se descobre a própria imagem - O movimento Ecomuseu Sepetiba - Desafios e Perspectivas.............................................................................256 VI. NARRATIVAS POPULARES ANDRADE FILHO, José Maria Centro de Referência em Educação Ambiental Professor Eidorfe Moreira................262 ANJOS, Margarida Maria Barboza dos Memórias de Vida - Depoimento ao Ecomuseu da Serra de Ouro Preto....................262 BONINI, Doris Narrativas do Grupo Piraquara - São José dos Campos – SP...................................263 BRUM, Dalvina de Almeida A parteira da ilha - Entrevista concedida para a Tese de doutorado de Maria T. R. Martins ........................................................................................................................265 25 DONA JANDIRA Memórias de Vida - Depoimento ao Ecomuseu da Serra de Ouro Preto....................266 FERREIRA, Célio de Oliveira Rua Felipe Cardoso - Ecomuseu de Santa Cruz........................................................267 FRANÇA, Durval Poesia para o Ecomuseu - Ecomuseu da Amazônia..................................................268 FRANÇA, Jorge Confeiteiro de D. Pedro II faz 100 anos e fala do passado.........................................268 FRANÇA, Regina Célia dos S. Gonçalves Perfis de Outrora - Ecomuseu de Santa Cruz.............................................................270 KUHN, Fabíola Inês Limpeza com dificuldade ............................................................................................271 LIMA, Wildinei NATURARTT “a natureza em evidência”....................................................................271 LIOI, Teresinha As Sempre-Vivas (Ecomuseu de Santa Cruz)............................................................272 MESQUITA, Antônia de Maria Uma cearense na ilha de Cotijuba- Entrevista concedida para a Tese de doutorado de Maria T. R. Martins......................................................................................................273 METZ, Rosalina Cotidiano.....................................................................................................................274 MELO, Silvia Regina L.C. Cunha Recordações Sedutoras da Terra de Santa Cruz.......................................................274 MORAES, Lecinda Maria das Chagas Cultura Popular: memórias do Paracuri......................................................................277 PACHECO, Vinicius Verde Memória sobre as Pedras.................................................................................279 PEREIRA, OTONIEL Morar em Cotijuba- Entrevista concedida para a Tese de doutorado de Maria T. R. Martins.........................................................................................................................280 PETRÓ, Camila Albani Parada Seis, Sentido Bairro/Centro [e vice-verso] MC Lomba do Pinheiro................282 ROZA, Adílio S. da; BELO, Cristiano dos S; ALEXANDRE,Thiago de L. e THEODORO, Bruno F.A De Piracema à Indústria, uma viagem a Santa Cruz..................................................283 SILVA, Dilméia Oliveira Santa Cruz agradece...................................................................................................284 SILVA, Vicente de Paula da Depoimento ao Ecomuseu da Serra de Ouro Preto....................................................286 26 THOMAS, Aldair José; KUNZ, Édio; JANNKE, Paulo André; BULLEGON, Luiz João; WELTER, Eduardo Primeira usina hidrelétrica de Picada Café.................................................................285 VICENTE, José Pedro Velho Pinheiro - MC Lomba do Pinheiro.....................................................................286 WEBER, Lucila A volta da escola - Museu de Picada Café..................................................................286 WERLE, Sussana Maria Mallmann Brincadeiras e brinquedos em tempos passados - Museu de Picada Café................287 WILD, Bianca Narrativas dos moradores de Sepetiba.......................................................................287 Diversos: Depoimentos colhidos nas Oficinas (Serra de Ouro Preto).....................289 VII. OFICINAS ALCÂNTARA, Constantino Nossas práticas e atitudes frente à carta das responsabilidades humanas e ao Tratado de educação ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global (FAMAZ - Faculdade Metropolitana da Amazônia).....................................................291 ALCÂNTARA, Constantino O Turismo de base comunitária como indutor do ecodesenvolvimento local (FAMAZ - Faculdade Metropolitana da Amazônia).....................................................291 ALMEIDA, Bruno C; CAMILO, Pablo R; FRANÇA, Regina Célia dos S. G. SOUZA; Sinvaldo do N; RODRIGUES, Tiago de O. e WILD, Bianca Patrimônio e Capacitação dos Atores sociais para o desenvolvimento local no Ecomuseu de Santa Cruz............................................................................................292 ALMEIDA, Nádia Ecomuseu de Maranguape: um povo, sua cultura e seu território na educação integral da comunidade local....................................................................................................292 CARDOSO, Fabio Danças regionais.........................................................................................................293 GOMES, Gabriela de Lima VERdeFOTO - Ver para descobrir e fotografar. O projeto VERdeFOTO é integrante do programa de Implantação do Ecomuseu da Serra de Ouro Preto..............................294 FAGUNDES, Valda O desafio da Educação Museal nos Museus Sem Paredes.......................................294 FARIAS, Claudio Costa de Canto popular - cuidados com a voz...........................................................................295 FRANÇA, Roberto Registros de passagem...............................................................................................295 LIMA, Wildinei Homem, Natureza e a utilização dos recursos naturais..............................................296 MELO, Diogo; LIMA, Maria do Socorro 27 Identificando memórias...............................................................................................296 NOPH e Movimento Ecomuseu de Sepetiba Patrimônio e capacitação dos atores sociais para o desenvolvimento local no Ecomuseu de Santa Cruz ...........................................................................................296 Ó, Maria de Nazaré do Danças Típicas Regionais com enfoque no carimbó..................................................297 OLIVEIRA, Paulo Alberto A contribuição das organizações sociais para o empoderamento das comunidades.297 PACHECO, Vinicius Biomapas: elaboração participativa.............................................................................298 PAIXÃO, Fidélis Desenvolvimento Local na Amazônia: conhecendo metodologias, identificando limites e possibilidades...........................................................................................................298 PEREIRA, Rosemiro Pinheiro Cerâmica e o desenvolvimento local...........................................................................298 PONTO DE MEMÓRIA TERRA FIRME O inventário participativo do Ponto de Memória da Terra Firme.................................300 PROJETO AMA Viveiros de mudas: semear e plantar para uma educação sustentável......................300 PRIOSTI, Odalice; ESCOBAR, Giane Relatório das I e II Jornadas Formação em Museologia Comunitária.........................300 QUADROS, Helena A exposição do Museu Goeldi com Alimentação Saudável........................................301 SILVA, Mary Fernandes; PEREIRA, Maria Aida de Jesus Delise Projeto horta do conhecimento: uma teia de conhecimento: uma teia de múltiplos saberes e sabores - Biscoitos; suco escola bosque e estrelado e pratos alternativos da horta: espernegados e tortas de cascas.....................................................................301 TEIXEIRA, Lúcio Hidroponia I e II (PET JC Castelo Branco/Ecomuseu de Santa Cruz)........................301 VIII. PÔSTERES ABREMC – NOPH/ ECOMUSEU DE SANTA CRUZ I Jornadas Formação em Museologia Comunitária.....................................................304 ABREMC-MUSEU TREZE DE MAIO II Jornadas Formação em Museologia Comunitária....................................................304 ALMEIDA, Bruno Cruz; CAMILO, Pablo Ramos; FRANÇA, Regina C. dos S. G; MADEIRA, Paulo Henrique; MELO, Silvia R. L.C.C; PEREIRA, Ramiro Miranda; PRIOSTI, Walter; PRIOSTI, Odalice; RODRIGUES, Tiago de Oliveira; SOUZA, Sinvaldo do N. NOPH-ECOMUSEU DE SANTA CRUZ: História e Memórias feitas por nós..............304 28 ALMEIDA, Bruno Cruz; CAMILO, Pablo Ramos; FRANÇA, Regina C. dos S. G; MADEIRA, Paulo Henrique; MELO, Silvia R. L.C.C; PEREIRA, Ramiro Miranda; PRIOSTI, Walter; PRIOSTI, Odalice; RODRIGUES, Tiago de Oliveira; SOUZA, Sinvaldo do N. NOPH-ECOMUSEU/MUSEU COMUNITÁRIO: o museu como escola de libertação, protagonismo, cidadania e resistência........................................................................305 ARAÚJO, Cauê Donato Silva; MATTOS, Yara Oficinas como método de capacitação no Programa Ecomuseu da Serra de Ouro Preto............................................................................................................................306 BASTOS, Rodolpho Z; BOGÉA, Eliana B; SILVA, Aldenora; RIBEIRO, Mônica C; RIBEIRO, Maria do Socorro C. Museu Parque Seringal...............................................................................................306 DAMIÃO, Luana Caroline; GOMES, Gabriela de Lima Projeto VERdeFOTO – A criação de uma linha do tempo para a apresentação do desenvolvimento dos processos fotográficos..............................................................307 ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Eixo Cultura.................................................................................................................307 ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Eixo Ambiental.............................................................................................................308 ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Eixo Turismo................................................................................................................308 ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Eixo Cidadania............................................................................................................309 ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Biomapas: elaboração e produção..............................................................................309 LIMA, Wildinei NATURARTT “a natureza em evidência”....................................................................310 LOBATO, Alessandra da Silva. Turismo de base comunitária e patrimônio Cultural na Vila do PesqueiroSoure/Brasil.................................................................................................................310 MENEZES, M.L.P; MORAIS, V.C; LEOPOLDO, D.F; RODRIGUES, G.G; BORGES, C.P; GABRIEL, R.A; GUELBER, V.T; NASCIMENTO, F.C. Ecomuseu da Comunidade Quilombola de São Pedro de Cima.................................311 PEREIRA, Célia Maria; SANTOS, Maria Suzana Loureiro dos Memória Sociocultural e Histórica da Comunidade do Povo Novo.............................312 SILVA, Michelle Louise G. da; MARTON, Margareth Veisac; MATTOS, Yara Projeto Memória de vida - Ecomuseu da Serra de Ouro Preto...................................312 SOUZA, Adirleide Greice Carmo de Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva: desafios e perspectivas da preservação do meio ambiente cultural do Amapá.....................................................313 29 SPERB, Ângela; HANSEN, Patrícia Patrimônio Histórico e Educação: Ações que geram reações....................................314 WILD, BIANCA. Movimento Ecomuseu de Sepetiba - espelho onde se “revê” e se descobre a própria imagem........................................................................................................................314 XI. CONCLUSÕES DO IV EIEMC CARTA DE CARATATEUA.........................................................................................316 TESTIMONIOS CONVIDADOS EXTRANJEROS.......................................................319 MOÇÃO.......................................................................................................................322 MES CONCLUSIONS PERSONNELLES SUR LE IV EIEMC - H. de Varine………...323 Lembranças e reflexões sobre o IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários em Belém - Pará - Dayse Aderne Carneiro...........................................326 30 IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários IV EIEMC Belém , Pará, 12 - 16 de junho 2012 Tema central: Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local 1ª CIRCULAR - 01/12/2011 A Prefeitura Municipal de Belém, PMB, através da Secretaria Municipal de Educação, da Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira e do Ecomuseu da Amazônia, a Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários – ABREMC e o Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica- NOPH / Ecomuseu de Santa Cruz e demais parceiros anunciam a toda a comunidade museal mundial a realização do IV ENCONTRO INTERNACIONAL DE ECOMUSEUS E MUSEUS COMUNITÁRIOS no período de 12 a 16 de junho de 2012, em Belém , Pará, sede do Ecomuseu da Amazônia. Seguem em anexo o convite, o texto provocativo, a ficha de pré- inscrição, o folder com a base do programa e outras informações para facilitar a adesão de simpatizantes e interessados no tema central, tais como histórico da cidade de Belém, lista de Hotéis próximos à sede do evento e respectivas tarifas, restaurantes, facilidades de deslocamentos, entre outras, que poderão ser também encontrados em: www.abremc.com.br http://ecomuseuamazonia.blogspot.com Os potenciais participantes que necessitarem de apoio de suas instituições para a viagem deverão solicitar carta – convite à Coordenação do IV EIEMC o mais breve possível. Na expectativa de contar com representações dos países e estados brasileiros onde os ecomuseus, museus comunitários, museus de território, museus de percurso, museus vivos, museus de periferia, museus de rua e outros processos se multiplicam ou iniciam experiências, subscrevemo-nos, aguardando sua adesão. Maria Terezinha Resende Martins Coordenação Geral do IV EIEMC/Ecomuseu da Amazônia E-mail: [email protected] Fone: (91) 3267-3055 31 IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários IV EIEMC Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local Ecomuseu da Amazônia Belém, Pará - 12 - 16 de junho 2012 Realização: Prefeitura Municipal de Belém-PMB, Secretaria Municipal de Educação-SEMEC Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira Ecomuseu da Amazônia Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários- ABREMC NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica Período: 12 a 16/ 06/2012 Belém – Estado do Pará - Brasil Contatos: [email protected] www.abremc.com.br [email protected] 32 IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários IV EIEMC APRESENTAÇÃO O tema do Dia Internacional dos Museus de 2012 decidido pelo ICOM foi «Os museus num mundo em movimento - novos desafios, novas inspirações». Nesse espírito, a Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários (ABREMC) e o Ecomuseu da Amazônia, em cooperação com o NOPH (Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica) e outros parceiros, organizam o IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários (IV EIEMC) que acontecerá em Belém, de 12 a 16 de junho.Este encontro continua a sequência dos três encontros precedentes que aconteceram no Rio de Janeiro em 1992, 2000 e 2004. Tem por finalidade sensibilizar a comunidade museal para os processos museológicos saídos das comunidades, por uma partilha de experiências entre profissionais, voluntários, pesquisadores, estudantes, observadores. O encontro se dirige principalmente aos museus comunitários, aos ecomuseus, museus de territórios, museus vivos, museus de percurso, etc, que contribuem para o enraizamento das populações no seu meio/ambiente de vida, para o fortalecimento do sentido de pertencimento a um lugar e a uma comunidade, para a coesão e para a harmonia social. As sessões (plenária, mesas redondas, oficinas, fóruns) apresentarão, analisarão e avaliarão essas experiências, seus métodos e seus resultados. O TEMA: Patrimônio e capacitação dos atores O termo «capacitação», que equivale ao inglês "empowerment", designa o conjunto de ações implementadas numa comunidade para levar seus membros a valorizar, desenvolver e/ou adquirir os saberes, os fazeres, as práticas, as técnicas que lhes permitirão tomar nas mãos seu próprio desenvolvimento, quer dizer, a melhoria de suas condições de vida, de modo sustentável e responsável. O Encontro de Belém se destinará a mostrar, a partir das experiências concretas dos participantes e de análises críticas, como o patrimônio pode e deve constituir um recurso maior para essa iniciativa: as riquezas da natureza, as tradições, os saberes técnicos, e mesmo o contexto da vida são ao mesmo tempo matéria-prima a inventariar e a utilizar, para tirar deles o melhor, a partir da iniciativa, do trabalho e da criatividade dos membros da comunidade. Agricultura e pesca, produtos artesanais, programas turísticos serão os principais domínios abordados. Também serão igualmente tratadas as condições desse desenvolvimento endógeno: organização social, criação de estruturas de cooperação, técnicas de gestão. O contexto escolar, que associa pais, professores e alunos será, em Belém, um quadro privilegiado, por estar o Ecomuseu da Amazônia abrigado pela Fundação Escola Bosque, que faz parte da Secretaria Municipal de Educação de Belém e que será o espaço de trabalho das sessões do Encontro. 33 IVth International Meeting of Ecomuseums and Community Museums IV EIEMC Belém, Pará, 12 - 16 June 2012 Central Theme: Heritage and Empowerment of the Actors of Local Development 1st CIRCULAR - 01/12/2011 The Ecomuseum of Amazonia and the Brazilian Association of Ecomuseums and Community Museums (ABREMC) are pleased to announce to the whole Museum Community, the organization of the IVth Encounter of Ecomuseums and Community Museums to be held on 12-16 June 2012 in Belém (Para), at the Headquarters of the Ecomuseum of Amazonia. This meeting is addressed mostly to the professionals, volunteers, students and researchers of ecomuseums, community museums, museums of territory, living museums, suburban museums, street museums, in all countries. Please find enclosed a presentation of the meeting and its theme, a provisional programme and a preinscription bulletin which should be sent to: [email protected] Updated information on the meeting and on material conditions for travel and accommodation will be found at the following websites: www.abremc.com.br or http://ecomuseuamazonia.blogspot.com A second circular will be sent in February 2012, with a final programme and the official registration form. The persons who want to attend the meeting and who need support from their institutions or governments for travel and visas may ask the Coordination of the IVth EIEMC for a formal letter of invitation. We hope to welcome many colleagues in Belém and the communities of the Ecomuseum of Amazonia in June. Maria Terezinha Resende Martins General coordination of IVth EIEMC/Ecomuseu da Amazônia Phone: (+55) (91) 3267 3055 34 IV International Meeting of Ecomuseums and Community Museums IV EIEMC Heritage and Empowerment of the Actors of Local Development Ecomuseu da Amazônia Belém, Pará – 12/16 June 2012 Realização: Prefeitura Municipal de Belém-PMB, Secretaria Municipal de Educação-SEMEC Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira Ecomuseu da Amazônia Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários- ABREMC NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica Período: 12 a 16/ 06/2012 Belém – Estado do Pará - Brasil Contatos: [email protected] www.abremc.com.br [email protected] 35 IV International Meeting of Ecomuseums and Community Museums IV EIEMC PRESENTATION The 2012 International Museum Day has been dedicated by ICOM to "Museums in a Changing World. New challenges, New inspirations". Following this lead, the Brazilian Association of Ecomuseums and Community Museums (ABREMC) and the Amazonia Ecomuseum, in th partnership with NOPH and others, are organizing the 4 International Meeting of Ecomuseums and Community Museums, in Belém, on June 12-16, 2012. This meeting follows three previous encounters held in Rio de Janeiro, in 1992, 2000 and 2004. It aims at making the museum community aware of community based museological processes, through experiences shared between professionals, volunteers, students, researchers, observers. The meeting is addressed mostly to community museums, ecomuseums, living museums, territory museums, open space museums, etc. which contribute to rooting the population in their milieu, to reinforcing the sense of belonging to a place or to a community, to social cohesion and quality of life.The working sessions (plenary, round tables, workshops, forums) will present, analyze and evaluate field cases, their methods and their results. THE CONFERENCE THEME: Local Development :Heritage and Empowerment In Portuguese, the selected theme is called "Patrimônio e Capacitação", the latter word being more or less equivalent to the English "Empowerment". We intend to discuss the various actions undertaken in a given community, in order to help its members to develop and/or acquire the know-how, the practices, the techniques which will enable them to be actors of their own development, i.e. for the improvement of their living conditions, in a way both sustainable and responsible.The Belém meeting will demonstrate, from concrete experiences brought by the participants and critical analyses, how heritage can and should be a major asset for this process: natural resources, traditions, technical knowledge, the environment of the daily life itself are raw materials to be indentified and utilized, to obtain the best possible cultural, social and economic returns, thanks to the initiative, the labour and the creativity of community members, either as individuals or collectively, in the interest and for the profit of the community as a whole. Agriculture and fisheries, crafts, tourism will be the main domains studied.The meeting will also deal with the basic conditions of such an endogenous development: social organization, co-operative structures, management techniques. The school system, which aggregates parents, teachers and students will be, in Belém a privileged environment, due to the Amazonia Ecomuseum being part of the Escola Bosque Foundation, which itself is a division of the Department of Education of the City of Belém, and where the working sessions will be held. 36 Local Development: Heritage and Empowerment Belém, Pará - June 12 - 16 2012 Draft Programme Sunday June 10 – Optional visit to historic Belém Monday June 11 – Optional visit to historic Belém Tuesday June 12 – Auditorium, Federal University of Para 08h00 – Registration of participants 08h30 – Meeting of keynote speakers 09h30 – Welcome and coffee 10h00 – Introductory show (music, theatre, dance…) 10h30 – Opening Lecture: “Heritage and empowerment of Loc al Development Actors" 11h30 – Cocktail 12h00 – Press Conference 14h00 – Presentation of the territory of the Ecomuseu da Amazônia 14h00 – Report on field experience (Communities of Cotijuba Island). 14h40 – Report on field experience (Communities of Mosqueiro Island) 15h50 – Report on field experience (Communities of Caratateua Island). 16h30 – Report on field experience (Communities of Icoaraci District). Wednesday June 13 – Headquarters of Escola Bosque Foundation and Ecomuseum 09h00 – Round Table 1: Participatory Inventory of demand and potentials 10h15 – Coffee break 10h45 – Workshops (discussion of cases on the theme of Round-Table 1) 12h00 – Lunch 14h00 – Round-Table 2: Social organization in Communities 15h15 – Coffee break 16h15 – Workshops (discussion of cases on the theme of Round-Table 2) 17h15 – End of 2d day Thursday June 14 – Headquarters of Escola Bosque Foundation and Ecomuseum 09h00 – Round Table 3: Production and creativity in Communities 10h15 – Coffee Break 10h45 – Workshops (discussion of cases on the theme of Round-Table 3) 12h00 – Lunch 14h00 – Round Table 4: Community-based Tourism and Local Development 15h15 – Coffee break 15h15 – Workshops (discussion of cases on the theme of Round-Table 4) 17h15 – End of 3rd day Friday June 15 - Headquarters of Escola Bosque Foundation and Ecomuseum 09h00 – Drafting sessions' conclusions 11h00 – Coffee break 10h30 – Networks meeting : ABREMC, ICOM Portugal, ICOM Brazil, Mondi Locali, Union de los Museos Comunitarios de America Latina, FEMS, etc. 11h00 – Preparation of ICOM/2013 – IBRAM – ICOM Brasil, 12h30 – Lunch 37 15h00 – Final Plenary meeting: Presentation of conclusions and proposals, discussion and adoption. 17h30 – 5th Anniversary of the Ecomuseu da Amazônia; presentation of a documentary film and of various books 18h00 – Cocktail Saturday June 16 Visit to Mosqueiro Island (Urban centre, Mary-Mary and Caruaru communities) 38 IV° Rencontre Internationale des Ecomusées et Musées Communautaires IV EIEMC Belém, Pará, 12 – 16 juin 2012 Thème central: Patrimoine et capacitation des acteurs du développement local 1° CIRCULAIRE - 01/12/2011 L'Ecomusée d'Amazonie et l'Association Brésilienne des Ecomusées et Musées Communautaires (ABREMC) annoncent à toute la communauté muséale l'organisation de la 4° Rencontre Internationale des Ecomusées et Musées Communautaires, du 12 au 16 juin 2012 à Belém (Para), siège de l'Ecomusée d'Amazonie. Cette rencontre s'adresse tout particulièrement aux praticiens, aux étudiants et aux chercheurs des écomusées, musées communautaires, musées de territoire, musées de parcours, musées vivants, musées de banlieue, musées de rue, dans tous les pays. On trouvera ci-joint une présentation de la rencontre et de son thème, un programme provisoire et un bulletin de pré-inscription qui devra être renvoyé à: [email protected] Une seconde circulaire sera diffusée en février 2012, avec un programme plus développé et un formulaire d'inscription définitive. Des informations plus détaillées sur la rencontre et sur les conditions matérielles de voyage et de séjour pourront être trouvées sur les sites suivants: www.abremc.com.br et http://ecomuseuamazonia.blogspot.com Les personnes qui souhaiteraient participer à la rencontre et qui auraient besoin de l'aide de leurs institutions ou de leur gouvernement pour le voyage ou pour l'obtention d'un visa peuvent demander dès maintenant une lettre d'invitation à la coordination du IV° EIEMC. Nous espérons vous accueillir nombreux à Belém et dans les communautés de l'Ecomusée d'Amazonie. Maria Terezinha Resende Martins Coordination Générale du IV EIEMC 39 IV Rencontre Internationale des Ecomusées et Musées communautaires IV EIEMC Développement local: patrimoine et capacitation des acteurs sociaux Ecomuseu da Amazônia Belém, Pará 12 au 16 juin 2012 Realização: Prefeitura Municipal de Belém-PMB, Secretaria Municipal de Educação-SEMEC Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira Ecomuseu da Amazônia Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários- ABREMC NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica Período: 12 a 16/ 06/2012 Belém – Estado do Pará - Brasil Contatos: [email protected] www.abremc.com.br [email protected] 40 IV Rencontre Internationaledes Ecomusées et Musées communautaires IV EIEMC PRESENTATION La Journée internationale des Musées de 2012 est dédiée par l'ICOM au thème "Les musées dans un monde en mouvement – nouveaux défis, nouvelles inspirations". Dans cet esprit, l'Association Brésilienne des écomusées et musées communautaires (ABREMC) et l'Ecomusée d'Amazonie, en coopération avec le NOPH et d'autres partenaires, organisent la 4° rencontre internationale des écomusées et musées communautaires qui se tiendra à Belém, du 12 au 16 juin. Cette rencontre fait suite aux trois rencontres précédentes qui se sont tenues à Rio de Janeiro en 1992, 2000 et 2004. Elle a pour but de sensibiliser la communauté muséale aux processus muséologiques issus des communautés, par un partage d'expériences entre professionnels, volontaires, étudiants, chercheurs, observateurs. La rencontre s'adresse principalement aux musées communautaires, aux écomusées, musées de territoires, musées vivants, musées de parcours, etc., qui contribuent à l'enracinement des populations dans leur milieu de vie, au renforcement du sentiment d'appartenance à un lieu et à une communauté, à la cohésion et à l'harmonie sociale. Les séances (plénière, tables rondes, ateliers, forums) présenteront, analyseront et évalueront ces expériences, leurs méthodes et leurs résultats. LE THEME : Patrimoine et capacitation des acteurs Le terme "capacitation", qui est équivalent à l'anglais "empowerment", désigne l'ensemble des actions menées dans une communauté pour amener ses membres à valoriser, développer et/ou acquérir les savoir-faire, les pratiques, les techniques qui leur permettront de prendre en mains leur propre développement, c'est à dire l'amélioration de leurs conditions de vie, de manière soutenable et responsable. Le rencontre de Belém s'attachera à montrer, à partir des expériences concrètes des participants et d'analyses critiques, comment le patrimoine peut et doit constituer une ressource majeure pour cette démarche : les richesses de la nature, les traditions, les savoirs techniques, le cadre de vie lui-même sont autant de matériaux à inventorier et à utiliser, pour en tirer le meilleur rendement à partir de l'initiative, du travail et de la créativité des membres de la communauté, individuellement et collectivement, dans l'intérêt et au bénéfice de la communauté. Agriculture et pêche, produits artisanaux, programmes touristiques seront les principaux domaines abordés. On s'intéressera également aux conditions de ce développement endogène : organisation sociale, création de structures de coopération, techniques de gestion. Le cadre scolaire, qui associe parents, enseignants et élèves, sera, à Belém, un cadre privilégié, en raison de l'appartenance de l'Ecomusée d'Amazonie à la Fundação Escola Bosque, qui fait partie du Secrétariat de l'Education de la Ville de Belém et qui sera le cadre des sessions de la rencontre. 41 IV Encuentro Internacional de Ecomuseos y Museos Comunitarios IV EIEMC Belém , Pará, 12 – 16 de junio 2012 Tema central: Patrimonio y la Formación de los Actores en el Desarrollo Local 1ª CIRCULAR - 01/12/2011 El Ayuntamiento da ciudad de Belém, a través de la Secretaría Municipal de Educación, de la Fundación Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira y del Ecomuseu da Amazônia, la Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários – ABREMC y el Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica – NOPH / Ecomuseu de Santa Cruz y otros anuncián toda la comunidad museística la realización del IV ENCUENTRO INTERNACIONAL DE ECOMUSEOS Y MUSEOS COMUNITARIOS de 12 – 16 de junio de 2012, en Belém, Pará, en la sede del Ecomuseu da Amazônia. Sigue en anexo la invitación, el texto provocativo, el formulario de preinscripción, el programa de base y otro tipo de información para facilitar la adhesión de los seguidores e interesados en el tema, la historia de la ciudad de Belém, la lista de hoteles junto a la sede del evento y sus tarifas, restaurantes, facilidad de desplazamientos, entre otros, que también se puede encontrar en: www.abremc.com.br http://ecomuseuamazonia.blogspot.com Las personas interesadas que necesitan el apoyo de sus instituciones ou de su gobierno para el viaje o para la obtención de una visa pueden solicitar una carta de invitación al Coordinación del IV EIEMC lo antes posible. Esperamos contar con muchas representaciones de los países y otros estados brasileños donde los ecomuseos, museos comunitarios, museos de território, los museos vivos, museos de periferia, museos de calle y otros procesos multiplican o inician experiencias, subscrevemo nosotros, esperando su afiliación. Maria Terezinha Resende Martins Coordinación General del IV EIEMC/Ecomuseu da Amazônia E-mail: [email protected] Teléfono: (+55) (91) 3267 3055 42 IV Encuentro Internacional de Ecomuseos y Museos Comunitarios IV EIEMC Patrimonio y la Formación de los Actores en el Desarrollo Local Ecomuseu da Amazônia Belém, Pará - 12 - 16 de junio 2012 Realización: Prefeitura Municipal de Belém-PMB, Secretaria Municipal de Educação-SEMEC Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira Ecomuseu da Amazônia Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários- ABREMC NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica Período: 12 a 16/ 06/2012 Belém - Estado do Pará - Brasil Contactos: [email protected] www.abremc.com.br [email protected] 43 IV Encuentro Internacional de Ecomuseos y Museos Comunitarios - IV EIEMC PRESENTACIÓN El ICOM dedicará el Día Internacional de los Museos de 2012 a : «Los Museos en un mundo en movimiento - nuevos desafíos, nuevas inspiraciones». Con ese espíritu, la Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários (ABREMC) y Ecomuseu da Amazônia, en cooperación con el NOPH (Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica) y otros asociados, organizáran el IV Encuentro Internacional de Ecomuseos y Museos de la Comunidad (IV EIEMC), en Belém, del 12 al 16 de junio. Este encuentro sigue la secuencia de las tres reuniones anteriores que tuvieron lugar en Río de Janeiro en 1992, 2000 y 2004. Su objetivo es sensibilizar a la comunidad museística de los procesos emergentes en el seno de la comunidad, un intercambio de experiencias entre profesionales, voluntarios, investigadores, estudiantes, observadores. El encuentro está destinado principalmente a los museos de comunidad, los ecomuseos, los museos de territorio, los museos vivos etc, que contribuyen al arraigo de la población a su entorno y condiciones de vida, fortaleciendo el sentido de pertenencia a un lugar y una cohesión de la comunidad y la armonía social. Las sesiones (plenarias, mesas redondas, talleres) tienen como objetivo de presentar, analizar y evaluar experiencias, métodos y resultados. TEMA: Patrimonio y capacitación de los actores El término «capacitación»,( = formación para los otros países de lengua espagnola) que es equivalente al Inglés "empowerment", es el conjunto de acciones llevadas a cabo en una comunidad para llevar a sus miembros a mejorar, desarrollar y/o adquirir los conocimientos, las acciones, prácticas y técnicas que les permitan hacerse cargo de su propio desarrollo, es decir, la mejora de sus condiciones de vida, de una forma sostenible y responsable. El encuentro de Belém se destina a presentar, a partir de las experiencias concretas de los participantes y del análisis crítico, cómo el patrimonio puede y debe ser un recurso fundamental para esta iniciativa: las riquezas de la naturaleza, las tradiciones, conocimientos técnicos, y incluso el contexto mismo de la vida son materiales a inventariar y utilizar para el trabajo, la iniciativa y la creatividad de los miembros de la comunidad, individual y colectivamente. La agricultura y la pesca, la artesanía, los programas de turismo serán los temas principales a abordar. También serán discutidas las condiciones del desarrollo endógeno: organización social, creación de estructuras cooperativas, técnicas de gestión. El contexto de la escuela que asocia padres, profesores y estudiantes, será, en Belém, un marco privilegiado, gracias a la Fundação Escola Bosque, que forma parte de la Secretaría de Educación Municipal de Belém, abrigarse el Ecomuseu da Amazônia, y que es el espacio de trabajo de las sesiones del encuentro. 44 TEXTO PROVOCATIVO 45 I. TEXTO PROVOCATIVO A CAPACITAÇÃO: PRÁTICAS E TENTATIVAS DE TEORIZAÇÃO Maria Terezinha Resende Martins – PA – Brasil – Ecomuseu da Amazônia Hugues de Varine – França** INTRODUÇÃO O IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários-IV EIEMC representam uma sequência de encontros das comunidades vinculadas aos museus que compartilham desses princípios, os quais pela terceira vez se reúnem em torno do tema denominado Patrimônio e Comunidade. Nesse contexto em 2000, o II EIE em Santa Cruz, Rio de Janeiro foi enfatizado o tema “Comunidade, Patrimônio e Desenvolvimento Sustentável”, em 2004, III EIEMC, também em Santa Cruz, foi apresentado o tema “Comunidade, Patrimônio Compartilhado e Educação”, novamente a preocupação com a partilha do patrimônio envolveu os profissionais da educação, pois se percebia impossível dissociar uma ação da outra. Desta forma, após três anos de existência em 2010, o Ecomuseu da Amazônia que já vinha realizando ações de capacitação com as comunidades de sua área de atuação, efetiva para o biênio 2011/2012 um programa denominado “Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local”, iniciativa inovadora no mundo da museologia comunitária, a criação e execução de um programa voltado para as comunidades, destinado a colocá-las num patamar de acesso ao conhecimento , a valorização e qualificação dos saberes e fazeres com o objetivo de organização comunitária , qualificando o cidadão e gerando rendas, portanto contemplando o desenvolvimento local responsável. Esta iniciativa deu origem ao IV EIEMC. Algumas, entre outras tantas questões, se levantam a partir desses encontros: 1. Como as comunidades compreendem e usam seu patrimônio? 2. De que modo o patrimônio pode ser para elas um gerador de rendas? 3. Como capacitar uma comunidade para o desenvolvimento local, usando o patrimônio como recurso? 4. Como tornar essa comunidade gestora de seu patrimônio e se manter autosustentável? Algumas das respostas a estes questionamentos podem ser encontradas nas diversas experiências apresentadas no IV EIEMC a ser sediado no Ecomuseu da Amazônia. O Ecomuseu da Amazônia, criado em 2007, é um Projeto tutelado pela Prefeitura Municipal de Belém-PMB, sob a gestão da Secretaria Municipal de Educação – SEMEC e da Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira – FUNBOSQUE, um serviço original e inovador da Prefeitura Municipal de Belém, onde se encontra sua sede. Atua em quatro áreas: Distrito de Icoaraci (bairro do Paracuri e orla), Ilhas de: Caratateua (Tucumaeira, Fama, São João de Outeiro e Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira); Cotijuba (comunidades do Poção, Seringal, Piri e Faveira) e Mosqueiro (Vila, Caruaru, Castanhal do Mari Mari e assentamento Paulo Fonteles). Tem suas bases assentadas na participação popular para a construção de um projeto de desenvolvimento humano sustentável que garanta a integração de todos e que seja representativo das necessidades e interesses das comunidades envolvidas, a partir da Maria Terezinha Resende Martins, coordenadora do Ecomuseu da Amazônia, e equipe, Belém-PA/BR, [email protected], [email protected] ** Hugues de Varine, consultor em desenvolvimento local, França 46 valorização dos “saberes e fazeres” e da memória coletiva, referencial básico para o entendimento e a transformação da realidade presente na região. A SITUAÇÃO ATUAL Os territórios de ação do Ecomuseu da Amazônia são distritos relativamente desfavorecidos da cidade de Belém, uma forte razão que levou a SEMEC e a FUNBOSQUE a referendarem em sentido mais amplo, o desenvolvimento de ações nessas áreas que tem como principal aporte a educação. Na lógica da fórmula ecomuseal, criaram um programa baseado nos três pilares de todo ecomuseu: - o território - adaptando-se estreitamente às características de cada território, terra firme ou ilha, urbana, periurbana ou rural, para fazer dele o contexto físico e o suporte de sua pedagogia, após um diagnóstico participativo das forças e das fragilidades, e também das perspectivas de desenvolvimento de cada um; - a comunidade - dirigindo-se às pessoas, adultos, jovens e crianças, que estavam suscetíveis a representar os papéis de animador, de formador, de agente de desenvolvimento nas suas respectivas comunidades e dirigindo-se a elas na linguagem de sua cultura viva; - o patrimônio - servindo-se dos elementos materiais e imateriais da herança de cada comunidade, reconhecidos por um inventário participativo permanente, como materiais pedagógicos. Sua base de sustentação encontra-se fundamentalmente em três princípios: sustentabilidade, subsidiariedade e responsabilidade, os quais vêm sendo desenvolvidos a partir de um método que associa três tempos: - a informação teórica, em oficinas ou mini-cursos, em cada território, «aprende-se a fazer e por que fazer»; - o trabalho prático, pela realização concreta de projetos associados à vida cotidiana das comunidades, «aprende-se fazendo»; - o saber-estar, por uma participação convivial nos eventos sociais, culturais, religiosos, com vistas a uma melhor coesão social entre as comunidades e uma abertura ao exterior. O PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO Um documento fundamental de programação para 2011/2012 foi estabelecido pelo ecomuseu sob o título: Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local. O termo «capacitação», que equivale ao inglês "empowerment", designa o conjunto de ações implementadas em uma comunidade para levar seus membros a valorizar, desenvolver e/ou adquirir os saberes, os fazeres, as práticas, as técnicas que lhes permitirão tomar nas mãos seu próprio desenvolvimento, quer dizer, a melhoria de suas condições de vida, de modo sustentável e responsável. Capacitação, Patrimônio e Museus A capacitação como meio de desenvolvimento dos territórios e de melhoria do nível de vida das populações, se apóia naturalmente sobre os dois principais recursos desses territórios: um recurso humano, quer dizer os habitantes mesmos, com seus saberes, sua energia, sua cultura e um recurso patrimonial que engloba o patrimônio natural, cultural, material e imaterial. Este patrimônio é uma matéria-prima que os habitantes devem aprender a conhecer, a controlar e a utilizar, mas respeitando-o (sustentabilidade). Trata-se de produção agrícola, hortícola ou da pesca, de atividades artesanais, de gastronomia, de acolhida turística, de espetáculos de música ou de dança tradicionais, é esse patrimônio que é preciso saber identificar, valorizar, transformar, por conta de um consumo interno e de uma comercialização, cujas retomadas irão essencialmente para a população mesma ou para alguns de seus membros. 47 O museu e mais particularmente o ecomuseu ou o museu comunitário é um instrumento bem adaptado à concepção e à ação dessa capacitação, ao menos na medida onde ele está efetivamente em estreita relação com seu território, à escuta e ao serviço de sua comunidade. Seu conhecimento do patrimônio e da população lhe permite representar um papel de mobilização e de organização anterior à capacitação e depois então tornar-se seu próprio gestor. Desta forma o Programa é desenvolvido tendo como referência os seguintes eixos temáticos: OS EIXOS As ações do Programa de Capacitação vêm sendo desenvolvidas através de quatro eixos, as quais têm como principais protagonistas a comunidade com o aporte de uma equipe interdisciplinar do Ecomuseu da Amazônia, a saber: - EIXO CULTURA: criando ferramentas para pensar a memória social-uma iniciativa do Ecomuseu da Amazônia a partir da valorização do patrimônio cultural, tendo como enfoque os conceitos de museus, ecomuseus e similares; o conceito de cultura e subculturas, identidade e diversidade cultural, o homem como produtor de cultura, o desenvolvimento de atividades paralelas por meio de oficinas e cursos de valorização de “saberes e fazeres” das comunidades. E ainda, noções sobre legislações que regem a proteção do patrimônio cultural; - EIXO AMBIENTAL: Sistematização do contexto ambiental nas áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia através de ações de Educação e informação Ambiental, como: sementinhas do amanhã-atividades sócio-ambientais para crianças e préadolescentes; agricultura alternativa para pequenos produtores: “roça sem queimada” com cultivo de culturas alimentares; plantio de frutíferas na comunidade; cultivo de hortas; aquicultura sustentável: aproveitamento das áreas de várzea da região insular da baia do Guajará para o cultivo e/ou manejo de peixes e camarões amazônicos, o Ecomuseu da Amazônia na escola: a educação ambiental como um caminho para o desenvolvimento comunitário sustentável na região insular do município de Belém-Pa. E ainda, o Projeto Escola Ambiental: transferência de tecnologia para segurança alimentar e a valorização da agricultura urbana nas escolas, Projeto em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA; - EIXO TURISMO: Turismo Sustentável de base comunitária - é desenvolvido através de subtemas: desenvolvimento local e sustentabilidade utilizando para esse fim, conceitos para a valorização e o desenvolvimento do patrimônio sócio-cultural e econômico em áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia, assim como, noções de legislação aplicáveis a atividade turística, segmentos e cidadania, processo educativo não formal por meio de experiências ecoturísticas (análise dos efeitos na população local). E ainda, noções de inglês instrumental (atendimento de serviços turísticos diferenciados); - EIXO CIDADANIA: reúne comunidades das áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia de forma interativa, relacionando a memória aos saberes e fazeres locais e suas implicações a fim de possibilitar a construção de comunidades sustentáveis, visa assim, a união de interesses coletivos de forma harmônica, a partir da valorização do patrimônio local e demais interesses sociais. Neste sentido tem como enfoque pesquisas sócio-econômicas, ambientais e culturais, capacitação das comunidades com apoio de outras instituições e ou organizações não governamentais, criação e fortalecimento de organizações sociais, participação em eventos, etc. Os eixos citados culminam teoria e prática através da realização de oficinas e cursos diversos, como: paisagismo e ajardinamento, sanduíches de peixe, marcenaria com arte, viveiros florestais e frutíferos, implementação do minhocário, compostagem, cesta de garrafa pet, traçados em palmeira, arranjos natalinos, coleta de sementes, workshops, etc. 48 A EXPERIÊNCIA DO ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Após vários anos, este ecomuseu fez da capacitação dos habitantes e das comunidades dos territórios que lhe foram confiados (três ilhas e um distrito da cidade de Belém, capital do Estado do Pará) o coração de sua política. Nessas comunidades relativamente marginalizadas ou isoladas, com dominância rural ou peri-urbana, trata-se às vezes de adquirir uma forte confiança em si (auto- estima) e de se apoiar de modo voluntário e criativo sobre os recursos locais (patrimoniais) afim de chegar a uma real autonomia sócio-econômica, atingindo progressivamente a um nível de vida próximo das populações urbanas vizinhas. Decidiu-se então, segundo Hugues de Varine (2011) consultor do Ecomuseu da Amazônia, ratificando as ações que vêm sendo executadas nas áreas, colocar em ação um programa de capacitação segundo quatro eixos prioritários: capital cultural: o homem como criador de cultura e detentor de patrimônio capital natural: preservação e potencial econômico do meio natural turismo: acolhida de visitantes pela comunidade e em prol de seus membros capital social: organização da sociedade, cooperação e solidariedade. Este programa, que comporta muitas vezes sessões coletivas e trabalhos práticos, se estende por todo o ano e cobre uma grande diversidade de temas, por exemplo a horticultura familiar, a criação de camarões, a gestão da floresta, a produção cerâmica, a dança tradicional «carimbó», a criação de trilhas de observação, as feiras de produtos locais, a organização de festas e festivais das aldeias, a constituição de agrupamentos econômicos ou de cooperativas, etc. A METODOLOGIA A metodologia do Ecomuseu da Amazônia está pautada nos seguintes princípios: - Museologia Social: reconhecimento de identidades e culturas de todos os grupos humanos; desenvolvimento de ações museológicas, considerando como ponto de partida a prática social e não apenas os acervos materiais ou coleções..; - Planejamento e gestão biorregional - “processo organizacional que capacita as pessoas a trabalharem juntas, a adquirir informações, a refletir cuidadosamente sobre o potencial e problemas de sua região, a estabelecer metas e objetivos, a definir atividades, a implementar projetos e ações acordados pela comunidade, a avaliar progressos e a ajustar sua própria abordagem”. Miller (1997) - Conceito de sustentabilidade com base na cultura, tecnologias, saberes populares dos mestres de ofícios de cada comunidade, na utilização e preservação dos recursos naturais da região. Aderne (2005); - No museu como agente de desenvolvimento: instrumento polivalente de ação territorial; levantamento e mobilização das forças vivas da comunidade; ativação das competências, das energias e das idéias oriundas da comunidade; exploração do patrimônio e da memória coletiva; promoção da autoestima e de dinâmicas de cooperação; intermediação com o exterior: imagem de si, atração econômica. Hugues de Varine (2009). Após a citação de referidos princípios é pertinente afirmar que estes representam o suporte de desenvolvimento dos eixos temáticos, os quais vêm sendo executados a partir de atividades diversas, como: diagnóstico rápido participativo-drp, ou Inventário Participativo, seguido de cursos, oficinas, encontros, workshops, reuniões e afins, além de tarefas complementares direcionadas e atividades de campo que visem a sensibilização para as questões prioritárias das comunidades. Referidos elementos culminam com a realização de ações de um museu como agente de desenvolvimento que possibilite a capacitação das pessoas para o trabalho coletivo e a sustentabilidade das comunidades com ênfase na cultura, tecnologias, saberes populares, etc. Assim, durante as atividades do curso são produzidos materiais específicos correspondentes a cada eixo, além da utilização dos materiais básicos que já fazem parte do acervo pedagógico do programa. No processo de execução das atividades é 49 pertinente promover avaliações, as quais podem direcionar a necessidade de continuidade, assim como da inserção de outras ações que visem afirmar e fomentar o plano de desenvolvimento local. A avaliação é compreendida como um instrumento pedagógico de acompanhamento constante e não apenas como elemento de finalização. As atividades deste programa de capacitação utiliza como referência a investigaçãoação, de acordo com Engel (2000) “pesquisa-ação conforme o nome, procura unir a pesquisa à ação ou prática, isto é, desenvolve o conhecimento e a compreensão como parte da prática”, logo possibilita uma maior integração dos envolvidos na aquisição de um conhecimento mais profundo acerca da situação vivenciada, já que o participante neste estudo é produtor da sua própria história, portanto sujeito dessa produção. Neste contexto a metodologia integra peculiares instrumentos avaliativos que podem ser utilizados como avaliação contínua ou como registros de atividades que incluem modos qualitativos relevantes e diferenciados, são eles: os depoimentos, os encontros, relatos de experiências, isto é, o cotidiano das comunidades contempladas. A questão quantitativa será expressa por números e levantamentos estatísticos coletados ao longo de visitas técnicas e pesquisas desenvolvidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS As ações desenvolvidas pelo Ecomuseu da Amazônia envolveram direta ou indiretamente no ano de 2011, cerca de 4.651 (quatro mil seiscentos e cinquenta e uma pessoas), das quais é importante destacar um acompanhamento direto de aproximadamente 140 (cento e quarenta famílias). O objetivo principal é o fomento de atividades locais, logo, de ações que valorizem as populações das áreas de atuação da CDC/Ecomuseu da Amazônia, as quais são pautadas na valorização do patrimônio por meio das ecologias humana, ambiental e social, permeando todo o curso de desenvolvimento do Programa. E ainda, torna exequível por meio da interrelação meio natural, social e cultural, capacitar gestores, lideranças comunitárias e demais cidadãos interessados, os quais deverão tornar-se disseminadores do processo construtivo de caráter coletivo. A metodologia do Ecomuseu da Amazônia considera o patrimônio das comunidades como uma matéria prima endógena, colocação ratificada por Hugues de Varine “O patrimônio define a imagem do território e a identidade da comunidade (conservação, transformação, criação), o respeito ao patrimônio é uma condição de sustentabilidade e do desenvolvimento”. Neste contexto os resultados das ações desenvolvidas pelas comunidades das áreas de atuação do Ecomuseu já começam a mostrar que essa metodologia vem provocando reflexões e mudanças de atitudes das pessoas, contribuindo para a mobilização popular da região, no sentido de reafirmar processos históricos e culturais, promovendo com isso o desenvolvimento de práticas sustentáveis. Desta forma, as ações desenvolvidas atuam como processos organizacionais que capacitam as pessoas a trabalharem juntas, a adquirirem informações e a refletirem sobre o potencial de sua região para a implementação de projetos necessários à melhoria das condições de vida das populações. Finalmente, o Ecomuseu da Amazônia objetiva estimular a criação de estratégias que possam garantir a execução de ações através de parcerias interinstitucionais e comunitárias que visem gerar condições de desenvolvimento humano sustentável e articulado (Comunidade/Escola/Comunidade). THE CAPACITATION: PRACTICES AND ATTEMPTS OF THEORIZING Maria Terezinha Resende Martins – PA – Brasil – Ecomuseu da Amazônia Hugues de Varine – França** Maria Terezinha Resende Martins, Coordinator of the Amazon Ecomuseum and team, [email protected], [email protected], Belém, Brazil 50 INTRODUCTION The fourth International Meeting of Ecomuseums and Community Museums – IV EIEMC represents a sequence of the communities linked to the museums that share these prinnciples, which, for the third time gether around the theme named Patrimony and Community. In this context in 2000, the II (second) EIE in Santa Cruz, Rio de Janeiro, the theme “Community, Patrimony and Sustainable Development” was enphasized, in 2004, III EIEMC, also in Santa Cruz, the theme presented was “Community Shared Patrimony and Education”, again the concern with the patrimony sharing involved education professionals, because it was seen that it was impossible to dissociate one action from the other.So, after three years of existence in 2010, the Ecomuseum of Amazonia that had already been doing actions of capacitation with the communities of its own area of operation, realized to the biennium 2011/2012 a program called “Patrimony and Capacitation of Actors of Local Development”, innovative initiative in the world of community museology, the creation and execution of a program oriented to communities, destined to put them on a baseline of access to the knowledge, the appreciation and qualification of the knowledge and doings with the objective of communitary organization, qualifying the citizens and generating income, so, looking on the responsible local development. This initiative gave origin to the IV EIEMC. Some, among so many other questions were raised from these meetings: 1. How do communities understand and use their patrimony? 2. How can the patrimony be an income generator to them? 3. How can a community be capacitated to local development, using the patrimony as a resource? 4. How can this community become manager of its own patrimony and keep itself sustainable? Some of the answers to these questions can be found in the several experiences presented on IV EIEMC to be based by Ecomuseum of Amazonia. The Ecomuseum of Amazonia, created in 2007, is a project administered by Municipal Prefecture of Belem – PMB, under the management of the Municipal Secretariat of Education – SEMEC and of the Foundation Bosque School Professor Eidorfe Moreira – FUNBOSQUE, an original and innovator service of Municipal Prefecture of Belem, where its headquarter is found. It operates in four areas: District of Icoaraci (neighborhood of Paracuri and Orla), Islands of: Caratateua (Tucumaeira, Fama, São João de Outeiro e Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira); Cotijuba (comunidades do Poção, Seringal, Piri e Faveira) e Mosqueiro (Vila, Caruaru, Castanhal do Mari Mari e assentamento Paulo Fonteles). It has its bases settled on popular participation to the building of a project of sustainable human development that ensures the integration of all members of communities and that it can be representative of the necessities and interests of the involved communities, from the valorization of “knowledge and doings” and of collective memory, basic reference to the understanding and to the transformation of the present reality in the region. THE PRESENT SITUATION The territories of action of the Ecomuseum of Amazonia are districts relatively disadvantaged of the city of Belem, a strong reason that led SEMEC and FUNBOSQUE to corroborate, in a broad sense, the development of actions in these areas that have the education as the main contribution. In the logic of the ecomuseal formula, they created a program based on the three pillars of every Ecomuseum: ** Hugues de Varine, Consultant on Local Development, France 51 The territory – closely adapting to the characteristics of each territory, mainland or island, urban, per urban or rural, in order to make of it the physical context and the stand of its pedagogy, after a participatory diagnosis of forces and weaknesses, and also of the prospects of development of each one; The community – addressing itself to people, adults, teenagers and children, that were susceptible to play the roles of animator, educator, development agent in their own communities and addressing itself to them in the language of their living culture. The patrimony – using the tangible and intangible elements of the heritage of each community, acknowledged by a permanent participatory inventory, as pedagogical materials. Its base support is found in three principles: sustainability, subsidiarity and responsibility, which has been developed from a method that associates three times: theoretical information in workshops or mini-courses in each territory, “learn to do and why do”; practical work, through concrete realization of projects associated to everyday life of the communities, “learn doing”; the know how to stay, through a friendly participation in social, cultural, religious events, with a view to a better social cohesion between the communities and an opening to the exterior environment. THE CAPACITATION PROGRAM A fundamental programming document punctually started with the name of “Training Program of Human Resources” from 2009 on. Effectively settled for the biennium 2010/2012 by Ecomuseum under the title: Patrimony and Capacitation of Agents of Local Development. The word <<capacitation>>, that, in English is equivalent to "empowerment", means the set of implemented actions in a community in order to take its members to valorize, develop and or obtain the knowledge, the doings, the practices, the techniques that will allow them to take in hand their own development, in other words, the improvement of their living conditions in a sustainable and responsible way. Capacitation, Patrimony and Museums Capacitation, as a means of development of territories and of improvement of quality of life of populations, is based on two principal resources of these terrritories: a human resource, that means, the inhabitants themselves, with their knowledge, their energy, their cultureand a patrimonial resource that includes the natural, cultural, material and immaterial patrimony. This patrimony is a raw material that the inhabitants must learn to know, to control, and to use but, with respect (sustainability). It has to do with agricultural, horticultural production or fishery, workmanship, gastronomy, tourist welcome, performance of music or of trditional dancing. This is the patrimony that needs to be identified, valorizated, transformed, because of a domestical consumption and commercialization, whose resumption will be essencially directed to the population itself or to some of its members. The museum and more particularly the ecomuseum or the comunitary museum is a well adapted instrument to the conception and to the action of this capacitation, at least at the point where it is efectively in close relationship with its territory, listening and serving its community. Its knowledge of the patrimony and of the population allows it to play a role of mobilization and of organization before capacitation and after becomes its own manager. Thus, the program is developed having as a reference, the following thematic axes: THE AXES 52 The actions of the Program of Capacitation have been developed through four axes, which have as main protagonists the community with the contribution of an interdisciplinary team of the Ecomuseum of Amazonia, namely: - CULTURAL AXIS: creating tools to think the social memory – an initiative of the Ecomuseum of Amazonia from the valorization of the cultural patrimony, having as approach the concepts of museums, ecomuseums, and suchlike; the concept of culture and subcultures, identity and cultural diversity, the man as culture producer, the development of parallel activities by means of workshops and courses of valorization of “knowledge and doings” of the communities. And also, notions about legislation that rules the protection of cultural patrimony; - ENVIRONMENTAL AXIS: Systematization of the environmental context in the areas of operation of Ecomuseum of Amazonia by means of actions of Education and Environmental information, as: Sementinhas do Amanhã (little seeds of tomorrow) – socio environmental activities to children and pre-teens; alternative agriculture to small farmers: :farming without fire” with growth of food crops; plantation of fruit trees in the community area; growth of kitchen gardens; sustainable aquaculture: use of areas of lowlands of the region of islands of Guajara bay to growth and or handling of fishes and shrimp of amazonia, Ecomuseum of Amazonia at school: environmental education as a way to sustainable communitarian development in the region of islands of Belem Para. And also, the project Environmental School:transference of technology to food security and to valorization of urban agriculture at schools, project in partnership with the Brasilian Enterprise of Agricultural Research – EMBRAPA; - TOURISM AXIS: Sustainable Tourism of communitariam base – It’s developed by means of sub-themes: local development and sustainability using for this purpose, concepts to valorization and development of socio-cultural and economic patrimony in areas of operation of the Ecomuseum of Amazonia, as well as, notions of applicable legislation to touristic activity, segments and citizenship, non-formal educational process by means of ecotourism experiences (analysis of the effects on the local population). And also, notions of instrumental English (differentiated tourism services); - CITIZENSHIP AXIS: It gathers communities of areas of operation of the Ecomuseum of Amazonia in an interactive way, relating memory to knowledge and local doings to their implications in order to enable the construction of sustainable communities, it aims this way, the junction of collective interests harmonically, from the valorization of local patrimony and other social interests. In this sense, it has as approach socio-economic, environmental and cultuaral researches, capacitation of communities with support of other institutions and or non governamental organizations, creation and strengthening of social organizations, participation in events, etc. The mentioned axes culminate theory and practice by means of implementation of workshops and several courses like: landscaping, gardening, sandwiches of fish, woodwork with art, forest and fructiferous nurseries, implementation of earthworm growth, composting, baskets of plastic bottles, tracing in palm leaves, christmas arrangements, gathering of seeds, workshops, etc. THE EXPERIENCE OF THE ECOMUSEUM OF AMAZONIA After several years, this ecomuseum made of the capacitation of inhabitants and of the comunities of the territories that were entrusted to it (three islands and one district of the city of Belém, capital of the State of Pará) the kernel of its policy. In these communities relatively marginalized or isolated, with rural or periurban dominance, the process is, sometimes, of acquiring a strong self confidence (selfesteem) and of upholding in a volunteer and creative way about local resources 53 (patrimonial) in order to reach a real socio-economic autonomy, reaching progressively a quality of life next to nearby urban populations. So, according to Hugues de Varine (2011) consultant of Ecomuseum of Amazonia, ratifying the actions that have been performed in these areas, it was decided to put into action a program of capacitation according to four prior axes: Cultural capital: man as creator of culture and holder of patrimony; Natural capital: conservation and economical potential of environment; Tourism : welcome of visitors by community and in favor of its members; Social capital: organization of society, cooperation and solidarity. This program, that, many times, contains collective sessions and practical works exteds for all year long and covers a great diversity of of themes, for instance: family horticulture, shrimp growing, forest managing, production of pottery, traditional dance «carimbó», creation of observation tracks, fairs of local products, organization of parties and festival of villages, constitution of economical groups or of cooperatives, etc. THE METHODOLOGY The methodology of the Ecomuseum of Amazonia is based on the following principles: - Social Methodology: recognition of identities and culture of all human groups; development of museological actions, regarding as a starting point the social practice and not only material collections; - Bioregional planning and managing – “ organizational process that enables people to work together, to obtain information, to consider carefully about the potential and problems of the region, to determine goals and objectives, to determine activities, to implement projects and actions dealt within the community, to evaluate progress and to adjust its own approach”. Miller (1997). - Concept of sustainability based in culture, technology, popular knowledge of masters of crafts of each community, in using and conservation of natural resources of region. Aderne (2005). - In the Museum as development agent: polyvalent instrument of territorial action; research and mobilization of living forces of the community; activation of skills and of ideas from the community; exploitation of patrimony and of collective memory; promotion of self-esteem and of dynamic of cooperation; intermediation with abroad: self-image, economical atraction. Huges de Varine (2009). After the citation of the related principles, it’s relevant to say that these ones represent the base of development of thematic axes, which have been performed from several activities as: participatory rapid diagnosis – drp or Participatory Inventory, followed by courses, workshops, meetings and related ones, besides directed complementary tasks and field activities that aim at the awareness to priority issues of communities. Thos elements culminate with the performance of actions of a museum as development agent that enables the capacitation of people for collective work as well as for the sustainability of of communities with emphasis on culture, technology, popular knowledge. Thus, during the activities of the course specific material corresponding to each axis will be produced, besides the usage of basic material that already make part of the pedagogical collection of the program. In the process of performance of activities it’s pertinent to make evaluations, which can direct the necessity of continuity, as well as of insertion of other actions that aim assert and foment the plan of local development. The evaluation is understood as a pedagogical tool of constant monitoring, not only as a tool of conclusion. The activities of this program of capacitation uses asa reference the action-research, according to Engel (2000) “action-research as the name, intends to link the research to action or practice, that means, it develops knowledge and comprehension as part of the practice”, this way it promotes a bigger integration of the ones involved in obtaining 54 a deeper knowledge about the experienced situation, once the participant in this study is the producer of its own history, so it is the subject of this production. In this context the methodology integrates peculiar evaluative instruments that can be used as continuous evaluation or as records of activities that include relevant and differentiated qualitative modes, as follows: testimonies, meetings, reports of experiences, that is, the everyday of the contemplated communties. The quantitative issue will be expressed by numbers and statistical surveys collected along techinical visits and research developed. FINAL CONSIDERATIONS The actions developed by Ecomuseum of amazonia involved direct or indirectly in the year of 2011, more or less 4.651 (four thousand, six hundred and fifity-one) people, from which it’s important to highlight a direct follow up of about 140 (one hundred) families. The main objective is the promotion of local activities, so, of actions that valorizes the populations of the areas of performance of CDC/Ecomuseum of Amazonia, which ones are guided on the valorization of the patrimony by means of human, environmental and social ecologies, permeate all the course of development of the Program. And still, it makes it practicable by means of interrelation of natural, social and cultural environment, capacitate managers, communitarian leaders and other interested citizens, which should be disseminators of the constructive process of collective feature.The methodology of Ecomuseum of Amazonia considers the patrimony of communities as an endugenous raw material,statement ratified by Hugues de Varine “ The patrimony defines the image of the territory and the identity of the community (conservation, transformation, creation), the respect to the patrimony is a condition of sustainnability an of development”. In this context the results of the developed actions by communities of the areas of action of Ecomuseum already start to show that this methodology has caused reflexions and attitudes of people, contributing to popular mobilization of the region, in the sense of reaffirming historical and cultural processes, promoting, this way, the development of sustainable practices. This way, the developed actions act as organizational processes that capacitate the people to work together, to obtain information and to reflect on the potential of their region to the implementation of projects that are necessary to the improvement of life conditions of the populations. Finally, the ecomuseum of Amazonia objectifies to stimulate the creation of strategies that can ensure the performance of actions by means of interinstitutional and communitarian partnerships that aims to create conditions of human sustainable and articulated development (Community/School/Community). LA CAPACITACION: PRACTICAS Y TENTATIVAS DE TEORIZACIÓN Maria Terezinha Resende Martins – PA – Brasil – Ecomuseu da Amazônia Hugues de Varine – França** INTRODUCCIÓN: El IV Encuentro Internacional de Ecomuseos y Museos Comunitarios-IV EIEMC representa una secuencia de encuentros de las comunidades vinculadas a los museos que comparten estos principios, los cuales por la tercera vez se reunen en torno al tema denominado Patrimonio y Comunidad. En este texto en 2000, el II EIE en Santa Cruz, Rio de Janeiro, fue enfatizado el tema “ Comunidad, Patrimonio y Desaarrollo Maria Terezinha Resende Martins, coordinadora del Ecomuseo del Amazonia, y equipo, Belém, Brasil, [email protected], [email protected] ** Hugues de Varine, consultor en desarollo local, Francia 55 Sostenible”, en 2004, III EIEMC, tambien en Santa Cruz, fue presentado el tema “Comunidad, Patrimonio Compartido y Educación” nuevamente la preocupación compartida del patrionio involucró a los profesionales de la educación, porque se percibía imposible disociar una acción diferente. De esta manera, depues de tres años de existencia, en 2010, el Ecomuseo de Amazonia que ya venia realizando acciones de capacitación con las comundades de su area de actuación, efectiva para el 2011/2012 un programa denominado “Patrimonio y Capacitación de los Actores de Desarrollo Local”, iniciativa inovadora en el mund de la museologia comunitaria, la creación y ejecución de un programa hacia las comunidades, destinado a colocarlas en una plataforma de acceso al conocimiento, la valorizacion y cualificación de los saberes y que haceres con un objetivo de organización comunitaria, cualificando al ciudadano y generando rentas, portanto contemplando el desarrollo local responsable. Esta iniciativa dio origen al IV EIEMC. Algunas, entre otras tantas cuestiones, se levantan a partir de estos encuentros: Como las comunidades comprenden y usan su patrimonio? De que modo el patrimonio puede ser para ellos un generador de rentas? Como capacitar una comunidad para el desarrollo local, usando el patrimonio como rucurso? Como transformar esa comunidad en gestora de su patrimonio y mantenerla auto sostenible? Algunas de las respuestas a estos cuestionamientos pueden ser encontrados en las diversas experiencias presentadas en IV EIEMC a ser basados em Ecomuseo de Amazonas. El Ecomuseo de Amazônia, creado en 2007, en un Projecto titulado por la Prefectura Municipal de Belen, PMB, sobre la gestion de la Secretaria Municipal de EducaciónSEMEC y la Fundación Escuela Bosque Profesor Eidorfe Moreira-FUNBOSQUE, un servicio original e innovador de la Prefectua Municipal de Belen, donde se encuentra su sede. Actuan en cuatro areas: Distrito de Icoaraci (barrio de Paracuri y alrededores), Islas de: Caratateura (Tucumaeira, Fama, Sao Joao de Outeiro y Fundacion Escuela Bosque Profesor Eidorfe Moreira); Cotijuba (couminidades de Pocao, Seringal , Piri y Faveira) y Mosqueiro( Vila, Caruaru, Castanhal do Mari Mari y asentamientos Paulo Fonteles). Tienen sus bases asentadas en la participación popular para la construccion de un projecto de desarrollo humano sostenible que garantiza la integración de todos y que sea representativa de las necesidades e intereses de las comunidades involucradas, a partir de las valorizaciones de “saberes y quehaceres” y de la memoria colectiva, referencial basico para el ententimiento y la transformación de la realidad presente en la region. LA SITUACION ACTUAL Los territorios de acción del Ecomuseo de Amazonas son distritos relativamente desfavorecidos de la ciudad de Belen, una fuerte razon que llevó a SEMEC y a la FUNBOSQUE a refrendar en un sentido mas amplio , el desarrollo de las acciones en esas áreas que tienen como principal aporte la educación. En la lógica de la fórmula ecomuseo, se creo un programa basado em los tres pilares de todo ecomuseo: - el territorio : adaptandolo extrictamente a las caracteristicas de cada territorio, tierra firme o isla, urbana, periurbana o rural, para hacer de el el contexto fisico y el soporte de su pedagogia, despues de un diagnostico participativo de las fortalezas y de las debilidades, y tambien de las perspectivas de desarrollo en cada una; - la comnidad : dirigiendose a las personas adultas y jovenes y niños que estaban susceptibles de representar los papeles de animador, formador, agente de desarrollo em sus respectivas comunidades y dirigiendose em las lenguas de su cultura viva; - el patrimonio : sirviendose de los elementos materiales e inmateriales de herencia de 56 cada comunidad, reconocidos por un inventario participativo permanente, como materias pedagogicas. Su base de sustento se encuentra fundamentalmente em tres principios: sustentabilidad, subsidiariedad y responsabilidad, los cuales vienen siendo desarrollados a partir de un método que asocia los tres tiempos: - la informacion teorica, en oficinas o minicursos, en cada territorio,”se aprende a hacer y por que hacer”; - el trabajo practico, por la realización concreta de projectos asociados a la vida cotidiana de las comunidades, “aprender haciendo”; - el saber-estar, por una participación de convivencia en los eventos sociales, culturales, religiosos, con vistas a una mejor cohesion social entre las comunidades y una apertura al exterior. EL PROGRAMA DE CAPACITACION Un documento fundamental de programación para 2011/2012 fue estabelecido por el ecomuseo sobre el titulo: Patrimonio y Capacitacion de los Actores del Desarrollo Local. El término “capacitación”, que equivale em inglés “empowerment”, designa un conjunto de acciones implementadas em una comunidad para levantar sus miembros y valorizar, desarrollar y /o adquirir los saberes, los quehaceres, las práctias, las técnicas que les permitirán tomar en sus manos su próprio desarrollo, quiere decir, la mejora de sus condiciones de vida, de modo sostenible y responsable. Capacitación, Patrimonio y Museos La capacitación, como medio de desarrollo de los territorios y de la mejoria del nivel de vida de las poblaciones, se apoya naturalmente sobre los dos principales recursos de esos territorios: un recurso humano, quiere decir los habitantes mismos, con sus saberes , su energia, su cultura y un recurso patrimonial, que engloba el patrimonio natural, cultural, material e inmaterial. Este patrimonio es una materia prima que los habitantes deben aprender a conocer, a controlar y a utilizar , pero respetandolo (sostenimiento). Se trata de la producción agrícola, hortícola, y de la pesca, de las actividades artesanales, de gastronomia, de acojida turística, de espectáculos de música o danzas tradicionales, y ese patrimonio que es preciso saber identificar, valorizar, transformar, por cuenta de un consumo interno y de una comercialización, cuyas retomadas iran esencialmente a la población misma o para algunos de sus miembros. El museo y mas particularmente el ecomuseo o museo comunitario es un instrumento bien adaptado a la concepción y la acción de esta capacitación, al menos en la medida donde el esta efectivamente en estrecha relación con su territorio, a la escucha y al servicio de su comunidad. Su conocimiento del patrimonio y de la población le permite represntar un papel de movilización y de organización anterior a la capacitación y despues convertirse entonces en su propio gestor. De esta manera el Programa y el desarrollo teniendo como referencia los siguientes ejes temáticos: Los EJES Las acciones del Programa de Capacitación vienen siendo desarrollados atravez de cuatro ejes, los cuales tienen como principales protagonistas a las comunidades con aporte de un equipo interdisciplinario de Ecomuseo de Amazonia, a saber: - EJE CULTURA: creando herramientas para pensar la memoria social -una inciativa de Ecomuseo Amazonia, a partir de la valorización del patrimonio cultural, teniendo en cuenta como enfoque los conceptos de museos, ecomuseos, y similares;el concepto de cultura y sub-culturas,identidad y diversidad cultural, el hombre como productor de 57 cultura, el desarrollo de las actividades paralelas por medio de oficinas y cursos de valorizaciones de “saberes y quehaceres” de las comundiades. Y es más, nociones sobre legislacion que rigen la protección del patrimonio cultural; - EJE AMBIENTAL: Sistematización del contexto ambiental en las áreas de actuación del Ecomuseo de la Amazonia atravez de acciones de Educación y la Información Ambiental, como: semillas de mañana-actividades socio-ambientales para niños y pre adolescentes;agricultura alternativa para pequeños productores: “rosa sin quemada” con cultivos de culturas alimentares; plantaciones fructífers en la comunidad; cultivo de hortalizas;agriculturas sostenibles: aprovechamiento de las áreas de tierras bajas de la region insular de la bahia de Guajará para el cultivo y /o el manejo de peces y camarones amazonicos, el Ecomuseo de Amazonia en la escuela: la educación ambiental como un camino para el desarrollo comunitario sostenible en la region insular del municipio de Belen-Pa. Y más aún, el Projecto Escuela Ambiental: transferencia de tecnologia para asegurar la alimentacion y la valoración de la agricultura urbana en las escuelas, Projecto en asociación con la Empresa Brasilera de Búsqueda Agropecuaria-EMBRAPA; - EJE TURISMO: Turismo Sostenible de base comunitaria- es desarrollado atravez de su-temas:desarrollo local y sostenible utilizando para este fin, conceptos para la valoración y el desarrollo del patrimonio socio-cultural y economico en areas de actuación del Ecomuseo de Amazonia, asi como, nociones de legislación aplicables a las actividades turisticas, segmentos y ciudadania, proceso educativo no formal por medio de experiencias ecoturisticas ( analisis de los efectos en la población local). Y aun mas, nociones de ingles insturmental ( atencion de servicios turisticos diferenciados); - EJE CIDADANIA: reune comunidades en las areas de actuación de Ecomuseo de Amazonia de forma interactiva,relacionando la memoria a los saberes y quehaceres locales y sus implicancias a fin de posiblitar la construcción de las comunidades sostenibles, tiene como objetivo asi, la unión de intereses colectivos de forma armónica, a partir de la valoración del patrimonio local y demas intereses sociales. En este sentido tiene como enfoque las búsquedas socio-economicas, ambientales y culturales, capacitando a las comunidades con apoyo de otras instituciones y /o organizaciones no gubernamentales, creación y fortalecimiento de las organizaciones sociales, participación en eventos, etc. Los éxitos citados culminan la teoria y la práctica atravez de la realización de oficinas y cursos diversos como:paisajismo y jardineria, sandwiches de peces, carpinteria como arte, viveros forestales y frutales, implementación de lombriz, compos, cestas de botellas pet, trazados en palmeras, arreglos navideños, recolección de semillas, workshops, etc. LA EXPERIENCIA DEL ECOMUSEO DE AMAZÔNIA Despues de varios años, este ecomuseo hace capacitacion de los habitantes y las comunidades de los territorios que le fueran confiados ( tres islas en un distrito de Belen, capital del Estado de Pará) el corazón de su politica. En estas comundadees relativamente marginalizadas y aisladas, con dominancia rural o peri-urbana, se trata a veces de adquirir una fuerte confianza en si (auto-estima) y de apoyar de modo voluntario y creativo sobre los recursos locales ( patrimoniales) a fin de llegar a una real autonomia socio-economica, atendiendo progresivamente a un nivel de vida proximo a las poblaciones urbanas vecinas. Se decidió entonces, segun Hugues de Varine (2011) consultor de Ecomuseo de Amazonia,ratificando las acciones que vienen siendo ejecutadas en el área, colocar en acción un programa de capacitación segun cuatro ejes prioritarios: El capital cultural: el hombre como creador de cultura y defensor del patrimonnio 58 El capital natural: preservación y potencial economico del medio natural El turismo: acojida de visitantes por la comunidad y en pro de sus miembros El capital social: organización de la sociedad, cooperación y solidaridad. Este programa, que compone muchas veces sesiones colectivas y trabajos prácticos, se extiende por todo el año y cubre una gran diversidad de temas , por ejemplo la horticultura familiar, la cria de camarones, la gestacion de flores, la producción cerámica, la danza tradicional “carimbó”, la creación de caminos de observación, las ferias de productos locales, la organización de fiestas y festividades de aldeas, la constitución de agrupaciones economicas o de las cooperativas, etc. LA METODOLOGIA La metodologia del Ecomuseo de la Amazônia está pautada en los siguientes principios: - Museologia Social: reconocimiento de identidades y culturas de todos los grupos humanos; desarrollos de acciones museologicos, considerando como punto de partida la practica social y no solo los acervos materiales o las colecciones; - Planeamiento y gestion bioregional- “proceso organizacional que capacita a las personas a trabajar juntas, a adquirir informaciones, a refleccionar cuidadosamente sobre el potencial y los problemas de su region, a establecer metas y objetivos, a definir activiades , a implementar projectos y acciones acordados por la comunidad, a avalar los progresos y reajustar su propio abordaje”.Miller (1997) - Concepto de sostenimiento con base en la cultura, tecnologias, sabers populares de los maestros de oficios de cada comunidad, en la utilizacion y preservación de los recursos naturales de la región. Aderne (2005); - En el museo como agente de desarrollo:instrumento polivalente de acción territorial;levantamiento y movilización de las fuerzas vivas de la comunidad; activaciión de las competencias, de las energias,y de las ideas oriundas de comunidad; exploración de patrimonio y de memoria colectiva; promoción de auto estima y de las dinamicas de cooperación;intermediación con el exterior: imagen de si, atracción economica. Hugues de Varine (2009) Despues de la citación a los referidos principios es pertinente afirmar que estos representan el soporte de desarrollo de los ejes temáticos, los cuales vienen siendo ejecutados a partir de las actividades diversas, cmo:diagnostico rápido participativodrp, o Inventarios Participativo, seguido de cursos, oficinas, encuentros, workshops, reuniones y afines, mas allá de las tareas complementarios direccinados y activiades de campo que esten relacionados a la sensibilizacion para las cuestiones prioritarias de las comunidades. Referidos elementos culminan con la realización de acciones de un museo como agente de desarrollo que posibilite la capacitación de las personas para el trabajo colectivo y el sostenimiento de las comunidades con enfasis en la cultura, tecnologias, saberes populares,etc. Asi, durante las actividads del curso, son producidos los materiales especificos correspondientes a cada eje, ademas de la utilización de los materiales basicos que ya hacen parte del acervo pedagogico del programa. En el proceso de ejecución de las actividades es pertinente promover las evaluaciones, las cuales pueden direccionar la necesidad de continuidad, asi como la inserción de otras acciones que puedan ser un instrumento pedagogico de acompañamiento constante y no solo como elemento de finalización. Las actividades de este programa de capacitación utiliza como referencia la investigación-acción de acuerdo a Engel (2000) “busqueda-accion conforme al nombre, busca unir la búsqueda a la acción o la práctica, esto es, desarrolla el conocimiento y la comprensión como parte de la práctica”, luego posibilita una mayor integración de los involucrados en la adquisicion de un conocimiento mas profundo acerca de la situación vivenciada, ya que el participante en este estudio es el productor de su propia historia, portanto esta sujeto a esa producción. En este contexto la metodologia integra peculiares instumentos evaluativos que pueden ser 59 utilizados como evaluación continua o como registros de actividades que incluyen modos cualitativos relevantes y diferenciados, son ellos: las declaraciones,los encuentros, relatos de experiencias, esto es, lo cotidiano de las comunidades contempladas. La cuestion cuantitativa sera expresada en números y levantamientos estadisticos a lo largo de las visitas tecnicas y búsquedas desarrolladas. CONSIDERACIONES FINALES Las acciones a ser desarrolladas por el Ecomuseo del Amazonas involucraran directa o indirectamente el año 2011, cerca de 4.651( cuatro mil seicientos cincuenta y una personas), de las cuales es importante destacar un acompañamiento directo de aproximadamente 140 ( ciento cuarenta familias)- El objetivo principal es el fomentar las actividades locales, luego, las acciones que valoren las poblaciones de las aread de actuación de CDC/Ecomuseo de Amazonas, las cuales son pautadas en la valoracion del patrimonio por medio de las ecologias humanas, ambiental y social , permeando todo el curso del desarrollo del Programa. Y aun más, se vuelve accecible por medio de la interrelacion del medio natural, social y cultural, capacitar a los gestores, lideres comunitarios y demas ciudadanos interesados, los cuales deberan volverse diseminadores del proceso construsctivo de caracter colectivo. La metodologia de Ecomuseo de Amazonas considera el patrimonio de las comunidades como una materia prima endogena, colocacion ratificada por Hugues de Varine “el patrimonio define la imagen de territorio, y la identidad de comunidad ( conservacion, transformacion, creación) el respeto al patrimonio es una condicion de sustentabilidad y desarrollo”. En este contexto los resultados de las acciones desarrolladas por las comunidades de las areas de actuación del Ecomuseo ya comenzaron a mostrar que esas metodologias vienen provocando reflexines y cambios de actitudes de las personas, contribuyendo para la movilizacion popular de la region, en sentido de reafirmar los procesos historicos y culturales, promoviendo con eso el desarrollo de las practicas sostenibles. De esta manera, las acciones desarrolladas actuan como procesos organizacionales que capacitan a las personas a trabajar juntas, a adquirir informaciones y a refleccionar sobre el potencial de su region para la implementacion de los projectos necesarios para la mejoria de las condiciones de vida de las poblaciones. Finalmente, el Ecomuseo de la Amazonia, tiene como objetivo estimular la creación de las estrategias que puedan garantizar la ejecución de las accciones atravez de socios interinstitucionales y comunitarias que puedan generar condiciones de desarrollo humano sostenible y articulado (Comunidad/ Escuela/ Comunidad). LA CAPACITATION : PRATIQUES ET TENTATIVES DE THEORISATION Maria Terezinha Resende Martins – PA – Brasil – Ecomuseu da Amazônia ** Hugues de Varine – França INTRODUCTION La 4° Rencontre internationale des écomusées et musées communautaires (IV EIEMC) se situe à la suite d'une série de réunions entre ces musées qui partagent des principes communs. Elle se réunit pour la troisième fois sur le thème "Patrimoine et Communauté". En 2000, la 2° rencontre, à Santa Cruz (Rio de Janeiro) a traité du thème "Patrimoine, Communauté et Développement soutenable" ; en 2004, la troisième, toujours à Santa Cruz, étudia le thème "Communauté, Patrimoine partagé et Éducation". On y marqua le souci d'impliquer les professionnels de l'éducation dans le partage du patrimoine, tant il est évident que ces deux approches sont indissociables. Maria Terezinha Resende Martins, coordinadora del Ecomuseo del Amazonia, y equipo, Belém, Brasil, [email protected], [email protected] ** Hugues de Varine, consultor en desarollo local, Francia 60 C'est ainsi qu'après trois années d'existence, en 2010, l'Ecomusée d'Amazonie, qui avait déjà réalisé des actions de capacitation dans les communautés de son territoire, a mis en œuvre pour la période 2011-2012, un projet biennal dénommé "Patrimoine et Capacitation des acteurs du développement local", une initiative innovante dans le monde de la muséologie communautaire. Il comporte la conception et l'exécution d'un programme au profit des communautés, pour leur permettre d'accéder à la reconnaissance, à la valorisation et à la qualification des savoir-faire, dans un but d'organisation communautaire, de qualification du citoyen et de génération de ressources économiques, en cohérence avec un développement local soutenable. Cette initiative a été à l'origine de la 4° rencontre internationale. Citons quatre questions, parmi bien d'autres, qui découlent des réunions précédentes et qui seront débattues lors de de celle-ci : 1. Comment les communautés comprennent-elles et utilisent-elles leur patrimoine ? 2. Comment ce patrimoine peut-il être pour elles une source de revenus ? 3. Comment peut-on rendre une communauté capable d'agir pour le développement local, en utilisant le patrimoine comme ressource ? 4. Comment faire de cette communauté un gestionnaire de son patrimoine et la rendre acteur de son propre avenir ? Des réponses à ces questions pourront être trouvées dans les diverses expériences qui seront présentées lors de la 4° rencontre, qui se tiendra au siège même de l'Ecomusée d'Amazonie. L'Ecomusée d'Amazonie, créé en 2007, est un projet de la Direction de l'Education de la Mairie de Belém, dans le cadre de la Fondation Escola Bosque (FUNBOSQUE), un service municipal particulièrement original et innovant. L'écomusée y a son siège. Il travaille sur quatre territoires de la ville de Belém : le District de Icoaraci (quartiers de Paracuri et des berges), Iles de Caratateua (communautés de Tucumaeira, Fama, São João do Outeiro et la Fondation Escola Bosque proprement dite), Cotijuba (communautés de Poção, Seringal, Piri et Faveira) et Mosqueiro (centre urbain, communautés de Caruaru, Mari-Mari et Paulo Fonteles). Il s'appuie sur la participation populaire pour la construction d'un projet de développement humain soutenable qui garantisse l'intégration de tous et qui soit représentatif des besoins et des intérêts des populations concernées, à partir de la valorisation des savoir-faire et de la mémoire collective, qui constituent ensemble le référentiel de base pour la compréhension et la transformation de la réalité actuelle dans la région. LA SITUATION ACTUELLE Les territoires où agit l'écomusée sont des zones relativement défavorisées de la ville de Belém, ce qui a amené la direction municipale de l'éducation et Funbosque a renforcer le contenu éducatif des actions qui ciblent ces quartiers. Dans la logique écomuséale, elles ont ainsi adopté un programme soutenu par trois piliers : - le territoire – en s'adaptant aux caractéristiques de chaque quartier, terre ferme ou ile, urbain, périurbain ou rural, pour en faire le contexte physique et la base de sa pédagogie, après un diagnostic participatif des forces et des faiblesses, et aussi des perspectives de développement de chacun ; - la communauté – en s'adressant aux personnes, adultes, jeunes et enfants, susceptibles de jouer les rôles d'animateurs, de formateurs, d'agents de développement dans leurs communautés respectives et en communiquant avec eux dans le langage de leur culture vivante ; - le patrimoine – en utilisant dans la pédagogie les éléments matériels et immatériels hérités par chaque communauté, identifiés et reconnus par un inventaire participatif permanent. 61 Cet écomusée est fondé essentiellement sur trois principes : soutenabilité, subsidiarité et responsabilité, qui sont appliqués à l'action selon trois temps : - une information théorique, sous la forme d'ateliers ou de mini-leçons, sur chaque territoire, "on apprend à faire et pourquoi le faire" ; - un travail pratique, pour la réalisation concrète de projets liés à la vie quotidienne des communautés, "on apprend en faisant" ; - le savoir-être, par une participation conviviale aux évènements sociaux, culturels, religieux, pour atteindre une meilleure cohésion sociale entre les communautés et une ouverture sur l'extérieur. LE PROGRAMME DE CAPACITATION L'Ecomusée d'Amazonie a adopté un document fondamental de programmation pour les années 2011-2012, sous le titre "Patrimoine et capacitation des acteurs du développement local". Le terme "capacitation", qui correspond à peu près à l'anglais "empowerment", désigne l'ensemble des actions menées dans une communauté pour amener ses membres à valoriser, développer et/ou acquérir les savoir-faire, les pratiques, les techniques qui leur permettront de prendre en mains leur propre développement, c'est à dire l'amélioration de leurs conditions de vie, de manière soutenable et responsable. Capacitation, Patrimoine et Musées La capacitation, comme moyen de développement des territoires et d'amélioration du niveau de vie des populations, s'appuie naturellement sur les deux principales ressources de ces territoires, une ressource humaine, c'est à dire les habitants euxmêmes, avec leurs savoirs, leur énergie, leur culture, et une ressource patrimoniale qui comprend le patrimoine naturel, culturel, matériel et immatériel. Ce patrimoine est une matière première que les habitants doivent apprendre à connaître, à contrôler et à utiliser, tout en la respectant (soutenabilité). Il s'agit de la production agricole, horticole ou de la pêche, d'activités artisanales, de gastronomie, d'accueil touristique, de spectacles de musique ou de danse traditionnels. C'est ce patrimoine qu'il faut savoir identifier, valoriser, transformer, tant pour la consommation interne que pour une commercialisation dont les profits iront essentiellement à la population elle-même ou à certains de ses membres. Le musée, et plus particulièrement l'écomusée ou le musée communautaire, est un instrument bien adapté à la conception et à la mise en œuvre de cette capacitation, du moins dans la mesure où le musée est effectivement en étroite relation avec son territoire, à l'écoute et au service de sa communauté. Sa connaissance du patrimoine et de la population lui permet de jouer un rôle de mobilisation et d'organisation antérieur à la capacitation, pour devenir ensuite gestionnaire du programme. Ainsi le Programme de Capacitation de l'écomusée se réfère aux axes thématiques suivants. LES AXES Les actions du programme de capacitation se développent selon quatre axes, dont les principaux acteurs sont la communauté et ses membres, avec l'aide d'une équipe interdisciplinaire de l'écomusée. - AXE CULTUREL: il crée des outils pour penser la mémoire sociale – une initiative de l'écomusée d'Amazonie à partir de la valorisation du patrimoine culturel ; on aborde les concepts de musées, d'écomusées, de culture et de sub-cultures, d'identité et de diversité culturelle, l'homme comme producteur de culture, la valorisation des savoirfaire des communautés par l’intermédiaire d'ateliers et de mini-cours. On acquiert aussi des notions sur les législations qui régissent la protection du patrimoine culturel. - AXE ENVIRONNEMENTAL: il systématise le contexte environnemental dans les territoires de l'écomusée, par des actions d'éducation et d'information 62 environnementales, comme préparation pour l'avenir – activités socioenvironnementales pour les enfants et les pré-adolescents, agriculture alternative pour les petits producteurs comme "l'essartage sans brûlis" pour des cultures alimentaires, la plantation d'arbres fruitiers dans la communauté, la création de jardins potagers, l'aquaculture soutenable, l'utilisation d'espaces abandonnés de la baie de Guajara pour la culture et/ou la reproduction de poissons et de crevettes amazoniens, l'écomusée dans l'école... L'éducation environnementale est une voie pour le développement local soutenable de la région insulaire de la ville de Belém. Et aussi le projet d’École Environnementale, pour un transfert de technologies en vue de la sécurité alimentaire et de la valorisation de l'agriculture urbaine dans les écoles. Ce dernier projet se réalise en partenariat avec l'entreprise brésilienne de recherche en agriculture et élevage (EMBRAPA). - AXE TOURISTIQUE: un tourisme soutenable de base communautaire – il est promu à travers des sous-thèmes : développement local et soutenabilité, en utilisant à cette fin des concepts pour la valorisation du patrimoine socio-culturel et économique des territoires de l'écomusée ; également des notions de législation applicables à l'activité touristique, de citoyenneté ; un parcours éducatif non-formel à travers des expériences éco-touristiques (analyse de l'impact sur la population locale). Et aussi des notions d'anglais fonctionnel, pour la fourniture de services touristiques adaptés aux clients. - AXE CITOYENNETÉ: il associe les communautés des territoires de l'écomusée de manière interactive, en mettant en relation la mémoire et les savoir-faire locaux, avec leurs atouts pour la construction de communautés soutenables. On veut par là faciliter l'union des intérêts collectifs de manière harmonieuse, par la valorisation du patrimoine local et des besoins sociaux. On s'appuie sur des recherches socio-économiques, environnementales et culturelles, sur la capacitation des communautés avec le soutien d'autres institutions ou ONG, sur la création et le renforcement des structures de la société (associations par exemple), la participation à des évènements, etc. Les axes cités ci-dessus combinent théorie et pratique, sous forme d'ateliers et de cours variés, comme l'entretien du paysage, le jardinage, la fabrication de sandwiches de poisson, la menuiserie, les pépinières d'arbres forestiers ou fruitiers, la lombriculture, le compostage, les paniers en plastique recyclé, les décors en feuilles de palmier, les décorations de Noël, le recueil de semences, etc. L'EXPERIENCE DE L'ECOMUSEE D'AMAZONIE Depuis plusieurs années, l'Ecomusée d'Amazonie fait de la capacitation des habitants et des communautés des territoires qui lui ont été confiés (trois îles et un district de la ville de Belém, capitale de l'Etat de Para) le cœur de sa politique. Dans ces communautés relativement marginalisées, à dominante rurale ou périurbaine, il s'agit surtout d'acquérir une forte confiance en soi (auto-estime) et de s'appuyer de façon volontaire et créative sur les ressources locales (patrimoniales) afin de parvenir à une réelle autonomie socio-économique, pour atteindre progressivement un niveau de vie proche de celui des populations urbaines voisines. Il a ainsi été décidé, selon Hugues de Varine (2011), consultant auprès de l'Ecomusée d'Amazonie, qui a examiné et approuvé les actions déjà menées dans ces territoires, de mettre en œuvre un programme de capacitation suivant quatre axes prioritaires : le capital culture : l'homme comme créateur et détenteur du patrimoine, le capital naturel : préservation et potentiel économique du milieu naturel, le tourisme : accueil de visiteurs par la communauté et au bénéfice de ses membres, le capital social : organisation de la société, coopération et solidarité. Ce programme, qui comporte beaucoup de séances collectives et de travaux pratiques, durera toute l'année et couvrira une grande variété de thèmes, comme 63 l'horticulture familiale, l'élevage de crevettes, la gestion de la forêt, la production céramique, la danse traditionnelle «carimbó», la création de sentiers d'observation, les marchés de produits locaux, l'organisation de fêtes et de festivals dans les villages, la constitution de groupements économiques ou de coopératives, etc. LA METHODOLOGIE La méthodologie de l'Ecomusée d'Amazonie s'appuie sur les principes suivants : la muséologie sociale : reconnaissance des identités et des cultures de tous les groupes humains, développement d'actions muséologiques, considérant comme point de départ la pratique sociale et pas seulement les collections ; la planification et la gestion bio-régionale : "un processus organisationnel qui rend les personnes capables de travailler ensemble, d'acquérir des informations, de réfléchir de façon équilibrée aux problèmes de leur région, de se fixer des buts et des objectifs, de définir des activités, de mettre en œuvre des projets et des actions approuvés par la communauté, d'évaluer les progrès et d'adapter leur propre approche." (Miller 1997) ; le concept de soutenabilité comme base de la culture, des technologies, des savoirs populaires des maîtres-artisans de chaque communauté, pour l'utilisation et la préservation des ressources naturelles de la région (Aderne, 2005) ; le musée comme agent de développement : instrument polyvalent de l'action territoriale, de l'inventaire et de la mobilisation des forces vives de la communauté ; activation des compétences, des énergies et des idées émanant de la communauté, exploitation du patrimoine et de la mémoire collective, promotion de l'auto-estime et des dynamiques de coopération, intermédiation avec l'extérieur, construction de l'image de soi, de l'attractivité économique. A la lecture de ces principes, il est pertinent d'affirmer qu'ils représentent le cadre du développement des axes thématiques, qui seront atteints par des activités variées telles que le diagnostic rapide participatif (DRP) ou l'inventaire participatif, suivis de cours, d'ateliers, de rencontres, de workshops, de réunions, auxquels succèdent des travaux complémentaires dirigés et des activités de terrain qui visent à une sensibilisation aux questions importantes pour les communautés. Tout cela représente l'ensemble des actions d'un musée qui est un agent de développement, qui recherche la capacitation des personnes en vue d'un travail collectif et de la soutenabilité des communautés, avec une attention particulière sur la culture, les technologies, les savoirs populaires, etc. Ainsi, pendant le programme, on produit des matériaux spécifiques correspondant à chaque axe, qui s'ajoutent aux matériaux pédagogiques de base qui sont déjà partie disponibles. Pendant les activités elles-mêmes, il est utile de promouvoir des évaluations, qui peuvent justifier la continuation du travail ou bien provoquer le lancement d'autres actions nécessaires au développement local. Nous considérons l'évaluation comme un instrument pédagogique d'accompagnement constant du processus, et non pas comme une conclusion du travail. On utilise comme référence la "recherche-action" qui, selon Engel (2000), "comme le nom l'indique, tend à unir la recherche à l'action, ou à la pratique, c'est à dire développer la connaissance et la compréhension comme une partie de la pratique". Elle rend donc possible une plus grande participation des personnes concernées à l'acquisition d'une connaissance plus profonde de la situation vécue, dès lors que le participant à l'étude est producteur de sa propre histoire, tout en étant sujet de cette production. Dans ce contexte, la méthodologie intègre des outils d'évaluation spécifiques qui peuvent être utilisés pour une évaluation en continu ou comme une analyse de l'activité. Elle comprend des approches qualitatives différenciées telles que les entretiens, les rencontres, les rapports d'expériences, qui reflètent le quotidien des communautés étudiées. L'approche quantitative est exprimée par des données chiffrées et des relevés statistiques collectés lors de visites techniques et de recherches ciblées. 64 CONCLUSION Les actions menées par l'Ecomusée d'Amazonie, en 2011, ont impliqué près de 4.700 personnes et environ 140 familles ont été accompagnées directement ou indirectement. L'objectif principal est d'encourager les activités locales, c'est à dire des actions qui valorisent les populations des quartiers confiés à l'écomusée en leur faisant utiliser leur patrimoine dans le respect des écologies humaine, environnementale et sociale, qui constituent la trame du programme de capacitation. Celui-ci est exécuté par une interrelation entre milieux naturel, social et culturel, par la capacitation des animateurs, des leaders communautaires et de tous les citoyens intéressés, qui devront ensuite devenir les diffuseurs du processus de construction collective. La méthodologie de l'Ecomusée d'Amazonie considère le patrimoine des communautés comme une matière première endogène ainsi que le constate Hugues de Varine : "le patrimoine définit l'image du territoire et l'identité de la communauté (conservation, transformation, création) et le respect du patrimoine est une condition de la soutenabilité et du développement." Dans ce contexte, le résultat des actions réalisées par les communautés du territoire de l'écomusée commencent déjà à montrer que cette méthodologie provoque des réflexions et des changements d'attitude de la part des personnes, contribuant à la mobilisation populaire de la région, pour réaffirmer des processus historiques et culturels, et promouvoir la mise en œuvre de pratiques soutenables. Ainsi, les actions menées agissent comme des processus structurants qui amènent les personnes à travailler ensemble, à assimiler des informations et à réfléchir sur le potentiel de leur région en matière d'implantation de projets nécessaire à l'amélioration des conditions de vie des habitants. En somme, l'Ecomusée d'Amazonie cherche à stimuler la formulation de stratégies susceptibles de garantir la réalisation d'actions à travers des partenariats interinstitutionnels et communautaires qui permettent de créer les conditions d'un développement humain soutenable et articulé entre la communauté et l'école avec retour vers la communauté. 65 CONFERÊNCIA 66 II. CONFERÊNCIA Desafios atuais para a construção da sustentabilidade Leonardo Boff*, Brasil “Estamos diante de um momento crítico da história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro (...). A escolha é nossa e deve ser: ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e cuidar uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a destruição da diversidade da vida” Preâmbulo Carta da Terra Como organizar uma aliança de cuidado para com a Terra, a vida humana e toda a comunidade de vida e assim superar os riscos referidos? A resposta só poderá ser: mediante a sustentabilidade real, verdadeira, efetiva e global, conjugada com o princípio do cuidado e da prevenção. Mesmo antes de definirmos melhor o que seja sustentabilidade, podemos avançar que ela fundamentalmente significa: o conjunto dos processos e ações que se destinam a manter a vitalidade e a integridade da Mãe Terra, a preservação de seus ecossistemas com todos os elementos físicos, químicos e ecológicos que possibilitam a existência e a reprodução da vida, o atendimento das necessidades da presente e das futuras gerações, e a continuidade, a expansão e a realização das potencialidades da civilização humana em suas várias expressões. Pelas palavras da Carta da Terra, a sustentabilidade comparece com uma questão de vida ou morte. Nunca antes da história conhecida da civilização humana, corremos os riscos que atualmente ameaçam nosso futuro comum. Estes riscos não diminuem pelo fato de que muitíssimas pessoas, de todos os níveis de saber, dêem de ombros a esta máxima questão. O que não podemos é, por descuido e ignorância, chegar tarde demais. Mais vale o princípio de precaução e de prevenção do que a indiferença, o cinismo e a despreocupação irresponsável. Se dermos centralidade à aliança de cuidado, seguramente chegaremos a um estágio de sustentabilidade geral que nos propiciará desafogo, alegria de viver e esperança de mais história a construir rumo a um futuro mais promissor. Nossas reflexões se orientarão por estas sábias palavras do final da Carta da Terra: “Como nunca antes na história, o destino comum nos clama a buscar um novo começo. Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer, outrossim, um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis local, nacional, regional e global” (final). Recolhendo o essencial desta conclamação, importa reter os seguintes pontos: 1) Possuímos um destino comum – Terra e humanidade – pois, na perspectiva da evolução ou quando contemplamos a Terra de fora da Terra, formamos uma única entidade. 2) A situação atual se encontra, social e ecologicamente, tão degradada que a continuidade da forma de habitar a Terra, de produzir, de distribuir e de consumir, desenvolvida nos últimos séculos, não nos oferece condições de salvar a nossa civilização e, talvez até, a própria espécie humana; daí que imperiosamente se impõe um novo começo, com novos conceitos, novas visões e novos sonhos, não excluídos os instrumentos científicos e técnicos indispensáveis; trata-se, sem mais nem menos, de refundar o pacto social entre os humanos e o pacto natural com a natureza e a Mãe Terra. Leonardo Boff, pseudônimo de Genézio Darci Boff, teólogo brasileiro, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil. É respeitado pela sua história de defesa pelas causas sociais e atualmente debate também questões ambientais. 67 3) Para essa momentosa tarefa se faz urgente uma transformação da mente, vale dizer, um novo software mental ou um design diferente na nossa forma de pensar e de ler a realidade com clarividência de que o pensamento que criou esta situação calamitosa, como advertia Albert Einstein, não pode ser o mesmo que nos vai tirar dela; para mudar temos, portanto, que pensar diferente; fundamentalmente também é a mudança de coração; não bastam a ciência e a técnica, por indispensáveis que sejam, fruto da razão intelectual e instrumental-analítica; precisamos igualmente da inteligência emocional e, com mais intensidade, da inteligência cordial, pois é ela que nos faz sentir parte de um todo maior, que nos dá a percepção da nossa conexão com os demais seres, nos impulsiona com coragem para as mudanças necessárias e suscita em nós a imaginação para visões e sonhos carregados de promessas. 4) Somos urgidos a desenvolver um sentimento de interdependência global; é um fato incontestável que todos globalmente dependemos de todos, que laços nos ligam e religam por todos os lados, que ninguém é uma estrela solitária e que no universo e natureza tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e em todas as circunstâncias (Bohr e Heisenberg); tão importante quanto a interdependência é a relevância da responsabilidade universal; isto significa que importa tomar em alta consideração as conseqüências benéficas ou maléficas de nossos atos, de nossas políticas e das intervenções que fazemos na natureza, que podem destruir o frágil equilíbrio da Terra e, caso usarmos armas de destruição em massa, fatalmente faríamos desaparecer a espécie humana. Isto significaria, por milhares de anos, um retrocesso evolutivo da Mãe Terra, arruinada e coberta de cadáveres; 5) Valorizar a imaginação. Já Albert Einsten observava que, quando a ciência não encontra mais caminhos, é a imaginação que entra em ação e sugere pistas inusitadas. Hoje precisamos de imaginação para projetar não apenas um outro mundo possível, mas um outro mundo necessário no qual todos possam caber, hospedar uns a outros e incluir toda a comunidade de vida sem a qual nós mesmos não existiríamos. Para música nova, novos ouvidos, e para agir diferente devemos sonhar diferente. 6) O grande propósito se resume nisso: criar um modo sustentável de vida. A concepção de sustentabilidade não pode ser reducionista e aplicar-se apenas ao crescimento/desenvolvimento, como é predominantemente nos tempos atuais. Ela deve cobrir todos territórios da realidade que vão das pessoas, tomadas individualmente, às comunidades, à cultura, à política, à indústria, às cidades e principalmente ao Planeta Terra com seus ecossistemas. Sustentabilidade é um modo de ser e de viver que exige alinhar as práticas humanas às potencialidades limitadas de cada bioma e às necessidades das presentes e das futuras gerações; 7) Em todos os níveis: local, regional, nacional e global. Esta perspectiva enfatiza a anterior para contrabalançar a tendência dominante de aplicar a sustentabilidade apenas às macrorrealidades, descurando as singularidades locais e ecorregionais, próprias de cada país com sua cultura, seus hábitos e suas formas de se organizar na terra. Por fim, a sustentabilidade deve ser pensada numa perspectiva global, envolvendo todo o planeta, com equidade, fazendo que o bem de uma parte não se faça à custa do prejuízo da outra. Os custos e os benefícios devem ser proporcional e solidariamente repartidos. Não é possível garantir a sustentabilidade de uma porção do planeta deixando de elevar, na medida do possível, as outras partes ao mesmo nível ou próximo a ele. (...) Trecho do livro Sustentabilidade: O que é – O que não é, Ed. Vozes, 2012 Los retos actuales para la construcción de la sostenibilidad Leonard Boff* "Nos enfrentamos a un momento crítico en la historia de la Tierra, un momento en que la humanidad debe elegir su futuro 68 (...). La elección es nuestra y debe ser. Formar una sociedad global para cuidar la Tierra y el cuidado de unos a otros o arriesgarnos a la destrucción de nosotros mismos y la destrucción de la diversidad de la vida. "Preámbulo de la Carta Tierra”. *Leonardo Boff, seudónimo Darci Boff Genézio, teólogo brasileño, escritor y profesor universitario, un exponente de la Teología de la Liberación en Brasil. Es respetado por su historia de la defensa de causas sociales y las cuestiones ambientales también se está discutiendo. ¿Cómo organizar una alianza de cuidado de la tierra, la vida humana y toda la comunidad de vida y así superar estos riesgos? La respuesta sólo puede ser: la sostenibilidad real, eficaz y completa, junto con el principio de atención y prevención. Incluso antes de definir mejor qué es la sostenibilidad, podemos avanzar que, básicamente, significa: el conjunto de procesos y acciones que están destinadas a mantener la vitalidad y la integridad de la Madre Tierra, la preservación de sus ecosistemas con todos los agentes físicos, químicos y ecológicos que permite la existencia y la reproducción de la vida, satisfacer las necesidades de las generaciones presentes y futuras, y de continuar, ampliar y desarrollar el potencial de la civilización humana en sus diversas expresiones. Los fundamentos de la Carta de la Tierra, la sostenibilidad aparece con una cuestión de vida o muerte. Nunca antes en la historia conocida de la civilización humana, corremos los riesgos que actualmente amenazan nuestro futuro común. Estos riesgos no disminuyen el hecho de que muchas personas de todos los niveles de conocimiento, lo ignoren a este punto máximo. Lo que no puede, por descuido e ignorancia, es dejar de llegar a tomar decisiones muy tarde . Mejor es el principio de precaución y la prevención de que la indiferencia, el cinismo y despreocupación irresponsable. Si le damos la importancia de la alianza de atención, seguramente vamos a llegar a una etapa de la sostenibilidad, en general, proporcionará un alivio, la alegría de la vida y la esperanza de construir una historia hacia un futuro mejor. Nuestros pensamientos se verá impulsado por estas sabias palabras al final de la Carta de la Tierra: "Como nunca antes en la historia, el destino común nos llama a buscar un nuevo comienzo. Esto requiere un cambio de mente y corazón. Se requiere, además, un nuevo sentido de interdependencia global y responsabilidad universal. Imaginativamente desarrollar y aplicar la visión de un modo de vida sostenible a nivel local, nacional, regional y mundial La recopilación de esta esencial, es importante recordar los siguientes puntos: 1) Tenemos un destino común - la Tierra y la humanidad -, porque desde el punto de vista de la evolución o cuando contemplamos la Tierra desde fuera de la Tierra, forman una sola entidad. 2) La situación actual es social y ecológicamente, tan degradada que la continuidad en la forma de habitar la tierra, producción, distribución y consumo, desarrollado a lo largo de los siglos, no ofrece una posición para salvar a nuestra civilización y tal vez incluso la especie humana en sí misma, por lo tanto, es imperativo, un nuevo comienzo con nuevos conceptos, nuevas visiones y nuevos sueños, sin excluir los instrumentos técnicos y científicos necesarios, es para restablecer el pacto social entre los seres humanos y el pacto natural con la naturaleza y la Madre Tierra. 3) Para esta trascendental tarea, es urgente la transformación de la mente, es decir, un nuevo programa mental o un diseño diferente en nuestra forma de pensar y de leer la realidad con la clarividencia de pensamiento que creó esta situación extrema, como advirtió Albert Einstein, no puede ser el mismo que vamos a conseguirlo, tenemos que cambiar, por lo tanto, pensar de manera diferente, también está cambiando 69 fundamentalmente el corazón, no la ciencia y la tecnología suficiente, ya que son indispensables, el fruto de la razón instrumental intelectual y analítica, también tenemos la inteligencia emocional, y con más intensidad, la inteligencia amable, porque es lo que nos hace sentir parte de un todo más grande, que nos da la percepción de nuestra relación con otros seres, nos impulsa con el coraje para cambiar y nos sugiere la imaginación a las visiones y los sueños llenos de promesas. 4) Se nos insta a desarrollar un sentido de interdependencia global, es un hecho indiscutible que todo depende de que todos el mundo, que el enlace y la revinculación de todas partes, nadie es una estrella y que el universo y la naturaleza todo tiene que ver con todo lo que en todo momento y bajo todas las circunstancias (Bohr y Heisenberg) tan importantes como la interdependencia es la importancia de la responsabilidad universal, lo que significa que deben ser entrelazados, que nadie puede sentirse como una estrella solitaria, tener en cuenta las consecuencias beneficiosas o perjudiciales de nuestras acciones, nuestras políticas y las intervenciones que hacemos en la naturaleza, que pueden destruir el frágil equilibrio de la Tierra y si usamos las armas de destrucción masiva, que inevitablemente desaparecerán, la especie humana. Esto significaría que, durante miles de años, una evolución inversa de la Madre Tierra quedará en ruinas y cubierto de cadáveres; 5) Mejorar la imaginación. Desde que Albert Einstein observó que cuando la ciencia no encuentra más formas, es la imaginación la que entra en acción y sugiere pistas inusuales. Hoy en día necesitamos imaginación para diseñar, otro mundo es posible, otro mundo en el que todo el mundo puede entrar, una serie de otros e incluir a toda la comunidad de la vida sin que nosotros mismos no existen. Para la nueva música, nuevos oídos, y para actuar de manera diferente tenemos que soñar diferente. 6) El gran propósito de que se resume: crear un modo de vida sostenible. El concepto de sostenibilidad no puede ser reduccionista y se aplican únicamente para el crecimiento y desarrollo, como es aplicable en la actualidad. Debe cubrir todos los ámbitos de la realidad de las personas, como individuos, comunidades, cultura, política, industria, ciudades y especialmente a la Tierra del planeta con sus ecosistemas. La sostenibilidad es una forma de ser y de vivir que requieren las prácticas humanas para alinear las capacidades limitadas de cada bioma y las necesidades de las generaciones presentes y futuras; 7) En todos los niveles: local, regional, nacional y mundial. Esta perspectiva hace hincapié en la anterior para contrarrestar la tendencia predominante de aplicar sólo la sostenibilidad dentro de la macrorealidad, dejando de lado las singularidades locales y eco-regional, de cada país con su cultura, sus costumbres y sus formas de organización de la tierra. Por último, la sostenibilidad debe ser considerada desde una perspectiva global, involucrando a todo el planeta, con equidad, por lo que es una buena fiesta no se hace por la lesión de otro. Los costos y beneficios debe ser proporcionada y compartida de manera conjunta.(...) Extracto del libro de la Sostenibilidad: ¿Qué es - lo que no, las voces de Ed 2012 70 PALESTRAS 71 III. PALESTRAS CAPACITACION DE LOS ACTORES DE LOS MUSEOS COMUNITARIOS Teresa Morales y Cuauhtémoc Camarena* – Oaxaca – México, Unión de Museos Comunitarios de Oaxaca RESÚMEN La capacitación en un museo comunitario lo podemos entender como un proceso de construcción que contribuye a que las comunidades se constituyan en sujetos colectivos con el poder de reflexionar, de hacer crítica, de ser consciente de la historicidad, de optar, de crear y transformar la realidad. No puede estar desvinculada de los procesos de toma de decisiones a través de los cuales los miembros de las comunidades expresan su voz y su visión colectiva. Los actores de la capacitación son las mismas instancias comunitarias que se van involucrando en el proceso de toma de decisiones; la asamblea o instancias de representación; el comité o grupo coordinador; y los múltiples grupos de jóvenes, señoras, señores y ancianos que intervienen en todas las actividades y proyectos del museo comunitario. En este proceso, en vez de maestros se requiere el apoyo de facilitadores, quienes brinden métodos que facilitan el proceso de creación y apropiación colectiva de compromisos. La capacitación se realiza en la práctica, enfocada a desarrollar los procesos de descripción, reflexión, interpretación y decisión, y se potencia a través del intercambio y la organización de redes de comunidades que expanden los alcances de la apropiación comunitaria. ABSTRACT TRAINING OF THE ACTORS IN COMMUNITY MUSEUMS Teresa Morales y Cuauhtémoc Camarena – Oaxaca – México, Union of Community Museums of Oaxaca* In community museums, the concept of training is linked to the idea of empowerment, and can be understood as a horizontal process of collective construction rather than a vertical process of transmission of knowledge from a teacher to a student. This horizontal process fosters the constitution of the collective subject of communities with the capacity to reflect, develop critical thinking, become conscious of their history, and to create and transform their own reality. It cannot be divorced from the process of decision making, through which community members express their voice and collective vision. In community museums, the actors of this process of empowerment are the same community bodies that become involved in the decision making process; the community assembly, the museum committee and the diverse groups of youth, men, women and elders who participate in all the activities and projects of the community museum. This process, instead of teachers, requires facilitators, who offer methods to facilitate the creation and fulfillment of community commitments. This training is carried out by practical application of methods; is focused on the processes of description, reflection, interpretation and decision making; and is expanded through peer exchange and the organization of networks of communities which broaden the reach of community ownership. * Teresa Morales Lersch y Cuauhtémoc Camarena Ocampo, asesores de la Unión de Museos Comunitarios de Oaxaca, profesores-investigadores Delegación INAH Oaxaca. [email protected], [email protected] 72 CAPACITACION DE LOS ACTORES DE LOS MUSEOS COMUNITARIOS En el contexto del tema general del este IV Encuentro Internacional de Ecomuseos y Museos Comunitarios, “Patrimonio y capacitación de los actores del desarrollo local”, abordaremos en esta conferencia la capacitación de los actores de los museos comunitarios. Intentaremos presentar brevemente qué entendemos por capacitación; cuál es su objetivo; a quiénes se capacita; quiénes realizan la capacitación y cómo se lleva a cabo. En primer lugar es importante señalar que la capacitación en el contexto del desarrollo de un museo comunitario es muy distinta a la capacitación realizada en un museo tradicional. Aquí nos podemos referir a la crítica tan acertada del modelo bancario de educación desarrollada por Paolo Freire. En un museo comunitario, el aprendizaje no se entiende como la entrega de información o habilidades de uno que sabe a otro que no sabe. No es una relación entre un experto y otro que es ignorante. Tampoco los contenidos involucrados no son objetos estáticos que se transmiten de una persona a otra. En el museo comunitario los sujetos se relacionan en un ámbito en el que todos son considerados portadores de experiencias y vivencias valiosas. Los procesos no son verticales, de un maestro que imparte contenidos a alumnos, sino horizontales, donde todos los participantes generan conocimiento y reflexiones de manera colectiva. Entonces la capacitación en un museo comunitario lo podemos entender como un proceso entre sujetos que comparten experiencias y generan conocimientos para la construcción colectiva de una auto-interpretación de su patrimonio y su memoria. ¿Cuál es el objetivo de la capacitación? Aquí es interesante referirnos a un término que se señala en los documentos preparatorios del encuentro, que es “empowerment”, a veces traducido como “empoderamiento”. En esta propuesta, el objetivo de la capacitación es que los miembros de las comunidades accedan a mayor poder, no como individuos que se impongan a otros individuos, sino como integrantes de un colectivo que de manera conjunta adquiera mayor poder en el contexto de la sociedad. Es el poder de ser sujetos plenos. El objetivo de la capacitación es contribuir a que la comunidad se constituya en un sujeto colectivo con el poder de reflexionar, de hacer crítica, de ser consciente de la historicidad, de optar, de crear y transformar la realidad. Esto nos lleva a una reflexión fundamental acerca de la naturaleza de la capacitación. Al estar inscrito en procesos de generación del poder del sujeto colectivo de la comunidad, la capacitación no puede desvincularse de los procesos de toma de decisiones. Si la capacitación implica el ejercicio del poder del capacitador, quien es el que toma las decisiones sobre lo que harán los capacitados, estaríamos hablando del concepto tradicional, vertical del aprendizaje. La capacitación y fortalecimiento de los sujetos colectivos debe desarrollarse como la construcción de un camino conjunto a través de decisiones colectivas, definiendo el rumbo a tomar entre múltiples posibilidades. En este sentido, la capacitación para los actores de los museos comunitarios se va desarrollando en el mismo proceso de creación del museo, que se genera a través de una serie de iniciativas y decisiones de la comunidad. Por lo tanto, consideramos que es fundamental que la comunidad ejerza su poder de decisión en torno a cuestiones básicas, tales como si quiere establecer un museo comunitario o no; quiénes representarán a la comunidad en la coordinación del proyecto del museo; qué temas serán investigados y representados en el museo; y en qué edificio o propiedad se ubicará el museo. Si el museo comunitario se crea a través de la iniciativa de un agente externo, con criterios tales como la evaluación a partir de un diagnóstico institucional, si la coordinación y dirección del proyecto está en manos de instancias que no son representativas de la comunidad, la cual toma decisiones con respecto a las temáticas a abordar y otros asuntos, no estaríamos ante un proceso de construcción comunitaria y fortalecimiento del sujeto colectivo de la comunidad. El proceso de toma de decisiones se desarrolla de acuerdo al contexto de cada comunidad, ya sea a través de procedimientos establecidos de generación de acuerdos comunitarios que ya son reconocidos como legítimos, o a través de procesos 73 innovadores de consulta que van construyendo consensos a través del involucramiento de una serie de grupos organizados o informales de la comunidad. De tal manera que los actores de la capacitación son las mismas instancias comunitarias que se van involucrando en el proceso de toma de decisiones. Aquí podemos distinguir una gran variedad de niveles. En los casos en donde existe una asamblea comunitaria que toma decisiones acerca del museo comunitario (así como muchos otros asuntos) la misma asamblea se capacita al analizar los argumentos a favor o en contra de la creación del museo, al deliberar sobre los temas y ser consultada en todo el proceso de su funcionamiento. Se capacita al extender los alcances de los asuntos sobre los cuales desarrolla una voz y despliega iniciativas. El comité o grupo de representantes comunitarios que es nombrado para hacerse cargo del proyecto del museo también es uno de los actores fundamentales que se capacita en el proceso de construcción colectiva, puesto que asume un papel de coordinación. Por lo tanto debe desarrollar un plan de trabajo para llevar a cabo su cometido. Se capacita en planeación, en gestión de recursos, en el trabajo de invitar continuamente a la participación de otros actores comunitarios. En este sentido, uno de las primeras tareas del comité es ubicar las distintas instancias de su comunidad y diseñar una estrategia para involucrarlas. Hace un análisis de las instancias de organización comunal, de los grupos y asociaciones comunitarias, de los jóvenes y niños estudiantes. Una gran tarea de los representantes comunitarios es invitar, de la manera más amplia y creativa, a la mayor cantidad de actores comunitarios a integrarse al proceso de creación del museo y posteriormente a los proyectos que desarrolla. En particular, la construcción de la narrativa de las exposiciones que exprese la visión y las vivencias de múltiples actores comunitarios es fundamental para que el museo cumpla con su papel. Entonces el comité trabaja para involucrar a jóvenes, ancianos, señores y señoras. Por ejemplo, en la comunidad de San Juan Bosco Chuxnabán, Oaxaca, al trabajar el tema seleccionado por la asamblea de la lucha agraria, los jóvenes entrevistaron a señores y señoras de cada una de las familias fundadoras, a las autoridades agrarias y municipales y los ancianos. Este proceso implica la capacitación de los grupos que realicen la investigación, nuevamente con el concepto que se comentó arriba: una capacitación basada en la construcción colectiva, en donde los guiones de investigación se construyan en grupo, los resultados se revisan y se critican el grupo, y se van complementando. De igual manera, el diseño de las exposiciones se va construyendo de manera grupal, en donde la capacitación está orientada a explicar los recursos que se pueden emplear para la representación museográfica y los grupos de trabajo van formulando propuestas. Las propuestas asimismo se van re-elaborando hasta que queden los acuerdos. Por ejemplo, en el tema de la lucha agraria de Chuxnabán, varios equipos elaboraron propuestas para mostrar los árboles genealógicos de las familias fundadoras, se fueron criticando y re-elaborando hasta quedar con la imagen del Rey Condoy, héroe cultural de la cultura mixe, abrazando a los árboles genealógicos de las trece familias fundadoras representados por un símbolo de casa y los datos de la primera pareja. ¿Quiénes realizan la capacitación? Como el proceso de capacitación es distinto al proceso tradicional de entrega de conocimientos de maestro a alumno, el que dirige la capacitación necesita formarse en métodos no tradicionales. El papel de maestro, con su enorme carga de prestigio y autoridad, buscamos transformarlo al papel de facilitador. Este es una figura que no es el experto en conocimientos, sino conocedor de métodos de trabajo de grupo que facilitan llegar a acuerdos y consensos. No es el que sabe hacer las cosas sino que facilita el camino para que el grupo las haga. Existe una amplia cantidad de propuestas, métodos y técnicas en el campo de la facilitación. Algunos definen la facilitación como un arte. Implica el manejo de algunas técnicas, que pueden incluir la lluvia de ideas, organización y elaboración de las ideas en grupo; e implica ciertos estilos de animación e invitación a la creatividad. Pero tal vez de manera más fundamental implica el manejo de ciertas actitudes; la de escucha 74 respetuosa a todos los participantes, optimismo realista, interés genuino, flexibilidad y sensibilidad. Más que madre o padre, el facilitador asume el papel de partera o partero. Es decir, en vez de proyectarse como dueño del proceso se proyecta como una presencia que facilita el proceso de creación y apropiación colectiva de compromisos. ¿Como se realiza la capacitación? La capacitación se realiza en la práctica. En el desarrollo del proceso de creación, se explican los métodos y se practican. No se imparte un curso de historia explicando teorías y hechos sino talleres de historia oral donde se lleva a cabo el mismo proceso de investigación. Entonces el enfoque está en dar herramientas, ayudar al grupo a utilizar las herramientas, impulsar el análisis, acompañar y orientar el proceso colectivo. Se aprende haciendo. Como hablamos de procesos creativos, se aprende haciendo propuestas, reflexionando y concretizando múltiples decisiones. Recordando lo señalado arriba, la toma de decisiones en todos los niveles implica el desarrollo de capacidades y de poder. La capacitación no está orientada a lograr un producto determinado sino a desarrollar un proceso. Claro está que no se trata de estancarse en ciertas etapas sin concretizar resultados: pero no se valora el resultado en sí sino el proceso que está detrás. Existe un mural en un museo, pero su importancia no estriba en sus características intrínsecas como objeto sino quién decidió elaborarlo, quién lo elaboró y a través de qué proceso. Es muy distinto un mural comisionado por el director del museo a un artista que un mural propuesto por un grupo comunitario como parte del diseño de su museo y ejecutado por un grupo de jóvenes de la población. La capacitación comprende procesos de descripción, reflexión, interpretación y acción. Las preguntas de investigación llevan a la descripción pero también a la interpretación y análisis, así como la consideración de las alternativas de acción en torno a cualquier asunto. En las distintas actividades se busca que los grupos comunitarios tengan oportunidad de analizar el significado de lo que están realizando, ya sea una consulta en asamblea, una planeación en el comité o un montaje de un objeto. En este proceso, el papel del facilitador no es dar las respuestas sino ayudar a formular buenas preguntas. La capacitación se potencia vinculando diversas comunidades. No estamos hablando del intercambio entre técnicos y especialistas, sino de los órganos de base comunitaria que son los actores de los museos comunitarios. El aprendizaje se enriquece cuando los grupos comunitarios tienen la oportunidad de contrastar sus experiencias, nutrirse de ejemplos motivadores y desarrollar el apoyo mutuo. En este sentido, el desarrollo de redes de museos comunitarios es una estrategia que expande el impacto de la capacitación. Con el tiempo se construyen objetivos comunes y relaciones de compromiso que hacen posible la creación de proyectos conjuntos. La gestión se desarrolla en términos más favorables, y es posible transitar de la petición por apoyos al planteamiento de proyectos propios cada vez más sofisticados y sostenibles. Estos proyectos permiten responder a necesidades sentidas por todas las comunidades en su conjunto, las cuales desarrollan una capacidad para abordar estas necesidades desde sus propios recursos como colectivo. Generan un campo de acción más amplio y mayor autonomía. En resumen, la capacitación en un museo comunitario lo podemos entender como un proceso de construcción que contribuye a que las comunidades se constituyan en sujetos colectivos con el poder de reflexionar, de hacer crítica, de ser consciente de la historicidad, de optar, de crear y transformar la realidad. No puede estar desvinculada de los procesos de toma de decisiones a través de los cuales los miembros de las comunidades expresan su voz y su visión colectiva. Los actores de la capacitación son las mismas instancias comunitarias que se van involucrando en el proceso de toma de decisiones; la asamblea o instancias de representación; el comité o grupo coordinador; y los múltiples grupos de jóvenes, señoras, señores y ancianos que intervienen en todas las actividades y proyectos del museo comunitario. En este proceso, en vez de maestros se requiere el apoyo de facilitadores, quienes brinden métodos que facilitan el proceso de creación y apropiación colectiva de compromisos. 75 La capacitación se realiza en la práctica, enfocada a desarrollar los procesos de descripción, reflexión, interpretación y decisión, y se potencia a través del intercambio y la organización de redes de comunidades que expanden los alcances de la apropiación comunitaria. MESA REDONDA DE SANTIAGO DO CHILE – 40 ANOS SANTIAGO DU CHILI - 1972 - LA MUSEOLOGIE RENCONTRE LE MONDE MODERNE: OU EN SOMMES-NOUS APRES QUARANTE ANS? Hugues de Varine, France* Dès la fin des années 50, l'UNESCO avait entrepris d'organiser irrégulièrement des "tables rondes" de muséologie dans les différentes régions du monde: Rio (1958), Jos (1964), New-Delhi (1966), Bagdad (1967), etc. En 1971, cette agence des Nations Unies demanda à l'Icom d'assurer la préparation d'une nouvelle rencontre, cette fois à Santiago du Chili, pour les muséologues d'Amérique Latine. La réunion devait avoir lieu en mai 1972, durer une dizaine de jours et s'adresser à une douzaine de responsables de musées d'autant de pays, choisis parmi les plus dynamiques et ouverts au changement. Le thème était le rôle des musées dans le monde contemporain. Le Chili, en pleine expérience démocratique sous l'Unité Populaire de Salvador Allende, semblait un cadre particulièrement favorable. La principale mission de l'Icom était de construire un programme et de choisir des intervenants. Volontairement, on décida, avec l'accord de l'Unesco, de changer les règles du jeu et de demander à des non-muséologues de parler aux muséologues du monde contemporain, du développement. En principe, l'ensemble de la rencontre aurait dû être animé, ou "modéré", par Paulo Freire, le pédagogue brésilien célèbre pour sa théorie et sa méthode de l'alphabétisation conscientisante. Il avait d'ailleurs promis de réfléchir spécialement à une nouvelle conception du musée comme instrument au service de la libération de l'homme et du développement, Malheureusement, le régime militaire brésilien, qui avait expulsé Paulo Freire en 1954 après l'avoir mis en prison, mit son veto à une participation de ce personnage "subversif" dans une réunion de l'UNESCO... En concertation avec les responsables de différents secteurs de l'UNESCO, nous choisîmes quatre experts pour traiter les sujets suivants : l'urbanisme, l'agriculture, la technologie et l'éducation, quatre thèmes qui pouvaient résumer les aspects majeurs du développement de l'Amérique Latine. Et il se trouva que la personne choisie pour l'urbanisme fut Jorge Henrique Hardoy, alors professeur à l'Institut Torquato di Tella de Buenos Aires, que personne à l'Icom ne connaissait, mais qui s'avéra le choix le plus utile et qui joua le rôle qui avait été prévu au départ pour Paulo Freire. Remarquons d'abord que, pour la première fois sans doute dans une de ces rencontres périodiques de l'UNESCO, les experts invités étaient originaires de la région elle-même : habituellement, ils étaient choisis uniformément en Europe ou en Amérique du Nord et ne connaissaient même pas toujours la région qu'ils devaient ''évangéliser" muséologiquement. A Santiago, les experts, comme les participants, étaient des latino-américains, dévoués au développement de leur pays et de leur région. Les "étrangers", représentant l'UNESCO (Raymonde FRIN) et l'Icom (moimême), n'étaient que des internationaux observateurs, sans mot à dire dans les ébats. De plus l'unique langue de travail de la réunion était l'espagnol, que nous ne parlions ni l'un ni l'autre. J. Hardoy, qui était une sorte de génie de la communication, en plus de sa compétence professionnelle, mit un jour et demi à expliquer aux muséologues leurs propres villes, les problèmes de leur développement, de leur croissance, de leur avenir, etc. Ce qui * Hugues de Varine, Consultant International pour le Patrimoine, Communauté et Développement Local 76 prouva que des spécialistes de sciences humaines, vivant et travaillant dans des capitales comme responsables d'institutions majeures culturelles et scientifiques, souvent avec un engagement politique et social fort, pouvaient ne rien connaître de leur propre environnement communautaire et social. Le choc psychologique et intellectuel fut tel que les participants, après le départ de J. Hardoy, se formèrent spontanément en comité de rédaction d'une déclaration, laquelle donna naissance à la notion du "museo integral". En Amérique Latine même, la rencontre de Santiago n'eut pas beaucoup de résultats concrets immédiats pour les musées : le conservatisme du milieu y mit bon ordre. Cependant au Mexique les expériences de la "casa del museo", des musées locaux, scolaires et plus récemment communautaires, durent beaucoup au concept du musée intégral. Et il est certain que de nombreux muséologues, en Amérique Latine et ailleurs, ont réfléchi et continuent de réfléchir selon les mêmes lignes directrices. En 1992, l'Unesco, dont le directeur général adjoint, Hernan Crespo Toral, était un ancien de Santiago, organisa à Caracas une rencontre du vingtième anniversaire, Les principes du museo integral y furent rappelés et développés, avec un grand enthousiasme, dans une nouvelle déclaration. On notera que cette même année a vu le sommet de la Terre à Rio de Janeiro et la première rencontre internationale des écomusées. C'est en effet de cette période que date le début de l'expansion des écomusées et des musées communautaires, non seulement en Amérique latine, mais aussi dans de nombreux pays du monde. Nous sommes maintenant quarante ans après Santiago, vingt ans après Caracas. Le chemin parcouru est considérable. En témoignent la création du MINOM en 1984, suivie de nombreux ateliers internationaux pour les "nouveaux muséologues", plus récemment les quatre rencontres internationales des écomusées et des musées communautaires organisées au Brésil, la création et l'activité de l'Union des musées communautaires au Mexique puis dans toute l'Amérique latine, l'essor d'écomusées souvent regroupés en réseaux au Brésil même (avec l'ABREMC), en Norvège, au Canada, au Japon, en Chine, et surtout en Italie (Mondi Locali). Il existe maintenant une importante littérature, des thèses, des livres théoriques, des monographies de cas, des articles, des sites web. Le monde des écomusées est installé aux côtés des autres grands réseaux culturels des musées, des bibliothèques et des archives. Il a acquis une légitimité et il fait un pont entre le patrimoine et le développement économique et social des territoires.Observateur extérieur de ces quarante ans, j'en retire quelques enseignements, qui découlent directement de l'intuition de Santiago: - nous pouvons dire que l'écomusée a, dans de nombreux pays, repris et approfondi par la pratique l'esprit de Santiago; - le meilleur musée est celui qui est au service de son territoire, de sa communauté, de son "milieu" naturel et social; c'est celui qui est élaboré, animé, géré par les intéressés eux-mêmes; - la muséologie, en tant que discipline professionnelle, implique de très nombreuses autres disciplines, relevant aussi bien des sciences humaines, naturelles et exactes, que des technologies modernes de la communication; - l'écomusée est maintenant un terme qui, avec celui de musée communautaire, définit la diversité des formes que prend cette nouvelle muséologie de développement; il a atteint en quelque sorte une maturité institutionnelle, même s'il prend des formes très différentes selon les contextes et les objectifs qu'il se donne; - pour ses praticiens, il y a encore beaucoup à lutter et à conquérir: l'écomusée n'est pas reconnu par beaucoup de lois et de systèmes nationaux, ses professionnels ne sont pas encore réellement admis dans le milieu des spécialistes du musée et du patrimoine, le développement soutenable ne prend pas encore suffisamment en compte le patrimoine comme une ressource du futur. 77 DOCUMENTOS APRESENTADOS ÀS PLENÁRIAS 78 IV. DOCUMENTOS APRESENTADOS ÀS PLENÁRIAS UN MUSÉE CITOYEN ET SES LIENS AVEC LA COMMUNAUTÉ: LE CAS DE L’ ÉCOMUSÉE DU FIER MONDE René Binette* - Montréal - CANADÁ Ecomusée du Fier Monde RÉSUMÉ Depuis sa création au début des années 1980, l’Écomusée du fier monde (Montréal, Canada) a développé de nombreux liens avec des partenaires de son milieu. Créé dans la mouvance des groupes communautaires, il se situe dans un quartier populaire en pleine mutation urbaine. Son développement coïncide aussi avec une période marquée par les idées de la nouvelle muséologie. Au fil des années, il s’est institutionnalisé, mais a conservé plusieurs de ses caractéristiques d’« écomusée communautaire ». Notre présentation permettra de décrire les aspects les plus originaux de l’approche muséale de l’Écomusée du fier monde. Nous aborderons : - La philosophie participative de l’Écomusée; - Quelques exemples concrets de projets et de partenariats développés avec des organismes du milieu; - La notion de collection à l’Écomusée du fier monde : le concept de « collection écomuséale ». RESUMO Desde a sua criação no início dos anos 1980, o Ecomuseu du Fier Monde (Montréal, Canadá) desenvolveu numerosoas ligações com parceiros de seu meio. Criado como parte de um movimento de grupos comunitários, ele se situa num quarteirão popular em plena mutação urbana. Seu desenvolvimento coincide assim com um período marcado por ideias da nova museologia. Ao longo dos anos, ele se institucionalizou, mas conservou várias de suas características de “ecomuseu comunitário”. Nossa apresentação permitirá descrever os aspectos mais originais de abordagem museal do Ecomuseu do Fier Monde. Abordaremos: - A filosofia participativa do ecomuseu - Alguns exemplos concretos de projetos e parcerias desenvolvidas com os organismos do meio; - A noção de “coleção ecomuseal”. UN MUSÉE CITOYEN ET SES LIENS AVEC LA COMMUNAUTÉ: LE CAS DE L’ ÉCOMUSÉE DU FIER MONDE La création de l’Écomusée du fier monde, dans le quartier Centre-Sud de Montréal (Canada), remonte au début des années 1980. L’idée de ce musée a germé à l’intérieur d’un organisme communautaire local, les Habitations communautaires Centre-Sud. La mission première de cet organisme était la mise en place de coopératives d’habitation et la revendication de logements sociaux. Il se préoccupait aussi d’aménagement et d’amélioration des services dans le quartier, comme la création de mini-parcs, ou encore un projet de centre sportif local. Avec le temps, l’Écomusée du fier monde est devenu une institution. Il est reconnu comme musée, appuyé financièrement par le ministère de la Culture, des Communications et de la Condition féminine et reçoit aussi l’appui de nombreux bailleurs de fonds publics comme privés. Cela ne l’a pas empêché de rester fidèle à ses origines: il a toujours maintenu des liens étroits avec son milieu et les divers * Directeur de l” Ecomusée du Fier Monde, Montreal, Canadá 79 groupes communautaires qui l’animent. Se définissant comme un musée d’histoire et un musée citoyen, il occupe une place spécifique dans le paysage muséal montréalais par les thèmes qu’il développe, son approche s’appuyant sur l’éducation populaire, sa volonté de contribuer au développement local et sa vision originale de la notion de collection. Mais pour comprendre l’Écomusée du fier monde, il faut connaître le milieu où il se trouve : le quartier Centre-Sud de Montréal. Un vieux quartier industriel et ouvrier Bien que fondée en 1642, Montréal connaît un développement relativement lent et conserve une superficie restreinte pendant une longue période. Situé juste à l’est de la ville, le quartier Centre-Sud se résume au début du 19e siècle à quelques maisons dans un territoire surtout agricole. Ce portrait change rapidement avec la révolution industrielle, à compter des années 1860. Le quartier profite de sa situation géographique avantageuse en bordure du fleuve. Des installations portuaires se développent, des entrepôts et des manufactures s’installent, la population s’accroît. Les secteurs d’activités sont variés. Le quartier est un bastion industriel pendant un siècle et la courbe démographique progresse de façon constante pendant toute cette période, pour atteindre 100 000 habitants au recensement de 1951. Les chiffres récents indiquent que la population a chuté à environ 35 000. Le quartier a vécu un phénomène de désindustrialisation au cours du dernier demi-siècle. Parallèlement, la proximité du centre-ville amène des projets de réaménagement urbain dans les années 1950, 1960 et 1970. On démolit certains pans du quartier pour faire place à de larges boulevards qui facilitent la circulation ou à des projets de développement qui entraînent parfois la disparition de centaines de logements. La prospérité d’après-guerre et les facilités de transport permettent aux ouvriers œuvrant dans des secteurs en croissance de s’établir dans des quartiers plus récents et en banlieue. La population qui reste est vieillissante et formée de sans-emploi et de travailleurs à revenus faibles. Ces mutations créent parfois du mécontentement et des heurts. Les années 1960 et 1970 sont marquées par l’émergence d’un important mouvement de groupes communautaires et populaires. Ils offrent des services ou de l’entraide aux plus démunis. Ils défendent les droits de certaines catégories de la population et travaillent à l’amélioration de la qualité de vie par la formule coopérative ou par des revendications politiques. C’est le cas des Habitations communautaires Centre-Sud selon qui il est important pour la collectivité de connaître son passé afin de comprendre le présent et de savoir où elle va. Il faut valoriser la culture locale et le patrimoine (méconnu, dévalorisé) et en être fier si on souhaite un avenir meilleur. Le secteur est trop souvent étiqueté de façon négative: « zone grise », « quartier de pauvres en bas de la côte » - car c’est ainsi qu’il est géographiquement localisé. Des membres des Habitations communautaires affirment: « On nous traite comme le tiers-monde, mais nous sommes du fier monde! » D’où le nom de l’Écomusée. La participation citoyenne à l’Écomusée du fier monde La création de cet écomusée au début des années 1980 se produit dans le contexte où le mouvement de la nouvelle muséologie est en plein essor un peu partout dans le monde. Le concept d’écomusée passe de la France vers le Québec, en bonne partie grâce aux liens privilégiés entre ces États francophones. L’Écomusée du fier monde sera particulièrement influencé par les idées d’Hugues de Varine : « L’écomusée est d’abord une communauté et un objectif, le développement de cette communauté. » Les promoteurs du projet sont principalement des animateurs sociaux, des membres des coopératives d’habitation et des personnes engagées dans les groupes populaires. Dès le départ, il est clair pour eux que cet écomusée sera participatif. Cela s’explique par les influences de la nouvelle muséologie, mais aussi par la tradition des pratiques d’éducation populaire des Habitations communautaires. Les enjeux sont de savoir comment organiser la participation et déterminer les outils nécessaires dans un tel projet. La pratique des années d’implantation de l’Écomusée a permis d’identifier des 80 niveaux de participation des citoyens, qui se sont définis à partir des expérimentations faites lors de divers projets. Le premier niveau identifié est celui de spectateur ou de visiteur. Cela peut sembler contradictoire avec l’idée de participation, mais la population visée (personnes peu scolarisées et à faibles revenus) fréquente peu les musées et ne consomme pas beaucoup de produits culturels, pour parler en termes de marketing. La décision de visiter une exposition constitue donc un niveau participatif de base. Mais il faut faire plus. Dans le but de présenter une histoire près de la vie quotidienne, il faut mettre à contribution les gens qui ont vécu dans le quartier et qui y ont travaillé. Les individus sont des sources (mémoire, savoir-faire, traditions) et ils possèdent des sources (des photos, des documents, des objets). Au-delà du parti pris idéologique, l’idée de participation est aussi une nécessité pour faire une histoire de la réalité quotidienne et de la vie de travail dans un quartier ouvrier. Cela définit un deuxième niveau: participer en tant que source. Un projet sur l’histoire des femmes en quartier ouvrier, Entre l’usine et la cuisine, illustre bien ce niveau. Dans le cadre de ce projet, les femmes constituent les sources. Une quarantaine d’entre elles accordent des entrevues, individuelles ou en groupes. Elles sont mises à contribution pour une cueillette de photos et d’objets (prêt ou parfois don). Les résultats du projet sont diffusés au moyen d’une publication et d’une exposition, s’appuyant toutes deux sur les récits de vie des femmes. L’Écomusée du fier monde souhaite par la suite atteindre un autre niveau : amener les gens à devenir des acteurs dans la recherche et la réalisation d’une exposition. S’inspirant du travail du Suédois Sven Lindqvist, l’Écomusée du fier monde met au point la méthode Exposer son histoire, qui permet à des groupes ou des individus de faire de la recherche et de présenter les résultats au moyen d’une exposition. Liens et projets dans la communauté Si les projets de l’Écomusée du fier monde sont participatifs, ils sont aussi pour la plupart conçus et réalisés en partenariat avec des organismes de la communauté. Alphabétisation Par exemple, l’Écomusée du fier monde a développé depuis 1999 un programme spécifique dans le domaine de l’alphabétisation. En collaboration avec un organisme en alphabétisation populaire du quartier, l’Atelier des lettres, l’Écomusée a réalisé au cours des douze dernières années cinq expositions majeures ainsi qu’une publication, et mis au point un guide de formation qui décrit la démarche. L’étape la plus récente de ce programme a consisté à intégrer la production des analphabètes à l’exposition permanente de l’Écomusée et à former ces personnes afin qu’elles y animent des visites guidées. Cette décennie a montré de façon on ne peut plus concrète comment le musée peut être une ressource utile en alphabétisation. Les titres des expositions sont évocateurs en soit: Citoyens à part entière ou encore La parole est à nous! Dans le cadre de ces projets, les analphabètes acquièrent : - Des savoirs: ils découvrent des institutions comme le musée ou la bibliothèque, apprennent ce que sont des sources et enrichissent leur bagage de connaissances factuelles sur différents sujets. Ils arrivent à faire des liens entre leur vie et ce qu’on appelle l’Histoire. Ils suivent une formation et effectuent de la recherche. - Des savoir-faire: ils s’initient au processus d’un projet, apprennent à communiquer, développent leur capacité de synthèse, d’expression et de travail en équipe. Ils apprennent les étapes d’une exposition. - Des savoir-être: ils développent leur confiance en eux, leur fierté, leur estime de soi. Symboliquement, leur culture obtient une reconnaissance puisqu’ils exposent dans un musée. Habiter une ville durable 81 L’Écomusée du fier monde a aussi travaillé ces dernières années à un projet sur le développement durable en milieu urbain: Habiter une ville durable. Cette exposition s’inscrit dans une démarche citoyenne (les Rendez-vous du développement durable) réunissant divers partenaires locaux: groupes communautaires et écologistes, corporation de développement économique et communautaire, municipalités et commission scolaire. L’Écomusée a présenté une exposition portant sur trois thèmes : se loger, se déplacer et consommer. Cette exposition était évolutive, elle a donc été présentée en trois moments: - Constater le présent, présentait des informations factuelles sur le sujet. - Se donner des outils, proposait des exemples stimulants de ce qui se fait de mieux en développement durable ici et ailleurs. - Rêver le possible, intégrait la parole des citoyens qui partageaient leur vision, mais aussi leur engagement en vue de changements de comportements individuels et collectifs. Le projet a été un tel succès qu’il sera repris dans 4 villes québécoises en 2012 et 2013. Dans chacune de ces villes, une démarche d’animation permettra aux citoyens d’identifier les enjeux et les solutions possibles pour une ville plus durable: les résultats seront présentés dans autant d’expositions. L’Îlot Saint-Pierre Apôtre: un héritage pour la communauté L’Ilot Saint-Pierre est un quadrilatère du quartier qui possède le statut de site patrimonial classé par l’État. On y trouve divers bâtiments de grand intérêt dont une église, un presbytère et une ancienne école devenue un important centre d’éducation populaire depuis les années 1970: le Centre St-Pierre. La pratique religieuse étant en forte baisse dans un quartier dont la population est en décroissance, il faut trouver une nouvelle vocation à ce quadrilatère. Le Centre St-Pierre veut acquérir l’ensemble du site, le protéger, le réaménager et le redynamiser dans le cadre d’un projet d’économie sociale, tout en lui conservant une vocation communautaire. Il s’est associé à l’Écomusée afin de que le redéveloppement de cet ensemble, se fasse non seulement en respectant l’histoire et la mémoire du site, mais en considérant également qu’il s’agit d’une formidable opportunité de mettre en valeur et de faire connaître le site lui-même, ainsi que son histoire. Le titre du projet L’Îlot Saint-Pierre Apôtre: un héritage pour la communauté, traduit assez bien les intentions du projet. Il s’agit de permettre à la communauté d’entrer en contact avec l’histoire du site, de se l’approprier et d’une certaine façon de participer au projet de redéveloppement de l’Îlot, de devenir des acteurs de cette démarche. Un programme d’action culturelle amorcé en septembre 2010 et prenant fin à l’été 2013 permettra, d’atteindre ces objectifs. La viabilité économique du projet est un enjeu de premier ordre. Il faudra conjuguer avec la nécessité d’assurer la pérennité du patrimoine matériel, mais aussi immatériel de l’Îlot Saint-Pierre Apôtre. Il ne s’agira pas de créer un centre d’interprétation, mais plutôt de faire en sorte de maintenir et de diffuser cette mémoire au sein même d’un lieu vivant, d’un milieu en évolution. Citoyens: hier, aujourd’hui, demain L’Écomusée prépare aussi avec divers partenaires de la communauté pour l’automne 2012 une exposition qui mettra en valeur l’engagement de certains citoyens depuis un siècle à Montréal, en mettant l’accent sur les pionniers du mouvement communautaire des années 1970 dans le quartier. L’idée de départ de ce projet vient d’un besoin exprimé par le milieu : conserver une trace du rôle les fondateurs de nombreux organismes communautaires locaux avant qu’ils ne disparaissent et la transmettre aux plus jeunes qui ignorent parfois les origines des organismes dans lesquels ils sont engagés. Ce projet de collecte de mémoire et d’exposition est aussi un projet de 82 réflexion sur l’importance de l’engagement citoyen en vue d’une mobilisation du plus grand nombre. Vision de la collection: concept de collection écomuséale. Dans les musées qui possèdent d’importantes collections, la programmation des expositions reflète tout naturellement ces dernières, mais aussi les récentes acquisitions et les recherches en cours. Ce n’est pas le cas de l’Écomusée du fier monde. Il a effectué certaines acquisitions au fil des projets, mais ne se définit pas d’abord en fonction de sa collection, ou pour être plus précis, ne définit pas celle-ci uniquement comme les objets qu’il possède. Dans cette optique, il a développé le concept de « collection écomuséale », et s’est doté d’une politique à cet égard. Cette politique définit d’abord les champs d’intervention de l’Écomusée : - le territoire de référence (le quartier Centre-Sud) - la thématique (le travail) - le cadre social (les enjeux contemporains reliés au quartier et au travail). La collection écomuséale se caractérise ainsi : Elle est constituée d’éléments patrimoniaux matériels ou immatériels qui témoignent de la culture de la communauté ou d’un ou plusieurs des champs d’intervention de l’Écomusée. Il s’agit d’un ensemble d’éléments patrimoniaux considérés représentatifs, exceptionnels ou à caractère identitaire. Ces éléments sont la cible d’un processus de désignation qui les fait entrer dans la collection écomuséale, au même titre que l’acquisition fait entrer un objet dans la collection muséale. Ce sont des éléments sur lesquels l’Écomusée intervient de diverses façons, sans toutefois qu’il en ait la propriété. La collection écomuséale est soumise aux conditions d’inventaire, de catalogage et de documentation, telle que l’est la collection muséale. Les acteurs locaux (individus, organismes, intervenants du milieu, etc.) participent activement au processus de désignation des éléments de la collection écomuséale. L’Écomusée du fier monde reconnait sa responsabilité patrimoniale envers les éléments désignés et il partage cette responsabilité avec les acteurs locaux. À cet égard, l’Écomusée s’engage à assurer leur transmission en collaboration avec ces acteurs locaux, qui obtiennent ainsi le statut de répondants. L’Écomusée du fier monde entend développer cette collection écomuséale par un processus de participation citoyenne. C’est donc à un vaste chantier mobilisateur autour de son patrimoine que l’Écomusée convie les acteurs locaux au cours des prochaines années. Il vise ainsi la préservation, la documentation, la mise en valeur, la restitution, la diffusion et la transmission du patrimoine. Les actions sur la collection écomuséale permettront une prise de conscience des richesses et du potentiel patrimonial local et contribueront à développer une plus grande fierté dans le milieu. Cette mobilisation autour du patrimoine peut devenir un facteur de cohésion sociale en plus de contribuer à un milieu de vie d’une plus grande qualité. C’est une façon de faire du patrimoine un outil de développement pour la communauté. Conclusion 83 L’Écomusée du fier monde se définit comme un musée d’histoire et un musée citoyen. Par tradition, mais aussi pour être en mesure de remplir son mandat adéquatement, il doit travailler en étroite collaboration avec les partenaires locaux: l’Écomusée entend d’ailleurs se doter bientôt d’une politique de partenariat pour réaffirmer sa volonté de travailler de cette façon. Le muséologue Jean Davallon identifie trois grandes approches dans les expositions: La muséologie d’objet avec une approche esthétique; La muséologie de savoir avec une approche communicationnelle; La muséologie de point de vue avec une approche spectaculaire. Pour sa part, l’Écomusée du fier monde veut proposer une muséologie citoyenne. Sans nier l’importance de l’expérience esthétique, du rôle éducatif et de l’aspect ludique de l’exposition, il souhaite établir un rapport avec le public qui dépasse celui de « visiteur », et tente d’être un outil au service de citoyens agissants. MUSEU DO MARAJO : A IMPORTANCIA DO MUSEU PARA O RESGATE, CONSERVAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA CULTURA MARAJOARA Marinete Silva Boulhosa* RESUMO O Museu do Marajó Padre Giovanne Gallo (MMPGG) foi inaugurado em 1987, na cidade de Cachoeira do Arari, na Ilha do Marajó. O MMPGG é diferente e único por duas particularidades: a) a técnica de comunicação: um museu interativo; b) o objetivo fundamental: o homem, não o objeto. Sua técnica de comunicação, feita com recursos simples e rústicos, mas resultado de muita pesquisa e dedicação, atinge todas as camadas de visitantes e dá a esses a liberdade de ir até onde lhes interessa. Tendo como objetivo revelar o homem como produtor da cultura, e não o objeto exposto, o museu comunica a vida e a faina do homem marajoara, revelando a cosmologia do caboclo amazônico que vive na grande ilha e ajudando a compreender parte do universo marajoara. ABSTRACT The Father Giovanne Gallo Marajó Museum (FGGMM) was inaugurated in 1987 at Cachoeira do Arari in Marajó Island. The FGGMM is different and unique for two particularities: a) the communication technique: an interactive museum, b) the fundamental objective: the man, not the object. His communication technique, made with simple and rustic resources, but the result of much research and dedication, affects all layers of visitors and gives them freedom to go until where they care. Aiming to reveal the man as a producer of culture, not the exposed object, the museum communicates the life and labors of marajoara man, revealing the cosmology of Amazonian caboclo who lives on the big island and helping to understand part of the marajoara universe. 1. Ilha do Marajó: seu ambiente e sua gente Seu ambiente A ilha do Marajó é a maior fluvio-marinha do mundo, localizada ao norte do Brasil, nordeste do Estado do Pará, na desembocadura do rio Amazonas, com uma área de 49.606 Km2, formada por 12 municípios, que com outras ilhas, em destaque as ilhas de Caviana, Mexiana e Gurupá, formam o arquipélago do Marajó. * . Antropóloga, pós-graduada pelo núcleo de filosofia da UFPA, professora efetiva do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA (Campus Belém), Área de Hospitalidade e Lazer. [email protected] 84 Marajó está dividida naturalmente em dois grandes ecossistemas. A leste têm-se as regiões dos campos naturais, onde a pecuária foi desenvolvida desde o período colonial; e na parte oeste da Ilha, denominada de região dos furos, estão os terrenos mais baixos e também a densa floresta que se estende até sudoeste da ilha, ocupando a maior parte da mesma. Na ilha os períodos de chuvas intensas e estiagem transformam a paisagem. O período de chuvas, de fevereiro a maio, ocasiona a cheia, que inunda 2/3 da Ilha. O período de estiagem, que ocorre entre agosto e dezembro, sendo também rigoroso, seca lagos e rios e impossibilita a navegação em determinados cursos. Outro aspecto interessante da Ilha é sua hidrografia. A região é marcada pela presença de inúmeros rios, igarapés, lagos e furos que a entrecortam em todas as direções e representam importante papel na alimentação e transporte das populações. Em sua hidrografia possui destaque o lago Arari, o maior e mais importante lago da Ilha. Localizado entre os municípios de Cachoeira do Arari e Santa Cruz do Arari, o lago apresenta grande importância para a pesca e para a arqueologia um destaque especial, pois em suas margens habitaram os índios da fase marajoara, responsáveis, pela cerâmica considerada a mais elaborada do arquipélago. Sua gente A população nativa da ilha do Marajó, identificada como caboclo marajoara, influenciada pelas características naturais do ambiente, pela predominância da identidade indígena, somada as influências das culturas dos negros e dos brancos, moldou uma cultura singular, de uma riqueza de elementos representativos que empregaram à cultura cabocla um valor que ultrapassa o valor da própria natureza que a circunda. Longe dos centros urbanos, das facilidades, da tecnologia, das prerrogativas que marcam a vida nas cidades, o caboclo marajoara, ora no interior da floresta, ora nos campos, ora às margens dos rios, ora na terra firme, exerce seu trabalho aproveitando os recursos naturais e o movimento da natureza, e assim vai, ora se adaptando a esse meio, ora transformando-o para assegurar sua sobrevivência, através de sua compreensão, sua criatividade e imaginação. O caboclo (caá-boc, tirado do mato) define-se, assim, como aquele que vive no interior da Amazônia, que assimilou e absorveu certo conhecimento empírico da floresta, que criou processos alternativos de relação com a natureza, e que se adaptou ao mundo amazônico. Os traços da cultura cabocla são percebidos nos hábitos alimentares, na crença, na mitificação da natureza, nos costumes, no trabalho, enfim, na forma de relação, adaptação e manipulação da natureza, estabelecida por ele. O homem marajoara, através de sua capacidade de humanizar e colocar a natureza à medida de sua necessidade difundiu sua grandeza, sobrepondo-se às dificuldades que enfrenta no interior da grande ilha, muitas vezes desprovido de tantos recursos fundamentais, como assistência médica, sanitária, educacional; recebendo pouca ou às vezes nenhuma atenção dos governos locais, tendo que apelar para seu senso de sobrevivência, através de práticas consideradas não tão ortodoxas, como a pajelança, a fé carnavalesca, a medicina popular, práticas muitas vezes ignoradas e mal interpretadas. Todavia, mesmo diante das limitações, ora impostas pela natureza, ora impostas pelas estruturas excludentes que o ignoram dos processos de desenvolvimento regional, o caboclo construiu, a partir do saber acumulado sobre o habitat natural e da persistência ante as outras influências, uma cultura de tamanha singularidade. É esse homem marajoara que o Museu do Marajó pretendeu mostrar. “Para conhecer o Marajó, não basta correr atrás das marés, precisa descobrir o homem marajoara. Só ele conhece este mundo (Gallo, 1980). 85 2. O Museu do Marajó Padre Giovanne Gallo† Resolver o problema da comida, em outras palavras, da sobrevivência, não é tudo. Para conseguir um verdadeiro desenvolvimento é necessário que o homem também cresça, daí a necessidade de dar impulso à cultura (Gallo, 1996). Dentro desta filosofia, o Padre Giovanne Gallo criou o Museu do Marajó, projeto que nasceu a “tiracolo” da Cooperativa de Pesca, como elemento canalizador das atividades promocionais desta Cooperativa. A Cooperativa, nem nasceu, abortou, mas o Museu do Marajó tornou-se um importante centro de pesquisa, conservação e divulgação da cultura marajoara. O museu do Marajó nasceu em 1972, na cidade de Santa Cruz do Arari, uma pequena cidade às margens do lago Arari, quando Giovanni Gallo começou a estudar a cultura marajoara e a colecionar peças arqueológicas da cerâmica marajoara que eram facilmente encontradas pelos quintais e margens do lago, uma vez que a região de Santa Cruz corresponde a uma importante área de sítios arquiológico, no Marajó. Assim, de modo informal nasce o “Nosso Museu de Santa Cruz do Arari”. Posteriormente, Gallo foi obrigado a mudar-se para Cachoeira do Arari, cidade visinha à Santa Cruz e lá, em uma antiga fábrica de óleo falida, o museu foi instalado. Em 12 de dezembro de 1987 o Museu do Marajó foi inaugurado, contendo uma área de 20km², às margens do rio Arari. Sobre a instalação do museu em Cachoeira, seu próprio fundador destacava : “Está geograficamente no lugar certo, mas politicamente não”, porque a cidade, à época, não dispunha de infraestrutura para hospedar um museu. Mas, Gallo explica que a escolha foi proposital, no objetivo de que o museu contribuísse para o desenvolvimento da Cidade, pois qualquer obra para possibilitar à visita ao Museu, impulsionaria o turismo e resultaria em benefícios para Cachoeira do Arari. Assim, apropriando-se dos conhecimentos adquiridos da cultura marajoara em sua convivência com o povo da ilha, diante dos poucos recursos disponíveis, mas apelando para a criatividade, o Museu do Marajó foi erguido e impressiona os visitantes através de sua técnica de visitação e de seu principal objeto de estudo. 2.1- Um museu diferente Duas particularidades fazem do Museu do Marajó um museu diferente e único : a) a técnica de comunicação: um museu interativo; b) o objetivo fundamental: o homem, não o objeto. a) Técnica de comunicação: um museu interativo Diante da preocupação de apresentar o material do museu de forma dinâmica e manter uma comunicação com o público, o museu apresenta uma técnica de comunicação diferenciada. Gallo criou uma resposta personalizada, que oscila de acordo com o interesse do visitante, permitindo vários níveis de visita. A técnica de visitação parte da idéia que o brasileiro tem os “olhos nas pontas dos dedos”, ou seja, para ver ou compreender algo, precisa tocá-lo. Assim, em lugar de coibir o visitante, o museu incentiva-o a tocar em quase tudo. Para seu idealizador o ideal foi incentivar o visitante a seguir este estilo nacional. Assim, o Museu é um grande brinquedo. Quanto mais o visitante mexe com os painéis, mais novidades ele descobre (Gallo, 1986). † Giovanne Gallo era padre Jesuíta e foi enviado ao Brasil na década de 70. Em 1972 foi para o Marajó e lá, paralelo as atividades missionárias, desenvolveu inúmeros trabalhos junto à comunidade, tendo destaque a criação do Museu do Marajó. Após o falecimento de Giovanne Gallo em 7 de março de 2003, o museu passou a ter seu nome, em sua homenagem. A pedido de Gallo, quando doente, ele também foi sepultado na área do museu. 86 A técnica de visitação foi chamada de “computador caipira”. Assim, com recursos de barbantes, tábuas, placas de madeiras móveis, desenhos, fotografias, outros artefatos, e muita pesquisa e dedicação o museu vai revelando seus segredos. Abaixo, um exemplo para ilustrar. - O painel das lendas: Um grande painel recoberto por tabuletas com a identificação das lendas amazônica. Para um visitante, basta olhar, ler os nomes e seguir em frente. Para outro mais curioso ou interessado, pode-se levantar as tabuletas e observar uma representação plástica da lenda, com bonequinhos de barro. Para quem deseja saber um pouco mais, na parte interna da tabuleta, um texto narrando a lenda amazônica. Com esta técnica é possível atingir todas as camadas de visitantes que se transformam em participantes, pois são eles que escolhem a dimensão do diálogo, indo até onde lhes interessa. b) o objetivo fundamental: o homem, não o objeto. Outra particularidade do Museu é que seu objetivo principal não é mostrar o objeto, mas o homem que está por trás do objeto, que é o produtor da cultura. “O homem é a nossa peça mais importante”, declara Gallo (1996). Tendo como referência o homem, e nesse caso o homem marajoara, o Museu tem a preocupação de comunicar a vida, a lida, o mundo desse homem que vive nos campos, nas margens dos rios, nas floretas da grande ilha. É o próprio Gallo que afirma que fora as peças arqueológicas (cerâmicas originais), o resto são “coisinhas banais’’, porém atrás delas está o homem marajoara com sua forma de ver o mundo. Ao tratar da fauna e flora marajoara, das atividades econômicas, da saúde, da religiosidade, das crenças, entre outros, o museu o faz partindo da relação do homem marajoara com esse ambinte, partindo da cosmologia desse caboclo. Assim, ao visitar o Museu do Marajó, o visitante tem a oportunidade de entrar em contato com o mundo do homem marajoara, e compreender parte desse universo. Como museu interativo e construído na linha de um ecomuseu, onde o homem não mais participa como paciente, mas como autor mesmo de suas exposições e a comunidade é atingida com suas ações, o Museu do Marajó, além da exposição permanente, dá ênfase a comunidade. Exemplos dessas ações são : - A casa do Artesanato: trabalho de bordadeiras que reproduzem os motivos arqueológicos marajoaras em camisas. - Escola-oficina: Oficinas de cerâmica e grafismo com jovens da periferia. - Arquivo cultural: (projeto) coleção de lembranças do passado, as estórias, as lendas, as toadas, recolhidas dos idosos da cidade. Assim, o Museu do Marajó, no contexto da nova museologia, foi idealizado e se mantém com a preocupação de estabelecer uma comunicação com o visitante, pois como salienta Clara Corrêa (1990), uma exposição transcende ao simples agrupamento de objetos. Ela é um meio de comunicação que permite ao publico aprender e vivenciar experiências, no nível intelectual e emocional. E quem visita o Museu do Marajó comprova essa experiência “Este é o mais importante museu do mundo por resgatar e reunir com tanta eficiência a cultura popular”. “Uma obra fantástica, humana e despreconceituosa e corajosa ”. (Depoimentos registrados nos livros de visitas do Museu do Marajó) O Museu do Marajó foi criado como sociedade civil sem fins lucrativos, que visa o desenvolvimento da comunidade marajoara através da cultura. Está legalizada em todos os níveis: no Conselho Nacional de Serviço Social, no Conselho Nacional de Museus e no Cadastro do Ministério da Cultura. Tem Inscrição Estadual, CNPJ, Atestado de Utilidade Pública Municipal e Estadual. Atualmente o Museu do Marajó Padre Giovanne Gallo enfrenta graves problemas administrativos e financeiros e suas ações, em função desta situação, está restrita à 87 visitação pública, mas matém-se como principal atração turística cultural da cidade de Cachoeira do Arari. Referências BOULHOSA, Marinete da Silva. Museu do Marajó: resgatando, preservando e divulgando a cultura marajoara. Belém - PA, 1997 (Monografia – graduação em turismo – UFPA). BOULHOSA, Marinete da Silva. Ecoturismo e identidade cultural: a natureza sob o prisma do caboclo marajoara. Belém-PA, 2002 (Monografia – Especialização em Ecoturismo NUMA/UFPA). DERBY, Orville Albert. A ilha de Marajó. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi de História Natural e ethnographia. Belém, n.2, 1898. GALLO, Giovanni. Marajó a ditadura da água. Belém: Secult, 1980. GALLO, Giovanni. O homem que implodiu. Belém: Secult, 1996. LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura Amazônica: Uma poética do imaginário. Belém PA: CEJUP, 1995. SUANO, MARLENE. O que é museu. São Paulo: Brasiliense, 1986. D´ALAMBERT, C. C.; MONTEIRO, M. G. Exposição: materiais e técnicas de montagem. São Paulo: Secretaria de Estado de Cultura, 1990. PATRIMÔNIO COMUNITÁRIO E NOVOS MUSEUS: A FACE AFROBRASILEIRA DA MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA‡ Giane Vargas Escobar – RS – Brasil** Museu Treze de Maio Hugues de Varine – França*** RESUMO O artigo apresenta o processo de organização das II Jornadas Formação em Museologia Comunitária realizado em Santa Maria-RS, no Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes (2011). O Museu Treze de Maio foi palco deste evento, articulado com diversos parceiros locais, nacionais, internacionais e a experiência de duas redes de museus comunitários, a União dos Museus Comunitários de Oaxaca – UMCO, do México e a ABREMC - Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários, que trouxeram ao sul do país uma formação especializada na área de ecomuseus e museus comunitários. O reconhecimento e a valorização dos espaços de construção e afirmação da memória e identidade negra foram objetivos das Jornadas, o que foi motivo de elevação da autoestima por parte dos dinamizadores do Treze e comunidade local, que atuaram como protagonistas de sua própria história. As **Giane Vargas Escobar é Mestre em Patrimônio Cultural/PPGPPC/UFSM (2010), Especialista em Museologia/Unifra (2002), licenciada em Letras-Português-Inglês/FIC (1988). É colaboradora e Diretoria Técnica do Museu Treze de Maio de Santa Maria-RS. Gestora do Portal dos Clubes Sociais Negros do Brasil. Coordenadora Geral das II Jornadas Formação em Museologia Comunitária, realizada em Santa Maria-RS (2011). E-mail: [email protected] *** Hugues de Varine é cunhador do termo e do conceito de ecomuseu com George-Henri Rivière, exDiretor do ICOM, membro fundador do MINOM - Movimento Internacional para uma Nova Museologia e consultor internacional em Comunidades, Patrimônio e Desenvolvimento Local. 88 Jornadas apontaram novas demandas que certamente suscitarão novas discussões e ações, com espaço para debater, compartilhar e aprofundar conhecimentos em próximos encontros que se aproximam, como o IV EIEMC (2012) e a III Jornadas Formação em Museologia Comunitária (2013), cujos participantes a cada encontro se fortalecem e se revigoram. Palavras-Chave: Ecomuseu - Museus Comunitários - Povos afrodescendentes Reconhecimento - Empoderamento - Sustentabilidade COMMUNITY HERITAGE AND NEW MUSEUMS: THE FACE OF AFRO-BRAZILIAN COMMUNITY MUSEOLOGY ABSTRACT The objective of this work is to present the organization of the II Days Trainings Formation in Community Museology in Santa Maria-RS, in the International Africandescendants People(2011). The 13 de Maio Museum was the scene of this event, with several local, national international partners, and the experience of two networks of community museums, The Oaxaca Union of Community Museum (UMCO), Mexico and the ABREMC – Brazilian Association of Community Ecomuseums and Museums that brought to the south of Brazil a specialized formation to the community museums and eco-museums area. Reorganization and appreciation of the space construction and affirmation of the black identity and memory were objectives of the journeys. This was the aim of elevation of self-esteem of the facilitators and local community of The 13 de Maio Museum, that acted as protagonist of their own history. The journeys indicated new demands that, certainly, will stir new discussions and actions, where there will be space to discuss, share and deepen knowledge in new meetings to come as the IV EIEMC(2012) and the III Journeys of the Community Museology Formation(2013), whose participants will strengthen and re-energize. Key-words: Eco-museum – Community Museums – African – descendant’s people – Recognition – Empowerment – Sustainability. PATRIMÔNIO COMUNITÁRIO E NOVOS MUSEUS: A FACE AFRO-BRASILEIRA DA MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA Giane Vargas Escobar - Museu Treze de Maio - RS - BRASIL Hugues de Varine - FRANÇA Ecos da II Jornadas Formaçâo em MC (Santa Maria - RS - 2011) As II Jornadas Formação em Museologia Comunitária realizaram-se em Santa Maria – RS, no Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes (2011) * no período de 30 de outubro a 3 de novembro, por iniciativa do Museu Treze de Maio. Pode-se perguntar: de que se trata? Todo mundo sabe o que é um museu: um prédio mais ou menos importante que expõe objetos de arte, de história ou de ciências. Os alunos das escolas ali vão em grupos, os turistas os visitam para conhecer a região, os amantes das Artes, da História ou das Ciências ali vão buscar informações e emoções. Entretanto, o que se discutiu durante essas II Jornadas foi outra coisa: como construir com e na comunidade, quer dizer, todos nós, habitantes de Santa Maria ou de outros lugares, um projeto que inventarie, estude e valorize todo o patrimônio antigo ou recente da comunidade: a paisagem, urbana e rural, as casas, as igrejas, os pontos * Para dar mais visibilidade às demandas da população negra no mundo, a ONU, a Organização das Nações Unidas instituiu 2011 como o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, propiciando uma série de eventos, palestras e concertos ao redor do mundo. Com o sucesso da iniciativa na promoção e fortalecimento da cultura negra, as entidades envolvidas com a causa solicitaram e a ONU aprovou, a partir de 2012, a década dos afrodescendentes. Fonte: www.palmares.gov.br. Acesso em 30abril2012. 89 históricos locais, as memórias das pessoas, os saberes artesanais, as atividades artesanais ou artísticas etc. O Museu Treze de Maio faz isso há muito tempo. Ele adquiriu uma experiência que compartilhou com outros museus semelhantes do RS, de outros Estados do Brasil e do exterior. Para ir ainda mais além, ele convidou especialistas dos museus comunitários do México, os antropólogos Tereza Morales e Cuauhtémoc Camarena para dinamizar oficinas de formação mútua. Além disso, contou com o apoio da Itaipu Binacional/Ecomuseu de Itaipu, de Foz do Iguaçu – PR, da ABREMC, bem como uma rede de parceiros locais e do poder público, para concretizar seus objetivos e metas de um encontro que pudesse contemplar os mais diferentes anseios. É a nova museologia: inventar métodos de apropriação de seu patrimônio pela comunidade, para dele se servir em prol do seu próprio desenvolvimento, para elevar cada vez mais sua autoestima, para lançar ações baseadas sobre as ideias e capacidades de cada um e respondendo às necessidades coletivas. Isso se refere naturalmente às escolas e geralmente à educação tanto de jovens como de adultos, mas também a todos os movimentos locais e ainda os atores do desenvolvimento, políticos, econômicos, sociais, culturais. Pois esse patrimônio é uma riqueza, um capital que pertence a todos e que deve servir ao bem comum. Em sua segunda edição, o evento teve como tema “Povos Afrodescendentes e Iniciativas Museológicas Comunitárias do Novo Milênio”, com foco na metodologia de trabalho nos ecomuseus, museus comunitários e espaços de origem africana e afrobrasileira em seus aspectos comuns e aspectos singulares. A Oficina de Formação de Facilitadores de Museus Comunitários realizada pelos antropólogos Mexicanos seguiu as diretrizes apontadas pela organização e um dos pontos altos se deu através da sensibilização dos participantes para execução de tarefas coletivas que abordassem a temática dos povos afrodescendentes, constituindo-se em verdadeiro desafio para os educadores, pois Ser sujeito implica auto-conhecimento e o museu comunitário é uma ferramenta para que a comunidade construa um auto-conhecimento coletivo. Cada pessoa que participa selecionando os temas a estudar, capacitando-se, realizando uma entrevista ou sendo entrevistado, reunindo objetos, tomando fotografias, fazendo desenhos, está conhecendo mais a si mesmo e ao mesmo tempo está conhecendo a comunidade à qual pertence. Está elaborando uma interpretação coletiva de sua realidade e de sua história (MORALES e CAMARENA, 2004). Sendo assim, conhecer o outro e a si mesmos foi o ponto de partida para que as oficinas tivessem o resultado positivo e agregador. Com plateia formada por pessoas de diversos lugares do país e também do exterior, Morales começou as atividades com a seguinte pergunta “Por que criar consenso?” Trouxe para discussão pontos como capacidade de decisão, iniciativa e reflexão. Além disso, os facilitadores definiram o que é criar consenso, na perspectiva de escutar os outros e compartilhar pensamentos. Abordaram também assuntos como o combate à exclusão, a manipulação e a autoridade irracional. As Jornadas também estavam inseridas na programação alusiva à 23ª Semana Municipal da Consciência Negra de Santa Maria, promovida por diversas entidades do Movimento Negro local, instituições educacionais, culturais e Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Cultura e da Coordenadoria de Igualdade Étnico-Racial. As atividades desenvolvidas durante um mês inteiro de reflexões, o “Novembro Ébano”, buscaram refletir e evidenciar a luta constante do povo negro pelo fim da discriminação e qualquer forma de intolerância, proporcionando a valorização dessa identidade e do seu verdadeiro papel frente a uma sociedade que ainda precisa melhorar o seu olhar ao tratar com a diversidade. Vários foram os objetivos das II Jornadas, dentre eles destacaram-se o de fortalecer iniciativas criativas e organizadoras dos povos afrodescendentes como potenciais incubadoras de processos museológicos comunitários, valorizando as questões étnico90 raciais e de gênero que estimulassem o debate acerca da superação dos entraves ao reconhecimento do patrimônio material e imaterial da população negra, estimulando o protagonismo, o empoderamento e ações afirmativas em prol do respeito à diversidade e aos valores civilizatórios africanos e afro-brasileiros; reunir comunidades e profissionais envolvidos em processos museológicos de ecomuseus, museus comunitários e outros para a reflexão sobre suas metodologias e abordagens específicas e a contribuição que esses museus pudessem dar pela participação comunitária; capacitar membros das comunidades como facilitadores que transmitam técnicas e métodos participativos para a criação e desenvolvimento de museus comunitários, catalisando processos de organização locais específicos; reconhecer, apoiar e divulgar novas experiências e metodologias próprias da museologia comunitária e, por fim estabelecer redes de intercâmbio continuado entre protagonistas, estudiosos e simpatizantes dos ecomuseus, museus comunitários e similares. Assim, durante os cinco dias de debates, as práticas e vivências extrapolaram as paredes do Museu Treze de Maio, pois aconteceram nos mais diversos locais, sendo que muitos participantes pela primeira vez entraram em contato com pessoas e lugares que só tinham visto nos livros, muitas vezes de maneira estereotipada e sem qualquer ligação com a realidade, como o que se viu no protagonismo, riqueza imaterial e ao mesmo tempo na falta de políticas públicas presentes no Quilombo de Santo Inácio, de Nova Palma-RS, um “ecomuseu nato”, nas palavras da museóloga Odalice Priosti (2012), necessitando apenas de apoio da sociedade museal para ajudar na organização da memória que constroem. Destacaram-se ainda, nas II Jornadas, as matrizes da religiosidade africana imaterializadas na circularidade, na comida, no cheiro, no colorido das roupas e acessórios e nas cantigas em língua yorubá ao som dos atabaques do Ilê Axé Ossanha Águé do Pai Ricardo e do Nei do Ogum; os tambores da percussão da Cia de Dança Afro Euwá Dandaras e a energia de seus integrantes que contagiaram os participantes do evento ao se renderem à grande roda da dança para os orixás, comprovando que “a sedução do ecomuseu repousa na atração dos encontros que ele permite” (SOARES apud MATTOS, 2010, p. 19); a mostra de arte Africana do senegalês Abdoulaye Dit Goumb Sow que trouxe esculturas e máscaras de vários lugares da África, despertando a atenção dos moradores do entorno que vieram prestigiar a exposição e ao final o artista presenteou o Museu Treze de Maio com cinco exemplares de sua arte milenar. Importante também destacar a sabedoria na oralidade do Mestre Prudêncio, Griô do Museu do Umbu-RS; a vitalidade dos jovens organizadores/dinamizadores das II Jornadas que se motivaram a “Pintar o Treze”, deixando o Museu Comunitário Treze de Maio ainda mais aconchegante para receber os visitantes dos mais distantes lugares e, por fim, a experiência de Dona Maria Angela Savastano, do Museu do Folclore de São José dos Campos - SP, que ao longo dos seus oitenta anos deu uma verdadeira lição de vida ao trazer para si a responsabilidade de organizar com parcerias a III Jornadas Formação em Museologia Comunitária no ano de 2013, o que foi aprovado por unanimidade pelos participantes das II Jornadas. As II Jornadas vieram ao encontro das expectativas do seu público alvo, os trabalhadores militantes do patrimônio e da museologia comunitária, pois permitiram e suscitaram o debate sobre temas que são tão caros a esta especificidade de museu, que só alcançará sua plenitude, quando conseguir fazer com que sua comunidade tenha “legitimidade, credibilidade e sustentabilidade” ou então poderão se reinventar transformando-se não exatamente em museus comunitários, mas naquilo que a comunidade definir como o melhor para si e para o seu momento histórico. Quem sabe até retornando a ser, nas suas práticas, museus tradicionais/clássicos, conforme palavras de Varine (2011). Durante as II Jornadas Formação em Museologia Comunitária foi também destacado o potencial e a dimensão pedagógica do Museu Comunitário Treze de Maio e o que as novas gerações poderiam prever ou querer para aquele lugar de identidade negra. 91 Será que o Museu Treze de Maio viria a se reinventar em uma Universidade para negros? Um Clube Social Negro que se reinventou enquanto Museu Comunitário; um Museu Comunitário que se transformaria em uma Universidade para negros? Só o tempo, o futuro e a comunidade dirão. Santa Maria é referência nacional e internacional na área de museologia comunitária, pois com a criação do Museu Treze de Maio em 2003, passou a figurar no mapa da ABREMC, a Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários, além de ser também referencial no que diz respeito à construção de uma rede nacional de Clubes Sociais Negros§, pois foi a cidade que sediou, em novembro de 2006, o 1° Encontro Nacional de Clubes e Sociedades Negras, que reuniu mais de trezentos participantes e 53 representações de gestores clubistas dos mais diferentes Estados do país. Participaram das II Jornadas Formação em Museologia Comunitária em 2011 os estados de São Paulo, Santa Catarina, Ceará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, além de países como Paraguai, França e México. O encontro reuniu, ainda, acadêmicos da UFSM, UFRGS, UFPel, FURG e os seguintes museus comunitários: Museu do Percurso do Negro – Porto Alegre/RS; Museu Comunitário Treze de Maio – Santa Maria/RS; Museu do Umbu – Alvorada-RS, Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro – Porto Alegre-RS, Museu da Picada – Picada Café/RS; Ecomuseu de Itaipu – Foz do Iguaçu-PR; Ecomuseu de Maranguape – Ceará; Museu do Folclore - SP e Ecomuseu de Santa Cruz - Santa Cruz -RJ. Há 40 anos, um movimento se desenvolveu em vários países, sob o nome de « nova museologia », que reconhecia nesses museus de um gênero particular uma função social e um papel no desenvolvimento dos territórios. O Brasil, como o México, é um dos países mais avançados nesse domínio, tanto na prática quanto na reflexão. O Museu Treze de Maio reuniu as forças e a experiência de duas redes, a União dos Museus Comunitários de Oaxaca - UMCO, no México e a Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários - ABREMC - em cinco dias que trouxeram um novo espírito de inovação a esse movimento de museologia comunitária. Referências Bibliográficas ESCOBAR, Giane Vargas. Clubes Sociais Negros: lugares de memória, resistência negra, patrimônio e potencial. Dissertação (Mestrado Profissionalizante em Patrimônio Cultural). Santa Maria: UFSM, 2010. MATTOS, Yara; MATTOS, Ione. Abracaldabra: uma aventura afetivo-cognitiva na relação museu-educação. Ouro Preto: UFOP, 2010. MORALES, Tereza; CAMARENA, Cuauhtémoc. "El concepto del museo comunitario: ¿historia viviente o memoria para transformar la historia?" presentada en la mesa redonda "Museos: nuestra historia viviente", en la Conferencia Nacional de la Asociación Nacional de Artes y Cultura Latinas, Kansas City, Missouri, 6-10 octubre, 2004. Fonte: http://www.abremc.com.br/artigos1.asp?id=5 Acesso em 30abril2012. PRIOSTI, Odalice. Ficha de Avaliação das II Jornadas Formação em Museologia Comunitária 2011. Museu Treze de Maio. Santa Maria, 2012. Outras fontes: Blog Museu Treze de Maio. Teresa Morales e Cuauhtémoc Camarena ministram oficina. Fonte:http://museutrezedemaio.blogspot.com.br/2011/11/teresa-morales-e cuauhtemoc-camarena.html Acesso em 30abril2012. § ESCOBAR, 2010. 92 Blog Museu Treze de Maio. II Jornadas Formação em Museologia Comunitária destaca Hugues de Varine. Fonte:http://museutrezedemaio.blogspot.com.br/2011/11/iijornadas-formacao-em-museologia_02.html Acesso em 30abril2012. CIDADANIA E PROTAGONISMO COMUNITÁRIO: REFLETINDO SOBRE OS MUSEUS E A GESTÃO PATRIMONIAL Graça Filipe* - PORTUGAL Ecomuseu Municipal do Seixal RESUMO A reflexão e as ideias com que tentarei contribuir para a Mesa Redonda 5 do IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários, sobre Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local ligam-se a um tema de pesquisa e ao envolvimento profissional na realidade museológica em Portugal ao longo de mais de duas décadas, principalmente através da experiência no Ecomuseu Municipal do Seixal (EMS), como projeto de valorização e gestão de património reportado a um território e às suas comunidades, com o enquadramento de uma tutela municipal. Começando pela compreensão da génese do museu e da tentativa de aplicação de uma ideia de ecomuseu e de uma museologia comunitária, uma sucinta análise de três décadas de crescimento, consolidação e reperspetivação do EMS dá-nos a oportunidade de colocar questões sobre a transformação dos museus, no tempo e em espaços em mudança: o exercício da cidadania e a dinâmica das comunidades em relação à memória e ao património natural e cultural; o lugar da cultura, do património e dos museus nas políticas públicas; o protagonismo das comunidades em sociedades sob-regimes políticos democráticos; o papel dos profissionais e a função social dos museus. Por mais diversificados que sejam os contextos e as abordagens conceptuais a partir das quais tentamos fazer uma leitura de cada realidade, por exemplo em Portugal e no Brasil, o diálogo sobre diferentes experiências e a pesquisa de ferramentas para uma análise comparativa certamente nos trarão mais-valias. Assumindo a transformação dos museus à luz de mudanças transversais às nossas sociedades e ao mundo global, precisamos de identificar de forma muito específica as respostas criativas para a salvaguarda e a valorização do património, em lugares e circunstâncias temporais particulares, que traduzam as necessidades das comunidades. O protagonismo comunitário será um dos nossos paradigmas, pretendendo que através da participação das comunidades se operacionalize também a integração dos museus em políticas públicas intersectoriais e que, em ciclo progressivo e aberto, os museus sirvam para promover a cidadania crítica e o desenvolvimento da sociedade. Palavras-chave: cidadania - museus comunitário - Ecomuseu Municipal do Seixal – museus - gestão patrimonial. CITIZENSHIP AND COMMUNITY PROACTIVENESS: REFLECTING ON MUSEUMS AND HERITAGE MANAGEMENT SUMMARY The reflection and the ideas I seek to contribute towards the Round Table No. 5 of the 4th International Meeting of Ecomuseums and Community Museums, on Heritage and Empowering Local Development Actors are bound up with both the research theme and my professional involvement in the museological reality in Portugal throughout * Graça Filipe-Técnica superior do Ecomuseu Municipal do Seixal; Assistente convidada da FCSH/UNL; Museóloga; Mestre em Museologia e Património pela FCSH/UNL; Pós-graduada em Museologia Social pela UAL; [email protected] 93 over two decades, especially through my experience at the Seixal Municipal Ecomuseum (SME), as a project enhancing the value and management of heritage reporting to a territory and its communities, within the framework of municipal supervision and authority. Beginning with an outline of the origins of the museum and efforts to put into practice the idea of an ecomuseum and community museology, I provide a brief analysis of how three decades of growth, consolidation and re-definition of the SME provide us with the opportunity to pose questions about the transformation of museums, over the course of time and spaces themselves undergoing change: the exercise of citizenship and the dynamics of communities in relation to memory and natural and cultural heritage; the role of culture, heritage and museums in public policies; the role of communities in society under democratic political regimes; the role of professionals and the social function of museums. However diversified the contexts and the conceptual approaches based upon which we attempt to read each respective reality, for example in Portugal or in Brazil, the dialogue on the different experiences and the research tools for comparative analysis will certainly leverage benefits. Assuming the ongoing transformation of museums in accordance with the transversal changes in our societies and the globalised world, we need to identify very specifically the creative responses necessary to safeguarding and enhancing our shared heritages, in particular places and temporal circumstances, and in turn reflecting the prevailing community needs. Community empowerment and involvement represents one of our paradigms, seeking to ensure that community participation also puts into practice the integration of museums in cross-sector public policies and within the scope of which, throughout progressive and openly expanding cycles, museums serve for the promotion of critical citizens and the development of society. Key-words: citizenship, community museums, museums, heritage management Seixal Municipal Ecomuseum, CIDADANIA E PROTAGONISMO COMUNITÁRIO: REFLETINDO SOBRE OS MUSEUS E A GESTÃO PATRIMONIAL A dinâmica de criação ou de renovação de museus e, de forma mais geral, a realidade museológica em Portugal ao longo das últimas três décadas proporcionam um interessante campo de pesquisa e análise de experiências marcadas, na sua génese ou em ciclos da sua existência, por manifestações de cidadania ou por iniciativas comunitárias, a par de outras essencialmente institucionais ou resultantes de vontade política, tanto a nível nacional, como local. O significado e a expressão que as práticas de cidadania e a participação de comunidades tiveram ou mantêm nalguns museus devem ser objeto de investigação com o necessário rigor científico, mas é também necessário que os próprios protagonistas ou agentes envolvidos nos processos tomem parte voluntária na sua análise e discussão (Varine, 2000). Os dados daí resultantes podem ajudar não só a elaborar estratégias concertadas entre todos os que se propõem utilizar os museus enquanto instrumentos de mudança e de desenvolvimento (Varine, 2002), como a construir melhores políticas públicas, ainda mais exigíveis na atual conjuntura em que a pressão económica é particularmente incidente nos sectores da cultura e do património cultural. Procurarei sintetizar e apresentar algumas questões e aspetos decorrentes quer da minha experiência prática, quer da minha investigação sobre o Ecomuseu Municipal do Seixal (EMS), mas que se relacionam com reflexões mais abrangentes sobre museus comunitários e ecomuseus e com o debate sobre os mecanismos e fatores de transformação dos museus. 94 Entendido como projeto de reconhecimento, valorização e gestão de património natural e cultural, o EMS é «claramente definido pelo seu território, o concelho do Seixal, num processo simultaneamente tradicional (municipal) e inovador (comunitário)» (Varine, 2005). Designou-se e evoluiu associado à ideia de ecomuseu a partir de 1983, mas a sua génese remonta ao período entre 1979 e 1981, em que decorreu um levantamento ‘histórico e cultural’ de âmbito concelhio, por iniciativa municipal e com uma expressiva adesão e participação da comunidade local. Foi esse processo, consubstanciado no primeiro inventário de património cultural no território e na primeira exposição, no Seixal, sobre história e património locais, que conduziu à institucionalização de uma entidade museal, o Museu Municipal do Seixal, em 1982. Do estudo académico que efetuei há alguns anos sobre o EMS e da análise do processo de crescimento e consolidação decorrido desde a sua génese até 1999, recordo a conclusão (Filipe, 2000) sobre a necessidade – e até urgência, atendendo a razões conjunturais que seguidamente também referirei - de repensar o programa museológico e o modelo de gestão do Ecomuseu e de elaborar um plano estratégico de modo a abarcar o património em processo de reconhecimento, comunicá-lo (Varine 2005) e estimular a participação da comunidade, em conjugação com o desenvolvimento do trabalho científico dinamizado pelo museu. A necessidade de reprogramação advinha de um ciclo de crescimento e consolidação da experiência museológica municipal, em cujos expressivos resultados fora determinante a componente participativa da comunidade em relação à salvaguarda e valorização de património, o que potenciava um novo ciclo de vida do EMS. A conjuntura de urgência prendia-se, por um lado, com dois fatores externos. O primeiro era a criação da estrutura de projeto da Rede Portuguesa de Museus, ligado ao então Instituto Português de Museus e a pretensão de o Ecomuseu vir a integrar essa rede nacional. O segundo era a possibilidade de candidatura, por parte da tutela, a um programa nacional com financiamento europeu (Programa Operacional da Cultura), apresentando um projeto de qualificação do EMS. Por outro lado, era necessário definir a configuração (descentralização territorial e centralização funcional) do EMS e ordenar o território musealizado (Filipe, 2009; Varine, 2009), de forma a abarcar sob sua gestão novos sítios patrimonializados, principalmente devido à reconversão de espaços industriais, que o poder político municipal, reconhecendo o interesse histórico e o valor cultural que a comunidade local lhes atribuía, pretendera subtrair parcialmente à intervenção de promotores imobiliários. Na prática e no âmbito do serviço municipal correspondente ao museu (inserido na orgânica municipal) foram realmente definidos novos objetivos e metas que se deviam levar à prática a partir de 2000, mediante conjugação de medidas de ordenamento do território e de valorização e gestão de património cultural, através do Programa de Qualificação e de Desenvolvimento (PQD) do EMS, aprovado pela tutela em 2001. Internamente, com a equipa técnica e a tutela, e externamente, com vários parceiros e instituições com as quais o EMS trabalhava, aquele programa serviu para repensar o papel do museu e os processos de patrimonialização, no território em mudança e consubstanciou uma base propositiva, em que se pretendia integrar a interação com a comunidade e estimular a sua participação cívica. No terreno, porém, não se concretizou a discussão do PQD, nem a pretendida participação, inviabilizando-se o percurso de negociação e de compromisso público sobre o plano e objetivos propostos, apesar de o documento ter sido implicitamente adotado pela tutela como marco programático do EMS e de, sob vários títulos e nos dois eixos de atuação preconizados (1. qualificação dos ‘núcleos’ e musealização da Mundet; 2. circuito museológico industrial), ter constituído uma ferramenta indispensável à transformação do museu e ao seu funcionamento até aos dias de hoje (Filipe 2008). Tomando como base essa mesma ferramenta, foram elaborados os instrumentos de adesão do EMS, em 2001, à Rede Portuguesa de Museus (RPM) e realizou-se o programa de qualificação museológica do Moinho de Maré de Corroios. Em 2007, a equipa técnica 95 do museu redigiu quer as propostas de Regulamento e de Política de Incorporações, que, inerentemente à regulamentação da Lei-Quadro dos Museus Portugueses (2004), eram instrumentos necessários para a credenciação e inclusão na referida Rede Portuguesa de Museus. Não levando a efeito a discussão pública da proposta de Regulamento do EMS (requisito juridicamente incontornável para a sua aprovação), a tutela (CMS) também não o adotou formalmente até hoje, o que, aliás, já implicaria uma atualização. Pergunta-se, então, sob que perspetivas é dada relevância ao património cultural na estratégia municipal de desenvolvimento, que espaço de discussão e de participação a CMS atribui à comunidade, qual o modelo de gestão patrimonial e, neste contexto, que papel é destinado ao EMS. O que foi entendido como componente de um protagonismo comunitário no projeto de criação do Museu Municipal do Seixal, se recuarmos ao início da década de 1980, expressou-se, sem dúvida, na respetiva definição da missão, vocação, perfil temático e propósitos de construção identitária. Ao longo das seguintes décadas e sempre que o EMS, cumprindo a sua missão, atualizou ou aprofundou, com a(s) comunidade(s), o (re) conhecimento do seu património (Varine, 1991) e impulsionou o seu inventário, restabeleceu-se uma dinâmica participativa em torno do Ecomuseu. Este correspondeu-lhe incrementando o trabalho de campo, facultados por meios e recursos municipais, através de uma equipa reforçada multidisciplinarmente até 2010. Nunca se pretendeu, nem tal seria possível, integrar no sistema do EMS todo o património cultural identificado ou em vias de reconhecimento, quer a nível da comunidade local, quer mediante proposta de proteção legal, para a qual se delinearam parcerias entre a CMS e outras instituições e empresas. Não identificamos, contudo, uma dinâmica de iniciativa comunitária que em ritmo constante ou por vontade independente, suplante os desafios dos profissionais e da equipa do museu. Portanto, num território em mudança, renovaram-se algumas comunidades apoiantes dos projetos do EMS, sem verdadeiramente desencadearem ou exigirem novas ações, sempre depositando a responsabilidade (e confiança) no órgão do poder local que assumiu a orientação política e a definição da matriz de desenvolvimento do território municipal, onde se proclama inscrita a missão do Ecomuseu. Até que ponto ainda perdura, da parte da tutela municipal, a abertura à experimentação e à inovação, que cremos ter fundamentado a aceitação da ideia de ecomuseu e o interesse em conhecer e adotar os princípios da ecomuseologia (e da nova museologia)? A designação de ecomuseu mantém-se por genuína vontade e determinação em implicar uma cidadania ativa na gestão do património e do EMS em particular? «Conquanto possa ter proporcionado alguma clarificação teórica das linhas de orientação preconizadas desde a criação do museu, mais do que influído diretamente na sua evolução, a nova denominação teve, sobretudo efeitos no meio museológico e profissional e na forma de mediatização, associada à novidade que a utilização do vocábulo constituía no nosso país e que a tutela até certo ponto aproveitou para transmitir a ideia de pioneirismo e de inovação da iniciativa museológica do município» (Filipe, 2004: 7). Apesar de mantida a prevalência da mesma matriz política na entidade de tutela, à medida das mudanças registadas no país e no território, também mudaram os perfis de competência (e decisão) na administração municipal e multiplicou-se o número de pessoas e de órgãos ou instâncias de gestão. Em maior número e mais dispersos, tornou-se cada vez mais difícil partilhar com eles a empatia pelas ideias renovadoras das práticas museológicas. Tornou-se também mais difícil implementar uma participação crítica em relação às questões do património cultural, no que concerne os próprios técnicos que nele intervêm (stakeholders), a par dos cidadãos interessados e comunidades detentoras do património natural e cultural, faltando igualmente meios de ativação dos processos de produção social e de construção e transmissão de memórias coletivas. 96 Realço, neste contexto, o problema da aceitação e do manuseamento de conceitos novos (ou diferentes dos que têm imediato enquadramento legal) e da maior ou menor abertura à inovação e experimentação, por exemplo, pressupondo a transdisciplinaridade ou a responsabilidade (e mesmo liderança, em certos projetos) assumida fora das cadeias hierárquicas (incluindo elementos exteriores à administração pública), aspetos que influenciam e frequentemente dificultam os circuitos de comunicação e pesam nas relações de poder. Nota-se ainda a pouca relevância que na prática tem sido conferida aos instrumentos de gestão do EMS (plano estratégico, programa museológico, planos de atividade) ou a dificuldade em reconhecer a transversalidade de atuação que é requerida em termos de uma gestão patrimonial sustentável e a importância e papel do museu, desde logo na capacitação da comunidade para tomar parte nesse processo dinâmico. A tendência de compartimentação de eixos de atuação e, consequentemente, a dissociação de vertentes que impedem a compreensão holística e a concretização de estratégias sobre uma mesma realidade, constituem outro problema em vários campos ligados ao EMS. Por exemplo, no que toca o turismo, seria lógico estabelecer uma ligação operacional e estimular a conceção de estratégicas convergentes, se não mesmo intersectoriais, uma vez que o património natural e cultural é reconhecido como a principal âncora dos programas de desenvolvimento turístico no concelho do Seixal. O caso do património marítimo-fluvial merece particular referência e as boas práticas do EMS justificariam um esforço de continuidade. O Ecomuseu conseguiu estabelecer parcerias importantes desde a década de 1980 e consolidou-as, particularmente na década de 2000, tornando-as tão diversas quanto a representatividade temática, geográfica e cultural exigia neste domínio de interpretação e de salvaguarda de património, comum ao estuário do Tejo e às suas comunidades e não apenas do território concelhio. Creio que esta seria uma área do Ecomuseu a avaliar criteriosamente e a incentivar, no que diz respeito tanto à dinâmica comunitária, como à articulação de programas e de colaborações institucionais e associativas, que deveriam participar nessa avaliação em conjunto com a equipa técnica. «É ao preço dessa constante e voluntária discussão dos ecomuseus por seus próprios agentes e seus animadores que o processo criador favorável ao progresso da instituição como instrumento de desenvolvimento comunitário será desencadeado e perpetuado» (Varine, 2000: 77). É indubitável que o Ecomuseu construiu fortes laços com sectores diversos da população e contribuiu para a criação de raízes por parte de comunidades em torno do património, mas a superação da falta de iniciativa passa por atribuir àquelas um papel e uma responsabilidade, se necessário juridicamente consignada, na gestão patrimonial. A constituição de um grande acervo e a dificuldade de controlo das incorporações, principalmente devido a critérios demasiado amplos ou, como no caso do EMS, pela tentativa de dar resposta às expectativas das próprias comunidades em relação à patrimonialização de uma significativa diversidade de testemunhos materiais, pode tornar-se também um constrangimento para a renovação do museu e uma limitação à adoção de uma programação na perspetiva de inovação e de transformação das relações sociais (Desvallées e Mairesse, 2011: 552-553). O debate sobre a patrimonialização e os problemas da gestão patrimonial, fazendo o balanço de três décadas do museu municipal/EMS, parecem-me aspetos cruciais não só para compreender as mudanças no território e avaliar ou repensar as políticas públicas (e municipal), como também, comparando o Seixal com outras experiências, para indagarmos a validade e pertinência de alguns conceitos e princípios ideológicos – como os da função social dos museus e da iniciativa e protagonismo comunitário para o património - quando limitadamente aplicados. Por mais diversificados que sejam os contextos e as abordagens conceptuais a partir das quais tentamos fazer uma leitura de cada realidade, por exemplo, em Portugal e no Brasil, o diálogo sobre diferentes experiências e a pesquisa de ferramentas para 97 uma análise comparativa certamente nos trarão mais-valias. Assumindo a transformação dos museus à luz de mudanças transversais às nossas sociedades e ao mundo global, precisamos de identificar de forma muito específica as respostas criativas para a salvaguarda e a valorização do património, em lugares e circunstâncias temporais particulares, que traduzam as necessidades das comunidades e que contribuam para as estruturar e reforçar (Watson, 2008). Quarenta anos depois da Declaração de Santiago, vale a pena recordar como emergiram alguns novos paradigmas que hoje continuam a mudar o mundo dos museus e, com estes, o universo patrimonial. Hugues de Varine, nossa constante fonte de inspiração, pelo pensamento crítico, renovação conceptual e orientação prática para a museologia comunitária, defendeu recentemente, no que diz respeito aos museus locais, a realização de um diagnóstico participado, convocando pessoas capazes e interessadas em participar em novos modelos futuros de gestão do património, mediante um plano de reordenamento e organização, à escala de cada território, envolvendo outras organizações, os cidadãos e os poderes públicos» (Varine, 2011). Num contexto em que seja operacionalizada a participação das comunidades e em que os museus se integrem em políticas públicas intersectoriais à escala dos territórios, sublinho a importância do modelo de gestão da instituição museal, ligada, como no caso do EMS, a uma reprogramação evolutiva e a um plano de salvaguarda do património, enquanto recurso de desenvolvimento local. Para além de assumir a transformação do museu, em ciclos dinâmicos de interação com as necessidades expressas pelos cidadãos, é imprescindível traçar linhas definidoras e identificar os fatores importantes de renovação, em caso algum aceitando o determinismo da carência económica. Até que ponto precisará a museologia comunitária (e os ecomuseus) de um enquadramento legal específico e distinto em relação aos museus comuns, com fins de estudo, de educação e de deleite? A gestão patrimonial, que tem estado frequentemente associada aos museus municipais, principalmente desde a década de 1980, como exemplifica a experiência do EMS e de tantos outros museus em Portugal, requerendo meios técnicos e humanos específicos e exigindo políticas intersectoriais, não pode pois estar confinada aos modos tradicionais de gestão dos museus locais. Tem de compreender as tarefas ligadas aos aspetos financeiros e jurídicos do património, às equipas técnicas multidisciplinares, assim como processos estratégicos e de planificação das atividades que valorizem os recursos patrimoniais. Não basta proclamar os museus como lugares de produção social (Chaumier, 2011) e pretender que a iniciativa comunitária seja génese de mudança. A cidadania e a participação comunitária não podem ficar simplesmente implícitas na missão dos museus, precisam de estar claramente inscritas no modelo de gestão e fazer parte de um compromisso que ligue todos os parceiros, sempre que possível inscrita na planificação estratégica do museu, visando definir e pôr em prática a sua missão como organização e adotando os objetivos em função de uma certa duração e de meios específicos, prevendo e assegurando a avaliação dos resultados, acompanhando as mudanças. 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LA CONSTRUCCION DE UN MUSEO RURAL COMUNITARIO: COMUNIDAD, TURISMO Y PROYECCION SOCIAL EN EL VALLE DE EL BOLSON Alejandra Korstanje y equipo*- Catamarca - Argentina Sebastián Carrera** RESÚMEN La propuesta tiene por objeto coordinar actividades de investigación y conocimiento popular en un espacio llamado "museo" pero que se proyecta más allá de ese concepto, donde la población rural pueda fortalecer sus capacidades e identidad. El proyecto se enfoca especialmente en la formación de los jóvenes, trabajando con ellos y desde ellos para organizar la memoria social de la comunidad. Los objetivos de este espacio son a la vez en el mantenimiento del patrimonio y la memoria, la educación y el desarrollo local como el turismo, la producción artesanal y la recreación social. ABSTRACT The proposal seeks to coordinate activities and popular knowledge in a space, incidentally called "museum", where rural people can strengthen their capacities. It specially focuses on young people training, trying to work with them to organize the social memory of the community. The objectives of this space are both on heritage and memory maintenance, educational, and local development such as tourism, artisan production and social recreation. * Instituto de Arqueología y Museo (UNT)/Instituto Superior de Estudios Sociales (CONICET/UNT), Tucumán/Coordinadora Museo Rural Comunitario (El Bolsón, Catamarca). Argentina [email protected] ** Grupo Amplio Salvatablas. Universidad Popular Madres de Plaza de Mayo/Relator Oficina de Probation, Poder Judicial. Buenos Aires, Argentina. [email protected] 99 Introducción: El Museo Rural Comunitario se creó en el año 2010, como parte de una iniciativa conjunta entre vecinos, municipio y equipo de arqueólogos/as que trabajaban en la zona desde hace casi 20 años. En realidad lo que ya se inauguró es una muestra que explica cómo trabajaremos en estos años para conformar un espacio de encuentro cultural y educativo (que llamamos “museo” sólo porque así se originó). En esta etapa estamos completando la concreción de este como espacio comunitario de comunicación, memoria y producción de nuevos proyectos educativos y productivos, generando un ámbito de interacción social que promueva el fortalecimiento identitario y de las capacidades de la población del Valle del Bolsón en dialogo con los equipos universitarios que colaboran en el mismo. La utilidad social de los museos rurales es una función de la cantidad y calidad de vínculos que éste pueda establecer entre el presente y el pasado. Esta situación cobra valor cuando el museo tiene en cuenta a la comunidad local desde su conformación y administración desde el comienzo, asumiendo un rol protagónico en la toma de decisiones. El trabajo con el grupo social conlleva a crear lazos fuertes de pertenencia y apropiación cultural, intentando impulsar un proceso identitario desde la propia comunidad, no solo en la génesis permanente, en la significación y resignificación de su pasado, sino en la apropiación del espacio físico y como promovedor de nuevas interpretaciones del conocimiento. Por ello, en este museo todas las actividades de investigación, registro audiovisual, histórico y patrimonial, así como las de promoción y museología son realizadas siempre en conjunto con los jóvenes de la región, para los cuales los mismos cuentan con capacitaciones previas. Presentamos aquí los fundamentos de este planteo, los avances del mismo en torno a las capacitaciones, y algunas ideas iniciales sobre cómo lograr una plena participación de la comunidad en la toma de decisiones. En tanto hay una gran mayoría de adultos que, al no haber sido escolarizada, generalmente se autoexcluyen de actividades y espacios donde lo verbal más academizado o lo escrito sea el vehiculo de comunicación. Es por ello que apelando a técnicas de improvisación grupal, donde lo que se expresa son sentimientos -contenidos y liberados- y se prioriza el buen entendimiento apelando a distintas expresividades, se puede llegar a las sensaciones primarias, opiniones pero orgánicas, autenticas, genuinas de la comunidad con respecto a lo que quieren representar y mostrar en este espacio cultural que es el “museo”. La situación actual: El Valle de El Bolsón (municipio de Villa Vil, Departamento Belén, Provincia de Catamarca, Republica Argentina) es un valle de altura considerado un área de tránsito entre dos regiones más importantes (la Puna y los Valles Bajos). La cría de ganado menor (cabras y ovejas) y el trabajo artesanal en lana y cuero es la actividad principal en el área rural. La mayoría de las familias cuentan con huertas que les sirve para el autoabastecimiento (principalmente maíz, habas, papas, zapallo). Si bien hay una tradición de realización de artesanías textiles, la comercialización es un limitante importante en el proceso de desarrollo de la zona. En general se comercializa en forma individual ya que los productores no están organizados. Los núcleos poblacionales son pequeños y no suman, en ningún caso, más de 20 familias. En general, las familias de los núcleos urbanos tienen ingresos extraprediales tales como empleos públicos, planes sociales, jubilaciones y pensiones. El resto de la población está dispersa y viven en puestos que se asientan en lugares donde existen fuentes de agua. La organización social y productiva es incipiente. Se cuenta con un gran potencial ya que la población está muy motivada a partir de la participación en ferias, talleres y otros eventos. Las familias están organizadas en 100 comisiones de capillas, de clubes y otros, dedicándose a promover actividades culturales, sociales y deportivas. Una característica particular que distingue la población de esta zona consiste en el mantenimiento de sus costumbres ancestrales, respetando profundamente sus tradiciones que forman parte de la memoria viva y cotidiana de la comunidad. Sólo la población de Los Morteritos está constituida como comunidad indígena de pueblos originarios, pero en todos los casos es una población campesina de raíces andinas. Dentro de las necesidades detectadas para el Valle del Bolsón se encuentran problemas que el fortalecimiento de la memoria local podría ayudar a comenzar a revertir, tales como: fragmentación y desarticulación social, migración de jóvenes hacia las ciudades, etc. La investigación arqueológica está desarrollada y hay equipos interdisciplinarios trabajando en estos valles desde hace casi veinte años, pero no así la experiencia museológica, que es reciente en el lugar. En ese sentido, el Museo Rural Comunitario pretende aportar al mantenimiento de la continuidad histórica, ser un estímulo a la producción y creatividad local, y potenciar las capacidades locales en la incipiente actividad turística a través del desarrollo de distintas actividades investigadas, organizadas y realizadas por los mismos jóvenes del lugar. Los proyectos en curso: El museo se enlaza con proyectos preexistentes de investigación científica, museológica, histórica y de extensión comunitaria, y pretende coordinar las diversas iniciativas que se nuclean en la promoción turística de esta zona, que constituye una posta de parada casi obligada en el circuito a la Puna. Así, desde el museo y para el museo se están llevando a cabo en este momento distintas acciones organizadas desde tres proyectos bajo a dirección de una de los autores (Korstanje)** y acompañadas por el Municipio y la Red Villa Vil††, que ya tienen a su vez otras iniciativas de tipo productivo y turístico para la zona. Entre las actividades específicas, pretendemos realizar un guión museográfico que sea no sólo consensuado con la comunidad, sino realizado con la participación activa de la misma. En ese sentido, toda la investigación necesaria para el mismo (entrevistas, historia oral, material audiovisual, material científico, inventarios, diseño museográfico, de material educativo y folletería) se realiza en conjunto con los jóvenes de la comunidad, que son capacitados en las diferentes habilidades y técnicas y que cobran un pequeño estipendio por su trabajo en el mismo. La parte innovadora se centrará en la producción audiovisual, de maquetería y recursos expositivos aprendiendo y adaptando la experiencia del Museu Rural de L’Espluga de Francoli (Catalunya, España), con el que trabajamos en convenio de cooperación a través del proyecto “Conversaciones” de Ibermuseos. Esto tanto de la muestra principal como en lo necesario para habilitar los circuitos turísticos y educativos relacionados. A su vez, se fortalecerá la comunicación local con la instalación de una Radio FM Comunitaria, donde la programación será exclusivamente realizada en la zona, y se capacitará en la logística para la obtención de permisos, generación de consensos y ** Los citados proyectos en curso son: 1) Hacia el fortalecimiento de la memoria desde un museo rural comunitario. IBERMUSEOS (O.E.I) “Conversaciones” (2011-2012); 2) Una posta cultural en el camino a la Puna: Centro turístico-cultural comunitario en El Bolsón, Municipio de VillaVil, Catamarca. Apoyo Tecnológico al Sector Turismo (ASETUR) MINCyT. (2012-2013); 3) Paisaje agrario, cultivos andinos e identidad. Interacción entre saberes científicos y redes de promoción social. PICT bicentenario. ANCyPT (2012-2014). †† La Red Villa Vil de Apoyo al Desarrollo Territorial para el Distrito de Villa Vil, está formada por el Municipio de Villa Vil, el INTA, la Fac. de Cs Exactas y Naturales de la Universidad de Catamarca, el Instituto de Arqueología y Museo de la Universidad Nacional de Tucumán, la Dirección de Ganadería de la Provincia de Catamarca y otras agencias para la producción, la Subsecretaría del Ambiente, la Comisión de Aborígenes, Escuelas, Comisiones de clubes deportivos, Comisiones de la capilla y Grupos de vecinos. 101 acuerdos duraderos sobre el uso del territorio y los recursos que se quieren poner a disposición de la visita turística. Además de concretar y fortalecer materialmente las tres líneas turístico-culturales ya en marcha (Museo, Circuitos de interpretación y Biblioteca), otros objetivos están diseñados para desarrollar una Yuyería y apoyar con logística y promoción a las ferias y fiestas ya existentes (tales como la Feria El Cambalacho y la Navidad de los Cerros), con el objetivo de articular a todas en un proyecto logísticamente solidario que empodere a la población local en el manejo de sus recursos y en la posibilidad de ampliar sus perspectivas económicas, laborales y educativas. Es importante para nuestro equipo el promueve el fortalecimiento identitario y de las capacidades de la población del Valle de El Bolsón a los efectos no sólo de acompañar con actividades innovadoras al incipiente pero importante flujo turístico a esta zona, sino y sobre todo para que puedan ser los actores principales en el negocio turístico mismo, que de lo contrario después es cooptado por agencias transnacionales o provinciales, que sólo ocupan a los lugareños en tareas menores, favoreciendo aún más el éxodo hacia las ciudades que tratamos de evitar. Es necesario aclarar que todas las actividades aquí incluidas han sido las solicitadas por la población local a través de las distintas instancias de talleres, reuniones y participación que se ha realizado a lo largo de los años de trabajo del grupo de arqueólogos/as y últimos tres años de trabajo en conjunto con la red Villa Vil. Esto constituye una de sus mayores fortalezas, conjuntamente con toda la investigación académica previa que se tiene para el área gracias a los proyectos ya desarrollados, y al aporte en la investigación especifica para los temas patrimoniales. Los ejes de las capacitaciones: Si bien los proyectos intentan acortar las distancias existentes entre la comunidad científica y la comunidad local, así como también de poner en valor el patrimonio desde un punto de vista integrado y a largo plazo, uno de los problemas identificados es la dificultad de consensuar con grandes grupos y con adultos rurales, no escolarizados. Por ello, la decisión de trabajar con los jóvenes se basa en que son considerados como “agentes sociales” promotores de cambio, siendo un estrato etario receptivo a las innovaciones que se planteen. Se trabaja con ellos para crear este centro comunitario, como un espacio polisémico, que adquiera diversas funcionalidades atendiendo a los intereses locales. Todo esto es tomado en cuenta con una doble misión: por un lado la de conformar un museo adaptado a dichos requerimientos y por otro para el cumplimiento de su función educativa desde una percepción participativa, apelando a una actitud activa (nivel cognoscitivo, intelectual y emotivo), a una perspectiva explicativa, haciendo énfasis en la preservación del patrimonio como configurador de la identidad local. Es así que se lo plantea como un espacio de reflexión, de apropiación y de reconocimiento por parte de la población local. Actualmente, la preservación y uso creativo del patrimonio cultural conforman elementos dentro del desarrollo económico y social de carácter trascendental en el desarrollo humano sostenible y deben utilizarse para mejorar la calidad de la vida de las comunidades, particularmente de los grupos desfavorecidos y sensibilizar a los jóvenes a través de la educación. Se plantean entonces diferentes líneas de capacitación para sostener esta proyección social (algunos de los cuales ya han sido llevados a cabo): 1. INVESTIGACIÓN EN HISTORIA ORAL: Rescatar las tradiciones orales y prácticas comunitarias, de manejo del ganado, el agua, las fiestas, los relatos, etc., que no solo son de importancia local sino que empiezan a cobrar un sentido más universal en la medida en que se van perdiendo en otras regiones del mundo por el avance de la globalización. (ya realizada) 2. ELABORACIÓN DE GUION MUSEOGRAFICO: Desarrollar el proyecto de guión museográfico de acuerdo a los temas consensuados ya en dialogo con la comunidad 102 con una adecuación al espacio y posibilidades del medio, pero buscando la excelencia discursiva y técnica. 3. PREPARACIÓN DE MUESTRAS Y EXPOSICIONES: Dar a conocer el patrimonio de la comunidad de El Bolsón con vistas a valorizarlo, democratizarlo y generar interés turístico por el lugar. 4. RECURSOS AUDIOVISUALES: Aprender a realizar entrevistas audiovisuales que relacionen a la comunidad con su historia y paisaje.(ya realizada) 5. INVESTIGACIÓN Y ELABORACIÓN DEL PROYECTO DE CIRCUITOS EDUCATIVOS: Plantear las bases y guión científico y técnico para los diferentes centros de interpretación propuestos por las comunidades locales (naturales, paleontológicas y arqueológicas). (ya realizada) 6. INVESTIGACIÓN Y ELABORACIÓN DEL PROYECTO DE BIBLIOTECA COMUNITARIA: Presentar un proyecto institucional de Biblioteca Popular como institución comunal activa en lo educativo para el de fortalecimiento de la juventud. 7. INVESTIGACIÓN Y ELABORACIÓN DEL PROYECTO DE YUYERÍA: Investigar la oferta de plantas medicinales locales, su producción sin quita y su comercialización, desde una perspectiva que apunte a recuperar y proteger el patrimonio natural y cultural, tangible e intangible. 8. COMUNICACIÓN Y DIVULGACION: Elaboración de la cartera de comunicación y divulgación específica para las exposiciones fija e itinerante iniciales y la Radio Comunitaria Consideraciones Finales: Crear un museo comunitario es generarlo por y desde la comunidad en un espacio común donde se integren y vinculen intereses colectivos que apelen al fortalecimiento de la identidad y puedan generar nuevas alternativas para el desarrollo social. A su vez, los museos como instituciones de educación permanente no formal, contribuyen con su acción al redescubrimiento y a la comprensión de un pasado natural y cultural, utilizan valores de identidad para confrontar a la persona con percepciones e informaciones sobre sí misma, sobre su pasado, su presente: sobre su proyección en el tiempo y espacio. La función del museo debe centrarse en poner a la población local en contacto con su propia historia, sus tradiciones y valores. La propuesta busca responder a inquietudes en torno a la preservación de la memoria y espacios comunitarios, surgidos de la interacción entre las comunidades científica y local en el Valle de El Bolsón. Bibliografía de referencia: BALLART Hernández J. y J.J. i Tresserras. 2005. Gestión del Patrimonio Cultural. ED Ariel Patrimonio. Barcelona. BONIFIGLIO, Medina y Gómez, 1996, Museo, Arqueología y Educación: El Proyecto Xanaes III etapa. II Jornadas de Etnolingüística. Rosario. CARRERA, S. 2007. Teatro Espontáneo y Psicodrama con presos. Campo Grupal : 10 Año 10 • Nº 94 • Octubre de 2007 CARRERA, S. 2011. http://www.alternativateatral.com/video1560-alternativa-teatral-tv24-laura-cedeira-a-sebastian-carrera-teatro-en-contextos-de-encierro HAEDO, A. 2006. Un Museo Comunal entre Arqueología y Patrimonio. 3° Encuentro Nacional de Estudiantes y Graduados en Museología. Organizado por: Museos Unidos de Salta, Secretaría de Cultura de la Prov. de Salta. HAEDO, A.; A. KORSTANJE; M. 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Os processos de musealização in situ são recentes na Amazônia e alvo de polêmica por não considerarem a sociedade em seu entorno, uma prática superada na teoria museológica e que provocou uma renovação na museologia, nos termos de Soares “As idéias advindas da prática da Ecomuseologia no mundo permitiram uma verdadeira transformação nas ações com o patrimônio mundial. Considerando os contextos locais, nasce uma nova ética que conjuga as pessoas e o meio de forma holista, enxergando a construção patrimonial num âmbito relacional” (Soares, 2008:90). Nosso estudo objetiva os processos de musealização considerando sua inserção e participação social das comunidades foco das áreas de estudo. Atuamos e atuaremos nas escolas das comunidades, e nos movimentos sociais que atuam nesta e demais moradores. A capacitação para geração de renda e uso do patrimônio como recurso para sua auto-sustentabilidadade são construídos de forma dialógica com a comunidade. Atuamos num museu de território e na área e experiências com potencial de musealização (Scheiner, 2011).O aporte teórico-metodológico da museologia e antropologia serão empregados para o desenvolvimento dos estudos, configurando uma perspectiva interdisciplinar imprescindível na abordagem de processos de musealização contemporâneos. Empregaremos a metodologia qualitativa com trabalho de campo realizando observação participante, entrevistas, registros visuais, história oral. Os resultados alcançados contribuem para a autoestima das comunidades envolvidas e assim para valorização de sua identidade cultural. Os dados retornam a comunidade na forma de comunicações orais, folders, vídeo documentários, exposições museográficas, oficinas de memória e patrimônio, ‡‡ Profª Msc. Da Universidade Federal do Pará com mestrado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, estudando coleções etnográficas nos Museus Goeldi e Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e atualmente doutoranda em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. 104 oficinas de capacitação e relatórios escritos. Além da formação teórico-prática dos discentes de museologia e artes visuais. Palavras-chave: Educação Patrimonial, memória coletiva, patrimônio cultural, inventário participativo. ABSTRACT Beyond the walls: Museum and collective memory Maria do Socorro Reis Lima - UFPA/UNIRIO The project Beyond the walls of museums UFPAUNIRIO develops a process to raise awareness of the valorisation of cultural heritage trying to grasp the understanding and use of the asset by the communities under study. Thus proposing the heritage education as a continuous and systematic process of educational work centered on Cultural heritage as a primary source of knowledge and individual and collective enrichment according to Horta (2003). The musealisation processes in situ are recent in the Amazon and target of controversy by not considering the surrounding society, a museum theory and practice overcome that caused a renovation in museology, under Soares "the ideas stemming from the practice of Ecomuseologia in the world has a real transformation in the actions with the world heritage. Considering the local conditions, rises a new ethics that unites people and middle terms form, seeing the construction sheet in a relational context "(Soares, 2008: 90). Our study aims at the Museum considering its social integration and participation of communities focus of study areas. We work and we in schools, communities and social movements who operate this and other residents. The training for income generation and use of resource to its heritage as auto-sustentabilidadade are so constructed Dialogic dynamics with the community. We operate a Museum of territory and on and experiences with potential for musealisation (Scheiner, 2011).The theoretical contribution of methodological and Museology will be employed for development anthropology studies, configuring an interdisciplinary perspective is essential in addressing contemporary musealisation processes. We employ qualitative methodology with fieldwork conducted participant observation, interviews, Visual records, oral history. The results contribute to the selfesteem of the communities involved and thus for recovery of their cultural identity. Data return the community in the form of oral presentations, folders, video documentaries, exhibitions, museográficas and memory workshops, heritage workshops and written reports. In addition to theoretical training-practice learners of museology and the Visual Arts. Keywords: heritage education, collective memory, cultural heritage, participatory inventory. RESUMEN Más allá de los muros del : Museo y memoria colectiva Maria do Socorro Reis Lima UFPA/UNIRIO El proyecto más allá de las paredes de los museos y UNIRIO UFPA se desarrolla un proceso de mejora de la conciencia del patrimonio cultural tratando de captar la comprensión y el uso de los activos de las comunidades en estudio. Así, propone una educación sobre el patrimonio como "un trabajo educativo permanente y sistemático 105 centrado en el patrimonio cultural como fuente principal de enriquecimiento del conocimiento individual y colectivo", según Horta (2003). Los procesos de musealización in situ en la Amazonia y están sujetos reciente controversia por no considerar la sociedad que les rodea, una práctica superada en la teoría museológica y provocó una renovación en la museología, según Smith, "Las ideas de la práctica de la ecomuseología mundial llevó a un cambio real en las acciones con el patrimonio de la humanidad.Teniendo en cuenta el contexto local, surge una nueva ética que combina personas y el enfoque holístico es así, ver la equidad de la construcción en un contexto relacional " (Smith, 2008:90). Nuestro estudio tiene como objetivo la musealización procesos teniendo en cuenta su integración y participación social de la atención de la comunidad de las áreas de estudio. Hemos actuado y actuará en las comunidades escolares y movimientos sociales que trabajan en este y otros residentes. La capacitación para la generación de ingresos y uso del patrimonio como recurso para la auto-sustentabilidadade se construyen diálogo con la comunidad. Operamos en un museo y el área de territorio y las experiencias con la musealización potencial (Scheiner, 2011). La museología teórica y metodológica y la antropología se utilizará para el desarrollo de estudios, el establecimiento de un enfoque interdisciplinario a los procesos contemporáneos esenciales musealización. Emplear una metodología cualitativa, con el trabajo de campo la realización de la observación participante, entrevistas, registros visuales, la historia oral. Los resultados contribuyen a la autoestima de las comunidades involucradas y por lo tanto a la mejora de su identidad cultural. Dos datos vuelven a la comunidad en forma de presentaciones orales, folletos, videos documentales, talleres exposiciones museográficas, la memoria y el patrimonio, talleres de capacitación y informes por escrito.Además de la formación teórica y práctica de los estudiantes de la museología y artes visuales. Palabras clave: educación sobre el patrimonio, la memoria colectiva, el patrimonio cultural, el inventario participativo. Além dos muros: musealização participativa Os processos de musealização in situ são recentes na Amazônia e alvo de polêmica por não considerarem a sociedade em seu entorno, uma prática superada na teoria museológica e que provocou uma renovação na museologia. As idéias advindas da prática da Ecomuseologia no mundo permitiram uma verdadeira transformação nas relações e consequentemente nas ações com o patrimônio mundial. Considerando os contextos locais, nasce uma nova ética que conjuga as pessoas e o meio de forma holista, enxergando a construção patrimonial num âmbito relacional (Soares, 2008:90). O estudo foca-se em áreas e experiências com potencial de musealização, ressaltando, sobretudo sua inserção social, conforme categoria de análise desenvolvida de prática museológica e patrimonial (Scheiner, 2011). As atividades serão realizadas com as escolas das comunidades em estudo e dos movimentos sociais que atuam nesta e demais moradores com ações para o desenvolvimento da educação patrimonial. Inicialmente a sensibilização na valorização do patrimônio cultural é fundamental nos processos de musealização considerando o inventário participativo na sua inserção social. O aporte teórico-metodológico da museologia e antropologia são empregados para o desenvolvimento dos estudos, configurando uma perspectiva interdisciplinar imprescindível na abordagem de processos de musealização e patrimonialização contemporâneos. 106 Os museus paulatinamente distancia-se do seu público o que é constatado pela discussão no Seminário regional da UNESCO no Rio em 1958 sobre a função educativa dos museus uma tentativa de redemocratização dos museus. O mesmo encontro, retoma o estudo da finalidade e organização dos museus no intuito de atender diferentes públicos adequando o discurso expositivo a comunicação nos museus. Maria Célia Santos acentua isso com base numa extensa revisão bibliográfica sobre a política cultural e preservacionista brasileira como tendo abandonado “toda a produção cultural de âmbito antropológico e social e a participação efetiva das comunidades na tentativa conjunta de preservar todos os signos culturais”. (Santos, 1996: 13) Do patrimônio tangível ao intangível: a noção de patrimônio como fato social total A noção de patrimônio§§ é retomada no contexto francês de constituição do Estado Moderno escolhendo o que seria preservado para representar a nação francesa (Choay, 2001). Contudo, a categoria patrimônio pensada em termos etnográficos enquanto “fatos sociais totais” noção que remete a Mauss (2003), como fenômeno de caráter social e cultural. Pensar assim a noção de patrimônio como fato social total é uma tentativa de buscar desnaturalizar e tornar menos onipotente os discursos e políticas de patrimônio cultural, segundo Gonçalves (2005). Nesse sentido, a noção de patrimônio poderia ser usada em termos comparativos considerando as categorias de ressonância, materialidade e subjetividade presentes nesta noção. Ressaltando seu caráter múltiplo em suas dimensões sociais e simbólicas. No caso da ressonância o autor refere-se a Greenblatt (1991) ao acentuar o poder de um objeto em atingir um universo mais amplo, de evocar no expectador as forças culturais complexas e dinâmicas das quais ele emergiu e na quais ele é, para o expectador representante. As categorias sensíveis (cheiro, paladar, tato, audição) mesmo eliminadas no processo de construção da memória e história para assim representarem memórias e identidades, se apresentam autonomamente à nossa revelia. A materialidade do patrimônio está presente nas relações sociais ou simbólicas, categoria ambígua que transita entre o material e o imaterial, reunindo em si as duas dimensões o tangível e o intangível. Cotijuba e Denpasa: Amazônia entre o tradicional e o moderno Realizamos o registro da memória social, além de ações de educação patrimonial retornando os dados a comunidade operária vinculada a um projeto desenvolvimentista da agro-indústria da dendeicultura, surgida no âmbito da SUDAM em 1965, depois licitado para DENPAL e comprada pela DENPASA situada na grande Belém em Santa Bárbara. A empresa DENPASA administrava não só o trabalho, como o lazer, a educação, a saúde dos operários. No entanto tratando-se de monocultura provoca a vulnerabilidade a pragas como o Amarelecimento Fatal que dizimou 1.500 hectares da plantação com isso os operários ficaram órfãos da empresa que administrava diversos setores de sua vida cotidiana como saúde, educação e trabalho. Buscam algo que substitua o papel da empresa no passado. O registro da memória suscitou a reflexão destes sobre o presente em que vivem (Relatório Proex/UFPA 2010, 2011 projeto Além dos Muros e relatório dos bolsistas). O estudo comparativo de uma área de agroindústria, a dendeicultura conhecida como Denpasa com outra comunidade com avanços na área ambiental como é o caso da 107 ilha de Cotijuba*** visa contribuir tanto para consolidar o Ecomuseu da Amazônia instalado em 2007, quanto para mostrar a força da organização civil para a comunidade da Denpasa e trocar experiências com os avanços das comunidades de Cotijuba. O Ecomuseu da Amazônia pretende ser um laboratório para outros museus de território (Varine, 2010). O que corrobora a Carta de Belém (2007) cujo direito à diferença, à singularidade, à pluralidade, à autodeterminação. Os habitantes de uma comunidade herdeiros e defensores da cultura,compreendidas como bem comum que integram as comunidades ao seu patrimônio e ao seu território, são legítimos detentores e proprietários desses bens. Desta forma, em comum nestas comunidades a questão da especulação imobiliária, desmatamento, poluição ambiental. Os hábitos e costumes tradicionais aos poucos vão sendo substituídos pela demanda do mercado no caso de Cotijuba a agricultura e a pesca dão lugar a atividades de diaristas, comércio para atender os novos moradores da cidade. Os trabalhadores da dendeicultura deixaram a dendeicultura também para trabalhar em outras atividades, poucos continuaram no ramo. A propriedade não é uma categoria ecológica, mas uma relação culturalmente criada que ocasiona não somente conexões entre pessoas e coisas mas além disso conexões sociais entre as pessoas. O que nos leva a Marx, para quem a propriedade e a divisão social do trabalho são expressões idênticas (Wolf, 2003). Ecomuseu na visão de Priosti (2000) constitui uma ação ou um conjunto de ações e um processo museológico promovido por uma comunidade num espaço vivido que assume a preservação consciente e responsável do patrimônio natural e cultural, ou seja, um instrumento usado pela comunidade criado para o seu desenvolvimento sustentável. No contexto da reformulação do papel social dos museus a partir da renovação na museologia se deu a implantação do Ecomuseu da Amazônia no Distrito de Icoaraci (Belém, Pará), durante um Seminário promovido pela Prefeitura Municipal de Belém, através da Secretaria Municipal de Educação (SEMEC), realizado no período de 08 a 10 de junho de 2007 (Oliveira, 2009). As atividades do ecomuseu da Amazônia tem sido direcionadas para fomentar o desenvolvimento sustentável a partir do conhecimento tradicional das comunidades intercambiando com outras Novas tecnologias que respeitem o conhecimento tradicional e o meio ambiente são sugeridas para as comunidades assistidas pelo ecomuseu ao mesmo tempo em que atividades de educação patrimonial são desenvolvidas até o momento de atuação do ecomuseu como o IV Encontro de Ecomuseus e museus comunitários com o tema da Capacitação de Atores Locais. REFERÊNCIAS CHOAY, François. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, 2001. 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EL ECOMUSEO COMO COMUNIDAD EDUCADORA: UNA ALTERNANTIVA DE DESARROLLO SUSTENTABLE PARA EL PATRIMONIO NATURAL Y CULTURAL DE MEXICO CON BASE EN LA EDUCACIÓN-ACCIÓN * Raúl Méndez Lugo , Centro INAH, MEXICO RESÙMEN El concepto de “Ecomuseo como Comunidad Educadora” constituye una nueva experiencia de la nueva museología mexicana, que tiene como fundamento la relación tricategorial de Territorio-Patrimonio-Comunidad. Actualmente se está instrumentando en la ciudad de Ixtlán del Río, en el estado de Nayarit, México, rescatando la experiencia de 30 años del movimiento de creación y operación de museos comunitarios en la república mexicana. El Ecomuseo como Comunidad Educadora surge a partir de un diagnóstico nacional elaborado a solicitud de la oficina de la UNESCO en México, donde se hace un análisis detallado de las fortalezas y debilidades, así como de la tipología de los museos comunitarios existentes en las principales regiones de México. En este diagnóstico nacional se destaca como conclusión principal, que la mayoría de los museos comunitarios mexicanos reproducen en mayor o menor medida las características esenciales de la museología tradicional, cuyo “modus operandi” se sustenta en la relación Edificio-Colección-Público. Ante esta situación, algunos militantes de la nueva museología en Nayarit, coincidimos en la necesidad de elaborar una nueva propuesta teórico-metodológica para fortalecer y consolidar la vigencia de la museología social comunitaria en nuestra región. Para ello, fue importante reconocer con un verdadero espíritu autocrítico que la nueva museología mexicana había tomado distintas direcciones, las cuales iban desde la conformación de un museo comunitario de corte “institucional”, con fuerte presencia de las instancias gubernamentales en detrimento de la participación comunitaria, hasta os museos comunitarios sustentados en la participación comunitaria pero padeciendo la marginación de apoyo de las políticas gubernamentales. En consecuencia, El Ecomuseo como Comunidad Educadora o Museo Comunitario Territorial, se propone fundamentalmente ser una alternativa que garantice la organización y participación comunitaria, es decir, consolidar el proceso de autogestión social en la investigación, conservación, valoración, difusión y puesta en valor del patrimonio natural y cultural de las comunidades, al mismo tiempo tener la convicción que es necesario aprovechar al máximo los apoyos existentes en materia * Raúl Andrés Méndez Lugo - Centro INAH Nayarit, México, [email protected], www.minommex.galeon.com. Proyecto Especial Ixtlán del Rio Jala – TEPIC – San Blas-Santiago Ixcuintla – Acaponeta – Nayarit , México - 2011-2017 110 de política cultural a nivel federal, estatal y municipal, de esta forma, trabajar en mejores condiciones y lograr con mayor éxito los objetivos de la museología social que hemos decidido impulsar y promover en la región, con la perspectiva de contribuir con nuestra experiencia en el resurgimiento de la nueva museología nacional e internacional. ABSTRACT THE ECOMUSEUM AS A COMMUNITY EDUCATOR- A SUSTAINABLE DEVELOPMENT ALTERNANTIVA FOR THE HERITAGE OF MEXICO BASED IN EDUCATION-ACTION* The concept of “Ecomuseum as a Community Educator” is a new experience of the new mexican museology, which has as its foundation the relationship tricategorial of Land-Heritage-Community. Currently being implemented in the town of Ixtlan del Rio in the state of Nayarit, Mexico, capturing the experience of 30 years of the movement of creation and operation of community museums in the Mexican Republic. The Ecomuseum as a Community Educator arises from a national study prepared at the request of the UNESCO office in Mexico, where a detailed analysis of the strengths and weaknesses as well as the type of existing community museums in the major regions Mexico. In this national study stands out as a main conclusion, that most Mexican community museums play a greater or lesser extent the essential features of the traditional museum, whose "modus operandi" is based on the relation BuildingCollection-Public. In this situation, some members of the new museology in Nayarit, agreed on the need to develop a new theoretical-methodological proposal to strengthen and consolidate the social life of the museum community in our region. This was important to acknowledge a true self-criticism that the New Mexican museology had taken different directions, which ranged from the creation of a community museum cutting "institutional", with strong presence of government agencies to the detriment of community participation to community museums supported by community participation but suffer marginalization of support from government policies. Consequently, as a Community Educator The Ecomuseum or Territorial Community Museum, aims primarily be an alternative to ensure the organization and community participation, ie to strengthen the process of social self-management in research, conservation, evaluation, dissemination and appreciation of natural and cultural heritage of communities, while having the conviction that it is necessary to maximize existing support in cultural policy at the federal, state and municipal levels, thus work better and achieve more successful social objectives of the museum we decided to develop and promote in the region, with a view to contributing our experience in the resurgence of the new museum and abroad. EL ECOMUSEO COMO COMUNIDAD EDUCADORA: UNA ALTERNANTIVA DE DESARROLLO SUSTENTABLE PARA EL PATRIMONIO NATURAL Y CULTURAL DE MEXICO CON BASE EN LA EDUCACIÓN-ACCIÓN I. INTRODUCCIÓN México es una nación pluricultural, multiétnica y plurilingüe, su patrimonio arqueológico, histórico, artístico y etnológico constituye un elemento fundamental de * Special Project Ixtlan del Rio – Tepic- San Blas- Santiago Ixcuintla-Acaponeta – 2011-2017 – Nayarit México 111 su identidad, sin embargo, las acciones que desarrolla el Gobierno de la República para su investigación, conservación y difusión son importantes pero insuficientes, lo cual ha generado una legítima preocupación cada vez mayor de los gobiernos de los estados y de los municipios en asumir su responsabilidad en proteger, conservar y dignificar el extenso y rico patrimonio cultural que poseen. México también se ha distinguido a nivel internacional, por ser un país que ha respondido oportunamente a los acuerdos y disposiciones que en materia de investigación y conservación del patrimonio natural y cultural se han logrado suscribir en diversas reuniones convocadas por los organismos rectores que existen a nivel mundial, como la ONU y la UNESCO, ejemplos importantes sobre lo anterior han sido las reuniones de Atenas en 1931, de Venecia en 1964, Roma en 1968, Estocolmo y París en 1972 y de México en 1976. * Hoy más que nunca, el patrimonio natural y cultural de México debe protegerse y conservarse ante los procesos de globalización económica y cultural que, día con día, se profundizan más y ocupan un lugar importante e insoslayable en la agenda para el desarrollo de las naciones. Investigar, conservar y difundir el patrimonio natural y cultural de México es y debe seguir siendo un asunto de interés público y nacional, el papel rector de Estado es básico y no se discute, considerando que las nuevas estrategias que instrumenta para su desarrollo deben contemplar la participación activa y comprometida de los gobiernos de los estados y los municipios, de la iniciativa privada local y nacional, de las instituciones de educación superior y, por supuesto, de la sociedad civil en sus diversas formas de organización tradicional y/o legalmente constituidas. Participar todos en esta estratégica y noble tarea de proteger y dignificar el patrimonio natural y cultural, no ha sido una tarea fácil, ya que los recursos económicos con que se cuenta para ello no han sido suficientes, en el contexto de un país que tiene como prioridad atender el rezago histórico que padece en materia de bienestar social. Sin embargo, lo anterior no debe constituir un pretexto para detener la construcción del camino abierto que durante años el gobierno y sus instituciones han desarrollado en este ámbito de la política cultural. Con base en lo anterior, se propone un concepto teórico-metodológico y de ejecución práctica que puede coadyuvar directamente en el desarrollo sustentable en la investigación, conservación, restauración y difusión del patrimonio cultural de México. En este caso, cuando se habla de desarrollo sustentable, debe entenderse, en primer lugar, como un proceso que reúne un conjunto de acciones que garantizan que las ideas se concreticen en hechos consumados; en segundo lugar, que se establezca una relación armónica entre las tareas de conservación del patrimonio cultural, la protección del medio ambiente y el desarrollo económico-social de la población objetivo poseedora de dicho patrimonio y, en tercer lugar, tomando en cuenta los resultados exitosos obtenidos en diversos países, principalmente europeos, de la relación fructífera que ha tenido la actividad educativa y turística con el patrimonio natural y cultural, el desarrollo sustentable también debe entenderse como sinónimo de autosuficiencia, en este caso, se tiene la convicción de que la relación patrimonioeducación-turismo constituye una acción autofinanciable. Conservar por conservar no tiene sentido, es por ello que las tendencias actuales que promueven la dignificación del patrimonio natural y cultural, proponen que toda acción de toma de conciencia debe llevar implícita una acción de sustentabilidad, sin ello la investigación, conservación y difusión del patrimonio sería una tarea infructuosa, una inversión que nadie conscientemente está dispuesto a realizar. El concepto teórico-metodológico y de ejecución práctica que se propone se conoce con los nombres de Ecomuseo, Museo Territorio o Museo Comunitario Territorial, que 112 a fin de cuentas es lo mismo en su objetivo fundamental. Este concepto nace y se profundiza en el ámbito del quehacer museológico internacional, siendo los museólogos Georges Henri Riviére y Hugues de Varine dos importantes fundadores de la ecomuseología a nivel mundial. En México, desde los años setentas, los museógrafos Mario Vázquez e Iker Larrauri inician proyectos experimentales de museología social, surgiendo a partir de ello un gran movimiento que configura el ahora conocido MUSEO COMUNITARIO TERRITORIAL en todo nuestro país. Se puede afirmar de manera simbólica que, Francia aportó la dimensión espacial y México la dimensión social que nutre la praxis actual del movimiento de la nueva museología que representan los Ecomuseos y Museos Comunitarios. II. TEORÍA Y MÉTODO DEL ECOMUSEO O MUSEO COMUNITARIO TERRITORIAL El Ecomuseo o Museo Comunitario Territorial como una comunidad educadora para la acción, está constituido por tres esferas íntimamente relacionadas que forman una intersección básica, de donde se deriva toda la concepción teórica y metodológica. Las tres esferas son: 1. El Territorio. 2. El Patrimonio Natural y Cultural y, 3. La Comunidad Organizada. El Museo Comunitario Territorial o Ecomuseo va entender a la CULTURA como el conjunto de formas singulares que presentan los fenómenos económicos, políticos y sociales, tangibles e intangibles, de un grupo social, pueblo, comunidad, región o nación en un tiempo y espacio determinado. Se puede afirmar que el patrimonio constituye la herencia, el legado que una generación proporciona a las siguientes, ese conjunto de creencias, costumbres, formas de pensar, idioma, edificios, manifestaciones artísticas, tecnologías, conocimientos científicos, productos artesanales e industriales y, en general, los modos de vida que se derivan de la relación dialéctica existente entre la base económica y las formas de pensar (ideologías) de un pueblo históricamente determinado. Con los planteamientos más o menos recientes en torno a la educación y su relación con el patrimonio natural y cultural de los pueblos, la UNESCO ha generado un nuevo concepto conocido como “Ciudad Educadora” (*), el cual ha sido adoptado e integrado inmediatamente en el contexto del marco teórico de la museología social que hemos venido desarrollando desde hace veinte años en el estado de Nayarit, sin embargo, por cuestiones estrictamente metodológicas preferimos llamarle “Comunidad Educadora”, lo cual implicó algunos cambios conceptuales mínimos pero necesarios para llevarlo a la práctica en cualquier asentamiento humano sea o no con las características de una ciudad, de esta manera nos serviría para trabajarlo en pequeñas y medianas poblaciones como son las comunidades indígenas, los ejidos, pueblos, villas y ciudades del estado de Nayarit y, por supuesto, en cualquier parte de México y del mundo. Con esta concepción del ecomuseo como “comunidad educadora”, también se ha considerado importante buscar un punto de partida para iniciar el proceso promocional que nos debe llevar a la creación de un museo comunitario territorial, identificando a la escuela o escuelas de educación básica existentes en la comunidad-objetivo, de esta forma estaríamos fortaleciendo simultáneamente el ordenamiento constitucional de que la educación que imparta el estado mexicano debe ser una “educación integral”, cuestión que sólo se puede lograr uniendo los preceptos de la educación formal con la educación no formal, es decir, en este caso, lo que aporta la escuela más lo que aportaría el ecomuseo o museo comunitario territorial. En consecuencia, podríamos decir que el proceso de creación del ecomuseo o museo comunitario territorial iniciaría con la organización de un primer grupo de trabajo constituido por alumnos, maestros y padres de familia de las escuelas de educación básica (preescolar. primaria y secundaria), de ahí estaría partiendo la ampliación 113 paulatina pero progresiva del radio de influencia y acción del proceso promocional para la organización comunitaria en torno a la creación del ecomuseo, como un recinto educativo y cultural cuyo propósito central es contribuir en los procesos de enseñanzaaprendizaje sobre los contenidos que inciden en el fortalecimiento de la identidad histórico-cultural de los pueblos o de una región determinada, dicho proceso de enseñanza-aprendizaje como parte de un contexto mayor cuya columna vertebral sea la promoción, organización y concientización comunitaria, tendríamos como resultado un conjunto de acciones orientadas al mejoramiento de la calidad de vida de la población en general, entendiendo a la educación como un ejercicio de reflexión colectiva sobre el pasado, presente y futuro de la comunidad. III. APUNTES METODOLÓGICOS PARA LA CREACIÓN DE UN ECOMUSEO COMO COMUNIDAD EDUCADORA La creación del ecomuseo tiene como columna vertebral un concepto que, sin duda, es el más importante y de él dependerá el éxito de nuestro trabajo en la comunidad, me refiero al concepto de Promoción Social. ¿ Pero que debemos entender por Promoción Social ? Por promoción social debemos entender el proceso de sensibilización y organización comunitaria que permite detectar a las personas, familias y grupos clave que conformarán el grupo, comité o junta vecinal que impulsará la creación del ecomuseo, así como establecer las estrategias de organización para la planeación y ejecución de todas y cada una de las actividades que hacen posible la creación y funcionamiento del mismo, es decir, la promoción social es el proceso teórico y metodológico que investiga, valora, organiza, planea e impulsa las actividades necesarias para imaginar y hacer realidad la existencia del ecomuseo. El Encuentro de Ecomuseos, celebrado en Biella (Italia) en octubre de 2003, país que se ha destacado por el impulso de este tipo de espacios museísticos, logró exitosamente que se analizara ampliamente la situación y las perspectivas de los ecomuseos italianos, como una forma alternativa de investigar, conservar, valorar, dignificar y difundir el patrimonio natural y cultural de los pueblos y regiones, llegando a las conclusiones siguientes: El ecomuseo es “una realidad que nace y crece por deseo de la comunidad”. Lo cual implica la no imposición por parte de agentes externos, que solo deben prestar apoyo profesional para organizarlo. La participación de la población que habita el territorio donde se desarrolla el ecomuseo es fundamental para la toma cotidiana de decisiones que eviten situaciones conflictivas. Un territorio determinado, convertido en ecomuseo, debe prever una actividad de investigación (en su dimensión cultural, ambiental y económica) para mantener el control sobre la evolución del mismo. Los ecomuseos no solo deben resaltar la cultura material, sino que tienen que jugar un rol destacado tanto el aspecto etnográfico como el antropológico. Los ecomuseos no solo rescatan la memoria, sino que por su relación con el territorio, se constituyen en un vínculo entre pasado, presente y futuro, intentando ser una especie de barrera contra el avance de la globalización. Los proyectos de ecomuseos implican la puesta en marcha de un proceso participativo de aprendizaje. Por otra parte, los ecomuseos deben evitar la “mercantilización” del patrimonio, programando el desarrollo económico sustentable del territorio, identificando nuevas profesiones y propuestas turísticas (educativas), siempre teniendo como eje central la calidad de vida de la población. 114 A hora bien, si estamos de acuerdo que el ecomuseo es un instrumento de educación para la acción, además de ser un espacio cultural que se construye con la participación comunitaria, es decir, desde abajo, entonces debemos entender que para lograrlo va ser necesario conocer y aplicar los conceptos teórico-metodológicos que se definen a continuación: 1. Investigación Participativa, que no es otra cosa que una metodología específica que permite que la comunidad misma investigue los temas y problemas que considera importante rescatar, discutir y exponer como función primordial del ecomuseo, para ello se utilizarán todas las fuentes de información que tenga a su alcance, como son las de tipo biblográficas, hemerográficas, de archivos públicos y particulares, fotográficas y, sobre todo, las de tradición oral, siendo esta última, la más utilizada en la museología social, pues la memoria de los abuelos y nuestros padres, es fundamental para reconstruir el pasado reciente, así como conocer diversas opiniones sobre problemáticas del presente, sin descartar que toda la población, ya sean niños, jóvenes, adultos y ancianos, somos capaces de imaginar y dar nuestro punto de vista sobre el futuro que queremos, con esto queremos decir, que el ecomuseo debe contemplar como sus contenidos, tanto el pasado como el presente y futuro de la comunidad. 2. Cultura Popular o Subalterna, que a diferencia de la cultura de los sectores sociales dominantes y de la cultura de masas que crean y difunden los medios masivos de comunicación, la cultura popular se define como el conjunto de testimonios o manifestaciones singulares, tanto materiales como espirituales, que caracteriza a los individuos y grupos sociales del campo y la ciudad, como es el caso de indígenas, campesinos, artesanos, pescadores, colonos, obreros, entre otros. Por eso dicen algunos autores, que la cultura popular o subalterna es la cultura de los de abajo, de los sectores sociales mayoritarios en una formación económica-social cuya naturaleza genera desigualdad, pobreza y marginación, dicho en otras palabras, la cultura popular es la cultura del pueblo. 3. Formación Regional, este concepto nos servirá para ubicar y entender hasta donde somos una comunidad, tomando en consideración aspectos como territorio, idioma, cultura e historia común, pero sobre todo, por el tipo de relaciones sociales, económicas y políticas que se establecen en un tiempo y espacio determinado. 4. Educación Popular, concepto que se puede definir como el proceso de enseñanzaaprendizaje que promueve y genera el pueblo de manera informal, proceso que tiene como finalidad rescatar, valorar, conocer, preservar y difundir su propia forma de concebir el mundo, y en su caso, transformarlo. En ese sentido, afirmamos que el ecomuseo es un poderoso instrumento de educación popular para que con base en la cultura incida o coadyuve en mejorar las condiciones de vida de la población y su desarrollo. 5.Comunitaria, es una disciplina de las ciencias sociales y de la educación cuya misión es diseñar y producir un ecomuseo o museo territorial con base en los recursos materiales, financieros y humanos con que cuenta la comunidad, pero sobre todo, el uso de su creatividad colectiva y el aprovechamiento de los recursos naturales y culturales que posee. Tomando en consideración lo que hemos expuesto sobre la concepción teórica del ecomuseo. el museólogo Pierre Mayrand, después de muchos años de trabajar la museología social en Quebec, Canadá y fungir como unos de los ideólogos más importantes del Movimiento Internacional para una Nueva Museología -MINOM-, 115 organismo afiliado al Consejo Internacional de Museos de la UNESCO, establece con una claridad sorprendente, lo siguiente: El ecomuseo, lo que no es: - no es el estado de la comunidad en un instante dado; no es reconstruir de manera estática el pasado; no es un museo etnológico o etnográfico; no es una decisión impuesta a una comunidad; no es un simple recurso turístico; no es tampoco un jardín zoológico de seres humanos; no pertenece al campo de la museología convencional; no es el resultado de una moda. El ecomuseo, lo que puede ser: - se construye con la población; - se construye a partir de un territorio de pertenencia; - se construye a partir de un patrimonio vivo; - incluye los nuevos legados al patrimonio de pertenencia; - integra sus contribuciones culturales a la cultura de origen; - su presencia, cuando avanza un determinado tiempo, es inmediatamente perceptible por las energías que emanan; - encomienda el respeto por parte del visitante, provocando un sentimiento de afecto para el otro; - es una puerta grande abierta en lo que se refiere al imaginario colectivo que solo pide revelarse; - sus funciones de conservación y reconstrucción de la memoria son fuertemente impulsadas por la creación; - El ecomuseo como la seta, se reconoce según sus características; - El ecomuseo venenoso: es un patrimonio puesto debajo de una campana de vidrio. Líneas de trabajo: 1. Documentar los principales hechos o sucesos históricos de cada municipio o territorio a considerar, desde la época prehispánica hasta nuestros días, generando una cronología básica, breve pero sustanciosa sobre dichos acontecimientos históricos, al mismo tiempo que ello derive en la elaboración de un texto sobre las principales efemérides de los respectivos lugares a trabajar. 2. Identificar y documentar lo mejor posible sobre las principales edificaciones existentes en dichos territorios, las cuales tengan una relación directa con los hechos y sucesos históricos antes mencionados. 3. Identificar y documentar la vida y obra de los principales personajes de la historia local y regional, especialmente aquellos que nacieron y que hayan destacado con sus acciones y obras a nivel municipal. Es muy importante contemplar aquí a los personajes que en la actualidad desempeñan una actividad significativa en el ámbito económico, social, político, cultural y artístico. 4. Identificar y documentar las principales manifestaciones de tipo cultural y artísticas en el territorio propuesto para el ecomuseo, tanto las ya desaparecidas como las hoy vigentes, como pueden ser las fiestas tradicionales, costumbres y creencias, anécdotas y leyendas, oficios, profesiones, talleres artesanales, actividades productivas mayores, fenómenos o catástrofes naturales, creaciones o presencias artísticas de cualquier tipo, gastronomía local, establecimientos comerciales, inventos populares, lugares de reunión formales e informales, acontecimientos que se dieron 116 por primera vez en la localidad (como puede ser la introducción eléctrica, la primera clínica de salud, la primera escuela, el primer automóvil, la primera televisión, el primer maestro y médico, el primer teléfono, el primer molino, etc.), ubicación de caminos reales o antiguos, etc. 5. Identificar y proponer los lugares donde deberá instalarse una placa o palmeta informativa con respecto a los hechos y sucesos históricos más importantes, edificaciones antiguas y contemporáneas, fiestas y tradiciones, talleres artesanales, oficios, monumentos, anécdotas curiosas pero que ilustran un suceso interesante o simbólico, lugares de nacimientos y fallecimientos de personajes ilustres o significativos de la comunidad, nombres antiguos de las calles y establecimientos de cualquier tipo. 6. Identificar y proponer los lugares donde se pueden instalar o fabricar pinturas murales al fresco o en bastidores en la vía pública o en interiores de edificios públicos, así como también crónicas, poemas o cualquier texto literario. cuya temática sea sobre la historia, manifestaciones culturales o cualquier tema que sea significativo para la comunidad. 7. Identificar y documentar escenarios o paisajes naturales, así como la flora y fauna de la localidad, ya sea originaria o típica de la región o en su caso, proveniente de otras regiones del estado, del país o del extranjero, como es el caso de las aves migratorias, cultivos exóticos, granjas o criaderos de animales, etc. 8. Identificar y proponer proyectos complementarios en torno al mejoramiento de la imagen urbana, para enfrentar y erradicar problemas sociales, cursos y talleres de formación artística individual y grupal, de oficios y actividades diversas que se consideren necesarios para un mejor funcionamiento integral del Museo Comunitario Territorial o Ecomuseo. 9. Identificar y proponer los elementos que le darán identidad propia (imagen corporativa o institucional) al proyecto del Ecomuseo, imagen que se incorporará a la señalética de orientación vial, placas, palmetas y porta cedularios que documentarán el patrimonio natural y cultural de la localidad, así como a todas las publicaciones y documentos relativos al proyecto en su conjunto. 10. Identificar y proponer los puntos de entrada y salida del Ecomuseo o Museo Comunitario Territorial, así como los puntos de inicio y término de las rutas internas del mismo, con el objeto de proponer los elementos que contribuyan a identificar la existencia de dichas rutas, así como sustentar la explicación didáctica de los acervos patrimoniales que expondrá el Ecomuseo de la localidad a través de cada una de sus rutas propuestas. VII. BIBLIOGRAFÍA CONSULTADA ÁRBOL, Ed.- Participemos en el Desarrollo de nuestra Comunidad, Col. Cántaro, México, 1982. 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ECOMUSEU DA AMAZÔNIA: A PRÁTICA DA PARTILHA DO PATRIMÔNIO * Maria Terezinha Resende Martins Ecomuseu da Amazônia - Belém - PA – BRASIL Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira * Maria Terezinha Resende Martins - Coordenadora do Ecomuseu da Amazônia e Coordenadoria de Desenvolvimento Comunitário - Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira; membro da Diretoria da ABREMC-2010/2012 (Diretora de Comunicação e Divulgação), [email protected]; [email protected]. 119 ABREMC-Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários-2010/2012 RESUMO O Ecomuseu da Amazônia é um Programa chancelado pela Prefeitura Municipal de Belém-PMB e Secretaria Municipal de Educação–SEMEC, com abrangência em quatro microrregiões distintas, sob a gestão da Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira-FUNBOSQUE, localizado no municipio de Belém, Estado do Pará. É pautado em interesses e aspirações das comunidades urbanas, rurais e ribeirinhas que as constituem, vem realizando e motivando a implementação de políticas de desenvolvimento que respeitem e preservem as características de cada região. Neste sentido, as ações são desenvolvidas a partir dos diagnósticos participativos efetivados com as comunidades, instrumento em que a população identifica seu patrimônio de forma participativa, permitindo coletar dados de maneira ágil e oportuna diferenciandose de formulários pré-estabelecidos. “Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local”, em desenvolvimento pelas comunidades com apoio dos técnicos do Ecomuseu da Amazônia, é uma das atividades elencadas pelos comunitários, a qual oficializou o início de uma proposta de capacitação de recursos humanos, biênio 2011/2012, permeia as ações implementadas no território, faculta os envolvidos no processo, a valorizar, desenvolver e/ou adquirir os saberes, os fazeres, as práticas e as técnicas que lhes permitirão tomar nas mãos seu próprio desenvolvimento, quer dizer, a melhoria de suas condições de vida, de modo sustentável e responsável. Assim, o campo de estudo do termo patrimônio a partir da interpretação de cada contexto tem como referência o ambiente na sua totalidade. A metodología do Ecomuseu da Amazônia é referenciada por eixos temáticos, prioriza desde as suas primeiras inserções no território um método de apropriação e partilha do patrimônio coletivo, assim como na pesquisa-ação. Desta forma, as ações deste Programa já sinalizam para resultados satisfatórios, quando instigam o fortalecimento de ações de base comunitária, suas respectivas lideranças e demais profissionais envolvidos por meio da capacitação de atores sociais e de uma cultura de participação ativa, cooperação e diálogo entre os diversos atores sociais, a partir da valorização do patrimônio cultural. Palavras-chave: Ecomuseu da Amazônia, programa de capacitação, desenvolvimento local, patrimônio cultural, comunidade. ABSTRACT The Ecomuseum of the Amazon region is a Program sealed by the Municipal Town hall of Belém-PMB and Municipal General office of Educação-SEMEC, with range in four microrregiões different, under the management of the Foundation School Wood Teacher Eidorfe Moreira-FUNBOSQUE, located in Belém, State of the Pará. It is ruled in interests and aspirations of the urbane, rural and riverside communities that appoint them, it is carrying out and causes the implementation of politics of development that respect and preserve the characteristics of each region. In this sense the actions are developed from the diagnoses participativos brought into effect with the communities, instrument in which the population identifies his inheritance of form participativa, allowing to collect data of agile and opportune way when established-daily pay is differentiated of forms. “Inheritance and Capacitação of the Actors of the Local Development ”, in development for the communities with support of the technicians of the Ecomuseum of the Amazon region, is one of the activities elencadas for the communitarian ones, which made the beginning of a proposal official of capacitação of human resources, biennium 2011/2012, permeate the actions implemented in the territory, allow the wrapped ones in the process, valuing, developing and / or acquiring to know them, to do them, the practices and the techniques that will allow them to take in the hands his development itself, it means, the improvement of his conditions of life, 120 of sustainable and responsible way. So the field of study of the term inheritance from the interpretation of each context takes the environment as a reference in his totality. The metodología of the Ecomuseum of the Amazon region is referenciada for thematic axles, prioriza from his first insertions in the territory a method of appropriation and share of the collective inheritance, as well as in the inquiry-action. In this way, the actions of this Program signal already for satisfactory results, when there incite the strengthening of actions of communitarian base, his respective leadership and too many professionals wrapped through the capacitação of social actors and of a culture of active participation, cooperation and dialog between several social actors, from the increase in value of the cultural inheritance. Keywords: Ecomuseum of the Amazon region, program of capacitacion, local development, cultural inheritance, community. APRESENTAÇÃO O Ecomuseu da Amazônia, constituído em 2007, é um Programa chancelado Prefeitura Municipal de Belém-PMB e Secretaria Municipal de Educação–SEMEC, sob a gestão da Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira-FUNBOSQUE, está pautado em interesses e aspirações das comunidades urbanas, rurais e ribeirinhas que as constituem, considera a memória colativa como um referencial básico para o entendimiento e a transformada da realidade presente na região. Faz parte de iniciativas cada vez mais fecundas, vivenciadas pela sociedade contemporânea, que passa por momentos de profunda transformada, causando mudança nos padrões de comportamentos e valores vigentes. Surgiu em decorrência da crise ambiental planetária e da necessidade de construir, junto com as populações de sua área de atuação – Distrito de Icoarací: bairro do Paracuri (Sociedade dos Amigos de Icoaraci-SOAMI e Orla/Cruzeiro); Ilhas de: Caratateua (Tucumaeira, Fama, São João de Outeiro e Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira); Cotijuba (comunidades do Poção, Seringal, Piri e Faveira) e Mosqueiro (Vila, Caruaru, Castanhal do Mari Mari e Assentamento Paulo Fonteles), localizadas no município de Belém, Pará. Neste sentido vem motivando a implementação de políticas de desenvolvimento que respeitem e preservem as características de cada região, e que desenvolvam iniciativas que integrem o homem ao seu meio ambiente. Medidas evidentes na metodologia utilizada pelos ecomuseus e museus comunitários, que apresentam-se pautadas em uma educação que conduz, a população envolvida ao processo de descoberta de seus próprios objetivos, e de engajamento nas questões sociais pertinentes ao mundo contemporáneo. Colocação ratificada por Aderne* (2004) “a ausência de políticas preservacionistas e a falta de percepção da condição humana de parte do sistema, dentre outras causas, levaram a uma situação em que somente a ameaça de destruição de ecossistemas possibilitou a compreensão de que sem meio ambiente não há vida”. O inventário As comunidades das áreas de atuação do Ecomuseu possuem características e especificidades próprias, e de um modo geral demonstram interesse em melhorar suas vidas, pessoal e sócio-econômica, bem como, sinalizam para a valorização de seus espaços, elementos motivadores que conduziram os envolvidos nesse processo, técnicos do Ecomuseu da Amazônia e populações do território a promoverem inúmeras possibilidades de identificar os patrimônios vivenciados nessas microrregiões, em busca de melhoria de vida. Neste contexto vem sendo realizadas visitas técnicas, desenvolvimento de experiências e pesquisas no Território do * Aderne, L. A origem e estruturação do Projeto Ecomuseu do Cerrado, “não paginado”. Entrevista concedida a então mestranda Terezinha Resende. Corumbá de Goiás, Goiás, 2004. 121 Ecomuseu da Amazônia, inicialmente pesquisa sócio-econômica, para obtenção do perfil dos comunitários. As atividades acontecem a partir de diagnósticos, da realização de oficinas de produção, pesquisas na área do patrimônio, memória social, formação de organizações sociais, geração de renda, exposições, etc. Os dados são coletados por meio do relato de atores sociais envolvidos nessas microrregiões, pesquisas realizadas por meio de outras instituições e disponibilidade de informações de instituições públicas atuantes nas áreas desse Museu Território. Assim as ações enfatizam o Diagnóstico Rápido Participativo-DRP, instrumento em que a população identifica seu patrimônio de forma participativa, permite coletar dados de maneira ágil e oportuna diferenciando-se de formulários pré-estabelecidos que possam ser utilizados tendenciosamente. Esta proposta é desenvolvida inicialmente por meio de uma oficina com os habitantes representativos da comunidade trabalhada; e para que o processo tenha fidedignidade e valor estatístico é necessário à participação de um mínimo de 10% de moradores da localidade. É desenvolvido em três fases: pré-diagnóstico, realizado por meio de contatos institucionais e da própria comunidade objetivando informações a respeito da realidade a ser estudada; o diagnóstico propriamente dito que envolve os aspectos a serem identificados; e o planejamento de ações, definindo estratégias e metas para a potencialização dos dados identificados. Neste sentido o DRP possibilita aos interessados desenvolverem o processo de coleta de dados, com base nos próprios conceitos e critérios de explicações dos participantes. Para finalizar é inserida uma parte mais técnica através do Ecomuseu da Amazônia com a construção de biomapas que tem como base as diversas etapas do DRP. Exposição Estivas foi outra ferramenta utilizada na identificação do patrimônio das áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia, uma vez que, retratou o cotidiano das comunidades através de paisagens, ações, gestos, instrumentos, ofícios, rostos e vidas, elementos reconhecidos pelos próprios comunitários e fonte motivadora de inúmeras interpretações. É pertinente enfatizar que as ações do Ecomuseu da Amazônia são pautadas a partir dos diagnósticos participativos efetivados com as comunidades. Como exemplo foi realizada uma palestra sobre “Turismo de base comunitária e Desenvolvimento local” proferida pelo Consultor Internacional Hugues de Varine-Bohan, uma das atividades que vem sendo priorizada pelos comunitários, a qual oficializou o início de uma proposta de capacitação de recursos humanos das áreas de abrangência do Ecomuseu (2009), ação também ressaltada pelas populações dessas microrregiões, denominada posteriormente “Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local”. Programa em desenvolvimento, de forma pontual nos anos de 2009/2010. Entretanto oficializado para o biênio 2011/2012, pelas comunidades com apoio dos técnicos do Ecomuseu da Amazônia, este permeia as ações implementadas no território, faculta os envolvidos no processo a valorizar, desenvolver e/ou adquirir os saberes, os fazeres, as práticas, as técnicas que lhes permitirão tomar nas mãos seu próprio desenvolvimento, quer dizer, a melhoria de suas condições de vida, de modo sustentável e responsável. Os benefícios proporcionados às comunidades pelo Programa são as relações de autonomia, empoderamento e pertencimento que incorporam os museus abertos, isto é, a interação da comunidade com o seu próprio ambiente, em que os serviços oferecidos consideram a reafirmação e preservação da memória de um povo com seu maior acervo e sua biodiversidade. E também, onde o patrimônio é à base do desenvolvimento e as vantagens advêm dos cuidados e preservações das expressões culturais e ambientais de cada território. O desenvolvimento das ações - a partir da valorização do patrimônio A palavra patrimônio segundo Carvalho & Funari (2006, p.32) deriva do latim patrimonium e faz alusão à "propriedade herdada do pai ou dos antepassados" ou 122 "aos monumentos herdados das gerações anteriores". Desta forma, é pertinente afirmar que, nesta experiência patrimônio significa a preservação e compreensão da memória social de um povo, a garantia de que, a idéia, o conhecimento, os valores culturais de uma determinada época, deverão ser protegidos e difundidos através das gerações. Assim o campo de estudo do termo patrimônio a partir da interpretação de cada contexto recebe ressignificações diferentes, aglutinando os mais diversos conceitos em um único termo, tendo como referência o ambiente na sua totalidade. Desta forma, as comunidades das áreas de atuação do Ecomuseu possuem características e especificidades próprias, logo, as adversidades enriquecem e projetam as ações desenvolvidas nessas comunidades contribuindo para a valorização dos patrimônios que as constituem. A esse respeito, Chagas4 esclarece que: O interesse no patrimônio não se justifica pelo vínculo com o passado seja ele qual for, mas sim pela sua conexão com os problemas fragmentados da atualidade, a vida dos seres humanos em relação com outros seres, coisas, palavras, sentimentos e idéias. Assim, é no pólo população, com suas múltiplas identidades, que se encontra, ao meu ver, o desafio básico do museu. Desta forma, O Ecomuseu da Amazônia, dando continuidade ao desenvolvimento de suas ações com as comunidades, a partir das diversidades e da valorização do patrimônio local, viabiliza o programa de capacitação de recursos humanos, que integra a reafirmação dos processos históricos, culturais e ambientais, assim como o desenvolvimento das práticas sustentáveis da região, neste sentido vem desenvolvendo, com base no Planejamento 2011/2012 as seguintes ações: Ecomuseu da Amazônia - biênio 2011/2012 1. Eixo Cultura: • Artesanato em cerâmica com aplicação de grafismo simbólico local: Ilha de Cotijuba (Comunidade do Poção); • Pesquisa e registro gráfico de estruturas das embarcações: Ilha de Cotijuba (Comunidade do Poção) e Ilha de Mosqueiro (Comunidade do Caruaru); • Pesquisa e registro gráfico da varinha do amor para aplicação em embarcações: Ilha de Mosqueiro (Comunidade do Caruaru e Comunidade Castanhal do Mari- Mari); • Aula de musicalização aplicada ao carimbó: Ilha de Mosqueiro (Comunidade Castanhal do Mari-Mari); • Aula de musicalização para crianças e adolescentes: Distrito de Icoaraci (Sociedade São Vicente de Paulo-Bairro do Paracuri); • Aulas sobre a cultura para a valorização da identidade local: Ilha de Mosqueiro (Comunidade do Caruaru e Comunidade Castanhal do Mari-Mari); • Atividade de dança e terapia de grupo com o Portal da Melhor Idade: Ilha de Caratateua (Comunidades de São João do Outeiro-FUNBOSQUE); • Construção de biomapas com a comunidade: Distrito de Icoaraci (Paracuri e Cruzeiro-Orla), Ilha de Cotijuba (Comunidades do Poção, Piri e Faveira), Ilha de Mosqueiro (Assentamento Paulo Fonteles, Comunidade do Caruaru e Comunidade Castanhal do Mari-Mari) e Ilha de Caratateua (Comunidades de São João do OuteiroFUNBOSQUE); • Pesquisa e registro de patrimônio material e imaterial em todas as áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia; 123 • Evento “Pôr do sol cultural”: Feira de Artesanato do Paracuri - Orla do CruzeiroDistrito de Icoaraci . 2. Eixo Ambiental: • Horta: Distrito de Icoaraci (Sociedade São Vicente de Paulo-Paracuri), Ilha de Cotijuba (Comunidade do Poção), Ilha de Mosqueiro (Assentamento Paulo Fonteles, Comunidade do Caruaru e Comunidade Castanhal do Mari-Mari) e Ilha de Caratateua (Comunidade de Tucumaeira); • Culturas Alimentares: Ilha de Cotijuba (Comunidade do Poção), Ilha de Mosqueiro (Assentamento Paulo Fonteles) e Ilha de Caratateua (Comunidade de Tucumaeira); • Plantas Medicinais: Ilha de Mosqueiro (Assentamento Paulo Fonteles); • Frutíferas: Ilha de Cotijuba (Comunidade do Poção) e Ilha de Mosqueiro (Assentamento Paulo Fonteles); • Viveiro de mudas florestais: Ilha de Cotijuba (Comunidade do Poção), Ilha de Mosqueiro (Assentamento Paulo Fonteles e Comunidade do Caruaru) e Ilha de Caratateua (Comunidade de Tucumaeira); • Aquicultura sustentável – peixe e camarão: Ilha de Cotijuba (Comunidade do Poção), Ilha de Mosqueiro (Assentamento Paulo Fonteles e Comunidade do Caruaru); • Educação ambiental: Ilha de Mosqueiro (Comunidade da Vila, Comunidade do Caruaru e Comunidade Castanhal do Mari -Mari). 3. Eixo Turismo: Turismo de Base Comunitária • Cursos de: Inglês Instrumental-Distrito de Icoaraci (Sociedade de Artesões dos Amigos de Icoaraci-SOAMI) e Ilha de Mosqueiro (Comunidade da Vila), Libras-Ilha de Mosqueiro (Comunidade da Vila) e Ilha de Cotijuba (Comunidade da Faveira), e Hospitalidade-Ilha de Mosqueiro (Comunidade da Vila); • Sinalização de trilhas para o fomento do turismo ecológico: Ilha de Mosqueiro (Assentamento Paulo Fonteles, Comunidade do Caruaru e Comunidade Castanhal do Mari-Mari). 4. Eixo Cidadania: • Oficina de culinária agregando valores regionais como geração de trabalho e renda: Distrito de Icoaraci (Sociedade São Vicente de Paulo-Paracuri),Ilha de Cotijuba (Comunidades do Poção e Piri),Ilha de Mosqueiro (Assentamento Paulo Fonteles, Comunidades da Vila, Caruaru e Castanhal do Mari-Mari) e Ilha de Caratateua (Comunidades São João do Outeiro e Fama); • Exposições para escoamento das produções artesanais e gastronômicas das comunidades-Frutal FlorPará, experiências-Ilha de Caratateua (FUNBOSQUE), Ilha de Cotijuba (Comunidade da Faveira), Distrito de Icoaraci (Liceu Escola); • Workshops e palestras para as comunidades abordando temas ligados a cidadania (todas as áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia); 124 • Encontros entre as comunidades para troca de experiências-Ilha de Caratateua (FUNBOSQUE), Ilha de Cotijuba (Comunidade da Faveira); • Apoio a formação de organizações sociais; • Participação em Conselhos Municipais de: Turismo, Meio Ambiente, Parque Ecológico de Belém, Conselho Consultivo da Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira, Fórum Sustentável das Ilhas, etc. As diversas ações desenvolvidas pelas comunidades com o apoio técnico do Ecomuseu da Amazônia ratificam a importância dos inventários para a execução das ações nas microrregiões, colocação reiterada por Hugues de Varine (2009) em seu Relatório de Missão sobre às áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia, ressaltando que não há dois ecomuseus semelhantes e o Ecomuseu da Amazônia prova esse princípio, pois é único pela combinação de várias características: É um museu de territórios plurais, mais que um museu sobre um território único e homogêneo; É um museu que privilegia a formação profissional e a atividade econômica, apoiadas sobre o patrimônio, sobretudo imaterial, das comunidades locais†††. Neste sentido as ações são acordadas com base no apoio a organizações sociais, à construção da memória coletiva e a valorização dos saberes e fazeres de cada comunidade visando o bem estar das populações, a partir de prioridades estabelecidas pelos envolvidos. Quadro: ações do Ecomuseu da Amazônia - 2011 AÇÕES 1. REALIZAÇÃO DE OFICINAS; 2. REALIZAÇÃO DE MINI-CURSOS; 3. REALIZAÇÃO DE PALESTRAS; 4. REALIZAÇÃO DE CURSOS; 5. PROMOÇÃO DE EVENTOS; 6. PARTICIPAÇÃO EM REUNIÕES E EVENTOS; 7. APOIO A FORMAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES SOCIAIS; 8. DESENVOLVIMENTO DE SUBPROJETOS 9. PARTICIPAÇÃO EM ASSOCIAÇÃO E CONSELHOS 10. REALIZAÇÃO DE EXPOSIÇÕES 11. CONSULTORIAS TÉCNICAS NAS ÁREAS DO ECOMUSEU 12. VISITAS MONITORADAS PELO ECOMUSEU/CDC SUB-TOTAL DE PARTICIPANTES VISITAS AO BLOG DO ECOMUSEU DA AMAZÔNIA TOTAL GERAL Fonte: Ecomuseu de Amazônia QUANTIDADE 22 04 08 04 15 08 04 08 05 05 01 01 01 INDICADORES 523 86 406 86 3.537 3.650 60 334 100 297 26 22 9.105 6.338 15.443 A metodologia Os espaços do Ecomuseu da Amazônia foram propostos e delimitados pelas comunidades de sua área de atuação, as ações são realizadas por meio de eixos temáticos: cultura, meio ambiente, turismo e cidadania. Prioriza desde as suas primeiras inserções no território atividades estabelecidas em acordo com as comunidades, ao experimentar uma nova metodologia de apropriação e partilha do patrimônio coletivo, ou seja, possibilita as comunidades a realizarem o inventário de ††† Hugues de Varine, Consultor Internacional em Desenvolvimento Comunitário, sobre o Ecomuseu da Amazônia, em visita realizada no ano de 2009. 125 seu próprio patrimônio, sejam eles de natureza cultural ou natural. Neste contexto as ações deste Ecomuseu estão pautadas no desenvolvimento humano sustentável e tem como base metodológica os princípios da museologia social, quando reconhece a identidade e a cultura de todos os grupos humanos, (1992); no planejamento e gestão biorregional, (MILLER,1997), uma vez que abrangem e ordenam um extenso território, composto de vários núcleos de proteção da natureza, bem como propiciam o uso sustentável desses recursos e estabelecem por meio dos processos sociais, culturais e ambientais uma melhor qualidade de vida as populações envolvidas; e no conceito de sustentabilidade, com base na cultura, tecnologias locais, os fazeres e saberes populares dos mestres de ofícios de cada comunidade, (ADERNE, 1998). Assim as ações do Ecomuseu da Amazônia e consequentemente do Programa de Capacitação vêm sendo desenvolvidas por meio de quatro eixos: cultura, meio ambiente, turismo e cidadania, os quais têm como principais protagonistas a comunidade e o aporte técnico de uma equipe interdisciplinar do Ecomuseu da Amazônia. As atividades do Ecomuseu da Amazônia estão ainda referenciadas na investigação denominada pesquisa-ação, pois segundo Hernández-Sampieri, Batista e Lucio (2008, p. 709) “Investigación-acción participativa o cooperativa en esta, los miembros del grupo, organización o comunidad fungen como coinvestigadores”. Complementa Thiollent (2000, p.63), “é uma pesquisa social de base empírica, concebida e realizada em estreita associação com as ações ou soluções de problemas coletivos com envolvimento dos participantes representativos da situação de modo cooperativo ou participativo”. Considerações finais Finalmente, conclui-se que ações desta natureza, com base na metodología de diagnósticos participativos, eixos temáticos e na pesquisa-ação começam a sinalizar para resultados satisfatórios, quando instigam o fortalecimento de ações de base comunitária, suas respectivas lideranças e demais profissionais envolvidos por meio da capacitação de atores sociais e de uma cultura de participação ativa, cooperação e diálogo entre os diversos atores sociais (comunidade, organizações civis e poder público) na região, para que os interessados possam manter e multiplicar as ações que se façam necessárias na execução de atividades que integrem responsabilidades sócio-ambientais, culturais e econômicas, a partir da valorização do patrimônio cultural no Território Ecomuseu da Amazônia. Agradecimento especial A Prefeitura Municipal de Belém, Secretaria Municipal de Educação de Belém, Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira, Comunidades das áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia, Equipe técnica, colaboradores e voluntários deste programa, principais partícipes deste processo. Referências ADERNE, L. A origem e estruturação do Projeto Ecomuseu do Cerrado, “não paginado”. Entrevista concedida a mestranda Maria Terezinha R. Martins em agosto de 2004. Corumbá de Goiás, Goiás: 2004. BOHAN, H do Varine, Relatório de Missão: visitas realizas nas áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia (Ilhas de Caratateua e Cotijuba e Distrito de Icoaraci). Belém,Pa/Brasil, 2009, 18p. CARVALHO, A.V; Funari, P.P. (outubro/2010). O Direito à Diversidade: patrimônio e quilombo de palmares - Patrimônio como construção: do ideal nacional à 126 questão da diversidade. Revista Internacional Direito e Cidadania. Santa Catarina, vol.8. CHAGAS, M. de S. (2009). A Imaginação Museal: museu, memória e poder em Gustavo Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro: MinC/IBRAM, 258p. (Coleção Museu, memória e cidadania). ECOMUSEU DA AMAZÔNIA: Relatórios de Missão Nº 1, 2 e 3 - Visita Técnica Consultor Hugues de Varine-Bohan, áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia, Belém, Pará, 2009,2010, 2011. MARTINS, M.T.R.; Aderne L. Projeto Ecomuseu da Amazônia. Belém, Pará: 55p. MARTINS, M.T.R. Proposta de um Turismo Sustentável para a Comunidade da Ilha de Cotijuba, município de Belém, Estado do Pará - Brasil, a partir da Valorização do Patrimônio Cultural, 260 f. Tese de Doutorado (Gestão Integrada de Recursos Naturais), 2012. MILLER, K.R. Em Busca de um Novo Equilíbrio: diretrizes para aumentar as oportunidades de conservação da biodiversidade por meio do manejo biorregional. Brasília: IBAMA / MMA, 1997. 94p. PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM: Planejamento Ecomuseu da Amazônia. Org. Martins et al, Ilha de Caratateua, Belém, Pará: 2011/2012, 72p. DIÁLOGO, SENTIDO E SIGNIFICADO NO ECOMUSEU DA SERRA DE OURO PRETO /MG Yára Mattos* UFOP - PROEX/UFOP – Ecomuseu da Serra de Ouro Preto-MG – BRASIL ABREMC – Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários 2010/2012 RESUMO Diálogo, sentido e significado são as palavras-chave que compõem o pano de fundo dessas reflexões sobre produção e criatividade nos Ecomuseus e Museus Comunitários, tendo como referência o Ecomuseu da Serra de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil. Para localizá-lo geograficamente e historicamente (Séc. XVIII), o texto aborda as características presentes e passadas da Serra de Ouro Preto e menciona a criação do Parque Arqueológico do Morro da Queimada (2008). Em seguida, reflete sobre sentido e significado no contexto museológico, patrimonial e educacional, procurando transitar no terreno das perguntas e das dúvidas, assim como, sugerir que as respostas estão nas ações conduzidas pelos atores sociais e devem ser buscadas através do diálogo e da criação coletiva. Palavras-chave: ecomuseu – patrimônio – comunidade – sentido – significado ABSTRACT * Professora Adjunta do Departamento de Museologia/UFOP; coordenadora do Programa Ecomuseu da Serra de Ouro Preto/MG (PROEX/UFOP); membro da diretoria da ABREMC – 2010/12, [email protected] 127 Dialogue, meaning and significance are the keywords that make up the backdrop of these reflections on production and creativity in Community Museums and Ecomuseums, with reference to the Ecomuseum of the Sierra de Ouro Preto, Minas Gerais, Brazil. To locate it geographically and historically (séc. XVIII), the text covers the past and present characteristics of the Sierra de Ouro Preto and mentions the creation of the Archaeological Park of the Morro da Queimada (2008). Then reflects on meaning and significance in the context of museological, educational and heritage, seeking to use on the ground of the questions and doubts, as well as, suggest that the answers are on the actions conducted by the social actors and should be sought through dialogue and collective creation. Keywords: ecomuseums – heritage – community – sense – significance DIÁLOGO, SENTIDO E SIGNIFICADO NO ECOMUSEU DA SERRA DE OURO PRETO/MG “O filósofo Kiekkegaard me ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer. Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim falou que só sabia que não sabia nada. Não tinha as certezas científicas. (...) Estudara nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver, no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar. Chegou por vezes de alcançar o sotaque das suas origens”. Manoel de Barros, Aprendimentos, 2006 1.Uma Perspectiva Histórico-Geográfica O subsolo das áreas onde se localizam, atualmente, os bairros envolvidos com a implantação do programa Ecomuseu da Serra de Ouro Preto – morros da Queimada, São João, Santana e São Sebastião – em outros tempos uma jazida arqueológica, é hoje testemunho do período da exploração do ouro nas minas gerais. Mas não só o subsolo. Em todos os bairros estão à mostra resquícios da ocupação urbanística do próspero arraial minerador do início do século XVIII – o Arraial do Ouro Podre ou Arraial do Pascoal - comerciante português Pascoal da Silva Guimarães - o qual, em 1708, possuía grande contingente de escravos para trabalhar nas minas. O lugar foi tomando grande impulso e, no auge da exploração do ouro, contava com aproximadamente três mil moradores. Por volta de 1711, a Vila Rica de Albuquerque passava por mudança no traçado urbanístico, com o início da construção de pontes, chafarizes, abertura de ruas, surgimento de um comércio e uma certa ordem administrativa. É por essa época que o rei D. João V institui a cobrança dos “quintos” – imposto de 20% sobre o total do ouro extraído, criando tensões na relação entre mineradores e Coroa Portuguesa. As Casas de Fundição, instaladas a partir de 1719, aumentam ainda mais essa pressão, pois estava proibida a circulação do ouro em pó ou em pepitas. Esses deveriam ser fundidos e marcados com o selo real. A situação tornou-se insustentável e, em 1720, eclodiu a revolta conhecida como “sedição de Vila Rica”, sufocada por D. Pedro de Almeida Portugal, Conde de Assumar. Vários revoltosos foram presos, entre eles o próprio Pascoal, deportado para Lisboa. Seu arraial foi totalmente queimado e a população se refugiou em outros locais da Vila. Conta a lenda que a “cidadela do Ouro Podre” ardeu em chamas por toda a noite, para servir de exemplo a quem ousasse desrespeitar a Coroa. A partir de então, o lugar ficou conhecido como “Morro da Queimada”. Com o declínio da produção aurífera, o local ficou em ruínas, por quase duzentos anos. Uma nova ocupação vem se verificando há pouco mais de um século. Paulatinamente, desde o final da década de 1940, começa a surgir novo povoamento, desordenado, nos antigos territórios mineradores de Pascoal. Para se ter uma ideia, em 2002, cerca de 68,2% dos 250 mil hectares que compreendem o Morro da 128 Queimada estavam ocupados por pessoas provenientes de áreas rurais vizinhas à região, o que contribuiu, mais uma vez, para sua acelerada descaracterização.* Atualmente, estima-se que a população que vive nos bairros conhecidos como “Serra de Ouro Preto” alcança a casa dos 12.000 (doze mil) habitantes. No entanto, esses não são dados precisos. Por motivos diversos, nossas pesquisas ainda não conseguiram obter, junto aos órgãos competentes, informações detalhadas a respeito dessas questões. 2.O Parque Arqueológico A necessidade de criação do Parque Arqueológico do Morro da Queimada surgiu sob a perspectiva de proteção de um patrimônio que foi sendo aos poucos dilapidado, tanto pelo poder público local, quanto por parte da população que veio ocupando novamente, ao longo do tempo, a região. O referido parque foi criado através do Projeto de Lei Municipal nº 465 de 29 de dezembro de 2008 que, no Art.7º, estabelece também a criação do Conselho Administrativo constituído por representantes da Prefeitura Municipal, do IPHAN, da Universidade Federal de OP e da Associação de Moradores do Morro da Queimada. Atualmente, este Conselho é presidido pelo Secretário Municipal de Meio Ambiente e vem realizando reuniões periódicas para dar andamento, entre outras providências, à elaboração e implantação do plano de manejo do parque. O que se percebe é que, pouco a pouco, o diálogo começa a se ampliar, integrando-se cada vez mais às finalidades e objetivos desse empreendimento que irá se constituir, na realidade, em um complexo museológico formado pelo espaço-testemunho advindo das escavações e contenção das ruínas remanescentes do antigo arraial; pela experiência contemporânea comunitária (espaço cultural vivido) e pelo lugar-ambiente, potencializando uma rede de relações “sustentáveis” entre homem, natureza, cultura e sobrevivência. 3.Diálogo, Sentido e Significado Na dinâmica de criação de itinerários cotidianos estabelecidos pelos indivíduos, “a aprendizagem como processo dialógico não comporta a “transferência” mecânica de saberes, simplesmente porque sentido e significado não podem ser transferidos, uma vez que são construções de nossa mente em atos cognitivos” (MATTOS, 2010). Dessa forma, somos levados a discutir a informação e a formação dos patrimônios – econômicos, sociais, históricos, científicos, culturais – como criação e apropriação compartilhadas de meios, recursos, objetos e saberes. Nas questões levantadas pelo texto provocativo que nos foi apresentado, constam as indagações: como as comunidades compreendem e usam seu patrimônio? De que modo o patrimônio pode ser para elas um gerador de rendas? Como capacitar uma comunidade para o desenvolvimento local, usando o patrimônio como recurso? Como tornar essa comunidade gestora de seu patrimônio e se manter autossustentável? A pergunta é colocada como princípio de trabalho. Levar questionamentos e receber perguntas que contribuam para uma aprendizagem comum. Citando novamente, Ione Mattos (2010), “Fazer sentido se refere a se a pessoa, tendo por base suas memórias de informações e experiências anteriores, consegue compreender o item de informação em questão. Ter significação, por outro lado, refere-se ao reconhecimento, pela pessoa, da relevância que o item de informação pode ter para si própria e para seus * Ver Marco Antônio Fonseca, Ocupação Desordenada Ameaça Patrimônio Mineiro de Ouro Preto, citado na monografia de OSTANELLO, Mariana Cristina Pereira, “Parque Arqueológico, Ecomuseu e Turismo – Contribuições Para a Preservação do Patrimônio e Desenvolvimento Social no Antigo Arraial do Ouro Podre”. Ouro Preto: UFOP/DETUR, 2007. p. 22. O texto de M. A. Fonseca encontra-se disponível em: http://www.radiobras.gov.br/ct/2002/materia_010302_5.htm Acesso em 18 jul 2007 129 propósitos de vida(...) portanto, a atribuição de sentido e significado é tarefa transformadora daquele que aprende”. Dessa forma, somos tentados a promover o patrimônio das dúvidas individuais e coletivas e procurar respostas através de uma abordagem dialógica, buscando questões, necessidades e problemas levantados coletivamente pelos indivíduos. Para tanto, é necessário estabelecer atribuições de valor e relevância, perceber a motivação, o interesse e a maneira como os atores sociais conduzem suas ações. 4.O Ecomuseu nas trilhas da Serra de Ouro Preto A museologia, por extensão de seus pressupostos e abertura para a função social e educacional de suas ações no contexto da comunidade onde se insere, abre uma reflexão em busca de sentido e significado para as relações entre presente, passado e futuro. Essa nova perspectiva promove uma revisão dos conceitos de educação, memória, patrimônio e identidade (individual, cultural e social) e das relações entre eles, na dinâmica da criação de itinerários de formação e informação que produzam saber e conhecimento, a partir da experiência e vivência do indivíduo, nas relações e nos processos de interação e identificação com o seu mundo, em toda a sua dinâmica espaço-temporal – seus contextos mais, ou menos, próximos: físico-ambientais, econômicos, sociais, históricos, culturais. A história nacional e regional contada através dos fragmentos de memória sob a guarda dos diversos museus da cidade se completa através da história local sob a guarda de uma população que detém, em forma de contos, lendas, manifestações religiosas, festas e folguedos, culinária, música, objetos, a fórmula mágica e viva de recriação dos primórdios da cidade. São esses sentidos e significados que estamos buscando, através das ações em curso no Ecomuseu da Serra – Projeto Memória de Vida – Inventário Participativo – Oficinas de Educação e Patrimônio direcionadas à capacitação de jovens – Rodas de Lembrança – Projeto VERdeFOTO – quando perguntamos: Quais seriam as relações objetivas e subjetivas do nova população que habita os “lugares de memória” do Ciclo do Ouro? Quais são seus valores de referência, suas raízes identitárias, seus laços afetivos? A que tempo está relacionado o sentido de pertencimento, ao passado, ao presente, ao futuro? Dessa forma, destacamos que, Os temas e as problemáticas historicamente fundamentadas vão ao passado na medida em que esse passado desperta interesse para os desafios contemporâneos. Implica em uma tomada de posição no presente, que dialoga com o passado, não para resgatá-lo e sim para questionar o rumo de nossos predecessores, aprofundando nosso entendimento sobre as vias que se mostram na atualidade e o compromisso com as escolhas que fazemos (RAMOS, 2004, p.131). São muitas as pistas, os caminhos, percursos, trilhas, itinerários a percorrer na Serra de Ouro Preto. Por isso, “Queremos que aconteça de nossas perguntas se encontrarem, e que possamos encontrar, livremente, nossas próprias respostas” (MATTOS, 2010). Referências Bibliográficas: LEBOURG. Elodia Honse. Vila Rica, 1720: história, sedição e arquitetura. Ouro Preto: FAOP, 2006. Monografia de conclusão do curso de Restauração da Fundação de Arte de Ouro Preto. Cópia digitalizada disponível na Biblioteca da FAOP. MATTOS. Yara (com Ione Mattos). Abracaldabra: uma aventura afetivo-cognitiva na relação museu-educação. Ouro Preto: EDUFOP, 2010. 130 RAMOS. Francisco Régis Lopes. A Danação do Objeto: o museu no ensino da história. Chapecó: Argos, 2004. ECOMUSEUS Y MUSEOLOGIA SOCIAL EM ESPAÑA Óscar Navajas Corral Nebrija Universidad - ESPAÑA RESUMEN Hace cuarenta y un años nacía un nuevo concepto, el ecomuseo. Una forma diferente de entender el patrimonio, la relación del museo con la población y la utilidad de éstos en el desarrollo de la comunidad y el territorio en el que se encuentran. Pero este año se cumplen, también, cuarenta años de la Mesa Redonda de Santiago de Chile. Un hito histórico en el cambio de mirada hacia los museos por parte de los profesionales e instituciones; y un cambio en los procesos de patrimonialización pasando a cobrar importancia la contribución y participación del conjunto de la población en la construcción de una identidad cultural. Del museo, templo para especialistas y almacén de reliquias del pasado, se pasaba al museo integral (al ecomuseo), espacio democrático abierto y medio para comunicar un legado cultural. Ecomuseo y museo integral hoy día no han quedado en dos experiencias prácticas y teóricas de un momento determinado de la evolución del pensamiento museológico y patrimonial, sino que siguen vivas, cambiando, evolucionando, adaptándose a nuevos momentos y nuevas necesidades sociales. En estas líneas se presenta el panorama de los ecomuseos españoles y se plantean reflexiones sobre su futuro en un contexto socio-económico completamente distinto al momento de su creación conceptual en los años setenta. Planteamiento En 1971 nació la palabra ecomuseo en un pequeño restaurante parisino donde se dieron cita la avidez mental de Hugues de Varine y las enseñanzas y experiencias de Georges Henri Rivière. El término se hizo oficial cuando el Ministro francés de medioambiente, Robert Poujalde, lo pronunció por primera vez en la IX Conferencia General del Consejo Internacional de Museo (ICOM) celebrada en Grenoble. El ecomuseo se definía como una tipología de museo en el que el objetivo no se encontraba en la conservación de unas colecciones sino en el uso de las funciones y herramientas que proporciona el museo y su campo de conocimiento, la museología, para contribuir social, cultural y económicamente a una determinada comunidad. El museo, como templo, salía definitivamente de sus muros para convertirse en un medio para el desarrollo integral de la sociedad con la que cohabita. Esta noción conceptual con una clara visión holística no fue algo espontáneo ni aislado del mundo francófono. Desde finales de siglo XIX los museos al aire libre escandinavos, los museos de barrio estadounidenses de los años sesenta, los museos comunitarios latinoamericanos o la disciplina de la Interpretación del Patrimonio nacida en los Parques Nacionales estadounidenses de los años cincuenta; hicieron que el concepto de patrimonio ampliase su tradicional visión reducida a lo histórico-estético, y se alejase de su estructura vertical –del profesional a la sociedad– en su proceso de patrimonialización, para alcanzar un enfoque cultural-antropológico del término y una horizontal en su proceso de patrimonialización donde la sociedad tuviera mayor protagonismo. La Mesa Redonda de Santiago de Chile de 1972 organizada por el ICOM se considera el punto de inflexión formal en el que la noción de Museo Integral (ecomuseo, museo comunitario, etc.) y, por asociación, el Patrimonio Integral, son reconocidos a nivel internacional. Al igual que desde los años setenta y ochenta el Turismo se considerará una conquista social irrenunciable para el hombre, la Declaración de Santiago de Chile reconocía el proceso de patrimonialización integral como una conquista irrenunciable de las comunidades a la hora de conservar y poner en valor su patrimonio. 131 Durante las décadas que trascurrieron de los años sesenta a los noventa esta evolución en lo patrimonial y en lo museal no estuvo exenta de polémicas y, como en todo cambio de paradigma, se produjeron choques entre lo que se consideraba una museología tradicional y la nueva museología. El desenlace en estas confrontaciones se tradujo en la adaptación museográfica y pedagógica de la museología tradicional, las nuevas museología; y la construcción de una museología social formalizada por el Movimiento Internacional para la Nueva Museología (MINOM). El ecomuseo, así como sus hermano, el museo comunitario, el museo integral, etc., ese arma arrojadiza contra los pilares conceptuales del museo tradicional, fue multiplicándose y adaptándose a las necesidades de diferentes comunidades por todo el mundo. En este camino de evolución de modelos ecomuseales las controversias por el uso del apelativo ecomuseo, por el criterio de discernir qué es o no es un verdadero ecomuseo, han llevado a muchos de sus padres, teóricos y prácticos, a dejar de usar dicho apelativo y utilizar el ecomuseo más como una forma de trabajo, una filosofía, un proceso de concienciación y desarrollo comunitario. La situación de España España es uno de los países en el que los ecomuseos han proliferado en las últimas décadas. La historia de la construcción de una museología social en España y del nacimiento, y desarrollo, de los ecomuseos no fue paralela a la de países vecinos y pioneros en esta materia como Francia o Portugal. La historia más reciente de España está marcada por una cruenta y dolorosa Guerra Civil (1936-1939); por una dictadura que tuvo sumido al país en un paréntesis de las corrientes –intelectuales, culturales, sociales, etc.– internacionales durante casi cuarenta años (1939-1975); y por una democracia pactada y tranquila. La sociedad española, desde la transición y la Constitución de 1978 entró en un proceso de cambio copernicano caracterizado fundamentalmente por la descentralización del país y la creación de un estado de Autonomías, la inserción en los procesos de globalización cultural y económicos mundiales, la entrada en la sociedad de consumo, ocio y bienestar, y el ingreso con pleno derecho en los órganos y organismos políticos a nivel internacional. esto se puede traducir en: Un régimen de Autonomías ávidas de recuperar la identidad cultural arrebatada por el periodo dictatorial. Una carrera por revalorizar todo lo autóctono. Las Autonomías otorgaron la libertad a que cada región, a cada individuo, para sentir su identidad cultural dentro de una identidad nacional. La entrada en la Unión Europea ofrecía un panorama inmejorable de desarrollo para todas aquellas regiones y localidades que se encontraban fuera de las políticas turísticas de Sol y Playa. Los programas de Desarrollo Comunitario (LEADER, PRODER, etc.) jugaran un papel decisivo en la creación de instituciones culturales a escala local, entre las que se incluyen museos etnográficos, centros de interpretación y, por supuesto, ecomuseos. Los años ochenta y principios de los noventa fueron los años del crecimiento económico, del boom demográfico y de la conquista de la sociedad de bienestar y de consumo. España tuvo, en poco menos de quince años desde la muerte del dictador, que empaparse de los años de incomunicación asimilando e implementando teorías y prácticas foráneas ya consolidadas; así como construir líneas propias de pensamientos y metodológicas en materia patrimonial y museística que, como en todo adolescente democrático, jugase un papel esencial en la autorrealización. Ecomuseos españoles Los ecomuseos españoles han surgido fundamentalmente en dos espacios temporales: entre los años 1990 – 1995; y 2000 – 2005. Ambos periodos coinciden con un momento de desarrollo económico y social concreto de España. No obstante hay que mencionar que algunas de las experiencias más emblemáticas de la 132 museología social (ecomuseología) española surgió de iniciativas prácticamente minoritarias en los años ochenta como es el caso de Molinos, Valls d’Àneu o Almedinilla. En líneas generales se podría clasificar los ecomuseo españoles en cinco categorías‡‡‡: 1. Existen ecomuseos territoriales en los que la concepción del espacio y tiempo intenta estar íntimamente ligada a la relación de la comunidad con su entorno y su historia. Es el caso del Ecomuseo Alma Serrana (Jaén) (www.almaserrana.com), una experiencia que nace en los años noventa pero que se constituye como ecomuseo en el año 2002 para recuperar y difundir las costumbres y tradiciones de la Sierra de Segura, fomentar la participación comunitaria de un conjunto de poblaciones que cohabitan en estas tierras jienenses y favorecer la formación de las generaciones más jóvenes. Otros ejemplos son el Ecomuseo Saja-Nansa (Cantabria), el Ecomuseo Casa Sola (Málaga) (http://ecomuseocasasola.wordpress.com), o el Ecomuseo-Farinera Castelló d'Empúries (Gerona) (http://www.ecomuseu-farinera.org/index2.php). 2. Hasta la fecha los ecomuseos que priman son aquellos que se acercan a la tipología de museo local o al Centro de Interpretación natural y/o cultural. Es el caso del Ecomuseo castillo de Ainsa (Huesca), el Ecomuseo de Benalauria, el Ecomuseo Fluviarium (Cantabria) (www.fnyh.org/fluviarium-lierganes/), Ecomuseo de la Minería de la Montaña Coto Musel (Asturias), Ecomuseo de la Pizarra (Madrid), Ecomuseo Larraul (Guipuzcoa), el Ecomuseo del Pastoreo (Guipúzcoa), el Ecomuseo de Tordehumos (Valladolid) (www.tordehumos.com/ecomuseo.html), el Ecomuseo de Tiriez (Albacete), el Ecomuseo de Pinilla (Albacete), el Ecomuseo de Román Gordo (Extremadura), o el Ecomuseo Molino de Zubieta (Navarra). 3. Entre estas dos categorías podemos encontrar ecomuseos que se acercan más a los Museos al Aire Libre. Ejemplos son el Ecomuseo de la Alcogida de Teifa en Fuerteventura (www.majorero.com/laalcogida), o el Ecomuseo de Somiedo (Asturias) (www.somiedo.es/ecomuseo-de-somiedo). 4.Otros ecomuseos son de iniciativa particular tienen un carácter más empresarial, como es el ecomuseo de la Huerta de Valoria en Palencia (www.lahuertadevaloria.com/), o el Ecomuseo de Fuentelcesped en Burgos. 5.Por último podemos encontrar experiencias que han nacido con la premisa de trabajar con una metodología ecomuseal basada en participación comunitario (democracia cultural), la concienciación y cohesión social, la pedagogía global, la construcción identitaria y territorial por medio de la recuperación patrimonial, y el desarrollo social, cultural y económico de forma sostenible. Es el caso del Ecomuseo del Alma Serrana, mencionado más arriba, el Ecomuseo del Río Caicena (Córdoba) (www.almedinillaturismo.es/ecomuseo.asp), las experiencias del Parque Cultural del Maestrazgo (Teruel), o el Ecomuseo Valls d’Àneu (Lérida) (www.ecomuseu.com). Debemos recordar que el “ecomuseo” no es una tipología reconocida por la normativa museal española con lo que es complicado rastrear y clasificar las experiencias que van surgiendo. Así mismo se pueden quedar fuera experiencias que usando parámetros de la museología social no están dentro de su panorama, en ocasiones simplemente por que sus promotores desconocen o están en los círculos profesionales o académicos del patrimonio y la museología. Un caso podría ser la recuperación de espacios de conflicto bélico del valle del Jarama (www.parquedidacticodeljarama.org). ‡‡‡ Actualmente existe más de 80 espacios que usan el término “ecomuseo” para denominarse. En estas cinco tipologías se incluyen algunos de los más representativos. 133 Cuestiones y reflexiones para el debate Aunque como hemos mencionado la denominación de un lugar como un ecomuseo no es condición sine qua non para el uso de una metodología de trabajo que prime la participación comunitaria con el objetivo de su desarrollo. Y aunque a los profesionales y académicos de la museología social no nos interese tanto que se use el término ecomuseo como que se trabaje con un filosofía ecomuseal. Los datos indican lo contrario. El número de espacios, territorios y/o edificios que utilizan el término ecomuseo para autodenominarse está creciendo tanto en España como a nivel mundial. En España se usa la palabra ecomuseo de forma arbitraria sin una justificación clara del por qué se usa y en qué se diferencia, salvo excepciones, de otras tipologías museales o de formas de musealización y patrimonialización. En este sentido, existe una clara ausencia normativa, desde el nivel regional hasta el estatal; y una escaso consenso de sector profesional y académico por trazar unos mínimos requisitos en los que se debería basar una experiencia ecomuseal –en España–. Los momentos de crisis mundial que vivimos. Momentos controvertidos para el mundo, difíciles para Europa, y nefastos para España, se están haciendo notar especialmente en la creación e impulso de inactivas socio-culturales, en las partidas, ayudas y subvenciones económicas, y en las políticas, cada vez más pasivas, de los organismo públicos. Esto se traduce en: la interrupción o cancelación de proyectos sociales y culturales por su “no rentabilidad”; el cierre o degradación de numerosas infraestructuras culturales –entre las que están centros de Interpretación y ecomuseos–; y en un virus que se extiende en forma de apatía social que está mermando el ánima de los motores desinteresados que hacían realidad proyectos “utópicos” de museología social. El ecomuseo (museo comunitario, museo de barrio, etc.) es un proceso, una utopía, un organismo vivo. En el momento histórico de su gestación fue una puerta entreabierta por la que salir a buscar formas diferentes de relacionar el patrimonio, los museos y la sociedad; fue la forma de construir, mediante la concienciación patrimonial y la pedagogía global, futuros sostenibles. Vivimos un momento diferente, una realidad que en ocasiones parece añorar situaciones pasadas mejores, pero la realidad es que nos encontramos en el momento clave para volver a buscar la puerta entreabierta desde la que abrir caminos. ECOMUSEUS E MUSEOLOGIA SOCIAL NA ESPANHA Óscar Navajas Corral Nebrija Universidad - ESPANHA PROPOSTA Em 1971 nasceu à palavra “ecomuseu” em um pequeno restaurante parisiense onde se encontrou a avidez mental do Hugues de Varine e os ensinamentos e experiências do Georges Henri Rivière. O término foi oficializado quando o ministro francês do meio ambiente, Robert Poujalde, o pronunciou pela primeira vez na IX Conferência Geral do Conselho Internacional do Museu (ICOM) celebrada em Grenoble. O “ecomuseu” era definido como uma tipologia do museu em que o objetivo não se encontrava na conversação de algumas coleções, mas sim no uso das funções e ferramentas que são proporcionadas pelo museu e pelo seu campo de conhecimento, a museologia, para contribuição social, cultural e econômica a uma determinada comunidade. O museu, como um templo, saia definitivamente de seus muros para converter-se em um meio para desenvolvimento integral da sociedade coma que coabita. Esta noção conceitual com uma clara visão holística, não foi algo espontâneo nem isolado do mundo francófono. Desde o final do século XIX os museus escandinavos ao 134 ar livre, os museus de bairros estadunidenses dos anos sessenta, os museus comunitários latino-americanos ou a disciplina de Interpretação do Patrimônio nascida nos Parques Nacionais estadunidenses dos anos cinqüenta; fizeram que o conceito de patrimônio ampliasse sua tradicional visão reduzida ao histórico-estético, e se afasta da sua estrutura vertical – do Profissional a sociedade – no seu processo de patrimonialização, para alcançar um enfoque cultural-antropológico do término e uma horizontal em seu processo de patrimonialização onde a sociedade tivesse maior protagonismo. A mesa redonda de Santiago do Chile de 1972 organizada pelo ICOM é considerada o ponto de inflexão formal, em que a noção do Museu Integral (ecomuseu, museu comunitário, etc.) e, por associação, o Patrimônio Integral é reconhecido a nível internacional. Igual que desde os anos setenta e ostenta, o turismo será considerada uma conquista social irrenunciável para o homem, a Declaração de Santiago do Chile reconhecia o processo de patrimonialização integral como uma conquista irrenunciável das comunidades na hora de conversar e pesar o valor de seu patrimônio. Durante as décadas que transcorreram entre os anos sessenta e noventa esta evolução patrimonial e no museu e não foi isenta de polêmicas, e como em toda troca de paradigma, ocorreram choques entre o que se considerava como uma museologia tradicional e a nova museologia. Os resultados destes confrontos levaram a uma adaptação museográfica e pedagógica da museologia tradicional, as novas museologias; e a construção de uma museologia social, formalizada pelo Movimento Internacional para a Nova Museologia (MINOM). O ecomuseu, assim como seus irmãos, o museu comunitário, o museu integral, etc., essa arma poderosa contra os pilares conceituais do museu tradicional, foi multiplicando-se e adaptando-se às necessidades das diferentes comunidades pelo mundo. Neste caminho de evolução de modelos de ecomuseus a controvérsia pelo uso do apelativo ecomuseu, pelo critério de discernir o que é e não é um verdadeiro ecomuseu, levou a muito de seus pais, teóricos e práticos, a deixar de usar o dito apelativo e utilizar o ecomuseu mais como uma forma de trabalho, uma filosofia, um processo de conscientização e desenvolvimento comunitário. A situação da Espanha A Espanha é um dos países em que os ecomuseus têm proliferado nas últimas décadas. A história da construção de uma museologia social na Espanha e do nascimento e desenvolvimento dos ecomuseus não foi paralela a dos países vizinhos e pioneiros nesta matéria, como França ou Portugal. A história mais recente da Espanha está marcada por uma cruel e dolorosa guerra civil (1936-1939); por uma ditadura que manteve escondido do país as correntes intelectuais, culturais, sociais, etc. - internacionais durante quase quarenta anos (19391975); e por uma democracia pactuada e tranqüila. A sociedade espanhola, desde a transição e a Constituição de 1978 entrou em um processo de troca copernicano, caracterizado fundamentalmente pela descentralização do país e a criação de um estado de Autonomias, a inserção nos processos de globalização cultural e econômicos mundiais, a entrada na sociedade de consumo, ócio e bem-estar e o ingresso com pleno direito nos órgãos e organizações políticos a nível internacional. Isto pode ser traduzido em: Um regime de Autonomias ávidas por recuperar a identidade cultural arrebatada pelo período ditatorial. Uma corrida para revalorizar tudo o que fosse autóctone. As Autonomias outorgaram a liberdade a cada região, a cada indivíduo, para sentir sua identidade cultural dentro de uma identidade nacional. A entrada na União Européia oferecia um panorama imensurável de desenvolvimento para todas aquelas regiões e localidades que se 135 encontravam fora das políticas turísticas de sol e praia. Os programas de desenvolvimento comunitário (LEADER, PRODER, etc.)tiveram um papel decisivo na criação de instituições culturais em escala local, entre as que se incluem museus etnográficos, centros de interpretação e claro, ecomuseus. Os anos oitenta e princípios dos noventa foram os anos de crescimento econômico, do boom demográfico e da conquista da sociedade de bemestar em consumo. A Espanha teve, em pouco menos de quinze anos após a morte do ditador, que recuperar os anos de falta de comunicação, assimilando e implementando teorias e práticas estrangeiras já consolidadas; assim como construir linhas próprias de pensamento e metodologias em matéria patrimonial e de museus que, como em todo adolescente democrático, julga-se um papel essencial na auto-realização. Ecomuseus espanhóis Os ecomuseus espanhóis têm surgido fundamentalmente em dois espaços do tempo: entre os anos 1990-1995; e 2000-2005. Ambos os períodos coincidem com um momento de desenvolvimento econômico e social concreto da Espanha. Não obstante, é preciso mencionar que algumas das experiências mais emblemáticas da museologia social (ecomuseologia) Espanhola surgiu de iniciativas praticamente minoritárias nos anos oitenta, como é o caso de Molinos, Valls d’Áneu ou Almedinilla. Em linhas gerais, podemos classificar os ecomuseus espanhóis em cinco categorias§§§: 1.Existem ecomuseus territoriaisem que a concepção do espaço e tempo tenta estar intimamente ligada à relação da comunidade com seu meio e sua história. É o caso do ecomuseu Alma Serrana (Jaén) (www.almaserrana.com), uma experiência que nasceu nos anos noventa, mas que se constituiu como um ecomuseu no ano de 2002 para recuperar e difundir os costumes e tradições da Serra de Segura, fomentar a participação comunitária de um conjunto de povos que coabitam nestas terras jienenses e favorecer a formação das gerações mais jovens. Outros exemplos são o ecomuseu Saja-Nansa (Cantabria), o Ecomuseu Casa Sola (Málaga) (http://ecomuseocasasola.wordpress.com, ou o Ecomuseu-Farinera Castelló d'Empúries (Gerona) (http://www.ecomuseu-farinera.org/index2.php). 2.Até hoje, os ecomuseus que primam são aqueles que se aproximam da tipologia do museu local ou ao Centro de Interpretação natural e/ou cultural. É o caso do Ecomuseu castillo de Ainsa (Huesca), o Ecomuseu de Benalauria, o Ecomuseu Fluviarium (Cantabria) (www.fnyh.org/fluviarium-lierganes/), Ecomuseu da Minería da Montanha Coto Musel (Asturias), Ecomuseu da Pizarra (Madrid), Ecomuseu Larraul (Guipuzcoa), o Ecomuseu do Pastoreo (Guipúzcoa), o Ecomuseu de Tordehumos (Valladolid) (www.tordehumos.com/ecomuseo.html), o Ecomuseu de Tiriez (Albacete), o Ecomuseu de Pinilla (Albacete), o Ecomuseu de Román Gordo (Extremadura), ou o Ecomuseu Molino de Zubieta (Navarra). 3.Entre estas duas categorias podemos encontrar ecomuseus que se aproximam mais aos museus ao ar livre. Como exemplo, temos o Ecomuseu da Alcogida de Teifa em Fuerteventura (www.majorero.com/laalcogida), ou o Ecomuseu de Somiedo (Asturias) (www.somiedo.es/ecomuseo-de-somiedo). 4.Outros ecomuseus são de iniciativa particular, têm um caráter mais empresarial, como é o ecomuseu da Huerta de Valoria em Palencia (www.lahuertadevaloria.com/), ou o Ecomuseu de Fuentelcesped em Burgos. §§§ Atualmente existem mais de 80 espaços que usam o termo “ecomuseu” para denominar-lo. Nestas cinco tipologias incluem-se alguns dos mais representativos. 136 5.Por último, podemos encontrar experiências que tem sido com a premisa de trabalhar com uma metodologia de ecomuseu baseada na participação comunitária (democracia cultural), a conscientização social, a pedagogia global, a construção da identidade e territorial por meio da recuperação patrimonial, e o desenvolvimento social, cultural e econômico de forma sustentável. Devemos lembrar que o “ecomuseu” não é uma tipologia reconhecida pela normativa espanhola de museus com o que é complicado rastrear e classificar as experiências que vão surgindo. Mesmo assim, podem ficar fora experiências que usando parâmetros da museologia social não estão dentro do seu panorama, em ocasiões simplesmente porque seus promotores desconhecem ou estão nos círculos profissionais ou acadêmicos do patrimônio e a museologia. Um caso poderia ser a recuperação de espaços de conflito bélico do vale do Jarama (www.parquedidacticodeljarama.org). Questões e Reflexões para o debate * Como havíamos mencionado a denominação de um lugar como um ecomuseu não é uma condição sine qua non para o uso de uma metodologia de trabalho que prima a participação comunitária com o objetivo de seu desenvolvimento. E embora aos profissionais e acadêmicos da museologia social não nos interessem tanto que se use o término “ecomuseu” como que se trabalhe com uma filosofia de ecomuseus. Os dados indicam o contrário. O numero de espaços, territórios e/ou edifícios que utilizam o término ecomuseu para autodenominar se esta crescendo tanto na Espanha como a nível mundial. * Na Espanha usa-se a palavra ecomuseu de forma arbitrária sem uma justificativa clara do porque se usa e em que se diferencia, exceto algumas exceções, de outras tipologias de museus ou de formas de levantamento de bens dos museus e patrimonialização. * Neste sentido, existe uma clara ausência normativa, desde o nível regional até o estatal; e um escasso consenso do setor profissional e acadêmico por traçar alguns requisitos mínimos nos que se deveriam basear uma experiência do ecomuseu – Na Espanha. * Os momentos de crise mundial que vivemos. Momentos revertidos para o mundo, difíceis para a Europa, e nefastos para a Espanha, estão se fazendo notar especialmente na criação e impulso de iniciativas sócio-culturais, nas partidas, ajudas e subvenções econômicas, e nas políticas, cada vez mais passivas, dos órgãos públicos. Isto se traduz : na interrupção ou cancelamento de projetos sociais e culturais pela sua “não rentabilidade”; no fechamento ou degradação de numerosas infra-estruturas culturais – entre as que estão centros de Interpretação e ecomuseus-; e em um vírus que se estende em forma de apatia social que está corroendo o núcleo dos motores desinteressados que faziam projetos reais “utópicos” de museologia social. O ecomuseu (museu comunitário, museu de bairro, etc) é um processo, uma utopia, um organismo vivo. No momento histórico da sua gestação foi uma porta entreaberta para sair para buscar formas diferentes de relacionar o patrimônio, os museus e a sociedade; foi à forma de construir, mediante o consentimento patrimonial e a pedagogia global, futuros sustentáveis. Vivemos um momento difícil, uma realidade que em certas ocasiões parece relembrar situações passadas melhores, mas a realidade é que nos encontramos no momento chave para voltar a buscar a porta entreaberta para abrirmos caminhos. Oscar Navajas Corral 12 de Maio de 2012 137 REFORMING LOCAL ACTIVITIES INTO ONE COMMUNITY IDENTITY BY ECOMUSEUM IN MIURA PENINSULA Kazuoki Ohara* - Yokohama - JAPAN * Yokohama National University MAKING LOCAL ABSTRACT This study is to make it clear how the ecomuseum concept becomes important methodology for making a local identity among local actors towards sustainable community. Case study in Miura Peninsula Ecomuseum: The local peoples’ groups in Miura Peninsula perform various activities. Ecomuseum project of whole Miura Peninsula started in 2000, and after 5 years, the liaison council of Ecomuseum Miura Peninsula started its activities aiming at realizing Ecomuseum in the peninsula as an attempt to connect local peoples’ action groups. Conclusion: The groups have grasped other group activities, communicated with other groups and created acquaintance relationships beyond fields. Also, we can regard it as one of Ecomuseum’s meanings that people learn how to perceive the region comprehensively from various points of view beyond a field. Ecomuseum can be the tool for reforming these "theme-oriented communities” into a “local community”. Ecomuseum activities are never ending. They are constantly developed, reviewed and altered. And it is the local people who set the directions for the region. RESUMÉ Cette étude vise à faire comprendre comment le concept de l'écomusée devient importante méthodologie pour faire une identité locale entre les acteurs locaux à l'égard de collectivités durables. Étude de cas dans l'Ecomusée de la péninsule de Miura: Les groupes de populations locales dans la péninsule de Miura effectuent de diverses activités. Projet Ecomusée de toute la péninsule de Miura a débuté en 2000, le conseil de liaison de la péninsule de Miura Ecomusée a commencé ses activités visant à réaliser un Ecomusée dans la péninsule comme une tentative pour connecter des groupes d'action des populations locales. Conclusion: Les groupes ont saisi autres activités de groupe, ont communiqué avec d'autres groupes et ont créé des relations au-delà de faire de nouvelles connaissances champs. En outre, nous pouvons le considérer comme l'un des significations Ecomusée que les gens apprennent la façon de percevoir la région complète de divers points de vue au-delà d'un champ. L’ Ecomusée peut être l'outil pour la réforme de ces «orientations thématiques des communautés » dans une "communauté locale". Les activités ecomuséales sont sans fin. EIles sont constamment développées, revues et modifiées. Et ce sont les populations locales qui fixent les orientations pour la région. 1. Purpose of study This study is to make it clear how the ecomuseum concept becomes important methodology for making a local identity among local actors towards sustainable community. 2. Foundation of Ecomuseums in Miura Peninsula * Kazuoki Ohara - Professor, Department of Architecture, Yokohama National University, 79-5, Tokiwadai, Hodogaya-ku, Yokohama, 240-8501, Japan ; Advisor of Miura Peninsula Ecomuseum ; member of Japan Ecomuseological Society , e-mail: [email protected] 138 Miura Peninsula is located in the southwestern part of the Tokyo capital region, surrounded on three sides by water (Tokyo Bay, Sagami Bay, Pacific Ocean). It has rich environment of both natural and Many activities are already underway in the resource-rich peninsula. Networking these voluntarily initiated, grass root activities will form the ecomuseum. One characteristic of the ecomuseum on Miura Peninsula is that it is created by bringing together these activities and local heritages. 3. Maintaining facilities and local heritages on each Partners, and community participation As in the case with the running of the ecomuseum network, community participation in the maintenance of buildings and facilities for regional heritage sites becomes indispensable. However, the majority of partner organizations running such sites do not exist for the sake of the ecomuseum alone; they also engage in a variety of non-museum activities. Suppose that there is a group whose main activity is the conservation of a cityscape. Given its specialization, the role that the headquarters of the ecomuseum should embark upon is to support the group with training, data collection, and research so that they can carry out activities for the museum in a well-balanced manner. 4. Local Peoples’ Activities and Organization of MARUHAKU Liaison Council of Ecomuseum Miura Peninsula The local peoples’ groups in Miura Peninsula perform various activities. However, on the other hand, according to our interview in 2004, some groups talked about the communication with other groups quite differently. For example, they said, “We can’t imagine how to communicate.” “Our activities are good enough on the current conditions without the help from other groups.” Also, others said, “We think we can conduct activities cooperating with other groups, but we are busy with our own activities in fact. We don’t expect something specifically.” “We are afraid that it is difficult to coordinate groups.” In 2005, MARUHAKU liaison council of Ecomuseum Miura Peninsula (“MARU” means “whole”, “HAKU” does “museum”, and we will call it just “MARUHAKU” below) started its activities aiming at realizing Ecomuseum in the peninsula as an attempt to connect these action groups. It consists of the members made up of municipalities (4 cities and a town) and local peoples’ activity groups (20 groups), the advisors (2 scientists), and the organizers (4 people) chosen among the member groups. 5. Meanings of Network Member groups of MARUHAKU liaison council have their own objectives and themes in their action regions and conduct research and study, conservation and preservation, visit sessions and exhibitions and so on. To know their reality and opinions, we conducted a questionnaire with 14 member groups (18 people) and interviewed 11 groups among them. Below, we will summarize the meanings of network building found through the interviews of local peoples’ groups and so on. (1) Support Group Activities Indirectly and Potentially The groups joining the liaison council have realized that they can (a) know and understand other group activities, (b) understand the relationships between their own group and other groups, (c) build interactive relationships with people, (d) ask for support or advice from other groups, (e) learn know-how of activities from other groups, and (f) connect it to various ideas. Some said that they could ask for other group support or advice like (d) only when they had a specific acquaintance in the group. Creating an “acquaintance” foundation is a great meaning of the network building. 139 Moreover, others said, “A member of our group had an acquaintance in another group. That was how the group asked for our support,” and so on. We can say that the relationships among individuals are more important than those among groups. And we could confirm gradual interactive progress. It is like this. (i) They know and understand other group activities. (ii) They grasp the other group relationship with their own group. (iii) They want to ask for support in a specific activity. And only then, such an activity support request is made. Many people said, “We could know other group activities and ideas” through MARUHAKU-related activities. Just to “know other group activities” has a great potential possibility leading to future activities. (2) Offer “a Place” for an Individual to Study a Region Comprehensively It is important that the individuals in local peoples’ groups, not the groups, join MARUHAKU liaison council meetings or forums such as tours. In an interview, they said, “I don’t know the region well yet. I don’t know the method or measure to know it. Through the liaison council activities, I have met other group activities and ideas and got the know-how to know the region.” This is the case in which the activities offered by the liaison council provided an individual with opportunities to meet other group activities and the person could get “a new point of view to know the region” through them. We can say that the liaison council exists as “a place to study a region comprehensively” for an individual. (3) Build a Multidiscipline Network In interviews, some said, “We have communicated and had relationships with other groups since before.” Considering how much they had grasped other group activities before MARUHAKU liaison council started, there is a big difference depending on groups, but we could perceive the trend below. -Environment-oriented groups grasp the activities mainly of environment-oriented groups and of relatively few groups in other fields including culture and history. They have many acquaintances in the same environment-oriented groups. -Culture or history-oriented groups know the activities of other groups in the same field, but know almost nothing about the activities of environment-oriented groups. Also, they have relatively many acquaintances in the same field and a few, in other fields. people learn how to perceive the region comprehensively from various directions beyond a field or a point of view. Ecomuseum can be the tool for reforming these "theme-oriented communities” into a “local community”. Ecomuseum activities are never ending. They are constantly developed, reviewed and altered. And it is the local people who set the directions for the region. We consider it the next task to realize social inclusion by creating opportunities to We can say that much of the network before the groups join the liaison council was the exchanges limited to the inside of the same field. What happened to this situation after they joined MARUHAKU liaison council? Joining the council encouraged them to grasp the activities of the groups in other fields. And we confirmed that they had built the acquaintance relationships with groups in other fields. We can say that it is due to the creation of the liaison council. On the other hand, they listed problems as future tasks. For example, they said, “It is difficult to make MARUHAKU activities known to every member of our group.” “How we will move in the future is the next problem.” “We can’t say that MARUHAKU has taken off or become independent as an organization already while the foundation (KIF) and the prefecture (Prefectural Administration Center) leads and plans.” 6. Result of survey We have confirmed that the groups have grasped other group activities, communicated with other groups and created acquaintance relationships beyond fields because people’s communication was encouraged by the inauguration of MARUHAKU and 140 related activities. Also, it has become evident that this leads to the support for the activities of the groups themselves in the current situation. We have found a meaning of the council. An individual member who attends the meetings or forums of the liaison council can meet other group activities and take in a new point of view to know the region through the council activities. Also, we can regard it as one of Ecomuseum’s meanings that meet the liaison council’s activities so that we can provide a point of view toward the region of local people joining exhibitions or visit sessions of each group and individuals who do not join the council in each group. OS ECOMUSEUS E O PATRIMÔNIO DA LIBERDADE DE AÇÃO COMUNITÁRIA Odalice Miranda Priosti* e Walter Vieira Priosti** NOPH-Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica/Ecomuseu de Santa Cruz - Rio de Janeiro-BRASIL ABREMC-Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários2010/2012 RESUMO Com o objetivo de revelar e confirmar as conquistas e inovações dos ecomuseus e museus comunitários brasileiros, apresentamos ao tema do IV EIEMC a contribuição do Ecomuseu de Santa Cruz com sua experiência de 29 anos (1983/2012) de uma prática em comunhão com a teoria dos “novos museus” ou museus saídos das comunidades. Da experiência vivida no bairro de Santa Cruz, Rio de Janeiro construiuse a noção de “museologia da libertação”: uma experiência que aceitou e cumpriu o desafio lançado na Mesa de Santiago, há 40 anos. Debutava a América Latina na criação de um outro patrimônio . Não só o conceito do patrimônio integral, mas, só agora o reconhecemos, o patrimônio da liberdade de escolher a trilha da memória a seguir e de agir segundo essa escolha Isso explica a capacitação da comunidade para o exercício consciente e responsável da cidadania. Essa capacitação promovida pelo ecomuseu apresenta resultados muito significativos que o fazem ratificar não só a libertação das forças vivas das comunidades para agir - suas singularidades, sua diferença, sua subjetividade, mas também com ela a produção de um processo pedagógico de apropriação patrimonial e com o patrimônio construir, definir ou orientar o próprio futuro. Em suma, a organização da comunidade para as parcerias e a capacitação da cidadania política dos membros da comunidade como um todo, usando o recurso do patrimônio para o desenvolvimento local e a força política para exercitar a liberdade de escolhas e decisões. Palavras-chave: Ecomuseu – Comunidade – Memória – Patrimônio – Museologia da Libertação. RÉSUMÉ * Educadora e Museóloga; Doutora em Memória Social pela UNIRIO/PPGMS 2010, Coordenadora de Estudos e Projetos do NOPH / Ecomuseu de Santa Cruz, Coordenadora do II e do III Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários, III EIEMC (Rio de Janeiro/ Santa Cruz, 2000 e 2004); Coordenadora da I Jornada Formação em Museologia Comunitária, Rio de Janeiro/ Santa Cruz, 2009; Vice-presidente da ABREMC – Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários [email protected] ** Economista, comunitário desde 1972, Coordenador geral do NOPH (2012/2013). Coordenador geral do II e do III Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários, III EIEMC (Rio de Janeiro/ Santa Cruz, 2000 e 2004), Fundador da ABREMC – Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários, Rio de Janeiro, 2004; Coordenador geral da I Jornada Formação em Museologia Comunitária, Rio de Janeiro/ Santa Cruz, 2009 - [email protected] 141 Nous présentons la contribution de l´écomusée de Santa Cruz au thème de la 4eme Rencontre Internationale des Ecomusées et des Musées Communautaires l´expérience de 29 ans (1983/2012) d´une pratique liée à la théorie des “nouveaux musées”, c´est-à-dire, des musées issus des communautés. L´objectif de cette présentation n´est que de révéler et confirmer les conquêtes et les innovations des écomusées et des musées communautaires brésiliens. On part de l´expérience vécue à Santa Cruz, une banlieue de Rio de Janeiro, pour construire la notion de “Muséologie de la libération” : une expérience qui a accepté et qui a mis au jour le défi lancé par la Table Ronde de Santiago, il y a 40 ans. L´Amérique Latine commençait alors la création d´un autre patrimoine: non seulement le concept de patrimoine intégral, mais, comme nous le reconnaissons seulement maintenant, le patrimoine de la liberté de choisir le chemin de mémoire à suivre et d´agir selon ces choix. Cela explique la capacitation de la communauté en vue d'un exercice conscient et responsable de la citoyenneté. Cette capacitation promue par l´écomusée montre des résultats très significatifs qui assurent non seulement la libération des forces vives des communautés pour agir – leurs singularités, leur différence, leur subjectivité – mais aussi la production d´un processus pédagogique d´appropriation patrimoniale et, avec le patrimoine, construire, définir, ou orienter leur propre avenir. Finalement, il s'agit de l´organisation de la communauté en vue des partenariats et de la construction de la citoyenneté politique de ses membres, en utilisant le patrimoine comme ressource pour le développement local et comme force politique pour exercer la liberté des choix et des décisions. Mots-clé : Ecomusée – Communauté – Memoire – Patrimoine – Muséologie de la Libération INTRODUÇÃO O tema do IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários – Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local nos apresenta como uma oportunidade única de dar nosso testemunho após mais de 20 anos no seio da experiência do Ecomuseu de Santa Cruz. Ao longo de duas décadas ativamente no processo, a comunidade de Santa Cruz mais uma vez vivenciou a influência do poder sobre suas ações ou pelos menos sobre sua vontade de gerir o museu que foi por ela criado para construir memória e se fazer sujeito de sua própria história. No tempo da Colônia, a Fazenda se dobrava às ordens da Coroa e, na cerimônia do beija-mão, afirmava festivamente o seu assujeitamento ao Rei, não sem considerar o quanto a proximidade do poder trazia benefícios à longínqua Fazenda de Santa Cruz, encarnada na presença do Rei e da Corte na sede campestre do governo: entre despachos e festas religiosas, saraus e viagens de estudos de artistas e cientistas integrantes da comitiva real, a Fazenda, que prosperou no tempo dos jesuítas, encontrou momentos de apogeu com a presença de D. João VI e dos Imperadores D. Pedro I e D. Pedro II. Marcas desse tempo se amalgamaram ao modo de vida e de fazer cultura da gente herdeira dos tempos jesuítico, real e imperial. A intermitência da presença do poder mostrou também o abandono e o esquecimento nos períodos em que, sem a presença dos monarcas, ficava à deriva, abandonada à própria sorte. A mudança de atitude se inicia como resposta à nova imposição quando, tradicional reduto da agricultura na cidade do Rio de Janeiro, é forçada a mudar seu perfil psicossocial de população agrícola para abrigar um grande polo industrial nessa região. Motor da mudança, esse fato era justificado como a necessidade de criar suporte econômico para o novo Estado da Guanabara, surgido em seguida à fundação da nova capital do Brasil. Nesse período, numa das poucas vezes em que a sociedade local se moveu por si só, autônoma, se organizou e fundou em 1983 o que viria a ser não só um Núcleo de 142 Pesquisa Histórica ( NOPH), mas o início do primeiro ecomuseu comunitário do Brasil. Ali começava uma das mais significativas experiências de uma comunidade, afrouxando os laços do assujeitamento para se libertar de si mesma, de sua inércia e acomodação. Desde então o Ecomuseu de Santa Cruz desenvolveu na comunidade uma pedagogia própria de estudos sobre si mesma, de apropriação de sua liberdade de agir, de reflexão sobre seu patrimônio e sobre o território de sua ação. Passados 20 anos da sua revelação como ecomuseu, percebe-se que a experiência vivida no ecomuseu foi uma capacitação em tempo integral, onde os membros dessa comunidade vivenciaram o aprendizado de si mesmos, reconhecendo-se atores do desenvolvimento local. Ao reacender os vínculos com o espaço vivido, os faróis se iluminaram novamente sobre o bairro distante e, ainda que num processo lento, desordenado e complexo, o desenvolvimento chegou, muitas vezes sem a escuta à comunidade afetada. Em uma avaliação imparcial, pode-se ratificar que o maior patrimônio construído nessa trajetória foi a libertação das próprias forças vivas da comunidade, o que tínhamos de melhor culturalmente em nós mesmos, como comunidade, para colocar a serviço do local, do bem comum e construir esse capital cultural sedimentado com o cotidiano da gente na experiência do Ecomuseu de Santa Cruz. Durante a gestação e desenvolvimento do ecomuseu, algumas vezes Santa Cruz se tornou observatório museal, onde muitos vieram buscar fundamentos e práticas exitosas para novas iniciativas no Brasil. A realização de dois encontros internacionais pela própria comunidade em 2000 e 2004 e de uma Jornada Formação em Museologia Comunitária(2009) coloca o Rio de Janeiro e certamente Santa Cruz no eixo da Museologia Social Brasileira, em cuja trilha seguem inúmeras outras iniciativas, cultivando e refletindo sobre a “museologia que liberta e educa” e acrescentamos, que organiza as comunidades e as capacita para serem gestoras do próprio desenvolvimento local. Sociedade organizada em seus diversos segmentos, Santa Cruz abraçou o conceito de ecomuseu e criou uma metodologia própria- práticas simples como inventário participativo, rodas de lembranças ou rodas de memória, publicação de informativo bimestral, projetos educativos voltados para o patrimônio, entre outras. É preciso então ressaltar que essa museologia inspirada nos princípios freireanos de Educação Popular não é outra senão aquela que trouxe protagonistas e responsáveis por experiências de vários países a Santa Cruz para discutir “Comunidade, Patrimônio e Desenvolvimento sustentável “(2000) e “Comunidade, Patrimônio compartilhado e Educação” (2004) e que, pensando o futuro dos ecomuseus e dos museus comunitários concebeu e realizou as I Jornadas, priorizando a formação de museólogos para museus comunitários e desse modo buscando a sustentabilidade desses processos. Por fim, o testemunho dos participantes do Ecomuseu de Santa Cruz ratifica uma última e determinante afirmação: o Ecomuseu e o museu comunitário são formas de organização social e capacitação da cidadania política dos seus membros e da comunidade como um todo, não só através do recurso do patrimônio local para o desenvolvimento como também para libertar a força política das comunidades para fazer suas escolhas e com ela agir , definir ou pelo menos buscar orientar seu futuro, sujeitos de sua história. Museologia da Libertação: a pedagogia patrimonial libertadora dos processos museológicos comunitários * - (Adaptação de fragmento da tese) Para serem de fato sujeitos e não objetos passivos, pressupõe-se um mínimo de autonomia para escolher, decidir, tomar iniciativas, portando, liberdade de agir. Assim, desenvolvemos uma concepção que talvez possa, ao nosso ver, trazer contribuições para o campo da museologia, principalmente no que diz respeito às iniciativas museológicas comunitárias. Trata-se da noção de museologia da libertação. 143 Para construí-la, nos apoiamos na proposta de pedagogia da libertação de Paulo Freire, aliada à experiência do Ecomuseu de Santa Cruz. Todavia, não pretendemos simplesmente transpor uma ideia do campo pedagógico para o campo museológico. Diversamente disso, pretendemos nesse deslocamento de um campo a outro, fazer a noção sofrer alguns deslocamentos e enriquecê-la com novos desenvolvimentos. Utilizamos a noção de Paulo Freire naquilo que ela é capaz de trazer para iluminar algumas teorias e práticas museológicas, sem nenhuma pretensão de fidelidade ou imitação absoluta. Uma das modificações que gostaríamos de destacar na concepção museológica, em relação à ideia de pedagogia da libertação proposta por Paulo Freire, diz respeito à própria ideia de libertação: pretendemos pensar uma libertação que não resulte apenas de relações de oposição – opressores e oprimidos, por exemplo - mas que seja também uma libertação das subjetividades naquilo que elas possuem de mais inventivo e singular. Com o intuito justamente de diferenciar o que está em jogo na noção de museologia da libertação, bem como o nosso próprio procedimento ao construir a noção, concebemos que no ecomuseu estão em estreita relação os conceitos de imitação e de criação. Assim, pensamos que a ideia de práticas de liberdade e de “ações culturais libertadoras”, propostas por Freire, podem ser utilizadas também para pensar a libertação das subjetividades através de práticas criativas e inventivas, que se disseminam rizomaticamente pelo campo social. Para esclarecer melhor esta dimensão criativa da subjetividade e da memória que, ao invés de fortalecer-se pela oposição, ganha força pelo contágio, utilizamos o pensamento do sociólogo francês Gabriel Tarde. Um dos conceitos que fundamentam a ideia de libertação das subjetividades, tal como é aqui pensada, é a diferença, conceito trabalhado por Gabriel Tarde em sua obra de referência As Leis da Imitação (TARDE: s/d). Para Tarde, a invenção humana se entrecruza sempre com a imitação. Tarde pensa a constituição do campo social a partir das diferenças, e não das semelhanças. Mudando o foco das semelhanças para a diferença, ele constata que a imitação e a invenção se articulam e se sucedem: se, por um lado, cada invenção inaugura um novo modo de imitação, uma nova série aberta, cada imitação é também uma nova invenção, ou seja, a imitação anterior acrescida das marcas do seu tempo e espaço, e não a repetição do mesmo. Pretende-se pensar a ideia de libertação, contida no pensamento de Paulo Freire, em consonância com o pensamento de Gabriel Tarde e sua concepção de criação, na qual “existir é diferenciar- se” (TARDE: s/d), ou seja, imitar é repetir o anterior de forma diferenciada. É desse modo que se pode pensar a estratégia pedagógica a ser adotada no museu comunitário, um museu que pretende libertar-se de um modelo, libertar-se, a partir da redescoberta do local, com outro olhar, após os nutrientes da informação sobre o local. Mas libertar-se também independentemente do que ou de quem, construindo uma autonomia nos modos de vida, nas maneiras de valorar os bens e de constituir a memória, inventando, permanentemente segundo os problemas encontrados nas situações cotidianas. Nesse sentido, o museu não difere de ninguém, mas vai diferindo de si mesmo em seu exercício diário, levando em conta que diferenciar-se é a própria criação de si, e que um museu, ao diferenciar-se permanentemente, cria sua forma própria. Obviamente, da mesma forma os museus instituídos podem ser repensados e ser contaminados pelas formas, métodos e estratégias do museu comunitário, o que pode ser demonstrado através das novas práticas de ações educativas que vêm buscando uma aproximação ainda maior com as comunidades, fazendo-as participantes e até curadoras de exposições ao ar livre, itinerantes, aproveitando a fala dos próprios habitantes/ moradores da região. A realização de feiras culturais, saraus, oficinas relâmpago de artesanato, exposições compartilhadas utilizando objetos cedidos pela comunidade, exposições com roteiros externos à sede do museu, visitas aos 144 patrimônios da cidade orientadas ou dinamizadas por gente da comunidade mostra que essas práticas tão comuns nos museus comunitários e ecomuseus têm encontrado eco nos demais museus e mesmo sido incorporadas ao seu cotidiano. Assim, escapando à rigidez de um modelo museológico herdado dos europeus, a criação de processos museológicos comunitários aproveita ideias básicas de museu instituído, mas as adapta ou recria segundo as próprias demandas das comunidades que os criam nos seus específicos espaços vividos. Ao mesmo tempo, é importante, nas práticas exercidas no ecomuseu, que suas conquistas possam ser “imitadas” diferentemente, no sentido de Tarde, por outras comunidades, espraiando-se quase como um contágio: é talvez a isso que se refere Paulo Freire, quando afirma que a experiência da libertação precisa encontrar outros sujeitos com histórias similares, sendo preciso difundir e internacionalizar a resposta local, a fim de partilhar o que deu certo. Museologia da libertação (Adaptação de Fragmento da tese ) É neste sentido que pretendemos pensar uma Museologia da Libertação* revelada à luz da memória social, cujos fundamentos poderiam estar na base de um museu educador- libertador que, ao adotar a libertação das forças culturais simultaneamente pela oposição e pela afirmação, mesclando a imitação e a diferença, produz memória. Em outros termos, pretendemos pensar a possibilidade de libertação das forças vivas de uma comunidade pela musealização do espaço vivido e por ações patrimoniais que afirmam as subjetividades coletivas ao mesmo tempo em que se opõem às políticas públicas impostas, e que afirmam sua singularidade museológica ao mesmo tempo em que combatem os fundamentos da museologia convencional. A museologia da libertação seria, a nosso ver, o processo pelo qual as comunidades – e particularmente a de Santa Cruz – pode construir uma memória enquanto resistência, uma memória que não se assujeita a um modelo que lhe foi imposto, mas que com ele negocia, imitando-o e diferenciando-se dele de múltiplas maneiras. Numa outra perspectiva, a própria criação de museus por iniciativa das comunidades reforça a ideia de que a libertação de que tratamos aqui refere-se também à libertação das forças vivas, endógenas da comunidade no seu exercício de subjetivação. A museologia da libertação representa uma produção de processos museológicos diferenciados, “os novos museus” – museus que colocam os sujeitos no centro de sua preocupação, em vez dos objetos e das coleções que eles produziram. Ou seja, são museus nos quais a intenção primeira não é a conservação ou a sobrevida dos bens de uma coleção ou de uma coleção de patrimônios, mas, primordialmente, o desenvolvimento de uma comunidade consciente e responsável para o agir e criar, capacitada para a construção de sua memória e para o exercício da cidadania. Portanto, estamos tratando aqui de criação onde os fatores essenciais e determinantes são as singularidades de cada comunidade. É nesse sentido que o exercício da “escuta” é adotado como o método próprio nos ecomuseus e museus comunitários. Ouvindo as falas dos habitantes, estaremos libertando suas histórias de vida, conhecendo o destino das memórias trazidas para esse espaço, vindas pela imigração ou pela remoção das favelas do Rio e seu reassentamento em Santa Cruz. Ao propormos a museologia da libertação, nossa ideia é trabalhar a memória como um processo pedagógico de subjetivação e de libertação das forças vivas das comunidades. Sem o propósito de um aprofundamento na questão teológica e muito mais interessados na aproximação à atmosfera de ruptura do fator principal do * Citada por Hugues de Varine no texto A Nova Museologia: Ficção ou realidade, In: SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA. Museologia Social. Porto Alegre, Unidade Editorial, 2000, pp. 24-25 e em seu livro Les Racines du futur- Le patrimoine au service du développement local , 2002, p.183 , foi apresentada por esta autora no III EIEMC – III Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários, Rio de Janeiro, 2004. In: CD ROM Atas do III EIEMC/ X Atelier Internacional do MINOM, 2004. 145 subdesenvolvimento: a dependência, trataremos aqui da passagem de uma dependência cultural para uma libertação. Pois, se o modelo desenvolvimentista acionou uma consciência nacionalista, é certo também que foi promovido com base num capitalismo dependente, que distribuiu de forma desigual os benefícios para os países já desenvolvidos e os malefícios aos países historicamente atrasados, subdesenvolvidos e periféricos (BOFF: 2001 p.110), aprofundando o vácuo entre os mais ricos e os mais desfavorecidos. À dependência entre o centro e a periferia se deveria opor um processo de ruptura e de libertação. Portanto, desfazia-se a base para a Teologia do desenvolvimento e se criavam os fundamentos teóricos para uma teologia da Libertação. (Idem) Portanto, o que nos religa a essas questões é somente o contexto histórico da efervescência político-social que antecedeu o sopro renovador na Igreja, provocando nos anos 60 a emergência de diversos movimentos eclesiais e populares e o reconhecimento de uma América Latina por ela mesma, ou seja, uma América Latina que toma decisões e escolhe seus próprios caminhos, plantando as bases de uma libertação sócio-política. A Nova Museologia, inspirada na educação libertadora de Paulo Freire e norteada pela Declaração de Santiago, desmistificou a imperiosa necessidade de copiar ou imitar os museus da Europa e aproximou os protagonistas de diversas experiências de novos museus e assim (...) os militantes da nova museologia se reconhecem e buscam uma “museologia da libertação” (termo de Odalice Priosti) própria para ajudar as comunidades a encontrar nelas mesmas e fora delas a força e os meios para viver e agir como sujeitos e atores de seu * próprio futuro. (VARINE: 2005) Podemos afirmar que as reflexões de Hugues de Varine e mesmo a provocação de sua reverência/ reconhecimento da contribuição do pedagogo brasileiro aos fundamentos da Nova Museologia, articuladas com as Freire, culminaram com a apresentação do texto Museologia da Libertação e a construção democrática do patrimônio do futuro (PRIOSTI, 2004), para as discussões preparatórias do III EIEMCIII Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários, realizado no Rio de Janeiro, em Santa Cruz, em 2004, em reunião conjunta com o X Atelier Internacional do MINOM. O tema - Comunidade, Patrimônio compartilhado e Educação justificava a expansão do conceito de museu educador –libertador para uma museologia diferenciada capaz de reler a obra de Paulo Freire (Educação como prática de liberdade) e aproximá-la da experiência dos ecomuseus e dos museus comunitários e simultaneamente decodificar o sentido dos processos de libertação, tal qual a interpretação de Leonardo Boff, na esteira da Teologia da Libertação, adaptando-a a Nova Museologia. Com relação a Paulo Freire, trabalhamos com as noções de pedagogia da libertação (lidas por nós como processos pedagógicos que promovem e estimulam a produção de subjetividades e através delas libertam as forças vivas da comunidade) e pedagogia da autonomia (pela qual o homem toma a si a capacidade de escolhas e tomada de decisões), conforme foram apresentadas no livro O Tempo Social, de H. de Varine. Estas noções são revisitadas e transpostas por nós para os processos museológicos como fundantes de uma museologia da libertação.Desde 1999, nos preparativos para a realização do II Encontro Internacional de Ecomuseus (II EIE), * Tradução livre de OMP do original em francês: (...) les militants de la nouvelle muséologie se reconnaissent entre eux et poursuivent leur recherche d´une “muséologie de la libération” ( mot d`Odalice Priosti) propre à aider les communautés à trouver en elles-mêmes et em dehors d´elles la force et lês moyens de vivre et d´agir en sujets et acteurs de leur propre avenir.( VARINE: 2005 ) Articles publiés dans: Les Nouvelles de l'ICOM, Vol. 58, No. 3, 2005. ICOM -La décolonisation de la muséologie 146 proposto pelo Ecomuseu de Santa Cruz, junto ao qual se realizou também o IX ICOFOM LAM- IX Reunião Anual do Comitê Internacional do ICOM para a Museologia na América Latina e Caribe, em 2000, no Rio de Janeiro (Santa Cruz), mantivemos com Hugues de Varine estreita correspondência via Internet. A comunidade local preparou todo o Encontro, organizada em seis grupos de trabalho, que planejaram e executaram todo o programa. Nessa época, nossas questões mais conflituosas abordavam quase sempre as limitações impostas pelo poder público às ações culturais comunitárias do ecomuseu, em nome de uma autonomia reivindicada. Essas reflexões à distância engendraram o programa do II EIE e incluíram entre os ateliês dos grupos de trabalho o tema: Museu educador-libertador: pedagogia, o qual foi coordenado pela Profa. Dra. Maria Célia Moura Santos**que trazia sua própria experiência na concepção e fundação do Museu Didático-comunitário de Itapuã***na Bahia. Minha própria imersão nas obras de Paulo Freire também sedimentou o que chegamos a conceber como “museologia da libertação”: Pois trata-se não só da libertação da confiança em si, da criatividade, da capacidade de iniciativa, mas também de uma libertação das dependências culturais, da promoção de valores consagrados, do poder do saber, etc A Mesa redonda de Santiago do Chile de 1972 enobreceu essa museologia, sugerindo o primado do homem e da comunidade como autores e atores de uma instituição que não deveria estar unicamente a serviço de suas coleções ou de seus conservadores(técnicos), ou mesmo a públicos cultural e socialmente **** minoritários. (VARINE, 2002, p. 183-184) Aqui privilegiamos a interface com a educação, contemplando a “pedagogia da libertação” de P. Freire. A nosso ver, trata-se de uma museologia protagonizada por comunidades que, numa abordagem claramente política no sentido mais nobre da palavra, criam processos museológicos, ou seja, musealizam seu espaço vivido, seu patrimônio, as relações dinâmicas da vida em comunidade e os utilizam como meios e caminhos para conscientizar os membros das comunidades sobre si mesmos, afirmar suas especificidades, potencializar neles a autonomia e a iniciativa. A musealização processual é um aprendizado lento e cumulativo onde a participação direta das comunidades nas escolhas, tomada de decisões e consequentes iniciativas pode contemplar uma libertação de subjetividades coletivas, as quais, sustentadas por um conhecimento de si, emergem e se afirmam, resistindo a um contexto político-cultural que desestimula a inovação. Referências bibliográficas: BOFF, Leonardo e Clodovis. Como fazer a Teologia da Libertação. Petrópolis: Ed. Vozes, 8ª ed. 2001 BOFF, Leonardo. Discurso no Fórum Social Mundial – Porto Alegre, jan.2003. In: A exclusão, segundo Leonardo Boff – Félis Concolor , publicado na Revista JB Ecológico- Ano I nº 13, fev. 2003 ** A profa. e museóloga Maria Célia T. Moura Santos publicou um livro Repensando a Ação Cultural e Educativa dos Museus, Salvador , Centro Editorial e Didático da UFBA: 1993, onde na página 43 questiona: Não é viável assumir o papel de museu educador, comprometido com uma nova prática pedagógica para transformar? *** Ver Santos, Maria Célia T. Moura. Processo Museológico e Educação: construindo um museu didáticocomunitário em Itapuã. Salvador: UFBA, Faculdade de Educação, 1995. Tese (Doutorado em Educação) **** Tradução livre da autora do texto original: ... Car il s´ agit bien de la libération de la confiance en soi, de la créativité, de la capacité d´initiative, mais aussi d´une libération des dépendances culturelles: consommations, promotion des valeurs consacrées, pouvoir des savants, etc. La Table Ronde de Santigo du Chili de 1792 a donné des lettres de noblesse à cette muséologie, en suggérant le primat de l´homme et de la communauté comme auteurs et acteurs d´une institution qui ne devrait être au seul service de ses collections ou de ses conservateurs, ou même de publics culturellement et socialement minoritaires. (VARINE: 2002, p. 183-184) 147 BOURDIN, Alain. A questão local. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2001 FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 24 ª ed. 2000 _______. Conscientização e libertação: uma conversa com Paulo Freire- Entrevista por Paulo Freire ao Instituto de Ação Cultural de Genebra, 1973. In: Freire, Paulo. Ação Cultural pela Liberdade e outros escritos. 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A idéia da realização das I Jornadas Formação em Museologia Comunitária surgiu durante o Fórum Social Mundial- FSM-, em Belém, 2009, onde a ABREMCAssociação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários e seus parceiros, entre eles o NOPH e o Ecomuseu de Santa Cruz, tinham uma atividade autogestionada – Seminário e exposição “NATUREZA E CULTURA : MEMÓRIA COMO CAPITAL CULTURAL – Gestão e sustentabilidade de processos museológicos comunitários” , integrando o eixo temático Memória, Ambiente e Cultura. No desdobramento do FSM 2009, foi proposta e aceita a realização do IV EIEMC – IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários em Foz do Iguaçu, no Paraná, sob a coordenação do Ecomuseu de Itaipu. Tinha-se como meta difundir o encontro no sul do Brasil, já que as três edições anteriores haviam acontecido no Rio de Janeiro: 1992 (Centro), 2000 (Santa Cruz) e 2004 (Santa Cruz). Assim planejou-se que as I Jornadas aconteceriam na sequência do IV EIEMC. Entretanto, razões diversas levaram a transferir o IV EIEMC, mas foram mantidas as I Jornadas em Santa Cruz. Tendo por tema Ecomuseus, Museus Comunitários e Patrimônio e o Turismo de base comunitária - Estratégias de trocas, participação e desenvolvimento e por Subtema: Metodologias de trabalho nos ecomuseus e museus comunitários: aspectos comuns e aspectos singulares, a Jornada tinha por objetivos: - reunir comunidades e profissionais envolvidos em processos museológicos de ecomuseus, museus comunitários e outros para a reflexão sobre os efeitos do turismo e a contribuição que esses museus podem dar ao turismo sustentável pela participação comunitária - capacitar membros das comunidades como facilitadores que transmitam técnicas e métodos participativos para a criação e desenvolvimento de museus comunitários, catalisando processos de organização locais - reconhecer, apoiar e divulgar novas experiências e metodologias próprias da museologia comunitária; - estabelecer redes de intercâmbio continuado entre protagonistas, estudiosos e simpatizantes dos ecomuseus, museus comunitários e similares Numa avaliação global, a Jornada que aconteceu em dois módulos, o primeiro de 23 a 31 de outubro e o segundo, de 1º a 07 de novembro de 2009, foi uma experiência exitosa, pois contou com a participação de responsáveis e protagonistas de 150 ecomuseus e museus comunitários brasileiros, estudantes, professores, artesãos e membros da comunidade local, além de Hugues de Varine (França) como especialista e observador e Teresa Morales (México) como ministrante do Taller de Facilitadores de Museos Comunitarios, adaptado do que acontece anualmente em Oaxaca, no México. Os módulos I e II da Jornada superaram qualitativa e quantitativamente as expectativas, tal a diversidade de experiências e iniciativas representadas, tendo recebido adesões de diferentes estados brasileiros. Como iniciativa pioneira no Brasil de formação em Museologia Comunitária, a I Jornada cumpriu sua missão, reunindo especialistas, profissionais e responsáveis por processos museológicos comunitários já consolidados, em formação, outros ainda em fase de concepção e estudantes universitários que vinham em busca de conhecimento nesse campo específico da Museologia. Possibilitou, com as oficinas realizadas, a formação de uma rede de trocas e solidariedade entre as experiências e a apresentação de diferentes técnicas, métodos e estratégias próprias dos ecomuseus e dos museus comunitários. Fortaleceu projetos ainda embrionários e cultivou com os exemplos apresentados a potencialidade que têm as comunidades para a criação e a gestão de seus processos de memória. Ressaltem-se ainda a criatividade e o dinamismo das oficinas, oferecendo um aprendizado lúdico e sensorial, incluindo dinâmicas variadas com a intervenção de música, dança, poesia, literatura de cordel, reflexão, exposições diversificadas, debates, concepção e montagem de exposição, visitas a museus (Museu da Maré, Museu do Pontal, Museu Imperial), visitas a localidades com potencialidade para a criação de museus comunitários ou ecomuseus como Arrozal, Distrito de Piraí, RJ e Sepetiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Registramos ainda fragmentos da avaliação das I Jornadas, pelo seu observador Hugues de Varine: “(...) A intervenção de Teresa Morales, por seu rigor metodológico e a originalidade de sua abordagem tem aberto, eu creio, novas perspectivas entre os participantes e estabelecido uma passarela entre o Brasil e o México, dois países inovadores em matéria de patrimônio e museus.” “(...) A nova função de “facilitador” particularmente, parece-me, pode ser utilizado em territórios onde a multiplicação de museus locais atinge proporções importantes: a cidade do Rio com os museus de favelas em particular. A ABREMC e seus membros mais experimentados poderiam assim oferecer um serviço às comunidades que desejem se engajar na criação de museus, de centros de memória e de outras políticas patrimoniais. Seria útil definir para o Brasil essa função de facilitação: catálise de energias e de saberes, nascimento de projetos, acompanhamento de sua execução.” “(...) Como eu constatei no resto da viagem ao Brasil, todos os programas de formação, nas universidades ou “no terreno”, não levam em conta suficientemente a dimensão territorial do desenvolvimento, portanto do quadro físico, humano e político dos projetos de patrimônio e de museu. Sempre seria preciso prever um “módulo” sobre a análise do território, provavelmente confiado a um geógrafo e aplicado a alguns casos precisos. Se se quer evitar que o museu seja uma instituição “ fora do solo” como as culturas agrícolas “fora do solo”, é preciso ancorá-lo fortemente no seu território, portanto conhecê-lo e acompanhá-lo nas mudanças que o afetarão. O território permite também um aprendizado da complexidade e das dinâmicas de 151 desenvolvimento e de organização cuja tomada de consciência é necessária para que o museu represente todo o seu papel. - na apresentação de casos de museus ou de projetos, não se fala praticamente nunca de planos e projetos de desenvolvimento global preparados ou adotados para o território do museu. Os museólogos provavelmente não compreenderam que seu projeto deve se inscrever nesses planos, com a finalidade de coerência e também de sustentabilidade. Ao mesmo tempo os responsáveis políticos e administrativos que tem o hábito de considerar os museus como pertencentes ao domínio da cultura não os contemplam nas suas reflexões estratégicas e no planejamento econômico e social. Esta questão poderia ser o objeto de formações ao mesmo título dessa análise dos territórios. - a noção de “subsidiaridade” que justifica a legitimidade do fazer nascer um museu de sua comunidade e de seu território, para responder às suas necessidades: O princípio de subsidiaridade é uma máxima política e social, segundo a qual a responsabilidade de sua ação pública, enquanto ela for necessária, deve ser atribuiída à menor entidade capaz de resolver o problema dela mesma... É então o cuidado de vigiar para não fazer um nível mais elevado que pode ser com mais eficácia, numa escala mais frágil, quer dizer, a busca do nível pertinente da ação pública (Wickipédia) - a adaptação da doutrina de Paulo Freire no caso dos museus: a museologia clássica, aplicando os códigos da alta cultura e definida por profissionais saídos dela é uma museologia bancária, que impõem escolhas e valores, enquanto a museologia libertadora respeita a capacidade da comunidade e de seus membros de decidir por eles mesmos escolhas a fazer e valores a transmitir. Odalice já tratou frequentemente destes temas e deveria continuar a aprofundá-los (um relato a apresentar no encontro de Itaipu, por exemplo).” Fonte: QUARTEIRÃO 85 – Nov/Dez 2009 – p. 12 Também na visão de Teresa Morales, ministrante das Oficinas de Formação de Facilitadores de Museus Comunitários, recolhemos algumas impressões: “(…) o evento destacou-se ao reunir representantes e profissionais responsáveis por ecomuseus e museus de todo o país, incluindo o Museu Treze de Maio, RS, Ecomuseu da Amazônia, Museu Comunitário de Percurso/Museu de Rua/Picada Café, RS, Ecomuseu de Itaipu, PR, Museu da Maré, RJ, Ecomuseu Dr. Agobar, SC, Ecomuseu de Maranguape, CE, Museu do Folclore, SP, e o Ecomuseu da Serra de Ouro Preto, MG. Cada museu expôs os antecedentes e as atividades atuais de seu projeto, permitindo conhecer a extraordinária diversidade de iniciativas empreendidas em torno da valorização da memória e do patrimonio cultural. Entre muitíssimos exemplos me vem uma imagen inspiradora do Clube de Negros que fortaleceram o tecido social de suas comunidades através de festas, música e baile e formaram a base do projeto atual do Museu Treze de Maio. Também me pareceu exemplar o trabalho do Museu Comunitário de Percurso ao vincular alunos, professores e membros comunitarios nos Museus de Rua que documentaram e representaram nove temas diversos, incluindo histórias familiares, jogos e religiosidade. “(…) Foi um grande prazer conhecer a instituição anfitriã das I Jornadas- o Ecomuseu de Santa Cruz, e ser testemunha de sua vinculação com grupos escolares, grupos de atenção especial a pessoas com capacidades diferentes, grupos artesanais e o grupo SOS Baía de Sepetiba. Desfrutamos da apresentação de crianças, pudemos conhecer o trabalho dos artesãos através de uma exposição venda e escutamos eloquentes testemunhos orais dos habitantes de Sepetiba, que lutam para corrigir os terríveis danos ao meio ambiente de sua baía. Constatamos a dinâmica presença do ecomuseu de Santa Cruz e o motor que tem em seus membros (...)” 152 “(…)O evento se destacou também pela presença de Hugues de Varine, que compartilhou sua ampla visão do vínculo entre patrimônio e desenvolvimento com uma modéstia que não se perturba com seu enorme prestígio e o impacto de suas propostas no campo dos museus alternativos ao longo de 40 anos. Durante as I Jornadas se constatou a permanência de seu compromisso de acompanhar processos complexos de desenvolvimento de ecomuseus e museus comunitários em múltiplos cenários, incluindo vários casos concretos do Brasil.” “(…) As I Jornadas foram uma oportunidade para compartilhar alguns dos conceitos e métodos de trabalho para a criação e desenvolvimento de museus comunitários que Cuauhtémoc Camarena e eu temos reunido durante mais de 20 anos com a participação de muitos colegas antropólogos, educadores e sobretudo, membros comunitários do Estado de Oaxaca, de outros estados do México e de vários países latinoamericanos. Foi possível oferecer alguns conteúdos do Taller de Facilitadores de Museos Comunitarios de América que realizamos em quatro ocasiões em Oaxaca entre 2004 e 2010, incluindo uma introdução ao marco histórico e conceitual de museu comunitário, o conceito de facilitador, o consenso como a base social do museu, alguns exercícios para a criação coletiva de exposições e a construção de redes de museus comunitários.” “(…)Foi assinalado que os profissionais enfrentam um desafio no repensar seu papel nos museus comunitários de especialistas que tomam decisões e dirigem projetos a facilitadores que organizam e tornam eficazes as decisões e a participação da comunidade. Diversos grupos de discussão propuseram que características fundamentais do facilitador incluíam a “humildade no seu papel na comunidade”, “valorização do outro”, “respeito à cultura do outro”, “consciência e cuidado em sua atuação”, “manejo de técnicas e dinámicas de participação“, “capacidade para observar, abrir, problematizar, interagir e valorizar a comunidade”, além de mostrar legitimidade, compromisso, criatividade, espírito democrático, flexibilidade e capacidade de síntese (…)” “(…) alguns participantes sinalizaram que foi de grande interesse as metodologias sugeridas para trabalhar o consenso: a importância de trabalhar processos de consenso continuamente; as sugestões para abrir processos comunitários e acercarse às que integram a comunidade; os exercícios para delimitar e desenvolver temas; a apresentação das etapas de desenvolvimento de um museu comunitário; a reflexão acerca do papel do facilitador e a integração de aprendizagens teóricas e práticas. Uns participantes assinalaram como a forma de utilizar o aprendido: “incentivar a formação de grupos de trabalho nas comunidades”, “facilitando a construção de redes sociais participativas; e “escutar, escutar, escutar,…somente depois oferecer um caminho juntos.” “(…) sublinhar/ressaltar também a importância de, durante estes días, ter-se realizado a assembleia geral ordinária da Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários (ABREMC), onde os museus participantes das I Jornadas deram um passo a mais para fortalecer os vínculos que os unem e potencializar sua capacidade para servir às suas respectivas comunidades.” Finalizando, Teresa Morales convidou todos os participantes “(…) a fortalecer cada vez mais os espaços de decisão e participação comunitária em cada um de seus museus, para que cumpram de forma crescente seu propósito de pensar e construir seus projetos de futuro com base em sua memória e em seu patrimônio coletivo.” Fonte: Quarteirão 86 – Março/Abril 2010 – p. 10 153 Dificuldades superadas, as I Jornadas, realizadas em Santa Cruz, demonstraram a força política de uma comunidade, do seu desejo de reunir protagonistas, responsáveis e gestores de ecomuseus e museus comunitários para capacitar novos quadros para o futuro desses novos museus. A ABREMC, na sua missão de promover as ações dos ecomuseus e museus comunitários, cumpriu as diretrizes do seu Estatuto, iniciando uma rede de trocas de experiências, conceitos e métodos de trabalho. As parcerias formalizadas para a realização do evento confirmaram a existência de um vínculo entre os atores sociais, culturais e económicos, que se aliaram localmente e até mesmo à distância, a exemplo de Itaipu Binacional/ Ecomuseu de Itaipu, Foz do Iguaçu, PR. Uma única e significativa dificuldade: Santa Cruz se ressente ainda da inexistência de hotéis. Já por três vezes, na realização dos Encontros Internacionais e recentemente nas I Jornadas a organização do evento teve que recorrer a hotéis e pousadas em municípios vizinhos, situados na Costa Verde do Rio de Janeiro, como Coroa Grande, Itacuruçá e Itaguaí. Com a expansão do Distrito Industrial de Santa Cruz e com a implantação de tantos projetos nessa região a demanda de hospedagem cresceu e inexplicavelmente isso ainda não encontrou ressonância entre as poderosas empresas locais. Avaliação Global: Conforme previsto, o módulo I das I Jornadas superou qualitativa e quantitativamente as expectativas, tal a diversidade de projetos representados, tendo recebido adesões de diferentes estados brasileiros. Como iniciativa pioneira no Brasil de formação em Museologia Comunitária, as I Jornadas cumpriram sua missão, reunindo especialistas, profissionais e responsáveis por processos museológicos comunitários já consolidados, em fomação, outros ainda em fase de concepção e estudantes universitários que vinham em busca de conhecimento nesse campo específico da Museologia. Possibilitou a formação de uma rede de trocas e solidariedade entre as experiências e a apresentação de diferentes técnicas, métodos e estratégias próprias dos ecomuseus e dos museus comunitários. Fortaleceu projetos ainda embrionários e cultivou com os exemplos apresentados a potencialidade que têm as comunidades para a criação e a gestão de seus processos de memória. Aproveitando a metodologia da Oficina de “Elaboração de Projetos” por Giane Escobar, Santa Maria/RS, sinalizamos nossas forças e dificuldades: FORÇAS: - a vontade de realizar as jornadas capitaneadas pela ABREMC- Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários e pelo NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica / Ecomuseu de Santa Cruz; - o apoio da Itaipu Binacional com o patrocínio das passagens de Hugues de Varine (Paris- Rio de Janeiro- Paris) e Teresa Morales (México/ Oaxaca – Rio de Janeiro – México/ Oaxaca); - a transparência de nossas ações na concepção das jornadas, buscando integrar todos os processos saídos das comunidades; - a coesão da equipe (ABREMC) que concebeu as Jornadas e sua determinação em fazê-la acontecer, mesmo após a transferência do IV EIEMC para 2010 pelo 154 Ecomuseu de Itaipu, em face de problemas de saúde na região do evento (gripe Influeza A) e de administração interna da Itaipu Binacional; - a parceria incondicional da Educação em Santa Cruz, representada pela 10ª. CRE (apoio logístico, midiático e operacional: banner, concepção de layouts, coffee break, apresentação das escolas na abertura da Jornada e na da Aula Magna de Hugues de Varine na UNIRIO/ Escola de Museologia); - o apoio da Prefeitura do Rio/ SMC- Coordenadoria de Museus (concessão de ônibus para as oficinas itinerantes de 23 a 31/10); - o apoio da BASC- Base Aérea de Santa Cruz e BESENG- Batalhão Escola de Engenharia para a visitação dos dois patrimônios, respectivamente Sede da Fazenda de Santa Cruz e Hangar do Zeppelin; - o apoio da comunidade de Sepetiba e do GRES Acadêmicos de Santa Cruz para a realização das RODAS DE LEMBRANÇAS; - o apoio e o comprometimento dos participantes que coordenaram oficinas em Santa Cruz, Sepetiba e Complexo da Maré / Museu da Maré; - a realização da AGO (Assembleia Geral Ordinária) da ABREMC com discussão e aprovação do Regimento Interno e eleição da Diretoria e Conselho Fiscal para a gestão 2009/2012; - a realização da Aula Magna de Hugues de Varine na UNIRIO/ Escola de Museologia; - a criatividade e o dinamismo das oficinas, oferecendo um aprendizado lúdico e sensorial, incluindo dinâmicas variadas com a intervenção de música, dança, poesia, literatura de cordel, reflexão, exposições diversificadas, debates, concepção e montagem de exposição, visitas a museus (Museu da Maré, Museu do Pontal, Museu Imperial), visitas a localidades com potencialidade para a criação de museus comunitários ou ecomuseus (Arrozal, Sepetiba); - realização do Taller de Facilitadores de Museus Comunitários, dinamizado por Teresa Morales (UMCO / Unión de Museos Comunitarios de Oaxaca) e Patrícia Berg de Oliveira (ABREMC); - o comprometimento e a boa vontade dos participantes; FRAGILIDADES: - pouca divulgação a nível nacional; apesar de termos enviado a diferentes órgãos nacionais, somente o ICOM fez a divulgação, enviando e.mails aos seus membros; - a distância entre os Aeroportos e Terminais Rodoviários do Rio de Janeiro e o bairro de Santa Cruz, dificultando a acolhida, o que tentamos superar com os membros do NOPH e do Ecomuseu, colocando seus veículos no circuito e com serviço de taxistas conhecidos nossos; - a inexistência de hotéis e pousadas em Santa Cruz, as mais próximas, em Coroa Grande, enfrentando as obras da Rodovia Rio - Santos e as carências hoteleiras da região de Santa Cruz; - as mudanças não consensuais na programação, alterando irresponsavelmente a ordem das oficinas, o que provocou desconforto e intranqüilidade organizacional, tanto para a comissão organizadora quanto para os que deveriam se apresentar; - a não previsão de dia livre para um tour pelo Rio de Janeiro; 155 - a desmobilização de alguns participantes que, após sua apresentação, se deixaram seduzir pelo apelo turístico do Rio de Janeiro, ainda que sob o risco de perder partes importantes da Jornada; - a ausência do poder público a nível local (Subprefeitura e XIX Administração Regional) na abertura de 23/10. Módulo II – 1º a 07 de novembro de 2009 Pontos positivos: - Participação expressiva dos estudantes de Museologia (UNIRIO, UFOP, UNIBAVE); - Dinamismo da oficina de Bolinho Caipira pelo Museu Vivo do Folclore de S. J. dos Campos; - Concepção e realização da exposição “Santa Cruz: ecos do tempo” (discussão da temática, busca do consenso); - Seleção de textos e acervo para a exposição (no NOPH e na comunidade); - Coleta de depoimentos e narrativas na comunidade( gravação de entrevistas ); - Preparação dos módulos da exposição, seleção de materiais; - Visita à exposição cultural do Centro Educacional Pedro II; entre outros... Finalmente, tendo iniciado com as I Jornadas um programa concreto de capacitação mútua entre os membros dos ecomuseus e museus comunitários, a ABREMC trouxe para si a responsabilidade de minimizar uma lacuna existente na maior parte dos Cursos de Graduação em Museologia no Brasil: a ausência de uma disciplina regular de Museologia Comunitária, necessária e urgente para atender à demanda que se avoluma em todo o país. ECOMUSEO DELLE ACQUE DEL GEMONESE: PAN DI SORC – l’histoire d’un projet Etelca Ridolfo* Ecomuseo delle Acque del Gemonese – ITALIA *Présidente de l’écomusée le début En 2006 le Groupe d’Action Locale (GAL) Euroleader de Tolmezzo a publié un avis pour soutenir des initiatives visant à créer des opportunités de développement économique. Objectif central : développer la notion d’identité locale en identifiant un territoire avec un produit de la tradition. Depuis longtemps, l’Ecomuseo delle Acque del Gemonese était à la recherche de financements favorisant le retour de certaines activités artisanales presque disparues (le travail des feuilles de maïs, la vannerie) qui avaient déjà été l’objet de cours de formation qui, entre autres, permettaient à des personnes âgées de transmettre leurs savoirs et leurs habiletés manuelles. Pendant ces rencontres, les participants pouvaient aussi se souvenir de leur jeunesse en parlant des travaux agricoles d’autrefois, des rapports sociaux, du souci du territoire, de la nourriture… et du Pan di Sorc, le seul gâteau des fêtes d’autrefois. Deux importants collaborateurs de l’écomusée dès le début de son activité [en 2000] étaient Le meunier Anedi Basaldella et le boulanger Domenico Calligaro, nés tous les deux en 1926 (Le premier est décédé en 2010). Associés aux activités de l’écomusée 156 grâce à leurs connaissances techniques sur le fonctionnement des machines meunières (Anedi) et sur la pêche en rivière (Domenico), ils gardaient une connaissance directe du Pan di Sorc (le premier pour avoir préparé la farine, le second pour avoir pétri et cuit le pain). C’est ainsi que l’idée du projet est née: le pain comme produit de la tradition lié à un territoire. Le projet aurait eu plusieurs implications : a) environnementales - parce que on aurait cultivé des variétés différentes de céréales, fruits et herbes [pour le Pan di Sorc on employait trois farines (blé, maïs « cinquantino » ‐ prêt pour la récolte après cinquante jours ‐, seigle), les noix, les figues et les graines de fenouil sauvage] b) paysagères - parce que la diversité culturale aurait permis de recréer de petits coins de campagne traditionnelle, en mettant ainsi un frein à l’agriculture intensive [une des missions principales de l’écomusée est celle d’endiguer la dégradation environnementale et paysagère du territoire] c) culturelles - parce que le retour sur le marché d’un produit traditionnel aurait impliqué des activités de recherche (historique, agronomique, gastronomique) et la diffusion de leurs résultats [en permettant à la population de participer aux activités de l’écomusée, la recherche sur le terrain favorise des actions réelles de animation locale] d) sociales - parce que le projet, fondé sur la récupération de savoirs et connaissances techniques que seulement la population âgée possède, aurait reconnu à celle‐ci un rôle clé dans la transmission de la tradition et lui aurait aussi renouvelé son rôle actif dans l’économie locale. [la participation active des personnes âgées aux initiatives pour la valorisation du territoire est un instrument de soutien des politiques sociales : une étude du Service Socio‐sanitaire local (ASS 3 Alto Friuli) a montré que les personnes socialement défavorisées, si associées à des activités culturelles,diminuent l’emploi de psycholeptiques] e) économiques - parce que la promotion d’un produit de la tradition aurait amorcé un circuit commercial apparemment de niche [le soutien économiques des premières phases d’un procès de commercialisation favorise les idées et les occasions entrepreneuriales] 2. les contenus du projet Le Plan de Développement Local de Euroleader prévoyait le financement d’interventions en faveur des administrations locales, des associations et des fondations pour soutenir des initiatives prenant le territoire et l’identité locale comme occasions de développement économique. Il s’agissait de l’Action 4 Ecomusée (Mesure 1.2, Action 1.2.2 du Programme Leader + Régional et du Complément de Programmation). L’idée du projet devait montrer une connaissance précise des principes de base menant à la création d’un écomusée. En partant de l’attention que l’écomusée doit prêter aux besoins de la collectivité, on a proposé de réaliser une petite filière agro‐alimentaire, courte et transparente, pour la production d’un pain traditionnel, le Pan di Sorc, capable d’exprimer l’identité du territoire en expérimentant un circuit commercial fermé au niveau local (production – transformation – commercialisation). L’objectif était de transformer la filière en plus‐value pour le territoire même, aussi pour donner de l'espace aux questions concernant le rôle de l’agriculture dans la gestion et l'entretien du territoire et comme instrument de réintégration et valorisation du paysage. Les actions prévues par le Projet Pan di Sorc visaient à atteindre les objectifs suivants: 1. redécouverte, sauvegarde et promotion du territoire à travers un produit de la tradition 2. conservation de la biodiversité agronomique 157 3. récupération du rôle de l’agriculture dans la gestion et l'entretien du territoire et comme instrument de réintégration et valorisation du paysage. Pour atteindre ces objectifs, on définissait les actions suivantes : ‐ recherche et localisation des agriculteurs cultivant encore des variétés locales de céréales ‐ commencement des procédures de récupération et classification des variétés céréalières locales encore cultivées à travers l’activation de conventions spécifiques pour études et recherches (en associant des institutions et des organismes spécialisés, des universités, des chercheurs individuels) ‐ préparation des activités pour la reproduction et l'expérimentation agraire ‐ organisation d’un réseau de « conservateurs » qui, même en amateurs, cultivaient les espèces locales retrouvées ‐ organisation de groupes de travail pour les différentes catégories intéressées: agriculteurs, meuniers, boulangers, restaurateurs (prévus: échanges et voyages d’études, supports techniques, activités d’animation) ‐ préparation d'activités éducatives pour les écoles (activités didactiques et d'animation, matériels didactiques, échanges et voyages d'études) ‐ organisation d'un événement culturel de grand intérêt (titre provisoire: «Le maïs des origines à nos jours») ‐ organisation de cours et ateliers pour les adultes (cuisine traditionnelle, souci et gestion du paysage agraire, travail des feuilles de maïs) ‐ réalisation de supports d'information et de textes de vulgarisation. L'association culturelle CEA Mulino Cocconi, qui gère l'Ecomuseo delle Acque, chef de file du projet, commençait donc la filière pour la production du Pan di Sorc en faisant fonction de point d'union entre producteurs, transformateurs et consommateurs, et en collaborant avec: a) AIAB (Association Italienne pour l'Agriculture Biologique), qui s'engageait à donner un soutien méthodologique et technique aux agriculteurs à travers ses agronomes b) Forno Arcano qui, grâce à l'expérience de sa propriétaire, se servant depuis longtemps de matières premières biologiques pour la production de pain et produits de boulangerie, s'engageait à donner un support technique pour proposer la recette du Pan di Sorc, en expérimentant directement les matières premières et les techniques les plus appropriées pour réaliser un produit désirable et commercialement efficace du point de vue organoleptique et nutritionnel c) Groupe des boulangers de l'Association des Commerçants de la Province de Udine qui s'engageait, à travers sa structure, à encourager la production du pain chez ses associés une fois vérifiés les résultats de l'expérimentation d) Moulin de Godo qui s'engageait à moudre les graines de céréales destinées à la filière e) Association Lady Chef de la Fédération Italienne des Cuisiniers qui s'engageait à expérimenter des recettes avec le Pan di Sorc et à les faire connaître à travers ses canaux de promotion f) Ecomuseo del Casentino (Toscane), promoteur, depuis longtemps, d'initiatives pour la récupération et la sauvegarde des productions locales en étroite collaboration avec les producteurs du territoire; il s'engageait à organiser des échanges de formation pour faire connaître les modalités opérationnelles des projets de filière (pomme de terre de Cetica et farine de châtaignes) g) Ecomuseo del Vanoi (Trento) qui, en expérimentant un projet similaire sur la récupération des moulins de Ronco Cainari grâce à un groupe d'agriculteurs engagés en actions de protection et réinterprétation de l'identité locale, aurait organisé des échanges culturelles entre agriculteurs h) Ecomuseo della Segale (Piémont), dédié à une céréale, le seigle, qui est un ingrédient Du Pan di Sorc; cet écomusée a créé un parcours sur la conservation et 158 valorisation du patrimoine matériel et immatériel (il a promu un projet sur la récupération des toits de paille) et, à travers le Parc National des Alpes Maritimes qui le gère, il s'engageait à organiser un « jumelage » entre les classes et les opérateurs de Gemona et Valdieri pour collaborer au programme didactique « Adopte un champ de seigle » i) Consulat Italien au Mexique qui se proposait de favoriser un échange culturel entre les écoles de Gemona et des territoires de Milpa Alta et Xochimilco, en se servant des Technologies du réseau internet, pour promouvoir la connaissance des traditions liées au maïs j) Municipalités de Gemona del Friuli, Montenars et Buja et l'Association pour les Services Touristiques de l' « Alto Friuli », qui s'engageaient à diffuser et promouvoir le projet à travers des initiatives pour la valorisation de la filière k) Municipalité de Reana del Rojale, la capitale du travail des feuilles de maïs (scus' di blave), qui étaient employées autrefois pour réaliser des sacs appréciés en Italie et à l'étranger; la municipalité s'engageait à collaborer pour trouver des parcours valorisant les produits artisanaux créés avec les feuilles de maïs. 3. ce que nous avons fait En automne 2007, une fois le projet approuvé et financé par le GAL, l'écomusée a mené une recherche préliminaire pour: 1. repérer les espèces de maïs traditionnel qui étaient encore cultivées dans le territoire de l'écomusée et évaluer l'intérêt des catégories économiques impliquées (agriculteurs et commerçants) sur la création d'une filière agroalimentaire liée à la production du pain [conclusions présentées dans la relation de l'agronome Matteo Paladini] 2. chercher, à travers un projet éducatif réalisé avec les écoles, des variétés végétales anciennes et des recettes traditionnelles [les contenus de la recherche sont insérés dans le site pandisorc.it, actuellement en révision] En même temps, on a commencé une série d'interviews parmi la population: les collaborateurs âgés de l'écomusée ont contacté d'autres personnes âgées qui, à leur tour, ont appelé les agriculteurs, les meuniers, les boulangers... Les matériels ainsi réunis représentent une partie des Archives de la Mémoire de l'écomusée, qui seront mis prochainement à la disposition du public dans un site internet spécifique. [les témoins les plus significatifs ont été photographiés par Ulderica Da Pozzo et ils ont été insérés dans le calendrier 2010 de l'écomusée] En novembre 2008, après avoir vérifié les résultats positifs des recherches sur le terrain, on a commencé l'expérimentation agraire en cultivant une variété de blé idéale pour La panification, déjà expérimentée par l'Université de Udine et Forno Arcano, et des semences de seigle venant de l'Autriche (localement le seigle n'était plus cultivé depuis des années). Au printemps 2009 on a semé des variétés locales de maïs « cinquantino ». La production de la première récolte et la première panification, dont on a diffusé la nouvelle lors des évènements publics auxquels l'écomusée a participé (foires, marchés, initiatives populaires...), ont attiré beaucoup de personnes, qui ont goûté le pain et reçu des graines à planter, même dans leurs potagers, pour garder la diversité biologique des espèces agraires. De cette façon l'intérêt pour le projet a augmenté, on a approché d'autres agriculteurs et on a associé le Centre de Santé Mentale de Tolmezzo, avec lequel on a décidé plusieurs initiatives qui ont permis à un groupe de patients de cultiver le maïs. [non seulement la collaboration avec le Centre de Santé Mentale continue, mais en plus elle s'est renforcée et le Service Socio‐sanitaire 3 Alto Friuli a signé un accord de collaboration avec l'écomusée pour des initiatives communes de solidarité sociale] Puisqu'on a visé à une filière de qualité, on a fait appel aux agriculteurs biologiques qui, encore peu nombreux, sont actifs sur des surfaces petites et parfois ne remplissent pas les conditions requises par la loi. La certification des cultures biologiques prévoit une série d'opérations qui ont un certain coût économique et nécessitent un engagement constant de la part des agriculteurs, qui doivent préparer 159 un dossier de l'entreprise avec tous les travaux faits: semis, fumages, traitements, verdages, récoltes... Pendant sa recherche de formes de soutien aux agriculteurs pour surmonter cet obstacle à l'élargissement des cultures biologiques, l'écomusée a contacté l'Institut Méditerranéen de Certification (IMC) et, ensemble, ils ont défini une nouvelle modalité pour certifier les productions en autorisant un tiers organisme, dans ce cas l'écomusée, à réaliser un seul dossier pour tous les agriculteurs faisant partie de la filière du Pan di Sorc. Cela a entraîné la rédaction d'un accord de filière qui a obligé, d'un côté, les producteurs à respecter la réglementation et, de l'autre, l'écomusée à fournir aux signataires un service agronomique et administratif pour les pratiques bureaucratiques. Tous les deux sujets en ont bénéficié: les premiers ont reçu une aide économique et technique, le second a obtenu les terrains nécessaires pour planifier les cultures en guidant les agriculteurs et en les motivant à l'entretien du territoire. [en juillet 2009 la demande de l'écomusée a été accepté: depuis lors le fonctionnaire s'occupant des contrôles a un seul interlocuteurs, l'écomusée, alors que la certification est étendue à tous les terrains appartenant à la filière] Du moment que la production des agriculteurs biologiques est exiguë, on a décidé de commencer une autre filière, cette fois‐ci conventionnelle, pour faire participer aussi deux grandes entreprises spécialisées dans les productions céréalières. Même dans ce cas on a rédigé un règlement pour définir les modalités de culture des terrains destinés au maïs pour la panification: fumages organiques, désherbage seulement de post‐émergence, traitements phytosanitaires seulement si nécessaires. [puisqu'on n'a pas une quantité suffisante de graines de variétés locales, on a semé un maïs hybride commercial à cycle végétatif court, qui ressemble à une des variétés anciennes retrouvées] La production céréalière de 2009 a été bonne, l'aide donnée aux agriculteurs a augmenté l'intérêt pour le projet et la disponibilité à élargir les surfaces pour la production pour la filière. En ce qui concerne la transformation, on a associé deux moulins: un traditionnel, pour la mouture du maïs, et l'autre certifié, pour les productions biologiques, qui transforme aussi le blé et le seigle. La panification a été confiée au four Forno Arcano (jouissant de la certification pour les productions biologiques) qui, avec le boulanger Domenico Calligaro, a élaboré la recette traditionnelle, qui a été aussi employée pour le dépôt de la marque du produit. Aussi deux restaurants et un gîte rural ont adhéré au projet: ils servent le pain et la polenta de mais «cinquantino», en promouvant ainsi le projet. En 2010 c'était le tour d'un atelier artisanal: il s'occupe de la production de la polenta, qui est vendue sous vide et qui est en train d'avoir un grand succès. [en 2009 on a commencé la procédure, dans le respect des lois nationales en vigueur, pour enregistrer la marque qui défend le nom « Pan di Sorc »: elle est collective (elle peut être employée par tous les participants à la filière) et territoriale (liée géographiquement au territoire de production des matières premières); en 2010 on a reçu le décret du Ministère des Activités productives pour l'enregistrement. Il s'agit d'un moyen excellent pour protéger le produit et le projet: des boulangers ont essayé d'employer le nom en éludant les accords de filière, mais ils ont dû y renoncer après avoir reçu une sommation] En 2010 d'autres organismes se sont intéressés au projet: – l'Université de Udine: à travers le Département de Sciences agraires et environnementales, qui gère la Banque de germoplasme régional, elle a commencé une campagne pour la caractérisation et la conservation des graines de variétés locales de mais [la Banque de germoplasme est prévue par la loi pour protéger le 160 patrimoine végétal de l'érosion génétique et elle remplit des fonctions de classification et protection des plantes en voie d'extinction] – l'Office Régional pour le Développement de l'Agriculture (ERSA): il s'est mis à la disposition pour évaluer les espèces de maïs et commencer l'amélioration génétique de la variété la plus appropriée. L'amélioration génétique, qui est réalisé au niveau mécanique sur le terrain et pas dans le laboratoire, permettra d'avoir des graines à enregistrer auprès de l'ENSE, l'organisme national qui contrôle les brevets des semences commercialisables. [si elles ne sont pas enregistrées à l'ENSE, les graines ne peuvent pas être l'objet des échanges commerciales, en niant ainsi la conservation de la diversité biologique et en empêchant les agriculteurs d'obtenir un revenu complémentaire des cultures de qualité] – l'Association Slow Food: elle a commencé la procédure pour donner le titre de sentinelle au Pan di Sorc en avançant la possibilité d'une diffusion nationale du produit. [Slow Food est un mouvement international pour le droit à la nourriture saine, juste et équitable. Les Sentinelles Slow Flood soutiennent les petites productions excellentes qui risquent de disparaître, valorisent les territoires, récupèrent des métiers et des techniques de travail traditionnels, sauvent de l'extinction des races autochtones et des anciennes variétés de fruits et légumes] En 2010 on a promu deux recherches historiques: une pour évaluer les aspects historiques et paysagers de colonisation agraire de la plaine de Osoppo‐Gemona [Londero‐Miniati], l'autre pour étudier les modalités culturales et les aspects économiques qui ont favorisé la culture du maïs « cinquantino » au Frioul, en particulier dans la zone de Gemona [Costantini]. En 2011 on a activé le Panier des produits liés au maïs « cinquantino » avec la création d'une Association de producteurs [Association des Producteurs du Pan di Sorc] qui s'occupera en autonomie, avec ses ressources, de la valorisation et de la commercialisation des produits dérivés de la nouvelle culture de céréales mineures. De cette façon, on pourra vérifier si a filière peut avancer toute seule ou si, dans le cas contraire, il faut d'autres mesures pour qu'elle soit capable d'affronter le marché, en se servant du soutien économique direct de l'écomusée seulement pour l'assistance technique et le déroulement des activités sociales. [les agriculteurs intéressés par l'expérimentation ont demandé d'élargir la production; selon certains, leur choix repose sur la réflexion suivante: «il est mieux de produire quelque chose de qualité pour les personnes que de réaliser une grande quantité de produit pour les animaux»] En août le Pan di Sorc est devenu une Sentinelle italienne Slow Food: c'est la reconnaissance de la qualité du produit et des caractéristiques du projet, qui vise à protéger la biodiversité et la production traditionnelle du territoire de Gemona et qui s'engage à stimuler l'adoption de pratiques soutenables et propres de la part des producteurs et à développer une approche éthique au marché. 4. ce que nous voudrions pour l'avenir Pendant les quatre années de l'expérimentation, l'écomusée a assuré non seulement les aspects promotionnels, mais aussi la couverture des frais pour la participation aux foires, aux marchés, aux rencontres et aux dégustations et le soutien économique aux agriculteurs; de plus, il a investi dans la recherche et l'assistance technique agronomique. 161 [on a décidé d'intervenir sur le point faible de la filière avec une intégration qui a couvert le manque de récolte des agriculteurs qui ont commencé la production du maïs «cinquantino», moins productif que les hybrides commerciaux. L'intégration a été calculée sur la base du prix de marché du maïs alimentaire] Dans l'avenir on devra définir les rôles de l'écomusée et du groupe des producteurs en élaborant une projection économique de la filière et en évaluant les coûts‐bénéfices à travers le bilan social. On intensifiera les initiatives visant à associer les boulangers et les restaurateurs pour qu'ils comprennent ce que signifie faire partie d'une filière disposant d'une marque du produit et d'une reconnaissance nationale de qualité [Sentinelle Slow Food]. On voudrait aussi associer la Chambre de Commerce de Udine pour qu'elle aide la filière en trouvant des occasions et des canaux de financement spécifiques pour les entreprises (innovation, qualité des produits, e‐commerce). [en particulier, on devra résoudre le problème du stockage des graines de mouture et trouver les terrains les plus appropriés pour la production de semence de maïs «cinquantino»] On devra aussi se consacrer à l'information pour faire connaître les potentialités de la certification biologique liée à une filière. En insérant les amateurs qui cultivent des petites pièces de terre (retraités, ménagères, travailleurs précaires) dans un procès de filière, avec les avantages dérivant de la certification du produit, on pourra leur offrir un revenu complémentaire. Ainsi on assurera une base solide pour la production de matières premières de qualité [km 0] qui puissent satisfaire les besoins du marché local et les exigences du tourisme rural. [dans une période de récession, trouver des modalités nouvelles pour la promotion d'économies de niche qui mettent en relation l'emploi, l'entretien du paysage, la protection de l'environnement, la production de qualité, le tourisme et le bien‐être social signifie revêtir un rôle important en faveur de la soutenabilité du développement territorial]. PAN DI SORC - História de um projeto Etelca Ridolfo Ecomuseo delle Acque de Gemonese - ITÁLIA Eu venho da uma região que situa-se no nordeste da Italia: o Friuli Venezia Giulia; uma faixa de terra metade montanhosa e metade plana de apenas 7850 km quadrados. O Ecomuseo das Aguas do Gemonese situa-se num território que coincide com uma área geográfica do Friuli Venezia Giulia, o Campo Osoppo Gemona, a primeira parte da planície. Uma área de 156 quilômetros quadrados gerida por seis municípios diferentes: Artegna, Buja, Gemona, Majano, Montenars e Osoppo e com uma população de pouco mais de 30.000 habitantes. O Campo de Osoppo Gemona é um vale aluvial cercado por relevos, montanhas ao norte e colinas ao sul. É o resultado da ultima glaciaçao e dos aluviões do nosso grande rio: O Tagliamento. Um rio pequeno comparado com os vossos rios e que é de tipo torrencial pois enche de água o seu leito só durante as estações particularmente chuvosas. Um rio que pela sua naturalidade é considerado um dos mais bem preservados da Europa. Mas o território do Campo de Osoppo Gemona tambem é particular por causa da presença de diversos elementos naturais de grande importança para o estudo e a conservação da biodiversidade: rios e exsurgências, pequenos lagos, pântanos e brejos. 162 A idéia de propor um ecomuseu para preservar e valorizar tudo este património veio de um pequeno grupo de ambientalistas, que já lutaram três décadas atrás para evitar que o leito de um dos maiores rios da área fosse cimentado: o Ledra E o Ledra ainda hoje é o simbolo de aquele compromisso civil que evitou a sua destruiçao e que fez evoluir o protesto em proposta. Proposta de restauração e valorização do território que nasceu para reagir à perda de identidade devido ao terremoto catastrófico que atingiu em 1976 as comunidades do nosso ecomuseu apagando uma boa parte do patrimonio arquitectónico. O ecomuseu das Águas do Gemonese nasceu, portanto, pela vontade de um grupo de pessoas envolvidas na defesa do seu território e da propria identidade que em 2000 tem encontrado na administração pública da cidade de Gemona del Friuli e no então responsável pelos assuntos ambientais, hoje em dia prefeito, um aliado valioso para iniciar esse processo de resgate cultural. Hoje colaboram com o ecomuseu os seis municípios que governam o territorio do Campo di Osoppo Gemona e as atividades são geridas por uma associação com conselho, onde as entidades públicas (municípios) sentam-se com os representantes das instituições privadas (associações, empresas, técnicos). O ecomuseu foi reconhecido ser de interesse regional por uma lei regional aprovada em 2006 pela Região Friuli Venezia Giulia. A lei regional estabelece que o ecomuseu é um tipo de museu inovativo, um proceso dinâmico através do qual as comunidades conservam, interpretam e valorizam o proprio patrimonio em função de um desenvolvimento sustentável. Abrange um território homogêneo, estendendo seus limites para além das paredes dos simples edifícios, incluindo paisagens, panoramas, aspectos físicos e biológicos, as obras do homem, na prática, todos os elementos que existem no território, caracterizando-o e qualificando-o. O ecomuseu, alem de ser um meio ideal para conjugar as iniciativas de salvaguarda da natureza com as de valorização e conservação do património cultural, favorece um desenvolvimento territorial que atende as necessidades da população, visando a preservar a memória coletiva e histórica do território e agindo como uma entidade em evolução, que enriquece-se com as contribuições provenientes das iniciativas implementadas. O ecomuseu para nós é um pacto com as comunidades que cuidam de seu território. Este slogan foi criado pela comunidade “Mondi Locali”, uma rede de ecomuseus que na Itália e na Europa busca o reconhecimento do seu proprio trabalho em favor de uma nova museologia. O Friuli Venezia Giulia com a lei sobre os ecomuseus introduziu requisitos específicos para o seu reconhecimento. Os ecomuseus são obrigados a registrar e catalogar a riqueza da comunidade, seguindo os mesmos procedimentos dos museus tradicionais e devem mostrar terem um projeto válido que envolve a população nas actividades de valorização do próprio patrimônio que devem respeitar os procedimentos da Agenda 21. O nosso ecomuseu ocupa-se, portanto, pela catalogação e faz isso com a abordagem participativa das comunidades, em colaboração com instituições e universidades e com o serviço do catálogação da Região Friuli Venezia Giulia: o Centro Regional de Catalogação e Restauração (http://www.sirpac-fvg.org). Tambem ocupa-se da valorização do patrimônio cultrual através de projetos que impactam positivamente nas actividades econômicas da população local. E aqui, hoje eu gostaria de falar sobre um de essos projetos: o “Pan di Sorc”, um pão doce e temperado feito com três tipos farinhas (milho, trigo e centeio), adoçados com figos secos e temperados com canela. Um pão que era produzido para celebrar nas nossas comunidades rurais que até os anos 60 do século XX vivam dos frutos da própria terra. Um projeto que atingiu vários objectivos: 1) tem enriquecido os Arquivos da Memória do ecomuseu com a catalogação de todo 163 o patrimônio material e sobretudo imaterial relacionado principalmente à gastronomía, ao trabalho da terra e aos conhecimentos técnicos para fabricar e usar das ferramentas agrícolas 2a)tem invertido a tendência do cultivo intensivo de milho promovendo a diversificação agrícola nas fazendas requalificando, assim, a paisagem agrícola 2b) tem facilitado a agregação dos pequenos produtores com pequenas parcelas que, através do serviço agronômico do ecomuseu, tem obtido a certificação biológica das próprias produções criando assim as condições para obter produtos competitivos 3a) a agregação dos pequenos produtores tem favorecido a criação de uma associação para a proteção e a valorização dos produtos locais. Desta forma nasceu a cadeia de produção do pão que elaborou uma marca e um protocolo para proteger o produto e relacioná-lo com o lugar de origem das materias com as quais è produzido acrescentando o valor das empresas 3b) a associação tem favorecido a conscientização dos produtores os quais organizaram-se para promover os proprios produtos partecipando juntos nos mercados locais (nas praças) e favorecendo a criação de um site internet para a venda dos próprios produtos (http://www.pandisorc.it/il-paniere)[*] 3c) a associação também facilitou a recuperação de algumas das actividades artesanais já abandonadas as quais ajudaram algumas senhoras idosas para voltar a ter uma vida gratificante e ativa. Eles trabalham por paixão e o ecomuseu beneficia-se, porque tem artesanato original e identitario para oferecer aos turistas. 4a) a participação da população na catalogação e a formação de jovens e de adultos tem incentivado os intercâmbios culturais com outros ecomuseus. Um exemplo é o emocionante projeto educativo entre as escolas do nosso ecomuseu e os da área rural da Cidade do México (delegação de Milpa Alta e Xochimilco) que permitiu um intercâmbio cultural entre os meninos sobre a herança ligada ao cultivo do milho. Muito do material está disponível no site www.pandisorc.it/didattica 4b) a disponibilidade de produtos enogastronomicos e tradicionai de qualidade, atraiu agências de turismo para promover pacotes organizados no território do ecomuseo, de facto, promovendo uma economia ligada ao turismo rural 5a) um dos principais objectivos do projeto foi a formação do pessoal que continua até hoje e é um dos pilares do ecomuseu para manter o interesse vivo e não dispersar o património cultural ligada ao conhecimento tradicional da população. Todos os anos em outono organizam-se cursos e reuniões para ampliar a participação da comunidade cada vez mais 5b) as reuniões e os cursos para a educação dos consumidores têm objetivos analogos. O objetivo é levar as pessoas a confiar nos seus próprios produtos e preparações, introduzindo também conceitos de educação para uma alimentação correcta 5c) a educação dos jovens tem um valor estratégico para qualquer projeto ecomuseal, de facto aproximar os jovens ao próprio património cultural afeta positivamente na identidade da comunidade e forma novas gerações mais conscientes e dispostas a defender os valores e os recursos de seu território 6a) os intercâmbios culturais, os programas educacionais com os jovens e os cursos para transmissão dos conhecimentos, também favoreceram a cooperação ativa dos membros das comunidades imigrantes que foram capazes de expressar a sua identidade e criaram um pequeno núcleo de integração. Sobre esta questão o ecomuseu ainda terá muito trabalho porque o acolhimento deve ser praticada para ser eficaz 6b) a colaboração inesperada com a autoridade de saúde local permitiu ao ecomuseu trabalhar numa nova área, a da inclusão social. O Departamento de Saúde Mental lançou um estudo em alguns pacientes que ainda estão envolvidos em atividades educacionais, turisticas e agrícolas do ecomuseo demonstando, depois de dois anos do começo da experimentação, benefícios consideráveis à saúde, tais como redução do uso de drogas psicotrópicas e a redução nas hospitalizações. O ecomuseu tornou164 se um local de encontro para estas pessoas, onde as atividades são motivadoras e nunca passivas 6c) o ecomuseo tem desenvolvido uma função analoga a favor dos idosos que encontram nas lembranças, na transmissão do seu trabalho e seus conhecimentos, na disponibilidade a doar o próprio tempo no volontariado, razões gratificantes para uma vida ativa e culturalmente produtiva Todos os esforços empreendidos por parte do ecomuseu para trazer de volta para a mesa o pão de Sorc têm mostrado que é possível combinar o património local e a cultura tradicional com o progresso económico, promovendo a participação cívica da população e beneficiando diversas categorias produtivas Os números Descrição das atividades Hectares de terras cultivadas com métodos orgânicos Hectares de terra destinados ás culturas tradicionais (milho, centeio, legumes locais) Empresas participantes em actividades culturais relacionadas com o projecto (educativo, animação turística) Empresas participantes na associação de produtores “pan di sorc” Empresas incluídas no “Cabaz dos produtos locais” (venda direta dos próprios produtos) Atividades relacionadas com o turismo rural (restaurantes, artesãos, guias, agências de viagens) Investimento inicial do ecomuseu em favor das atividades relacionadas ao projecto pan di sorc O pessoal do ecomuseu envolvido no projeto no 2006(*) hoje(**) 2 6 500 mq 7 1 4 zero 7 zero 15 1 10 30.000 euros/ano 3 10.000 euros/ano 3 Voluntários e participantes das atividades oferecidas pelo projeto (classes, degustações, a recolha de informação / 26 entrevistas) (*) 1280 o projeto começou no outono de 2006 Os dados referem-se a 31 de dezembro, 2011 (**) [*] O CABAZ DE PRODUTOS LOCAIS (“PANIERE”) O “Paniere” do “Ecomuseo delle acque” é o resultado da colaboração dos pequenos agricultores locais, amadores e artesãos do território do Gemonese. Esta colaboração surgiu com o objetivo de fortalecer e revitalizar o potencial produtivo da área e a riqueza dos "conhecimentos" relacionados ao território. Queremos provar com fatos que esta terra ainda pode oferecer, embora os processos de mecanização agrícola sejam cada vez mais acentuados, uma produção diversificada de alta qualidade e sustentável. Tudo isso para garantir o cuidado e a boa gestão dos terrenos agrícolas, coisa indispensável para reduzir o risco hidrogeológico e para manter o carácter distintivo dos lugares, a fim de promover o desenvolvimento de iniciativas de turismo rural e educativo para complementar a receita agrícola. O Cabaz ofrece uma vasta gama de produtos, de acordo com a tradição produtiva que ao longo dos séculos nunca favoreceu a especialização de uma única cultura: demasiado arriscado para a agricultura de subsistência que tinha de atender às diversas necessidades da vida de cada dia. Fazem parte do cabaz: frutas e legumes, mel, sucos, xaropes e geléias, queijos de vaca feitos com leite cru, manteiga, requeijão, iogurte, cereais e seus derivados, pão, bolos, peixe, carne, enchidos, mas também produtos artesanais como cerâmica, cestos e outros. 165 "Um pouco de tudo e de alta qualidade " é o princípio comum que distingue os produtos do cabaz, e que ajuda a manter vivo o encanto da diversidade. Os produtores do cabaz participão ao serviço “Cabaz a domicílio”, um serviço que permite ás pessoas fazer as compras simplesmente com uma chamada (ou e-mail) e depois ir a pegar as suas compras diretamente na sede do ecomuseo. No futuro o ecomuseo gostaria que o no cabaz estivessem presentes produtos de outros ecomuseus, sejam italianos que extrangeiros para promover a economia real e fornecer oportunidades para o progresso econômico das pequenas comunidades rurais. 166 CAN PARISH MAPS INSPIRE FUTURE? Raul dal Santo* Landscape Ecomuseum of Parabiago - ITÁLIA SOMMARIO L’Ecomuseo del paesaggio di Parabiago (città di 27.000 abitanti, vicino a Milano, Italia) è un patto tra l’istituzione che lo gestisce (il Comune di Parabiago) e la comunità che ha lo scopo di rendere il paesaggio chiaramente e pienamente leggibile in primo luogo ai suoi abitanti e quindi anche ai visitatori in funzione dello sviluppo sostenibile. Il Comune di Parabiago nel 2007 ha avviato, nell’ambito di Agenda 21 locale, un percorso di partecipazione sul tema del paesaggio. Associazioni, istituzioni scolastiche e cittadini sono stati invitati a informarsi, confrontarsi ed interagire per dare forma all’idea dell’ecomuseo e attivare le proprie risorse, conoscenze e competenze per la sperimentazione di azioni locali e la realizzazione di un piano di azione. Tra gli strumenti utilizzati nel percorso di partecipazione vi è la mappa di comunità, una mappatura partecipata del paesaggio, derivante da una lettura condivisa del patrimonio culturale e naturale che si ispira al modello delle Parish Maps inglesi. La mappa, costantemente aggiornata attraverso la versione interattiva su internet, non si limita a descrivere lo stato di fatto del paesaggio, ma ha l’ambizione di costituire un progetto per mezzo del quale la comunità disegna ed ispira il proprio futuro, utilizzando il patrimonio culturale e naturale. La mappa sin ora ha consentito di censire il patrimonio in modo partecipato e di progredire nel difficile percorso di recupero del senso di appartenenza ai luoghi e della responsabilità sociale ed ambientale dei cittadini. Inoltre essa si sta rivelando utile alla redazione, tuttora in corso, di strumenti di pianificazione territoriale e ambientale e alla realizzazione di progetti di sviluppo locale. ABSTRACT The landscape ecomuseum of Parabiago (a 27,000 inhabitants city near Milan, Italy) is a pact between the City of Parabiago and the community. Its goals is to make the landscape clearly and fully visible first of all to its inhabitants and therefore also to visitors, according to sustainable development. in 2007, inside the local Agenda 21 path, the City of Parabiago launched a participatory process about the landscape. Educational Institutions, associations and citizens were invited to learn, discuss and interact to shape the idea of the ecomuseum and to activate their resources, knowledge and skills to test some local actions and to design the ecomuseum action plan. To realize the ecomuseum action plan, a parish map was drawn. The parish map is a participatory mapping of a landscape, resulting from a shared reading of the tangible and intangible heritage, according to the model of english parish maps. An interactive and multimedia map was carried out to make it easily upgradeable. The map explain not only the state of a landscape; it can help to remember what made the landscape and to explain how improving and enhancing it.The map is a project whereby the community draws and inspires her future, using the cultural and natural heritage.Parabiago’s parish maps allowed the ecomuseum to census the cultural and natural heritage in a participatory way. It also allowed citizens to progress in the hard path of recovery the sense of places and the social and environmental responsibility. 167 Furthermore the map is playing a useful role to design urban and environmental plans and to improve local development projects. CAN PARISH MAPS INSPIRE FUTURE? Raul Dal Santo – Parabiago* – Italy Landscape Ecomuseum of Parabiago Contents: 1. A sick landscape 2. A museum of the community 3. The parish map 4. Parabiago’s parish map 5. Interactive map 6. From parish maps to community projects 1. A sick landscape Parabiago is a town of 27,000 inhabitants, in the North West part of the suburban area of Milan, Italy. As in many urban contexts, Parabiago is characterized by citizens' widespread inability to perceive the value of places, to recognize in the territory not only the space available to build, produce and move, but also the landscape to preserve and improve. Taking up the metaphor of landscape as a theatre, among the others dear to Eugenio Turri, acting only as actors, while forgetting to act as spectators has, since the 1950s, deeply wounded the landscape. The wounds of the landscape are the loss of biological and cultural diversity, the imbalance and the physical separation between human and natural habitat, the serious malfunctions of landscape systems whose the polluted river Olona, unable to manage floods and support a complex biological community, constitutes its emblem. According to Maggi, those cited above are symptoms of the failure of the "invisible landscape": social relations, customary use of places and common resources, especially territorial, rules and practices of coexistence and reciprocity, communication methods and intergenerational transmission of knowledge. 2. A museum of the community The landscape ecomuseum of Parabiago was born to answer to the “placelessness” or “loss of place” syndrome: citizens do not appreciate the “small scale” heritage that characterize the landscape. Parabiago's ecomuseum is a cultural institution recognized by the Lombardy Region in accordance with the law no. 13/2007. Its goals are to study, conserve, enhance and show the landscape; it is a pact with the community to make the landscape clearly and fully visible first of all to its inhabitants and therefore also to visitors, according to sustainable development. It’s managed by the Municipality of Parabiago that wanted to develop this cultural Institution in the local Agenda 21 path. The ecomuseum is a museum of the community: it is legitimated by the participation of the citizens. For this reason, the landscape ecomuseum of Parabiago was not designed according to the conventional custom that sees the Institutions designing “for” the community but not considering citizens as decision-maker. The design of this ecomuseum was carried out "with" the community, according to the logic of the participatory and inclusive planning. Public and private educational Institutions, associations and citizens of different ages were invited to learn, discuss and interact to shape the idea of the ecomuseum and to activate their resources, knowledge and skills to test some local actions and to design the ecomuseum action plan. The participation path is important at least as much as the result of designed actions: in fact the interaction of local actors and the creation of a sense of belonging to places are required to achieve the designed goals. 3. Parish maps * Raul Dal Santo – city of Parabiago – Landscape Ecomuseum and local agenda 21 coordinator 168 To realize the ecomuseum action plan, a parish map was drawn. The parish map is a participatory mapping of a landscape, resulting from a shared reading of the tangible and intangible heritage, according to the model of english parish maps. In Italy, ecomuseums made dozens of parish maps, in particular, thanks to the practice community called “Local world”. 4. Parabiago’s parish map Parabiago’s parish map, one of the first in Lombardy, was produced in about a year and a half working with the financial contribution of European Union, Lombardy Region and Parabiago’s Municipality. The citizens’ forum, the ecomuseum partecipatory organism made up of associations, municipal technicians, politicians and citizens of Parabiago and neighboring communities, created a working group that met regularly to design the map. The working group first compose a questionnaire that was submitted to the citizens. Citizens were asked to indicate the heritage elements characterizing Parabiago’s landscape and those that have higest value for them. Moreover people could suggest the heritage elements that should be reclaimed and enhanced by the ecomuseum. During the 2006/07 school year the ecomuseum involved about 250 students and their families. Led by the operators of the ecomuseum, children walked through the areas near to their school to recognize, or discover the landscape salient features, as well as the history that has determined them; They also filled out the questionnaire and administered it to their parents and grandparents. Thanks to some highly-motivated teachers, some classes created their parish maps. Children drew and painted these maps that were instrumental to design the final map. The mappers working group, according to the results of the survey and to the children maps, identified those heritage items that characterize the community. The group chose within this heritage inventory the items to be reproduced on the map and drew up a draft of the parish map. According to this draft, the local artist, Patrizio Croci, designed the map which was submitted to the citizen forum. The artist, according to the forum comments drew the final map. Additional heritage informations, as well as some indications about history and landscape, were published on the back of the map. The printed map was submitted to the City Council and then distributed to each families in Parabiago, enclosed to the municipal newspaper. Early in 2009 the map was reprinted with an updated and corrected back in order to provide visit information and ecomuseum services. In the years 2010 and 2011, as technical partner and with the same methodology above described, the ecomuseum contributed to realize the map of the Mills natural Park, promoted by the municipalities of Parabiago, Nerviano, Legnano, St. Vittore Olona, Canegrate. Likewise to the parish map of Parabiago, also this map was aimed at realizing a heritage inventory and an action plan. 5. The interactive map The parish map does not end with its release. It is a participatory process, permanent and upgradeable archives of tangible and intangible heritage. In fact, immediately after the release of the map, the ecomuseum received proposals for adjustments and integration. With the community participation the ecomuseum conducted several researches about the heritage identified on the map. An interactive and multimedia map was carried out to make it easily upgradeable. It reports informations about the heritage of Parabiago’s and Mills Park’s communities, identified on the maps. The interactive map is made by web pages published within the ecomuseum web site. 169 Each heritage object, represented on the map, is connected by a hyperlink to a indepth web page containing texts, images, photographs, audio/video interviews and anything else necessary to detail the contents. As the printed map, also the interactive map requires the participation and cooperation of everyone concerned: only in this way, it becomes a real parish map. Besides the usual involvement of the citizens forum and the educational and cultural institutions, which represent the local community, the interactive map is also based on high quantity (and quality) of informations, produced by the web community through the Wikipedia project, the online free encyclopedia. The text, once validated by the ecomuseum, is uploaded on the website in the interactive parish map section. The informations are also uploaded on the interactive map thanks to the education courses for the schools, to the partecipated walks that the ecomuseum organizes periodically to read and interpret the landscape and, finally, to high schools and universty students contributes. 6. From parish maps to community projects The map explain not only the state of a landscape. It can help to remember what made it and to explain how to improve and enhance it. In the parish map of Parabiago the desires of the community can be detected: for example the tower Cavalleri, now in ruins, was drawn as at the time of its peak, that is how people would like as soon as possible. It is also clear that some monuments and heritage items shown in the map are not currently accessible by the public, others are little known or abandoned. This is the case of the church of S. Ambrogio della Vittoria, closed to the public and remembered more as “the church of mads” (since was near a psychiatric hospital), than the site of an important cistercian abbey. The remains of Riale, a medieval watering ditch, active until 1928, at the designing map time were hidden in the vegetation, ignored by most citizens as the river that feeds it, the Olona that lot of people would like to erase from the landscape because it is synonymous of pollution and flooding. Ecomuseum, cultural associations and students have studied, reopened to the public, even though temporarily, and promoted the knowledge of these heritage elements. Some animals drawn on the map, still widespread, are also unknown by most people who think they are even extinct. However they are not biologically extinct, but they are culturally extinct. Example of this phenomenon, the beetle lampiridae commonly called firefly: fewer children know its existence, much less name it, echo the chant to invite it to fall and be caught, put it under a glass at night, to give a little light. So showing animals like the firefly on the map means wanting somehow redeem their cultural existence too. The educational projects for children, the local actions and the participate walks or workshops usually allows people to suggest for improvement and enhancement of the places visited or studied; in this way, citizens and organizers on the one hand acquire a deeper and shared understanding of places and of people who helped to shape them and, on the other, they express desires useful to improve the landscape. The actions identified by the citizens were included in the ecomuseum and mills park action plans; with the help of the communities simple actions have already been realized. Other proposals, related to the urban and the landscape planning, were approched in the urban and the environmental plans whose updating are in progress. The draft of urban plan of the City of Parabiago reveals, connects and protects the heritage items listed on the parish map, including those currently little or hardly accessible or poorly protected as the minor elements (individual trees or hedges of historical and natural value, material heritage items associated with traditional agricultural practices, devotional chapels, etc.). The goal is to protect, restore and give new function to the heritage elements and connect them to each other and to the surrounding environment system. 170 Before long we'll know if these maps have played a useful role in the local susteinable development. We'll also know if they have been able to effectively deliver a project through which the community draws and ispires her future. Certainly, Parabiago’s parish maps allowed the ecomuseum to census the cultural and natural heritage in a participated way and citizens to progress in the hard path of recovery the sense of places and the social and environmental responsibility. The urban district of local trade (DUC), started in 2012, is good news in this path. The DUC is a project sponsored by the Municipality of Patabiago with the wide participation of artisans, shopkeepers, local associations and cultural institutions including the ecomuseum. The goal of the DUC is the promotion of local manufactures, retail trade and agriculture that are in serious trouble because of the economic crisis and the development of big shopping centers. The action plan of the DUC aims to create a network of commercial, cultural and environmental proposals. The community heritage, also the immaterial one, is a resource for local development: this is the vision both of the DUC and the ecomuseum. 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About Parabiago and Mills natural Park parish maps visit the ecomuseum of Parabiago web site http://ecomuseo.comune.parabiago.mi.it/ link “Mappa di comunità” About Italian parish maps visit the site http://www.mappadicomunita.it MUSEOLOGIA E PROTAGONISMO COMUNITÁRIO: MITOS E REALIDADES Prof. Dr. Tereza Scheiner PPG-PMUS, UNIRIO/MAST - Rio de Janeiro - BRASIL RESUMO O texto aborda a importância do processo de emancipação de indivíduos e comunidades através de experiências museológicas. A partir de um olhar sobre o termo empoderamento, comenta os mitos e realidades do processo de responsabilização em museus, atribuindo importância especial às relações entre empoderamento e inclusão social, cultural e psicológica. Menciona o autoreconhecimento e o reconhecimento social como passos necessários ao empoderamento, processo que se inicia com o sentimento pleno de autonomia. O individuo autônomo é o que tem a capacidade de controlar seu próprio caminho, por meio de um desempenho positivo; já a autonomia de um grupo vincula-se a uma 171 liderança aberta e democrática, que permita o compartilhamento da responsabilidade e do poder. No plano da ação social, está ligada à construção da força coletiva pelo desenvolvimento de conexões que evitem a marginalização social, cultural e psicológica. O conceito de empoderamento é importante para o campo da Museologia porque fundamenta a idéia de Museu Inclusivo. Com base em exemplos práticos, a autora defende a importância do desenvolvimento de experiências museológicas relacionadas à emancipação dos necessitados. Finalmente, lembra que apenas os que são capazes de promover a mudança em si mesmos estarão aptos a promover experiências de emancipação do Outro. Palavras-chave: Museu. Museologia. Empoderamento. Inclusão. Comunidades. Reconhecimento e respeito. MUSEOLOGY AND COMMUNITY LEADERSHIP: MYTHS AND REALITIES ABSTRACT The paper approaches the relevance of the emancipation process of individuals and communities through museum experiences. Starting with considerations on the term 'empowerment', it comments on myths and realities in the process of sharing of responsibility in museums, giving special relevance to the relationships between empowerment and social, cultural and psychological inclusion. Self-recognition and social recognition are mentioned as necessary steps that lead to empowerment. The autonomous individual has the capacity to control his/her own life, by means of a positive performance; as for group autonomy, it depends on an open and democratic leadership allowing the development of collective strength, trough connections that prevent social, cultural and psychological marginalization. The concept of empowerment is important to the field of Museology because it is the base of the idea of Inclusive Museum. Based on practical examples, the author defends the importance of developing museum experiences related to the emancipation of those who have special needs. Finally, it is mentioned that only those who are capable of promoting change within themselves will be apt to promote experiences of emancipation of the Other. Keywords: Museum. Museology. Empowerment. Inclusion. Communities. Recognition and respect. MUSEUS COMUNITÁRIOS: PROTAGONISMO E PRÁTICAS CIDADÃS Cláudia Feijó da Silva * Museu Comunitário Lomba do Pinheiro- Porto Alegre- BRASIL Universidade Federal do Rio Grande do Sul – PPGEdu RESUMO: Abordo aqui o protagonismo como ações de intervenção no contexto social de dada comunidade a partir das práticas da Museologia Comunitária. Considero as práticas desenvolvidas a partir da Museologia Comunitária como modalidade educativa que reverbera para o desenvolvimento da cidadania. Proponho definir protagonismo como atuação histórica no espaço geográfico, criando e recriando tempos e histórias que definem as ações resultantes dos seres humanos, esses por sua vez representantes da sociedade que se envolvem e se colocam como partícipes das relações sociais, em processo que vai do local para o global. A partir de práticas inovadoras desenvolvidas junto a determinadas comunidades, com a intenção de atacar os problemas locais é * Cláudia Feijó da Silva – Coordenadora do Museu Comunitário Lomba do Pinheiro – Porto Alegre/Rio Grande do Sul; Mestranda do PPGEdu/UFRGS; Contato: [email protected] 172 que se constrói a possibilidade do protagonismo. Despertar reflexões quanto ao uso e ao entendimento do patrimônio, podem ser consideradas como objetivos para uma educação cidadã, para a qualificação e mesmo para o auto-entendimento do que é desenvolver a cidadania. Envolver em projetos do museu, além de moradores do território ou da região de atuação, é proporcionar a outras pessoas a possibilidade de praticar sua cidadania enxergando o outro, enxergando os problemas históricos de forma amplificada, proporcionando discussões que alargam soluções não apenas para sua vida privada ou afetiva, mas que envolvem saídas para problemas relativos ao bem comum. É desafio criar programas e projetos que coloque o patrimônio como objeto central para o desenvolvimento de parcerias com diversas instâncias da comunidade, além de desenvolver uma museologia que dialogue com diferentes grupos de interesses diversos. Planejar as ações, participar da execução, da sua avaliação e da apropriação dos resultados faz parte do exercício de protagonismo da cidadania proposto pelos Museus Comunitários. Palavras-Chave: Museu Comunitário, Protagonismo, Cidadania MUSEOS COMUNITARIOS: PROTAGONISMO E PRACTICAS CIUDADANAS RESÚMEN Hablo aqui del protagonismo como acciones de intervención en el contexto social de una determinada comunidad apartir de las prácticas de la museologia comunitaria. Creo que las prácticas desarrolladas por la museologia comunitaria como modalidad educativa repercute en el desarrollo de la ciudadanía. Propongo definir el protagonismo como un papel histórico en el espacio geográfico, creando y recreando los tiempos y las historias que definen las acciones resultantes de los seres humanos, éstos por su vez son los representantes de la sociedad y se involucren y se ponen como participantes en las relaciones sociales en el processo que ocurre del local a lo global. De las prácticas innovadoras desarrolladas con las comunidades específicas, con la intención de atacar los problemas locales es que se basa la posibilidad del protagonismo. Despertar reflexiones sobre el uso de y la comprensión del patrimonio, pueden ser considerados como objetivos de una educación para la ciudadanía, e incluso para tener derecho a la comprensión de si mismo y de lo que es el desarrollando la ciudadanía. Envolver en los proyectos del museo, así como los residentes en el território o la región de actuación, es dar a otros la oportunidad de practicar su ciudadania viendo al outro, ver los problemas históricos así aumentada, disponer los debates que se alargam las soluciones no solo por su vida privado o afectiva, pero la participación de soluciones a los problemas relacionados con el bién común. El reto es crear programas y proyectos que ponen lo patrimonio como objeto fundamental para el desarrollo de asociaciones con diversos foros de la comunidad, además de practicar una museologia que provoca diálogos com los diferentes grupos de intereses diversos. Planificar las acciones, participar en la ejecución de su evaluación y la apropiación de los resultados es parte del ejercicio del protagonismo de la ciudadanía propuesto por los museos comunitarios. Palabras-clave: Museo Comunitario, Protagonismo, Ciudadanía. PROTAGONISMO E PRÁTICAS CIDADÃS DESENVOLVIDOS NO CONTEXTO DA MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA As práticas desenvolvidas no âmbito de comunidades populares, com o intuito de valorizar, preservar e divulgar seus patrimônios são consideradas aqui como ações de intervenção no contexto social. Considerando que até o advento da Nova Museologia, o patrimônio considerado, difundido e valorizado foi aquele distante da realidade brasileira, e que desconsiderou a diversidade étnica enquanto patrimônio, é que faz-se necessário o fomento e o desenvolvimento de atividades que construam uma dinâmica diferenciada e possibilidades de articulações, com a finalidade de fortalecer a memória 173 social popular e a história que se perpetuou apenas por meio da oralidade. Durante muito tempo o Brasil relegou ao esquecimento as favelas, os bairros históricos, os saberes e fazeres, assim como os demais bens imateriais, até muito pouco tempo o patrimônio preservado foi somente a casa grande, as igrejas barrocas, os fortes militares e os demais bens que guardam referências de uma história de opressão sobre as pessoas ditas comuns. Até 1984 o Brasil preservou basicamente os patrimônios da herança lusitana. O primeiro patrimônio, com referências africanas a ser tombado no país, foi o terreiro de candomblé Casa Branca em Salvador, Bahia. Cogito esse como o primeiro processo de protagonismo pelo patrimônio popular brasileiro, pois houve uma atuação no espaço geográfico e histórico. Tal desempenho colaborou para uma mudança social, sendo os sujeitos envolvidos considerados como partícipes que criaram novas possibilidades para a história. Segundo o antropólogo Gilberto Velho (2006), então relator do processo de tombamento do terreiro, esse foi um momento de grande embate social, mas que possibilitou uma mudança profunda na política patrimonial brasileira. Para Gilberto Velho os momentos de conflito e de negociações colaboraram também para a transformação do caráter da monumentalidade e do valor artístico até então aplicados ao patrimônio. Velho relata o quanto é difícil lidar com determinados setores da sociedade civil que podem ser atingidos pelas mudanças, como exemplo podemos verificar a movimentação política e midiática que foi articulada por tais setores, na intenção de continuar ditando a escolha do patrimônio: Importantes veículos da imprensa da Bahia manifestaram-se contra o tombamento que foi acusado, com maior ou menor sutileza, de demagógico. É importante rememorar esses fatos, pois a vitória foi muito difícil e encontrou fortíssima resistência. (VELHO, 2006, p. 3) Nesse caso é possível visualizar claramente que há uma intenção de grupos em manter o status quo, enquanto outros grupos lutam para exercer seu direito à cidadania e pela discussão e reconhecimento de referências que sejam incorporadas formalmente à identidade nacional, digo formalmente, pois na prática é indiscutível que a identidade nacional é composta também por traços da cultura africana, assim como pela cultura indígena em suas diversas etnias. Portanto considero que: [...] o conhecimento e o reconhecimento de identidades plurais são condições fundamentais para a construção da cidadania, através do entendimento de que as pluralidades têm o mesmo lócus social porque são igualmente, partes integrantes de um todo. (MELO; SILVA, 2010, p. 8) Propor inventários participativos e realizar diálogos ampliados através de seminários, por exemplo, podem ser consideradas ações de intervenção para o desenvolvimento da cidadania das populações envolvidas, contanto que as propostas discutam as diferentes referências culturais presentes no território em questão. Para Varine (2004) o patrimônio pode se tornar instrumento de desenvolvimento local, partindo do princípio de que o museu educa e liberta as forças vivas de uma população para o pleno exercício da cidadania. Há a necessidade emergente de discutir os bens materiais, assim como o patrimônio imaterial, enquanto portadores de referências culturais e identitárias. Tais discussões se constituem em exercícios de cidadania, que permitem aos atores sociais se reconhecerem como responsáveis pela sociedade que habitam e pelo compartilhamento das decisões. Nesse sentido, é possível concretizar a ideia de que os atores que sempre estiveram à margem dos processos que decisão e seleção do patrimônio, agora atuam como protagonistas da ação social que desenvolve a cidadania. 174 A participação nas deliberações, nas escolhas dos patrimônios a ser reconhecido, difundido e preservado, decisões de uso do patrimônio para o crescimento sustentável da comunidade pode ser considerado nesse caso, como: [...] processo de mobilizações e práticas destinadas a promover e impulsionar grupos ou comunidades – no sentido de seu crescimento, autonomia, melhora gradual e progressiva de suas vidas, como diz respeito a dimensões que reforçam o controle e regulação do social com ações destinadas a promover a integração dos excluídos, carentes e de mandatários de bens elementares de sobrevivência, serviços públicos, atenção pessoal [...] (GOHN, 2004, p.23). Conseqüentemente há também a necessidade de que os atores sociais se organizem em entidades de sociedade civil, no intuito de promover negociações nas decisões para as definições de políticas públicas para o patrimônio, para os museus e para o desenvolvimento social, na intenção de se manterem enquanto protagonistas. Envolver em projetos do museu além de moradores do território ou da região de abrangência outros participantes é proporcionar a outros a possibilidade de praticar sua cidadania enxergando os demais e os problemas históricos de forma mais ampla. Envolver Universidades e promover a participação de projetos de extensão Universitária em parceria com os Museus Comunitários é também alargar os horizontes de futuros profissionais que poderão determinar as políticas públicas patrimoniais e museais. Em seu trabalho de conclusão do curso de Museologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Minuzzo destaca: A responsabilidade de um museu comunitário num território com risco social é enorme, pois cabe também a instituição, trabalhar para mudar tal circunstância. Comprometimento que também passa pelos cursos de Museologia, para formar museólogos qualificados a elaborar projetos que envolvam os atores sociais, a fim de que se reconheçam como sujeitos de sua própria história, e caminhem em direção à cidadania e a ascensão social. Para promover ações que visem operar mudanças no quadro da vida cotidiana, das relações culturais, humanas e familiares, sendo instrumentos para registrar a memória social, educar para o patrimônio, pertencimento ao território, aumento da autoestima e a inclusão sócio-cultural. (MINUZZO, 2010, p. 69) Contudo, cabe ressaltar que para os atores locais o mais importante é o destaque ao protagonismo dos mesmos, portanto os projetos devem ser realizados conjuntamente, para Waldisa Rússio [...] é tempo de fazer museu com a comunidade e não para a comunidade (CHAGAS, 2002, p. 17 apud RUSSIO, 1984 p. 60). Portanto, mais que profissionais preparados para elaborar projetos, a extensão universitária, programas de estágios, cursos de Museologia entre outros, devem se preocupar em formar profissionais que estejam qualificados para estabelecer projetos de conexões de saberes, onde sejam respeitadas e valorizadas a autoria e ideias das comunidades. Além disso, planejar as ações, participar da execução, da sua avaliação e da apropriação dos resultados faz parte do exercício de protagonismo e da cidadania proposto pelos Museus Comunitários, deste modo, não serão os profissionais museólogos a definir quais projetos serão os mais adequados à comunidade, o que deverá determinar as decisões são as necessidades locais inventariadas de forma participativa pelos nativos. REFERÊNCIAS: CHAGAS, Mario. Cultura, patrimônio e memória. In: Ciências & Letras: patrimônio e educação. nº 31. FAPA. Porto Alegre, 2002. p. 15 - 29 175 GOHN, MG. O protagonismo da sociedade civil. Movimentos sociais, ONGs e redes solidárias. São Paulo, Cortez, Questões da nossa época. 2005. MELO, K. M. R. S. E. ; SILVA, C. F.. Com Unidades na Lomba do Pinheiro: Diversidades Étnicas e Culturais como Patrimônio. In: XVI Jornada de Ensino de História e Educação e IX Seminário de Estudos Históricos: Políticas Públicas e desafios para o ensino de História. Feevale. Novo Hamburgo, 2010. MINUZZO, David K. . Lomba do Pinheiro, Memória, Informação e Cidadania: vozes, olhares e expectativas de seus agentes e atores sociais. Porto Alegre, UFRGS, Monografia. 2011. VARINE, Hugues de. Notas e Fragmentos. In: III Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários. X Atelier Internacional do MINOM, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em www.abremc.com.br VELHO, G.. Patrimônio, negociação e conflito. Mana, Rio de Janeiro, v. 12, p. 1262, 2006. MODOS E DESAFIOS DE VISITAÇÃO DO MUSEU DE FAVELA /RJ Márcia Souza* Museu de Favela - Cantagalo, Pavão e Pavãozinho - Rio de Janeiro - BRASIL *Diretora Cultural do Colegiado de Diretores do MUF RESUMO O Museu de Favela - MUF é uma associação privada de interesse comunitário, sem fins lucrativos, fundada em novembro 2008 por moradores das favelas de Cantagalo, Pavão e Pavãozinho, situadas entre Ipanema e Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Desde então o MUF desenvolve um plano museológico inovador e que desafia, permanentemente, a percepção e os modos de trabalho praticados pelo seu Colegiado de Diretores. O principal acervo do MUF são os moradores e seus modos de vida, suas memórias, a identidade coletiva. A estratégia de musealização a céu aberto e a missão institucional do museu, trazem abordagens de novo tipo e um forte caráter experimentalista e participativo. Não se faz um museu a céu aberto, que expõe a cultura local e afirma o papel histórico e cultural das favelas cariocas nas narrativas oficiais da Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro, sem intensas pactuações dentro do território museal. Na dinâmica e estratégias de visitação turística do Museu de Favela o atrativo principal é a cultura local, os arranjos de vida e sobrevivência perante a segregação social. Há que respeitar o morador e as famílias aí estabelecidas, instigar e surpreender o visitante com novos olhares sobre a riqueza da cultura local. A visitação dos caminhos do MUF é feita com mediação de moradores treinados para narrar conteúdos de arte e memórias, a céu aberto. Cada caminho cultural ou roteiro de visitação do MUF se transforma num caminho de luta por cidadania, de luta por qualidade ambiental e urbana, por consideração social e inclusão de renda. Cada caminho é um eixo potencial de arranjos produtivos locais de negócios criativos, que tem como matéria prima as memórias e a cultura viva do lugar. Palavras-chaves: gestão participativa - turismo cultural - arranjos produtivos locais rede de negócios criativos - liberdade e cidadania - identidade comunitária ABSTRACT 176 MODES AND THE CHALLENGES OF VISITING THE MUSEUM OF FAVELA/RJ Marcia Souza* Museu de Favela - Cantagalo, Pavão e Pavãozinho - Rio de Janeiro - BRASIL *Cultural Director, Board of Directors, MUF The Favela Museum - MUF is a private not-for-profit association with, founded in November 2008 by residents of the communities of Cantagalo, Pavão, and Pavãozinho located between Ipanema and Copacabana, in the city of Rio de Janeiro, Brazil. Since then MUF has been developing an innovative museum plan that permanently challenges the perceptions and ways of work practiced by its board of directors. The main archive of the MUF are the residents and their ways of life, their memories, and their collective identity.The strategy of musealization under the open sky and the institutional mission of the museum lead to a new form of approach with a strong experimentalist and participatory character. It is not possible to create an open-air museum that exposes the local culture and affirms the historical and cultural role of the Cariocan favelas in official narratives of the Marvelous City of Rio de Janeiro without causing intense impacts on the territory of the museum. In the dynamics and strategies of touristic visitations to the Favela Museum the main attraction is the local culture, the ways of life and survival in the presence of social segregation. It is important to respect the local residents and families, and to move and surprise the visitor with new insights about the richness of local culture. The visitation of the open-air circuit of the MUF is realized with mediators from the communities that are trained to point out and narrate content linked to arts and memories. Each cultural circuit or visitation tour of the MUF becomes a circuit of struggle for civil rights, for environmental and urban quality, for social consideration, and the creation of income within the community. Each circuit is a potential axis for setting up productive and creative local businesses using the memories and living culture of the place as their raw material. Keywords: participatory management - cultural tourism - local production clusters network of creative businesses - freedom and citizenship - community identity Breve Histórico de nossa organização Museu de Favela, Justificativa do cunho social da entidade O Museu de Favela atua há 3,8 anos nas favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, desde março de 2008, quando, num Fórum Popular promovido pelo PAC na favela, com mais de 600 pessoas, um grupo de moradores lançou uma idéia de expressar os modos de vida e a cultura desse território de favelas como uma fabulosa galeria de arte e fazeres a céu aberto, afirmativa da identidade cultural coletiva e do papel desse território peculiar na estrutura urbana da Cidade do Rio de Janeiro. Os trabalhos iniciais do grupo de fundadores do Museu de favela cuidaram de discussões sobre uma estratégia que somasse forças comunitárias, valorizasse talentos e recuperasse as memórias locais para moldar, através de suas peculiaridades culturais, uma visão de futuro para transformação da condição de vida nesse complexo de favelas - que se situa numa das mais valorizadas centralidades turísticas da Cidade do Rio de Janeiro – de forma que a comunidade pudesse estar à frente de seu próprio desenvolvimento exercendo governança social efetiva e genuína na defesa de seu passado, presente e futuro. Em novembro de 2008, esse grupo de lideranças já amadurecera suas intenções numa missão de trabalho, num plano estratégico e em projetos culturais de interesse comunitário. Contudo, sem conseguir, à época, sensibilizar e conquistar apoio de autoridades governamentais da área de cultura do município e do estado do Rio de 177 Janeiro, para a idéia de um museu a céu aberto, territorial e de cultura de favela, o grupo decidiu se afirmar numa instituição própria, independente, constituindo uma associação privada sem fins lucrativos, a ONG denominada Museu de Favela - MUF. Dentre seus 16 sócios-fundadores, foram eleitos seus atuais diretores. O MUF articulou com 37 entidades atuantes no território para formar um Conselho Comunitário tendo por bandeira a cultura do território e a sua inclusão turística beneficiando o morador. Com transparência e muito debate sobre o sentido de o MUF ser uma espécie de “guarda-chuva” integrador de ações, sem competições no território e ainda com a sistemática prestação de contas de seu trabalho, o MUF vem desmanchando resistências ao seu formato inovador. O MUF desde então trabalha para legitimar e realizar sua missão: estabelecer o primeiro museu territorial de favela do país, como um monumento carioca e único no mundo, patrimônio cultural territorial vivo, de memórias, saberes e fazeres das raízes de sua matriz cultural carregada nos braços dos migrantes: a cultura negra, a cultura do migrante nordestino, mineiro e do interior fluminense e a cultura indígena. Durante o ano de 2008, 2009 e 2010 o MUF atuou com cinco enfoques fundamentais: Legitimar perante os moradores a idéia de transformar as 3 favelas contiguas no 1º. Museu Territorial de Favelas do Brasil e buscar sua inclusão sócio-econômica através do turismo liderado por moradores; Integrar, sob a bandeira das memórias e dos valores turístico-culturais locais, as realidades então partidas das comunidades de Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, herança de um passado de disputas e violência. Tática: durante todo o ano de 2008 trabalhou-se para recuperar a história oral dos velhos mais ilustres, garimpados indistintamente nas 3 comunidades, para recontar às gerações contemporâneas sobre um tempo em que não havia divisão de territórios, havia liberdade de ir-e-vir e solidariedade entre as famílias pioneiras e descendentes na formação quase centenária dessa favela, entre negros, nordestinos, mineiros e cariocas e até índios. Elaborar o Plano Estratégico do Museu, escolher sua Missão Institucional, Criar sua Marca, Legalizar a instituição. Instalar sua base-1 operacional Implementar seu Plano de Trabalho Estruturar em redes os saberes e fazeres da cultura local. Realizar experimentações criativas de estratégias de atuação. Sem recursos para manutenção, o MUF já alcançou conquistas: seu lançamento público em grande evento cultural em fev.09 em presença de autoridades dos Ministérios da Cultura, Justiça e Turismo; instalação e 02 itinerâncias da exposição Despertar de Almas e de Sonhos, com histórias de moradores antigos ilustres; reconhecimento de seu trabalho como exemplar e pioneiro do Programa Pontos de Memória do Instituto Brasileiro de Museus IBRAM; premiação de seu Projeto Apoio à Estruturação do MUF, dentre mais de 500 concorrentes, no Edital Modernização de Museus 2009/MinC, para aquisição de equipamentos, vencendo tradições e barreiras pelo formato museal experimental, territorial integral, comunitário e, em favela e pela meta de adquirir acervos in situ de cultura viva; realização de 2 Visitões Experimentais trazendo mais de 100 pessoas ao MUF; produção de 02 jornais e 01 folhetim INFORMUF; realização de 6 sessões de CINEMUF na comunidade, realização do 1º. FESTIVAL DE LAJES CULTURAIS O FESTMUF 2010, realização do Projeto Arte na Cabeça - tranças de cabelo de cultura negra, com patrocínio pioneiro de uma instituição privada, o Metrô-Rio/Instituto Invepar. O MUF já atrai graduandos, mestrandos, doutorandos e cientistas sociais do Rio, de outros estados e internacionais interessados em experimentos de governança social. As lideranças do MUF vem prospectando sistematicamente saberes e fazeres na comunidade e iniciou sua organização em redes criativas de negócios, embora ainda com grandes dificuldades de prosseguimento já desenvolve embriões de REDESMUF, 178 redes solidárias e complementares de negócios criativos e de conveniência para a dinâmica local. O MUF já montou um banco de mais de 25 projetos de interesse cultural comunitário, para concorrer em editais diversos. E inaugurou o Grupo da Ponte do MUF, para atrair doações financiadoras de despesas de manutenção de uma estrutura operacional mínima e essencial para o alcance de suas metas institucionais, de diversos projetos sócio-culturais de interesse comunitário. A maioria desses resultados foi alcançada sem recursos financiadores da entidade, apenas com parcerias e empreendedorismo comunitário voluntário. ECOMUSEU DE ITAIPU E A REDE REGIONAL DE MUSEUS, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL: instrumentos de gestão patrimonial comunitária* Maria Emília Medeiros de Souza** Ecomuseu de Itaipu, Foz do Iguaçu - PR - BRASIL ABREMC - Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários 2010/2012 Tatiara Damas*** Ecomuseu de Itaipu, Foz do Iguaçu - PR - BRASIL ABSTRACT The Itaipu Ecomuseum and the Regional Network of Museums, Memory and Natural and Cultural Heritage: instruments of community heritage management The Itaipu Ecomuseum was conceived to operate in the 16 municipalities bordering the Itaipu reservoir as a measure to mitigate social and environmental impacts resulting from the construction of this hydroelectric power plant. Opened in 1987, the Ecomuseum aims to insure the functions of collection, research, conservation and interpretation of material and immaterial testimony of man and nature from this region, keeping nowadays more than 80,000 pieces arranged in collections of archeology, geology, ethnography, history, natural history, science and technology, arts, among thers. With the expansion of Itaipu’s institutional mission, in 2003, the Ecomuseum enlarged its coverage area and began to cover the 29 municipalities of Paraná 3 Basin, with about one million inhabitants. This shift was mainly characterized by the creation of the Valorization of Institutional and Regional Heritage Program, which has since then been coordinated by Itaipu Ecomuseum, relying on a network of social actors in its area of influence who were brought together by the Regional Network of Museums, Memory and Natural and Cultural Heritage, which holds regular meetings with social actors willing to talk about the situation and the heritage and cultural demands of the region, consolidating and executing an agenda that is constructed collaboratively towards the regional cultural strengthening. This article presents some actions of Itaipu Ecomuseum and analyzes specifically the constitution of the Regional Network of Museums, Memory and Natural and Cultural Heritage as an instrument of social organization that aims to engage society in reflective, critical and emancipative processes leveraging the notions of belonging and valorization of their land and culture, thus strengthening the construction of a collective project of restoration, preservation, valorization and interpretation of the region’s natural and cultural heritage. The purpose is to demonstrate how this form of social organization constitutes a strong possibility of action and community wealth management, meeting theoretical and practical aspects of ecomuseology, or social museology, and moving away from traditional forms of museology strongly linked to contexts of colonial and hegemonic discourses, * Adaptação livre para resumo do documento original proposto para o Ecomuseum 2012 Profissional do Ecomuseu de Itaipu, especialista em educação ambiental, gestora do Programa Valorização do Patrimônio Institucional e Regional *** Profissional do Ecomuseu de Itaipu, especialista em museologia, gestora do Programa Valorização do Patrimônio Institucional e Regional ** 179 expanding the practices of museum institutions towards participative and popular contexts. Introdução O Ecomuseu de Itaipu, primeiro no gênero no Brasil e na América do Sul, foi criado em 1987, pela Itaipu Binacional, como parte do seu Plano Diretor da Área do Reservatório, nos aspectos relacionados ao meio ambiente social, decorrentes da construção da Central Hidrelétrica Itaipu. A Central Hidrelétrica Itaipu, localizada no rio Paraná, nas proximidades da fronteira tripartite (Brasil, Paraguai e Argentina) é um empreendimento binacional brasileiroparaguaio, construído e operado pela Itaipu Binacional, entidade criada pelo governo brasileiro e paraguaio em 1974. O reservatório de água de Itaipu (Lago de Itaipu), formado em 1982, estende-se por 170 km, desde a região de Foz do Iguaçu até a de Guaíra (margem brasileira, na região Oeste do Estado do Paraná), banhando 16 municípios brasileiros e 05 paraguaios. A atuação socioambiental de Itaipu foi iniciada junto com suas atividades de construção, sendo uma das primeiras hidrelétricas no Brasil a desenvolver um programa amplo de mitigação de impactos socioambientais. Estudos realizados em 1973, juntamente com estudos anteriores realizados por Brasil e Paraguai na região, serviram de base para o estabelecimento da política ambiental da Entidade por vários anos. O Ecomuseu de Itaipu e o programa Valorização do Patrimõnio Institucional e Regional Já em 1975 − bem antes, portanto, do enchimento do Reservatório − a Itaipu iniciou uma série de programas ambientais envolvendo monitoramento e inventários dos aspectos ambientais e início do reflorestamento, bem como a proposta de um museu para salvaguarda e exposição do acervo resultante desses estudos, pesquisas e inventários, que focavam temas como arqueologia, floresta, fauna, peixes, hidrologia, arqueologia e história regional, entre outros. A evolução constante nos conceitos relacionados à proteção ambiental fez com que a ITAIPU reajustasse suas ações e reformulasse seu planejamento ambiental, tendo em vista garantir a plena condição de uso do Reservatório para a operação normal da Usina, bem como sua utilização racional em benefício do desenvolvimento socioeconômico da região, segundo conceitos de interação regional e qualidade socioambiental, envolvendo produtividade pesqueira, qualidade da água, conservação do solo, usos múltiplos da água e a criação de um Ecomuseu, entre outras iniciativas. A idéia inicial era um museu no sentido estrito corrente no período. A museóloga Fernanda Moro, no entanto, ao ser contratada por Itaipu para a criação do Plano Diretor do novo museu, trouxe o que estava acontecendo de mais avançado em museologia na Europa e na América do Norte e que ia ao encontro das necessidades mitigadoras de impacto socioambiental que a empresa vinha desenvolvendo: a ecomuseologia. Segundo Fernanda Moro: O potencial do diálogo entre o homem e o meio ambiente desta região de Itaipu, a possibilidade de uma leitura profunda e em várias etapas da história da região desde a história geológica, até a antropologia, a ciência, a tecnologia, passando pela história biológica, pela interpretação arqueológica e pela história industrial, bem como toda a história das diversas comunidades que ali se radicaram, foram alinhadas a um programa de preservação e educação informal, formal e não-formal no projeto proposto para o Ecomuseu de Itaipu,primeiro no gênero no Brasil e América do Sul.(MORO, Fernanda. Livro texto Ecomuseu de Itaipu,1987) 180 O Ecomuseu de Itaipu foi idealizado para atuar, segundo as palavras desta mesma museológa (MORO, Fernanda, Plano Diretor Ecomuseu de Itapu, 1986), não com o um museu tradicional, mas para se colocar como “um organismo suscetível e predisposto a participar do desenvolvimento e organização cultural da região”. (MORO, Fernanda. Plano Diretor Ecomuseu de Itaipu, p. III) Pensando de forma sistêmica, então, o Ecomuseu foi inaugurado no ano de 1987 e desde então passou a desenvolver trabalhos que vinculavam “a região (TERRITÓRIO) com elementos representativos da natureza e do desenvolvimento cultural (PATRIMÔNIO) e com a população local (COMUNIDADE).” (MORO, Fernanda. Plano Diretor Ecomuseu de Itaipu, p. 3). Não se tratava de um museu comunitário que havia sido idealizado e criado a partir da comunidade, mas, antes disso, se tratava de um modelo museológico escolhido por Itaipu para servir de instrumento de mitigação de impacto socioambiental, no sentido de garantir “um processo de preservação de um meio ambiente integrando-o ao desenvolvimento cultural, social, econômico e tecnológico – um ecomuseu.” (MORO, Fernanda. Plano Diretor Ecomuseu de Itaipu, p. 3) Sua idiossincrasia se instala, portanto, no fato de que não se trata de um ecomuseu criado por uma comunidade, mas sim criado por uma empresa para uma comunidade. Esta instituição, diferentemente da museologia corrente no período, foi concebida para “ser o elemento coordenador do processo de preservação do momento que passou, mas também da preservação do momento presente e de boa acolhida do momento futuro” (MORO, Fernanda. Plano Diretor Ecomuseu de Itaipu, p. 4). Em 2003, a Itaipu Binacional passou por um processo de revisão de sua missão, que até então estava voltada apenas à questão da geração de energia a partir do aproveitamento dos recursos hídricos do rio Paraná, que pertenciam em condomínio ao Brasil e ao Paraguai. Em contraposição a esta anterior visão, instauraram-se também como missão desta instituição questões como a “geração de energia de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, de modo a impulsionar o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. A partir da ampliação da missão de Itaipu, em 2003, o cuidado socioambiental foi consolidado com a implantação do programa "Cultivando Água Boa" que, em sintonia com a nova missão da Itaipu, enfatizou a responsabilidade social e ambiental da Entidade. Este programa complementou os projetos e ações socioambientais anteriores e incluiu outros novos que, permeados pelos programas de educação ambiental e de valorização do patrimônio, foca os municípios lindeiros e os da bacia hidrográfica de contribuição direta ao Reservatório de Itaipu, denominada Bacia Paraná 3, reunindo 29 municípios e quase 1 milhão de habitantes. A partir da ampliação da missão institucional da Itaipu, em 2003, e da implantação do Programa Cultivando Água Boa, em 2005 foi proposto no planejamento estratégico de Itaipu a criação do Programa Valorização do Patrimônio Institucional e Regional, coordenado e desenvolvido de forma participativa pelo Ecomuseu de Itaipu e parceiros. Nesse contexto, o Ecomuseu de Itaipu, entre outras funções, responde pela coordenação e desenvolvimento do Programa Valorização do Patrimônio Institucional e Regional, em parceria com os municípios, comunidades, sociedade civil organizada e instituições governamentais e não governamentais dessa região. Este programa, por meio das exposições temporárias e itinerantes e de sua articulação regional, promove ações de recuperação, preservação, valorização e interpretação do patrimônio natural, histórico-cultural, técnico-científico e socioambiental da empresa, da região de influência do reservatório e da Bacia Paraná 3. 181 Atendendo o Programa, o Ecomuseu de Itaipu articula com órgãos federais (Ministério da Cultura, Instituto Brasileiro de Museus, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, etc), estaduais (Secretaria de Estado da Cultura, Coordenadoria do Sistema Estadual de Museus, outros) e outros parceiros, projetos, iniciativas e políticas públicas diversas relacionadas ao patrimônio cultural, material e imaterial, memória regional e corporativa, com destaque para os aspectos de aperfeiçoamento e qualificação dos profissionais que atuam em instituições museais e culturais da região. Ainda em parcerias com os municípios integrantes da Rede Regional e o Centro de Documentação da Itaipu, entre outras instituições, o Ecomuseu propõe o estabelecimento do Centro Virtual de Memória Regional que já está em fase de formação e recebe acervo desde 2009. Este centro de memória deverá possibilitar a criação de um ambiente virtual capaz de arregimentar, apoiar tecnicamente e dar visibilidade às ações de preservação e valorização do patrimônio natural e cultural da Região da Bacia do Paraná 3, estabelecendo uma base de pesquisa e fomento à produção científica e artística regional por meio da relação dinâmica e participativa da população deste território com os diversos aspectos materiais e imateriais de sua memória coletiva e de seu patrimônio como um todo. Organiza e facilita também Ciclos de Memória Regional, que são encontros temáticos de diálogo e socialização de memórias individuais e coletivas mediados por profissionais do Ecomuseu, e incentiva que os municípios da BP3 utilizem essa metodologia como instrumento de resgate, valorização e preservação da memória dessa região. A Rede Regional e Museus, Memória e Patrimônio Natural e Cultural Os Ciclos de Memória Regional fortaleceram o relacionamento com os municípios lindeiros e aproximou os demais municípios da BP3, novos atores regionais, estimulando a participação de representantes dessa comunidade nos diálogos referentes às demandas e idiossincrasias patrimoniais e culturais da região, de modo a formatar coletivamente então uma metodologia de ação que respondesse às suas necessidades. No decorrer do processo foi entendido que era necessário ir além dos encontros regionais temáticos e consolidá-los como encontros periódicos de um grupo que tivesse missão e objetivos definidos, além de uma identidade facilmente reconhecível pela própria região. Foi o momento de consolidar e criar um corpo de coesão e identificação desses participantes com relação a esse novo movimento de gestão patrimonial comunitária coletiva que se pronunciava e tomava forma nos diálogos e ações conjuntas deste grupo. Assim, em 2008 formalizou-se o grupo autodenominado Rede Regional de Museus, Memória e Patrimônio Natural e Cultura. A constituição e denominação da Rede Regional foram determinantes no sentido de criar uma identidade de grupo e de explicitar, de modo afirmativo, os conceitos com os quais já desenvolviam ações, contribuindo também para ampliar o entendimento e o auto reconhecimento do grupo enquanto instrumento de gestão patrimonial comunitária da região. Ainda, indiretamente, disseminou uma ideia de cultura e patrimônio afinada com conceitos ecomuseológicos de patrimônio, ou seja, de uma visão ampla, múltipla e dinâmica de cultura e de patrimônio. Desde então, a Rede regional de Museus, Memória e Patrimônio Natural e Cultural se caracteriza pela organização de encontros periódicos com atores sociais da Bacia Paraná 3 dispostos a dialogar sobre a situação e as demandas patrimoniais e culturais 182 da região, propondo, consolidando e executando os encaminhamentos construídos participativamente em busca do fortalecimento cultural regional. São realizados encontros regulares trimestrais, descentralizados, em municípios que integram os 04 núcleos regionais (média de 07 municípios por regional), que orientam os encaminhamentos e ações a serem desenvolvidas nos municípios, individual ou coletivamente. Acontecem reuniões extraordinárias ou temáticas, a qualquer tempo, conforme demanda institucional (Itaipu Binacional ou Ecomuseu) e/ou dos municípios integrantes da Rede. Os projetos e assuntos específicos demandam a criação de Grupos de Trabalhos constituídos por representações dos municípios com interesse e/ou habilidade e expertise específica. São realizadas também avaliações anuais, nas quais representantes do Ecomuseu de Itaipu percorrem, junto com os demais programas constituintes do Programa Cultivando Água Boa, os 29 municípios da BP3 com o objetivo de dialogar e avaliar junto aos atores sociais envolvidos em cada município o desenvolvimento do Programa Valorização do Patrimônio Institucional e Regional em cada município. Nesses diálogos, são mapeadas as ações em andamento, os pontos que ainda demandam fortalecimento e as perspectivas futuras para o programa. Além disso, são realizados encontros anuais dentro do evento realizado por Itaipu, Encontro Cultivando Água Boa, no qual são realizadas reuniões da Rede Regional e processos de capacitação com relação a assuntos patrimoniais e culturais. Em 2009, foi realizado também o Festival das Águas, com temática socioambiental, com o objetivo de incentivar a expressão cultural e o surgimento de novos valores, estimulando a composição e interpretação de músicas relacionadas a um novo modo de ser/sentir, viver, produzir e consumir em nossa região. O FESTIVAL DAS ÁGUAS é um festival de Composição e Interpretação que abrange diversos estilos de música, como sertaneja e popular, seguindo a temática socioambiental da região da BP3, fundamentada nos valores e princípios para uma sociedade sustentável, UM NOVO JEITO DE SER/SENTIR, VIVER, PRODUZIR E CONSUMIR em nossa região, conforme estabelecido em documentos planetários como a Carta da Terra, Pacto Global/ Metas do Milênio, entre outros. Seu diferencial dos demais Festivais está na inclusão dessa temática nas manifestações artísticas e culturais das comunidades envolvidas, na inter-relação com os demais programas socioambientais em desenvolvimento na região e na participação exclusiva de talentos musicais da BP3. Além dos prêmios e troféus aos melhores intérpretes e compositores, o Festival promove a gravação de um CD com as composições vencedoras em cada edição. O Festival é coordenado pela Rede, com facilitação do Ecomuseu de Itaipu, em parceria com os municípios que sediarão as etapas do Festival , com apoio da Itaipu Binacional, Conselho dos Municípios Lindeiros ao Reservatório de Itaipu/ Câmara Técnica de Cultura, Associação dos Municípios do Oeste do Paraná – AMOP/ Associação Cultural do Extremo Oeste - ACEO, entre outras parcerias institucionais governamentais e não governamentais, locais, regionais, estaduais e nacionais. Em 2010, o Ecomuseu de Itaipu e o Programa Valorização do Patrimônio Institucional e Regional iniciaram um processo de revitalização das condições estruturais e conceituais de seu circuito expositivo, ampliando as possibilidades de construção identitária e comunitária por meio do patrimônio. 183 Esse processo contou com a participação e mobilização da comunidade regional e corporativa, envolvendo atores de desenvolvimento local, representados por gestores de cultura dos municípios, lideranças e representações comunitárias, empregados da Itaipu Binacional e de empresas prestadoras de serviços, profissionais convidados, entre outras pessoas que contribuíram para a revisão e atualização de conteúdos, depoimentos e inovações para o circuito museográfico do núcleo de exposições do Ecomuseu de Itaipu em Foz do Iguaçu e também para algumas ações locais e regionais previstas para as etapas seguintes à revitalização. É importante destacar que, neste processo foi instalada uma maquete de piso com uma representação da região de abrangência da Bacia Paraná 3, destacando os 29 municípios parceiros de Itaipu e suas ações socioambientais. Complementam ainda as informações da maquete, telas sensíveis ao toque nas quais são disponibilizadas as informações organizadas participativamente pelos municípios e os 87 depoimentos sobre a memória regional de atores sociais da BP3, que dão voz a essa comunidade no novo circuito museográfico do Ecomseu de Itaipu. Nesse processo, em continuidade aos encaminhamentos do projeto de revitalização e melhoria do circuito de exposições do Ecomuseu foram priorizadas as articulações regionais, nacionais e internacionais, para fortalecimento das ações de memória e patrimônio, com a participação do consultor de ecomuseologia e desenvolvimento local, Hugues de Varine; parcerias para planejamento e realização de eventos formativos com a ABREMC – Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários; encontros da Rede Regional de Museus, Memória e Patrimônio Natural e Cultural, em vários municípios da região, de forma descentralizada e itinerante, e reuniões técnicas com instituições parceiras, entre outras ações relacionadas. Nesse sentido, foram realizadas visitas e reuniões com Gestores Públicos e Educadores nos 29 municípios dessa região, para apresentação dos Programas e dos planejamentos anuais previstos. Os resultados têm sido muito satisfatórios e ficou claro que essa sensibilização tem trazido um fortalecimento considerável da participação social nas ações conjuntas do programa em cada um dos municípios da BP3. Foram consolidados ainda, por meio da Rede Regional de Museus, Memória e Patrimônio Natural e Cultural, três grupos de trabalho com representações dos municípios para discutir e construir participativamente os seguintes projetos: a Formação Continuada em Gestão de Cultura e Patrimônio; a exposição itinerante “Nas correntezas da Memória” e a segunda edição do Festival das Águas. O projeto de formação continuada corresponde à demandas levantadas no interior da própria Rede Regional que, entre outras coisas, sempre destacou a percepção de que era necessário estabelecer um processo continuado de capacitação e aperfeiçoamento dos profissionais atuantes nas áreas culturais e patrimoniais da região, que por questões geográficas e outras prioridades são praticamente alijados da possibilidade de participarem dos processos formativos desenvolvidos pelas administrações públicas estaduais e federais. No sentido de superar esta demanda, a Rede Regional se propôs a construir um projeto e articular com parceiros, universidades, governo estadual, federal e municipal, dentre outras instituições, no sentido de viabilizar este processo, com o objetivo de envolver a sociedade em processos reflexivos, críticos e emancipatórios que potencializem suas noções de pertencimento e de valorização de seus territórios e de sua cultura; fortalecer o entendimento de conceitos de cultura e patrimônio na região; contribuir para a capacitação da comunidade para atuar como protagonistas da gestão 184 cultural e patrimonial da região, por meio da elaboração, gestão e captação de recursos públicos e privados para projetos culturais, etc. É importante destacar também que este projeto sempre teve a preocupação de construir um processo que se adequasse à esta realidade regional e que levasse em consideração as necessidades, os anseios e as idiossincrasias dos municípios da BP3, contribuindo assim para o sucesso e a aplicabilidade desta formação. O projeto Exposição Itinerante “Nas correntezas da memória”, corresponde à necessidade de consolidação e valorização de uma identidade regional dos municípios da BP3 levantada no decorrer das discussões da Rede Regional. Para tanto, foi estabelecido um grupo de trabalho para construir um processo expositivo que apresentasse a importância do rio Paraná como eixo de ligação regional e como parte fundamental da identidade cultural da comunidade localizada em sua bacia hidrográfica, exposição esta que deverá percorrer os 29 municípios da BP3. Neste processo foi estabelecido um diálogo permanente com os municípios que contribuíram com os conteúdos e fotografias representativas de suas cidades. Além disso, a própria museografia e as idiossincrasias expositivas e de itinerância foram definidas pelos atores sociais representantes dos municípios neste grupo de trabalho. Por sua vez, o grupo de trabalho Festival das Águas tem como responsabilidade avaliar a edição anterior e elaborar a nova proposta e regulamento a serem validados pelos demais municípios que integram a Rede Regional e aprovados pelas instituições parceiras. Esse grupo de trabalho é facilitado por uma profissional do Ecomuseu e coordenado por duas representações municipais, responsáveis pelas articulações e encaminhamentos no seu município, com Itaipu e demais instituições parceiras. Esses três projetos estão em fase de finalização e, assim que forem validadas pela Rede Regional, serão realizados com apoio dos municípios da BP3 e demais instituições da região. Essas inciativas coletivas da Rede Regional de Museus, Memória e Patrimônio Natural e Cultural serão de grande importância para consolidar ainda mais esta rede de atores sociais e consolidar um processo de gestão comunitária do patrimônio regional amplo e participativo, envolvendo os mais variados segmentos da sociedade. Estes processos, do mesmo modo, deverão ser tanto estimulados como estimuladores de novos desafios no interior da Rede Regional, sendo que as perspectivas futuras que hoje temos possivelmente passarão por diversas revisões e reconstruções. Por meio das avaliações que são feitas anualmente nos 29 municípios da BP3, nas quais são identificados coletivamente pontos consolidados e pontos que ainda podem ser fortalecidos no programa Valorização do Patrimônio, no entanto, já é possível ter uma visão geral de como será a continuidade destes trabalhos regionais. Destacam-se os pontos a seguir: 1.Garantir a realização e continuação dos processos formativos em Cultura e Patrimônio para a região. 2.Viabilizar o intercâmbio de informações e experiências entre os atores sociais envolvidos com ações de cultura nos 29 municípios da Bacia Paraná 3. 3.Apoiar a paulatina melhoria das estruturas de preservação e salvaguarda de acervos museais dos 29 municípios da Bacia Paraná 3, 4.Incentivar e apoiar ações de resgate e divulgação da memória de cada município. 185 5.Apoiar a institucionalização da cultura nos municípios, por meio da implantação de Sistemas Municipais de Cultura, Conselhos Municipais de Cultura, Secretarias de Cultura ou Fundações. 6.Apoiar tecnicamente os estudos para implantação de políticas de preservação de patrimônio no âmbito municipal da região, com leis de tombamento e políticas de aquisição de bens patrimoniais imóveis e integrados, além de políticas de preservação do patrimônio imaterial das comunidades. 7.Viabilizar a realização de conferências e seminários acerca de temas culturais, patrimoniais e artísticos na região que sirvam como base para um trabalho sustentável de consolidação do tema nos municípios da região da Bacia Paraná 3. Considerações Finais As mudanças sócio-culturais, o desenvolvimento econômico e, especialmente, a presença da Usina de Itaipu nesses últimos trinta e oito anos têm forçado mudanças importantes para a população local e regional e seus estilos de vida. Estas alterações foram justificadas e justificaram para Itaipu a existência do Ecomuseu nessa região, o que inclui a tentativa de integrar culturalmente e socialmente centenas de milhares de novos moradores provenientes de outras partes do Brasil, que não tinham (ou não têm) raízes no território ou sentimento de pertencimento. O Ecomuseu de Itaipu, ao longo dos seus 25 anos de existência tem adquirido habilidade e uma grande experiência de ensino e estabelecimento de redes de cooperação com escolas e professores, porém limitada em acesso, seja por segurança, distância ou dificuldade de transporte. Assim, é necessário pensar soluções para aumentar a eficiência da educação patrimonial, de forma quantitativa e qualitativa, por meio de pontos de transição urbana, com a abertura de oficinas descentralizadas sobre temas do patrimônio; criação de kits documentários, mini-exposições dirigidas à públicos específicos; formação de professores na utilização do patrimônio no seu ensino; classes comunitárias de integração no inventário de processos participativos, etc Ainda, no campo da ação prática de memória, articular a continuidade e efetividade do Centro de Memória Virtual, como um centro de recursos audiovisuais que conserve, faça a gestão e disponibilize para os usuários em potencial a riqueza dos arquivos, documentos e do acervo do Ecomuseu, de Itaipu e dos parceiros desse território, tratando de sua terra, seu patrimônio material, suas paisagens, suas comunidades humanas e culturas vivas. E nos tópicos conceituais e de planejamento estratégico, torna-se essencial darmos continuidade ao processo de avaliação da atuação do Ecomuseu de Itaipu, entendido pela equipe e especialistas como instrumento útil e necessário depois desse tempo de existência. Esse tema foi consensado a partir de algumas reflexões provocativas de Hugues de Varine em visita técnica ao Ecomuseu de Itaipu, ao final do ano de 2010, quando iniciamos o processo de concepção do projeto de revitalização do Ecomuseu, a partir da reestruturação do circuito museográfico do seu Núcleo de Exposições em Foz do Iguaçu e do realinhamento de algumas ações comunitárias participativas no atual território. Nossas perspectivas de futuro embasam-se e fundamentam-se a partir das contribuições do mestre Hugues, expressas em notas e sugestões, como provocações ao pensamento, sobre a avaliação a ser feita nesse contexto. Muitos diálogos e reflexões ainda são necessários, mas, algumas observações feitas por ele são nossas metas de respostas e orientações para a avaliação e revitalização em curso: Promover a criação de um conselho representativo, com participação de todos os intervenientes e parceiros, que contribua no planejamento e definição da agenda, uma evolução aos processos da Rede Regional, em ação nessa região; Uma análise mais aprofundada do território, analisada a partir da perspectiva do museu; 186 Reunir e atualizar as informações para concluir o inventário participativo desse patrimônio, com definição de uma metodologia pública de um inventário contínuo do patrimônio comum e as modalidades de sua gestão. Propor um estudo interdisciplinar (cultura, assuntos sociais, economia, meio ambiente, geografia...) e análise de ativos, com socialização dos resultados pelo Ecomuseu em uma publicação sobre esse território comum. Buscar uma atuação como instituição descentralizada, com mobilização de agentes e partilha de recursos, funcionando com redes de cooperação. MCCB – MUSEU DA COMUNIDADE CONCELHIA DA BATALHA, O MUSEU DE TODOS Ana Mercedes Stoffel ** Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias - Lisboa - PORTUGAL RESUMEN La Sostenibilidad de los museos locales pasa, cada vez más, por la garantía de éxito de sus iniciativas y por el reconocimiento de su utilidad como contribución al desarrollo social por los poderes públicos, por las estructuras educativas y, sobre todo, por sus usuarios - visitantes o vecinos. El Turismo Cultural, cada vez más en Europa, un complemento o alternativa al turismo de masas, puede ser una garantía de sostenibilidad, pero pide para tal, modelos de comunicación interculturales, inclusivos y amables, dentro del rigor científico que se exige a un trabajo de investigación y divulgación museológica. Pero pide, sobre todo, el reparto de responsabilidades entre los principales elementos que influencian la vida de los museos locales - políticos, técnicos, comunidad y especialistas - desde el nacimiento de la idea del museo y su construcción hasta su gestión y actividad regular, como un componente fundamental para garantizarles un futuro sólido. El MCCB – Museu da Comunidade Concelhia da Batalha fue construido a través de una colaboración concertada entre los cuatro elementos citados y su actividad regular y su gestión actual se mantienen actualmente en los mismos moldes. Palavras-chave: Sociomuseologia – Evolução – Rigor – Partilha – Inclusão 1 – INTRODUÇÃO Ser convidado para construir um museu de raiz é, provavelmente, o melhor desafio que pode ser feito a um museólogo. E quando esse pedido é realizado por uma autarquia em nome da população e o museólogo defende, como é o meu caso, os valores e os princípios da Sociomuseologia, surge a rara oportunidade de interpretar e concretizar, num espaço e num tempo reais, as reflexões teóricas sobre a participação activa da população no desenvolvimento dos processos museais e realizar, na prática, o sonho que durante anos constituiu apenas para nós objecto de leitura, debate ou estudo de caso. O convite do município da Batalha chegou pela mão do seu autarca, António Lucas. Na conversa que desenvolvemos a seguir, falou-me dos desejos da população do concelho, da vontade de afirmação da comunidade, do território e da história que existiam para além do Mosteiro e da exiguidade do espólio existente. A seguir perguntou-me como se deveria fazer um museu. Foi motivador falar da Função Social * Ana Mercedes Stoffel, Mestre em Museologia Social pela Universidade Lusófona, trabalha como docente de Museologia e Gestão da Qualidade na Universidade Complutense de Madrid e ainda como coordenadora de Programas Museológicos em actividade independente. 187 dos Museus, das três palavras-chave da Nova Museologia – Território, Património e Comunidade, em oposição às da Museologia Tradicional – Edifício, Colecção e Visitantes, explicar que um Museu de Comunidade seria, neste caso, a melhor escolha e que isso significava, antes de mais, perguntar as pessoas do concelho como gostariam que fosse o seu museu. A minha proposta foi aceite e o modelo explicado e divulgado no Boletim Municipal que, a partir dessa data, passou a acompanhar e difundir com regularidade o desenvolvimento do projecto. A iniciativa foi também divulgada nos meios de comunicação, junto dos munícipes e as instituições locais e, logo a seguir, iniciaram-se os trabalhos. Da equipa de lançamento do projecto formavam parte, com a coordenadora do Programa Museológico, as pessoas e entidades que tinham estado na base da criação do Museu. Com elas preparou-se um Plano Inicial de Acção, descrevendo o processo de desenvolvimento e a sequência em que deveriam ser implementadas as distintas fases do projecto: consulta e envolvimento da população; organização de equipas de trabalho pluridisciplinares; concretização do programa museológico; explicitação do programa museográfico e arquitectónico e, finalmente, orçamentação geral e programa de construção do Museu. Para implementar o projecto, foi iniciado o levantamento sistemático da bibliografia existente sobre a história, o património e a cultura do concelho. Foi assim mesmo construída uma base de dados, com recurso ao sistema informático SIGNUD*, que foi sendo preenchida de forma cronológica e organizada com os acontecimentos considerados marcantes para história do território e da população. Começaram em simultâneo os encontros e reuniões com Associações, Juntas de Freguesia e personalidades ou instituições públicas e privadas, com o objectivo de definir os conteúdos do programa museológico, as temáticas que deveriam ser abordadas e o âmbito de intervenção do museu. De igual modo, foram realizados numerosos passeios pelo concelho e programadas visitas para conversar com os habitantes e avaliar e conhecer novos patrimónios. Assim, pouco a pouco, o grupo inicial foi estendendo-se e crescendo com os futuros técnicos do museu, o museógrafo, os engenheiros e arquitectos responsáveis pela obra, a responsável pela área de inclusão do Museu, os funcionários e técnicos da CMB, batalhenses de origem ou de afecto, especialistas das diversas áreas abordadas no Museu e intelectuais e investigadores locais, regionais ou nacionais, que se interessaram pelo projecto e um número cada vez maior de colaboradores e voluntários. Encontros, reuniões e trabalhos concretizaram-se na Missão e na Vocação do Museu e nas grandes linhas orientadoras do projecto: visão territorial e multipolar da preservação do património; garantia de envolvimento activo da população nos processos; noção abrangente e integradora dos projectos culturais já existentes; e, finalmente, uma estrutura conceitual fundamentada na história do concelho, nas valências actuais dos seus habitantes e nas vontades de futuro de toda a comunidade da Batalha. Ao iniciar os trabalhos de concretização das distintas áreas, o espólio existente não superava a dezena de peças. De modo que começamos a implementar o programa expositivo livres da tirania que, por vezes, os objectos patrimoniais nos impõem. Para reconstruir o passado e para contar a história, recorremos à base de dados SIGNUD, que tinha sido entretanto enriquecida com numerosos contributos. Uma votação alargada permitiu descobrir entre mais de 500 acontecimentos, os 50 momentos considerados fundamentais para a evolução da comunidade, desde os seus primeiros tempos. Escolhemos então, com a ajuda da população e dos distintos especialistas, os testemunhos que permitissem mostrar, através de peças artísticas, de documentos e de obras evocadoras, uma história amável e próxima. Assim, a maioria dos objectos e livros que se encontram no Museu, pertence à população da * Para conhecer o modelo SIGNUD consultar: http://www.minom-icom.net/index.php?option=com_content&view=article&id=7&Itemid=5 188 Batalha ou a colegas e amigos do projecto que as disponibilizam para todos, numa atitude de solidariedade cultural que merece ser destacada. Para mostrar o presente, deliberadamente inserido no meio do percurso da história, recorremos ao fenómeno multimédia: uma maqueta que recorta o pedaço da crosta terrestre que constitui o concelho, rotas e destinos para o conhecer, vídeos e imagens para conquistar amigos e visitantes. Para preparar o futuro utilizamos o recurso informação/acção, as pessoas e os computadores, três ferramentas fundamentais de trabalho, que juntas poderão mudar para melhor o tempo que virá. Da obra que conseguimos realizar, juntando em parceria os quatro elementos fundamentais para sua concepção e existência – comunidade, políticos, especialistas, e técnicos de museus fala hoje o MCCB, falam os habitantes da Batalha e falarão seus visitantes e utilizadores. Do sucesso do seu trabalho falará o futuro…se o Museu da Comunidade Concelhia da Batalha souber construir futuro. 2 - A IDEIA FUNDAMENTAL O MCCB - Museu da Comunidade Concelhia da Batalha é um projecto cultural de crescimento contínuo, inserido na linha da Sociomuseologia que se desenvolve com base nos três conceitos fundamentais da Nova Museologia – Território, Património e Comunidade, em alternativa aos da Museologia Tradicional – Edifício, Colecção e Visitantes. Com estes pressupostos pretende contribuir para a valorização da história e da identidade do concelho da Batalha e dos seus munícipes e, com a sua intervenção presente, procura ajudar a garantir um futuro melhor para todos. Projectase assim como uma instituição cultural que assegura, desde o momento da sua concepção, o envolvimento e a participação da população e do movimento associativo local. Assume-se, enfim, como um centro de cultura vivo, reunindo as funções de investigação, conservação, promoção e valorização do património cultural representativo do território e do modo de vida das suas gentes. O envolvimento dos munícipes e das instituições concelhias e regionais desde o início é um contributo essencial para atingir os seus principais objectivos: Reforçar a preservação do legado cultural; Aproximar a população entre si e aumentar a consciência cívica; Facilitar a ligação entre a tradição e a sociedade actual, através da recuperação e da valorização cultural e técnica da população concelhia; Rentabilizar estruturas existentes, valorizando e respeitando trabalhos anteriores; Projectar um futuro comum consistente e fundamentado na partilha cultural; Criar um corpo cultural de comunicação entre todas as forças vivas do concelho. Uma visão territorial e multipolar da preservação do património, integradora dos projectos culturais já existentes; uma vocação de partilha com a comunidade; e uma estrutura conceitual fundamentada na investigação e no estudo da história, das valências e das vontades de futuro da comunidade da Batalha, constituem, desde início, as linhas permanentes de orientação para os intervenientes no processo de definição, concepção, produção, lançamento e gestão do projecto. Estas características fundamentais concretizam-se em quatro noções-chave, que o qualificam e definem e que guiaram e guiam o museu no seu percurso. 3 - AS QUATRO NOÇÕES-CHAVE EVOLUTIVO NAS PROPOSTAS As áreas de intervenção que foram definidas em conjunto com a população, permitem o crescimento permanente do MCCB e garantem o conhecimento e divulgação do passado, caracterizar e desenvolver as virtualidades do presente e desenvolver e perspectivar um melhor crescimento futuro. Este vasto campo de intervenção do MCCB e seu conteúdo espácio-temporal estão organizados em seis áreas temáticas de trabalho: 189 As áreas dedicadas ao Passado procuram conhecer e relembrar a história do território e da população, investigando e divulgando os principais acontecimentos e transformações ao longo dos tempos: As Origens estudam a evolução do território e da vida da região nos últimos 250 milhões de anos. Tempo e Memória recolhem e organiza os dados da história da Batalha desde o início da construção do Mosteiro até a actualidade, caracterizando as fases que permitiram à população conquistar a sua autonomia e identidade. As áreas dedicadas ao Presente procuram desenvolver e promover as distintas facetas sociais, culturais, naturais e económicas de vida actual do concelho e tentam, ao mesmo tempo, contribuir para a auto-sensibilização da comunidade e dos visitantes para a defesa de valores ambientais culturais e de cidadania: Viver na Biodiversidade pretende, através da utilização dos quatro elementos primordiais da Natureza – AR, TERRA, ÁGUA e FOGO, sensibilizar todos os cidadãos, para a preservação do meio ambiente necessário à existência do ser humano no Planeta. Tudo sobre nós apresenta a Orografia e a Geografia Humana actual da Batalha, mostrando rotas e destinos de conhecimento pelas distintas freguesias que permitem explorar os mais interessantes espaços culturais e naturais da região aos autóctones e aos visitantes. As áreas de dedicadas ao Futuro são dedicadas a preparar os tempos que se seguirão e querem ser facilitadoras do trabalho na melhoria da investigação, na sensibilização para a pesquisa participativa, na disseminação do conhecimento e na descoberta e promoção de novos valores culturais e sociais da comunidade. As Actividades Comunitárias elaboram programas de investigação específicos realizados a pedido da população e desenvolvidos em equipa com a comunidade e com especialistas convidados. Poderão constituir, no futuro, o ponto de partida para a criação de novos pólos museológicos no Concelho. O Laboratório da Memória Futura desenvolve dois espaços de investigação e informação diferentes: a disponibilização de todo o processo de investigação desenvolvido desde o princípio da construção do Museu e o acesso a todos os roteiros e programas culturais e sociais que decorrem na Batalha, bem como as publicações de interesse cultural, turístico e histórico sobre esta região. RIGOROSO NA MENSAGEM Em todas as fases de desenvolvimento do MCCB, o rigor e a fiabilidade dos conteúdos e das fontes vai sendo garantida pela existência de equipas aconselhadas por especialistas das diversas áreas técnicas ou temáticas e, sobretudo, pela permanente procura de melhoria na informação junto de entidades e visitantes que possam contribuir para o seu enriquecimento e revisão, se necessário. AMÁVEL NA COMUNICAÇÃO Os conteúdos do programa museológico foram estudados e analisados pelas equipas de especialistas com a coordenadora, de modo a tornar a informação fácil e compreensível, sem perder, em momento algum, o rigor e a fidelidade necessárias ao trabalho científico prévio. O programa inclusivo teve em consideração, em todo momento, a necessidade de tornar o MCCB acessível a todo o tipo de visitantes e utilizadores, mas sempre sem tornar evidente a disparidade na comunicação e a diferenciação nos acessos. Finalmente o programa museográfico garante a discrição e elegância das formas que explicam os conteúdos e o sentido de continuidade dos espaços em exposição. ACESSÍVEL A TODOS 190 Segundo as próprias palavras da colaboradora dos trabalhos de inclusão: ““… ao assumir-se como Museu inclusivo, o MCCB oferece-se a todos os visitantes, através de um programa museológico potenciador, desde o início, de experiências únicas e personalizadas. Esta vontade de servir a “todos”, no respeito pela diferença, traduz-se em pequenos gestos que, somados, tornam o espaço acessível, confortável e seguro. Embora apresente soluções abertamente direccionadas para públicos com necessidades especiais, é filosofia do MCCB uma integração discreta e efectiva, permitindo que os mesmos recursos e serviços possam ser fruídos por pessoas com ou sem deficiência. Só assim o museu poderá ser compreendido como “um Museu de (e para) todos…” Para além de eliminar barreiras físicas e potenciar o conforto e a autonomia, este espaço cultural recorre a estratégias comunicacionais alternativas, para que cada visitante possa utilizar os recursos que respondam aos seus interesses e que melhor se adaptam às suas necessidades pessoais. O Museu integra-se ainda, nos objectivos de desenvolvimento de um projecto que possa tornar a Batalha num CONCELHO ACESSÍVEL. 4 - A VISÃO MULTIPOLAR O projecto museológico MCCB assenta numa visão de presença cultural territorial e multipolar, sendo o MCCB o elemento integrador e promotor de outros equipamentos e apresentando-se como um centro de conhecimento e divulgação dos espaços e das vidas circundantes. Constitui, assim, um ponto de partida para todo o território do Concelho e da região, cujos caminhos são disponibilizados para a partilha cultural e social, promovidos autonomamente ou em parceria com as distintas comunidades de Batalha e percorridos através de espaços de pertença comum e privada. Nesta linha de pensamento e acção, o MCCB relaciona-se com diversos espaços culturais, próprios, de amizade e parceria ou de investigação participada, estando os programas de colaboração conjunta com as diversas entidades em distintas fases de desenvolvimento e implementação. 5 - O MODELO DE GESTÃO Nos novos rumos da Museologia e do Património, é pedido ao gestor cultural ou ao museólogo que implemente técnicas de Conservação Preventiva e de Comunicação, que organize Serviços Educativos, que envolva as populações, que recupere Memórias e que lidere projectos e pessoas. É-lhe exigido, portanto, um trabalho eficaz e multifacetado com recursos humanos e financeiros quase sempre escassos. Mas nas áreas de Humanidades, em geral, a formação com que os novos profissionais chegam ao seu primeiro emprego, não os prepara para desempenhar com eficácia esse trabalho. Aprende-se correctamente o que fazer. Muito poucas vezes se aprende o como fazer. Os Sistemas da Qualidade, enquanto metodologia de gestão são já de uso regular e obrigatório na maioria das organizações económicas e, cada vez mais, em instituições culturais, políticas e de serviço de sucesso, por todo o mundo. Matérias como Planeamento Estratégico e Operacional, Organização e Métodos de trabalho, Liderança, Trabalho em Equipa ou Análise e Resolução de Problemas, são ferramentas fundamentais para aumentar o efeito do nosso esforço e melhorar as relações humanas. Os Sistemas da Qualidade são, por isso, métodos facilitadores do trabalho que definem e utilizam ferramentas de apoio baseadas na experimentação e no bom senso, para serem aplicadas no planeamento e gestão das organizações. O MCCB – Museu da Comunidade Concelhia da Batalha foi concebido e realizado por uma equipa pluridisciplinar, cumprindo na ordem correcta os procedimentos necessários à sua concretização. Estes procedimentos foram estruturados pelo Sistema da Qualidade aplicado e pelo Plano Estratégico, com base em processos previamente definidos para as duas fases fundamentais que garantem a sua correcta programação e gestão no tempo: Na fase de concepção e construção - Definição/ Explicitação/Implementação 191 Na fase de funcionamento regular - Gestão/Avaliação / Melhoria Permanente Fase de Concepção e Construção Nesta fase foi definida a Missão e a Vocação do Museu, realizado o Plano Estratégico, que foi concluído em 2006, e explicitado o Plano Geral de Acção, apresentado no mesmo ano. Durante todo o processo, o respeito pelas definições do Plano Estratégico inicial permitiu conseguir, sem desvios, o propósito pretendido. Fase de gestão, avaliação e melhoria contínua Da equipa pluridisciplinar que trabalhou e colaborou na construção do Museu, está a ser formado o Conselho Consultivo do MCCB, que permitirá dar apoio técnico e científico aos dirigentes e técnicos responsáveis pela actividade diária do Museu, em todos os processos da gestão museal, agora em curso. O Manual da Qualidade recolhe a definição estratégica e os procedimentos de gestão, avaliação e melhoria contínua, que estão sendo completados na medida das prioridades e necessidades do próprio Museu. Este documento fundamental permite o conhecimento por todos dos processos museais do MCCB, garante a continuidade no rigor do trabalho a desenvolver e a humildade e capacidade de aprendizagem necessárias ao aperfeiçoamento permanente que se procura. O Manual da Qualidade confirma ainda o compromisso do MCCB com o Património, o Território e as Pessoas que o habitam. BIBLIOGRAFIA E DOCUMENTOS DE BASE PARA O PROJECTO *GESTIÓN, PLANEAMIENTO Y MUSEOS Ballart J. y Treserras J (2001). – Gestión del patrimonio cultural. Ed. Ariel Patrimonio. Barcelona. Goldratt E. Cox, J.(1993). La meta. Ed. Diaz de Santos SA. Madrid LIZANA, M. (2007). El Turismo Cultural, los museos y su planificación. Ed.Trea. Gijón. LÓPEZ, J. (2008). Estructuras y principios de gestión del Patrimonio Municipal. Ed. Trea. Gijón. *MUSEOS Y MUSEOLOGIA SOCIAL ARRIETA, I. Coor. (2008). Participación ciudadana, Patrimonio Cultural y Museos. Entre la teoría y la praxis. Universidad del Pais Vasco. Graficas Berritz .Abadiño DESVALLÉES, A., de BARY, O., WASSERMAN, F. - Direction de publication. Vagues Une anthologie de la nouvelle muséologie.1. Pp 317-320. Ed. MNES, Collection Muséologie. Savigny-le-Temple, 2002 DESVALLÉES, A. Coor. (2002). L’écomusée : Rêve ou réalité. Revista Publics et Musée 17-18 do Ano 2000. 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DOCUMENTOS DE BASE ECOMUSEU DE MARANGUAPE: um povo, sua cultura e seu território na educação integral da comunidade local Nádia Almeida Ecomuseu de Maranguape - Maranguape - Ceará - BRASIL RESUMO O projeto Ecomuseu de Maranguape é sediado na comunidade rural de Cachoeira, localizada no município de Maranguape, estado do Ceará. Desde sua criação – no ano de 2006 – o Ecomuseu de Maranguape tem como principal parceiro a Escola local – Escola Municipal José de Moura. E desde então empreendemos esforços metodológicos em desenvolver em conjunto com a Escola um programa em Educação Patrimonial que favoreça o processo de qualificação da educação na escola e na comunidade em geral. Tendo como base, a atuação em rede, o Ecomuseu de Maranguape, em suas ações educativas, vem buscando incentivar, práticas pedagógicas inovadoras e estratégias de organização e gestão compartilhadas, objetivando melhorar os níveis de aprendizagem e dos processos de formação humana com vistas a promoção do desenvolvimento local sustentável - alicerçados na museologia comunitária, na práxis da educação popular e no fortalecimento das novas territorialidades. Desde o ano de 2011, o projeto Ecomuseu de Maranguape, por meio de parceria com o Fundo Juntos pela Educação, vem desenvolvendo um projeto de educação integral na Escola Municipal José de Moura, tendo como eixos principais a educação patrimonial, o uso de tecnologias da informação e comunicação e a articulação de comunidades de aprendizagem em rede e colaborativas. Estes eixos se articulam sistemicamente em atividades de: Formação em Serviço (com os educadores da Escola e Monitores Comunitários); Leitura e Produção Textual (Mini-biblioteca itinerante nas casas dos alunos e o programa LUZ DO SABER); Convivência sustentável com o semi-árido (Tecnologias Sociais, Matriz cultural brasileira) e com o programa de formação do Ponto de Cultura do Ecomuseu de Maranguape – AGENTES JOVENS DO PATRIMONIO CULTURAL. Como resultado desde primeiro ano do projeto, neste ano letivo de 2012, a proposta de educação integral do Ecomuseu de Maranguape, instalou na Escola José de Moura 04 (quatro) salas temáticas – cada sala com os seus respectivos conteúdos pedagógicos, exigidos pela grade curricular do ensino formal, mas com o diferencial de serem abordados, com a metodologia ‘imersão’ – facilitados por kit’s multimídias compostos por notebook com acesso a internet, projetor multimídia, com amplificado e lousa digital – facilitando também a inserção da educação patrimonial (tempo e espaço contextualizados em audiovisual – o local e o global, ou seja, o global). Destacamos ainda, a elaboração de um calendário conjunto de eventos socio-culturais da comunidade, resultando numa agenda comum de toda a comunidade, que por sua vez, e assim acreditamos, vem desenhando a nossa nova museologia. RESUMEN El proyecto de Ecomuseo Maranguape tiene su sede en la comunidad rural de Cachoeira, ubicada en la ciudad de Marazion, estado de Ceará. Desde su creación en 2006 - el principal socio de la Maranguape Ecomuseo de la escuela local - Escola Municipal de Moura, José. Y desde entonces llevado a cabo esfuerzos metodológicos para desarrollar conjuntamente un programa de la Escuela de Equidad Educativa que favorece el proceso de calificación de la educación en la escuela y la comunidad en general. Sobre la base de la acción de la red, el Ecomuseo Maranguape en sus actividades educativas, ha estado tratando de fomentar las prácticas de enseñanza innovadoras y estrategias para organizar y administrar objetivo común de mejorar los niveles de los procesos de aprendizaje y capacitación, con miras a promover los derechos humanos desarrollo sostenible local - basada en la museología de la 195 comunidad, en la praxis de la educación popular y el fortalecimiento de los nuevos territorios. Desde el año 2011, el proyecto de Ecomuseo Maranguape, a través de una alianza con Juntos para el Fondo de Educación, ha desarrollado un proyecto de educación integral en la Escuela Municipal José de Moura, cuyos ejes principales de la educación patrimonial, el uso de la tecnología información y la comunicación y la articulación de comunidades de aprendizaje y trabajo colaborativo en red. Estos temas se articulan en las actividades de forma sistémica: Capacitación en servicio (con los profesores de los monitores de la Escuela y la Comunidad) Lectura y producción textual (mini biblioteca móvil en los hogares de los estudiantes y el sable del programa LUZ), la convivencia sostenible con el semiárido (Tecnologías Sociales, la matriz cultural de Brasil) y el programa de capacitación de la Cultura de la Maranguape Ecomuseo - AGENTES DE PATRIMONIO CULTURAL DE LA JUVENTUD. Como resultado de ello desde el primer año del proyecto este año escolar de 2012, la educación propuesta de la Maranguape Ecomuseo, instalado en la Escuela José de Moura 04 (cuatro) salas temáticas - cada habitación con su contenido educativo correspondiente, requeridos por el plan de estudios la educación formal, pero con la diferencia está abordando, "inmersión" de la metodología - facilitado por la tecnología multimedia portátil kit compuesto con acceso a Internet, proyector multimedia, con amplificación y la pizarra digital - sino que también facilita la inserción de la educación patrimonial (tiempo y contextualizado en el espacio audiovisual - local y global, es decir, global). Destacamos también el desarrollo de un conjunto de calendario de eventos socio-cultural de la comunidad, dando como resultado una agenda común de toda la comunidad, que a su vez, y creemos, es el diseño de nuestra nueva museología. POLÍTICAS PÚBLICAS PATRIMONIAIS VOLTADAS COMUNITÁRIOS Luana Gonzalez Bassa - RS Brasil* Heron Moreira** Matheus Cruz***Universidade Federal de Pelotas - RS - BRASIL AOS MUSEUS ABSTRACT The quest for understanding the social function of museums as instruments of community development is rooted in the historical processes of thought and contextual museum. The ways of guiding functions of museums should be in constant dialogue with issues involving not only the cultural preservation, but the actual construction and recognition of diverse cultural events. The museum is a place to exhibit, to safeguard, to democratize its collections, its protagonists, its history, and must be provided for human rights, supported by public policies that recognize and give support to actions aimed at equity, whatever their way to be expressed. Public policies to support heritage activities developed around the museum expressions, give visibility to these institutions, and prove that museology is under construction to be addressed in its structure a thought aimed at promoting social activities, in line with current movements, and this way, always looking to upgrade, hence the importance of these ideological movements are supported by public issues in order to give their support and visibility * Luana Gonzalez Bassa – Acadêmica do Curso de Bacharelado em Museologia – Bolsista de Iniciação Científica, FAPERGS, no projeto Políticas públicas de patrimônio: o caso de São Lourenço do Sul, RS, Brasil, [email protected] ** Heron Moreira – Acadêmico do Curso de Bacharelado em Museologia – Bolsista de extensão do Programa de Preservação do Patrimônio Cultural do Anglo, [email protected] *** Matheus Cruz – Museólogo na Universidade Federal de Pelotas, Mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural – PPGMP/UFPel., [email protected] 196 The community museum - museums and community projects are institutionalized expressions of public politics to preserve assets and interests that border consolidation, either by community or by an authority, who put such policies into practice. Thus, it is understood that because it is something that involves the community side and sides of the legislative, executive and judiciary is also applicable to the study and analysis of the motivations for the establishment of such museums. Keywords: Museum; Commuunity; Public Politics. Introdução A busca pela compreensão da função social dos museus como instrumentos de desenvolvimento comunitário vem alicerçada nos processos históricos e contextuais do pensamento museológico. Os caminhos norteadores das funções dos museus devem estar em constante diálogo com questões que envolvam não só a preservação cultural, mas a própria construção e reconhecimento das mais diversas manifestações culturais. O museu é um local de expor, de salvaguardar, de democratizar seus acervos, seus sujeitos protagonistas, sua história, e devem ser assegurados pelos direitos humanos, sustentados por políticas públicas que reconheçam e dêem suporte a ações voltadas ao patrimônio, seja qual for sua maneira de ser expressa. As políticas públicas patrimoniais dão suporte às ações desenvolvidas em torno das expressões museológicas, dão visibilidade a estas instituições, e comprovam que a museologia está em plena construção por abordar em sua estrutura um pensamento voltado a promoção de ações sociais, acompanhando movimentos atuais, e desta forma, sempre buscando atualizar-se, daí a importância dessas movimentações ideológicas serem amparadas por questões públicas a fim de dar seu suporte e visibilidade. Os museus comunitários – e projetos de museus comunitários são expressões institucionalizadas das políticas públicas de preservação patrimonial e dos interesses que margeiam a consolidação, seja ela por parte da comunidade, ou por um órgão gestor, que coloquem em prática tais políticas públicas. Desta forma, entende-se que por se tratar de algo que envolva tanto o lado comunitário quanto os lados dos poderes legislativos, executivos e judiciários é também cabível o estudo e análise das motivações para a criação de tais museus. Museus e comunidade Entende-se que a comunidade peça por um local onde possam discutir interesses semelhantes e assim se construa uma identidade, desta forma fortalecendo o grito pelos seus direitos, uma vez que é muitas vezes a partir de confluências de problemas que a comunidade se organiza, não é diferente quando se pede por uma memória que construa não só um acervo, mas um elemento de identificação, desta forma, o museu comunitário possa ser um espaço que atue em consonância com a sociedade, raduzindo seus anseios, ouvindo e participando de suas necessidades, contribuindo para a formação da cidadania e corroborando os direitos humanos paralelamente a construção de um patrimônio coletivo. É desta forma que o museu torna-se um local onde são expostas não só em vitrines suas vidas, mas que seus ideais se disseminem pela comunidade e faça parte de uma história maior, e então que possam se sentir parte integrante da construção da cidade como um todo, e não só de uma comunidade que por vezes se torna isolada, seja por questões geológicas, econômicas ou sociais. Portanto, compreende-se o caso dos museus comunitários como Jeudy (1980, p.31): Do ponto de vista dos princípios, conclui-se que a Museologia Popular não está dirigida aos objetos, a conservar ou a exibir a um público, mas sim aos sujeitos sociais. São os modos de pensar, de fazer e de falar, além dos objetos e edifícios, que se tornam objetos de uma investigação museológica. E a conservação só adquire seu sentido pelo cumprimento de uma integração, de uma inserção no desenvolvimento econômico e social. O museu perde então seu sentido habitual, tornando-se um centro 197 onde se exprime uma dinâmica social de grupos que trabalham sobre sua identidade, filiação e legitimidade, utilizando a memória e o passado como “motores” de tal reflexão. Sendo assim, é pertinente que o Estado em sua condição de guardião da sociedade, desenvolva políticas de reconhecimento do patrimônio de comunidades. De acordo com Höfling (2001, p.35): As ações empreendidas pelo Estado não se implementam automaticamente, têm movimento, têm contradições e podem gerar resultados diferentes dos esperados. Especialmente por se voltar para e dizer respeito a grupos diferentes, o impacto das políticas sociais implementadas pelo Estado capitalista sofrem o efeito de interesses diferentes expressos nas relações sociais de poder. Desta forma, uma avaliação das ações empreendidas no tocante ao tema aqui discutido é pertinente, e as políticas patrimoniais estão no centro das preocupações da autora, uma vez que os grupos que devem ser atingidos por ela são os mais diversos. E como afirma Chagas (2000), as questões patrimoniais estão permeadas pelas questões de poder. Política pública: apontamentos teóricos Para Souza (2006), não existe uma única, nem melhor, definição sobre o que seja política pública, e muitas delas circunscrevem as ações que se pretende estudar nesta pesquisa. Por exemplo, para Lynn (1980), é um conjunto de ações, levadas a cabo por um governo, que visam objetivos específicos para uma coletividade, e este é corroborado por Peters (1986), quando o mesmo afirma que políticas públicas são a soma das atividades de um governo que influenciam a vida do cidadão. Para Fernandes (2007, p.1): [...] costuma-se pensar o campo das políticas públicas unicamente caracterizado como administrativo ou técnico, e assim livre, portanto do aspecto “político” propriamente dito, que é mais evidenciado na atividade partidária eleitoral. Este é uma meia verdade, dado que apesar de se tratar de uma área técnico-administrativa, a esfera das políticas públicas também possui uma dimensão política uma vez que está relacionado ao processo decisório. De maneira geral, os museus se caracterizam pela sua dinamicidade, por serem espaços de relações, fruição agregando a eles a sua qualidade de organizarem a história, as memórias, as questões sociais, culturais. Os museus estão passando por processos de desvelamento e se incorporando às questões sociais, estão acompanhando os movimentos culturais e ditando palavras de ordem como preservação, identidade, culturas, valorização. Por vezes são considerados instrumento para o desenvolvimento social por abarcar junto ao acervo, questões resultantes da interação com os anseios da sociedade. O movimento da Nova Museologia recomendou ao mundo às questões sociais, na mais vasta idéia, que uma instituição museológica possa vir a ter, ser e promover, as relações humanas passam a fazer parte do acervo destas instituições chamadas de museus comunitários, e em suas outras vertentes que surgem deste mesmo momento. Documentos que fazem parte desta trajetória da museologia conferem os momentos que algumas discussões vieram a tona e se fizeram marcantes e inovadoras, embasam aqui, a importância de serem amparadas por políticas públicas, neste caso, voltado ao patrimônio como um todo, uma vez que, ao se tratar de museus, patrimônio coletivo, se torna algo de uma dimensão absoluta. São documentos como as cartas patrimoniais, especificamente, neste desenrolar, a Mesa Redonda de Santiago do Chile, de 1972 e o Atelier Internacional da Nova Museologia, na cidade de Quebec, no Canadá, de 1984. Estes, tomados como referências nos estudos de museus comunitários, e também estes, que fundamentam o discurso para a construção de políticas públicas voltadas às questões culturais e sociais que uma instituição museologica possa vir a ter, citando o Plano Setorial de Museus e a Política Nacional de Museus como norteadores para a análise destas bases que norteiam os rumos da museologia no Brasil, e sua importância para o 198 desenvolvimento social, político e econômico do país, uma vez que planejado em conjunto aos órgãos gestores ligados a cultura. Voltada para a discussão do papel do museu na sociedade, a Declaração de Santiago (1972) resulta de uma reunião interdisciplinar pioneira e levanta a questão da interdisciplinaridade no contexto museológico. Esse documento propõe que a museologia passe a estudar a relação que o homem tem com o Patrimônio Cultural. Introduz a idéia do museu-ação, instrumento de transformação social (PRIMO, 2002). Desta forma, estes documentos se tornaram marco para a discussão da Nova Museologia, trazendo à tona a preocupação por políticas que amparem estas movimentações que discutam o patrimônio como meio de memórias, identidades, e assegurem a cidadania, buscando através da cultural meios de dialogar com a história e a sociedade. As políticas publicas patrimoniais voltadas as questões museológicas se atualizam conforme as demandas discutidas. A museologia deve procurar, num mundo contemporâneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento, estender suas atribuições e funções tradicionais de identificação, de conservação e de educação, a práticas mais vastas que estes objetivos, para melhor inserir sua ação naquelas ligadas ao meio humano e físico. Para atingir este objetivo e integrar as populações na sua ação, a museologia utilizase cada vez mais da interdisciplinaridade, de métodos contemporâneos de comunicação, comuns ao conjunto da ação cultural eigualmente dos meios de gestão moderna que integram seus usuários. [...] Neste sentido, este movimento, que deseja manifestar-se de uma forma global, tem preocupações de ordem científica, cultural, social e econômica. (DECLARAÇÃO DE QUEBEC, 1984). Tolentino (2007) ao abordar as políticas públicas de cultura e seus resultados no tocante às disposições jurídicas que atenderam, chama atenção para a Política Nacional de Museus, a qual desde 2003 coordena e incita ações no campo museológico brasileiro, ressaltando a importância da sociedade civil na implantação e difusão das ações desenvolvidas – via Sistema Brasileiro de Museus - e que o envolvimento dos atores sociais, é a pedra basilar para a continuidade e estabilidade das políticas. Este mesmo autor também afirma que é a institucionalização dessas ações e instrumentos jurídicos que regulamentam a atuação do Estado, desenvolvem consciência da posição estratégica do patrimônio para as questões de cidadania, desta forma dando continuidade as políticas. Bibliografia CHAGAS, Mario. Memória e poder: contribuição para a teoria e a prática nos ecomuseus. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE ECOMUSEUS, 2., 2000, Rio de Janeiro. Caderno de textos e resumos. Rio de Janeiro: NOPH/MINOM/ICOFOM LAM, 2000. p. 12-17. FERNANDES. Antonio Sergio Araujo. Políticas Públicas: Definição evolução e o caso brasileiro na política social. IN DANTAS, Humberto e JUNIOR, José Paulo M. (orgs). Introdução à política brasileira, São Paulo. Paulus. 2007 HÖFLING, Eloisa de Mattos - ESTADO E POLÍTICAS (PÚBLICAS) SOCIAIS IN: Caderno CEDES, Ano XXI, nº55, novembro/2001. LYNN, L. E. Designing Public Policy: A Casebook on the Role of Policy Analysis. Santa Monica, Calif.: Goodyear. 1980 JEUDY, Henri-Pierre. Memórias do Social. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1990. SOUZA, Celina Maria de. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, (UFRGS), Porto Alegre, v. 8, n. 16, p. 20-45, jul/dez 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16.pdf > Acessado em 14/8/2011. 199 PRIMO, Judite Santos. Pensar Contemporaneamente a Museologia. Cadernos de Sociomuseologia. Lisboa: nº16, 1999. Disponível em <www.minom-icom.org>. PETERS, B. G. American Public Policy. Chatham, N.J.: Chatham House. 1986. TOLENTINO, Átila Bezerra. Políticas públicas para museus: o suporte legal no ordenamento jurídico brasileiro. Rev. CPC [online]. 2007, n.4, pp. 72-86. MUSEU PARQUE SERINGAL, PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL Rodolpho Z. Bastos * Eliana Benassuly Bogéa** Aldenora Pena da Silva *** Mônica C. Ribeiro **** Maria do Socorro C. Ribeiro ***** Museu Parque Seringal - Ananindeua, Pará - BRASIL ABSTRACT The Rubber Tree Grove Museum Park is a major socio-cultural and environmental project of the city of Ananindeua, in the State of Para, that will take visitors on a trip back to the heyday of the Amazon Rubber Boom, presenting a vision of life in a rubber grove at that time. The Museum Park is 13 thousand square meters of environmental reserve which contains hundreds of rubber trees (Hevea brasiliensis), dating from the rubber-based economy period. The Museum Park is composed of an auditorium, a restaurant, rubber trails, a playground, an outdoor gymnasium, and a greenhouse. The facility includes a permanent multimedia exhibit that will present films, facts and trivia about the history of rubber. This history is retold by Rubber Tappers Memorial, a museum that portrays the lives of workers and gathers together tools and techniques used by the rubber tappers to perform their work extending from the extraction of latex to its transformation into rubber. A historical reconstruction of a house of rubber tapping worker, of a commercial establishment that recalls the dispensing system of advancing goods for the worker under credit and a living room of a residence of a rubber lord are part of the museum's collection, which is also composed of historical pictures, videos, objects produced from the operation of the latex, as well as a small library. The building that holds the museum is in colonial style and it is air conditioned. This is the first museum in the city of Ananindeua. Keywords: Museum; Park; Rubber Tree; Hevea brasiliensis; Ananindeua; Amazonia. MUSEU PARQUE SERINGAL, PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL INTRODUÇÃO O Município de Ananindeua não possuía parques ambientais urbanos até o ano de 2010. Visando mudar essa realidade surpreendente para uma cidade de cerca de * Rodolpho Z. Bastos - Advogado, Mestre e Doutor em Geopolítica pela Universidade de Paris VIII/IFG; Diretor Geral da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA) do Município de Ananindeua (PA), [email protected] ** Eliana B. Bogéa - Advogada, Mestranda em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia pela Universidade Federal do Pará (NUMA/UFPA), [email protected] *** Aldenora P. da Silva - Turismóloga, Especialista em Ecoturismo pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Diretora Cultural do Museu Parque Seringal (PA), [email protected] **** Mônica C. Ribeiro - Geógrafa, Especialista em Gestão Ambiental pelo Instituto de Estudos Superiores da Amazônia (IESAM); Gerente Cultural do Museu Parque Seringal (PA), [email protected] ***** Maria S. C. Ribeiro - Pedagoga; Coordenadora Pedagógica do Museu Parque Seringal (PA), [email protected] 200 meio milhão de habitantes* - terceira maior cidade da Amazônia brasileira, em termos populacionais -, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA) iniciou planejamento para criação de espaços públicos ambientais em 2008. O projeto do Museu Parque Seringal remonta ao ano de 2008. Durante a fase de planejamento, o objetivo era criar um centro de referência turístico-ambiental no município de Ananindeua, inserido em uma lógica de preservar fragmentos verdes ainda existentes no centro da cidade (ANANINDEUA, 2008). E, ao mesmo tempo, criar um espaço que promovesse ações educativas voltadas ao meio ambiente, de recreação em contato direto com a natureza, turismo ecológico sustentável, entre outros. Com o tempo, percebeu-se o potencial cultural do espaço, que abriga uma reserva de seringueiras, e daí nasceu a ideia de criar um Museu Parque. O Museu Parque Seringal inaugurou em 04 de abril de 2012. Local que antes era feito de espaço para descarte de lixo e apresentava insegurança aos moradores da Cidade Nova VIII, tornou-se o mais novo espaço de conservação ambiental do município de Ananindeua. Além de promover a temática ambiental, proporciona o resgate da identidade patrimonial histórica e da cultura locais, com destaque à valorização do Ciclo da Borracha na Amazônia. O “Seringal**” não somente valoriza a história da região, como pretende aprofundar a relação com o período áureo da borracha no Estado do Pará, cuja referência cultural e histórica continua restrita ao Centro Histórico de Belém, visando, assim, integrar o “roteiro histórico do Ciclo da Borracha no Pará”, de forma a demonstrar a importância do ciclo em escala regional, situando o município de Ananindeua neste contexto. O Museu Parque Seringal possui ainda vocação para se tornar um espaço de convivência familiar, talvez favorecido pela instalação de uma academia ao ar livre e de playground no espaço, e a equipe da SEMA municipal tem trabalhado no sentido de estimular o sentimento de pertencimento da comunidade em relação ao Parque. O espaço, portanto, além de aliar preservação e história e de garantir a integridade da flora existente no local, busca proporcionar à população condições de exercer atividades culturais, educativas, recreativas e de lazer em um ambiente natural equilibrado. É o segundo parque ambiental do município em menos de dois anos, partindo do zero.*** O Seringal, além de espaço de conservação ambiental, integra o primeiro Museu de Ananindeua****. Com efeito, o Museu Parque Seringal tem grande apelo, seja ambiental, turístico, cultural, educacional ou recreativo. Busca, portanto, atender a um público muito diverso, da região metropolitana de Belém (RMB) e mesmo de outros estados, mas, sobretudo, a população de Ananindeua, que merecia o espaço, que se destaca não somente como espaço de convivência, mas pelo resgate da história de um período áureo de nossa região. O Parque recebe diariamente a visita de muitas famílias e de muitos estudantes. A equipe desenvolve atualmente o projeto “Escola vai ao Parque” que visa promover visita guiada nas trilhas interpretativas, assim como atividades ludopedagógicas e exibição de vídeos para estudantes e professores de instituições de ensino (estaduais, municipais, inclusive de outros municípios; faculdades, universidades) e comunidade em geral, mediante visita previamente agendada pela coordenação pedagógica do Parque. Turistas de outros estados já visitaram o espaço e o objetivo é que o órgão oficial de turismo do Pará (PARATUR) venha incluir, em seu portfólio, o Museu Parque Seringal como destino turístico do Estado do Pará****. * População de 471.980 habitantes de acordo com o Censo IBGE 2010. O Museu Parque Seringal foi criado pela Lei Municipal nº 2.560, de 29 de março de 2012. A administração do espaço compete à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Ananindeua. *** O primeiro, o “Parque Ambiental Antônio Danúbio”, foi inaugurado em outubro de 2010 e é primeira unidade de conservação municipal do Pará (21 UC’s Estaduais) reconhecida pelo Ministério do Meio Ambiente (CNUC/MMA), além de recentemente filiada à Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RBJB). **** Cf. Portaria SEMA nº 17, de 23 de abril de 2012, que estabelece as normas do Museu Parque Seringal **** No primeiro sábado após a inauguração (7 de abril), só o museu recebeu mais de 500 visitantes. ** 201 ROTEIRO DAS TRILHAS INTERPRETATIVAS A trilha interpretativa nos caminhos dos seringais possui um roteiro formado no estilo circular por apresentar circuito completo de única direção com cinco paradas sequenciais, considerando pontos panorâmicos de valor histórico cultural e interações com o tema estudado para trilha monitorada ou autoguiada descritos no folheto informativo, distribuído pela equipe pedagógica do Parque, e disponível aos visitantes no Museu. No roteiro das trilhas interpretativas são abordados a identificação botânica e fenômenos naturais da seringueira, do gênero Hevea que, segundo GONÇALVES et al. (1997), compreende 11 espécies reconhecidas no Brasil, tendo como maior centro de origem a região amazônica††††. Outros fatores abordados nas trilhas são o processo de manufatura a partir da sangria com demonstrações de corte e procedimentos adequados para a extração do leite, assim como o processo de transformação do látex em borracha, realizado no tapiri de defumação, espaço feito de madeira coberto com palha, que também faz referência às condições de trabalho do seringueiro. No Museu, o tema nos revela a partir da observação dos ambientes sociais e culturais representativos do período histórico, a casa do seringueiro, a casa de aviamento e a casa do senhor da borracha, de forma a ilustrar a contradição de uma sociedade retratada nos costumes, alimentação, perigos, doenças, prazeres, luxo e exploração comuns à época. MEMORIAL DO SERINGUEIRO O Museu, denominado Memorial do Seringueiro‡‡‡‡, retrata a vida dos trabalhadores e reúne instrumentos e técnicas usados pelos seringueiros para realizar a extração do látex até a criação da borracha. Integra o acervo do Museu a reconstituição histórica de uma casa de seringueiro, de um estabelecimento comercial que rememora o sistema de aviamento da borracha e de uma sala de estar do senhor da borracha. O acervo é composto ainda por fotos de época, vídeos de exibição, objetos produzidos a partir da exploração do látex, além de pequena biblioteca. A constituição do acervo global teve o apoio da Fundação Amazônica Yoshio Yamada. O acervo da biblioteca está em formação e encontra-se aberto a doações de pesquisadores e instituições. O prédio que comporta o museu é em estilo colonial e o ambiente é refrigerado. A entrada é gratuita. PROGRAMAÇÕES CULTURAIS E ARTÍSTICAS O Museu Parque Seringal busca fomentar atividades artísticas e a realização de atividades culturais no local. Para tanto, o espaço conta com amplo anfiteatro com estrutura de banheiro e camarim. Sendo assim, não por acaso o Parque possui seu próprio departamento cultural, responsável pela programação, desenvolvida em grande parte em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, que se tornou parceira natural do espaço. Para dinamizar e democratizar o espaço, o departamento cultural do Parque realiza cadastro de artistas e grupos culturais do município §§§§. A ideia é promover aos finais de semana, programações que sejam voltadas para crianças, adolescentes e a família. A programação cultural do Parque tem sido intensa. Muitos eventos foram promovidos já no primeiro mês após a inauguração: “Paixão de Cristo” encenada por crianças de creche do município, teatro de bonecos “A Cobra Malvina e o Urubu Cheiroso”, conhecido urubu ambientalista do município, encenado pela própria equipe do †††† No Museu Parque Seringal a espécie predominante é hevea brasiliensis Muell.-Arg. O objetivo é inscrever o Museu Parque Seringal junto ao Cadastro Nacional de Museus do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). §§§§ O cadastro é simples. Basta que os interessados procurem a gerência cultural do Museu, com proposta de apresentação que aborde temas relacionados à família, à história, à cultura do Pará e ao meio ambiente. Também é interessante que eles encaminhem fotos e release com histórico do grupo ou artista. Mais informações podem ser obtidas através do e-mail [email protected] ‡‡‡‡ 202 Parque*****; atelier de pinturas faciais com temas ecológicos, apresentação de grupos e danças folclóricas em parceria com os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) do município. A equipe desenvolve atualmente o projeto “Cinema no Parque”, para apresentação de filmes e documentários ao ar livre às sextas-feiras à noite. A promoção da educação ambiental tem sido um ponto forte da programação cultural. Um exemplo disso é a apresentação de grupo de mímicos (“Os Sombras”) que encenam peças em pantomina (teatro gestual) e interagem com o público de forma lúdica e com muito bom humor, apresentando aos visitantes as normas públicas do Parque, como evitar pisar na grama, dar prioridade às crianças e idosos, não jogar lixo nas trilhas e áreas de lazer comuns, entre outras†††††. Educação ambiental com diversão, esse é o objetivo. Referências Bibliográficas: ANANINDEUA. Prefeitura Municipal. Parque Ambiental de Ananindeua: turismo sustentável e desenvolvimento local: Centro de Referência Turístico-Ambiental. Mimeo, 2008, 21 p. ANANINDEUA. Prefeitura Municipal. Lei Municipal nº 2.560, de 29 de março de 2012, que cria a Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) denominada “Museu Parque Seringal” e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Ananindeua, nº 1.438, de 09 de abril de 2012, p. 6. ANANINDEUA. Prefeitura Municipal. Decreto Municipal nº 14.492, de 16 de abril de 2012, que dispõe sobre a criação do Conselho Consultivo da ARIE “Museu Parque Seringal”, e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Ananindeua, nº 1.444, de 17 de abril de 2012, p. 3. ANANINDEUA. Prefeitura Municipal. Portaria SEMA nº 17, de 23 de abril de 2012, que estabelece normas de uso público da ARIE “Museu Parque Seringal”, e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Ananindeua, nº 1.449, de 24 de abril de 2012, pp. 8-10. GONÇALVES, P. de S.; ORTOLANI, A.A; CARDOSO, M. Melhoramento genético da seringueira: uma revisão. Campinas: Instituto Agronômico, Documentos IAC 54, 1997, 55 p. LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. Amazônia: História e Análise de Problemas (do período da borracha aos dias atuais). Belém: Editora CEJUP, 2002. v. 1. 128 p. SARGES, Maria de Nazaré. Belém: Riquezas produzindo a belle époque (1870-1912). 3ª. ed. Belém: Paka-Tatu, 2010. v. 1. 230 p. A ILHA DE CARATATEUA NA MEMÓRIA DE SEUS MORADORES Heliana Rodrigues de Bitencourt * Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira - Belém - PA BRASIL *Professora de Língua Inglesa do Centro de Referência em Educação Ambiental pProfessor Eidorfe Moreira. Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino da língua Inglesa em Sala de Aula. Aluna do Programa de Mestrado em Comunicação, Linguagens e Cultura ofertado pela Universidade da Amazônia – UNAMA. RESUMO ***** ††††† Mestre Cuité. O espetáculo chama-se “Certoxerrado”, promovido pelo Núcleo de Artes do Palco Empresarial. 203 O presente trabalho aborda a História da Ilha de Caratateua, a qual se localiza em próximo de Belém, no estado do Pará. É muito difícil juntarmos documentos oficiais à respeito da Ilha, por isso, decidimos fazer entrevistas com pessoas antigas que moram lá há mais de 30 anos ou nativos com mais de 30 anos de idade. Durante o processo de entrevista nós descobrimos muitos elementos que pertencem a suas memórias coletivas e individuais. Eles descreveram períodos difícieis enfrentados por eles como a travessia do rio Maguary para vender frutas e vegetais que eles plantavam do outro lado do rio, no distrito de Icoaraci, o período que viveram sem energia elétrica e sem água potável, também foram descritos por estes moradores. Eles, também, relatam momentos bons, os quais pertencem agora somente ao passado: a harmonia social, pois eles conheciam uns aos outros e o lugar não tinha tanta violência. Palavras-chave: Caratateua - Relatos - Memória ABSTRACT This search is about the History of Caratateua Island, which is localeted near Belém, capital of Pará State. It is so hard for us to join many official documents about this Island, because of this, we decided to make interviews with old people who have been living there for more than 30 years or native people who are older than 30 . During the interviews processes we discovered many elements that belong to their collative and individual memories. They described difficult periods that they have faced as the way they used to cross Maguary river to sell their fruit and vegetable plantations on the other side of the river, at Icoaraci district, the period that they used to live without neither energy or drinking water. They also described good moments which belong only to their past as: the social harmony because they used to know everybody and the place was not full of violence. Keywords: Caratateua - Narratives - Memory A ILHA DE CARATATEUA NA MEMÓRIA DE SEUS MORADORES INTRODUÇÃO Tudo que há de registro oficial sobre a História da Ilha de Outeiro não é o suficiente para relatarmos sua trajetória. Por isso, se tornou necessário o recurso metodológico da história oral para, através de relatos de nativos e antigos moradores, mostrarmos o passado vivido na Ilha para que possamos não apenas relatá-lo, mas refletir sobre o modo de vida das pessoas, sua história material e social de um tempo que atualmente se faz presente na memória coletiva e individual daqueles que construíram e constituem a Ilha, para pensarmos num futuro mais digno para toda aquela comunidade que por algum motivo escolheu estabelecer lá residência fixa. À medida que os depoimentos populares são gravados, transcritos e publicados, torna-se possível conhecer a própria visão que os segmentos populares têm das suas vidas e do mundo ao redor. (MONTENEGRO, 2001, p.16) A Ilha é descrita como um lugar, que no passado era muito bom de viver. Lá havia a tranquilidade de se andar por toda a parte e não ser alvo de violência. As pessoas dormiam de portas e janelas abertas porque não havia perigo contra suas vidas ou seus bens materiais. A memória coletiva ou individual, ao reelaborar o real, adquire uma dimensão centrada em uma construção imaginária e nos efeitos que essa representação provoca social e individualmente. Nesse sentido, o tempo da memória se distingue da temporalidade histórica, haja vista que sua construção está associada ao vivido, como dimensão 204 de uma elaboração da subjetividade coletiva e individual, associada a toda uma dimensão do inconsciente. (MONTENEGRO. 2001, p.20) A colonização começou no bairro de Itaiteua, no entanto, as pessoas moravam basicamente onde hoje chamamos de Rua Manoel Barata no bairro São João do Outeiro. O governo distribuiu, no final de 1890 para 1900, 12 lotes de terras, os quais eram numerados de 1 a 12, medindo aproximadamente de 240 a 250m de frente por 800 a 1.000m de fundo para exatamente 12 famílias. A Ilha de Caratateua era só um pequeno caminho. As pessoas plantavam batata, macaxeira, batata doce, mamão, couve e vendiam aos sábados ou em tempo de colheita no distrito de Icoaraci, conhecido antes como Pinheiro. Para chegar até Icoaraci, elas iam de canoas ou pequenos barcos, atravessavam o igarapé conhecido como Curuperé. A população começou a crescer e outros locais surgiram ao longo da Ilha. No governo de Alacid Nunes, sendo o supervisor de Icoaraci e Outeiro os Srs. Rubi e Evandro Bonna foi construído o trapiche da Brasília, conhecido como porto da Balsa, localizado no bairro da Brasília. O transporte passou a ser feito por uma balsa que atravessava o Furo do Rio Maguary até a 7ª rua do outro lado em Icoaraci, a distância para a população ficou bem mais perto. A balsa circulava de 6:00h às 18:00h, sendo que sua saída se fazia a cada uma hora. O Bajé (o ônibus) sempre ficava no porto a espera da próxima balsa. Atualmente esse ponto da Ilha está representado de forma bastante diferente. Há pessoas que ainda preferem atravessar por esta balsa para chegar até Icoaraci do que apanhar um ônibus. A passagem atualmente custa R$ 1,00. Estudar em Caratateua, não era tarefa tão dificultosa. Havia dois seguimentos da Educação Infantil: jardim e alfabetização para as crianças e cursos profissionalizantes de costura e de bordado para suas mães, os quais eram ofertados pela escola das Freiras: Nossa Senhora Imaculada Conceição, localizada na Rua Manoel Barata, onde atualmente é a casa do paroquial da Ilha. Tal Escola fornecia um caminhão grande e verde chamado de pau-de-arara. Tal transporte era específico para fazer excursões dos alunos em locais, naquela época, recentes como o Fama e Tucumaeira. A atual Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio do Outeiro era a Escola Mista do Outeiro, a qual foi construída no Lote de nº 08, depois passou a ser chamada de Escola Reunida do Outeiro e Escola do Chile. Era no mesmo local, só mudou a estrutura. Eram ofertadas, primeiramente, somente duas salas de aula e uma secretaria. As aulas eram divididas nos turnos: manhã e tarde. O ensino funcionava até a 4ª série do Ensino Fundamental I, ou seja, havia: 1ª, 2ª 3ª e 4ª séries. A partir da 5ª série, o aluno tinha que se dirigir até o distrito de Icoaraci ou a capital do Estado. Tal instituição de ensino está presente na história da Ilha, pois quase todos os habitantes passaram e ainda passam por lá. Em 1970, a energia fornecida pela Rede CELPA chegou até a Ilha. Sua instalação começou pelo CFAP (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças) que pertence a Polícia Militar do Pará, vinha de Icoaraci e passava pela rua principal Manoel Barata, chegava à Beira Mar e alcançava as barracas e bares na Praia Grande. Porém, nem todos os moradores obtiveram a energia em suas casas, pelo que tudo indica o fato se deu por conta do preço dos materiais necessários como fios e outros para a instalação da energia. O lazer na Ilha era por muito tempo associado às praias, jogo de bola e, posteriormente, às festas promovidas pelas barracas e casas de show localizadas na Praia Grande. O jogo de bola ocorria na sede do “Outeirense” inaugurada em 06 de janeiro de 1917, localiza-se na esquina das Ruas Manoel Barata e Nossa Senhora da Conceição, no bairro São João do Outeiro. As praias eram pouco exploradas até a construção do porto da Brasília. A Praia Grande sempre foi a mais frequentada de todas as praias, por ser a qual abriga as barracas, bares e casas de show como: o Veleiro que não funciona mais, o Lapinha que foi construído muito depois, atualmente só funciona no período de julho ou por 205 alguma ocasião eventual; o Caldeirão do Alan que segundo a população foi a casa que mais trouxe problemas relacionados à violência para a Ilha, o Brisas que era um bar com músicas eletrônicas de rádio. Atualmente faz parte de seu funcionamento a apresentação de músicas ao vivo, o Areião o qual funciona atualmente nos dias de segunda-feira e aos domingos, esta é a casa de show mais presente nos relatos dos moradores. Os relatos dos entrevistados possuem como divisor dos tempos: presente e passado, a construção da Ponte Enéas Pinheiro no governo do atual senador do estado do Pará: Sr. Jader Barbalho. Sua inauguração se deu em 26 de Outubro de 1986. É interessante percebermos, na fala dos moradores que tudo que ocorreu na Ilha, após a sua construção, é tido como um passado que concorre com o presente. Até os moradores que para lá mudaram-se, após a Ponte, não são considerados antigos moradores. A Ponte trouxe o progresso, a facilidade de locomoção, a proximidade com a capital e as demais localidades, conseguiu aproximar o global com o local. Porém, trouxe também, as ocupações desordenadas e uma enorme população flutuante que, durante os fins de semana e feriados e principalmente no período de férias escolares, tira o sossego da Ilha. Já para os comerciantes da praia, tudo isso é muito bem vindo. Na narrativa de seus moradores, há a presença de fatos relacionados a violência, mas podemos observar que há, principalmente, um sentimento de pertencimento à Ilha e a caracterização de um local possuidor de uma memória material e social que precisa ser valorizada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas/SP: Editora da UNICAMP, 2003. MEIHY, José Carlos Sebe B. e HOLANDA, Fabíola. História Oral Como fazer Como Pensar. Editora Contexto, 2011. MONTENEGRO, Antonio Torres. História oral e memória; a cultura popular revisada. São Paulo: Contexto, 2001. O LIBERAL, Belém, 11 de dezembro de 2010. Nº 9.654. O LIBERAL, Belém, 16 de fevereiro de 2011. Nº 9.719. O LIBERAL, Belém, 03 de junho de 2011. Nº 9.826. O LIBERAL, Belém, 20 de janeiro de 2012. Nº 33.452. O LIBERAL, Belém, 10 de outubro de 2012. Nº 9.955. SILVA, Maria de Jesus. Caratateua: a Ilha e o subúrbio de Belém. São Paulo: 1995 (Dissertação de mestrado). A GESTÃO E O PLANEJAMENTO SÓ DIZEM RESPEITO AOS MUSEUS DITOS TRADICIONAIS? Manuelina Maria Duarte Cândido* Universidade Federal de Goiás - GO - BRASIL RESUMO Queremos com este texto refletir sobre a necessidade de avaliação e planejamento para uma gestão qualificada dos museus e chamar a atenção para o fato de que estes elementos não devem ser associados somente aos chamados museus tradicionais. Pretendemos contribuir para aproximar a Museologia teórica da prática dos museus, investigar se há um núcleo comum de preocupações que sejam pertinentes a todos os tipos de museus e incluir a preocupação com a gestão de museus em fóruns como o IV EIEMC, no que diz respeito à capacitação de atores para o desenvolvimento local. * Doutora em Museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Mestre em Arqueologia e especialista em Museologia pela Universidade de São Paulo, Licenciada em História pela Universidade Estadual do Ceará. Professora de Museologia da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, Goiânia, Brasil. [email protected] 206 Palavras-chave: Gestão, Planejamento, Avaliação, Qualidade ABSTRACT We want with this text to reflect on the necessity of evaluation and planning for a qualified management of the museums and to call the attention for the fact of that these elements do not only have to be associates to the called traditional museums. We intend to contribute to approach the theoretical Museology of the practices of the museums, to investigate if there is a common nucleus of concerns that are pertinent to all the types of museums and to include the reflection about the management of museums in forums as the IV EIEMC, in what it says about the qualification of actors for the local development. Keywords: Management, Planning, Evaluation, Quality A GESTÃO E O PLANEJAMENTO SÓ DIZEM RESPEITO AOS MUSEUS DITOS TRADICIONAIS? Na tese de doutorado “Gestão de museus e o desafio do método na diversidade: diagnóstico museológico e planejamento” (Duarte Cândido, 2011) trabalhamos a idéia de um descompasso entre a Museologia produzida na academia e os museus reais. Defendemos a necessidade de avaliação e planejamento para uma gestão qualificada dos museus e chamamos a atenção para um instrumento de gestão em especial, o diagnóstico museológico. Na bibliografia, à exceção de alguns autores portugueses como Isabel Victor (2005, 2006a, 2006b), localizamos em geral material produzido a partir de experiências de gestão e revitalização dos chamados museus tradicionais ou grandes museus, aqueles capazes de contratarem grandes empresas de consultoria e se prepararem inclusive para certificações do tipo ISO 9000. A questão que move este texto é clara: a gestão e o planejamento só dizem respeito aos museus ditos tradicionais? Waldisa Rússio dizia que “Há, na realidade, uma Museologia existente, real, que está aí fora, e há uma postulada, sonhada, desejada” (Rússio, 1984). Imaginamos maneiras de romper estas distâncias e descompassos, abreviar a entrada nos museus dos conhecimentos teóricos e metodológicos que a Museologia produziu nas últimas décadas, e trazer das instituições e processos o combustível para a Museologia acelerar ainda mais a sua produção. Mais que isto, queremos pensar se há um núcleo comum de preocupações que sejam pertinentes a todo e qualquer museu, que deva estar presente em pequenos museus, ecomuseus, museus comunitários, e quantos outros modelos existam para além do convencional, e como os atores do desenvolvimento local ancorado em patrimônio e processos de musealização podem se preparar para os novos desafios. Tenham consciência disto ou não, os museus estão em alguma medida concorrendo entre si por públicos e por recursos. Com o acréscimo do número de museus, ainda que existam grandes vazios museológicos, é inevitável que em um futuro ainda distante – mas já certamente próximo em alguns grandes centros – se chegue a algum grau de saturação. Daí a importância de fomentar desde já a difusão de uma cultura de avaliação e planejamento na gestão de museus. Os museus se acostumaram a uma situação bastante cômoda de que sua simples existência é aceita como a realização de um papel social e, portanto, justificadamente mantida pelo Estado (direta ou indiretamente). Ao mesmo tempo que evitam se ‘contaminar’ com discussões ou preocupações comezinhas a respeito de custos e índices, consideram legítimo ou ‘natural’ queixar-se o tempo todo da falta de recursos financeiros. É preciso analisar com coragem e transparência o custo-benefício da manutenção e especialmente da criação de cada museu. Neste aspecto, há quem já proponha uma moratória na criação de novos museus como medida para privilegiar e socorrer os museus já existentes (Varine, 2011). 207 Estamos em uma época de bem-vinda valorização dos desejos de memória, mas ao mesmo tempo muitas instituições museológicas são criadas com um vago propósito de preservação da memória, sem maiores discussões sobre sua missão, planejamento, sustentabilidade em longo prazo, entre outros fatores‡‡‡‡‡ e ainda confundindo preservação com acúmulo de objetos. Não é à toa que Balerdi (2008) chega a atribuir aos museus, ou ao menos a alguns deles, as características de mastodontes longevos, prolíficos e bulímicos, capazes de ingerir a tudo indiscriminadamente para depois se envergonhar destes excessos e escondê-los em reservas técnicas ou mesmo provocar o vômito, leia-se, realizar descartes. Museus orientados desta forma – ou seriam desorientados? – podem se tornar um verdadeiro problema, pois o custo de manutenção não corresponde ao efetivo desenvolvimento de uma função social. De acordo com Mairesse, critérios de avaliação dos museus, especialmente aqueles implantados a partir dos anos 1980, que tenderam a uma obsessão pela eficácia e pela performance especialmente no aspecto econômico, carregam o risco de provocar indignação do setor museal, mas resultam de uma lógica geral do financiamento pelos poderes públicos (Mairesse, 2010, p. 103), por sua vez onerosa e nunca avaliada ou otimizada (idem, p. 81). Os museus estão tendo que lidar com demandas jamais imaginadas em suas origens e de fato, se isto ainda causa espécie entre profissionais de museus, é mais problemático nas realidades que envolvem iniciativas comunitárias, amadores e especialmente governos de pequenas localidades. O pequeno porte dos museus não deveria, entretanto, ser argumento para protelar o planejamento, pois “En un mundo de cambios rápidos un museo pequeño podría describirse como un pequeño bote de vela en un mar embravecido, controlado en gran medida por fuerzas externas. En dicha situación, es especialmente vital que el museo tenga un plan estratégico, un mapa y ayudas para la navegación, para intentar navegar a través de §§§§§ aguas tan procelosas.” (Moore, in Lacasta & Peraile, 2006, p. 48) Verificamos que a questão do planejamento ganhou papel central no universo dos museus nas últimas décadas. A sociedade não é mais complacente com instituições que justificam sua existência apenas com o vago propósito da preservação da memória, e faz a crítica contundente aos museus que se excluíram dos processos de participação e de mudança: “São museus alheios ao desenvolvimento, sorvedouros de recursos financeiros, fechados sobre as suas colecções que na maior parte dos casos se deterioram ao ritmo dos anos. Por isso, esses museus, reduzem geralmente a sua actividade à manutenção de uma exposição permanente sem ideias, sem rumo, de puro exibicionismo como diria Hugues de Varine e que por isso mesmo, envelhecem ainda mais rapidamente.” (Moutinho, 2006, p. 66) (grifos do autor) Os museus têm sido questionados, revolucionados, revolvidos. Isto se dá pelo reconhecimento mais profundo do museu como instituição a serviço do público, como quer Moutinho (Comunicação pessoal, aulas do Curso de Estudos Avançados de ‡‡‡‡‡ Como em qualquer outro empreendimento, há um custo de operação, quase nunca calculado e claro para os gestores dos museus. §§§§§ Tradução livre: “Em um mundo de mudanças rápidas, um museu pequeno podia ser descrito como um pequeno barco a vela em um mar embravecido, controlado na maior parte das vezes por forças externas. Nesta situação, é especialmente vital que o museu tem um plano estratégico, um mapa e ajudas para a navegação, para tentar navegar através de águas assim turbulentas”. 208 Museologia - CEAM, 2008)? Ou pela competição criada dentro de uma verdadeira indústria dos museus, a partir dos anos 1980 (Fopp, 1997, p. 181)? No quadro “Features of new museology in relation to postmodernism”, Davis (1999, p. 57) ressalta algumas mudanças na passagem do modernismo ao pós-modernismo e à Nova Museologia que queremos pontuar, por terem relação com as preocupações já mencionadas: - Passagem da quantidade à qualidade e depois à avaliação de performances e aos padrões museológicos; - Dos direitos individuais a responsabilidades individuais e coletivas, depois à declaração de missão e diretrizes éticas para profissionais de museus e instituições; - Do curto-prazo ao longo-prazo e, em seguida, aos contextos de metas em longoprazo, declaração de missão e objetivos claros; - Do volume de produção à qualidade entre input – insumos, e outputs – resultados, e depois à questão do aperfeiçoamento de padrões curatoriais, incluindo políticas de coleção e de exposições. Sem pretender associar as novas demandas e diretrizes somente a um segmento das instituições museológicas, propomos pensar, como Waldisa Rússio (1989), que “A ação transformadora dos museus começa pela reflexão nova que eles fazem sobre si mesmos”. E desta forma, que a capacitação dos atores do desenvolvimento local envolvidos com o patrimônio como recurso e os processos de musealização como método, devem considerar também aspectos da gestão e do planejamento. Bibliografia: BALERDI, Ignácio Díaz (2008). La memoria fragmentada: el museo e sus paradojas. Gijón, Asturias: Ediciones Trea. (Biblioteconomía y Administración Cultural, 183) DAVIS, Peter. (1999). Ecomuseums – A sense of place. London, New York: Leicester University Press, 1999. (Leicester Museum Studies) DUARTE CÂNDIDO, Manuelina Maria. Gestão de museus e o desafio do método na diversidade: diagnóstico museológico e planejamento. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2011. (Tese de Doutorado) FOPP, Michael A. (1997). Managing museums and galleries. London: Routledge. Moore, Kevin. Tengo un sueño. Planificación estratégica como inspiración para los museos. In Lacasta, Ana Azor & Peraile, Isabel Izquierdo (coords.). (2008). Actas de las Primeras Jornadas de Formación Museológica. Museos y planificación: estrategia de futuro. Madrid: Ministerio de la Cultura, Secretaria General Tecnica. P. 39-50. MOUTINHO, Mário. (2006). A qualidade em museus, nos museus em mudança. In XIII Encontro Nacional Museologia e Autarquias. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. (Cadernos de Sociomuseologia, 25). RÚSSIO GUARNIERI, Waldisa. (1984). Texto III. In Produzindo o Passado – Estratégias de construção do patrimônio cultural. São Paulo: Brasiliense. RÚSSIO, Waldisa. (1989). Presença dos museus no panorama político-científicocultural. In Cadernos Museológicos 2. Rio de Janeiro: SPHAN – Pró-Memória. p. 7278. VARINE, Hugues de. Les musées locaux du futur – réflexions. Pontebernardo, 22 de maio de 2011. (digit) VICTOR, Isabel. (2005). Os museus e a qualidade - Distinguir entre museus com "qualidades" e a qualidade em museus. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. (Cadernos de Sociomuseologia, 23) 209 ______________ (2006a). A qualidade em museus, problemática a esclarecer. In Primo, Judite (coord.). XIII Encontro Nacional Museologia e Autarquias: a qualidade em museus. (pp. 21-32). Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. (Cadernos de Sociomuseologia, 25) ______________(2006b). O paradoxo do termo avaliação em museus: um problema da maior relevância para a Museologia contemporânea. In Primo, Judite (coord.). XIII Encontro Nacional Museologia e Autarquias: a qualidade em museus. (pp. 88-100). REPENSANDO OS CONCEITOS GEOGRÁFICOS E SUA APLICABILIDADE NOS ECOMUSEUS E MUSEUS COMUNITÁRIOS BRASILEIROS: UMA INTRODUÇÃO Diogo da Silva Cardoso** UFRJ - Observatório de Favelas - Rio de Janeiro - BRASIL RESUMO Este artigo apresenta a hipótese de que os ecomuseus e museus comunitários, ao menos no contexto brasileiro, fazem uso equivocado dos conceitos geográficos (território, região, paisagem, lugar e espaço) nas suas ações de planejamento e de gestão dos acervos, bens culturais e do “território-patrimônio” como um todo. Com isso, verifica-se um esvaziamento das teorias (eco)museológica e espacial, quando os conceitos geográficos passam a ter seus significados alterados e confundidos um com o outro. Por conseguinte, há o risco, embora latente, de se reificar, de engessar as memórias, identidades, saberes, fazeres e artefatos locais, pois o discurso, que deveria ser um elemento facilitador do agenciamento (eco)museológico, acaba se transformando, muitas das vezes, em instrumento de controle do Estado e de disputa de poder em outras arenas políticas. Faremos uma breve revisão dessa tendência conservadora de análise do espaço geográfico que não faz jus aos recentes debates da comunidade científica geográfica e à própria condição heterogênea e pós-moderna das sociedades contemporâneas e das ações museais “eco” e comunitária. Palavras-chave: Geografia Humana, conceitos geográficos, ecomuseu, museu comunitário. ABSTRACT This paper presents the hypothesis that ecomuseums and community museums, at least within the Brazilian context, make a mistaken use of the geographical concepts (territory, region, landscape, place and space) in their endeavor of planning and management of collections, cultural heritage and of the “territory-heritage” as a whole. Accordingly, it is possible to notice a depletion of (eco)museological and spatial theories, when the geographical concepts have their meanings changed and mixed up with one another. Therefore, there is a risk, yet apparent, of reifying, stifling memories, identities, knowledge, works and local artifacts, because the speech, which should be a facilitating factor in the (eco)museological mediation, often ends up becoming a State control tool and of power struggles in other political arenas. * Doutorando em Geografia pela UFRJ e supervisor de campo do projeto “Solos Culturais” no território da Cidade de Deus (Observatório de Favelas, Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro), [email protected] 210 We will make a short review of this conservative trend for analyzing the geographical space, which does not do any justice to the recent debates of the geographical scientific community and to the very heterogeneous and post-modern condition of the contemporary societies and the museal actions “eco” and communitarian. Keywords: Human Geography, geographical concepts, ecomuseum, community museum. REPENSANDO OS CONCEITOS GEOGRÁFICOS E SUA APLICABILIDADE NOS ECOMUSEUS E MUSEUS COMUNITÁRIOS BRASILEIROS: UMA INTRODUÇÃO Introdução Acredita-se, frequentemente, que o mundo tornou-se simultaneamente globalizado e localizado em todas as esferas e contextos da vida. Em tal concepção, o processo gira a partir de dois polos: 1) dos grandes empreendimentos econômico-financeiros e do lastro de urbanização que promove, ao menos no domínio ocidental, sociedades com perfil pós-industrial, pós-moderno e ciborgue; 2) das reações contra a intromissão e espoliação de “Outros”, tudo em nome da preservação do lugar, do povo ou do grupo que se sente alijado. Geralmente nesses últimos casos, a resultante é a formação de aglomerados de exclusão (HAESBAERT, 1997), de comunidades localistas ou de vagabundos globalizados (BAUMAN, 1999), de segregações residenciais (RIBEIRO, s/d), de distinções territoriais (BARBOSA, 2010), de microespaços de poder (FOUCAULT, 1979), de espaços biopolíticos de exceção (AGAMBEN, 2002), em suma, de contenções territoriais (HAESBAERT, 2007) de todo tipo que acabam por configurar territórios com sentimentos (extremamente) problemáticos de lugar. E uso aqui o conceito território no sentido estrito da qual nunca deveria ter saído: o do vínculo entre espaço e poder Em todos os casos de localismo, há uma clara política de negação do caráter relacional e dinâmico inseparáveis da constituição do lugar e da vida social. Sem aqueles três aspectos da produção do espaço advogados pela geógrafa Doreen Massey (2008), o espaço torna-se um mero recorte abstrato, ideológico e mecanicista utilizado para fins que não o da satisfação plena das necessidades sociais, pois estas se encontram em um plano prático de coisas, perícias e fazeres que foge a qualquer esquematismo abstrato (racionalismo francês), enquadramento topológico (empirismo inglês) ou fechamento ontológico (fenomenologia alemã). Existe a necessidade, mais que urgente e já lançada pelos estudos pós-coloniais e pela atualíssima corrente descolonial latino-americana (se bem que alguns dos seus principais mentores estão hospedados em universidades norte-americanas...), de se superar o eurocentrismo e todo o saber científico arrogante que insiste em emoldurar o social dentro do científico. O que se precisa é do inverso: a Ciência sendo emoldurada pelos grupos sociais a partir de suas expectativas, interesses e necessidade de empoderamento e desenvolvimento. O espaço geográfico e suas variantes (território, região, paisagem, lugar, ambiente) devem ser entendidos, documentados, avaliados e agenciados tendo em vista todas as facetas que fazem do humano um ser geográfico (SACK, 1997) por excelência: memória, imaginação, cultura, relacionalidade, intertextualidade, negociação, conflito, acordo... Consequentemente, a memória e a imaginação deveriam sempre ocupar um “lugar” de destaque em nossos sistemas conceituais e representacionais de espaço, porquanto é pela memória e imaginação que o agir tornar-se criativo, fluido e empoderador, sem cair no erro fatal da modernidade ocidental que, até meados do século passado – e em muitos casos, até os dias de hoje! –, reduziu culturas e mais culturas não-ocidentais a bolas-de-bilhar (MASSEY, 2008), entidades essencializadas 211 (CLIFFORD, 2002) ou grupos espacialmente isolados****** (GUPTA & FERGUSON, 2002...). O propósito maior deste artigo ensaístico, e, sobretudo, provisório, é instituir de imediato o diálogo conceitual e agencial entre a Geografia e a Museologia. Colocar geógrafos, museólogos e os demais atores museais em interação, eis um desafio que só se concretizará quando se estabelecerem pontes entre os ramos, e quando o espaço geográfico for plenamente destacado nos processos museológicos e museográficos. Quanto uso o significante ponte, refiro-me ao estilo simmeliano de pensar a vida social como uma constante troca que gera, em eventos específicos, a consumação da unicidade (SIMMEL, 1996, p. 21). É na construção de pontes que se realiza a paisagem, vista numa perspectiva simmel-raffestiniana†††††† como sendo a stimmung‡‡‡‡‡‡ que medeia o humano e a exterioridade, o ecológico e o simbólico, o corpóreo e o representacional. Em outras palavras, a paisagem, e já antecipando a discussão do próximo tópico, é a “imagem-instrumental” que permite a intervenção humana em uma “multiplicidade de domínios” da vida (RAFFESTIN, 2007, p. 5). Nos tópicos seguintes, farei uma breve explanação dos principais conceitos geográficos: paisagem, região, território e lugar; em alguns momentos, serão citados exemplos de instituições ecomuseológicas que incorporam os conceitos geográficos como recurso discursivo (FOUCAULT, 1979), estratégico (WERLEN, 1993) ou existencial (TUAN, 1983) para granjear coisas, reconhecimento e status junto à população local e em outros contextos, esferas e instituições políticas, culturais e patrimoniais. Paisagem É pela paisagem que a sociedade e os indivíduos realizam-se, ou seja, a natureza toma forma e concretiza-se na imagem/representação/discurso dos sujeitos sociais. Utilizo o vocábulo “realização” não na acepção heideggeriana, mas como forma de atenção para o papel central da representação na conformação daquilo que chamamos paisagem. Afirma-se, comumente, que a representação é a outra ponta do Real, uma forma simbólica que tem no seu cerne o mascaramento do Real através da transmutação da percepção num arranjo difuso e ambivalente de formas de expressão e de conteúdo (GUMBRECHT, 1998). Essas formas de expressão e formas de conteúdo são a materialização de processos que transpõem o universo da memória, da imaginação, da imagem e das significações em mundos de agenciamentos a partir da linguagem, do posicionamento dos sujeitos, da utilização de materiais e meios etc. Diante disso, a ideia de paisagem como “imagem instrumental” (RAFFESTIN, 2007) é importante nos domínios museológico e museográfico por dois motivos: 1) fornece o conteúdo imagético-discursivo que potencializa o espaço museal, levando o público ao encontro e interação com as memórias e eventos do passado – e, em vários casos, com o seu presente e com as projeções de futuro da comunidade local; 2) fornece as bases para o fraturamento das imagens que ela mesma ajuda a criar, pois as imagens ****** Trata-se da configurou as representações antropológicas européias durante várias décadas. Tal visão contextualizava as sociedades não-ocidentais (exóticas!) como grupos isolados, sem perspectivas de avanço civilizacional. †††††† Refiro a dois intelectuais acadêmicos de ofícios e temporalidades distintas: Simmel foi um sociólogo alemão que viveu até o início do século passado e produziu excelentes diagnósticos sobre a condição psicogeográfica das pessoas nas grandes cidades européias, fato este que se alastrou para outros contextos urbanos ocidentais e coloca em relevo a generalização de determinados processos configurados na urbe capitalista (monetarização da economia, impessoalidade das relações, atitude blasé, privatização do religioso); Já Raffestin, é um geógrafo franco-suíço que ainda continua na ativa, elaborando ótimas análises centradas nos conceitos de território/territorialidade e a implicação em paisagem, isto é, a representação que as pessoas fazem do território percebido/concebido/vivido. ‡‡‡‡‡‡ São três os possíveis significados do termo para a língua portuguesa: “atmosfera”, “sensibilidade objetivamente captada” ou “ambiência suscitada”. Todas as três evocam a espacialidade do fenômeno em pauta e sua ambientação num respectivo período de tempo. As relações da stimmung com o conceito de evento são muito produtivas, ainda mais se os geógrafos levassem adiante a teoria geográfica do evento discretamente anunciada por Santos (1996). 212 são cultural e ambientalmente construídas e, como em todo processo que envolve o ambiente cultural e a cultura ambiental, são passíveis de serem contestadas, reelaboradas e ressemantizadas; assim sendo, a paisagem é integral e sistematicamente ativada em praticamente todos os processos de comunicação museológica (SANTANA, 2011), levando o público a experimentar a atmosfera do período que o espaço museal pretende enfatizar. Os ecomuseus e museus comunitários são as instâncias museais mais afeitas com o modo como os moradores locais apresentam e representam o patrimônio local e as suas experiências e vivências de lugar. Em tal perspectiva paisagística, a imagem territorial fornecida paisagísticamente estabelece o sistema de troca entre o mundo prático-sensível e o mundo simbólico. Na ecomuseologia e museologia comunitária, a paisagem deve agir como método de análise espacial das formas de se intervir na realidade empírica espraiada entre o material e o simbólico, mas, sobretudo, sob o crivo das imagens e das representações. A ideia da paisagem como resultado material-aparente das sociedades mais atrapalha do que ajuda a esclarecer as condições reais de produção do lugar (MASSEY, 2008), da consciência regional (BEZZI, 2004) e da territorialização dos grupos (HAESBAERT, 2004). Infelizmente, pelas tendências hoje vistas na museologia mundial e nos exemplos de museu da paisagem verificados na Europa e no Brasil§§§§§§, vê-se que a discussão sociomuseológica da paisagem está apenas começando. Região O antropólogo-sociólogo Gilberto Freyre, em meados do século passado, lançou a proposta do “museu regional” como instituição de conservação da memória popular. Tal ideia, defendida em alguns setores museológicos e do terceiro setor, e aos poucos vem sendo tratado com rigor em alguns processos de musealização nas quais o fenômeno tem uma nítida “feição” regional. É o caso do Museu do Homem do Nordeste*******, do Museu Regional de Olinda (PE) e do Museu Regional de São João del Rei (MG). Muitos autores significam região como espaço de domínio, controle e administração, a exemplo da conotação dada no Império Romano (regio). Contudo, região pode ser lido também com o sentido de direcionamento, de orientação espacial (HAESBAERT, 2010, p. 3)†††††††. Nesse ponto, região é processo contínuo de regionalização, e as marcas do processo conduzem a uma questão regional que nunca se esvazia, necessita sempre da identidade (BEZZI, 2004, 2002) para mobilizar os “sujeitos regionais” e adquirir a sempre solicitada coesão e integração territorial. Há vários exemplos de processos regionais com repercussão mundial, como na Espanha (Basco, Catalunha), na Europa oriental e no sudeste asiático. Nesses casos, trata-se de regionalismos, uma dimensão mais estrita da região onde a política assume as rédeas, deixando a cultura de “igual para igual” ou em segundo plano. Mas afinal de contas, o que é região? Meri Bezzi resume muito bem: §§§§§§ Na cidade do Rio de Janeiro, há o projeto de revitalização do Largo do Boticário, no Cosme Velho, Zona Sul, à qual incluiria a criação do museu da paisagem para coroar o design bucólico do bairro. Disponível em: <http://solucoesurbanas.com.br/projetos-em-curso/museu-da-paisagem.html> - Acessado em: 20 abr. 2010. ******* Um exemplo é o Museu do Homem do Nordeste, localizado em Recife (PE), que, apesar de não estar atrelado à perspectiva ecomuseológica comunitária, e descontados os equívocos de interpretação que podem surgir ao se essencializar o fenômeno do “homem nordestino”, a instituição tem um papel importante na divulgação dos saberes-fazeres dos grupos populares nordestinos. Mais detalhes, ver Santana et al. (2011) ††††††† Sentido também derivado do Império Romano, mas ao contrário da primeira acepção (que faz menção aos chefes e burocratas do império), o sentido de “orientar-se”, “direcionar-se” está ligado aos adivinhos romanos que tentavam prever os eventos através das “regiões” traçadas no céu. 213 (...) a região é definida como um conjunto específico de relacionamentos culturais entre um grupo e um determinado lugar. A região é uma apropriação simbólica de uma porção do espaço por um determinado grupo, o qual é também um elemento constitutivo da identidade regional. A região, sob o enfoque da identidade cultural, passa novamente a ser entendida como um produto real, é concreta, existe. Ela é apropriada e vivida por seus habitantes, diferenciando-se das demais principalmente pela identidade que lhe confere o grupo social (BEZZI, 2002, p. 17). Na política e gestão museais, a dimensão ontológica e prática da região e da identidade regional deveriam ser levadas em consideração na hora de se determinar o raio de ação e as estratégias territoriais. Como ecomuseus e museus comunitários são passíveis de serem criados tanto em ambientes urbanos como rurais, a diversidade de táticas, planos e ações dependerá muito do contexto a ser territorializado pela instituição museal. Não é a mesma coisa fomentar ecomuseus em cidades-regiões globais (SCOTT et al., 2001) ou em áreas rurais, como no caso dos ecomuseus de Maranguape (PE) e de Ribeirão da Ilha (SC). Em todo caso, a região é o conceito geográfico por excelência de identificação e de articulação dos grupos, dos lugares e dos processos político-econômicos que se encontram reunidos em um mesmo. A região está sempre em processo: é sua condição genérica; e por ser eminentemente cultural (HISSA, 2004), sua espacialidade fatalmente envolverá a negociação, o conflito, a reprodução e a contestação de ideias e práticas, tudo dentro das vibrações das redes de poder que engendram ontologicamente a questão regional - seguido o fraseado de Oliveira [1977]). Em geral, as instituições (eco)museais cumprem um papel importante na valorização de uma região e/ou da identidade regional: sua missão é autenticar e divulgar as memórias, acontecimentos e saberes-fazeres da sociedade regional. Todas as dimensões da região podem ser objeto de musealização (política, economia, cultura, arte, religião), basta que sejam reivindicados pelos grupos locais e sejam apoiados pela gestão museal. O museu, bem como qualquer instituição cultural que tome para si a tarefa, tem o potencial de reconhecer, açodar, investir e transmitir aquela atmosfera de regionalidade que nutre e governa a sociedade regional. Em todo caso, nas situações de musealização do “regional”, a cultura será sempre o baluarte geográfico. Território Território, hoje, é o conceito-mor da Geografia Humana brasileira, o grande acionador dos discursos e ações acerca da dinâmica dos lugares e dos agenciamentos humanos sempre determinados pelo trio des-re-territorialização (HAESBAERT, 2004), seguindo os passos do pensamento deleuze-guattariano. Uma hipótese para a preferência do conceito de território pelos geógrafos brasileiros, pelos movimentos sociais e pelas iniciativas culturais nos é dada por Haesbaert: Talvez a hegemonia do lugar revelada nos trabalhos de Doreen Massey [e na geografia inglesa] se deva, em parte, à força da dimensão cultural-identitária no contexto geográfico inglês, assim como a do “território” no nosso meio talvez se deva à força das disputas territoriais num ambiente em que a “terra-território” ainda é um recurso (e um abrigo, diria Milton Santos) a ser apropriado e usufruído por uma parcela cada vez mais ampla da sociedade (HAESBAERT, 2008, p. 13). Território é a esfera geográfica de manifestação do poder, a expressão concreta e simbólica da apropriação e/ou possessão do espaço pelo grupo social. É pelo território que a política se realiza mediante as condições materiais e os meios (e mediações) instrumentais de aquisição patrimonial ou de ocupação solidária, de usufruição mútua ou de controle rigoroso do espaço. Vejam que estou trabalhando em cima tanto dos territórios que nascem da ação solidária quanto daqueles que são produto direto, por exemplo, da ordem modernista ocidental que tudo racionaliza(ou) e demarca(ou) os lugares “corretos” de atuação de cada sujeito social (crianças na escola, adultos na empresa capitalista, idosos no asilo, paranoicos no internato, mulheres em lugares não-prosaicos, ou seja, cada um no seu quadrado de mobilidade socioespacial). Na geografia francesa, fala-se muito em técnicas de enquadramento (TAILLARD, 2004), que é a definição e a técnica que mais esclarece o modo como o Ocidente capitalista 214 tem concebido o território e sua aplicabilidade nos processos de reprodução social e de acumulação do capital. Numa perspectiva materialista, Robert Sack (1986) entende que a territorialidade, condição dinâmica de constituição e de adjetivação do território, estabelece uma fronteira, uma classificação de área e uma forma de comunicação. Mas como o autor esclarece, cada grupo/pessoa tem sua dinâmica territorial própria, e esta toma forma e conteúdo a partir da história social, das condições geográficas e da política de significação do grupo/pessoa. É a territorialidade que leva os grupos e pessoas a adotarem uma política de posição (MARCUS, 1994) e de localização (HALL, 1992). Só que o erro hoje das abordagens do território centram-se na banalização do conceito a tal ponto que a sua operacionalidade é anfibológica, ou seja, totalmente imprecisa no seu conteúdo político e de poder. O que era para ser averiguado em termos de relações políticas, de negociações, de avaliação as hierarquias e estruturas de poder, passou a ser adjudicado em todos as facetas da vida, agindo assim como um elemento de esvaziamento do sentido político e empoderador apresentado pelo conceito. Alguns geógrafos defendem que o território deveria voltar à carga semântica “original”, isto é, onde a ênfase recaia na tomada concreta e/ou simbólica do espaço. Centrado nessa abordagem, o território emerge como dimensão onde o conflito, a negociação, o interesse e as imposições física, simbólica e visual formam o escopo analítico e definidor da existência social do território. A crítica desses geógrafos é que o conceito caiu em tamanha vulgaridade conceitual que, independente do tema que esteja em pauta, o território virou sinônimo de todos os outros conceitos geográficos: onde era para ser paisagem, fala-se em território; onde seria uma região, define-se como território; nas situações de lugar, sobressai-se a força vocabular do território; e na abordagem ambiental, o território é o suposto eixo de (des)articulação dos elementos ambientados. Seguindo esse raciocínio, como podemos definir então a territorialidade e o território de um ecomuseu ou museu comunitário? Certamente não poderá ser nos moldes hoje prescritos pelo “modismo” intelectual e pelos movimentos sociais, incluindo vários ecomuseus brasileiros que tem confundido território com lugar, paisagem, região, ambiente/ambiência... Lugar Lugar, frequentemente, é o conceito que desperta a atenção para o lado afetivo, experiencial e vivido (ou mesmo lúdico) das relações sociais espacializadas. Lugar é o espaço do encontro, da conexão de trajetórias sociais e naturais que perfazem um espaço específico, único. Ao contrário das leituras feitas por alguns geógrafos “territoriólogos” (SAHR, 2009), o conceito de lugar não ignora as relações de poder e muito menos adelgaça o político, sendo este parte integrante dos processos de reconhecimento, ordenação e reprodução dos lugares. Lugar está ligado à conformação da identidade geográfica partilhada pelos sujeitos que usufruem daquele espaço de encontro de estórias/trajetórias sociais e da natureza (MASSEY, 2008). No entanto, lugar parece não ser um conceito tão requisitado pelos museólogos e outros agentes culturais. Isso se deve ao feitio ingênuo, parcimonioso e lacunar que o conceito carrega. Por isso, Anthony Giddens prefere o termo locale; na França, a paisagem é o conceito mais utilizado tanto por geógrafos (Alain Roger, Roger Brunet, Augustin Berque, Paul Claval) quanto por sociólogos e filósofos (Michel Maffesoli, Gilles Lipovetsky, Pierre Sansot); na Grã-Bretanha e no sul dos EUA, a região está sendo recolocada como conceito-matriz nas Geografias Humana e Cultural (CARDOSO, 2011); já no Brasil, o território emergiu com força total nos últimos anos (HAESBAERT, 2010, 2007, 2004), enquanto a região segue a sua linha de protagonismo nas escalas intraurbana, interurbana e nacional. 215 A região, vista frequentemente como conceito situado no limbo entre o local e o nacional, agora se depara com as exigências contemporâneas de valorização da esfera do lugar, dos sentidos de lugar, do lugar praticado‡‡‡‡‡‡‡. E com essa reapreciação do lugar, a museologia encontra terreno fértil para expandir suas ideias e agenciamentos. Ver regiões nos interstícios das cidades e em outras instâncias espaciais ainda é um caminho novo na Geografia brasileira. A título de introdução, o lugar é a rede de relações instauradas num espaço-tempo específico. É na (des)articulação e na integração ou fragmentação dos fenômenos sociais numa matriz localizável de inter-relações que o lugar é produzido. Os encaminhamentos do lugar são feitos na reprodução cotidiana das atividades materiais e nas memórias, afetos e imaginações que geram aquele sentimento de pertencimento que faz toda pessoa humana dizer “este é meu lugar”. Peter Davis (1999) assinala que o sentido de lugar (sense of place) é um dos pilares básicos da ação ecomuseológica, devendo ser potencializado em todos os sentidos e situações. E realmente, nos últimos anos o foco principal dos ecomuseus tem sido a busca e salvaguarda do sentido, ou melhor, do “espírito do lugar” (CORSANE, s/d). Do Oriente ao Ocidente, a ação ecomuseológica tem se resumido a cadenciar da melhor forma possível a equação “território + patrimônio + memória + população” (CORSANE, 2008, p. 3), cujo resultado, para Davis, é que o ecomuseu, independentemente do contexto sociopolítico, sirva “para conservar e interpretar todos os elementos do meio ambiente de forma que se garanta a continuidade com o passado e um sentido de pertença” (1999, apud PÉREZ, 2009, p. 194). Um panorama geral dos ecomuseus e dos museus comunitários brasileiros nos faz entender que o lugar é a dimensão que se faz subentendida nos desenvolvimentos teóricos e laborais de cada uma dessas instituições. O lugar só não é elevado a categoria de ação teórica primordial tanto pelas condições acima descritas (visão simplória do conceito) quanto pelo fato de que é o território que tomou as rédeas no discurso museal, sendo usado de modo indiscriminado e a-crítico. Resta saber se o lugar seguirá seu percurso ou se novas perspectivas abrirão “espaço” para o debate sobre o modo como o ecomuseu e o museu comunitário podem participar na produção do lugar, usando a memória (conceito basilar da museologia) como elemento ordenador dos afetos e imaginações que dá à coletividade local poderes para compreender, apropriar-se, labutar e ressignificar o seu espaço-Mundo (SAHR, 2007) como patrimônio cultural a ser usufruído de maneira consciente e solidária por todos. Considerações finais e uma agenda de pesquisa O museu é um sistema de (in)formação, uma estrutura espacial privilegiada onde se trabalha a memória, o imaginário, as coleções e a formação dos sujeitos para agendar compromisso com o patrimônio cultural. Na perspectiva do museu comunitário, isso fica mais evidente, pois a sua finalidade é ser (...) um centro de gestão cultural com encontros e diálogos, como um dinamizador do entorno comunitário, sendo a instância onde convergem os distintos atores culturais e fomenta a exploração, o descobrimento, as trocas intelectuais e as renovações (SANTANA, 2011, p. 2). Dotada de uma forma de comunicação específica, a comunicação museológica, o museu ganha notoriedade quando o seu raio de atuação geográfica consegue abarcar todas as formas e conteúdos dignos de serem apropriados, catalogados e apresentados ao público. Nessas situações, a criação de ambiências é crucial para afirmar o aspecto interativo do acervo e do patrimônio, convidando a população a criar uma relação estética com o produto musealizado. Por estética, defino-a como “a experiência da sensação pela potencialização da forma”, na qual “derivam o importante fenômeno do encantamento dos sentidos” (YÁZIGI, 2006, p. 70). ‡‡‡‡‡‡‡ Para ter uma ideia da ambivalência dos dois conceitos, na Geografia britânica, região é quase sempre sinônimo de lugar; nos EUA, também. Já em outros países, a discussão toma diferentes matizes. 216 Muitos dos dilemas geográficos ocorrentes na gestão museal brasileira derivam de atitudes e posicionamentos ideológicos tomados já nas primeiras etapas de musealização de um espaço. A fase de planejamento e de implantação do museu é muito importante para saber que tipo de geograficidade/espacialidade se quer musealizar. Dentre os erros, está a falta de critérios sobre a base ontológica espacial que o museu almeja registrar, patrimonializar e conservar; as estratégias espaciais que são, em geral, deixadas em segundo plano; e a falta de cuidado quanto às tensões horizontais e verticais não condizentes com o núcleo duro de significado que o conceito de território, por exemplo, apresenta. Falo em núcleo duro de significado porque, em virtude da condição pós-moderna que solapou tudo o que se dizia estável, autêntico e não-problematizável, as ciências, artes e outros saberes-fazeres estão diante da armadilha, já alertada por inúmeros autores, de se estender os conceitos a tal ponto que o sentido fica inteiramente comprometido. Fala-se de algo, quando na verdade está se referindo o outro caso que, linguisticamente falando, já está repertoriado em outro conceito. Em geografia, o território tem passado por esse processo. Por fim, devemos pensar se os ecomuseus e museus comunitários – e coloco aqui também os “pontos de memória”, iniciativa recente do IBRAM (Instituto brasileiro de Museus) que intenta estimular iniciativas comunitárias de registro das memórias individuais e coletivas locais – são heterotopias, evocando a clássica acepção foucaultiana (2006), ou se encerram outras naturezas topológicas. Agindo assim, podemos pensar então em situações de endotopia (endo = interno + topia = espaço = espaços de percepção e), ritotopia (rito = cerimonia + topia = espaço = espaços de ritualização) ou “oligotopia” (oligos = poucos + topia = espaço = espaços de/para poucos) presentes na dinâmica (eco)museológica comunitária. Enfim, trata-se de questões e de dúvidas geográficas ainda em fase de germinação (ao menos no contexto brasileiro), mas que precisam ser urgentemente discorridos à luz das novas reflexões trazidas pelos geógrafos humanos. Bibliografia AGAMBEN, Giorgio. 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Buscando entender como essas comunidades participam do processo para a conservação do acervo natural e cultural, de seus espaços de convivência com o ambiente, este trabalho tem por objetivo analisar como se processam as ações do Ecomuseu referentes à capacitação de recursos humanos e à reafirmação dos processos históricos, culturais e ambientais pautados nas ações de entendimento do conceito de patrimônio cultural. A pesquisa foi realizada nas comunidades do Poção e da Praia Funda, ambas localizadas na Ilha de Cotijuba/Pará. Para fins da pesquisa foram analisados documentos das Diretrizes internacionais para a criação de uma nova museologia, voltadas principalmente para as questões relacionadas com o homem e o meio ambiente, conceitos sobre ecomuseus e museus comunitários, além das propostas definidas durante a implantação do Ecomuseu da Amazônia, em Julho de 2007, em Belém do Pará, onde, após análise das atividades desenvolvidas nas comunidades em questão, realizadas através do preenchimento de fichas de identificação dos fazeres da comunidade. Os resultados indicam a necessidade de ações de valoração do conhecimento de comunidades que ainda utilizam os saberes de forma sustentável, buscando recursos da floresta ou aqueles considerados menos industrializados em suas produções. Percebeu-se que as propostas de Ecomuseus coadunam com as práticas comunitárias, visando à valoração da comunidade local. Palavras-chave: patrimônio cultural, ecomuseu, valoração territorial. ECOMUSEUM OF SHARES OF THE AMAZON ISLAND COTIJUBA / PA: INTERPRETATION OF THE POSSIBILITY OF NATURAL AND CULTURAL HERITAGE SITE ABSTRACT The purpose of this research focuses on the actions of the Amazon Ecomuseum project and the activities of riverine communities. The aim is to examine how the actions of the Ecomuseum happen on the training of human resources and the reaffirmation of the historical, cultural and environmental processes ruled by actions of understanding of the cultural heritage concept. The survey was conducted in Poção and Praia Funda, both located on the island of Cotijuba/Pará. For purposes of this study, documents of the International Guidelines for the creation of a new museology were analyzed, focused mainly on issues related to man and the environment, concepts of ecomuseums and community museums, besides the proposals set during the implementation of the Eco-museum of the Amazon in July 2007, in Belem of Pará, where after analysis of the activities made in the communities aforementioned, held by the filling of identification form about the community activities, directed to results that indicate the necessity of actions which can value the knowledge from communities that still use the knowledge resources sustainably using the forest sources or the ones considered less industrialized in their productions. It was perceived that the * Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade de Taubaté, membro suplente da Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários – ABREMC desenvolveu atividades como técnico do Ecomuseu da Amazônia. [email protected] 220 Ecomuseums purpose join with community practices, for appreciation of the local community. Key words: cultural heritage, Ecomuseum, land valuation. Introdução O conceito de museu tradicional sempre esteve guiado pelo sentido de sacralização dos museus, entendido como instituição dedicada a buscar, conservar, estudar e expor objetos de interesse duradouro visto antes como templos criados para a morada das musas. A necessidade de se criar um elo entre o território, as pessoas que nele habitam e as políticas de desenvolvimento local, fez surgir na Europa em países como Itália, França e Portugal, na década de 1970, seguido posteriormente pelos Estados Unidos, um novo sistema museológico atrelado ao patrimônio cultural em comunidades denominado de Ecomuseu (RIVIÈRE, 1983). Tais experiências nascem, sobretudo, de socialização, de envolvimento das populações ou comunidades implicadas em seu raio de ação e, neste cenário, o conceito de patrimônio cultural tem proporcionado à valorização do acervo da comunidade expandindo valores sociais e identificando os saberes e fazeres das populações em questão (VARINE, 1987). A presente pesquisa está relacionada às atividades culturais desenvolvidas no âmbito das comunidades do Poção e da Praia Funda, ambos localizados na Ilha de Cotijuba/Pará. Este trabalho tem como objetivo compreender como se processam as ações de desenvolvimento local a partir da valoração do patrimônio cultural e das metodologias de ecomuseus. No município de Belém, a Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Educação criou, em 2007, o Ecomuseu da Amazônia, que se configura como um museu território, cujo desafio é integrar os diversos segmentos da comunidade, estes com o meio ambiente, promovendo a conscientização e valorização de sua história, influência da herança cultural e de seu patrimônio natural e cultural (BELÉM, 2007). A proposta de criação do Ecomuseu da Amazônia surge a partir da implantação de políticas de desenvolvimento que respeitem e preservem as características de cada região, e que apresentem medidas de preservação e de reposição, que integrem o homem ao seu meio ambiente. Medidas evidentes na metodologia utilizada pelos ecomuseus e museus comunitários, e que se apresentam pautadas em uma proposta de educação que conduz a população envolvida, ao processo de descoberta de seus próprios objetivos, a engajar-se coletivamente nas questões sociais pertinentes ao mundo contemporâneo e a vivenciar seu processo histórico (MARTINS, 2005). Evidenciaram-se as diversas formas de interpretação do patrimônio, através da análise das atividades desenvolvidas pelo Ecomuseu da Amazônia. O patrimônio enquanto expressão significa não sinônimo de gabinetes de curiosidade, ou instituições educativas e culturais em si. Desta forma, como a comunidade estaria compreendendo a importância do seu patrimônio para o processo educativo participativo. Definição e evolução conceitual de Ecomuseu Riviére comenta que essencialmente ecomuseu é a fusão de dois museus, um, sendo de espaço (a céu aberto) e outro, do tempo (museu coberto). O museu do espaço comporta um conjunto controlado de terrenos contínuos ou descontínuos, unidades ecológicas representativas do meio ambiente regional. Um ecomuseu é um instrumento que um poder e uma população fabricam e exploram juntos [...] Um espelho onde esta população se olha, para se reconhecer, onde ela procura a explicação do território onde vive, onde viveram as populações precedentes, na descontinuidade ou continuidade das gerações [...] Uma expressão 221 do homem e da natureza. O homem interpretado em seu meio natural. A natureza interpretada em seu estado selvagem, mas também na medida em que a sociedade tradicional e a sociedade industrial adaptaram-na à sua imagem (RIVIÉRE, 1983). Segundo o autor, o ecomuseu pode ser entendido como uma ferramenta de empoderamento cultural, desde que as comunidades participem do processo, resignificando suas ações, seus espaços de convivência com o ambiente e o reflexo de sua relação com o meio ambiente. Na definição de Pereiro (2002) os primeiros autores a discutir o tema ecomuseu são: Franz Boas, Pierre Mayrand, Paul Rivett, Mário Moutinho, Hugues de Varine-Bohan e George Henri Riviére. Estes autores influenciaram a mudança da concepção de museu, dando ênfase em localizar os objetos em seus contextos sociais, vivenciados por uma população local. Martins (2005) relaciona, como vemos a seguir, diversas experiências sobre Ecomuseus em Seixal (Portugal), Molinos (Aragão, Espanha) principalmente no Canadá e museus comunitários em diversas partes do mundo, incluindo no Brasil, como o de Itaipú, no Paraná. Declarações Internacionais Segundo Oliveira (2009) a denominada “Nova Museologia, Museologia Comunitária, Ecomuseologia”, surge em diferentes regiões do mundo a partir da década de 1970, após a realização de Mesa-Redonda em Santiago do Chile, sob orientação da UNESCO e coordenação do Conselho Internacional de Museus – ICOM. É nesta perspectiva que começa a ser moldada uma museologia de caráter mais social, mudando o foco da lógica, de constituição da “coleção”, pois os patrimônios materiais e imateriais deveriam primeiramente fazer parte de vivências do presente e o público usuário teria uma participação mais ativa, criadora, colaboradora, participativa e não mais contemplativa, somente de espectador (VARINE, 1987). Outra mudança importante na intensificação de seus esforços e na recuperação do patrimônio material e imaterial é a modernização das técnicas museográficas tradicionais, com o intuito de estabelecer uma melhor relação entre o objeto e o visitante, tornando as suas coleções mais acessíveis a todos os públicos, principalmente ações relacionadas à comunidade (STUDART, 2003) comenta que: Segundo Studart (2003), a Declaração de Quebec (1984) pode ser interpretada como a continuidade do movimento da nova museologia pois, no documento, torna-se evidente que o mundo contemporâneo associe os meios de desenvolvimento por intermédio de uma gestão democrática, comunicativa, que envolva os mais diversos saberes e fazeres, reconhecendo-os como integrantes da museologia ativa, através dos conhecimentos de gerações passadas, interligando-as com as presentes, associando-as ainda aos projetos do futuro, o autor afirma ainda que: a comunidade museal internacional seja convidada a reconhecer este movimento, a adotar e a aceitar todas as formas de museologia ativa na tipologia dos museus (STUART, 2003). O Encontro de Caracas, ocorrido na Venezuela em 1992, por iniciativa da UNESCO, tendo como tema “A missão do museu na América Latina hoje: novos desafios”, congregou representantes de 10 países latino-americanos, com o objetivo de refletir sobre o museu enquanto agente de desenvolvimento integral de uma região, tendo como referência os princípios da Mesa-Redonda de Santiago, atualizando os conceitos estabelecidos nessa conferência, com o objetivo de renovar os 222 compromissos assumidos anteriormente, considerando sempre a situação latinoamericana daquele momento que passava por um acelerado processo de mudança. Segundo Varine (1987), a Mesa Redonda de Santiago, reforçada pela Declaração de Caracas, amplia-se até incorporar a utilização do patrimônio natural e cultural que, a principio, estava fora do âmbito dos museus. A idéia do território enquanto museu faz seu caminho, quer seja em Seixal (Portugal), Molinos (Aragão, Espanha) e Santa Cruz (Rio de Janeiro). Priosti, ao se referir sobre a dimensão político-cultural dos processos museológicos oriundos de comunidades e populações autóctones, nos revela algumas experiências inovadoras que surgiram no Brasil e conclui que por terem surgido nas comunidades, desvelam e reafirmam seu potencial de interesse pelo patrimônio, segundo a autora: A militância de seus atores, gestores e beneficiários, através de animadores saídos do próprio meio, assegura a continuidade do processo, mostrando o compromisso de um engajamento fiel, que se dispõe a contaminar outros membros e, num plano mais global, alcançar outras comunidades, em fóruns nacionais e internacionais, referendando a sua prática comunitária de gestão do patrimônio para a construção da democracia local e participativa (PRIOSTI 2007). Valoração do patrimônio cultural da comunidade como forma de reconhecimento de sua identidade Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional - IPHAN (2007), a trajetória do patrimônio é marcada por tensões, rupturas a continuidades no campo da museologia. Assim como os museus, o patrimônio busca outros espaços e abordagens na sociedade e dentre estes, não podemos excluir a comunidade local. A partir de 1970, um grupo de estudiosos em Museologia começou a pensar nas possibilidades de maior relação dos museus clássicos aliados a outros segmentos como, por exemplo, as questões ambientais. Desta forma, surgem os ecomuseus, os museus comunitários e os museus de território, que podem ser entendidos como resultado desse pensamento. Esta nova proposta museológica se diferencia dos museus tradicionais pela importância que dão ao território, ao patrimônio e à comunidade, em relação à ênfase dada pelo museu tradicional aos prédios institucionais, coleções e visitantes. Rivière (1983), afirma que para se conhecer uma comunidade, uma população, um povo, se faz necessário recorrer ao entendimento de seus hábitos, sua forma de viver, suas expectativas e suas manifestações folclóricas, onde se refletem seus valores e sua história, compondo o que hoje entendemos como cultura. Definição de Patrimônio Cultural Segundo definição do dicionário Aurélio, Patrimônio é a herança paterna, bens de família, riqueza, patrimônio natural, moral, cultural, intelectual etc. Ampliando um pouco mais essa visão, vê-se que é patrimônio cultural e ambiental, o conjunto dos elementos históricos, arquitetônicos, ambientais, paleontológicos, arqueológicos, ecológicos e científicos, para os quais se reconhecem valores que identificam e perpetuam a memória e referenciais do modo de vida e identidade social. No Art. 216, § 1º da Constituição Federal do Brasil de 1998 consta: “O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.” O IPHAN, define o patrimônio em 3 grandes categorias. Tabela 1: Categoria de Patrimônio segundo o IPHAN 223 O Natural O Material O Imaterial São os elementos pertencentes à natureza, ao meio ambiente, Ex: as cachoeiras, os rios, as matas, os animais etc. São os bens móveis que podem ser transportados tais como objetos de arte, documentação histórica escrita, fotografias, artefatos etc. e os bens imóveis como os edifícios, núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais. É todo o conhecimento do homem aplicado no meio em que vive. É o saber, o fazer, o expressar. Por ex: o polir a pedra, o cortar uma árvore, o transformá-la em outro objeto. Fonte: IPHAN, 2007, modificada pelo autor (2010). O Ecomuseu da Amazônia como forma de desenvolvimento comunitário A proposta está pautada no repensar os problemas das comunidades envolvidas: Ilha de Caratateua, Ilha de Cotijuba, Ilha do Mosqueiro partindo do Distrito de Icoarací, justifica-se esta área por fazer parte da região insular de Belém, porém não na sua totalidade, uma vez que se configuram como experiências inéditas na região norte, além de geograficamente serrem bastante extensas. A intenção da proposta inclui a percepção e valorização dos aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais e educacionais de cada região, a partir da valorização da memória social, no pensamento em relação às problemáticas ambientais na reafirmação dos fazeres como forma de reconhecimento cultural e na participação coletiva como contribuição para o desenvolvimento local. O Projeto reúne, em suas ações, objetivos ligados diretamente aos interesses do Planeta, como a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade, é um museu que tem um conjunto de bens preservado e as portas abertas ao público, possuindo um grande acervo, só que aberto, onde obras, artistas e espectadores convivem naturalmente, muitas vezes sem saber que constituem os elementos fundamentais desse contexto. Miller (1997), afirma que o planejamento biorregional necessita do engajamento de diversos segmentos da sociedade, sendo este um fator importante para garantir a sustentabilidade e o processo de desenvolvimento de uma região. A oficialização do Ecomuseu da Amazônia A carta de Belém A carta de Belém é um documento que aponta as diretrizes firmadas durante a realização do Seminário de Implantação do Ecomuseu da Amazônia, realizado em Belém, no período de 08 a 10 de junho de 2007, fundamentadas nas experiências pioneiras nacionais e internacionais de museus comunitários e ecomuseus que reforçaram e convalidam a militância da Nova Museologia (BELÉM 2007). Segundo Martins (2005), desta forma a conservação e preservação do patrimônio se efetiva, porém atrelada a ações de educação patrimonial, pois os conceitos são relativos, pode-se achar que determinada construção como o Educandário Nogueira de Faria, criado na década de 20, seja um bem patrimonial, fato este não aceito pela comunidade pela memória negativa que este prédio consolidou nas pessoas da comunidade, uma vez que serviu de cadeia e espaço de tortura. Registros orais de moradores mais velhos da ilha afirmam as situações vividas pelos presidiários. No entanto percebemos que o patrimônio natural da ilha, através de suas belas paisagens, belas praias de rio, a quantidade de peixe e frutos encontrados na ilha, indica a necessidade de estimular as instituições governamentais visando à melhoria da qualidade de vida das populações. Metodologia O importante na aplicação desta metodologia é que ela se inicie a partir do bem cultural e segue basicamente as seguintes etapas: 224 1. Identificação do Bem Cultural Observação e análise 2. Registro do Bem Cultural Atividades de registro da identificação 3. Valorização e Resgate Interpretação e comunicação do observado e registrado. A primeira etapa na qual se denominou de Identificação desenvolveu-se atividades ligadas à observação e análise de: materiais, dimensões, formas, elementos, cores, texturas, organização, usos, funções, valores, relações. A segunda etapa denominou-se de Registro, compreende as atividades de registro das percepções realizadas, tais como: desenhos, fotografias, relação da peça com o cotidiano das comunidades, além de atividades de pesquisa e coleta de dados; A terceira etapa Valorização e Resgate é o resultado da apropriação da experiência vivenciada, realizando-se nesta etapa a interpretação e comunicação de tudo que foi percebido e registrado. É nesta etapa que se manifesta a capacidade de criação e de que forma o Ecomuseu da Amazônia vem desenvolvendo ações para melhoria e salvaguarda desses bens culturais. Modelo de ficha de levantamento de bens produzidos pela comunidade Roteiro para identificação e análise de produtos produzidos pelas comunidades da Ilha de Cotijuba Especificação da peça:.......................................................................................... Dimensões da peça:............................................................................................... Desenho/forma:..................................................................................................... Grupo:.................................................................................................................... Matéria prima:........................................................................................................ Utilizou recurso natural da ilha? Qual?................................................................. Possui material industrial na composição? Qual?.................................................. Valor/significado.................................................................................................... Comercialização:.................................................................................................... Tabela 2. Parâmetros utilizados a fim de identificar patrimônios existentes na ilha CATEGORIAS Patrimônio natural ELEMENTOS DE AVALIAÇÃO Paisagem natural e construída TÉCNICAS Observação Patrimônio cultural Aspectos físicos, desenho, forma, matéria Ficha prima, quantidade produzida e tempo de coleta produção. de A partir dos dados coletados, percebeu-se o entendimento dos conceitos de ecomuseus e a importância da participação da comunidade no processo de construção e compreensão dos aspectos simbólicos relativos aos bens em questão. A coleta de informações do levantamento da caracterização física dos bens culturais e ambientais existentes na área, o estudo de natureza exploratória sobre a identidade e o cotidiano de duas comunidades: Poção e Praia Funda, localizadas na Ilha de Cotijuba, no estado do Pará, além das vivências com as comunidades em questão, permitiram que se pontuasse a dinâmica das relações sociais e os diversos espaços de produção de trabalhos, envolvendo os recursos da floresta e o grau de 225 entendimento que os envolvidos possuem ou não, em relação às questões ligadas ao que se denomina patrimônio cultural e das ações implantadas e desenvolvidas pelo projeto. Resultados e discussões A carta de Belém (2007) prevê a garantia ao acesso de programas de formação e qualificação em ecomuseus, acesso ao conhecimento principalmente de referências de bens culturais e naturais porém, o processo documental não se limita ao registro do acervo. Busca-se, por meio da cultura qualificada, produzir conhecimento elaborado no processo educativo, realizando ações de pesquisa. No entanto, o que deve ser atrelado a este conhecimento adquirido é o da comunidade, conceitos de museologia, sustentabilidade e valoração local, o que ainda é novo para esta população, uma vez que a maioria das pessoas envolvidas no processo não conhece a realidade da capital do estado e se recente por políticas públicas; no entanto, começam a se identificar com as propostas apresentadas de outras experiências de organização social. O trabalho desenvolvido pelo Ecomuseu da Amazônia relacionado a questões ambientais está pautado na percepção do ambiente e a relação do espaço construído pelo homem na ilha de Cotijuba, levando em consideração a ocupação desordenada, a limpeza das praias, a valorização da paisagem natural como forma de qualidade de vida da comunidade, além de entender o patrimônio natural como um grande território de relações. Segundo Varine (2007), palco das relações que os atores ou agentes realizam no mundo vivido e que produzem o lugar e se desvela a relação homem e meio ambiente. Destacaram-se algumas atividades produtivas, comerciais e culturais que envolvem as comunidades, influenciando assim na construção e transformação do lugar com a produção de peças em tecido, cerâmica, artesanatos em palha e sementes como principais atividades diárias das famílias residentes na Ilha. Considerações finais A partir dos conceitos de Pereiro percebe-se que o Ecomuseu da Amazônia, do ponto de vista internacional, segue princípios que são oriundos das variáveis que o identificam como sendo um ecomuseu, como: Interpretação da paisagem, catalogação dos bens culturais tendo como princípio o seu significado social, relação da população com a idéia de habitarem um ecomuseu, porém o mais importante para este trabalho está na interação da população com o ecomuseu (participação comunitária) e a percepção e valorização do patrimônio cultural e natural. Percebe-se que o resultado da pesquisa, realizada em uma de suas áreas de atuação, denominada Ilha de Cotijuba, estado do Pará, tem se mostrado como uma ferramenta da ação baseadas nas propostas na nova museologia, utilizada como metodologia, visando à melhoria da qualidade de vidas das comunidades envolvidas no processo, identificando os grupos existentes na ilha, potencializando o patrimônio local através de ações de valorização, afirmação da identidade, valorizando os saberes e fazeres da cultura local. Além de promover encontros, visando o entendimento de temas relacionados a políticas de proteção ambiental, de valorização patrimonial, valoração de áreas protegidas e das possibilidades de criação de um ecomuseu baseados na sua essência: partindo da vontade da própria comunidade, promovendo desta forma a participação nas políticas públicas de grupo que produzem, transmitem e salvaguardam manifestações culturais, bens matérias e naturais, resignificando assim, a valorização de seu patrimônio de modo sustentável. A partir do exposto é pertinente enfatizar que, mesmo com o desenvolvimento local, ao colocar o território como centro da dinâmica produtiva e social, corrobora com a oportunidade de colocar todas as potencialidades que a região oferece, mostrando como um recurso local, pode fornecer uma oportunidade única para o crescimento e representa o identificador daquela comunidade. 226 Neste cenário, o conceito de patrimônio cultural tem sido apresentado como ferramenta para analisar, enumerar, catalogar e definir os valores estéticos de uma região e se expandiu para incluir os valores sociais, abarcando os campos intangíveis. O território nada mais é do que o palco de ações e relações realizadas cotidianamente no seio dessa comunidade, que por meio de suas vivências diárias constroem seu mundo vivido ou “lugar-mundo-vivido”. Podemos entender que as iniciativas de Ecomuseus traçam os caminhos para a salvaguarda das culturas de povos e que as novas museologias, entendidas como um renascer das ações museais, a partir de situações envolvendo as iniciativas comunitárias e intervenções participativas, se reconhecem pelo engajamento às lutas sociais. Pode-se afirmar que nas comunidades que habitam a Ilha de Cotijuba a interação e co-participação são notadas, pois os indivíduos dos grupos buscam maior integração entre si por meio das relações sociais realizadas no cotidiano. Tal realidade, observadas a partir das relações sociais dentro da comunidade, são frutos das vivências comunitárias locais, representações percebidas em vários aspectos, visando à construção e (re) construção do lugar na Ilha de Cotijuba (PA). Através da fundamentação de trabalhos de vários autores, chegamos à conclusão de que a Ilha de Cotijuba é considerada como o lugar, em que a comunidade que lá reside já aplica ações relacionadas aos processos de experiências de Ecomuseus, uma vez que os moradores se reconhecem em seu lugar por meio do envolvimento com outros sujeitos e ambos com o meio, (re) constroem seu lugar se reconstruindo junto com ele diariamente. Referências BELÉM. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Educação – SEMEC. Ecomuseu da Amazônia. Belém, 2007. 16p. BRASIL. Ministério da Cultura/IPHAN 10ª Superintendencia Regional do Paraná. Preservação do patrimônio cultural (cartilha). Curitiba: 2007. IPHAN, Cartilha de Preservação do patrimônio cultural, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, 10ª Superintendência Regional/Paraná. Curitiba, 2007. MARTINS, Maria Terezinha Resende. Ações dos ecomuseus para a proteção ambiental: o caso Ecomuseu do Cerrado. 2005. 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In the case of museums and cultural heritage is no different, university museums are in that facet of their university environment, are excellent places for extension, and thus seek funding and financing, or human resources to manage their collections. The growing number of Museology courses in Brazil has generated an explosion of university extension projects related to museums and cultural heritage, and to understand this as a phenomenon, we discuss the case of the Program for the Preservation of Cultural Heritage of the Anglo Region, university extension Museology Course developed by the Federal University of Pelotas, in the region known as "Anglo", which was established to be a refrigerator, which boosted the economy of the region at the time of their activities. This project was approved by PROEXT Program (University Extension) of the Federal Government. Keywords: University, Extension, Museums, Community RESUMEN El presente trabajo tiene como objetivo fomentar la creación de un sistema integrado deformación de mediadores comunitarios que se aplica en el Programa para la Preservación del Patrimonio Cultural de la región anglo, cuyo objetivo es la formación de un Museo Comunitario. El interés de esta investigación se justifica por la ineficienciade las estrategias en los programas de capacitación para los agentes de * Heron Moreira – Acadêmico do Curso de Bacharelado em Museologia – Bolsista de extensão do Programa de Preservação do Patrimônio Cultural do Anglo. ** Matheus Cruz – Museólogo na Universidade Federal de Pelotas, Mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural – PPGMP/UFPEL. *** Luana Gonzalez Bassa – Acadêmica do Curso de Bacharelado em Museologia – Bolsista de Iniciação Científica, FAPERGS, no projeto Políticas públicas de patrimônio: o caso de São Lourenço do Sul, RS, Brasil **** Professora do Bacharel em Museologia, Coordenadora do curso e coordenadora do Programa PROEXT “Preservação do Patrimônio Cultural da Região do Anglo” – ICH/UFPEL 228 los mediadores de la comunidad, ya que sólo hacen que las reuniones guiadas por la imposición de normas y estándares, eliminando así los intereses reales de la comunidad. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo a fomentação da criação de um sistema integrado de formação e capacitação de mediadores comunitários para ser aplicado no Programa de Preservação do Patrimônio Cultural da região do Anglo§§§§§§§, que visa a formação de um Museu comunitário. O interesse desta pesquisa justifica-se pela ineficiência de estratégias nos programas de formação de agentes mediadores das comunidades, já que se tornam apenas encontros pautados pela imposição de regras e normas, suprimindo assim os interesses reais da comunidade. Segundo o Plano Nacional de Museus 2010, em uma de suas diretrizes referentes aos Museus comunitários diz: “fortalecer sistema de formação e capacitação teórica e técnica, das equipes e gestores dos museus comunitários, ecomuseus e pontos de memória” ********, para tanto fica a indagação, como fortalecer este sistema de formação sem sobrepor a comunidade e seus interesses? Ou ainda, como tornar essa formação mais humana e duradoura? A partir destes questionamentos pode-se pensar em metodologias que tornem esse processo real e inclusivo, onde as formas de capacitar os agentes deve estar contextualizada a realidade da região do anglo. Museus comunitários e a Região do Anglo†††††††† Os museus comunitários são uma reflexão sobre o presente. Essas organizações surgem como propiciadores de senso crítico em momentos de crise e também como forma de refletir atos importantes para a manutenção de culturas e suas diferenças. Necessita-se que esse diálogo seja basilar á qualquer ação a ser empreendida junto á sociedade e com a sociedade. O objetivo, como afirma SUANO é “criar consciência cívica” ‡‡‡‡‡‡‡‡. Neste contexto se insere a iniciativa do Museu Comunitário da região do Anglo, que vê ao seu redor a transformação da sua paisagem e de sua realidade com a inserção do campus universitário Anglo§§§§§§§§, reduto acadêmico que muda o cenário local, afetando sua cultura e seu patrimônio, criando uma provável zona de conflito entre um local dedicado a educação formal e uma população em situação de vulnerabilidade social, descaracterizando a vivência destes bairros. Preservar o patrimônio desta região se torna imprescindível para valorização das diversas comunidades ao redor do campus, buscando tornar o desenvolvimento integral, sem que a instituição de ensino desenvolva-se academicamente apenas apropriando-se desse território, mas levando as ações em prol dessa população, de forma que sejam levados em conta a identidade local, a perspectiva ecológica e a participação da comunidade. A função social do museu assenta-se na relação entre homem/objeto/cenário*********, ou seja, sem estas três competências não há dialogicidade, tornando o museu, neste caso o objeto de estudo, apenas vitrine de itens e fazeres da comunidade e na maioria das vezes representando o patrimônio sem preservar os agentes dessas memórias, saberes e fazeres. O projeto justifica-se na necessidade de tornar os conceitos museológicos e o processo de formação do museu, passíveis de utilização de forma a contemplar os §§§§§§§ Projeto aprovado pelo Edital 02/2012 – PROEXT, Ministério da Educação, proposta da Professora Noris Leal, ICH/UFPEL. ******** Plano setorial de Museus, 2012, p. 115. †††††††† A região do Anglo foi estabelecida geograficamente, pra fins metodológicos de atuação do Projeto, sendo que compreende 5 bairros: Balsa, Navegantes I, II e III e Fátima, que são as comunidades que cercam o Campus Anglo. ‡‡‡‡‡‡‡‡ SUANO, 1986, p.18. §§§§§§§§ O Campus Anglo, da Universidade Federal de Pelotas, recebeu este nome por estar sediado no Prédio onde funcionou até os anos 90, um frigorífico denominado com o nome supracitado, fechado por falência e adquirido pela UFPEL. ********* RUSSIO, W. p, 90; 229 interesses da comunidade e tornar a população partícipe desta ação, para que da própria comunidade emane essa consciência coletiva do patrimônio e que dela se nutra. Como afirma Cristina Bruno sobre as principais preocupações na aproximação museu/sociedade, 1º identificar e analisar o comportamento individual e /ou coletivo do homem frente a seu patrimônio; 2º) desenvolver processos técnicos e científicos para que a partir dessa relação, o patrimônio seja transformado em herança e contribua para a construção de identidades. ††††††††† Através do patrimônio material e imaterial da região do Anglo e da necessidade de salvaguarda-lo, deve-se buscar o reconhecimento da comunidade e após aplicar processos museológicos que tornem essa relação não apenas de pertencimento, mas de protagonismo, almejando uma formação para que a própria população eleja as diretrizes e que suas potencialidades humanas se tornem referenciais do processo de musealização e que os agentes museais apenas sejam referenciais munidos das ferramentas para este procedimento. Consideramos o conceito de patrimônio, não nesta nomenclatura, mas o patrimônio como um conjunto de ações e atividades, saberes e fazeres, memórias e identidades intrínsecos aos moradores, já que a noção patrimonial é empírica e não obedece conceitos formais, tem-se esses conceitos através da religiosidade, estrutura social, economia, entre outras manifestações, considerando apenas a sua importância individualizada e não de forma generalizada. Sistema Integrado de formação e capacitação de agentes comunitários A designação de sistema integrado de capacitação de agentes comunitários compreende uma metodologia de atuação em relação ás ações museais, de formação e capacitação a serem empregadas no Programa. Considera-se a questão da integração por este processo se dar entre duas instâncias, 1) o projeto ligado a UFPEL, que através dos métodos e instrumentos museológicos dará condições de suporte e orientação, e por outro lado as 2) comunidades que tem interesse na preservação de suas memórias. Esta interação comunidade/Programa tem como propósito a formação de um Museu Comunitário, sendo papel do projeto buscar extravasar tanto o patrimônio, como também as dificuldades e problemas da região. A escolha por museu se dá a partir do ideal de que este tipo de organização é potencializador da situação encontrada e fonte de reflexão, ademais o objeto final a ser alcançado deve ser um espaço de reflexão acerca da realidade e de salvaguarda do patrimônio, portanto não necessariamente uma entidade museal. Este sistema será o emanador da vontade coletiva, que terá o poder de decidir a melhor forma de trabalho almejada para esses procedimentos. Com isso desejamos promover formas pedagógicas de instrumentalizar a comunidade a se tornar formadora dela mesma, buscando a auto-suficiencia sem a presença direta de meios externos para a criação do Museu, como é citado nos postulados Gerais em relação a museus e comunidades do livro ICOM e o pensamento museológico brasileiro em relação a atuação da museologia nestes processos: [...] a implementação dos processos museológicos deve reconhecer as diferentes comunidades a que se dirigem, procurando adequar de ação e procedimentos metodológicos as diferentes peculiaridades dos diferentes grupos sociais. Assim, com a ajuda dos métodos da museologia e a participação da comunidade, “através da transferência de seus conhecimentos específicos, de seu métodos e ‡‡‡‡‡‡‡‡‡ técnicas de atuação a grupos ‘não especializados Considerações Finais ††††††††† BRUNO, 1986. P. 111 -112 O ICOM e o pensamento museológico brasileiro, 2010, p. 84. ‡‡‡‡‡‡‡‡‡ 230 O Sistema de formação integrado de mediadores da comunidade, no âmbito museológico é uma proposta que vem de encontro á necessidade de tornar os processos de formação e capacitação menos formalizados em seus conteúdos e não impositivos, propiciando uma interação mais compreensiva e de fácil utilização pela comunidade, sendo assim, é necessário que as comunidades internalizem este sentimento e através de suas próprias competências, com o auxílio do projeto, os agentes possam ser multiplicadores de ideias que são comuns aos moraadores. Espera-se como impactos a apropriação da comunidade com o museu, multiplicação dos conceitos museológicos de forma clara e empírica de maneira correta, porém dentro da realidade local, através do sistema integrado de formação e capacitação e seu agentes mediadores, com o intuito de reconhecimento do patrimônio material e material e finalmente o envolvimento da comunidade com o museu, sendo assim seus protagonistas e não apenas objetos de estudo. Os riscos de falta de sucesso podem ser a falta de consciência da comunidade de que o processo de formação do museu seja algo dado pronto pela universidade, principal foco do problema apresentado e que esta como instituição tenha a obrigação de agilizar o museu, já que ela esta causando o transtorno e trazendo possíveis prejuízos. Além das dificuldades tem-se a falta de protagonismo social e/ou o distanciamento com os conceitos de museus, que a primeira vista ainda se mantém como instituições sacralizadas, e o patrimônio que se preserva é aquele físico e suntuoso, com valor financeiro, como exemplo dos museus tradicionais, que mantém em suas políticas de preservação baseados na história formalizada e física. Bibliografia BRUNO, Maria Cristina Oliveira. Musealização da Arqueologia: um estudo de modelos para o Projeto Paranapanema. São Paulo: FFLCH/USP, 1995. (Tese de Doutorado). Governo do Estado de São Paulo. O ICOM – Brasil e o Pensamento Museológico. Org. Cristina de Oliveira Bruno. São Paulo, 2011. Plano Nacional Setorial de Museus - 2010/2020 (2010: Brasília – DF) Ministério da Cultura, Instituto Brasileiro de Museus. Brasília, DF: MinC/Ibram, 2010. SUANO, Marlene. O que é museu. Coleção Primeiros Passos,. ed. Brasiliense. São Paulo, 1986. DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO PATRIMONIAL INSTRUMENTALIZAÇÃO DE TERRITORIALIDADES Rita de Cássia Oliveira Pedreira* Cristiano Silva Cardoso** Ana Cláudia Borges de Almeida*** - BA, BRASIL MEDIANTE A RESUMO A informação é emancipatória e é da sua competência, criar opções aos humanos, guiando-os à educação patrimonial, alimentando usinas geradoras e gestoras de * Museóloga – UFBA; Especialista em Educação Ambiental para Sustentabilidade – UEFS; Egresso da Universidade Federal da Bahia, em atividade na Faculdade de Comunicação - UFBA (realizando o Inventário da Memória Social e dos Patrimônios de Acupe (Recôncavo baiano); integrante do grupo de pesquisa RIZOMA – UEFS; [email protected] ** Museólogo –UFBA; Especialista em Desenvolvimento Territorial Baiano (em curso) – UEFS; Funcionário da Universidade Estadual de Feira de Santana; [email protected] *** Gestora de Comunidades – Universidade Metropolitana de Londres; Presidente da ONG Animal Viva; [email protected] 231 catalisadores das consciências dos bens patrimoniais. Apresentamos o patrimônio como: originário no sentido de herança, aquilo que é deixado para outras gerações. Bens que resultam em experimentações vividas por uma coletividade ou indivíduos, e que se eternizam no tempo. Ou seja, uma sociedade atribui significação a algum aspecto físico ou imaginário, implicando com isto uma significação histórico-cultural, pressupondo uma gama de valor sobre o mesmo, ratificando a importância advinda por gerações passadas que se prolongarão às presentes ou futuras. Já a ação de preservar descrevemos como o ato de valorizar e resguardar o patrimônio por uma ou diversas razões, imbricadas na significação do artefato, eleito, para tal representação, em determinado espaço-temporal. Para tanto, instrumentalizar e expor como se dá a disseminação da informação patrimonial e suas práxis diante de patrimônios é de suma relevância no que se refere à sustentabilidade de territorialidades. Palavras-chave: Patrimônios – Informação – Disseminação – Preservação Sustentabilidade. ABSTRACT Information is liberating and it is your responsibility to create options to humans, leading them to heritage education, feeding power plants and management of catalysts of the consciousnesses of the property. Here is the heritage as originating in the sense of inheritance, what is left for other generations. Properties that result in experiments experienced by an individual or collective, and that eternalize time. That is, a society assigns significance to some aspect of physical or imaginary, implying that with a historical and cultural significance, assuming a value range on it, confirming the importance arising by past generations that will continue to present or future. Since the action of preserving described as the act to enhance and protect the assets of one or several reasons, intertwined in the meaning of the artifact, elected to such representation, in particular space-time. To do so, equip and expose how is the dissemination of information assets and their assets before practice is of paramount importance as regards the sustainability of territoriality. Keywords: Heritage, Information, Dissemination, Preservation, Sustainability A informação constitui-se emancipatória – por tratar de atmosferas vivas – e desta forma é da sua competência, como “ciência”, criar opções aos seres humanos, e, portanto, guiá-los nos caminhos da educação e sustentabilidade, alimentando usinas geradoras e gestoras de catalisadores das consciências dos bens patrimoniais. Pois que, tem a marca de intervir em questões sociais, e, conseqüentemente lidam com o ambiente como um todo, mas também, o fragmentando. Esta ferramenta imaginária, mas estrutural e estruturada, possui a liga de unir redes múltiplas, que se retroalimentam junto às suas unidades (epistemológica e empírica), em investigar soluções, com o auxílio deste instrumento, às celeumas humanas e, além disso, busque sedimentar técnicas, aliando-as as novas tecnologias, desenvolvendo capacidades e alternativas para os seres humanos nos seus cotidianos. Segundo Robredo (2005, 01), “Só falta romper as barreiras da miséria e da ignorância para que o acesso dos bens sociais decorrentes da informação sem fronteiras seja aberto a todos os povos e camadas sociais”. Nestes contextos, fortalecer a disseminação da informação patrimonial e suas práxis diante de patrimônios surge como tema, instigante, no que se refere à sustentabilidade, pontuando que se estes, “informados”, igualmente, causem nas territorialidades meso conforto ambiental. Afinal, o que é patrimônio? Patrimônio pode ser definido como: herança, legado, aquilo que é deixado para outras gerações. Ou seja, uma determinada sociedade atribui significação a algum aspecto 232 físico ou imaginário, implicando com isto uma acepção histórico-cultural de um bem patrimonial, e assim, pressupõe uma gama de valor sobre o mesmo, ratificando a importância advinda por gerações passadas, que se prolongarão ás presentes ou futuras (Iphan 1995, 283). Mas, pensar os patrimônios da humanidade é realizar um mergulho, muito mais longo por mar de calmarias e turbulências, e em dois níveis: o primeiro e mais profundo remonta a consciência singular de indivíduo, enquanto que o segundo é submergir ao plural e coletivo do contexto grupal, um reconhecimento do legado herdado por gerações anteriores. Desta monta, entende-se que estes elementos patrimoniais, tanto os do primeiro, quanto os do segundo mergulho, trata-se dos bens de ordem naturais como os rios, florestas, grutas, climas, etc.; Como também os de ordem material, inserindo-se aí os sítios e achados arqueológicos; formações rurais e urbanas; agenciamentos paisagísticos; bens móveis, como objetos de arte, documentos arquivísticos e iconográficos; bens imóveis, e os bens imateriais como tradições e técnicas “do fazer” e “do saber fazer” humanos, como esculpir, construir, cozinhar, tecer, etc.; as expressões do sentimento individual ou coletivo, como as manifestações folclóricas e religiosas, a literatura, a dança, o teatro, etc. Com isso remetemo-nos do passado, a partir de um presente que, invariavelmente, influencia num futuro, tanto imediato, quanto distante. Como se dá a informação... Estes arcabouços, de entendimento destes processos, implicam em entender a utilização dos meios de comunicação, como fio condutor de posturas nos ambientes, pois que, “a informação pertinente vária segundo os indivíduos, mas varia para cada um, conforme as circunstâncias” (Bougnox 1994, 54). Então, se se, para cada ser humano a informação é entendida de acordo suas necessidades, então ela dá-se a partir de metodologias que visam suprir desejos humanos. Ensejando que um grupo de pertencimento seja capaz de com informação aderir a inovadoras condutas criativas de melhoria de um coletivo. E, sabemos que ter este insrumento é imprescindivel para escolhas condizentes com o todo, pois opção é “tudo”, que como seres humanos precisamos para concretizar um “mundo melhor” para nós e, concomitantemente, para muitos! Territorialidade: do que se trata? A organização espacial constitui-se num desafio, tanto pela definição conceitual e metodológica do território, quanto pelas demandas antrópicas, que sabemos colocam em detrimento a sustentabilidade, humana, no planeta. “O território continua a ser usado como palco de ações isoladas e no interesse conflitante dos seus atores” (Santos 1993, 105). Daí, à urgência das comunidades epistemológicas, empresariais e empíricas de preservarem os meios, conseqüentemente os patrimônios e as memórias locais. Compreendendo que territorialidade é este patrimônio que se encontra reunindo em um espaço delimitado urbanística e socialmente, pois, há nele constância existencial, sabe-se que ele está ali, tem uma história que o legitima enquanto fator de reconhecimento, sendo característico tanto por ser imediato ou moroso, quanto latente ou manifesto. Sustentabilidade: cabe nas discussões! Neste contexto, contemplar as necessidades, tanto atuais quanto futuras, seja nas escalas locais, regionais como também nas nacionais e internacionais. Esse seria o princípio básico da noção de sustentabilidade, um processo de mudança no qual as explorações de recursos, dinâmicas de investimentos e orientações das inovações tecnológicas e institucionais, sejam feitas de maneira consistente para o bem da coletividade. 233 Acreditamos que o Patrimônio Territorial e o Desenvolvimento Local Sustentável cabem como matérias de mobilização nas transformações da sociedade, indicando com a informação, conduzida, condizentemente, á mudança de modelo, pela criação de flancos que multiplicam a necessidade de uma sociedade mais igualitária e participativa. Aliás, multiplicam-se, também, os que apostam numa mentalidade educativa, norteada por discussões viabilizadas por núcleos de informações sobre as vias de desenvolvimento possíveis e palpáveis na linha de planejamento e gestão de localidades. Preservação, acessível tecnologia! Exatamente, no âmago dos aspectos e conceitos sobre os temas (informação, patrimônio, preservação, desenvolvimento e sustentabilidade), congregamos a visão do feito de informar para preservar. Entendendo, preservar algo, como o fato de se agir ao eleger e valorizar, por uma ou várias conjunturas, aspectos relevantes a determinada população em determinado espaço-temporal. Desta monta, invariavelmente, no mundo contemporâneo estas ações devem conter várias atmosferas do padrão social a que se refere. Partindo de pressupostos, da preservação, ratifica-se que nas atividades de informação, há espaço para contribuir com a institucionalização de identidades culturais, tanto no aspecto micro (individual ou comunitário), quanto no aspecto macro social, cabendo dentre as suas atribuições o fortalecimento de ícones de sustentabilidade e desenvolvimento, estando por sua vez intrinsecamente conectada ao patrimônio, a memória e ao seu exercício de preservação, como tecnologias sociais viáveis. Preservar é uma ótima chancela, tecnológica, para seguir os ensinamentos do mestre Paulo Freire (2004), ao incitar o sujeito no seu cotidiano, reconhecido em sua riqueza particular e no saber fazer, a uma postura critica e engajada de preservação dos legados à procura de qualidade de vida no seu habitat. Instrumentalização da disseminação patrimonial: Na prática. Em consonância com as demandas socioambientais, patrimoniais, contemporâneas e os desafios de convergir conhecimentos, tecnologias, métodos e técnicas emergentes no seio da sociedade, que tenham o intuito de produzir novas linguagens de convivência é que observamos a disseminação patrimonial como ferramenta que possibilita a atores e agentes à legalidade de sedimentar procedimento de pertencimento e memória do lugar. O processo consiste em capacitar, com informações patrimoniais, estas lideranças locais (professores do ensino médio e fundamental; líderes comunitários; formadores de opnião do local; entre outros) no desenvolvimento de reflexões epistemológicas e empíricas sobre Preservação e Identidade Sócio-artístico-histórico-ambiental, em busca de sustentabilidade para o lugar, com recorte no campo patrimonial – seara de caráter milenar, que vem se moldando desde o mundo clássico, passa pela Idade Média, e chega à modernidade ocidental dotado de novos contornos semânticos, absorvendo aplicações e consequentemente efeitos pensados e produzidos ao seu respeito. Contextualizando assim, as potencialidades da informação patrimonial local no cotidiano de comunidades distintas, e sua preservação a partir das tecnologias da informação e comunicação do lugar. Viabilizando o aprendizado advindo dos cidadãos mais antigos aos mais jovens, em busca do alicerçar o pertencimento as suas identidades, tanto quanto valorizar as suas heranças ambientais, buscando assim, salvaguarda aos meios, através da educação socioambiental nas comunidades. Estes procedimentos vêm ocorrendo em diversas comunidades da Bahia e são referendadas por Universidades locais, a saber: UFBA (Universidade Federal da Bahia) – Atividade Curricular em Comunidades: Com a formulação do Inventário da Memória Social de uma localidade do Recôncavo Baiano, distrito de Acupe (piloto); UNEB (Universidade Estadual da Bahia) – Curso de Instrumentalização de 234 Comunidades, no que se refere a auto-estima e conhecimento, para elaboração de roteiros turísticos de bases comunitárias (em andamento); UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana) – No Programa de Iniciação Docente, com a formação patrimonial de professores na valorização do legado, diversificados, de escolas da região (em fase de implementação). Observações finais: A Informação molda vidas e a modifica, através do exercício que é feito dos dados compilados, para satisfação social sobre um determinado assunto, como também, e, sobretudo, dissemina o entendimento dos planejamentos que ofereçam estruturas funcionais para a salvaguarda dos bens patrimoniais das localidades. Motivando com estes aspectos a sustentabilidade local mediante a compreensão e valorização dos bens locais. Para tanto, a “trilha” é disseminar quais e de que modo as informações são absorvidas por agentes e atores, quanto ao valor dos bens patrimoniais de um lugar, enxergando a memória, a sustentabilidade e o desenvolvimento, como um canal para melhoria desta localidade. Ou seja, a instrumentalização de lideranças locais urge, no que diz respeito aos motes, pois que,estes personagens com sua capacidade de envolvimento com os personagens locais divulgando as informações patrimoniais, auxiliando na solidificação dos contextos de pertencimento dos legados e na identidade do lugar, causalmente alicerçando processos de sustentabilidade local. Referimo-nos, as atuações das informações na concepção de “redes” através da consolidação pela integração de diversas organizações, mediante a articulação das diferentes contribuições ao estabelecimento de um capital baseado na autonomia da: Informação/Comunicação; Formação/Qualificação; Parceria/Colaboração; Criação/Inovação. E, no sentido da congregação destes elementos, ratificamos que a liberdade de uma escolha, cuja transparência dos pensamentos é ampla, leva-se, incomensuravelmente, o receptor a ter livre arbítrio de uma posição, digna, para sua vida. Referências: BOUGNOUX, Daniel, ed. 1994. Introdução às Ciências da Informação e da Comunicação: 50 - 59. FREIRE, Paulo, ed. 1996. Pedagogia da Autonomia. ROBREDO, Jaime, ed. 2005. Documentação de Hoje e de Amanhã: Uma abordagem revisitada e contemporânea da ciência da informação e de suas aplicações, biblioteconômicas, documentárias, arquivísticas e museológicas: 01- 06. SANTOS, Milton, ed. 1993. O Espaço do Cidadão: 99 - 108. TEIXEIRA, Elenaldo, ed. 2000. Sociedade Civil e Participação Cidadã no Poder Local. PATRIMÔNIO E CAPACITAÇÃO: UMA REFLEXÃO, UMA CAMINHADA Angela Savastano* Centro de Estudos de Cultura Popular - CECP - S.J. dos Campos - SP - BRASIL RESUMO Abordamos o tema: Patrimônio e Capacitação dos atores do desenvolvimento local, através do nosso estudo de caso, dando o depoimento sobre nossa caminhada, longa e árdua, na busca da implementação de um Ecomuseu em São José dos Campos. * Angela Savastano – Cientista Social e Folclorista; Presidente do Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP) de São José dos Campos – São Paulo, [email protected] 235 Acreditamos que através do folclore poderíamos trabalhar as sabedorias, o patrimônio cultural que cada um traz em si como herança e, através da conscientização e posse desse patrimônio, o homem poderia exercer seu papel de cidadão. Ao se sentir forte e capaz, exerceria uma cidadania consciente e plena. Sendo assim, foram criadas diversas "ferramentas" com o objetivo de ajudar as pessoas a se conhecerem melhor. Ao reconhecerem-se possuidores de tantos saberes, também viram-se capazes de solucionar situações difíceis. Desta forma estavam capacitados para, com base nos seus saberes vividos e experimentados, encontrar caminhos mais fáceis, soluções e praticas mais justas e saudáveis para todos, não só para os mais próximos mas também para aqueles mais distantes. Neste difícil exercício de "achar caminhos certos" (isso não significa "caminhos mais fáceis e curtos") fomos aprendendo a (e querendo) acertar ou errar menos. Isso nos deu mais segurança, mais confiança e mais clareza para propormos essa segunda etapa - a criação do Ecomuseu Campos de São José. Palavras- Chave: Folclore, Sabedoria, Vivência e Cidadania. ABSTRACT "Equity and Empowerment of local development actors" is the theme we approach using our case study, where we give testimony about our journey - a long and arduous search for the implementation of an Ecomuseum in São José dos Campos. We believe that the folklore could let us work the wisdom, the cultural heritage each one brings with itself as a legacy. And having awareness and ownership of assets, the man could play its role as a citizen. When you feel strong and capable, you exercise a full and conscious citizenship. Thus, we created several "tools" in order to help people become better acquainted with themselves. Recognizing they have so much knowledge, allowed them resolve difficult situations. Thus they were able, based on their knowledge lived and experienced, to find easier ways, solutions and practices fairer and healthier for everyone, not only to the nearest one but also for those more distant. In this difficult task of "finding proper ways" (this does not mean "easier ways and shorter ones") we learned how to (and wanting) do it right or at least with less mistakes. This gave us more confidence and more clarity for proposing this second step - the creation of the Campos de São José Ecomuseum. Key words: Folklore, Wisdom, Experience, Citizenship PATRIMÔNIO E CAPACITAÇÃO: UMA REFLEXÃO, UMA CAMINHADA Angela Savastano - SP - CECP - BRASIL É nossa intenção aqui, explanar sobre nossa caminhada na direção da instalação de um Ecomuseu em São José dos Campos. A vida de todos nós pulsa e pulsa num ritmo que, às vezes, não percebemos nem compreendemos bem. No ritmo desse pulsar alguns momentos de nossas vidas coincidem pulsar no mesmo ritmo e foi isso que aconteceu. Em 1986 foi criada em São José dos Campos uma Fundação Cultural que abrigava em seu bojo 7 comissões, entre elas a Comissão Municipal de Folclore. Um grupo de pessoas foi convidado a participar dessa Comissão. Eu e muitas outras mulheres fazíamos parte deste grupo. DESEJAR E ACREDITAR - tudo começou assim. Acreditamos que poderíamos, de alguma forma, dar a nossa colaboração na proposta cultural daquela Fundação na área do folclore. Logo percebemos que a missão não 236 seria tão fácil. Nos indagamos sobre a intenção da Fundação Cultural, proporcionando meios e oportunidades para, através dos caminhos da arte (teatro, música, dança, literatura etc), ajudar o homem a ser suficiente, capaz, elemento vital e necessário e conscientemente fazer parte da comunidade. Sim, com certeza. Dar oportunidade para o indivíduo crescer, usar toda sua potencialidade criadora, proporcionar oportunidades para que esse homem disponibilize, divida seus dons artísticos com seus próximos, só ajudará na riqueza coletiva. Mas continuando nossa reflexão: e o homem que se considera comum, “sem esses dons artísticos”, esse homem que não avalia nem é avaliado pelo muitos saberes que detém (seu patrimônio), que não tem tempo nem oportunidade de mostrar esse saber, torná-lo conhecido e avaliado, onde e como esse homem, portador desses saberes, pode fazer parte dessa comunidade? Qual a importância e papel que ele representa no todo, na sociedade? As perguntas inundaram nossas mentes. Foram muitas. Precisávamos de respostas e foi o que fizemos. ACREDITAR - Acreditamos que através do folclore poderíamos trabalhar essas sabedorias, esse patrimônio cultural que cada um traz em si como herança e através da conscientização e posse desse patrimônio, o homem possa exercer seu papel de cidadão. Se sentirem fortes e necessários para tanto. Se sentirem também capazes. Exercerem com consciência o papel de cidadão. Uma cidadania consciente e plena. DESEJAR - também desejamos. Desejamos participar da criação de ferramentas que ajudassem a todas as pessoas se conhecerem melhor. Reconhecerem que apenas por possuírem aqueles saberes eram capazes de resolver tantos problemas, eram capazes de solucionar tantas situações difíceis. Estavam capacitados para, com base nos seus saberes vividos e experimentados, encontrar caminhos mais fáceis, soluções e praticas mais justas e saudáveis para todos, não só para os mais próximos, mas também para aqueles mais distantes. Práticas e soluções mais justas e saudáveis para serem aplicadas em espaços maiores, em regiões, em estados, em paises, no planeta. Por que não? Não só é possível como é desejável. Assim, acreditando e desejando, demos o primeiro passo. Elegemos um lugar para juntos, comissão e quem mais tivesse interesse, discutir e criar ações voltadas para esse fim. O Museu do Folclore, lugar onde estariam objetos e documentação que mostrassem e comprovassem a existência e a realidade desses saberes. Lugar onde pudessem ser colocados conjuntos de artefatos, objetos e documentação visível para um público, interessado ou não, específico ou não, espontâneo ou não, com a intenção de começar ali um processo de “tomar posse” daquilo que me pertence, que é meu, me é útil e me permite ser como sou. Estão sendo desenvolvidos neste espaço, no Museu do Folclore, projetos e programas planejados para cumprir essa missão. Entre eles está o projeto Museu Vivo onde a troca desses saberes e experiências são mostrados ao vivo. Um momento rico e precioso para quem sabe e para quem quer saber. Este mais enriquecido, com algo a mais, o aprendiz, aquele mais respeitado, mais valorizado, o mestre. Outros projetos realizados no Museu do Folclore, buscando, juntamente com o Museu Vivo o mesmo objetivo: conscientizar o homem do seu patrimônio cultural e ajudá-lo a se apropriar desse patrimônio para possibilitar a realizações de ações embasadas e fortalecidas nos valores desse mesmo patrimônio. São os seguintes e principais projetos desenvolvidos no Museu do Folclore: Exposição Patrimônio Imaterial - Folclore & Identidade Regional, Museu Vivo, Salvaguarda do Folclore, Terças com Folclore, Dialogando com Folclore (Terças Especiais), Apoio a grupos folclóricos, edição anual dos Cadernos de Folclore (já na 22 a. Edição), Ação Sócio educativa - atendimento à rede escolar como "lugares de aprender" e ainda atendimento na Biblioteca Maria Amália Gifonni especializada em folclore a público voltado para a pesquisa. Dentro dessa proposta, que é valorizar os saberes e a capacidade dos homens para sua participação consciente e efetiva no processo de desenvolvimento e transformação social é que, desde 1999, estamos acompanhando as experiências, as 237 ações e práticas, chamadas ecomuseológicas, onde entidades e grupos de pessoas estudiosas de diversas áreas do conhecimento nos vem disponibilizando. Temos plena consciência, adquirida nos ensinamentos e exemplos de experiências trocadas durante esses encontros nos quais participamos que é fundamental para uma comunidade desejar e querer alguma ação ecomuseológica no espaço que ocupa, ser necessário que cada cidadão esteja consciente do seu papel e função na comunidade e realmente ter condições de exercer o papel que a comunidade espera dele. Nesse sentido estamos desde 2008 desenvolvendo ações de aproximação e valorização da cultura popular local. O Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP faz parte de uma Rede Social, apoiada pelo SENAC de São José dos Campos assim também fazem parte outras entidades tais como Escolas, Igrejas, Secretarias, Sindicatos, Clubes de Serviços (Lions), OAB, Empresas, Indústrias, e Clubes locais. O CECP em parceria com a escola do bairro Campos de São José e em contato com outras entidades da mesma região já iniciou, há alguns anos, um trabalho de aproximação local pondo para reflexão e discussão temas como folclore, cultura popular, festas, alimentação e durante um trabalho desenvolvido em parceria com a SIGNI, entidade que também faz parte dessa Rede, foi trabalhado o tema LIDERANÇA. Tudo isso nos faz crer ser este bairro um local acolhedor e interessado em desenvolver ações com fundamentos na proposta da ecomuseologia. Há 17 anos, em São José dos Campos, foi criada uma lei Municipal de incentivo à cultura, a LIF (Lei de Incentivo Fiscal). Essa lei dá oportunidade de projetos serem realizados com verbas de impostos (ISS) recolhidos em São José dos Campos. É necessário que esses projetos sejam analisados e aprovados por 3 comissões especiais da Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Este ano o CECP apresentou um projeto de criação do ecomuseu em São José e o mesmo foi aprovado. Agora é partir para a captação da verba. Mais do que nunca é DESEJAR E ACREDITAR. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA: UMA FERRAMENTA PARA A PROMOÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E DO DESENVOLVIMENTO LOCAL DA REGIÃO INSULAR DE BELÉM. Daniel da Fonseca Silva§§§§§§§§§ - PA/Brasil Enilson Solano Albuquerque Silva ********** - PA/Brasil Daniel Pinheiro Nogueira †††††††††† Embrapa Amazônia Oriental - PA - BRASIL RESUMO Este trabalho visa demonstrar como a promoção da Segurança Alimentar por meio de ações e mecanismos de transferência de tecnologias (TT) contribui no desenvolvimento local das comunidades da região insular de Belém. A Segurança Alimentar foi viabilizada por meio de capacitação de agentes comunitários, disseminação e demonstração de tecnologias agropecuárias para cultivo em áreas peri-urbanas visando ao consumo de subsistência e a comercialização do excedente. O desenvolvimento local foi alcançado, a partir do envolvimento da comunidade na adoção de tecnologias geradas e transferidas por instituições de pesquisa e na motivação da construção do capital social e empoderamento das famílias atendidas, com a possibilidade de formação de políticas públicas para a promoção do direito à §§§§§§§§§ Daniel da Fonseca Silva – Administrador, Mestrando em Gestão de recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia, Analista B da Embrapa Amazônia Oriental , Travessa Dr. Enéas Pinheiro s/n. Belém,PA, Brasil, [email protected] ********** Enilson Solano Albuquerque Silva – Eng. Agrônomo, Msc. Agronomia, Analista A da Embrapa Amazônia Oriental , Travessa Dr. Enéas Pinheiro s/n. Belém,PA, Brasil, [email protected] †††††††††† Daniel Pinheiro Nogueira – Administrador, Bolsista da Embrapa Amazônia Oriental , Travessa Dr. Enéas Pinheiro s/n. Belém,PA, Brasil, [email protected] 238 cidadania. Ao final do processo de TT, os beneficiários finais das atividades tornam-se co-participantes ativos no processo, gerando uma ampla divulgação e acesso das informações tecnológicas, contribuindo assim para o desenvolvimento comunitário do seu grupo e dos grupos do entorno. Palavras-chave:Transferência de Desenvolvimento Local, Região insular Tecnologias, Segurança alimentar, ABSTRACT This study demonstrates how the promotion of food security through actions and mechanisms of technology transfer (TT) contributes to the development of local communities in the insular region of Belem. The food security was ensured through training of community workers, dissemination and demonstration of agricultural technologies for cultivation in peri-urban areas aiming the subsistence consumption and marketing of the surplus. The local development was achieved, from the community involvement in the adoption of transferred and developed technologies by research institutions and in motivation of building social capital and empowerment of families served, with the possibility of formation of public policies for promoting the right citizenship. At the end of the process of TT, the final beneficiaries of activities become co-active participants in the process, generating a wide dissemination and access of technological information, contributing to the community development of their group and the groups around. Index Terms: Technology transfers, food security, local development, insular region. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA: UMA FERRAMENTA PARA A PROMOÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E DO DESENVOLVIMENTO LOCAL DA REGIÃO INSULAR DE BELÉM. Daniel da Fonseca Silva - PA – BRASIL Enilson Solano Albuquerque Silva Daniel Pinheiro Nogueira Embrapa Amazônia Oriental Introdução Nos últimos 10 anos a população tem se defrontado com uma situação paradoxal; por um lado, têm sido apresentados por órgãos governamentais competentes os resultados das safras agrícolas que alcançam patamares produtivos cada vez mais elevados. Por outro lado, parcela significativa da população convive diariamente com uma situação de insegurança alimentar, ou seja, sem o acesso regular e permanente a alimentação (IBGE, 2006). Contudo, existem duas ferramentas que amenizariam o problema da segurança alimentar no Brasil, são elas: i) A agricultura urbana e ii) A transferência de tecnologias. A agricultura urbana e periurbana é um conceito multidimensional que inclui a produção, a transformação, a comercialização e a prestação serviços, de forma segura, para gerar produtos agropecuários voltados ao autoconsumo ou comercialização (re) aproveitando-se, de forma eficiente e sustentável os recursos e insumos locais. Essas atividades podem estar vinculadas às dinâmicas urbanas ou das regiões metropolitanas e articuladas com a gestão territorial e ambiental das cidades (CPMO, 2009). 239 Por sua vez a transferência de tecnologias (TT) se constitui de um conjunto de ações que se apóia no conceito de interdisciplinaridade para dentro e para fora da comunidade e que tem essencialmente nos sistemas de produção, um reforço metodológico para que as atividades de pesquisa sejam um instrumento de divulgação de resultados (FRANCO, 2002). Daí por que se admitir que, dentre os fatores limitantes à adoção das tecnologias geradas, está à forma de transferência das mesmas. A maioria das tecnologias geradas são difíceis de serem entendidas e aplicadas pelos produtores familiares. Muitas tecnologias recomendadas para aumento da produtividade das culturas estão atreladas a adoção de insumos, como adubos e defensivos, pouco utilizados pelos agricultores, principalmente os descapitalizados (MODESTO JÚNIOR & ALVES, 2008), mas também há necessidade de adaptação da linguagem e dos instrumentos adotados pelos técnicos no momento do repasse aos agricultores familiares. No contexto de agricultura urbana, desenvolvimento local e segurança alimentar, a transferência de tecnologia constitui um papel fundamental para o sucesso de qualquer iniciativa no sentido de dinamizar a cadeia produtiva e o desenvolvimento de qualquer comunidade, seja ela urbana ou rural. Percebe-se que a agricultura urbana e periurbana utilizada pela população da região insular de Belém, apresenta baixa produtividade devido à falta de planejamento da utilização dos espaços, à falta de fomento do poder público e ao baixo nível tecnológico empregado nas atividades produtivas. Este trabalho tem como objetivo apresentar as ações e processos de transferência de tecnologia conduzidos pela Embrapa Amazônia Oriental e discutir a importância da informação tecnológica como instrumento de promoção da seguranção alimentar e do desenvolvimento local de região insular de Belém. Sabe-se que o desenvolvimento local possui várias dimensões, contudo neste trabalho assume-se o prisma do desenvolvimento comunitário. Materiais e Métodos O trabalho foi conduzido na ilha de Caratateua (figura 1), também conhecida como Ilha de Outeiro, termo originado do latim “altariu” que significa local elevado. A ilha fica cerca de 15 metros acima do nível do mar e pertence à Região Metropolitana de Belém, distante 18 km da capital, ficando cercada pelo Rio Pará, ligada ao continente pela ponte Enéas Martins Pinheiro construída em 1986. Destaca-se por possuir uma paisagem natural e ser excelente ponto turístico devido à existência de seis praias, assim denominadas: Praia do Amor, do Artista, da Brasília, da Ponta do Barro Branco e Praia Grande. Para a execução das atividades de transferência de tecnologias foi selecionada a comunidade de Vista Alegre, no bairro do Tucumaeira, com 16 famílias. Atualmente a comunidade encontra-se em fase de desenvolvimento organizacional, com a criação de sua Associação. O processo de transferência de tecnologia em comunidades foi baseado no conceito de tecnologia social e reúne tecnologias, serviços e produtos gerados pela Embrapa Amazônia Oriental e parceiros, em um sistema produtivo e organizacional. O trabalho é organizado pelo comitê gestor e pelos grupos de trabalho. As ações são executadas a partir de três componentes: Capacitação Continuada, Unidade Demonstrativa Comunitária e Economia Solidária. Com este arranjo, buscou-se uma produção para consumo próprio e/ou comunitário, além da geração de receita, com a venda do excedente in natura e processado. Inicialmente foi realizado um diagnóstico de prospecção dos principais gargalos tecnológicos no processo produtivo enfrentado pela comunidade, a principal função desse estudo prévio foi indicar oportunidades e ameaças ao desenvolvimento 240 tecnológico, local e regional, apontando falhas, limitações, oportunidades e demandas por tecnologias. Os dados foram obtidos por meio de questionários com entrevista pessoal aos chefes das famílias, cujas informações obtidas evidenciaram uma forte demanda para o cultivo de espécies frutíferas e criação de pequenos animais. Com base nas demandas identificadas foram disseminadas na comunidade as seguintes tecnologias desenvolvidas pela Embrapa: i) Pomares tecnológicos (cultivar de açaizeiro BRS Pará recomendado para cultivo em terra firme; ii) Técnicas de manejo de açaizais nativos; iii) Técnicas de preparo de área de Roça sem Fogo, Trio da Produtividade da Mandioca e técnicas de cultivo de milho e feijão e iv) Criação de pequenos animais (galinha caipira e pato). Utilizaram-se como ferramentas de transferência de tecnologias a instalação de unidades demonstrativas, realização de dois cursos, uma palestra, um dia de campo e quatro visitas técnicas. Como o trabalho envolveu multiplicadores e agricultores familiares, para facilitar a internalização e comunicar as recomendações técnicas em linguagem e canais adequados, foram produzidos materiais de divulgação impressos, ilustrados, dirigidos a esse público específico, associando ao texto algumas ilustrações que sintetizam com poucas palavras as recomendações técnicas, pois é baixo o nível de conhecimento técnico das comunidades sobre o cultivo de fruteiras, hortaliças e outros. Nesse contexto foram produzidos materiais como: cartilha, folder, baneres e cartazes. Resultados e Discussão Tendo como base o aumento da geração de renda da comunidade atendida, procedeu-se a análise da produtividade por cultura implementada. No caso da mandioca, foi cultivada uma área com 1.400 plantas da variedade Maranhense, cuja produtividade média por planta aos 12 meses, situou-se em 2 quilos, o que renderá 2.800 kg de raiz. Deste plantio pode-se extrair vários produtos: raiz para venda in natura para produção de farinha ou goma e folha para pequenas industrias de embalagens de manivas visando a fabricação do prato de maniçoba. Como não existem casas de farinha nas proximidades, optou-se pela estimativa de venda de gomas no mercado de Belém. Com a produção de raiz será possível obter cerca de uma tonelada de goma. Como o preço médio do produto no mercado de Belém e da Ilha de Caratateua é de R$1,00, foi possível obter uma receita bruta anual de R$ 1.000,00 (mil reais). Vale a pena frisar que na receita da mandioca não foi computada a venda e o uso das folhas (1.500 quilos). No mercado de outeiro o quilo da folha está sendo comercializado a R$ 1,00, contudo a maioria da produção foi destinada à alimentação alternativa das galinhas caipiras. O açaí BRS Pará está representado por 50 plantas que ao final de 3 (três) anos produzirão 2 latas de 14 kilos por fruto (100 latas no total). As latas de açaí são comercializadas a um valor médio de R$ 15,00, ou seja, os produtores terão uma receita bruta com a comercialização dos frutos de açaí de R$ 1.500,00. O preço médio da galinha caipira no mercado de Belém e da Ilha de Caratateua é de R$ 25,00. Por sua vez, a Unidade Demonstrativa de frango caipira, com suas 50 aves, após 90 dias originará uma receita líquida de R$ 400,00 (média de R$ 8,00 líquido por frango). O sistema produtivo foi implantado de modo a mesclar culturas de rápido retorno (criação de pequenos animais, plantio de banana e mandioca) e culturas de médio prazo de retorno (açaí BRS Pará). Realizando-se uma análise, pode-se auferir que no 241 primeiro ano de produção haverá uma receita bruta de R$ 2.600,00 (frango:R$1.600,00 – equivalente a quatro criações, mandioca: R$ 1.000,00). Entretanto, após 3 anos, com o sistema totalmente ativo em termos de produção, a renda auferida nesses pequenos módulos de produção urbanos é de R$ 4.100,00/ano (frango:R$1.600,00, mandioca: R$ 1.000,00, banana: R$ e açaí R$ 1.500,00). Com base nos resultados acima, pode-se inferir que a transferência de tecnologia que promova a agricultura urbana, contribui sobremaneira para o aumento de renda, do nível de segurança alimentar e do desenvolvimento local das comunidades. Nesse contexto, a segurança alimentar e a geração de renda são fundamentais para o desenvolvimento local. Percebe-se, então, a grande necessidade da criação de políticas e estratégias de produção, distribuição e consumo de alimentos, sendo primordial que se use para esse fim TT que busquem modelos sustentáveis que promovam a produção de base familiar, na aproximação da produção e do consumo de alimentos e na valorização da diversidade de hábitos alimentares. Então como aliar políticas públicas e desenvolvimento local? Pode-se observar que os agricultores urbanos da ilha de Caratateua possuem dificuldades de obtenção de informações e de organização, que se apresentam como importante restrição a implementação de um processo de desenvolvimento local que tenha como foco a agricultura urbana e transferência de tecnologias. Dessa forma, a atuação do poder público, com políticas específicas voltadas a promover esse processo junto a esse estrato socioeconômico de agricultores, é fundamental para que o mesmo ocorra de forma mais ampla. Esse apoio deve ocorrer, principalmente, mediante mecanismos de crédito agrícola adaptados à realidade urbana, transferência de tecnologias, assistência técnica capacitada em agricultura urbana, e a viabilização de canais de comercialização para uma produção agrícola diversificada. Essas ações devem investir em fomento agrícola, concertação e o capital social dessas comunidades. O governo federal possui alguns programas que estão disponíveis para as comunidades e que se aplicariam perfeitamente à realidade da coletividade de Caratateua, tais como: i) Programa Brasil sem miséria (Ministério do Desenvolvimento Social); ii) Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF (Ministério do Desenvolvimento Social); iii) Programa de Apoio a Organização Produtiva – PRODUZIR (Ministério da Integração); iv) Plano Nacional de Gestão Ambiental e Rural (Ministério da Pesca e Aquicultura) entre outros. A intenção neste trabalho não é listar todos os programas e políticas públicas, mas sim mostrar que eles existem e podem ser concentrados em prol dessas comunidades. Esses programas investem em fomento agrícola, porém não consideram a concertação e o capital social (CS) dessas comunidades. O grande desafio é criar uma ferramenta que fortaleça o CS das comunidades e que promova a integração e concertação de todas as políticas existentes, de modo que se forme uma rede integrada de promoção ao desenvolvimento local das ilhas. Conclusões O processo de TT contribuir diretamente para promover a agricultura urbana com aumento de renda e se apresenta como uma importante ferramenta para o incremento da segurança alimentar e do desenvolvimento comunitário. O Estado ainda se faz pouco presente na comunidade em análise e os programas que ele realiza não consideram elementos fundamentais na lógica do desenvolvimento 242 comunitário que vão além do aspecto produtivo e econômico, que dizem respeito ao Capital Social, à Concertação e ao Empoderamento da comunidade. Dessa forma, o baixo nível de desenvolvimento local e de segurança alimentar na comunidade de Vista Alegre é menos um problema de origem climática e tecnológica, que problema de cunho político e econômico. Referencias bibliográficas Centro de pesquisa Mokiti Okada (CPMO), disponível http://www.cpmo.org.br/agricultura_urbana.php. acessado em 25/09/2011. em IBGE. Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios – Segurança Alimentar 2004. IBGE, 2006. FRANCO, C.F. de O. Dinâmica da Difusão de Tecnologia no Sistema Produtivo da Agricultura Brasileira. In: Simpósio Nacional sobre as Culturas do Inhame e do Taro. II., 2002. João Pessoa, PB. Anais... João Pessoa, PB: Emepa-PB, 2002. vol.2, 224p. MODESTO JÚNIOR, M. de S.; ALVES, R.N.B. Treino e visita como processo de transferência de tecnologia para produção de mandioca em Moju, PA. IN: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MANDIOCA. Botucatu, SP, CERAT/NESP, 14 a 16 de julho, 2009. O MUSEU COMUNITÁRIO LOMBA DO PINHEIRO PELA NARRATIVA DE SEUS ATORES SOCIAIS Cláudia Feijó da Silva* Museu Comunitário Lomba do Pinheiro – Porto Alegre – RS – BRASIL A concepção e a missão do Museu Comunitário Lomba do Pinheiro, localizado na periferia de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, ancora-se na valorização das histórias vividas pelos habitantes do bairro, assim como nas narrativas de seus desbravadores e das pessoas que chegaram posteriormente e colaboraram para o desenvolvimento desse território. Além da valorização daqueles que pensam no futuro e no desenvolvimento sustentável do lugar escolhido para viver. Os saberes populares ganham espaço e perpetuam-se através das falas dessas pessoas. Comunidades resistem através dos saberes populares que ganham espaço e repercutem ao longo do tempo, gerações transmitem saberes através da oralidade, e essa se mantém como prática recorrente, também de grupos desfavorecidos socialmente. É no espaço do Museu Comunitário Lomba do Pinheiro que as narrativas, de gente considerada comum, inscrevem-se na história. As narrativas dessa gente é o que transformará suas lutas e conquistas na história do bairro, narrativas que são apresentadas aqui como os documentos mais bem salvaguardados, os arquivos das gentes populares são seus corpos, suas marcas, suas mentes e seus descendentes. Logo apresento trechos das narrativas orais relacionadas aos projetos desenvolvidos no âmbito do museu, ao relacionamento que as pessoas estabelecem com o espaço e com as práticas, mas também que passam a estabelecer entre si e com a comunidade de forma geral. [...] o valor informativo do museu é imenso. Contar a nossa história contada por nós mesmos é muito importante. Cada vila narra a sua * Cláudia Feijó da Silva – Mestranda do PPGEdu/UFRGS; Coordenadora do Museu Comunitário Lomba do Pinheiro – Porto Alegre/Rio Grande do Sul. Contato: [email protected] 243 existência, e ao juntarmos tudo, vemos o quanto somos importantes, ao menos achamos. (Teresa Dutra, moradora em entrevista concedida ao Museu em 2010). A intenção ao propor as Rodas de Memórias no Museu Lomba do Pinheiro foi de fortalecer laços com a comunidade, através de grupos focais, ou seja, diversas pessoas com interesses e práticas populares comuns, criar um lugar de cumplicidade, tornar as pessoas que foram cúmplices durante suas vidas por conta de um foco comum, agora parceiros também pelo Museu, esse com a função de dinamizar, refletir, comunicar, fortalecer e valorizar a cultura e patrimônios local. O espaço do Museu transforma-se e constrói-se a partir de seus colaboradores, um lugar de construção mais igualitária abrindo-se ao diálogo na intenção de construir um processo diferenciado de participação social, sem que alguns obtenham o privilégio de participação em detrimento de outros. Portanto, sem deixar de problematizar as diferenças existentes entre os diversos grupos que compõem a vida do território onde está inserido o Museu. As narrativas orais registradas não são utilizadas apenas como acervo que vislumbra o futuro das pesquisas de profissionais, mas também como momento de reflexão sobre o presente e o futuro, como forma de compartilhar saberes e fazeres, como valorização e registro da luta cotidiana empenhada por tantos moradores do bairro onde o Museu atua. O registro das memórias é também o registro das relações humanas de dada época, das questões históricas que são tão caras a essa população. Esse registro permite contar sobre suas vidas, suas origens e suas conquistas coletivamente, como é possível observar no depoimento abaixo: O museu de rua veio para consolidar uma história, que serve tanto para as pessoas que vivenciaram todo o processo, quanto as que não conheciam, porque são mais novas ou chegaram aqui depois. Eu sempre pensei em escrever essa história, só que no papel, para que não fosse esquecida. (Zailde Freitas, moradora em entrevista concedida ao Museu em de 2010) Reunir as pessoas em Rodas de Memórias suscita outras lembranças, individualmente também teríamos a memória coletiva, segundo Halbwachs‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡ mesmo que a memória individual não esteja inteiramente isolada ou fechada no vivido pelo narrador. Contudo, nossa investigação é pela memória coletiva narrada oralmente no grupo e não pelo indivíduo versus entrevistador. A interação da reunião das pessoas provoca emoções que não são visíveis em entrevistas solitárias, em grupo existe o disparo das lembranças ausentes, que desencadeiam memórias coletivas. Para Maria de Lurdes Machado Lisboa, moradora do bairro e erveira (prática em ervas medicinais), o museu permitiu o reconhecimento do seu saber além de colaborar para o estabelecimento de novas relações: As pessoas comentam: sabe onde eu te vi? Me viu? Sim, lá na 6 [parada 6/localização do Museu]. Mas eu não fui na 6. Te vi nas fotos do Museu. Depois vieram me procurar para perguntar sobre o uso de chás. (Entrevista concedida a David Kura Minuzzo em 2011) §§§§§§§§§§ Outra depoente Glaci Terezinha de Oliveira Rodrigues, moradora do Bairro há 45 anos que participou das Rodas de Memória com a temática “Saber Popular: Ervas, Rezas e Benzeduras”, declarou: ‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡ HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. p. 54 MINUZZO, David Kura. Lomba do Pinheiro, Memória, Informação e Cidadania: vozes, olhares e expectativas de seus agentes e atores sociais. Porto Alegre, UFRGS, Monografia. 2011. p. 96 §§§§§§§§§§ 244 Achei muito interessante, para não deixar morrer essa crença que a gente traz dos antepassados, que é uma coisa que está se perdendo. Tem gente que sabia, mas foram 97 falecendo e isso não foi repassado. Eu procuro passar para minhas filhas e netos. Hoje as pessoas não me procuram para benzer tanto quanto antigamente, mas ainda tem procurado. Pessoas que foram no Museu e me disseram: vi tua fotografia lá, fui ver a exposição e achei muito bonita. *********** (Entrevista concedida a David Kura Minuzzo em 2011) É possível observar que as Rodas de Memórias para os depoentes são momentos que vão além de lembrar momentos vividos e que agora transformam-se em registros. Os entrevistados passam por momentos de emoção, de reencontros, de redescobrimentos. Alguns com saúde debilitada, poucos dias depois surpreendem com a melhora, passam a freqüentar o Museu e procurar-nos para contar as memórias que permaneceram ocultas, junto com essas lembranças vem outros documentos como, fotografias, objetos tridimensionais, receitas de chás e remédios, rezas escritas, novas mudar de plantas para compor o jardim dos chás... O depoimento de Alpheo Rodrigues, ex-jogador do Pinheirense Futebol Clube e morador do bairro, demonstra a importância que o projeto possui para o registro da história: Joguei no Pinheirense entre 64 e 69, na época da Revolução. [A Roda de Memória] foi a oportunidade de rever os amigos. O Pinheirense começou a parar em 68 e em 72 acabou. Começaram a acabar os campos de futebol de várzea. A gente perdeu o contato e quando encontrava alguém do Pinheirense pensávamos em reunir para fazer um churrasco. Aconteceu uma tentativa nos anos 80, um movimento para tentar levantar, mas não deu certo. Para mim foi uma alegria muito grande ver a exposição, coisas do Pinheirense,que nem sabia que existiam, que alguém tinha guardado. Se não tivesse acontecido a Roda de Memória no Museu, o Pinheirense tinha entrado no anonimato, iria desaparecer. A história vai desaparecendo com as pessoas que vão morrendo. É normal isso, como havia tantos anos que ele parou, não tinha mais a história do Pinheirense. As histórias que vem não são reais, vão mudando as coisas. A história da Lomba, que contam hoje, não é a verdadeira, não a real que aconteceu. Já mudou muita coisa, já se atualizou. Tornaram verídicas algumas coisas que não é a história real. (depoimento concedido a ††††††††††† David Kura Minuzzo em 2011) As atividades desenvolvidas‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡ pelo Museu Lomba do Pinheiro resultam em exposições, geralmente seguidas de homenagens aos seus participantes, na guarda e preservação dos acervos gerados, assim como em outras atividades educacionais especialmente voltadas para escolas e grupos. Entendemos que as tantas atividades desenvolvidas servem como forma de comunicar o trabalho desenvolvido, divulgar e valorizar a cultural local, assim como reconhecer os atores sociais envolvidos no processo de construção do bairro e das ações museais. *********** Ibidem Idem, p. 98 ‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡ Atualmente o Museu Comunitário Lomba do Pinheiro desenvolve 8 projetos em parceria com o Programa Lomba do Pinheiro Memória, Informação e Cidadania PROEXT/UFRGS. Os projetos são denominados: Educação para o Patrimônio, Formação de Professores e Educadores, Formação de Multiplicadores, Exposições Temporárias, Museus de Rua, Política de Acervos, Rodas de Memória e História Oral, Lomba Tur. ††††††††††† 245 Referências: HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. MINUZZO, David Kura. Lomba do Pinheiro, Memória, Informação e Cidadania: vozes, olhares e expectativas de seus agentes e atores sociais. Porto Alegre, UFRGS, Monografia. 2011. PATRIMÔNIO HISTÓRICO E COMUNIDADE - Ações que geram reações Angela Tereza Sperb** e Patricia Rosina Stoffel Hansen** Museu Comunitário de Percurso de Picada Café-RS-BRASIL RESUMO Las acciones con patrimonio histórico, en Picada Café, se dan sobre un territorio – el area del municipio – y con una comunidad – los habitantes. Están en marcha desde 2004. Iniciaron con actividades educativas en las escuelas y se ampliaron para el Núcleo Histórico del Parque Histórico Municipal Jorge Kuhn, punto de partida para las acciones en la comunidad. Las actividades educativas se presentan como prácticas educativas formales – en la Escuela y en el Núcleo Histórico – que culminan con un "Museu de Rua"; y como actividades informales, a través de eventos como "Roda de Memória" y "Hausmusik" (Música en el hogar). El objetivo es que la comunidad asuma su patrimonio material e inmaterial de forma colectiva y solidaria, y lo trate de modo sustentable. Palavras-chave: Patrimônio Histórico – Memória – Comunidade – Escola – Museu de Rua – Museu – Solidariedade – Sustentabilidade. PATRIMÔNIO HISTÓRICO E COMUNIDADE - Ações que geram reações Angela Tereza Sperb* e Patricia Rosina Stoffel Hansen** Museu Comunitário de Percurso de Picada Café- RS- BRASIL O Programa de Educação Patrimonial, em Picada Café, nasceu como um projeto para comemorar os 180 anos da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul”, em 2004. O objetivo foi pesquisar a história das famílias, através de atividades desenvolvidas nas escolas, e culminou com uma exposição – que denominamos Museu de Rua – dos trabalhos realizados pelos alunos orientados por seus professores e apoiados pela comunidade. Essa exposição ocorreu por ocasião da 12ª Kaffeeschneis’fest. O entusiasmo e a adesão dos professores, alunos, comunidade escolar e a comunidade de Picada Café durante a execução das atividades, na organização do Museu de Rua e na visitação ao mesmo, bem como os depoimentos que foram registrados no livro de visitas, deixaram a certeza de que trabalhar com patrimônio histórico era um campo fértil para uma proposta de educação significativa, fundada na realidade das crianças, integrando escola e comunidade, possibilitando leituras do presente, ancoradas no passado e com projeções para o futuro. Essa percepção e as primeiras ações que ampliaram as atividades com o patrimônio histórico, em Picada Café, foram registradas no livro: Na trilha dos lírios – escola e * Angela Tereza Sperb é mestre em Histórica Ibero-Americana e consultora em Educação e Patrimônio Histórico. ** Patrícia Rosina Stoffel Hansen é Pedagoga, educadora dos anos iniciais do Ensino Fundamental, atualmente, curadora do Núcleo Histórico do Parque Histórico Municipal Jorge Kuhn. 246 comunidade traçam seu futuro através do passado, obra coletiva que reúne, entre outros textos, relatos de professores, de professoras e trabalhos de alunos. 1 O ambiente As ações com patrimônio histórico, em Picada Café, acontecem sobre um território – a área do município – e com uma comunidade, os moradores. Picada Café foi uma colônia de origem teuta, ocupada a partir de 1884, que ainda hoje se caracteriza por uma significativa homogeneidade étnica. A população tradicional é bilingue – falam português e o dialeto alemão Hunsrück – cultivam as mesmas tradições culturais e religiosas. Os migrantes de outras regiões e outras etnias aos poucos se integram à comunidade local. Atualmente, tem em torno de cinco mil habitantes. Contudo, sabemos que mesmo as comunidades etnicamente homogêneas (resguardando os limites desse conceito) recebem inúmeras influências na sua interação com outros sujeitos de outras culturas, defrontando-se com diferentes situações, além do contato com os meios de comunicação contemporâneos, que fazem com que essa identidade cultural comum esteja permanentemente em transformação, readaptação e busca de equilíbrio. Portanto, o trabalho com o patrimônio histórico objetiva a continuidade de um ambiente cultural, sem engessá-lo ou fossilizá-lo, mas garantindo sua vitalidade e capacidade de renovação e inovação, ao mesmo tempo em que atrai para o processo os estranhos para que se integrem e contribuam com suas histórias de vida e tradições. A vida na comunidade – que, por sua vez, é constituída de inúmeras outras comunidades locais e de interesses – é essencialmente dinâmica e está em permanente transformação. 2 O Programa de Educação Patrimonial O Programa de Educação Patrimonial, em Picada Café, propõe-se a dar conta dessa dinâmica, de forma que a história, a cultura e a tradição local sejam valorizadas e preservadas, constituindo-se, junto às pessoas e ao patrimônio ambiental, no capital de inestimável valor para o desenvolvimento local sustentável (VARINE, 2005) O Programa desenvolve-se através de duas linhas de ação educacional, interligadas e complementares: atividades de caráter formal, nas escolas e no museu, e ações de caráter informal, com e na comunidade. A educação formal reune professores e alunos, coordenadores ou orientadores e interessados, num espaço mais ou menos delimitado, com objetivos claros, metodologias específicas e uma margem razoável de controle. A educação informal dá-se de forma mais difusa. Há a figura do coordenador ou organizador de atividades (um indivíduo ou uma equipe), que propõe ações a partir do grupo organizador e/ou a partir de sugestões externas, prepara o local, os equipamentos e materiais necessários. A adesão é voluntária conforme os interesses dos diversos sujeitos e/ou grupos da comunidade. Há objetivos comuns que reúnem as pessoas, mas os grupos que se reúnem não são necessariamente os mesmos, durante um período de tempo ao longo de um ano, por exemplo, como é na educação formal. Tampouco há o mesmo tipo de controle e podem ocorrer surpresas. Contudo, tanto a educação formal, como a informal seguem metodologias próprias e é fundamental que sejam sistemáticas e não esporádicas. Ambas passam por várias etapas que podem ser sucessivas ou simultâneas: sensibilização, identificação, reconhecimento, valorização, consciência e ação. 2.1 Educação na escola e no museu O trabalho do patrimônio histórico na escola acontece como tema transversal, conforme previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Embora os PCNs não se refiram de forma explicita ao patrimônio histórico, no Ensino Básico, sugerem atividades que, através do conhecimento da história local, acabe por sensibilizar o aluno em relação ao tema. Sugerem atividades que o integrem na comunidade como 247 parte de uma coletividade, que desenvolvam ações que o ponham em contato com os mais velhos, com outras pessoas, com a história local. (BRASIL, 1997). No Ensino Básico a educação patrimonial tem essencialmente a função de sensibilizar. Já no Ensino Médio é a de desenvolver efetivamente uma consciência política e de cidadania. Em ambos os momentos não se trata de atividades teóricas e livrescas, mas antes, de atividades que implicam aprendizagem através da ação: aprender fazendo; ou da vida: aprender vivendo (FREINET, 1995). 2.2 Atividades nas escolas No início do ano, durante a Jornada Pedagógica, é definido com os professores o tema referente ao patrimônio histórico que será desenvolvido nas escolas. Esse tema é tratado nas diversas disciplinas de acordo com as abordagens possíveis e específicas de cada área do conhecimento. A pergunta chave é: como posso trabalhar o assunto “X” a partir da matemática, da língua portuguesa, da geografia, etc. Estimula-se, assim, um trabalho interdisciplinar e a construção do conhecimento de um tema local desde várias perspectivas, possibilitando uma visão e compreensão mais ampla e complexa. Dentro do possível, de acordo com a temática, alunos e professores são desafiados a projetar ações de sustentabilidade viável. Soma-se, portanto, de forma explícita, um aspecto de educação para o trabalho e o empreendedorismo, que, vale lembrar, estão implícitos em todos os outros momentos: atenção – que implica ver, ouvir, sentir, degustar, manipular; responsabilidade: que incluiu cumprir tarefas, executá-las bem, cumprir horários, respeitar estruturas organizativas combinadas previamente; integrar-se solidariamente ao grupo: respeitar os colegas, apoiar os parceiros, ser gentil, assumir liderança quando o momento exigir, etc. Como engajar-se no programa implica para o/a professor/a a disponibilidade para desacomodar-se e o desejo de, efetivamente, construir o conhecimento com o aluno, ele/a é convidado/a, motivado/a e desafiado/a a se integrar ao trabalho. O resultado tem sido, sempre, de adesão da maioria. Através de oficinas, os professores são orientados em como trabalhar. A partir de uma fundamentação teórica referente ao patrimônio histórico material e imaterial, são realizadas atividades práticas de como abordar e escolher, por exemplo, as pessoas da comunidade que irão fornecer as informações; como elaborar as entrevistas; como executá-las – através de visitas ao entrevistado ou trazendo-o à Escola; como elaborar os relatórios das entrevistas; como observar, identificar e analisar objetos e paisagens; como coletar objetos; como fichar os objetos coletados e/ou disponibilizados para a exposição; como higienizar e conservar esse acervo. A essas oficinas, ao longo dos anos, acrescentaram-se outras, entre elas oficinas de história oral, de conservação e limpeza de objetos – técnicas específicas, curso de fotografia, entre outros. 2.3 O Museu de Rua O Museu de Rua é o fator dinamizador imediato das atividades, é o que dá sentido, a curto prazo, a todas as ações: constitui-se no resultado visível, concreto e partilhado com a comunidade, não apenas como uma tarefa escolar, mas como uma ação de construção de um conhecimento coletivo, de revelação e sistematização de uma memória ainda viva, viabilizado através de trabalhos ao longo do semestre ou do ano letivo e que terminam expostos na forma de Museu, em espaço fora da escola. Desde o início (em 2004), trabalhar o Museu de Rua caracteriza-se como uma estratégia em educação patrimonial. Em primeiro lugar, porque o município não tinha museu e pretendia-se preparar e construir com a comunidade o seu museu vivo e dinâmico. Em segundo, por questões metodológicas. Um museu para não ficar engessado na exposição de um acervo permanente, precisa de exposições temporárias. Essas exposições resultam de projetos. Desse modo, metodologicamente, estamos trabalhando, na escola, com projetos. Um projeto implica em definição e delimitação de tema; levantamento de hipóteses; busca de informações – através de entrevistas, pesquisa bibliográfica, pesquisa em documentos, pesquisa na internet; sistematização das informações; levantamento de 248 objetos pertinentes ao tema – com elaboração do inventário dos objetos, registro, higienização e conservação dos mesmos; preparação da exposição – painéis, banners, pastas com informações, folders, etc; organização da exposição – organização do espaço, dos objetos, dos textos; e escala de professores e alunos responsáveis pelo acompanhamento das visitas, durante a exposição. Se subsidiamos o corpo docente com técnicas e metodologias de pesquisa, princípios básicos de museologia e museografia, eles, juntos com seus alunos, e outros voluntários da comunidade, podem tratar de manter o museu não só organizado, mas com permanentes novidades por meio de exposições temporárias. Assim, além do trabalho na escola ser desenvolvido com sentido e significado, porque parte da realidade da criança, esse trabalho tem uma repercussão imediata na comunidade através da ativação do museu local. (SPERB e WERLE, 2004). Já foram realizados onze museus de rua com diversos temas que focam um aspecto da vida e da história econômica, social, cultural e religiosa no município. A partir de 2010, as exposições foram montadas em diversos locais públicos – bancos, casas comerciais, instituições, etc. – sempre bem acolhidos pelas casas e com animadores comentários dos visitantes. Em 2012, estamos trabalhando com o XII Museu, cujo tema é Nossos tesouros humanos. 3. Atividades no Museu O Núcleo Histórico do Parque Histórico Jorge Kuhn constitui-se em espaço original onde, no final do século XIX e na primeira metade do século XX, funcionou uma pequena agroindústria. Embora parcialmente restaurado e musealizado, ainda está em fase de organização e estruturação. Nesse sentido, as atividades de educação patrimonial não têm apenas o objetivo de sensibilizar a criança para o patrimônio histórico, senão de, também, motivá-la como possível colaborador voluntário do museu comunitário. As atividades no Museu desenvolvem-se nas oficinas O Passado no Presente e Encontros com Clio, através de projetos com temas diversos, conforme interesses e demandas. A primeira oficina implica em buscar informações e aprender a fazer objetos antigos: brinquedos e brincadeiras, sabão e sabonete, a pintar imagens sacras, etc. A segunda oficina está mais afeta a museologia. Os alunos aprendem e realizam a identificação, catalogação e registro de objetos do Museu e de propriedades que integram o acervo municipal (tanto propriedades particulares, como públicas). Nesta oficina, o trabalho de educação patrimonial no Museu vai além de atividades lúdicas, de motivação e de sensibilização. Prepara futuros colaboradores voluntários. Apresenta às crianças um museu que está voltado também para fora, para o entorno, para a comunidade e para o patrimônio aí existente e vivo, porque é do Museu que partem as ações de orientação para a preservação e conservação do patrimônio da comunidade. 4. Atividades na comunidade As ações na comunidade têm como objetivo valorizar o patrimônio – edificado, iconográfico e imaterial – no seu sítio original, sem deslocá-lo para o museu oficial ou para uma aldeia construída especialmente para esse fim. Picada Café tem uma igreja histórica, tombada pelo patrimônio histórico municipal, onde, em 2011, foi instalado o Memorial da Fé; várias casas comerciais desativadas nas décadas de 1960 e 1970; uma sapataria; e inúmeras propriedades rurais com todo seu equipamento, incluindo a antiga casa de enxaimel. Esses espaços e esses bens são ocupados e fazem parte da vida cotidiana dos seus proprietários e da comunidade. O trabalho que vem sendo realizado pelo Museu tem sido de apoiar e orientar as pessoas e os proprietários na limpeza, na conservação e no inventário do seu acervo. 5 . Associações de apoio Qualquer proposta com patrimônio histórico, de um museu a monumentos e bairros tombados, tem de pensar a sustentabilidade tanto dos bens, dos espaços e do ambiente, como das populações que vivem e convivem nesses lugares e seus entornos. Buscando 249 uma forma de viabilizar essa sustentabilidade foram, até o momento, criadas duas associações: a Associação de Amigos do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e Ambiental – AAPHACA, e a Cooperativa de Artesanato e Manufatura – Fides Art. Bibliografia BRASIL. Parêmetros Curriculares Nacionais. História e Geografia. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEP, 1997. FREINET, Célestin. Para uma escola do povo. São Paulo: Martins Fontes, 1996. HANSEN, Patrícia Rosina Stoffel. Memória viva e revivida. IN: BALDISSERA, Maria Janete Soligo (org.). Experiências docentes: textos e contextos. Porto Alegre: IPSDB, 2011. SPERB, Angela Tereza. Patrimônio histórico e educação: uma história a ser contada. In: KRONBAUER, Selenir Corrêa Gonçalves; SIMIONATO, Margareth Fadanelli (orgs) Articulando saberes na formação de professores. São Paulo: Paulinas, 2012. SPERB, Angela Tereza; WERLE, Sussana Maria Mallmann (Coords.) Na trilha dos lírios: Escola e comunidade traçam seu futuro através do passado. Picada Café: SMECDT, 2004. VARINE, Hugues de. Les racines du futur: le patrimoine au service du développpement local. Lusigny-sur-Ouche (França): ASDIC, 2005. VARINE, Hugues de. La dynamique du développement local. Le choix du Beaufortain. Lusigny-sur-Ouche (França): ASDIC, 2006. TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA, CULTURA E ECOMUSEU: UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO ESTADO DO PARÁ. Antonio Carlos Ferreira Souza* Flávia Cristina Pagliarini**** Universidade Federal do Pará - BRASIL RESUMO Este trabalho procura integrar os elementos de Turismo de Base Comunitária, Turismo Cultural e ecomuseus, com o objetivo de criar novas possibilidades econômicas, sociais e culturais para as comunidades remanescentes de Quilombolas no estado do Pará. Palavras-chave: Ecomuseu - Turismo de Base Comunitária - Comunidades Quilombolas. RESUMEN En este trabajo se busca integrar los elementos del Turismo de base Comunitario, Turismo Cultural y Ecomuseos con el objetivo de crear nuevas possibilidades a las implicaciones económicas, culturales y sociales a las comunidades de remanente de Quilomboas no estado de Pará. Palabras-Claves: Ecomuseo - Turismo de Base Comunitario - Las Comunidades Quilomboas. * Graduando do 8° semestre do curso de Bacharelado em Turismo – UFPA, Técnico em eventos – IFPA, [email protected] 250 TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA, CULTURA E ECOMUSEU: UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO ESTADO DO PARÁ. A globalização, a facilidade dos fluxos de capital, pessoas e informações tendem a tornar homogênea a variedade cultural das sociedades, acarretando a fortificação da indústria cultural. Esta indústria é capaz de persuadir os meios de comunicação fazendo com que as massas populacionais não criem ou não se importem com o caráter crítico, estabelecendo padrões culturais encenados de acordo com seus interesses. Assim [...] as danças, os ritmos musicais, as festas, as raves, os espetáculos, a produção cinematográfica e televisiva, a moda, as obras de arte, o artesanato, a gastronomia, os valores, os comportamentos e gostos acabam virando mercadorias para serem consumidas de forma rápida e massificadas como qualquer produto. (BARRETO, 2010, p. 262). São esses riscos que corre a diversidade cultural, de perda significativa dos elementos que são permeados por ela. Segundo Santos (2005), antropólogo brasileiro, o homem é produto do meio, um ser coletivo, ou seja, é influenciado por vivências externas, reproduzindo em suas ações aspectos similares os do mesmo grupo em que esteja habituado. Portanto, uma cultura é constituída por produções individuais que são somadas junto das demais produções do grupo tornando-se a característica mais peculiar de um povo. Essa mesma cultura é repassada por gerações através da oralidade; dos mitos e rituais; dos vestígios materiais, entre outras formas de expressão de um determinado grupo social. Para tanto, uma das alternativas de salvaguardar a herança cultural e fortalecer laços de uma sociedade comum, o conhecimento e a utilização do patrimônio cultural é cabível. Dentre diversos patrimônios culturais, é preciso delineá-los em materiais e imateriais. Barreto (2010, p.239), descreve o patrimônio material composto por “[...] elementos ergológicos produzidos pela sociedade, o que inclui todos os tipos de objetos móveis e imóveis e também todas as modalidades de edificações arquitetônicas.”. No que diz respeito ao patrimônio imaterial compreende-se [...] elementos intangíveis da cultura e abarcam os conhecimentos práticos, religiosos, tecnológicos, filosóficos, artísticos e científicos compartilhados pela sociedade, bem como todas as manifestações comportamentais e folclóricas que se expressam em hábitos, costumes, valores, crenças, maneiras de viver, modos de falar, tradições orais, mitos, ritos, festas, danças, músicas, superstições etc.(BARRETO, 2010, p.239) Neste contexto apresenta-se a atividade de turismo cultural para ser um agente que possibilite uma alternativa financeira para determinada comunidade, sendo que a propagação do turismo cultural é imprescindível com o propósito de afirmar a identidade de uma determinada localidade. Para Dias (2009, p. 39), o turismo cultural se enquadra como uma das principais vertentes do turismo, sendo visto como [...] uma segmentação do mercado turístico que incorpora uma variedade de formas culturais, em que se incluem museus, galerias, eventos culturais, festivais, festas, arquitetura, sítios históricos, apresentações artísticas e outras, que, identificadas como uma cultura em particular faz parte de um conjunto que identifica uma 251 comunidade e que atraem os visitantes interessados em conhecer características singulares de outros povos. O contato direto com a comunidade de uma localidade e, por conseguinte, contato com um conjunto de fatos ideológicos, se dá através da junção da cultura material e imaterial, fazendo com que no turismo cultural, o turista anseie conhecer novos costumes, novas produções culturais, diferentes daquelas que está acostumado a presenciar. A procura por esse tipo de turismo ainda é pequena se comparada ao chamado turismo de massa, portanto o turismo cultural é seletivo, na maioria das vezes, quanto a seus adquirentes. Dias (2009, p.36) suplementa apontando esse modelo de turismo como um “[...] contato direto do indivíduo com o seu interesse particular, seja ele em um sítio arqueológico, um museu, um monumento histórico, uma etnia, uma dança, um tipo de artesanato etc.”. É importante salientar o envolvimento da comunidade nas praticas e projetos voltados ao turismo cultural. Primeiramente, o empreendedor da atividade deve realizar a sensibilização dos comunitários através da educação patrimonial, para que eles possam entender e ter controle sobre a economia; o social; o meio ambiente; e o manejo correto dos materiais culturais, fazendo com que a partir deste esclarecimento, entendam como as implicações irão proceder na vida cotidiana. Dessa forma o planejamento da atividade passa a ser participativo, realizando a equidade entre as duas partes – comunidade e empreendedor - compondo uma gestão efetiva e benéfica principalmente para a comunidade local. Esse planejamento irá proporcionar condições de sustentabilidade à comunidade e atenderá o cuidado com o patrimônio cultural. O fato da preocupação acerca da preservação com o patrimônio cultural [...] é uma atitude que está relacionada com a construção e significação de presente, ou seja, com aquilo que a sociedade valoriza hoje como digno de ser conservado como parte de sua memória [...] (BARRETO, 2010, p.239). O Ecomuseu se elabora sobre a somatória do passado, desenrolado até o presente e das ações conjuntas de uma comunidade, podendo esta fazer seu futuro. A vivência da herança cultural, aplicada ao cotidiano e ao zelo pelo ambiente natural em que vivem é aonde se abre a brecha de implementar a atividade de ecomuseu, salientando que a autenticidade construída através de diversas experiências vividas no decorrer dos anos são apontadas como importantes critérios a serem desenvolvidos no projeto destes, aqui tratados como, empreendimentos. Um dos mais importantes componentes dentre os princípios do ecomuseu é a sua relação com o meio ambiente natural e cultural que o rodeia, devendo refletir o desenvolvimento cultural e econômico de uma região, o que lhe dá o caráter regional. (COELHO, 2007). O ecomuseu deve contar com a responsabilidade da própria comunidade, visando antes de tudo o próprio interesse por seus antepassados e pela história de formação do seu povo, assumindo posteriormente, a obrigação de responder pelas ações futuras em conjunto. Desta forma, essa grande coleção de cultura, vestígios predecessores e a junção das expressões de uma comunidade podem utilizar do ecomuseu para fazer valer sua região, história e autenticidade. Contudo, para que o ecomuseu seja mais uma viabilidade econômica para a comunidade, valendo-se da prerrogativa que as assemelham, adapta-se o Turismo de Base Comunitária (TBC) para atrair as pessoas a visitar o espaço. O TBC é aqui aplicado às comunidades sendo um modelo de desenvolvimento turístico, orientado pelos princípios da economia solidária, associativismo, valorização da cultural local, e, principalmente protagonizado pelas comunidades locais (BARTHOLO; SANSOLO e BURSZTYN, 2008), tendo preocupação em sua elaboração o manejo positivo de sua natureza, analisando e adaptando a sua realidade quanto à capacidade de utilização 252 espacial. A importância maior sobre o fato é de que se faz necessário a educação patrimonial dos moradores, para que haja um atendimento das adequações – planejamento e execução - que cada comunidade necessita, como pode ser entendida pela [...] a form of ecotourism where the local community has substantial control over and involvement in, its development and management, and a major proportion of the benefits remain with in the community[...] (WWF apud BARTHOLO; SANSOLO e BURSZTYN, 2008) O foco do estudo é voltado para as comunidades quilombolas que se originaram dos antigos quilombos instituídos no Brasil desde o período da escravização negra. Os quilombos eram locais afastados objetivando manterem-se o mais distante possível dos proprietários de terras e comerciantes. Logo, nesses espaços voltava a se manifestar as produções culturais que em regime de escravidão eram impedidas. Nos quilombos, os negros, assim como outros fugitivos mestiços, passaram a estabelecer relações de sentimento com aquelas terras ocupadas por eles. Deste modo, passando a reintegrar a religiosidade e aspectos culturais. Como toda sociedade é estruturada de acordo com seus precedentes culturais, guardando histórias e tradições de um povo repassadas de gerações em gerações e organizada também conforme padrões estabelecidos por políticas distintas do local, a comunidade quilombola é descendente do quilombo, só que rejuvenescida, pois ocorrem adaptações culturais e políticas no decorrer dos anos. Desta forma, o que é proposto e posteriormente trabalhado nessas comunidades será o que elas possuem de melhor e diferenciado a oferecer, seja de cunho material ou imaterial. A possível ausência de políticas públicas “que promovam alternativas econômicas compatíveis com a diversidade cultural e ambiental capazes de proporcionar o desenvolvimento sustentável das comunidades e de seus territórios" (VOLOCHKO; BATISTA, 2009, p. 53) são um dos principais entraves para o desenvolvimento socioeconômico destas comunidades. A situação dos remanescentes de quilombolas no estado do Pará é alarmante, visto a possível ausência de apoio governamental (referindo-se às políticas públicas) que estas comunidades vêm passando. Então, a integração de uma atividade turística que apresente elementos que valorizem o aspecto cultural – o turismo cultural –, que abranja também a participação efetiva no planejamento e gestão de um empreendimento que pode ser um meio de melhoria para os moradores locais – o turismo de base comunitária –, que divulgue determinados costumes, fazendo com que haja o fortalecimento (entende-se como conservação) dos traços originais de um povo é de extrema importância para as comunidades que são envolvidas no processo, caracterizando-se como uma inovação que pode trazer melhorias significativas para estas. No caso deste debate, as comunidades quilombolas, que aqui são o alvo principal, podem se utilizar destes princípios apresentados pelo ecomuseu, pelo turismo cultural, pelo TBC, com o intuito de fomentarem uma nova ação, uma atividade voltada para os interesses que lhes forem entendidos como importantes (a economia, a cultura, o social) que primem por conservar sua cultura, divulgar fatos e informações pertinentes as suas origens, possibilitam que essas comunidades que passam por necessidades possam estar recebendo esta importante alternativa para seu cotidiano. BIBLIOGRAFIA BARRETO, M. V. Abordando o passado: uma introdução à arqueologia. Belém: PakaTatu, 2010. BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G; BURSZTYN, I. Turismo de base comunitária: diversidades de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008 253 COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural: Cultura e imaginário. São Paulo: Editora Iluminuras, 2007. DIAS, R. Turismo e patrimônio cultural. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. SANTOS, R. J. dos. Antropologia para quem não vai ser antropólogo. São Paulo. Editora: Tomo Editorial, 2005. VOLOCHKO, A; BATISTA, L. E. Saúde nos Quilombos. São Paulo: Instituto de Saúde – GTAE – SESSP, 2009. ECOMUSEU DE SANTA CRUZ, ANSIEDADE COMUNITÁRIA DESENVOLVIMENTO LOCAL Sinvaldo do Nascimento Souza* NOPH – Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz Ecomuseu de Santa Cruz - Rio de Janeiro - BRASIL PELO RÉSUMÉ Deux images, deux moments de la vie de l´écomusée vu de loin. Nous présentons ici nos impressions de ces deux moments: celui de son identification et révelation en 1992, le NOPH ayant déjà presque dix ans d’action communautaire vers le patrimoine, la culture et l’ histoire de Santa Cruz, et l’autre, un image d’ aujourd’ hui que nous pouvons envisager après ces vingt ans de mobilisation socioculturelle. Avec un sentiment plein d’ expectatives et d’ espoir, voilà une Santa Cruz qui s’ inquiète de son développement local. La vocation pédagogique du NOPH de la fondation en1983 jusqu’ à présent montre que l’éducation est la méthode naturelle de l’Écomusée de Santa Cruz et nous pouvons sans doute affirmer qu’ il est né de cette cumplicité, ce partenariat fidèle dont les résultats sont le sentiment d’ appartenance au territoire de Santa Cruz , la responsabilité des habitants pour la défense, la permanence ou la transformation du patrimoine et le désir de participer au développement local. C'est cette manière innovante de muséalisation de la vie communautaire que nous envisageons avec un sentiment d'attente et d'espoir pour l' Ecomusée de Santa Cruz dans les vingt années prochaines. ECOMUSEU DE SANTA CRUZ, ANSIEDADE COMUNITÁRIA DESENVOLVIMENTO LOCAL Sinvaldo do Nascimento Souza* NOPH – Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz Ecomuseu de Santa Cruz - Rio de Janeiro - BRASIL PELO E nesta peleja já se foram vinte anos. Vinte, ou quarenta? Que pontos de vista defendíamos em 1972 ou em 1992, que são iguais ou diferentes das nossas ideias e ideais dos dias de hoje? Até onde os nossos olhares ecomuseológicos poderão alcançar sentimentos de expectativas e de esperanças de uma comunidade autossustentável? No texto com o depoimento que serve como preâmbulo dos “Anais do 1º Encontro Internacional de Ecomuseus”, o professor doutor em Museologia, Mário Moutinho, * Professor de História e Museólogo, Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense; Coordenador de Divulgação do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz – Rio de Janeiro. [email protected] 254 refere-se à Zona Oeste do Rio de Janeiro como “uma terra onde a ânsia frustrada do direito à igualdade se sente a cada instante, em cada olhar e em cada coisa.” i Mas adiante, Moutinho escreveu: “Terra diferente e igual ao mesmo tempo no tardar do reencontro de cada um com os seus, com a memória e com o dia de amanhã”. “Mas, também, terra diferente e igual na luta e na vontade de contrariar o abandono, e que obriga cada um ao seu jeito e no seu ii saber a tomar, a gritar e a provocar a mudança.” Lembro-me muito bem, ainda no segundo dia do 1º Encontro Internacional de Ecomuseus, em maio de 1992, da preocupação e interesse do Mário Moutinho em conhecer de perto um dos conjuntos habitacionais de Santa Cruz e vivenciar as experiências dentro de um CIEP (Centro Integrado de Educação Pública) idealizado por Darcy Ribeiro e implantado no governo Leonel Brizola, aqui no Rio de Janeiro. Visitamos o CIEP Papa João XXIII, e passamos rapidamente pelo Conjunto Habitacional Manguariba, cuja entrada pode ser feita a partir da Avenida Brasil, no percurso entre os bairros de Campo Grande e de Santa Cruz. Penso que Mário Moutinho, a partir das visitas feitas à Santa Cruz e do contato com as lideranças comunitárias da Zona Oeste, soube definir bem aquele momento histórico do 1º Encontro Internacional de Ecomuseus quando, referindo-se a Georges- Henri Rivière, a quem chama de “grande pai e grande mestre da ecomuseologia”, cita: “ele (Rivière) dizia que o ecomuseu é um museu desejado pela população e por um poder, pela população que tem implicações no seu próprio desenvolvimento, e pelo poder que tem os meios que faltam por vezes a esta população.” iii Eram esses os pontos de vista que defendíamos em 1972 e em 1992: Primeiro, a expectativa de organizar as relações do Homem com o Meio Ambiente, tal como proposição da Conferência de Estocolmo. Em segundo lugar, tendo como objetivo fundamental a busca de meios visando conciliar o desenvolvimento socioeconômico, a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra. Para a população de Santa Cruz, - cuja história começa a ser registrada em meados do século XVI, muito embora haja indícios e evidências da ocupação humana, de pelo menos quatro séculos antes da chegada dos portugueses, - tanto os objetivos da Conferência de 1972, como os de 1992, faziam sentido em razão das transformações que se verificavam no bairro, desde princípios da década de 1960, quando a região deixava de ser o chamado “celeiro agrícola do Distrito Federal” e começa o processo de implantação do complexo industrial. Deixando de ser uma região eminentemente rural e transformando-se de forma acelerada em bairro industrializado, Santa Cruz, que foi Fazenda Jesuítica e abrigou uma das residências da Família Real no Rio de Janeiro, tem o seu patrimônio histórico, artístico e arquitetônico dilapidado e sua cartografia urbanística descaracterizada. A partir do início dos anos 70, segmentos da comunidade local começam a se mobilizar em defesa da preservação patrimonial, promovendo campanhas pela restauração do prédio neoclássico conhecido como “Palacete Princesa Isabel”, da Fonte Wallace, do Marco Onze, do Marco da Fazenda Imperial de Santa Cruz e principalmente, da Ponte dos Jesuítas, monumento provido de comportas hidráulicas, construído em 1752, para conter a impetuosidade das águas do Rio Guandu, evitar as frequentes cheias na região e promover a drenagem dos canais e valas da Baixada de Sepetiba. Com base nas palavras de Aloísio Magalhães, diretor do IPHAN nos anos 1970, quando afirma que “A comunidade é a melhor guardiã do seu patrimônio”, alguns líderes do bairro de Santa Cruz resolveram fundar o Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica, o NOPH, em 1983, demarcando a ansiedade da população pelo desenvolvimento local, com a manutenção do que ainda restava do seu patrimônio histórico, artístico e arquitetônico. 255 A criação do Ecomuseu Municipal de Santa Cruz, por decreto assinado pelo então prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, César Maia foi a efetivação do reconhecimento das atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica, o NOPH de Santa Cruz, conforme palavras do secretário de Cultura, escritor Carlos Eduardo Novaes, na apresentação dos Anais do 1º Encontro Internacional quando afirma: “Estes anais, portanto, não se limitam a teorizações em torno do conceito de ecomuseu, mas enriqueceu nossos conhecimentos com o relato de algumas experiências internacionais que estão inspirando a criação do Ecomuseu Municipal de Santa Cruz, a área da Zona Oeste, escolhida na sessão de encerramento para abrigar o projeto iv pioneiro.” Mais adiante, escrevendo sobre as medidas práticas para a consolidação do Ecomuseu de Santa Cruz, com a alocação de recursos financeiros e a assinatura do decreto pelo prefeito, Carlos Eduardo Novaes refere-se explicitamente aos integrantes do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica, o NOPH, acrescentando: “... um punhado de bravos de Santa Cruz já vinha trabalhando para encurtar as distâncias entre a teoria e a prática. Espero que esta nova ideia contagie toda a comunidade local – e se espraie por outras – porque somente com sua participação um ecomuseu fará sentido.” v Observando o desenho que ilustra a capa de um dos exemplares dos Anais do 1º Encontro Internacional de Ecomuseus, onde vejo uma flor brotando do telhado com frontão clássico daquele que seria o museu tradicional e hoje, neste ano 2012, tendo a chance e oportunidade de estar participando do IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários – IV EIEMC, que tem como tema “Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local”, vejo com sentimento de expectativa e de esperança as amplas possibilidades do porvir, com a assinatura do decreto pelo atual prefeito do Rio de Janeiro, demarcando a transferência do Centro Cultural de Santa Cruz para a gestão da Secretaria Municipal de Educação. Da mesma forma que o Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica nasceu a partir das ações educativas, também o Ecomuseu de Santa Cruz, desde a sua implantação, vem fomentando a sua vocação educacional mediante a realização de programas, projetos e ações, envolvendo escolas, colégios, universidades, alunos, professores e educadores, que participam de circuitos integrados, com visitação aos pontos históricos do bairro, bem como de exposições, oficinas de educação patrimonial, parcerias com associações e entidades e mobilização da comunidade em defesa do patrimônio do bairro. É esta forma inovadora de musealização da vida comunitária que vislumbramos com sentimento de expectativa e de esperança para o Ecomuseu de Santa Cruz nos próximos vinte anos. _______________________ i 1º Encontro Internacional de Ecomuseus. Rio de Janeiro, 1992. Anais. Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esporte, 18-23 maio 1992. ii ibidem iii ibidem ESPELHO ONDE SE “REVÊ” E SE DESCOBRE A PRÓPRIA IMAGEM - O MOVIMENTO ECOMUSEU SEPETIBA – DESAFIOS E PERSPECTIVAS Bianca Wild* Bruno Cruz de Almeida** * Bianca Wild – Cientista social/FEUC-FIC/RJ e Especialista em gênero e sexualidade UERJ/ PPGMS ; Articuladora do movimento Ecomuseu Sepetiba - Rio de Janeiro / Diretora de Raça, gênero e etnia da UNEGRO pólo I.A.O/ Sepetiba / Docente SEEDUC RJ - [email protected] 256 Movimento Ecomuseu de Sepetiba - Rio de Janeiro - BRASIL RESUMO O bairro de Sepetiba, localizado na cidade do Rio de Janeiro, vem ao longo de sua história sofrendo mudanças que levaram a um processo de estagnação politica e econômica, provocada, em especial, nos últimos anos, pela dagradação ambiental sofrida, seja pela criação de um distrito industrial no bairro de Santa Cruz e /ou pela criação de um porto na cidade de Itaguaí. O espelho é uma analogia que simboliza um dos eixos de ação do Movimento Ecomuseu de Sepetiba, que é a recuperação da autoestima dos moradores. O ecomuseu surge assim, como um instumento que nos permite reconhecer e redescobrir o que nos dá identidade, mesmo que no presente, o que nos configura não é somente o belo do passado, mas o desejo de transformação, de mudança para um futuro melhor. Nesse processo de três anos, o ecomuseu vem conquistando mais espaço e mobilizando cada vez mais o bairro de Sepetiba. Palavras- chave: Identidade - Memória - Patrimônio - Mobilização RESUMEN: El barrio de Sepetiba, ubicado em la ciudad de Río de Janeiro, tiene al largo de su historia, pasado por cambios que llevaran a cabo un proceso de estagnación política y económica, provocado, en particular, en los últimos años, por el daño ambiental que ha sufrido, sea por la creación de un distrito industrial en el bairro de Santa Cruz y/o la creación de un puerto en la ciudad de Itaguaí. El espejo es una analogía que simboliza uno de los ejes de acción del movimiento ecomuseo de Sepetiba, que es la recuperación de la autoestima de los residentes. El ecomuseo aparece así como un procedimiento que nos permite reconocer y redescubrir lo que nos da identidad, incluso en esto, que no sólo se encuentra en el hermoso pasado, pero el deseo de transformación, el cambio hasta un futuro mejor. En este proceso de 3 años, el ecomuseo está ganando más espacio y movilizando cada vez más el barrio de Sepetiba. Palabras clave: Identidad - Memoria - Patrimonio - Mobilización ESPELHO ONDE SE “REVÊ” E SE DESCOBRE A PRÓPRIA IMAGEMO MOVIMENTO ECOMUSEU SEPETIBA – DESAFIOS E PERSPECTIVAS Introdução O discurso que prioriza o desenvolvimento social já é lugar comum em nossa sociedade, contudo basta um olhar mais aguçado para constatarmos que na maioria das grandes cidades do nosso colossal Brasil nunca há um planejamento adequado de infraestrutura para a população. Desenvolvimento / crescimento não são análogos, e em nosso caso a urbanização desenfreada, a febre industrial, o deslocamento de populações inteiras, principalmente durante o governo Lacerda, dentre outros fatores contribuíram e muito para atual situação da região aqui apresentada, Sepetiba, bairro da cidade do Rio de Janeiro. Identificar esse fenômeno social exige um exame mais aprofundado, entretanto faremos aqui uma breve análise das transformações sociais; das relações de poder envolvidas na questão a ser avaliada. O presente texto tem por escopo oferecer subsídios para a compreensão do fenômeno social que tem sua visibilidade assegurada pelo processo de degradação e preterição ** Bruno Cruz de Almeida – Historiador; Vice-coordenador de divulgação do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz - NOPH e Articulador do movimento Ecomuseu Sepetiba – [email protected] 257 da memória do bairro carioca de Sepetiba, adotando uma postura reflexiva que prima, sobretudo, pelo debate e pela valorização desta localidade. Prevê-se ainda, como base preliminar o teste das teias discursivas nas quais se opera a negação da identidade e dos símbolos dessa localidade que tudo teria para requerer o status de um centro alternativo da cidade do Rio de Janeiro. Um longo caminho a ser trilhado O dia 25 de outubro de 2009 nunca mais será esquecido pelos precursores do Movimento Ecomuseu Sepetiba, pois desencadeou um processo de reconhecimento, uma “redescoberta”. Neste dia o bairro foi presenteado com a sua inclusão no roteiro das I Jornadas de Formação em Museologia Comunitária realizada pela ABREMCAssociação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários, NOPH- Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica/ Ecomuseu de Santa Cruz, e seus parceiros (SMC/ Coord. de Museus, UMCO- Unión de Museos Comunitarios de América, Itaipu Binacional, Grupo Gerdau, 10ª. CRE, UNIRIO, entre outros, através da realização de uma Roda de Lembranças no Centro Comunitário Santo Expedito (Sepetiba). Iniciava-se então o “Movimento Ecomuseu Sepetiba”. O reconhecimento enquanto processo ecomuseológico encaixou-se perfeitamente nas necessidades da comunidade e do meio ambiente da região, pois o Ecomuseu vai além da ecologia, seu conceito é muito mais complexo, o termo está ligado a numerosos outros conceitos como o de território, espaço como objeto de interpretação, reserva ambiental dentre outros, lugar de memória viva. Sepetiba é rica em histórias e memórias, e ainda existem muitos moradores e moradoras interessados em perpetuá-las. Sabendo que o ecomuseu é representativo, ele deve decorrer do território e de sua população, como afirma Hugues de Varine é essencialmente cooperativo, e justamente nesta questão encontra-se o nosso grande desafio, a participação e a mobilização dos habitantes. (VARINE, 2006) Devido a todo o processo de degradação ambiental ocorrido na localidade aqui tratada, famílias inteiras viram-se desamparadas economicamente, pois viviam da pesca, do turismo e de todo o resto de atividades econômicas relacionadas com o meio ambiente, com a baía de Sepetiba. Com a degradação da baía o único meio de subsistência dessas famílias foi-lhes tirado, já não podem viver exclusivamente da pesca, toda a comunidade era voltada para atividades relacionadas ao turismo e a pesca, conseqüentemente dependia das temporadas de veraneio. Há necessidade de um trabalho intenso e ininterrupto para ajudar na recuperação da economia local, da autoestima dos moradores e no desenvolvimento. Nas palavras de Odalice Priosti, o Ecomuseu: “é um espaço de relações entre uma comunidade e seu ambiente natural e cultural, onde se desenvolve, através das ações de iniciativa comunitária, um processo gradativamente consciente e pedagógico de patrimonialização, apropriação e responsabilização dessa comunidade com a transmissão, cuidado e transformação do patrimônio comum e, consequentemente, com a criação do patrimônio do futuro”. (apud: MAGALDI, 2006) O Ecomuseu, ao labutar em favor do desenvolvimento da comunidade, deve levar em conta os problemas e questões colocadas em seu âmago, tratando-os de maneira crítica analítica e estimulando o processo de conscientização, mobilização e a criatividade da população, para isso utilizando as informações do seu passado e presente para que ela venha a pensar o futuro de forma questionadora e esperançosa. Logo “(...) todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje (...). Temos de saber o que fomos, para saber o que seremos”. (FREIRE, 1982, p. 33) Sepetiba foi palco de importantes acontecimentos durante as três principais fases da história do país: Brasil Colônia, Império e República; povoado pelos corajosos índios Tamoios, foi aldeamento jesuítico, cenário da batalha naval contra os holandeses, sua baía e praias serviram de local de desembarque para o quinto do ouro, tráfico do 258 mesmo, tráfico de escravos, de pau-brasil, cenário da luta dos corsários dentre outros muitos acontecimentos. Personagens históricas passaram pelo bairro de Sepetiba e navegaram pela baía reconhecendo sua beleza e tranqüilidade, como D. João VI, D. Pedro I, D. Leopoldina, José Bonifácio, o Visconde de Sepetiba, Jean Baptiste Debret dentre muitos outros; abrigou republicanos e anti-republicanos; foi cenário da tragédia ocorrida durante o período de transição Império/República: o fuzilamento dos marinheiros na Ilha da Pescaria (Ilha dos Marinheiros). Saraus, touradas eram realizados constantemente, as cirandas características da população caiçara local, dentre muitos outros eventos não disseminados ou com sua veracidade ainda não comprovada. A partir de uma série de movimentos, iniciativas individuais e de grupos locais a situação de descaso, “esquecimento” e a consequente desvalorização por parte dos moradores (as) vem se transformando, desde a década de 1990 com ações como os “abraços” simbólicos na praia de Sepetiba, o enterro simbólico da praia etc.,realizados por grupos como o S.O.S Baía de Sepetiba, CORES (Comissão de Revitalização de Sepetiba) etc. Contudo, o descaso das autoridades competentes para com a região é notório. No momento, estão sendo realizadas obras de reabilitação ambiental na praia de Sepetiba, uma pequena extensão da praia de Sepetiba foi aterrada por mantas de geotêxtil e areia, entretanto Sepetiba possui outras duas praias, a do Recôncavo ou Dona Luíza e a praia do Cardo, onde nada está sendo realizado. A roda de lembranças e a comemoração do aniversário do bairro que havia sido esquecida desde o inicio da década de 1990, voltando a ser realizada no ano de 2008 despertaram de certa forma um orgulho que havia adormecido nos moradores (as) do local, pois a partir deste ano foram expostas fotografias antigas, textos, livros sobre o bairro, matérias de jornais antigos etc., que possibilitaram aos novos moradores a “descoberta” do seu bairro e aos antigos a “redescoberta”. Quando fazemos a analogia ao espelho, podemos ser mal compreendidos, principalmente em uma localidade comprometida, com sua paisagem “desfigurada” e degradada§§§§§§§§§§§ como Sepetiba, entretanto de forma alguma pretendemos culpabilizar os moradores: o que ocorre neste local é conseqüência de todo um sistema, de uma divisão da cidade que vem se configurando há muito tempo, desde a primeira república, a divisão das regiões da cidade, dos bairros mostra os seus objetivos- separar a população e priorizar determinadas regiões / localidades. Pouco se sabe e pouco se deseja saber sobre as relações de poder que estão na base da dialética da exclusão, como algumas localidades foram de fato excluídas e quais foram as lutas, ainda longe de serem concluídas, que nos trouxeram até esse momento, no qual, pelo menos tais lutas tornaram-se verdadeiras. Como dito anteriormente, a realização de uma oficina durante a I Jornada de Formação em Museologia Comunitária despertou nos moradores do bairro a necessidade de organizar e orientar o seu desenvolvimento com participação democrática, usando a “ferramenta” Ecomuseu. Isso nos gera novas questões que remetem ao tema deste encontro. Como permitir que quem deseja participar ativamente do processo do nosso Ecomuseu, realize essa §§§§§§§§§§§ Para entendermos como as modificações na paisagem natural deste bairro, os reflexos desse crescimento e “desenvolvimento” influenciaram na vida, na construção das identidades dos moradores (as), na autoestima etc. precisamos entender a paisagem enquanto patrimônio e alguns conceitos básicos como o de lugar enquanto espaço onde vivenciamos nossas experiências e o de paisagem, que pode mostrar como se organizou uma sociedade em um determinado momento histórico, ao longo dos anos de sua existência. “A paisagem não é boa, nem má, e sim um reflexo, e faz parte do ambiente cultural (cultura vivapaisagem / gestão coerente da paisagem).” O objetivo de qualidade paisagística deve ser formulado pelas autoridades competentes, não se deixando de levar em consideração a responsabilidade e a participação da comunidade nesse procedimento. (...) a coletividade, a interação na gestão, criação e elaboração de programas de desenvolvimento é imprescindível (indústria/empresa intervenções sobre os domínios para o desenvolvimento a partir de uma ação conjunta). ”(Anotações pessoais da conferência: Comunidade, Patrimônio, Paisagem e Desenvolvimento Local - ministrada por Hugues de Varine, no Colóquio: Comunidade, Indústria e Desenvolvimento Local – O Diálogo Possível - Santa Cruz / Rio de Janeiro, 2011). 259 atividade da melhor maneira possível? A resposta mais assertiva é a Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local em Sepetiba. Nestes quase três anos, nos encontramos em um processo de envolvimento comunitário, ou seja, tentando abranger a comunidade como um todo; o Movimento Ecomuseu Sepetiba vem realizando uma série de atividades que, em primeiro momento, motiva e reune um grupo de pessoas que buscam liderar, ou melhor, facilitar esse processo ecomuseológico. Mas trata-se de um processo lento e difícil, gradual, a população local é habituada com politicagem e espera imediatismo, o que em um processo ecomuseal não é possível. Nesse contexto, estamos estudando e adaptando à nossa realidade as técnicas aprendidas aqui no Brasil e em outros países, em especial, com a experiência mexicana, que nos permitem avançar mais no processo de sensibilizar e despertar nos moradores o sentimento de pertencimento, elemento fundamental para uma participação comunitária efetiva. A nossa perspectiva para a capacitação de nossos atores está focada no diálogo com as diversas instituições do bairro, onde nos preocupamos em aumentar a rede de participantes e na elaboração de um plano de trabalho anual com a realização de oficinas sobre museologia comunitária, participação e liderança comunitária, aprofundamento nos conhecimentos do território e da história local, para que esse grupo possa mobilizar de maneira dinâmica, a comunidade do bairro de sepetiba. Referências bibliográficas: FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez Editora, 1982. ____________Educação como Prática de Liberdade. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. _____________Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários a Prática Educativa. 33 ed. São Paulo. Paz e Terra, 1996. MAGALDI, Monique Batista. O Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro de Santa Cruz: Estrutura e Propostas. 2006. Disponível em:<http://www.unirio.br/jovemmuseologia/documentos/1/entrevistamonique.pdf VARINE, Hugues. O Museu Comunitário é Herético?. Trad. O.M.P. Quarteirão, Rio de Janeiro, Abr, p.12, 2006. 260 NARRATIVAS POPULARES 261 VI. NARRATIVAS POPULARES ECOMUSEU DA AMAZÔNIA José Maria Andrade Filho - O poeta da ilha Ecomuseu da Amazônia I O Ecomuseu é uma ideia diferente. O Ecomuseu chegou pra ficar. Em 2012 Belém vai se transformar em território do Ecomuseu no Pará. II O mundo está em movimento. Onde tudo isso vai ficar? É Preciso fazer um grande reflexão vem pra Belém do Pará! III No IV Encontro de Ecomuseus queremos contigo compartilhar. O que estamos produzindo Na capacitação popular. IV O Ecomuseu da Amazônia Está querendo aparecer. Mostrar ao mundo inteiro o que tem pra oferecer. V Vem conhecer nosso trabalho. O relato do nosso viver. Povo de Cotijuba, Icoaraci, Caratateua e Mosqueiro: O que nosso Ecomuseu vai dizer? José Maria Andrade Filho O poeta da ilha 23/03/2012 MEMÓRIAS DE VIDA - DEPOIMENTO AO ECOMUSEU DA SERRA DE OURO PRETO Margarida Maria Barboza dos Anjos Ecomuseu da Serra de Ouro Preto - Minas Gerais - BRASIL *Margarida Maria Barboza dos Anjos - graduada em Filosofia/UFOP - Equipe Comunitária, Morro de Santana, OP, depoimento para a Revista de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto, em 9/9/2009. Tendo em sua essência, uma nova definição de museu, qual seja, de um museu aberto onde as “peças” são expostas em seu meio, em seu local de origem, o Ecomuseu da Serra de Ouro Preto, vem nos propor a valorização da história e da vida de nossas comunidades, resgatando o que temos de mais rico: nossa cultura local, 262 permeada de lendas, “causos”, pessoas e histórias. Desse modo, segue propondo um repensar da história, valorizando não o que está em uma sala para visitação, mas sim o que está na comunidade, “ecoando” onde quer que o povo esteja. *Depoimento sobre as bonecas de Dona Maria Glicéria, sua mãe, 2009. Grande pensador do desenvolvimento infantil, Vygotsky, nos legou a teoria de que é brincando que se aprende, pois o brincar, torna possível à criança, transformar em ato o conhecimento que ela tem potência. Acredito nessa teoria e na importância do brincar para a formação da pessoa. Em minha infância, o que eu mais fazia era brincar, correr pelo quintal entre as árvores com minhas irmãs, fazer “cozinhadinha”, pular amarelinha e tantas outras brincadeiras que fizeram parte de uma infância feliz e inesquecível. Entretanto não tínhamos brinquedos! Bem, falo dos brinquedos industrializados, que nossos pais não podiam comprar, pois tínhamos brinquedos maravilhosos: pé de lata (que minha irmã chamava de “theng-thong”), três Marias (ou “belisca”), bolinhas de gude, bola de meia, corda de pular, etc. e as inesquecíveis bonecas de pano feitas por mamãe. Essas lindas bonecas alegravam nossas vidas; com elas inventávamos mil histórias; éramos mães atarefadas cuidando de seus filhos; professoras dando aulas para sua turma; médicas cuidando de seus pacientes, enfermeiras fazendo curativos, benzedeiras fazendo simpatias, enfim, com as bonecas de pano a nossa imaginação viajava! NARRATIVAS DO PIRAQUARA – SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP Doris Bonini 1 - Mestre Paizinho Ele é o Mestre da “Companhia de Moçambique Unidos a São Benedito do Parque Bandeirantes de Taubaté”. Tradição herdada do avô há 65 anos e que era descendente de escravos. Durante a entrevista ele conquistou a todos com seu jeito simples e carismático e nos relatou os conselhos que recebeu de seu pai: “Filho, esteja você onde estiver nunca deixe a vaidade ou a ambição falar acima daquilo que você não é, porque se você deixar isso acontecer então todo aquele ensinamento, a sua identidade, você vai estar jogando “pros lixos”. Então seja você mesmo, tanto numa escola rica ou numa escola simples.” Num determinado ano o pai lhe disse que ele seria o Mestre da Companhia de Moçambique. Mestre Paizinho disse ao pai que não daria certo ele cantar como Mestre porque iria ficar nervoso e “gaguejar”. O pai lhe respondeu: “Filho, basta cantar com o coração.” E então ele nunca mais parou de cantar como Mestre. 2 - O Sumiço das Assombrações Em minhas pesquisas costumo perguntar para as pessoas se elas conhecem historias de assombração, mula sem cabeça, lobisomem etc... Certa vez obtive esta resposta: “antigamente tinha tudo isso aqui em São José dos Campos. Tinha corpo seco, mula sem cabeça e lobisomen.... mas depois que a luz elétrica chegou eles sumiram tudo” (relato de C.R.) 3 - Semana Santa "Eu me lembro... para a gente que era pequena, em São José dos Campos, a Semana Santa era uma eternidade.” (Fátima do Benê) 4 - D. Lili Figuereira “Primavera vem só uma vez no ano... e o amor vem só uma vez na vida.” 5 - Somos Todos Piraquara 263 "Toda pessoa que chega em São José dos Campos, abre um chuveiro e toma uma ducha, está sendo “batizada” com a água do “Rio Paraíba do Sul”... e neste momento ela vira um “Piraquara.” (Elder Prata) 6 - O Mundo Mágico de Mara Entrevistei Mara que é faxineira no Piraquara. O objetivo da entrevista era localizar um antigo túnel da região, porem conforme a entrevista transcorreu descobri que o mundo de Mara era mágico, repleto de seres especiais. Abaixo trechos da entrevista. “Em determinado momento da entrevista Mara nos pergunta: Com quem você aprendeu Ciranda Cirandinha ? Ah ! Se você soubesse quem cantou pra mim essa musica a primeira vez quando eu tinha 5 anos e que me ensinou a brincar de roda....aqueles bichinhos que tem pé de cabrito, tem dois chifrinhos e são peludinhos...juro! Quando eu tinha 5 anos eles iam na minha casa. Eles são chamados de faunos. Quando eu vi passar aquelas coisas sobre “Nárnia” eu disse: nossa ! Eu vi eles quando eu era pequena. Eu disse pros meus filhos: eles brincavam comigo quando minha mãe ia pro serviço lá na Tecelagem e me deixava sozinha. Eles apareciam... eu via eles, e eles brincavam comigo. E precisa ver que belezinha que eles eram! Não tinha medo deles, mas depois que eu fui crescendo e minha mãe brigava eu fiquei com medo. Eles brincavam comigo e me ensinaram “Ciranda Cirandinha”. Eu conversava normalmente com eles e sempre quando estava na hora da minha mãe voltar eles brincavam comigo. Não é só no “Nárnia” que eles contam essa historia. Eu vi realmente os “faunos” quando eu tinha 5 anos.” “... O meu vô era escravo. Minha avó criou meu vô e casou com ele... Na senzala era assim: ficavam todos os pretos no mesmo lugar e ai para eles não passarem frio eles faziam uma fogueira no centro e dormia um assim abraçado com outro. Dava dó do meu vô! Meu vô sempre contava.” Se Existe Está Na Net “Eu não sei... mas minha prima viu. Entra na NET... coisa de espiritismo! Meu filho entrou... eu contei pra meu filho. Ai meu filho falou: mãe... se ela existe esta na NET ...” *Mara se refere a incredulidade do filho em relação a “Mãe do Ouro”. “... quando você reza uma oração você tem de falar : Amém, Jesus, Graças a Deus! Esse é o segredo da oração, entendeu? Porque você esta oferecendo pra Deus. Agora se você falar só “ Amém” você esta oferecendo para o mal, porque ele também fala Amém. Agora se você fala “Amém Jesus, Graças a Deus” você esta oferecendo pra Jesus, que derramou o sangue dele na cruz por nós, e a Deus, o Pai dele que é o Criador de tudo.” 7 - Reza para Chover de Mansinho “...quando tiver nuvem pesada, não é qualquer chuvinha não, para se proteger reze o “Pai Nosso” primeiro e depois essa oração: “Ao ver Jesus a tempestade cessa. Ao ver Jesus as lagrimas se vão. Ele transforma sua vida, iluminando a negra escuridão” Pode fazer e esperar com fé que as nuvens vão branqueando, vai subindo e subindo e se espalham. Daí vem a chuva, mas chuva mansa” 264 (Altêmia - de São Luis do Paraitinga) 8 - Diversos * “A tradição e o folclore estão no quintal da nossa casa e a gente não vê” (Benê) * “Você sabe por que hoje em dia quase não tem mais lobisomem? É porque as mulheres tem menos filhos...” (Benê) * Segundo a lenda, o lobisomem é o 7o filho de uma família de 6 homens. * “Amigos veem e se vão, inimigos se acumulam” Frase em um caminhão visto abril 2012 (CYI 7793). 9 - Caipira Piraquara “Sou caipira, Piraquara, Das margens do Paraíba do Sul, Sou de São José dos Campos, Sou da América do Sul. Terra de índios e peixes, Imigrantes, tem também! Os Paulistas e os Mineiros, Se sentem aqui muito bem. Danças, batuques, tradição, Tem viola, tem sanfona e coração! Se você quer ser feliz, Vem pro Piraquara também!” Dóris Bonini Pampanelli A PARTEIRA DA ILHA Dalvina de Almeida Brum***** ******Entrevista concedida para a Tese de Doutorado denominada “Proposta de um turismo sustentável para a comunidade da Ilha de Cotijuba, município de Belém-Pará-BR, a partir da valorização do patrimônio cultural”, defendida em fevereiro de 2012, por Maria Terezinha Resende Martins. - Dona Dalvina fala um pouco da trajetória de sua vida, do seu tempo de infância, do saudosismo do período em que chegou em Cotijuba: A minha infância: eu morei com a minha avó eu e minha mãe, todos moramos com a minha avó né?, que era a mãe dela, ai de lá eu fui quando foi com 10 anos né?, eu fui, a minha avó, não me deu, me colocou lá na Casa Chama né? com a Dona Mariana, ai eu morei lá muito tempo, com 15 anos eu vim pra cá ai depois fui pra Icoarací que eu tinha que estudar aqui não tinha né?, ai fui pra Icoarací, passei uma parte da minha mocidade lá né? ai com 18 anos pra 19 anos eu fui morar pra Cotijuba com a minha mãe né?, ai eu vim pra morar, a gente...aqui a vida era pescar, era vender camarão, era juntar bacurí, piquiá vender aqui com o pessoal, trocar por farinha por que a gente não tinha condição né?, criar galinha, criar porco, trabalhar na roça, trabalhei muito na roça com a minha avó e minha mãe, plantando arroz, cortando arroz, nesse tempo dizer corta arroz né? cortando arroz, chegava de lá a gente ai socar o arroz no pilão, tirar pra fazer o mingau ou pra comer (...) nesse tempo bem dizer não é como agora, tudo que a gente come é com arroz né? A vida era também fazer a farinha, tirar tapioca, tirar tucupi, eu lá no meio com eles ajudando também né? - Neste novo endereço envolveu-se com várias atividades, dentre elas, ser parteira na Ilha de Cotijuba: 265 …Fui vendo, outras parteira eu ia, ia por curiosidade né, ai eu digo, naquele tempo, a gente esquentava a mulher, sentava na...virava a mulher de lado, sentava em cima, que diziam que é pra fechar né? e foi, foi...assim a gente foi e as outra. Fui aprendendo ai como era, ai tá, já era parteira comunitária, foi o tempo que veio essa inscrição pra cá pra Unidade. Quanto ao parto em casa, a mãe nunca morreu, e nem a criança era assim, era em casa mas...era na esteira, não tinha luva era o algodão né?, não tinha que nem agora é...a vaselina, era a banha de galinha ou era amêndoas doce que a gente usava, quando eu vim pra cá, já que fizeram a inscrição que eu fui chamada no posto de Saúde, ai comecei a fazer parto, mas eu não fiz um parto por que não ia me arriscar não tinha médico, mas a menina veio de pé, veio de pé a criança, quando ela veio me chamar, eu tava em casa, vieram me chamar eu fui pra lá, ai digo “olha filha quando dê a dor ai a gente coisa, (..)” ai veio só assim o calcanhar da criança, só o calcanhar né? que veio, ai tornou a dar, ai veio só o pé, só uma banda do pé, a criança tava de pé, ai eu fiquei me apavorei ai chamei a mãe dela, o marido dela e falei, que ali não dava pra fazer nada tinha que levar pro outro lado, não tinha lancha, fomo num pôpô-pô mesmo né?... uma criança de pé?... ai quando a mulher teve um filho dentro de um caminhão da polícia, fui buscar a mulher tava com dor, deu a dor no meio da viagem, a mulher não dava mais pra andar, vieram me buscar, ai eu fui de novo pra lá, cortei o imbigo do muleque tudo dentro do caminhão, ajeitei tudo lá depois carreguemo pra casa do vizinho, o menino já ta rapaz; - Dona Dalvina recebe menção honrosa da Prefeitura Municipal de Belém-PMB como reconhecimento pela sua profissão de PARTEIRA: “menção honrosa, prefeitura municipal de Belém, confere a Dona Dalvina de Almeida Brum, menção honrosa, em reconhecimento a incansável dedicação no desenvolvimento de sua missão, junto a cidade de Belém, em especial a ilha de Cotijuba e áreas adjacentes, contribuindo de forma imperativa na construção da metrópole da Amazônia”. - A parteira acrescenta o seu pensamento sobre o turismo na ilha: Olha a minha opinião é que aumentasse mais né? É por que quanto mais, mais resolveria o problema de renda. É mais renda pra gente… MEMÓRIAS DE VIDA - DEPOIMENTO AO ECOMUSEU DA SERRA DE OURO PRETO Dona Jandira Ecomuseu da Serra de Ouro Preto - Minas Gerais - BRASIL Trecho do depoimento da Srª Jandira, na época com 81 anos de idade, moradora do Morro de Santana, ao Projeto Memória de Vida, em julho de 2007: MV - A senhora pode contar um pouco pra gente a sua história? A senhora mora aqui há quanto tempo? Dona Jandira - Desde que nasci, tenho 81 anos. Minha família toda é daqui do Morro do Santana. Meu pai é do Morro São Sebastião e minha mãe é daqui do Morro do Santana, e sua família toda, todos os antepassados dela é daqui do Morro do Santana. Só que naquela época quase não tinha casa. Aqui era assim, umas casas salteadas, os vizinhos eram muito distantes, mas todo mundo era família, não tinha ninguém estranho aqui nesse lugar não né. Mas, as casas todas eram feitas de cangas, pau-a-pique. A da minha mãe mesmo foi feita de pau-a-pique forrada de esteira de chão batido. A minha mãe era muito caprichosa, a gente ia lá pra fora, a casa assim de chão, ela varria, ficava limpinho, e ela já dizia – “Aqui, vocês trata de limpar o pé, porque eu já varri aqui e vocês não tem que sujar mais não!”. Quer dizer, era de chão, de terra, mas era tudo limpinho. Ela era caprichosa mesmo. E a casa da minha avó já era toda de pedra por fora, por dentro não, era de pau-a-pique. Tijolo era muito difícil né? Conseguir fazer casa de tijolo naquela época. 266 RUA FELIPE CARDOSO Célio de Oliveira Ferreira Todo bairro tem sua via principal: o meu também é igual. “Me encontre na Felipe” parece frase banal, mas pra quem lá nasceu, não é assim tão natural. Sempre fui orgulhoso da Felipe Cardoso. Era moderna, com todo o trajeto asfaltado, já possuindo mão e contramão separadas por canteiros arborizados. Da Estação à capela de Nossa Senhora da Glória – uns três quilômetros mais um pedaço – havia casas, escolas, um comércio escasso que supria as pequenas necessidades, imaginava eu, e o “Solar dos Araújo”, prédio repleto de história. As procissões só engrossavam quando por ela passavam. E eu sorria vendo as moças indo e vindo, se mostrando para os rapazes nas calçadas: dali surgiram amores e casamentos. As festividades e os acontecimentos só na Felipe adquiriam porte de grande evento, até mesmo a Parada de Sete de Setembro. No carnaval, a sua festa maior, ficava enfeitada de coretos e de fantasias. De domingo à quarta-feira, somente o Centro da cidade e Madureira a ela se comparavam, em grandeza e em alegria. Desfilavam tantos blocos e escolas de samba, de Santa Cruz e suas cercanias, que a premiação difícil se fazia. Os assuntos se resolviam naquela rua, desde negócios a namoricos, debaixo de sol ou da lua. Nela aprendi a perder, a ganhar e num futuro melhor sonhar. Sofisticada, agora, pousa de senhorita a charmosa senhora. Será que a gratidão cai no esquecimento? Não é o meu caso, tive infância feliz . Hoje te reverencio e me penitencio pelos desencontros. São teus estes nobres sentimentos: saudade, agradecimento. De repente, o telefone toca. Alô! Tô com saudade de você! A gente precisa se ver! Tá legal, vou sim: “Me encontre na Felipe”. FONTE: Quarteirão 94- 2011 267 POESIA PARA O ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Durval França, o Poeta do Acaso Poesia para o Ecomuseu Ecomuseu no Por-do-Sol Ecoa o canto na Amazônia Cores e alegria como girassol Arte e encanto em harmonia Canta o canto que vem do poema Brame o vento e na tua face beija Recebe o Sol como se fosse um lema Respingo da baia na praça deita Últimos suspiros do ano Mar, baía, Sol, encanto Vento que na face afaga Energia, amor que não se apaga Ecoa esse canto ambiental Desliza pelo Mar como nau Dissipa esta alegria ao vento Ano sai e ano entra Amaremos este encontro Em cada doce momento Durval França, o Poeta do Acaso (em 30/12/2011). CONFEITEIRO DE D. PEDRO II FAZ 100 ANOS E FALA DO PASSADO* Jorge França - Quando o Imperador Pedro II soube que a República havia sido proclamada, e que o barão de Rio Claro, estando a par do que se passava na capital do Império, deixou de avisá-lo porque o Doutor Mota Maia, médico da Corte, não permitiu, ficou indignado. Este fato foi relembrado, sábado, por Maneco Basílio, ao completar o seu centenário de vida. Manuel Basílio dos Santos, o Maneco Basílio, como é conhecido em Santa Cruz, exerceu as funções até o último dia do Império, de confeiteiro oficial da Corte. D. Pedro se deliciava com seus fios-de-ovos e - segundo afirma-ninguém fazia um melhor pudim de laranjas que ele. Por isso, sempre acompanhava a família imperial, aonde quer ela fosse. Sábado, em companhia dos seus numerosos descendentes comemorou os seus cem anos de vida. Maneco Basílio mostra-se ainda perfeitamente lúcido, caminha com desenvoltura, freqüenta as rinhas de galos em Santa Cruz, é capaz até de pronunciar um discurso, conforme demonstrou ao agradecer a homenagem prestada pela esposa,seis filhos, 29 netos, 14 bisnetos e um trineto, além de numerosos amigos. Reminiscências Maneco Basílio vive hoje das reminiscências. É Capaz de contar com todos os detalhes, fatos ocorridos desde meados do século passado. Quando o repórter pede 268 para que lhe relate as últimas 24 horas vividas por D. Pedro II, em Petrópolis, não hesita: - Quando o major do II Regimento de Infantaria comunicou ao Imperador que ele não era mais o governante do Brasil, d. Pedro II nada disse, ouviu a comunicação calado. Sua contrariedade só veio mais tarde, ao saber que o barão de Rio Claro havia ido a Petrópolis para lhe dar conhecimento da conspiração na capital e não tinha podido lhe falar porque o médico Mota Maia não permitiu. - Aí, sim, o Imperador se aborreceu. Afirmava a todos que se tivesse sabido da conspiração com antecedência teria prendido os subversivos. Em seguida, Maneco Basílio fala da última vez que viu o imperador: - Era exatamente 3h 50m da madrugada de 16 de novembro de 1889, quando o imperador deixou o palácio e embarcou em sua “galeota”. Estava triste. Todas as pessoas do palácio foram até a porta para se despedir de d. Pedro. Eu não imaginava que aquela seria a última vez que o veria. - Depois da partida da família imperial – é ainda Maneco Basílio quem diz – os cadetes do II Regimento de Infantaria invadiram a despensa do palácio. Comeram todos os doces e bolos, beberam o vinho da adega e quebraram o que puderam. E se alguém tentava embargar-lhe os passos, gritavam: -“As coisas mudaram. Agora mandamos nós”. O confeiteiro do imperador lembra que os cadetes tinham muita mágoa, porque D. Pedro mandava que só ele servisse doces e vinhos aos oficiais. Quem é O confeiteiro do imperador é descendente direto do conde de Itaguaí, nasceu em Campos, Estado do Rio a 08 de outubro de 1866. Depois da Proclamação da República, radicou-se em Santa Cruz, onde se casou pela primeira vez, não tendo nenhum filho do primeiro matrimônio. Enviuvou e pela segunda vez, contraiu matrimônio, tendo então um filho. Dona Dolores Santos é sua terceira esposa. Deste casamento tem cinco filhos. Maneco Basílio é filho natural de Manuel Basílio do Espírito Santo e de Florinda Antônio dos Santos. Seu pai gozava de boa posição na sociedade da época. Um mês após a República, Maneco Basílio desceu de Petrópolis para residir em Santa Cruz, onde se empregou no matadouro. Até 1918, trabalhou no abatedouro municipal, passando depois para a fiscalização da Prefeitura. Muitos acreditaram que no novo cargo enriqueceria, pois poucos passaram por ele sem sair pelo menos remediados. Maneco Basílio não. Aposentou-se em 1932, mais pobre que tinha entrado. Mora hoje numa modesta casa alugada na Rua do Império, 62 (o nome é pura coincidência). Passatempo Até os 86 anos de idade, Maneco Basílio ainda caçava pelas serras próximas de Santa Cruz e Itaguaí. Depois aposentou também a espingarda. O deputado Cesário de Melo, que era o seu companheiro de caçadas, afirma que Maneco tinha uma pontaria de fazer inveja a muitos jovens. Aí então Maneco não gosta: - Tinha, não, tenho. E lhe desafio para ver quem é melhor atirador. Mas hoje Maneco Basílio não caça mais, seu passatempo preferido é criar galos de briga. Segundo o deputado Cesário de Melo, Maneco Basílio foi, em sua época, um dos melhores bailarinos de Santa Cruz. Não havia baile em que ele não estivesse presente – de casaca e tudo- dando seus volteios. - Além de dançarino- diz o deputado – Maneco era um dos maiores conquistadores da região. Deve ter uns cem filhos perdidos por aí. - Ora, Zé Antônio – ( Zé Antônio é como ele trata o parlamentar) – mulher não faz mal a ninguém. Já as tive e muitas. Quanto aos filhos, fica por conta de você. 269 NOTA: Nem todo santacruzense sabe, mas aqui em nosso bairro morou o último confeiteiro do Império. Chamava-se Manuel Basílio dos Santos, o Maneco Basílio, e morou durante muitos anos até o fim de sua vida na Rua do Império, 62. Reproduzimos a matéria transcrita do Jornal A Tribuna da Imprensa, de 10/10 / 1966, de autoria de JORGE FRANÇA, pelo conteúdo histórico e pela referência em suas memórias a uma Santa Cruz do século passado, página histórica trazida por um de seus netos e atual Coordenador de Assuntos Financeiros do NOPH, Rubens dos Santos Cardoso. Fonte: Republicado no Jornal Quarteirão nº 77, 2008. PERFIS DE OUTRORA Regina Célia dos Santos Gonçalves França D. Totinha, D.Dadinha, D. Neném, D. Senhora – Esses carinhosos e simpáticos apelidos eram muito comuns na minha infância e nomeavam aquelas senhoras gordinhas, normalmente baixinhas, porque assim era o biótipo da época. Portavam o cabelo preso na nuca em forma de austeros coques e usavam vestido tubinho ou duas peças, com discretas mangas ¾. Esse era, também, o perfil de vovó. Diferentemente de outros apelidos, todos a chamavam assim: “D. Senhora”. Segundo ela, a engrandecedora denominação tivera origem na infância, quando pedia colo aos adultos: “- Dá colo a senhora.” E assim, ficou D. Senhora. Se viva fosse, vovó estaria hoje com 122 anos. Saudades de D. Senhora! Com mais de oitenta anos, não era raro chegar, altas horas da noite, um pratinho de siris, ainda quentinhos, presente de D. Maria do Sr. Luís, para vovó degustar. E como apreciava esses petiscos, inclusive jacaré! Na verdade, todos esses mimos com que os vizinhos a afagavam não eram somente por sua avançada idade. Vovó era uma conselheira para todos. Éramos muito pobres, mas muito felizes na nossa simplicidade. Era um tempo em que ser era mais importante que ter. Visitada como era regularmente, vovó também tinha seus percalços. Certa vez, fora chamada de “velha alcoviteira” por uma vizinha, nova nas redondezas, ciumenta do prestígio da velha matriarca. Usando daquele seu modo característico (sequer nunca dissera um palavrão), ela só fez abanar a cabeça e comentar, usando seu bordão: Qual! Escutei e não respondi fu nem funé. Nem com a boca, nem com a b...” Sábia, para tudo vovó tinha um ditado. Na verdade, era um poço de saber popular, numa época em que as mulheres pouca ou nenhuma instrução possuíam. Não era raro vê-la, ralhando com um neto, fazendo uso do seu “Gato ruivo do que usa cuida”; sendo previdente em “Quem vai ao mar se avia em terra”; sábia no seu “Bem tolo é quem cuida, mais tolo é quem cuidou quem pensou que me enganava mais enganado ficou.”; determinante , ao me ver fazendo e refazendo um trabalho de Artes em “O diabo tanto consertou o olho do filho que até acabou escangalhando”; filosofando acerca da embriaguez em “Se vento não venta,se mar não urra, que tanto me empurra?” ou ainda o seu “Viste fogo, lingüiça”, reportando- se a coisas feitas sem cuidado ou atabalhoadamente, além das historinhas que nos contava acerca dos ditados como por exemplo”Vivendo e aprendendo”ou “Morrendo e aprendendo” para justificar que se aprende até a morte ou o famoso “Toca o enterro”, uma desculpa esfarrapada à preguiça ou ao ócio, conforme descrevo abaixo: a) Morrendo e aprendendo Um homem estava moribundo e todos esperavam pelo momento final e era de praxe, naquela época, colocar-se uma vela na mão das pessoas que partiam para a vida espiritual, com o objetivo de iluminar seu caminho. Não tendo uma vela em casa, descobriram uma acha de lenha, ainda acesa, no fogão e a colocaram rapidamente na mão da criatura que expirava e dizia “Morrendo e aprendendo”. 270 b) Toca o enterro Um homem muito preguiçoso desfaleceu de fome em sua rede, porque não gostava de trabalhar. Como achassem que houvesse morrido, as pessoas a sua volta providenciaram o sepultamento. De repente, no velório, a criatura voltou a si e pediu algo para comer. Como não tivessem nada para oferecer, deram-lhe uma banana. Diante da dita cuja, a preguiça do infeliz falou mais alto: “Tem que descascar? Então, toca o enterro.” Todo esse aprendizado me foi passado pela minha avó, não aprendi em bancos escolares. Durante todo o tempo em que com ela convivi, aprendi muito. Para cada situação de vida, ela nos brindava com gotas de sabedoria popular. Lamento não ter tido, na época, amadurecimento suficiente para amealhar todo aquele tesouro que ficou perdido na memória do tempo. Obrigada por tudo, vovó! Fonte: Quarteirão 58 – 2004 LIMPEZA COM DIFICULDADE Fabíola Inês Kuhn Museu Comunitário de Percurso Picada Café – RS Antigamente na colônia de Picada Café, como não havia bombril, era usada cinza para dar brilho as panelas, talheres, etc... Molhava-se um paninho, colocava-se nas cinzas e esfregava-se o objeto com todo capricho. O sabão também era feito em casa, com soda, sebo e água, depois se mexia até endurecer, deixava-se esfriar e cortava-se o sabão. Este era usado para lavar a roupa, a louça e tomar banho. Para a roupa ficar branca, ferviam sabão, água e cinzas. Geralmente não havia tanque para lavar roupa, lavavam ou em rios e arroios ou pegavam água da fonte e lavavam em bacias. Era uma dificuldade. Em época de Kerb escovava-se o assoalho com soda e água até que ficasse branco. Isso para que as visitas vissem que a família era caprichosa na limpeza. E a dona de casa ficava muito orgulhosa do trabalho feito. NATURARTT “a natureza em evidência” Wildinei Lima ************ EXTRAÇÃO CONSCIENTE Passo boa parte do tempo confeccionando produtos artesanais a partir de materiais encontrados na natureza, este processo tem início no exato momento da captação do material para que se possa começar a confecção artesanal, é o que chamamos de (extração consciente), trata-se de material diverso que após sua retirada não cause danos permanentes ao meio. Tal como, galhos cecos, talas, palhas e outros. SELEÇÃO DE MATERIAL Logo após a extração vem à seleção do que foi recolhido e retirando aqueles que já estão fragilizados pela ação de decomposição. Os galhos e talas quebradiços, a palha que estiver umedecida, são descartados, voltando para natureza. CONFECÇÃO DE ARTESANATOS ************ Artista plástico, morador da Ilha de Caratateua e voluntário do Ecomuseu da Amazônia desde o ano de 2010. 271 Particularmente tenho a preferência em produzir “casas tipo palafitas, em miniatura” que individualmente, ganham o nome; (“Casa da Amazônia”) dando origem à objetos com, variados modelos e tamanhos. Em conjunto, formão obras de complexidade visual retratando cenários fictício do imaginário ou não, intitulado (“HABITAT”). DIVULGAÇÃO E VENDA As obras após serem finalizadas, ficam em exposição permanente no espaço físico da sede do Ecomuseu, onde podem ser vistas diariamente por professores e alunos, e visitante da comunidade ou de fora dela. Além de exposições de arte seguidas de venda no “JIRAU” espaço de arte, no qual é possível encontrar mensalmente, artesãos das localidades atendidas pelo Ecomuseu da Amazônia sendo assim, eu também utilizo este espaço para expor e vender minha produção. Entre outros momentos e eventos que através da instituição fui citado e pude participar para ministrar, expor, ou vender minha produção artesanal. Os objetos e obras mencionados anteriormente compõem o acervo artístico NATURARTT “a natureza em evidencia” do qual sou autor. Com base na preservação ambiental e conscientização humana, pôde então somar à minha maneira com as propostas já difundidas pelo Ecomuseu da Amazônia órgão atuante nas práticas sustentáveis. AS SEMPRE-VIVAS Teresinha Lioi A mão do tempo estragou paredes fazendo de um palacete ruínas labaredas maldosas de um fogo insistente abriu em chagas o centenário telhado A chuva cheia de liberdade corria livre causando dano quase que irreparáveis E as paredes... Ah! as paredes choravam lágrimas compridas implorando socorro pra lá de urgente Gazes e bandagens se enrolavam e se perdiam em fraturas já expostas Manchadas de tristeza e de vergonha portas e janelas não se fechavam diante de um sonho maior E a água que entrava sem cerimônia e sem culpa inundava histórias de tantas vidas Os vidros gritavam de horror a cada vendaval enfurecido e se estilhaçavam de pena diante do quase impossível e as mãos do tempo , às vezes postas em oração, tentavam ser indulgentes e imploravam aos homens clemência E eis que um dia disparou o alarme e urrou a sirene cortando passagem,fazendo alarde,correndo nos anos, rasgando o chão,trazendo cuidados,buscando a origem, reconstruindo verdades iluminadas de vida de vida de espera de esperança de vida de se estar sempre vivas na memória ou na saudade nas pedras de mão ou no tempo que vem na ação ou no sentimento Não importa. Aqui estão. 272 As sempre-vivas As revividas dos escombros do esquecimento... FONTE: QUARTEIRÃO 80 – 2008 Uma cearense na Ilha de Cotijuba Antônia de Maria Mesquita** **Entrevista concedida para a Tese de Doutorado denominada “Proposta de um turismo sustentável para a comunidade da Ilha de Cotijuba, município de Belém-Pará-BR, a partir da valorização do patrimônio cultural”, defendida em fevereiro de 2012, por Maria Terezinha Resende Martins. - A líder comunitária da Comunidade do Póção declara: Nasci no Ceará, me criei no Ceará e vim criar família no Pará, meus filhos são cearenses, nasceram lá, mas eu criei aqui no Pará, elas são mais paraenses do que cearenses, todas duas. Sai do Ceará por causo de falta de chuva, seca, tava com três anos de seca quando nós viemos de lá pra cá, tava com três ano que não chovia, ai foi a nossa vinda pra cá pro Pará, esse foi o motivo de nós vir, parar aqui no Pará por causa disso; - Srª Antônia expressa o motivo de sua vinda para o Estado do Pará: Em busca de melhoria, por que tinham falado que pra cá era muito bom e aqui a gente veio e aqui a gente está e é mesmo! a gente gostou bastante e ai eu não tenho assim a vontade de sair daqui pra outro lugar mais, gosto muito, bastante daqui, aqui já aprendi muitas coisas, coisa que eu já não sabia vim aprender aqui, tudo isso, ai então eu acho que aqui para mim é muito bom, muito bom mesmo, aprendi já muitas coisas, coisas que eu não sabia hoje eu sei, fazer e falar; - A sua participação no Ecomuseu da Amazônia: O único Projeto que participo na ilha é o Ecomuseu da Amazônia. Faço parte deste projeto e me sinto feliz de participar dele, então eu gosto e eu amo, e eu gosto mesmo e eu quero que a gente tenha mais um prodígio neste nosso trabalho. Olha está sendo uma grande experiência pra minha própria vida tanto no Ecomuseu, como aqui no espaço que agora a gente trabalha por que a gente se reúne, conversa, a gente tem uma produção pra gente arruma alguma coisa que é pra nós começar colocar, pra nós ter pra ajudar como agora precisou, para legalizar a associação que estamos criando, já angareamos 300 reais foi uma grande ajuda então isso é da nossa associação e ai eu me sinto feliz com a união do povo. Em nome de Jesus, nós vamo legalizar ela este ano. - E complementa sobre o Ecomuseu da Amazônia: Há, já aprendi muita coisa e já fiz muita coisa ali no Ecomuseu, olha só aqueles cursos que a gente fez com a...fez com a Silvana curso a gente fez, fez com o professor Roberto, tudo a gente fez curso, quando nós comecemo oi! isso pra mim é muito importante, quando nós comecemo trabalhar com o professor Roberto nós trabalhava debaixo de uns pé de árvore, por que nós não tinha um espaço, nós não tinha aonde nós se colocar, cansemo de se colocar debaixo de uns pé de arvora lá na casa da Naide pra nós fazer os nossos cursos, pra que? Pra que a gente visse, meu esposo dizia: “há! Para com isso, acaba com isso!” olha eu não vou nadar tanto pra mim morrer no seco, então eu vou até o fim! e hoje ta aonde é que nós tamo? Já tamo naquele espaço por causa de quê? Por que eu perseverei no meu trabalho, pois é senão mas se eu tenho feito igual aos outros hoje não existia aquele ponto ali não não existia não, tenho certeza que não existia, - Srª. Antônia fala sobre a educação na Ilha de Cotijuba: Srª. Antônia: Olha sobre a educação aqui na ilha eu acho assim que tem, ta tendo a educação por que olha aqui era uma dificuldade de educar as criança do colégio, essas criança iam de pé as vezes daqui pra a ponta de cima e iam e vinha ai eu ficava 273 pensando isso um dia tem que melhora então agora a gente já acha que já tem uma melhoria grande, por que o bonde já vem pega, leva ai outros já vão pra li já vão de bicicleta já tem uma bicicletinha pra levar a criança pra i... pra quê? Pra educar essas criança, ai então já melhorou 100% são ótimos, ai mas isso aqui logo quando nos chegamos pra cá era muito ruim mas agora não, agora ta melhor mesmo, bastante mesmo, - E a questão do meio ambiente na ilha de Cotijuba: Mudou muito, a paisagem mudou muito, muito mesmo... Ai então é tudo isso eu me sinto alegre, por que as vezes as meninas dizem assim: “há mãe..eu acho que a gente... eu vou desistir”, minha filha não desiste por que olhe repare nós já lutemo tanto que agora depois já ta bem adiantado...não! nós temo que leva pra frente nos vamo leva, ai eu tenho conversado elas, essa daqui que aqui acolá “há eu vou saí, há eu vou...” eu falo: nãaao! borá leva pra frente, a por que ficam falando, por que falaram: “há mas é só ela mas a família”, sim é família sim mas a minha família eu tenho que ensinar, ensinar o que eu sei, eu não to mais pra muitos tempos eu digo pra elas, minha filha você tem que fica não tem que saí por que eu não to pra muitos tempo, 62 ano vou faze 63, eu não sei se vou busca até 70 mais eu não sei, elas ficam, né? Então é tudo isso. COTIDIANO Rosalina Metz Museu Comunitário de Percurso Picada Café – RS Rosalina Metz era casada com Balduíno Metz já falecido. Desta união nasceram quatorze filhos. Dona Rosalina conta que, naquela época, era comum as famílias serem grandes. Não havia energia elétrica como hoje em dia. Eram usadas velas ou lamparinas que funcionavam a óleo. Eles acordavam às quatro horas da manhã. O marido preparava o chimarrão e, enquanto isso, ela aproveitava o tempo para costurar roupas novas e fazer suas próprias roupas, não havia lojas como hoje em dia, onde se podia comprar tudo pronto. Costureiros também eram caros, já que não havia uma renda fixa para a família. Quando o dia amanhecia, o pai e os filhos iam para a roça. Dona Rosalina ficava em casa fazendo os serviços domésticos, dentre estes, tratar as criações. O leite sempre era fresco, tirado das próprias vacas. Estas tinham as pernas de trás e o rabo amarrado para facilitar na hora da ordenha. Lá pelas dez da manhã, ela encilhava o cavalo e ia levar o almoço para os outros na roça. Enquanto andava, almoçava no lombo do cavalo. Chegando na roça, o marido e os filhos almoçavam enquanto ela ia cortar o pasto para a criação. Depois do almoço, todos descansavam um pouco naquele mesmo local. Trabalhavam até o entardecer. Carregavam as carroças com o pasto e demais coisas que colhiam e iam para casa. Em casa cada um tinha suas tarefas para cumprir. Uns tratavam os animais, outros tiravam o leite e assim por diante. Após o banho, toda a família sentava à mesa e jantavam. Depois da janta, era lavada a louça e todos iam dormir para, no outro dia, começar tudo de novo. RECORDAÇÕES SEDUTORAS DA TERRA DE SANTA CRUZ Sílvia Regina L. Costa Cunha Melo 274 Eu estava sentada numa confortável cadeira, recostada, me deliciando com a suave brisa de outono que soprava levemente...Passando pela varanda onde me encontrava. A minha imaginação me transportou aos idos do XVI, nessa época só havia floresta de índios por estas paragens do Rio de Janeiro. Sabia que toda terra próxima ao mar os silvícolas chamavam de Piracema? Pois é, este foi o primeiro nome de Santa Cruz e queria dizer, na língua dos indígenas: Muitos peixes. O Capitão-mor Cristóvão Monteiro auxiliou os portugueses na expulsão dos franceses do Rio de Janeiro e, em agradecimento, recebeu do donatário Marins Afonso de Souza, da capitania de São Vicente, essas terras abençoadas entre o mar e a montanha. Após o término das hostilidades com os índios do litoral de Sepetiba e Guaratiba, Cristóvão Monteiro construiu um engenho e capela em Curral Falso, na suave colina onde se encontra hoje a Igreja Nossa Senhora da Glória. Depois da sua morte, a viúva do capitão D. Marquesa Ferreira doou a sesmaria de quatro léguas para os padres jesuítas em troca de missas semanais em sufrágio da alma de seu marido e, após sua morte, pela sua própria. Coisas das pessoas daquele tempo... Sabe como era chamada essa troca de favores? Não uma simples doação, mas o nome era legado pio pela obrigação dos padres encomendar as almas dos falecidos. Os seguidores de Inácio de Loyola denominaram as terras de Santa Cruz, já que a cruz era o símbolo da Companhia de Jesus e ampliaram seus domínios, comprando ou trocando por outras terras, numa sesmaria que ia do costão da Barra de Guaratiba ao Rio Itaguaí e para o interior até a Serra de Marapicu (onde hoje é Nova Iguaçu). A fazenda progrediu tanto, que se tornou a maior e mais próspera de todas as que os Jesuítas possuíam no Brasil. Os bondosos padres tratavam tão bem os seus escravos que aqui eles criaram a primeira orquestra só com músicos negros, as mulheres compunham o coral, esses trabalhadores não eram obrigados a ir para a roça, sua tarefa era na Escola de Música. A orquestra de escravos da Fazenda de Santa Cruz era composta de adolescentes masculinos como executantes, e femininos na arte do canto. Eles não trabalhavam nos serviços gerais porém, estudavam e muito, desde as oito horas da manha até o entardecer, com intervalos para as refeições principais e ligeiros descansos. A escola de música foi dirigida e teve assistência permanente de maestros notáveis, entre eles o incomparável José Maurício, os irmãos Portugal e etc. Um dos primeiros professores de música que o Rio de Janeiro conheceu, o pardo Salvador José, foi o primeiro mestre musical do inesquecível Padre José Maurício. Vale a pena recordarmos da importância da obra deste notável maestro, talvez o maior compositor de música erudita brasileiro, tão grande ou maior que Villa-Lobos, por ser filho de escravos, não é tão conhecido e reverenciado apesar de seu grande talento. A Escola de Música, mais tarde foi conhecida pelo merecido título de Conservatório de Santa Cruz. Os Jesuítas que vieram para a Fazenda de Santa Cruz eram cultos e instruídos, com cursos feitos na Europa. A enorme fazenda, com dez léguas em quadro, onde férteis terras, matas riquíssimas em madeira, abundantes quedas d’água, rios volumosos e extensa testada frente ao mar, também apresentava problemas na temporada das chuvas, os padres verificaram que nessa época havia muitas enchentes, o que prejudicava as plantações e criação de gado, construíram então os canais paralelos ao Rio Itaguaí, para evitar que toda a sua produção agrícola se perdesse nas enxurradas, são os canais de São Francisco, São Fernando, da Goiaba, Cação Vermelho, etc. Realizaram também, em 1752, uma grande obra: uma ponte represa para controlar as águas do Rio Guandu. Esta maravilhosa ponte, com seu dístico barroco, é uma das raras construções públicas feitas pelos jesuítas no período colonial. Que belas paisagens possuíamos aqui! Naquela época, os piratas aportavam em Sepetiba, onde hoje é a Ponta dos Marinheiros. Os navios dos corsários passaram pela bela Bahia para vir a Santa Cruz comprar gado, eles efetuavam o pagamento com ouro e também prata trazidos do Peru. Os piratas driblavam a vigia dos comandantes das guarnições de Sepetiba e 275 portos vizinhos, seus navios ficavam nas ilhas próximas como: Madeira, Palmas, Ilha Grande. A sede da Fazenda de Santa Cruz era composta de um prédio simples com dois pavimentos onde ficava o convento dos padres e também se abrigavam os hóspedes que por aqui passavam (para comprar produtos agrícolas e gado), havia contíguo ao convento a pequena Capela de Santa Bárbara. Algumas construções circundavam este edifício e eram destinadas aos serviços de tecelagem, ourivesaria, ferraria entre muitos outros, além da senzala. Há uma linda gravura de Debret, onde podemos ver esta arquitetura. Os serviçais mais inteligentes (os jesuítas não os consideravam escravos) eram aproveitados em aprendizagem de maior habilidade como a ourivesaria (esse nome é para o artesanato com ouro, prata lavrada e diamantes), pintura, santeiros (eles fabricavam santos de madeira) e outros ofícios delicados. As meninas trabalhavam fiando o grosso tecido para o vestuário do pessoal, incluídos os idosos, enfermos e as gestantes. Os escravos da fazenda formavam uma multidão de homens, mulheres e crianças disciplinada e obediente ao menor sinal dos padres, que os criaram e educaram no sistema de suas missões. Aqui eram reconhecidos ao tratamento recebido de seus protetores (e não senhores), tornaram-se pessoas de uma dedicação e lealdade a toda prova. Não sendo rigidamente escravos, apenas a obediência e a disciplina os prendiam aos seus dirigentes que benevolamente os denominavam “servos”. Na Fazenda de Santa Cruz era permitido ao escravo construir um lar e diferentemente dos outros lugares onde não tinham sobrenome eram dados nomes da terra de origem como: Henrique Congo, João Mina, etc. Quanto aos filhos, chegados à idade apropriada, eram encaminhados às oficinas, onde aprendiam a fazer, além de outros objetos, candelabros, cruzes e turíbulos em prata lavrada. Como tudo que é bom e funciona para o bem de uma comunidade, do povo em geral, já naquele tempo, os governantes interferiram neste paraíso que era a encantadora Fazenda de Santa Cruz. Em 1759, os jesuítas foram expulsos de Portugal e suas colônias por uma lei do Marquês de Pombal, primeiro ministro da corte portuguesa, temendo pela soberania do rei devido à grande riqueza e poder acumulados pelos seguidores de Inácio de Loyola. As aprazíveis terras santacruzenses foram parte de um inventário com tudo o que foi encontrado na Residência de Santa Cruz e ficou incorporada aos bens da coroa portuguesa o volumoso e riquíssimo conjunto de móveis e adornos domésticos como religiosos, encontrados na igreja, além de vasta prataria. Tivemos um protetor, o Marques do Lavradio, que tendo recebido ordens da metrópole para vender todas as propriedades confiscadas aos jesuítas, excluiu, unicamente, a Fazenda de Santa Cruz. Seguiram-se, então, cinqüenta anos de dificuldades passadas pelo antigo convento, que pouco foi utilizado pelos vice-reis, deteriorando a grandiosa obra dos padres que, abandonada à própria sorte, foi visitada por ladrões, saqueadores que por aqui passaram pensando achar riquezas escondidas. Destruíram paredes, azulejos portugueses, etc nada encontrando, pois o maior tesouro de Santa Cruz era a sua produção agrícola, os outros bens já faziam parte do acervo da metrópole. Vale ressaltar que os jesuítas foram os primeiros educadores brasileiros, autores dos nossos primeiros currículos escolares, e sendo assim, a educação ficou também paralisada pela mesma quantidade de tempo. Oh! Minha Santa Cruz! Quanto abandono!... Passou agora um supersônico da Base Aérea, hoje tem festa lá e me tirou dos meus devaneios. O que aconteceu depois é uma outra história e fica para uma outra vez. Que beleza ter um passado glorioso como este!... Vamos conhecer depois uma história cheia de reis, rainhas e princesas. 276 NOTA: Pesquisa feita nos livros “Santa Cruz, Fazenda Jesuítica, Real, Imperial” de Benedicto de Freitas Fonte: Quarteirão 58- 2004 CULTURA POPULAR: MEMÓRIAS DO PARACURI Lecinda Maria das Chagas Moraes†††††††††††† Bairro do Paracuri, Distrito de Icoaraci - Belém-Pará, década de 70 - Território do Ecomuseu da Amazônia. Ao dobrar a esquina da 5ª Rua com a Travessa Soledade, esquina da antiga taberna do seu Dudu e dona Raimunda “Caçuleta”, hoje com açougues e outras pequenas vendas, recordo como era este trecho da Soledade, de terra batida, com o Igarapé do Livramento a olhos vistos do lado direito da margem da travessa indo da 5ª para a 7ª rua, uma casa aqui, outra acolá. As esperadas “águas grandes”, ou marés de lance nos meses de março e setembro, ainda limpas, sem poluição, faziam a festa da garotada no leito da rua e quintais, cujos prevenidos moradores construíam suas casas de madeira bem altas para que as águas passassem por baixo, isentando-os de qualquer dificuldade durante sua visita. Do lado direito, logo ao dobrar a esquina está a loja de mestre Rosemiro, oleiro, especialista dentre outras peças utilitárias na confecção de filtros, muito utilizados pelos moradores naqueles tempos em que ainda não se comercializava a água mineral. Sua olaria, onde era fabricada a cerâmica exposta em sua loja permanece no mesmo local, mais adiante, na passagem Espírito Santo. Para chegar a sua olaria passa-se em frente da sede da Sociedade de Artesãos e Amigos de Icoaraci – SOAMI, parceira do Ecomuseu da Amazônia, inaugurada em 1995, para servir como base social ao projeto de Educação para um Desenvolvimento Sustentável do Município de Belém, cuja idealizadora, professora Laïs Aderne, viu no bairro do Paracuri uma fonte de criação de cultura, pois para esta o fato de encontrar à época cerca de 500 ceramistas no local configurava um fenômeno social que necessitava de reconhecimento não só das organizações governamentais como da própria comunidade. Do lado esquerdo em frente ao igarapé está a “casa da vovó”, presente quando se pronuncia o endereço, pois nos deixou aos 100 anos em 2009, longa vida que viu o bairro do Paracuri passar por transformações que fizeram de uma localidade rural uma área urbana em pouco menos de 20 anos, com seus avanços e dificuldades que toda grande cidade enfrenta. Lá, na década de 70, ainda criança, tive contato com o início da cerâmica ornamental do Paracuri ou Icoaraci. Meus tios, contagiados pela febre da cerâmica com grafismos montaram uma pequena loja onde fabricavam as peças que aos poucos iam tomando cor nas mãos dos que ali se reuniam para pintar as peças em preto, vermelho e branco, inspiradas na criatividade de Antonio Farias Vieira, “mestre Cabeludo”, pintor letrista, o qual teve um dia a idéia de retratar na cerâmica utilitária, já produzida no bairro desde o século XVIII, o grafismo de peças Marajoara com as quais teve contato através de um livro intitulado: “Na Planície Amazônica”, de Raymundo Moraes, livro este que tive a oportunidade de ver sendo passado das mãos de Cabeludo para minha tia Graça a título de empréstimo para que, segundo o desejo do mestre, esta pudesse conhecer a origem de sua inspiração. Da movimentada olaria do mestre Cabeludo, mais adiante, do lado direito, às margens do igarapé do Livramento saíam as novidades que aos poucos iam tomando conta do bairro e se transformando pelas mãos dos inúmeros artesãos que surgiam rapidamente por conta do efervescente comércio que se instaurou em torno da cerâmica pela procura de compradores nacionais e internacionais. Bem como da olaria do mestre saíram muitos dos ceramistas que hoje atuam no bairro. Como sua origem era pintor letrista, a profissão não ficava esquecida. Na porta de sua residência podiam ser lidas placas com mensagens geralmente aguçando a consciência dos moradores, †††††††††††† Psicóloga,Técnica da Equipe do Ecomuseu da Amazônia 277 com relação ao cenário político brasileiro da época, além de ter permanentemente uma outra placa em destaque na qual o mestre se intitulava “O Muiraquitã”. Se ligarmos o amuleto a pessoa, podemos dizer que este trouxe muita sorte ao bairro por meio de sua iniciativa com a cerâmica. A residência do mestre era bastante visitada também pelo fato de sua esposa Cosma ser benzedeira e atender muitas crianças em seu ofício. Seguindo mais um pouco, do lado esquerdo, visualizava-se a olaria centenária de José Croelhas, o “José Espanhol”, irmão de dona Cosma, esposa de Cabeludo. Nesta olaria a qual hoje ainda guarda a tradição, eram produzidas peças utilitárias como potes, jarras, bilhas, moringas, encontradas à época na maioria das casas do bairro, e outros utensílios domésticos comprados pelos próprios moradores e por pessoas de outros locais. Um pouco a frente da olaria do seu “Espanhol”, encontrava-se a pequena capela de Nossa Senhora do Livramento, hoje em maiores instalações, mas ainda chamada carinhosamente de “igrejinha”, cuja padroeira foi escolhida para o bairro no ano de 1946 por um grupo de devotos tendo a frente o senhor Antonio Castanha, proprietário da pequena imagem. A festividade da padroeira sempre muito bem festejada pelos seus moradores no mês de dezembro, ganhava destaque devido o Distrito de Icoaraci ser ainda de poucas atividades festivas e pelo ar pitoresco que o local despertava nos visitantes que vinham de toda parte do distrito para o quinzenário de ladainhas noturnas seguidas de leilões, que eram patrocinados a cada noite por uma família do bairro, denominadas “noitários” as quais se desdobravam recolhendo donativos nos comércios, somando ao final com suas próprias doações através de frutos colhidos em seus quintais e criações como aves e suínos. Uma noite esperada era a da família Sena, por ser esta composta por fogueteiros que se esmeravam em soltar jorrões e pistolas coloridas durante a noite. Na última noite, “a noite dos moradores”, a festividade atingia o seu ápice, com a procissão de encerramento e a derrubada do mastro, seguida de ladainha e animada festa com o leilão mais concorrido do quinzenário, onde todos se esforçavam para contribuir com a melhor doação. Ao lado da capela encontravam-se: a casa de dona Maria, outra benzedeira muito procurada, a Escola Comunitária Nossa Senhora Medianeira, onde hoje está localizada a sede da Sociedade São Vicente de Paulo, outra parceira do Ecomuseu da Amazônia, a olaria de Ana Pimentel, que criava brinquedos em cerâmica como apitos que eram muito apreciados pelas crianças, bebedouros de passarinhos, animais e outro utilitários, hoje sua família assim como a de José Espanhol mantém a tradição. O Percurso termina na propriedade do senhor João Guimarães, conhecido como Janjão, grande animador da festividade do Livramento nas décadas de 60 e 70, atualmente a área abriga uma variedade de comércios. Deste trecho em diante, a leste e a sul seguiam-se as grandes propriedades de terrenos guardando a densa mata que cobria todo o resto do Paracuri até o Porto do Uxi. Para os terrenos de mata acorriam também à tarde, após a chuva das duas, os moradores de ruas mais distantes para colher os frutos que ficavam no chão em grande quantidade: uxi, bacuri, cupuaçu, piquiá e outras tantas variedades dos deliciosos frutos da região. Segundo historiadores, o Porto do Uxi serviu de embarque e desembarque de mercadorias entre Icoaraci e Belém, até o século XX inclusive a cerâmica, como tijolos e telhas para construção de prédios na capital, produzida pela primeira olaria instalada às margens do Igarapé do Paracuri, pelos Frades Carmelitas dos Pés Descalços no início do povoamento do Distrito, no século XVIII, quando a imensa área de terra se dividia em duas fazendas: São João do Pinheiro e Nossa Senhora do Livramento².(JORNAL O Liberal.89) O aspecto cultural era bem forte até os meados de 80, em cujo cenário encontravamse figuras como dona Joana e Altamira Melo que festejavam São Sebastião no mês de Janeiro em suas respectivas residências, Pureza Santana, na “Casa Grande” com a festividade do Divino Espírito Santo, seu José Silva, Perciliano Chagas e Vicente Paiva com os festejos de Santo Antonio, São João e São Pedro, respectivamente no 278 mês de junho, além do lendário Manoel “casadinho”, famoso entre os moradores, pois ao redor deste alimentava-se a idéia de que o mesmo era dotado do que se chamava de “fado” o que o fazia transformar-se em animais durante determinadas noites, tal descrição tornava este figura respeitada por todos no bairro, principalmente pelas crianças. Com o passar das décadas o bairro se transformou. Com o aumento das moradias, as marés já não são mais as mesmas, o trecho em questão desde o início dos anos 2000 recebe o nome de bairro Ponta Grossa nos papéis de luz e água, e outras tantas mudanças. As olarias e lojas de cerâmica continuam recriando a arte, a memória do bairro ainda está presente nos descendentes de seus moradores de origem, que se confundem com os novos habitantes travando um diálogo árduo com o presente, porém muito possível através das ações do Ecomuseu da Amazônia com a SOAMI e com a Sociedade São Vicente de Paulo, estas localizadas no bairro do Paracuri, numa missão iniciada por Laïs Aderne em 95, quando reuniu em um só evento ceramistas folcloristas, profissionais liberais, organizações governamentais e não governamentais e junto com estes definiu uma linha de ação a seguir cuja essência posteriormente é analisada como base para as ações do Ecomuseu da Amazônia: a participação popular para a construção de um projeto sustentável que vem possibilitando condições para uma população de conduzir-se utilizando como recurso o entrelaçamento de novas tecnologias com sua identidade cultural. REFERÊNCIA JORNAL O Liberal, out./89. VALENTE, José. Sinopse de Icoaraci VERDE MEMÓRIA SOBRE AS PEDRAS Vinicius Pacheco ‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡ Estudar os aspectos sociais e culturais de treze comunidades localizadas em áreas relativamente isoladas e preservadas, vivenciar seus saberes e fazeres, contribuir, principalmente, com a tomada de consciência quanto à importância em preservar esses espaços, sua identidade, para que num segundo momento, possam compreender a relevância do que fazem, sustentando a si próprios e gerando renda a partir de seu próprio conhecimento, sem que pra isso, tenha que esgotá-los. É essa, em resumo, a atividade que desenvolvo junto ao programa intitulado Ecomuseu da Amazônia que tem como principal “bandeira” o Programa de Capacitação, e que em síntese, desenvolve-se a partir da proposta de Museu Território nas áreas de Icoaraci, e na região das ilhas de Caratateua, Mosqueiro, e Cotijuba, direcionado por quatro eixos ou áreas de conhecimento. Cultura; Meio Ambiente; Turismo e Cidadania. E é a partir dessa experiência que vivencio a cada dia junto a essas comunidades que me ocorreu à posse da memória, não da simples lembrança, mas da lembrança que questiona e propõe uma reflexão, e que agora se sustenta em novas possibilidades, em ações, em instrumentos. Memória onde guardo o esplendor de viver a vida, minha querida infância, de onde emergem maravilhosas recordações, e que hoje, olhando pela janela do meu quarto não consigo tê-las a vista além de concreto sobre concreto. E junto a tudo isso, me veio também à lembrança de um comercial de televisão, onde um grupo de pessoas em um escritório no centro da cidade ficava maravilhado com a presença de uma pequena planta em um vaso na janela, observavam como algo completamente inusitado, como se aquilo que viam, não fizesse mais parte da realidade pela própria reação de surpresa que causava. Logo entendi a mensagem, não por ser filho dessa imensa área amazônica, mas por ter testemunhado as transformações do bairro onde nasci conhecido como umarizal, por apresentar uma abundante concentração de pés de umari por toda sua extensão. Lembro também, que quase todas as casas possuíam quintais de terra com muitas, muitas árvores. Mangueiras, ameixeiras, jambeiros, bacurizeiros, ingazeiros e outros mais, todos ‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡‡ Professor, Arte Educador, técnico do Ecomuseu da Amazônia . 279 agora já extintos. Ao contrário de hoje, a vida comunitária era bem mais prazerosa, passava-se poucas horas do dia em casa, o restante do tempo, era todo vivido nesses ambientes, respirávamos o vento com cheiro de mato, conversávamos a noite toda com os vizinhos assim como faziam as antigas comunidades. Dormíamos sem ventiladores ou centrais de ar. No mês de junho, fazíamos muitas fogueiras, quase todas as casas tinham a sua, dançávamos quadrilha e tomávamos mingau quantas vezes quiséssemos, e melhor, não precisávamos pagar. Tomar banho de chuva era sinônimo de felicidade, talvez, pela dificuldade que tínhamos em conseguir permissão de nossos pais, nesses momentos, nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro – época da manga - corríamos em direção a Generalíssimo Deodoro que ficava com o chão coberto de tanta fruta, comíamos até enjoar, hoje, o fruto é retirado antes mesmo de seu amadurecimento. Todo dia tinha o horário da “bola”, escolhíamos o lugar, existiam vários “campinhos”, à noite, contávamos estórias de mistério e brincávamos de “pira se esconde”, era emocionante subir nas árvores. Na rua, Almirante Vandenkolk, toda manhã nos deparávamos com várias gaiolas com alçapões nas trilhas e margens das áreas verdes espalhadas pelo bairro, “pegava-se” patativa, bigode, coleira, cigarra, entre outras espécies de pássaros que hoje não vemos mais. Diante de tanta lembrança, entendi também - não lendo em livros de história e nem assistindo a comerciais televisivos - que o tempo passa, e os ambientes se modificam por intermédio do homem, seja pra melhor ou pra pior, mas a memória, esta sim, tem o poder de preservar aquilo que um dia fez de nós o que somos, e que nessa imensa reserva de experiências de alegrias e descobertas inesquecíveis, podemos ainda, diante desse caos pré-urbano que nos cerca hoje, repensar a vida, não a “nossa”, mas aquelas que ainda virão e que poderão viver a plenitude de interagir com o meio natural e usufruir da generosidade de seus benefícios, agora, lógico, respeitando seus limites. Sempre achei importante falar ou escrever sobre esses maravilhosos e felizes momentos que vivi durante toda minha infância, quando encontro velhos amigos, ou vizinhos que vivenciaram comigo essas experiências das quais narrei uma pequena parte. Hoje, tomo essa iniciativa por ter o privilégio de pertencer a esse cansativo, porém, gratificante programa que hoje, após dez meses a seu serviço, considero de maior relevância no que diz respeito à preservação do nosso maior patrimônio, além da vida e da memória, que são nossos territórios, ou melhor, nossos “Museus Territórios”, criado em 2007, pela Prefeitura Municipal de Belém-PMB, sob a gestão da Secretaria Municipal de Educação-SEMEC e que hoje, possui sua sede na Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira. Nesse convívio semanal junto às comunidades não lhes nego essa fala que carrego na memória, pelas próprias experimentações locais que me fazem voltar no tempo, agora, porém, com a responsabilidade e a possibilidade de contribuir de forma significativa com o desenvolvimento consciente desses grupos, de seus territórios, orientando e sistematizando seus fazeres para que possam, um dia, assumir seus próprios projetos, entendendo sua importância e o porquê de preservá-lo frente a essa desenfreada “cultura de comércio”, descrevendo aquilo que é basicamente oral, valorizando assim seus saberes, afirmando a si próprios como fazedores de cultura. É essa uma de nossas filosofias de trabalho vinculadas ao Programa. É nesses lugares, bem adversos as ilustrações dos livros escolares que nos mostram um acervo raro de espécies da fauna e da flora amazônica, que ainda comemos frutas debaixo das árvores, presenciamos o silêncio e o cheiro das matas e seus habitantes quase extintos que ainda insistem em nos enriquecer a alma com suas inusitadas aparições que nos agraciamos ainda mais com a beleza e a plenitude de viver. 280 MORAR EM COTIJUBA Otoniel Pereira§§§§§§§§§§§§ Entrevista concedida para a Tese de Doutorado denominada “Proposta de um turismo sustentável para a comunidade da Ilha de Cotijuba, município de Belém-Pará-BR, a partir da valorização do patrimônio cultural”, defendida em fevereiro de 2012, por Maria Terezinha Resende Martins. - O Diretor Geral da Agência Distrital de Icoaraci-ADIC relata a sua experiência, como é morar na ilha de Cotijuba: Morar em Cotijuba, é... lá no sul as pessoas dizem que quem mora em ilha é rico, quando eu dizia lá em Brasília e em São Paulo que eu morava em uma ilha eles pensavam que o Otoniel estava furtando os correios, por que só mora em ilha quem tem muito dinheiro, mas a ilha de Cotijuba é um ambiente natural saudável, onde a população ainda pode se alimentar de mariscos frescos, camarão a 2,50 o litro, 1 cambada de peixe a 5,00 reais na beira da praia e você alimenta-se basicamente de frutas frescas, peixe, camarão e tudo isso é natural, e isso dá para que você possa manter sua saúde agradável, com disposição, com vigor, como eu tenho aos 6.3! - O Diretor Geral da ADIC faz referência ao transporte na ilha de Cotijuba: Cotijuba só veio se desenvolver a partir de 94 com o prefeito Hélio Gueiros quando foi feita uma, um sistema de viagens pra lá, ninguém sabia, ninguém ia pra Cotijuba por que não havia transporte. Em 94 o prefeito Hélio Gueiros criou uma linha que fazia Belém-Icoarací- Cotijuba/ Cotijuba-Icoarací-Belém, ai que foi a população descobrir que existia uma pérola na natureza guardada lá, que deveria ser preservada, deve ser preservada, com isso começou exatamente a ocupação da ilha, de 350 foram comprando terreno se fixando e aquela altura não se tinha nenhum transporte e então o prefeito Hélio Gueiros doou 6 charretes e 6 cavalos para o transporte urbano através de charretes; - O Diretor Geral da ADIC complementa suas informações, fazendo menção ao turismo na ilha de Cotijuba: Cotijuba é hoje um ponto turístico, um balneário voltado para a classe média pra baixo, é mais ou menos assim: o povão, é esse turismo que ta sendo feito hoje em Cotijuba, é o turismo de massa, que é altamente negativo, especialmente para a natureza, por que as pessoas que vão, são classificadas mais ou menos como os “farofeiros” eles já levam todo o sistema deles (é de comida, de água, de refrigerante, da bebida) e o restante quando eles vão embora fica tudo lá, fica o copo descartável, fica o resto de comida lá na Praia.. E essas pessoas como são na maioria das vezes não tem conhecimento da natureza, de preservação e terminam trazendo muitos prejuízos ao meio ambiente. Estamos recebendo hoje em Cotijuba cerca de 2 a 3.000 pessoas no final de semana normal, no final de semana prolongado até 5.000 e nas férias cerca de 10.000 pessoas semanais e essas pessoas, claro que tudo em Cotijuba depende do turismo, agora só que não é um turismo programado, não é um turismo em que as pessoas vão conhecer as trilhas, nós temos cerca de 7 km de trilhas, de um lado e de outro da ilha nós temos as praias, algumas semi-virgens como a praia da Flexeira e a praia Funda. E a praia da Saudade, ainda pouco explorada… - Continua o Diretor Geral da ADIC fazendo referência a educação da ilha de Cotijuba: §§§§§§§§§§§§ Ex Sub-Agente de Administração da ilha de Cotijuba, Sub-Distrito da Administração Regional de Outeiro-AROUT, morador da ilha de Cotijuba, parte do Território Ecomuseu da Amazônia, Belém-Pará, desde 1989, atual Diretor Geral da Agência Distrital de Icoaraci-ADIC, 2010. Depoimento extraído da entrevista concedida a Maria Terezinha R. Martins, constituinte da Tese de Doutorado “Proposta de um Turismo Sustentável para a Comunidade da Ilha de Cotijuba, município de Belém, Estado do Pará-Brasil, a partir da Valorização do Patrimônio Cultural”, defendida em 2012. 281 Temos hoje na parte de educação uma contemplação muito boa em relação ao apoio logística interesse da prefeitura através da profª Therezinha Gueiros que implantou a escola Bosque, que estava totalmente esfacelada no tempo do governo anterior, estava praticamente falida. Então profª Therezinha Gueiros investiu novamente, organizou, reorganizou a Escola Bosque e implantou as escolas bosques das ilhas de Paquetá, Jutuba e Cotijuba, são 3 unidades. Essas escolas deram uma ênfase muito grande na educação, recentemente nos fizemos uma distribuição de cadernos e livros através da prefeitura e nós nos surpreendemos com crianças de pouca idade já na 4°, 5°, 6°, 7° série. Isto representa um fato significativo, o maior empreendimento, e as pessoas ainda dizem “não por que a prefeitura não faz nada aqui, não fez nenhum prédio”. Entretanto a prefeitura tem feito nas ilhas um investimento altíssimo maior que todos que é a educação, tem feito lá com a escola, com o transporte escolar de bondinhos, com transporte de barcos e isso ai tem sortido um efeito positivo muito grande na educação dos ribeirinhos, especialmente das pessoas, dos alunos e jovens adolescentes que moram nas ilhas… - O Diretor Geral finaliza, mencionando as histórias da ilha de Cotijuba: A questão da ilha não sabe explicar realmente, do diabo, não sei, do ladrão, tem muitas lendas. Eu fazia um programa de rádio e contava na sexta-feira, de 9 as 10, eu contava as histórias das lendas de Cotijuba, das visagens, assombrações, fazia muito sucesso, as pessoas inclusive ficavam com medo, me ligavam: “ Sr. Otoniel, o senhor contou a história daquela visagem do cidadão morto e eu não consegui dormir, os cachorros começaram a latir seu Otoniel!” ai um barqueiro uma vez: “seu Otoniel, pelo amor de Deus o senhor contou a história do navio fantasma e eu estava tomando conta dos barcos no trapiche e não consegui dormi de jeito nenhum”, então tem muitos folclores, histórias, que eu sei, que me mandavam, estão armazenadas em casa sobre assombrações, visagem, folclore, contos, histórias, tudo isso nos sabíamos que é mais um capítulo que a gente pode gravar a parte sobre isso ai... PARADA SEIS, SENTIDO BAIRRO/ CENTRO [E VICE-VERSO] Camila Albani Petró Composição literária selecionada no Concurso Fragmentos Urbanos para compor os 170.000 postais literários que destacam diferentes pontos da cidade de Porto Alegre, organizado pela Cia Carris Porto Alegrense, 2012. Sofia pensava no seu bairro Como mais uma periferia: longe de tudo, local onde apenas dormia. Museus, no seu pensamento, locais que contam histórias, de uma grande minoria com farsante trajetórias. Porém, contudo, todavia, entre-um-tanto entrou no ônibus Pinheiro parada vinte quatro, para a lida de mais um dia, e, pela janela, parada seis, parou o olhar: Avistou um Museu Comunitário. 282 Passou a frequentar. Aprendeu que distante, pode ser relativo. Periférico: depende do ponto de referência. Que a História é feita no presente e, alguns museus, na sua essência, escutam diferentes histórias, contados pela pequena maioria. DE PIRACEMA À INDÚSTRIA, UMA VIAGEM A SANTA CRUZ Adílio S. da Roza; Cristiano dos S. Belo; Thiago de L. Alexandre; Bruno F.A.Theodoro ESCOLA DE SAMBA MIRIM UNIDOS DA RESISTÊNCIA CULTURAL(2001) Samba-enredo: DE PIRACEMA À INDÚSTRIA, UMA VIAGEM A SANTA CRUZ LETRA E MÚSICA (Escola Municipal Chico Mendes): Adílio Santos da Roza, Cristiano dos Santos Belo, Thiago de Lima Alexandre, Bruno Felipe Alves Theodoro. INTÉRPRETE: Flávio André Ferreira - COORDENAÇÃO: Prof. Pedro José de Assis Levado por um sonho fascinante, Eu toco a lira da imaginação. E vou subindo o Morro do Mirante Pra buscar a minha inspiração. Vejo lá de cima a piracema e o lugar Paz e Natureza toda forma de amar Éramos índios, até Cristóvão chegar. O branco então a tudo conquistou, Erguendo na planície a Santa Cruz, Fazenda, Igrejas, Residências, Era a Companhia de Jesus. Abram alas minha gente, o Rei chegou de Portugal (bis) O Convento hoje é Palácio lá na Fazenda Real (bis) Independência, tenha santa Paciência, Nossa História é o caminho onde passa o Imperador. A consciência viu chegar o matruquinho, No brilho do Matadouro Santa Cruz se iluminou. O tempo passa e o trenzinho não pára, Logo chega a Guanabara e a Era Industrial. Mas a História não mudou, o Eldorado fracassou, Eu de teimoso grito neste carnaval. Se a favela é a senzala, o negro nunca sorriu (bis) Santa Cruz é o retrato da História do Brasil. (bis) Fonte: Quarteirão - 2001 283 SANTA CRUZ AGRADECE... Dilméia Oliveira Silva A Ciência, como se sabe, trouxe muitos benefícios à humanidade. A modernidade mostrou a todos tudo o que há de bom e ruim no mundo. A tecnologia aproximou os cidadãos dos cantos mais remotos da Terra, tornando o planeta uma aldeia global. Mas nem por isso se deve esquecer o passado, quando tudo era apenas um sonho distante, de cuja realização muitos duvidavam. Pensando nisso, a memória do povo não pode morrer, pois se a História se faz com os fatos que perpassam as gerações, ficam eles cravados na lembrança daqueles que ouviram alguém contar um caso ou acontecimento interessante. Assim, reportemo-nos à época em que Santa Cruz possuía além do Hospital Pedro II, cujo diretor era Dr.Ciraudo, dois médicos que iam às casas para atender seus pacientes: Dr.Júlio e Dr.Lourenço (este último chamado carinhosamente de Dr. Lourencinho), não sendo esquecidos até hoje. Outro dia ouvi de uma senhora relato sobre Dr. Lourencinho como seu médico de fé, pois já bem idoso, continuava a atender seus pacientes no consultório da Rua Lopes de Moura. No entanto, além dos médicos, havia uma figura bastante conhecida por todos, principalmente pelas grávidas: a parteira, cujo serviço era muito requisitado. Quando as senhoras tinham confirmada a gravidez, imediatamente escolhiam quem iria assisti-las na hora do parto e tratar com ela para que na época aprazada ficasse de prontidão. A parteira acompanhava de perto as parturientes, verificando o desenvolvimento da gestação. Isso não queria dizer que a gestante não se tratasse com o médico. Elas iam aos Postos de Saúde fazer o pré-natal, mas o parto não seria feito pelo médico e sim pela parteira contratada, a não ser que surgisse alguma dificuldade que ela não pudesse sanar ou fugisse do seu controle. Nesse caso, o médico era chamado, o Hospital enviava uma ambulância para levar ou não a paciente, conforme o caso. No momento em que surgiam as primeiras dores, a parteira logo era chamada para acompanhar o parto e lá vinha ela com sua inseparável bolsa, onde trazia o que fosse necessário. Vinha preparada, muitas vezes, para passar horas até o nascimento do bebê. Era então um momento de regozijo, de alegria e de agradecimento a Deus e à Nossa Senhora do Parto por mais aquela vitória, aquela vida que vinha para mais uma batalha nesse mundo. A vida é uma batalha travada individualmente, dia-a dia a caminho para Deus. O neném era tratado, seu cordão umbilical cortado e a parteira ensinava às mães como amamentar e cuidar do seu rebento: colocar e trocar fraldas, colocar o cinteiro (faixas de gaze que envolviam a cintura do bebê para dar firmeza no segurar e para evitar que ficasse umbigudo), já que o bebê chora bastante (hoje esses procedimentos não são mais usados, considerados ultrapassados, cafonice...). No entanto, não se conhece notícia de que os bebês da época, hoje homens e mulheres, tenham morrido por causa do cinteiro. Cuidavam da criança até que o umbigo caísse. Enquanto isso cuidavam também das mães, ensinando tudo o que era preciso em relação ao recém-nascido. Ao crescer, os bebês chamavam sua parteira de “avó” e , pasmem, tomavam a bênção com todo o carinho e respeito. Hoje é tudo tão impessoal, que as crianças não sabem o nome do médico que as trouxe ao mundo. Tristeza! A maioria dos santa cruzenses com mais de cinquenta anos nasceu nas mãos de uma parteira, pelas mãos valorosas de Dona Balança, Dona Tininha, Dona Beleza, Dona Maria, Dona França, Dona Ester, Dona Baronesa. Com quem elas aprenderam o ofício? Não se sabe. Deve ter sido como se dizia, com os mais velhos. Com certeza não tinham noção da importância social que traziam em si, pois eram pessoas humildes, do povo, que dedicavam sua vida a este ofício tão grandioso e solene e abençoavam os muitos “netos” que a vida lhes deu. 284 A parteira em nossa região não existe mais. Uma pena! Mas rendemos a essas mulheres que não tinham dia nem hora, muito menos cara feia, merecidas homenagens. Recebiam de suas pacientes um “muito obrigada” ou um presentinho, pois a vida era difícil para todos e o que importava era o serviço prestado e não a recompensa. São essas pessoas anônimas que fazem a sua parte no progresso de uma nação, de um povo, de uma cidade, de um bairro... E Santa Cruz não poderia ser diferente: também agradece às nossas queridas parteiras, valentes, corajosas, solidárias no momento mais sublime da mulher. Que seus descendentes possam dizer com orgulho, de peito estufado de glória: Minha família teve uma parteira de Santa Cruz! BRAVO! Fonte: Jornal Quarteirão – 2006. MEMÓRIAS DE VIDA- DEPOIMENTO AO ECOMUSEU DA SERRA DE OURO PRETO Vicente de Paula da Silva* Ecomuseu da Serra de Ouro Preto – Minas Gerais -BRASIL *Trecho do depoimento do Sr. Vicente de Paula da Silva (Vicente da Feira), na época com 76 anos de idade, morador do Morro da Queimada, ao Projeto Memória de Vida, em 20/06/2007: MV – Como era a região na época? Senhor Vicente – Ali da curva pra cima não tinha nada, só mexerica, assa-peixe e candeia. Isso era fechado de mata. Só tinha um caminho bobo de passar para o Morro São Sebastião, um caminho de burro. Aí fui levando, comecei a trabalhar na prefeitura. Agora já me aposentei. MV – O senhor sabe que este bairro é um bairro histórico, não sabe? Senhor Vicente – Sei, sei. Ali pra cima o governo do estado desapropriou umas casas e indenizou as famílias, parece que é a área de um parque arqueológico. Ali perto das ruínas parece tudo muito bonito. Se você entra naquelas minas sai lá em Antônio Pereira. Eu aviso: não joguem lixo dentro das minas, nem dentro dos suspiros. Porque toda mina tem um suspiro. A mina sede, mas dá pra sair pelo suspiro. È 15,20 m de “fundura”. A senhora já foi lá em cima do Morro da Queimada, onde viviam os escravos? Tem um monte de vela tocada a vento. PRIMEIRA USINA HIDRELÉTRICA DE PICADA CAFÉ Aldair José Thomas; Édio Kunz; Paulo André Jannke; Luiz João Buççegon; Eduardo Welter. Em 1938 Osvino Boetcher, pai de Freno Boetcher, teve uma ideia muito interessante: construir uma usina hidrelétrica. O objetivo era fornecer energia elétrica para melhorar a qualidade de vida dos moradores que moravam perto da propriedade de Osvino Boetcher. Alfredo Nienow enviou uma correspondência á Alemanha com a finalidade de comprar um dínamo (gerador de energia) e uma turbina que foram trazidos de navio da Alemanha até o Porto de Estrela. O restante do material foi fornecido por empresas do Rio Grande do Sul. O transporte foi feito de caminhão até a Igreja Evangélica São João em Picada Café, na localidade de Canto Bütchen, onde a hidrelétrica foi construída. O material foi levado de carroça puxado por uma junta de bois. Cerca de 15 pessoas trabalharam, diariamente, para agilizar a conclusão da obra que foi construída com pedras de areia lapidadas a mão. Foi ainda instalado um cano feito de madeira por onde passava a água para girar a turbina, que por sua vez, gerava a energia. Inicialmente, vinte e cinco famílias foram beneficiadas com luz elétrica. As primeiras lâmpadas usadas foram trazidas de Porto Alegre a um custo de cinco 285 quilos de porco vivo. A cobrança da energia era feito pelo número de lâmpadas que cada família usava em casa. O não pagamento da energia ocasionava o ‘’corte’’ da mesma. Segundo palavras de Freno Boetcher... “era fim pra ti...’’ Na época de poucas chuvas, à tarde não era fornecido energia elétrica para poupar água. Ao longo do tempo, aumentou o número de famílias que aderiram a energia elétrica, portanto, houve a necessidade de instalar um motor a diesel para suprir a falta de água. A primeira Usina Hidrelétrica funcionou em Picada Café até meados de 1967, quando foi ampliada a rede pública estadual, denominada CEEE. VELHO PINHEIRO Pedro José Vicente Velho Pinheiro com teus galhos retorcidos que o vento mais atrevido procura espalhar tua sombra. Velho Pinheiro com altura de um gigante tendo as guias esvoaçantes e que até o gigante tomba. Não ficou de tuas pinhas aquela que brotaria e o tronco na terra fria se desfez, virou adubo, pelo tempo que transforma tudo o Velho Pinheiro morria. E hoje em teu lugar outro Pinheiro vamos plantar para quando crescer a ti substituir ao pé da Lomba o símbolo se conservará. Para quantos por aqui passar do Velho com certeza irão lembrar ao ver que novo começou a surgir. Poema publicado em: Vicente, Pedro José. Pinheiro Poema e Prosa. Editora Alcance, Porto Alegre, 1999. A VOLTA DA ESCOLA Lucila Weber Museu Comunitário de Percurso Picada Café – RS Quando eu era criança, nem sempre era fácil voltar da escola para casa depois da aula. De manhã eu podia ir com a minha irmã, que, com um cavalo, levava o leite para a fábrica de queijo. Quando não eram muitas as latas a transportar, eu podia montar no cavalo e ela ia a pé. Mas, depois da aula eu tinha que ir sozinha e, caminhando depressa, eu levava meia hora para chegar em casa. Não havia moradias ao lado da estrada. Eu sempre tive um certo medo e é lógico que eu procurava ir bem rápido para chegar logo em casa. Um dia, perto da curva da estrada, vinha um rapaz montado em um cavalo que tinha um sininho pendurado no pescoço. Ele disse alguma coisa em português, mas eu só falava em alemão e não entendia o que ele queria, fui adiante. Passando a curva, que susto! Estive diante de uma tropa de bois do campo e dois ou três tropeiros. Era isto que o rapaz queria me dizer, pois ele, com o sininho no pescoço do cavalo, era o guia 286 da tropa. Meu susto era tamanho, que num pulo só atravessei a capoeira ao lado da estrada e fui correndo pela roça ao lado, sem olhar para trás. Só depois de bem longe, voltei para a estrada, mas tremendo muito. Isto era uma quarta-feira. Por isso, eu não gostava de ir à aula nas quartas-feiras. Ver essas tropas de bois era comum na época. Pois esta era a maneira de levar o gado para o matadouro que ficava um pouco além da escola. BRINCADEIRAS E BRINQUEDOS EM TEMPOS PASSADOS Sussana Maria Mallmann Werle Museu Comunitário de Percurso Picada Café – RS Olhando para os filhos, relembro da minha infância. Éramos em torno de 15 a 20 préadolescentes. Nossas brincadeiras giraram em torno do meio que habitávamos. As matas, o rio, as estradas eram os recursos que tínhamos para nos divertir e o velho salão paroquial, hoje Coopershoes – uma empresa de calçados. Nas matas organizávamos o espaço durante a semana, com cabanas, cipós, nos divertíamos um monte. No verão o rio Cadeia era o passatempo predileto. Formávamos com cascalho poços mais fundos. Cipós das árvores para nos aventurarmos rio adentro. Era divertidíssimo. Aos domingos montávamos nosso QG para o almoço. E era só para o almoço, pois satisfeitos íamos para casa. As brincadeiras haviam acontecido durante a semana, pois a brincadeira era montar, adequar o espaço. Ah, e o saudoso salão onde havia uma mesa de pingue-pongue, disputadíssima. Éramos craques. Os teatros que montávamos e nos arriscávamos a apresentar em localidades vizinhas e na própria comunidade. E o espiribol na escola? Atração e tanta. Percebo hoje, o quanto éramos felizes, descontraídos e todos buscavam prazer em tudo que fazíamos. Éramos meninos e meninas que conseguiam resolver problemas variados, brigas, intrigas. Claudete, Dolores, Salete, saudosa Neida, lembram como tínhamos que aguentar as endiabradas brigas dos meninos: Jorge, Lui, Stanis, Max, Miguel, Liz, Martim, Lique, Jacó, Vianei, Vicente, Jorge Utzig? E nas férias tínhamos ainda o João e o Urbano, como mais velhos até que sabiam colocar ordem no tribunal. Traziam novidades do seminário para nossos teatros, como a famosa banda dos bigodudos. E nossas mães como nos acompanhavam. Saudades marcam suas presenças em nossos brinquedos, principalmente nossas idas ao rio. Levavam lanches e mais lanches e como sempre quando satisfeitos. Depois de tana comilança, queríamos ir para casa. Elas riam de nós e nos acompanhavam. Cada uma na sua casa preparava delicias inúmeras. Cada um de nós sabia referenciar o doce, o salgado que elas faziam com tanto carinho e dedicação. O estudo de certa forma fez com que nossas brincadeiras, nossos encontros tivessem que aguardar o final de semana. Uns foram para Gramado, a maioria para Novo Hamburgo a procura de emprego e estudo. Segundo grau na época em Nova Petrópolis. O custo era elevado, passagens, escola... Mas como eram boas as festas ao final de semana. Festas simples, na casa de um ou de outro, regadas de musicas, comida. Iniciaram os namoros, o grupo foi crescendo, gente nova foi acompanhando nossa visão de mundo, nossos valores e nós fomos também crescendo na formação de novos valores. Hoje todos estão por aí, de certa forma perto um do outro.nossos filhos com certeza vivem um momento diferente,mas ouvem constantemente nossas lembranças de uma época tão preciosa, de mais ou menos uns trinta anos atrás. NARRATIVAS DOS MORADORES DE SEPETIBA WILD, Bianca 287 “Seu Salviano” – passeio de reconhecimento – ano de 2010 – Sepetiba/Brisa – Praia de Sepetiba/ Recôncavo-Dona Luíza/ Cardo e APA das Brisas “...Minha filha isso aqui era muito disputado, tinha muito peixe, a praia vivia cheia e o povo adorava vir pra cá, tinha vez que a gente pegava camarão na mão, tinha até Tatuí! Mas depois dessa Ingá e de um monte de construção sem pensar em como fazer tudo foi mudando... eu já lutei muito [...] você ouviu falar do S.O.S Sepetiba? A gente protestou muito, tinha um comitê [...] mas tem muita gente com má intenção, gente que não quer ver o lugar melhorar de verdade, que só se aproveita da gente [...]tô cansado(/) [... ]” Nilo – Ex Veranista – Visitando o bairro “...Sepetiba ainda é um lugar tranqüilo, até bonito, mas ficou muito diferente de como eu lembrava, quando eu era jovem tomei muito banho na praia (Sepetiba), na Dona Luíza, sabia que o mar batia bem aqui? (Dona Luíza/ Recôncavo) (/) tinha ondas, pequenas mas tinha, não era assim, tinha a lama (Sepetiba) [...] mas não era tanto, é muito triste voltar aqui e encontrar esse lugar desse jeito (/) [...] triste mesmo...” Eliane Roxo – Moradora – em entrevista para acervo do Movimento Ecomuseu “...moro em Sepetiba desde o final do ano de 1999, mas quando criança vinha até Sepetiba como veranista[...] lembro muito de um pé de Jamelão que ficava na praia de Dona Luíza, lá tinha muitas árvores, esse pé de Jamelão ficava em frente a rua da igreja de Santa Edwirges [...] agora não se reconhece mais, as árvores eram saudáveis, muito antigas de troncos largos, não existem mais, a faixa de areia era bem maior, a água era limpa, na época da “lama medicinal” muita gente vinha para cá se tratar, inclusive algumas pessoas que tinham psoríase chegaram a se mudar[...]” (/) eu ficava mais na praia de Dona Luíza, lembro que minha tia chegou a ser figurante, participou das gravações da novela “O bem amado” (/)” “... quando voltei para cá em 99 lembro que vim até o ponto final do ônibus na Praia do Cardo, onde eu moro hoje, e fiquei chocada com o cheiro forte, com o mal cheiro, com o esgoto, a viagem até aqui mudou muito desde que eu era criança, era tudo bonito, lindo, tinham mais veranistas do que moradores, tinham muitos restaurantes, lembro das “lambretas” na praia [...] na minha adolescência não vim mais, voltei adulta [...] (/) da praia de Sepetiba lembro do sorvete de casquinha de banana, lembro que tinha faixa de areia e lembro que era bem diferente, lembro que lá onde era o restaurante “Tio João” (Praia do Cardo) tinha camarão pulando da água [...] pescavam muitas arraias, lembro de ver uma mulher limpar uma e fiquei chocada porque sangrou[...](/)” “...mesmo com todos os problemas, para mim Sepetiba ainda é um dos melhores lugares, entre os que morei para se criar uma criança, é o mais seguro, não por conta da segurança pública, da polícia, mas acredito que é porque os moradores hoje tem baixo poder aquisit e isso não atrai muitos bandidos(/) Sepetiba é protegida por Deus, nem delegacia tem[...]” “...antigamente, quando vim para cá, tinha a Croácia e o posto de saúde Waldemar Berardinelli, há pouco tempo inauguraram uma UPA(unidade de pronto atendimento), mas a Croácia fechou(/)” “...lembro uma vez, que a maioria dos moradores tinham fossas sépticas, pois não tinha saneamento, chegou um ponto que não tinham como esvaziá-las, porque é caro, aí fizeram um mutirão e fizeram uma “rede” clandestina levando todo o esgoto sanitário para a praia(/) teve o acidente da Ingá Mercantil, que despejou na baía de Sepetiba metais pesados como cádmio, mercúrio, bromo e outros, aí começou a piorar a situação ambiental mais ainda(/) com o pólo industrial, depois de 2006 com a implantação da CSA perdi as esperanças, lutamos muito contra isso, mas não adiantou, entrei no conselho distrital, tiveram palestras, seminários, passeatas ,debates com ambientalistas sobre o problema(/) o problema, o impacto ambiental é chocante, quando o porto entrar em funcionamento acredito que o impacto será o 288 mesmo, para Sepetiba e imediações que a para a região da praça XV, da antiga região portuária, além do impacto ambiental também ocorrerá um social, acredito, crescimento da criminalidade, prostituição, que já podemos ver aqui no conjunto habitacional Nova Sepetiba, mas graças a denúncias acabou, eu acho[...]” “... o clima, o ar, já mudou muito, plantas morrendo, o ar está pesado(/) há uma série de discursos controversos sobre a situação (/) quando questionados os responsáveis se desestabilizam, ficam sem argumentos(/) deveria haver uma fiscalização ambiental séria, em vários horários, sem aviso prévio[...] tudo isso[..] nós moradores de Sepetiba ficamos com o ônus, eles ficam com o capital e nós com o impacto ambiental[...]” Sílvia – Moradora - em entrevista para acervo do Movimento Ecomuseu “... Moro em Sepetiba desde que nasci, há 51 anos[...] é difícl responder o que eu mais gosto em Sepetiba hoje, mas acho que é a tranqüilidade, apesar dos pesares aqui ainda é um lugar calmo, mas mudou muito, na minha infância o que eu gostava mais era o mar[...] eu adorava tomar banho de mar, meu filho de onze anos nunca tomou banho aqui na praia, mas o meu filho de vinte e dois pode aproveitar um pouco [...]” “... eu gostava muito da praia de Dona Luíza na minha adolescência, era muito boa, efervescente (/) hoje não é mais como era naquela época [..] as cirandas era da época do meu pai, lá pelos anos quarenta (1940) [...] Sepetiba era tipo um lugar de veraneio, tinha muitos pescadores, muitas famílias caiçaras que vinham da ilha da madeira, a vida era calma, tinha poucos moradores, na maioria pescadores, pequenos agricultores, era boa, na década de sessenta a praia era boa, não tinha poluição[...] tinha cinema na praia(/) os pescadores podiam viver só da pesca [...]” “... as pessoas aqui não tem identidade, desconhecem a história do lugar (/) eu desejo que em Sepetiba existam mais atividades culturais, principalmente para os jovens, adolescentes, crianças (/) aqui não tem nada, também queria muito que as pessoas pudessem saber como era Sepetiba, sua história, quero ver o Ecomuseu dar certo, deveria ter aqui mais projetos para jovens, coisas boas[...]” Diversos Depoimentos colhidos nas Oficinas (Serra de Ouro Preto) OFICINA COMUNICAÇÃO E CULTURA – Nossa Juventude em Ação Interativa (Ecomuseu da Serra de Ouro Preto - Morro de Santana, julho de 2009) As atividades que você realizou durante a oficina atingiram os objetivos desejados? Sim, - “Eu acho que o objetivo foi passar conhecimento sobre patrimônio”. (Wallace Araújo, 12 anos); - “Porque eu aprendi a ver as coisas com outros olhos”. (Maria Luiza Fernandes, 12 anos); - “Porque nós aprendemos a preservar o nosso patrimônio”. (Vinícius Porfírio, 13 anos); - “Porque teve participação”. (Allef Araújo, 11 anos); 289 OFICINAS 290 VII. OFICINAS/RESUMOS ALCÂNTARA, Constantino O Turismo de base comunitária como indutor do eco desenvolvimento local (FAMAZ – Faculdade Metropolitana da Amazônia) O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA COMO ECODESENVOLVIMENTO LOCAL *Constantino Alcântara FAMAZ – Faculdade Metropolitana da Amazônia-PA-BRASIL INDUTOR DO RESUMO A Oficina tem como objetivos: Refletir com os participantes sobre aspectos de relevância para o binômio turismo comunitário X desenvolvimento local, com destaque para os aspectos: - Importância do turismo; - O turismo de base comunitária no contexto geral do turismo; - Ecoturismo como indutor de sustentabilidade ecológica e socioeconômica; - Crescimento, desenvolvimento, ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável, como base para o tipo de desenvolvimento de pretendemos para nossa comunidade; - Produção de um texto com os encaminhamentos do grupo. O processo de desenvolvimento será alvo de análise a partir da epistemologia do crescimento, desenvolvimento, ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável, situando o turismo de base comunitária como ecodesenvolvimento local. Palavras-chave: Turismo de base comunitária - Desenvolvimento local - Ecoturismo Desenvolvimento sustentável - Ecodesenvolvimento ALCÂNTARA, Constantino Nossas práticas e atitudes frente a carta das responsabilidades humanas e ao Tratado de educação ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global (FAMAZ – Faculdade Metropolitana da Amazônia) NOSSAS PRÁTICAS E ATITUDES FRENTE A CARTA DAS RESPONSABILIDADES HUMANAS E AO TRATADO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS E RESPONSABILIDADE GLOBAL *Constantino Alcântara FAMAZ – Faculdade Metropolitana da Amazônia-PA-BRASIL RESUMO A oficina tem por objetivos refletir com os participantes sobre: - Definição de responsabilidade social e ambiental; - Avaliação da responsabilidade socioambiental do poder público, das instituições públicas e privadas, da sociedade civil organizada e do cidadão; - Discutir valores, atitudes, procedimentos, a fim de promover a formação de uma consciência crítica, resgate e construção de novos valores, hábitos, comportamentos e atitudes, voltados ao desenvolvimento de uma sociedade comprometida com a solução de seus problemas ambientais, proporcionando condições adequadas de sobrevivência para as atuais e futuras gerações; - Produzir conhecimento e estimular atitudes práticas de racionalidade e respeito, de defesa e proteção do meio ambiente, contribuindo com o processo interativo e crítico, para o surgimento de uma nova ética social associada às mudanças de valores, de atitudes e às práticas individuais e coletivas; - Treinar e desenvolver habilidades no trato das questões ambientais; desenvolver a capacidade de avaliação; fomentar a organização da sociedade para aumentar a 291 participação, estimulando a solidariedade, igualdade e o respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. - Produção de um texto com os encaminhamentos do grupo. A falta ou fragilidade de responsabilidade social e ambiental têm originado diversas problemáticas globais e locais, com consequências sobre a natureza e a sociedade. A mitigação desses problemas depende, em grande parte, da formação de uma consciência social crítica, do resgate e construção de novos valores, hábitos, comportamentos e atitudes, voltados ao desenvolvimento de uma sociedade comprometida com a solução de seus problemas ambientais, da produção de conhecimentos e estímulos à atitudes práticas de racionalidade e respeito, de defesa e proteção do meio ambiente, para o surgimento de uma nova ética social associada às mudanças de valores, de atitudes e práticas individuais e coletivas, produtos da organização da sociedade para aumentar a participação, estimulando a solidariedade, igualdade e o respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. Neste sentido, a oficina proporcionará o estabelecimento de novos paradigmas na relação da sociedade e do cidadão com o meio ambiente. Palavras-chave: Responsabilidade socioambiental Desenvolvimento local - Sustentabilidade - Cidadania - Práticas - ALMEIDA*, Bruno C; CAMILO*, Pablo R; FRANÇA*, Regina Célia dos S. G; SOUZA*, Sinvaldo do N; RODRIGUES*, Tiago de O; WILD**, Bianca Patrimônio e Capacitação dos Atores sociais para o desenvolvimento local no Ecomuseu de Santa Cruz PATRIMÔNIO E CAPACITAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL NO ECOMUSEU DE SANTA CRUZ E EM SEPETIBARJ Bruno Cruz de Almeida*, Pablo Ramos Camilo*, Regina C. dos S. G. França*, Sinvaldo do N. Souza*, Tiago de O. Rodrigues* e Bianca Wild** *NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz e **Movimento Ecomuseu de Sepetiba-RJ-BRASIL RESUMO Com base nos últimos projetos desenvolvidos pelo NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz e pelo Movimento Ecomuseu de Sepetiba, a oficina mostrará documentários, relatórios e apresentações das seguintes ações: Santa Cruz Revisitada, Ciclo de Leituras Dramatizadas, Exposição de maquetes - Rastros de História e Memória, Oficinas de Canto Coral, Capoeira e Dança e o Colóquio "Patrimônio, Comunidade e Indústria - o diálogo possível”, realizado em 2011 em Santa Cruz, além de documentário sobre a Baía de Sepetiba e do Observatório de Gente (Meldro Produções/Roberto Melo), seguidos de debate sobre a situação atual do bairro. O objetivo da oficina é mostrar a metodologia usada em 2010 e 2011 para valorizar o patrimônio e capacitar os membros da comunidade para participar ativamente da gestão da cultura, do patrimônio e do ambiente na abrangência do Ecomuseu de Santa Cruz e do Movimento Ecomuseu de Sepetiba, incluindo novas perspectivas de Economia Criativa e Desenvolvimento Sustentável. Palavras-chave: Patrimônio - Comunidade - Ecomuseu - Desenvolvimento Local Desenvolvimento sustentável - Cidadania - Economia Criativa ALMEIDA, Nádia Ecomuseu de Maranguape: um povo, sua cultura e seu território na educação integral da comunidade local. ECOMUSEU DE MARANGUAPE: UM POVO, SUA CULTURA E SEU TERRITÓRIO NA EDUCAÇÃO INTEGRAL DA COMUNIDADE LOCAL. 292 *Nádia Helena Oliveira Almeida *Coordenação Ecomuseu de Maranguape RESUMO O projeto Ecomuseu de Maranguape é sediado na comunidade rural de Cachoeira, localizada no município de Maranguape, estado do Ceará. Desde sua criação – no ano de 2006 – o Ecomuseu de Maranguape tem como principal parceiro a Escola local – Escola Municipal José de Moura. E desde então empreendemos esforços metodológicos em desenvolver em conjunto com a Escola um programa em Educação Patrimonial que favoreça o processo de qualificação da educação na escola e na comunidade em geral. Tendo como base, a atuação em rede, o Ecomuseu de Maranguape, em suas ações educativas, vem buscando incentivar, práticas pedagógicas inovadoras e estratégias de organização e gestão compartilhadas, objetivando melhorar os níveis de aprendizagem e dos processos de formação humana com vistas a promoção do desenvolvimento local sustentável - alicerçados na museologia comunitária, na práxis da educação popular e no fortalecimento das novas territorialidades. Desde o ano de 2011, o projeto Ecomuseu de Maranguape, por meio de parceria com o Fundo Juntos pela Educação, vem desenvolvendo um projeto de educação integral na Escola Municipal José de Moura, tendo como eixos principais a educação patrimonial, o uso de tecnologias da informação e comunicação e a articulação de comunidades de aprendizagem em rede e colaborativas. Estes eixos se articulam sistemicamente em atividades de: Formação em Serviço (com os educadores da Escola e Monitores Comunitários); Leitura e Produção Textual (Mini-biblioteca itinerante nas casas dos alunos e o programa LUZ DO SABER); Convivência sustentável com o semiárido (Tecnologias Sociais, Matriz cultural brasileira) e com o programa de formação do Ponto de Cultura do Ecomuseu de Maranguape – AGENTES JOVENS DO PATRIMONIO CULTURAL. Como resultado desde primeiro ano do projeto, neste ano letivo de 2012, a proposta de educação integral do Ecomuseu de Maranguape, instalou na Escola José de Moura 04 (quatro) salas temáticas – cada sala com os seus respectivos conteúdos pedagógicos, exigidos pela grade curricular do ensino formal, mas com o diferencial de serem abordados, com a metodologia ‘imersão’ – facilitados por kit’s multimídias compostos por notebook com acesso a internet, projetor multimídia, com amplificado e lousa digital – facilitando também a inserção da educação patrimonial (tempo e espaço contextualizados em audiovisual – o local e o global, ou seja, o global). Destacamos ainda, a elaboração de um calendário conjunto de eventos socio-culturais da comunidade, resultando numa agenda comum de toda a comunidade, que por sua vez, e assim acreditamos, vem desenhando a nossa nova museologia. Palavras-chave: Ecomuseu - Patrimônio - Educação patrimonial - Desenvolvimento local - Museologia comunitária CARDOSO, Fábio Danças Típicas DANÇAS REGIONAIS Grupo Tucuxi – PA – BRASIL RESUMO Trata-se de uma oficina prática de aprendizagem de danças típicas regionais, com o objetivo de expor as danças regionais e a cultura local assim como divulgar as ações do grupo Tucuxi. Palavras-chave: cultura - patrimônio - danças típicas 293 GOMES, Gabriela de Lima VERdeFOTO - Ver para descobrir e fotografar. O projeto VERdeFOTO é integrante do programa de Implantação do Ecomuseu da Serra de Ouro Preto. VERdeFOTO *Gabriela de Lima Gomes – Ouro Preto/MG – Brasil Departamento de Museologia – Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP RESUMO Ver para descobrir e fotografar. O projeto VERdeFOTO, integrante do programa de Implantação do Ecomuseu da Serra de Ouro Preto/MG tem como finalidade despertar o olhar da criança para o reconhecimento do contexto de vida e do seu patrimônio. A realização da oficina VERdeFOTO no IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários justifica-se pelo compartilhamento de experiências já realizadas em diversas comunidades tendo como foco a capacitação do olhar do pequeno cidadão. Propiciaremos ferramentas para cada participante desenvolver seu potencial criativo através da produção fotográfica, apontando questões no âmbito da preservação, alertando-os para a valorização do patrimônio cultural e ambiental e treinando-os e qualificando-os para possíveis atuações profissionais futuras. Palavras-chave: Fotografia - Ecomuseu - Patrimônio - Preservação - Qualificação FAGUNDES, Valda O desafio da Educação Museal nos Museus Sem Paredes O DESAFIO DA EDUCAÇÃO MUSEAL NOS MUSEUS SEM PAREDES Valda de Oliveira Fagundes* Ecomuseu Dr. Agobar Fagundes – SC – BRASIL *Profa. Dra. Valda de Oliveira Fagundes- Linguista Mestrado, Doutorado, Pós Doc-IEL (Instituto de Estudos da Linguagem)-UNICAMP, diretora do Ecomuseu Dr. Agobar Fagundes e membro do Comitê Gestor de Museologia do Estado de Santa Catarina. RESUMO Algumas reflexões sobre os conceitos de Ecomuseologia e Museologia Comunitária; Ecomuseu e Parque Natural, uma Filosofia Ecológica de Regionalização; Reflexões sobre Patrimônio e Ecomuseologia; Museologia e interpretação da Paisagem; Ecomuseu - um Instrumento de Animação Cultural concebido para as regiões dos Parques Estaduais, Nacionais, Rurais dentre outras; Relato de experiências do trabalho de Educação Museal no Ecomuseu Dr Agobar Fagundes (2007-2012); No ecomuseu desenvolvemos algumas linhas de investigação tais como: Comunidades interpretativas, Produção de Sentido e Ideologias da visibilidade nos Ecomuseus no Sul do Brasil; -Comunidades interpretativas: destaca o trabalho dos Ecomuseus dentro das comunidades e seu relacionamento com seus públicos; -Produções de sentido: apresentamos alguns meios que os ecomuseus utilizam na produção de sentidos e conhecimento, à luz de novas práticas e discussões na área; -Ideologias da visibilidade: refletimos sobre a responsabilidade da conservação da memória nesta tipologia de museus, abordando temáticas tais como, identidade e memória individual e memória coletiva. Apresentaremos resultados parciais da Pesquisa de Campo do Projeto de Estudos da Fauna e Flora da Zona de Amortecimento do Parque Nacional da Serra do Itajaí (PSNI) sede do Ecomuseu Dr. Agobar Fagundes. 294 Palavras-chave: Ecomuseu - Museu comunitário - Memória - Identidade Comunidade interpretativa FARIAS, Claudio Costa de Canto popular - cuidados com a voz CANTO POPULAR - CUIDADOS COM A VOZ Claudio Costa de Farias* RESUMO A proposta tem como fundamento mostrar a teoria de inicio ao canto ou teoria musical, transmitir valores de que qualquer pessoa pode cantar como forma de expressão autoestima, além de servir como forma de estabelecer contatos e laços sociais. Palavras-chave: Canto - Música - Cultura - Saber popular - Expressão FRANÇA, Roberto Registros de passagem REGISTROS DE PASSAGEM Roberto França* *Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade de Taubaté, membro suplente da ABREMC; desenvolveu atividades como técnico do Ecomuseu da Amazônia. A oficina tem como objetivos: -Desenvolver ação artística estética e ambiental, levando discussões sobre Arte, Arte Popular, Cultura Visual, percepção ambiental e valorização dos recursos da floresta, através da criação de estandartes de tecido de saca de açúcar. -Discutir a importância da cultura e da Arte e da chamada Cultura Visual no campo da museologia, tendo como referência os Estandartes produzidos pelo artista Arthur Bispo do Rosário; -Registrar a passagem das pessoas que participarão do encontro, por meio dos estandartes. Justifica-se esta proposta pela necessidade de educar o olhar para produções contemporâneas; implica na compreensão de outras lógicas de relacionar, perceber, representar e interagir com universos culturais, suas diversidades e manifestações. RESUMO A proposta tem como fundamento, discutir a produção de estandartes inseridos no contexto histórico social de diversas sociedades, de algumas instituições e ainda nos movimentos culturais de forma a explorar e transmitir valores procura-se ainda realizar uma releitura das manifestações culturais que utilizam o estandarte e ao mesmo tempo, constituir-se como forma de expressão e registro na passagem de diversas pessoas por Belém, além de servir de objeto de percepção visual, ao imitar os tecidos colocados em varais nos quintais Brasil afora. Podemos entender a proposta pelos conceitos de arte e natureza de Bené Fonteles, artista Paraense, ligado a multimídia e ecologia. Sua atuação neste estado onde passa quase toda a década de 80, resulta na criação da Associação mato-grossense de Ecologia, do Movimento Artistas pela Natureza, do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e das campanhas em defesa do Pantanal e Pelo Respeito aos Direitos Indígenas. Utilizaremos recursos da floresta como folhas, sementes, cascas, flores e outros encontrados no caminho, dialogam, contam as histórias como grandes livros que se perpetuam na sabedoria popular de um povo, diante deste contexto, a valorização das 295 coisas do lugar e a arte popular, se comunicam pela visão do outro, onde cada qual explora à sua maneira, está fundamentada nos conceitos de que Arte possibilita desenvolver a percepção, a imaginação e a capacidade crítica, permitindo analisar e resignificar à realidade em que está inserido, respeitando o local do outro. Palavras-chave: Arte - Natureza - Cultura - Saber popular - Ambiente - Educação LIMA, Wildinei Homem, Natureza e a utilização dos recursos naturais HOMEM, NATUREZA E A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS Wildinei Lima RESUMO A proposta é demonstrar um resumo das experiências adquiridas através de ações e participação voluntária no Ecomuseu da Amazônia e tem como objetivo apresentar as inúmeras possibilidades de adequação dos materiais naturais de forma prática a fim de incentivar a substituição de materiais industrializados, valorizando a cultura (práticas artesanais), o homem (seu autor) e a conscientização ambiental (produção biodegradável) como resultado do conhecimento adquirido durante as oficinas, palestras e as capacitações promovidas pelo Ecomuseu da Amazônia tendo como base os eixos trabalhados pelo programa. Palavras-chave: Cidadão - Fortalecimento - História - Cultura - Sustentabilidade MELO, Diogo e LIMA, Maria do Socorro Identificando memórias IDENTIFICANDO MEMÓRIAS Diogo Melo*, Maria do Socorro Lima** *Universidade Federal do Pará-UFPA e **UFPA/UNIRIO RESUMO A mesma busca um repensar crítico em relação a atividades de pesquisa e desenvolvimento teórico, buscando uma reflexão em relação à construção de identidades e reconhecimento de patrimônios locais. Além de buscar no método Paulo Freire da “Palavra Geradora”, uma proposta de reconhecimento e aproximação entre o exógeno e o local, conciliando diálogos construtivos e proposições positivas e pertinentes aos contextos locais. Objetivando pensar na relação entre a teoria da Memória Social e as práticas, pensando no desenvolvimento cooperativo entre pesquisador e comunidade. Busca apresentar diversas ações que estão sendo desenvolvida pelos projetos de extensão dos ministrantes da oficina, que atuam: com professores da rede pública do Município de Belém e Estado do Pará e as comunidades de Icoaraci, Santa Bárbara e Cotijuba no estado do Pará. NOPH/ Ecomuseu de Santa Cruz e Movimento Ecomuseu de Sepetiba – RJ-BRASIL Patrimônio e Capacitação dos Atores sociais para o desenvolvimento local no Ecomuseu de Santa Cruz PATRIMÔNIO E CAPACITAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL NO ECOMUSEU DE SANTA CRUZ E EM SEPETIBA -RJ 296 Bruno Cruz de Almeida*, Pablo Ramos Camilo*, Regina C.dos S. G. França*, Sinvaldo do N. Souza*, Tiago de O. Rodrigues* e Bianca Wild** *NOPH/ Ecomuseu de Santa Cruz e **Movimento Ecomuseu de Sepetiba – RJBRASIL RESUMO Com base nos últimos projetos desenvolvidos pelo NOPH/ Ecomuseu de Santa Cruz e pelo Movimento Ecomuseu de Sepetiba, a oficina mostrará documentários, relatórios e apresentações das seguintes ações: Santa Cruz Revisitada, Ciclo de Leituras Dramatizadas, Exposição de maquetes - Rastros de História e Memória, Oficinas de Canto Coral , Capoeira e Dança e o Colóquio "Patrimônio, Comunidade e Indústria o diálogo possível”, realizado em 2011 em Santa Cruz, além de documentário sobre a Baía de Sepetiba e do Observatório de Gente (Meldro Produções/ Roberto Melo), seguidos de debate sobre a situação atual do bairro. O objetivo da oficina é mostrar a metodologia usada em 2010 e 2011 para valorizar o patrimônio e capacitar os membros da comunidade para participar ativamente da gestão da cultura, do patrimônio e do ambiente na abrangência do Ecomuseu de Santa Cruz e do Movimento Ecomuseu de Sepetiba, incluindo novas perspectivas de Economia Criativa e Desenvolvimento Sustentável. Palavras-chave: Patrimônio- Comunidade- Ecomuseu - Desenvolvimento Local – Desenvolvimento sustentável - Cidadania – Economia Criativa Ó, Maria de Nazaré do Danças Típicas Regionais com enfoque no carimbo DANÇAS TÍPICAS NO ENFOQUE DO CARIMBÓ Maria de Nazaré do Ó Grupo Vaiangá – PA – BRASIL RESUMO Possibilitar a ampliação da exposição de costumes e danças típica do Pará com enfoque no patrimônio cultural e o carimbó a fim de maneira prática divulgar a cultura do povo paraense. Palavras-chave: Cultura - Patrimônio - Dança - Carimbó OLIVEIRA, Paulo Alberto A contribuição das organizações sociais para o empoderamento das comunidades A CONTRIBUIÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS PARA O EMPODERAMENTO DAS COMUNIDADES Paulo Alberto Oliveira* *Grupo Ambiental Natureza Viva-GANV RESUMO Esta oficina aborda a participação efetiva da comunidade local. Enfatiza-se a participação ativa no processo metodológico das mudanças sociais observadas nas comunidades em que o Grupo Ambiental Natureza Viva-GANV atua com a participação social, fortalecimento dos laços de solidariedade e confiança e também do poder de expressão local do grupo quanto ao reconhecimento da sua condição social e de seus direitos. Partimos do pressuposto que o alicerce 297 de processos de desenvolvimento onde a formação de capital social e o empoderamento dos sujeitos. PACHECO, Vínicius BIOMAPAS: elaboração e produção. BIOMAPAS : ELABORAÇÃO E PRODUÇÃO Vinicius Pacheco* *Ecomuseu da Amazônia-PA-BRASIL RESUMO Originalmente os biomapas eram produzidos pelos próprios comunitários das áreas de atuação do programa a partir de suas próprias concepções espaciais e geográficas. Nesses registros gráficos simplificados enfatizava-se o funcional como: o espaço comunitário, vias de acesso, furos, trilhas, e pontos de referência. Atualmente, a elaboração de biomapas, fundamenta-se num processo técnico de produção essencialmente artístico, e sua principal finalidade é possibilitar o acesso visual às comunidades atendidas pelo programa, definindo e identificando a abrangência desses grupos em cada território especificamente, além de conter informações sobre aspectos da cultura e do patrimônio local, modalidades da arte popular, símbolos e serviços desenvolvidos em cada comunidade. PAIXÃO, Fidélis Desenvolvimento Local na Amazônia: conhecendo metodologias, identificando limites e possibilidades DESENVOLVIMENTO LOCAL NA AMAZÔNIA: CONHECENDO METODOLOGIAS, IDENTIFICANDO LIMITES E POSSIBILIDADES *Fidélis Paixão *advogado ambientalista, bacharel em direito pela Universidade Federal do Pará, consultor e especialista em Gestão do Desenvolvimento Local Integrado Sustentável pela PUC-MG/AED/PNUD, MBA em Planejamento e Gestão Estratégica, pelo Grupo UNINTER. RESUMO A Amazônia é cenário das maiores preocupações internacionais devido à riqueza da biodiversidade e a complexidade de seus sistemas ecológicos, demandando a necessidade do poder público, da sociedade e do mercado implementarem mecanismos sustentáveis de utilização e transformação dos seus recursos naturais, levando em consideração especialmente suas peculiaridades multiculturais e multiétnicas. Daí a importância de pensar metodologias de promoção do desenvolvimento local como instrumentos para empoderamento, protagonismo, geração de renda, inclusão social e preservação cultural e ambiental, enfim para coesão e harmonia social a partir do sentimento de pertencimento. Assim objetiva-se apresentar a metodologia “DELA – Desenvolvimento Local Amazônico” e discutir os limites e possibilidades do desenvolvimento sustentável local na Amazônia a partir de experiências como a Agenda 21, o DLIS, os Museus Comunitários e outros processos participativos de promoção do protagonismo local. Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável - Protagonismo local - Agenda 21 PEREIRA, Rosemiro Pinheiro Cerâmica e o desenvolvimento local 298 CERÂMICA E O DESENVOLVIMENTO LOCAL *Rosemiro Pinheiro Pereira *Conselho Superior de Artesanato do Pará-COSAPA. A Oficina tem por objetivo mostrar como é possível usar os recursos da natureza - o barro - para transformá-lo em obras de arte. O bairro do Paracuri, pólo de artesanato de cerâmica, mantém a tradição de transformar a argila em arte há décadas, obtendo, a partir de este fazer, o desenvolvimento, local através do escoamento de sua produção para visitantes nacionais e internacionais. Centenas de famílias mantêm suas casas criam e educam seus filhos com os recursos obtidos desta atividade artesanal. Partindo deste contexto sócio-econômico-cultural, observa-se a importância de apresentar o fazer desta comunidade no IV EIEMC. A cerâmica é ao mesmo tempo a mais simples e a mais difícil de todas as artes. A mais simples, por ser a mais elementar; a mais difícil, por ser a mais abstrata. Historicamente, encontra-se entre as artes mais primitivas. Os vasos mais antigos que se conhecem eram modelados à mão em barro cru, tal qual era extraído da terra, e secos ao sol e ao vento. Mesmo nesse grau do seu desenvolvimento, antes de possuir escrita, literatura ou mesmo uma religião, o homem possuía já esta arte, e os vasos que então produzia ainda são capazes de nos sensibilizar por suas formas expressivas. Quando o homem descobriu o fogo e aprendeu a tornar seus vasos rijos e duradouros, quando inventou a roda e como oleiro pôde acrescentar ritmo e movimento ascensional ao seu conceito de forma, estavam presentes todos os elementos essenciais da mais abstrata de todas as formas de arte. Esta foi evoluindo desde as suas humildes origens até que, no século a.C., se tornou a arte representativa da raça mais intelectual e sensitiva que o mundo conheceu. Um vaso grego é o verdadeiro protótipo da harmonia clássica. Depois, para o Oriente, outra grande civilização fez da cerâmica a sua arte mais típica e mais estimada, e levou-a a requintes mais delicados que os próprios Gregos. Um vaso grego é harmonia, mas um vaso chinês, uma vez liberto das influências impostas por outras culturas e outras técnicas, alcança harmonia dinâmica: já não é só uma relação numérica, mas um movimento vivo. Não é um cristal, é uma flor. Os tipos perfeitos de cerâmica, representados nas artes da Grécia e da China, têm os seus equivalentes aproximados noutras regiões: no Peru e no México, na Inglaterra e na Espanha medievais, na Itália do Renascimento, na Alemanha do século XVIII – de fato, esta forma de arte é tão fundamental, está tão intimamente ligada às necessidades mais elementares da civilização, que o gênio nacional de um povo tem sempre de achar maneira de nela se exprimir. Julga-se a arte de um país, julgue-se a sutileza da sua sensibilidade pela sua cerâmica: é uma segura pedra de toque. Cerâmica é arte pura; arte liberta de qualquer intenção imitativa. A escultura, com a qual está mais intimamente relacionada, teve desde o início uma intenção imitativa, e nessa medida talvez tenha sido menos livre que a cerâmica como meio de expressar o desejo de forma; a cerâmica é a arte plástica na sua essência mais abstrata. Hoje em dia, o mais importante pólo de resgate da cerâmica marajoara no estado do Pará encontra-se em Icoaraci, localidade próxima à cidade de Belém. Os artesãos usam o barro colhido nas margens dos igarapés da região, modelam, à mão ou em tornos-de-pé, réplicas, peças utilitárias e decorativas, queimam em rústicos fornos a lenha, decoram com engobes, e usam a técnica de brunir. Em Icoaraci existem dezenas de ateliês confeccionando peças que são vendidas para o mercado interno e externo. Um dos principais locais de comercialização é a COARTICooperativa dos Artesãos de Icoaraci, (localizada na rua Padre Júlio Maria, próximo à Praça da Matriz; na SOAMI-Sociedade dos Artesãos e Amigos de Icoaraci, Passagem Espírito Santo 20 A, tel 0xx91 2476599) e na COSAPA-Conselho Superior do Artesão do Pará, (Travessa Soledade 700 tel 0xx91 2272905/2270127). 299 Palavras-chave: Arte - Natureza - Barro - Cerâmica - Tradição - COARTI - SOAMI PONTO DE MEMÓRIA TERRA FIRME O inventário participativo do Ponto de Memória da Terra Firme O INVENTÁRIO PARTICIPATIVO DO PONTO DE MEMÓRIA DA TERRA FIRME Ponto de Memória Terra Firme – PA – BRASIL RESUMO Por meio de depoimentos de conselheiros do Ponto de Memória, imagens e vídeos serão apresentados a história do Bairro da Terra Firme, de Belém (PA). Palavras-chave: História - Bairro - Terra Firme - Ponto de memória. PROJETO AMA Viveiros de mudas: semear e plantar para uma educação sustentável VIVEIROS DE MUDAS: SEMEAR E PLANTAR PARA UMA EDUCAÇÃO SUSTENTÁVEL Projeto Ama/Centro de Referência em Educação Ambiental Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira-FUNBOSQUE. RESUMO Suscitar atitudes críticas que possibilite uma Educação Ambiental Sustentável, evidenciando ações que evidencie a preservação e recuperação do patrimônio físico e ambiental da escola. A oficina será ofertada com o intuito de ampliarmos a discussão acerca de uma Educação Ambiental Sustentável, a partir de reflexões e atividades práticas. PRIOSTI, Odalice; ESCOBAR, Giane Relatório das I e II Jornadas Formação em Museologia Comunitária ECOS DAS JORNADAS DE FORMAÇÃO EM MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA Odalice Priosti*; Giane Vargas Escobar** ABREMC/NOPH - Ecomuseu de Santa Cruz e parceiros ABREMC/Museu Treze de Maio e parceiros *I Jornadas Formação em Museologia Comunitária – Santa Cruz – RJ – 2009 **II Jornadas Formação em Museologia Comunitária – Santa Maria – RS – 2011 RESUMO Ação pioneira realizada nos anos de 2009 e 2011, com o objetivo de capacitar membros, responsáveis e protagonistas de ecomuseus e museus comunitários, museus de percurso, museus de território, museus vivos, museus de favela e outros sobre os conceitos e métodos por eles usados, as Jornadas Formação em Museologia Comunitária foram concebidas pela ABREMC – Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários e organizadas e coordenadas pelo NOPH/ Ecomuseu de Santa Cruz, no Rio de Janeiro e pelo Museu Treze de Maio, em Santa Maria / RS, respectivamente com seus inúmeros parceiros. A oficina apresenta os relatórios das Jornadas e anuncia as III Jornadas em 2013 em São José dos Campos, SP, sob a coordenação do CECP – Centro de Estudos de Cultura Popular e do Museu do Folclore de São José dos Campos. 300 Palavras-chave: Ecomuseu - Museu comunitário - Protagonismo - Facilitador - Atores do desenvolvimento - Parceria QUADROS, Helena A exposição do Museu Goeldi com Alimentação Saudável A EXPOSIÇÃO DO MUSEU GOELDI COM ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Helena Quadros Museu Paraense Emílio Goeldi-MPEG – PA – BRASIL RESUMO Possibilitar a ampliação da divulgação cientifica a um número maior de profissionais e interessados sobre a temática da “alimentação saudável”, a fim de sensibilizá-los para a melhoria da qualidade de vida da população. Após a parte teórica será realizada a parte prática com o preparo da farofa enriquecida. Palavras-chave: Alimentação - Saúde - Qualidade de vida. SILVA, Mary F. e PEREIRA, Maria Aida de Jesus Delise Projeto horta do conhecimento: uma teia de conhecimento: uma teia de múltiplos saberes e sabores - Biscoitos de horta; Sucos da horta: suco escola bosque e estrelado; e pratos alternativos da horta: espernegados e tortas de cascas PROJETO HORTA DO CONHECIMENTO: UMA TEIA DE CONHECIMENTO: UMA TEIA DE MÚLTIPLOS SABERES E SABORES - BISCOITOS DE HORTA; SUCOS DA HORTA: SUCO ESCOLA BOSQUE E ESTRELADO; E PRATOS ALTERNATIVOS DA HORTA: ESPERNEGADOS E TORTAS DE CASCAS Mary Silva e Maria Aída de Jesus Delise RESUMO O projeto visa reverter o desperdício de alimentos, reaproveitando cascas, talos, folhas e sementes em preparações de baixo custo, saborosas e nutritivas. É nesta arte entre ensinante e aprendente junto as comunidades das ilhas, que a gastronomia sustentável vem transformando o que antes ia para lixo em pratos de alto valor nutritivo e baixo custo, empoderando esses autores comunitários a descobrirem, produzirem e utilizarem hortaliças e frutas diversas em pequenas hortas nos seus quintais a partir de sua cultura local. Resgatando o que as gerações passadas já cultivavam em seus jiraus, pequenos canteiros suspensos, onde plantavam seus temperos e ervas aromáticas, como forma de consumir um alimento saboroso e nutritivo. É desta forma que vivenciamos a educação ambiental na escola. Dia 13/06- Oficina de sucos da horta: suco escola bosque e suco estrelado. Dia 14/06- Oficina biscoitos: biscoito de jurumum e biscoito de cascas de legumes. Dia 15/06- Oficina de pratos alternativos: espernegado e torta de cascas. TEIXEIRA, Lúcio Hidroponia I e II (PET JC Castelo Branco/Ecomuseu de Santa Cruz) OFICINA DE HIDROPONIA I e II Lúcio Teixeira* PET Jornalista Carlos Castelo Branco/Ecomuseu de Santa Cruz – RJ – BRASIL *Professor da Rede Pública da SME - Rio de Janeiro/Ciências Agrícolas/UFRRJ; Pesquisas e especializações em Cultura sem solo 301 RESUMO Como o cultivo hidropônico é basicamente feito em água, justifica-se a necessidade de intensificar conhecimentos acerca de uma técnica que dinamize outros meios de produção, à exceção do solo, o qual amplie a qualidade de vida da comunidade. Com o objetivo de - Apresentar o cultivo hidropônico à comunidade; - Estruturar uma horta hidropônica em todas as suas fases; - Aplicar em teoria e prática a cultura hidropônica e seus benefícios. a Oficina de Hidroponia I e II demonstrará a metodologia de produção hidropônica realizada com alunos do PET 10.19.058.1 Jornalista Carlos Castelo Branco , situado no bairro de Paciência e em outras unidades municipais da 10ª CRE, Rio de Janeiro, como projeto itinerante . A oficina pretende apresentar o cultivo de vegetais sem o uso de solo ou substrato. O cultivo basicamente será feito em calhas onde circulará uma solução líquida com os elementos nutritivos necessários para o bom desenvolvimento das plantas. Palavras-chave: Hidroponia - Cultura - Água/meio ambiente - Cultura sem solo 302 PÔSTERES 303 VIII. PÔSTERES - RESUMOS ABREMC – NOPH/ ECOMUSEU DE SANTA CRUZ I Jornadas Formação em Museologia Comunitária MEMÓRIA DAS I JORNADAS FORMAÇÃO EM MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA ABREMC – NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz – RJ – BRASIL RESUMO Apresentam-se as ressonâncias e imagens das I Jornadas Formação em Museologia Comunitária, ação pioneira da ABREMC e NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz e seus parceiros com a finalidade de reunir responsáveis e protagonistas dos ecomuseus, museus comunitários, museus vivos, museus de percurso, museus de território, museus de favela, entre outros; para troca de experiências, conceitos, métodos e práticas, promovendo dessa forma uma mútua capacitação. Conferência, Mesas Redondas, Aula Magna na UNIRIO, Oficinas de capacitação de facilitadores de museus comunitários, oficinas itinerantes, visitas a comunidades e elaboração conjunta de exposição de encerramento constou de um dinâmico e intenso programa de duas semanas, de 23/10 a 07 /11 em 2009. Palavras-chave: Museologia comunitária - Ecomuseologia Protagonismo comunitário - Patrimônio - Cidadania. - Participação - ABREMC – MUSEU TREZE DE MAIO II Jornadas Formação em Museologia Comunitária. ECOS DAS II JORNADAS FORMAÇÃO EM MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA ABREMC – Museu Treze de Maio – Santa Maria – RS – BRASIL RESUMO No Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, de 28/10 a 03/11 de 2011, o Museu Treze de Maio, com seus parceiros, abraçou a proposta da ABREMC para a realização das II Jornadas Formação em Museologia Comunitária em Santa Maria, coração do Rio Grande do Sul. O pôster apresenta as memórias dessa 2ª edição das Jornadas: imagens, depoimentos, festividades, troca de saberes com mestres griôs, visitas a espaços sagrados de religiões de matriz africana, registros de visita a quilombos e a outras iniciativas comunitárias no RS, entre outras vivências, além da profunda reflexão sobre as heranças e desafios da população afrodescendentes que se orgulha de suas raízes e tradições. Palavras-chave: Afrodescendentes - Clube de negros - Identidade - Inclusão Respeito à diferença - Cultura viva - Tradições. ALMEIDA, Bruno Cruz; CAMILO, Pablo Ramos; FRANÇA, Regina C. dos S. G.; MADEIRA, Paulo Henrique; MELO, Silvia R. L.C.C.; PEREIRA, Ramiro Miranda; PRIOSTI, Walter; PRIOSTI, Odalice; RODRIGUES, Tiago de Oliveira; SOUZA, Sinvaldo do N. NOPH-ECOMUSEU DE SANTA CRUZ: História e Memórias feitas por nós. NOPH-ECOMUSEU DE SANTA CRUZ: História e Memórias feitas por nós Bruno Cruz Almeida; Pablo Ramos Camilo; Regina C. dos S. G. França; Paulo Henrique Madeira; Silvia R. L.C.C. Melo; Ramiro Miranda Pereira; Walter Priosti; Odalice Priosti; Tiago de Oliveira Rodrigues; Sinvaldo do N. Souza. NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz – Rio de Janeiro – RJ – BRASIL RESUMO 304 Após 29 anos de ação sociocultural, movimento e ação ecomuseológica do NOPHNúcleo de Orientação e Pesquisa Histórica, e tendo sido reconhecida como ecomuseu desde o seu nascedouro, em 1983, em Santa Cruz - Rio de Janeiro, mas apenas identificado como o primeiro ecomuseu comunitário do Rio de Janeiro, em 1992, no I Encontro Internacional de Ecomuseus, no Rio, reconhecemos e propagamos à comunidade ecomuseal mundial que, embrião e núcleo de resistência, o NOPH continua a ser para a comunidade o Ecomuseu de Santa Cruz. Suas práticas, seus métodos inovadores, sua forma de participação e intervenção, sua abrangência nas comunidades encontraram ressonância em diversos estados brasileiros, dando origem a outras iniciativas e multiplicando em quase três décadas o número de experiências nessa vertente museológica. Fundamentado nos conceitos de educação popular e na prática da liberdade e na autonomia de ação freireanos e no tripé “patrimônio, território/ espaço vivido e comunidade participante”, o Ecomuseu de Santa Cruz consolidou sua pedagogia patrimonial e propaga que o ecomuseu é também uma capacitação da comunidade para a responsabilização pelo patrimônio, usado por ela para o desenvolvimento local e para sua cidadania política. O ecomuseu é, por isso, uma escola comunitária de formação de atores do desenvolvimento local e de cidadãos politicamente conscientes de sua força e de sua liberdade de escolhas e de tomada de decisões. Palavras-chave: Ecomuseu - História - Memória - Comunidade - Patrimônio Território - Desenvolvimento local. ALMEIDA, Bruno Cruz; CAMILO, Pablo Ramos; FRANÇA, Regina C. dos S. G.; MADEIRA, Paulo Henrique; MELO, Silvia R. L.C.C.; PEREIRA, Ramiro Miranda; PRIOSTI, Walter; PRIOSTI, Odalice; RODRIGUES, Tiago de Oliveira; SOUZA, Sinvaldo do N. NOPH-ECOMUSEU/MUSEU COMUNITÁRIO: o museu como escola de libertação, protagonismo, cidadania e resistência. NOPH-ECOMUSEU/MUSEU COMUNITÁRIO: o museu como escola de libertação, protagonismo, cidadania e resistência Bruno Cruz de Almeida, Pablo Ramos Camilo, Paulo H. Madeira, Odalice Priosti, Ramiro M. Pereira, Regina Célia Dos S. G. França, Sílvia Regina L.C.C.Melo, Sinvaldo do Nascimento Souza, Tiago de Oliveira Rodrigues e Walter Priosti. NOPH/Ecomuseu de Santa Cruz – Rio de Janeiro – RJ – BRASIL RESUMO A trajetória do NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica como Ecomuseu de Santa Cruz ratifica o protagonismo comunitário da comunidade do bairro histórico de Santa Cruz de comunidade passiva, a objeto das decisões políticas a comunidade que protagoniza reivindicações e negociações. Consolidaram-se conceituação e metodologia próprias saídas das práticas patrimoniais como as visitas de reconhecimento do espaço vivido, o diagnóstico do patrimônio ou inventário participativo, as Rodas de Lembranças ou de Memórias, as oficinas de capacitação, os programas educativos como Semana de Santa Cruz, Feira da Cultura Viva, Santa Cruz Revisitada e suas exposições itinerantes, o Jornal Quarteirão, os saraus e as gincanas culturais. Buscando interagir com os saberes e fazeres locais, muitos cultivados nas famílias dos imigrantes, o NOPH/ Ecomuseu fomenta também a criação de cooperativas, reunindo e organizando a comunidade em seus diferentes grupos de lideranças locais, poetas e escritores, artistas e artesãos, costureiras e bordadeiras, músicos e compositores, comerciantes e representantes da indústria para estimular a geração de rendas e a formação de um Conselho Consultivo, fundamentais para a construção do Desenvolvimento Local. 305 Palavras-chave: Ecomuseu - Comunidade - Participação - Patrimônio - Organização comunitária - Resistência - Cidadania - Libertação ARAÚJO, Cauê Donato Silva Oficinas como método de capacitação no Programa Ecomuseu da Serra de Ouro Preto. OFICINAS COMO MÉTODO DE CAPACITAÇÃO NO PROGRAMA ECOMUSEU DA SERRA DE OURO PRETO* Cauê Donato Silva Araujo UFOP – UFOP – Ouro Preto – MG – BRASIL *Orientação: Profª. Drª. Yára Mattos PROEX/DEMUL/UFOP – Programa Ecomuseu da Serra de Ouro Preto/MG RESUMO A capacitação de agentes disseminadores de conhecimentos e tradições, que formam o patrimônio de qualquer comunidade, é de vital importância. No caso deste trabalho, irei analisar as práticas de capacitação realizadas pelo Programa Ecomuseu da Serra de Ouro Preto/MG (PROEX/DEMUL/UFOP) sob o viés da prática de oficinas. São os agentes sociais oriundos das comunidades que poderão garantir as ações e iniciativas ecomuseológicas e de desenvolvimento sustentável em longo prazo. Nesse sentido, pretendo reafirmar a importância da capacitação de indivíduos nas comunidades para que, num estágio mais adiantado possamos alcançar o rumo desejado assim como, criar vínculos ainda mais fortes entre todos os envolvidos nessa inspiradora aventura que é a ecomuseologia. Portanto, educar é na verdade, o reflexo das ações propostas e do consenso do que seja importante para cada comunidade. Sendo assim, está intrinsecamente relacionada com as tradições e o patrimônio da cada localidade. Como processos metodológicos, foram realizadas oficinas participativas através de leitura e textos, discussões e dinâmicas de grupo com intuito de contribuir para o desenvolvimento da ação do sujeito social a partir de sua função no âmago da comunidade. Ações vêm sendo realizadas com jovens dos diversos núcleos, destacando-se os do São Sebastião, por exemplo: oficinas, exposições, projetos, que possibilitam a esses jovens receber, na Semana de Museus de 2012 o “título” de equipe jovem do Ecomuseu da Serra de Ouro Preto. A grande valia não está no título, pelo contrário, os próprios jovens entendem que o papel que lhes cabe desempenhar é levar adiante os conhecimentos sobre os patrimônios e tradições de suas comunidades, ao mesmo tempo em que deixam suas marcas como atores da história que se escreve ao longo de seus percursos. Palavras-Chave: Ecomuseologia - Ativismo Social - Capacitação. BASTOS, Rodolpho Z.; BOGÉA,Eliana B.; SILVA, Aldenora; RIBEIRO, Mônica C.; RIBEIRO, Maria do Socorro C. MUSEU PARQUE SERINGAL MUSEU PARQUE SERINGAL Rodolpho Zahluth Bastos, Eliana Benassuly Bogéa, Aldenora Pena da Silva, Mônica C. Ribeiro, Maria do Socorro C. Ribeiro. Museu Parque Seringal – Ananindeua – PA – BRASIL RESUMO O Museu Parque do Seringal, projeto cultural e turístico do município de Ananindeua, PA, remete aos tempos áureos do Ciclo da Borracha. Formado pelo Museu do Seringueiro, anfiteatro, restaurante, trilhas das Seringueiras, viveiros e espaços para atividades físicas, oferece uma área de 1348 hectares e 513 metros assegurando a proteção de aproximadamente 13500m² de vegetação nativa representada quase 306 exclusivamente por seringueiras. Proporciona o resgate da identidade patrimonial histórica e cultura locais com destaque à valorização do Ciclo da Borracha. Contribui na formação de noções de cidadania, identidade e educação patrimonial e histórica, através de eventos, roteiros ecoturísticos e na preservação da flora existente. Palavras-chave: Meio Ambiente - Educação Patrimonial e Histórica - Ciclo da borracha - Turismo sustentável DAMIÃO, Luana Caroline; GOMES, Gabriela de Lima Projeto VERdeFOTO – A criação de uma linha do tempo para a apresentação do desenvolvimento dos processos fotográficos. PROJETO VERdeFOTO – A CRIAÇÃO DE UMA LINHA DO TEMPO PARA A APRESENTAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DOS PROCESSOS FOTOGRÁFICOS Luana Caroline Damião* * Departamento de Museologia – UFOP – Ouro Preto/MG – Brasil Gabriela de Lima Gomes** **Departamento de Museologia – UFOP – Ouro Preto/MG – Coordenadora do Projeto VERdeFOTO RESUMO O presente pôster visa demonstrar a experiência de uma das práticas de ensino realizadas durante o desenvolvimento das atividades do Projeto VERdeFOTO, braço de atuação do Programa Ecomuseu da Serra de Ouro Preto/MG. Pretendemos despertar o olhar das crianças, entre 7 e 13 anos, para o reconhecimento do contexto de vida, para as possibilidades de integração com o espaço e para a compreensão dos princípios da preservação cultural e ambiental. As ações do projeto VERdeFOTO estão fundamentadas na prática interdisciplinar, constituída por alunos representantes da museologia, da pedagogia, da física e da química, responsáveis pela preparação de quatro aulas expositivas com assuntos chaves da fotografia: 1 - história da fotografia; 2 - tipos de câmeras; 3 - formação da imagem e 4 - processo de revelação, dedicados aos alunos acima respectivamente. Serão aqui apresentadas as estratégias utilizadas para o ensino do desenvolvimento da técnica fotográfica, tendo como apoio pedagógico a montagem de uma linha do tempo com imagens ilustrativas das principais características da história da fotografia. Palavras-chave: Fotografia; Patrimônio; Ecomuseu; Qualificação e Preservação. ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Eixo Cultura Eixo CULTURA Ecomuseu da Amazônia – Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira – Secretaria Municipal de Educação – Prefeitura Municipal de Belém. RESUMO O presente Pôster é um resumo de atividades do eixo cultura desenvolvido pelo Ecomuseu da Amazônia nas suas quatro áreas de atuação: Ilhas de Caratateua: comunidades Fama, Tucumaeira e São João do Outeiro; Mosqueiro: comunidades Assentamento Paulo Fonteles, Caruaru e Castanhal do Mari-Mari; Cotijuba: comunidades Faveira, Piri e Poção e Distrito de Icoaraci; comunidades Paracuri e Cruzeiro - orla. Este eixo tem como justificativa a necessidade da realização de ações que viabilizem a capacitação das comunidades fundamentadas na memória social individual e coletiva, ferramentas utilizadas para o reconhecimento da cultura como 307 patrimônio, assim como, a valorização e reafirmação de sua identidade enquanto expressão simbólica e o enraizamento da população de um território por meio da compreensão do seu importante papel enquanto ator do desenvolvimento local. Palavras-chave: Comunidade - Cultura - Valorização - Patrimônio - Sustentabilidade. ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Eixo Meio Ambiente Eixo MEIO AMBIENTE Ecomuseu da Amazônia – Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira – Secretaria Municipal de Educação – Prefeitura Municipal de Belém. RESUMO O banner apresenta uma síntese e imagens das experiências presenciadas nas áreas de atuação do Ecomuseu. A capital, também sofre com todos os problemas peculiares da maioria dos centros urbanos, tais como: falta saneamento, ocupação de periferia e a substituição das áreas verdes pelo cimento, concreto ou asfalto. A qualidade ambiental é um dos fatores-chave na criação de uma imagem positiva da cidade. A implantação dos viveiros de mudas nos locais de atuação do Ecomuseu da Amazônia servirá para o reflorestamento das áreas degradadas. E para mostrar que produzindo mudas, também é uma forma economicamente viável de angariar fundos, sem devastar a floresta. Nas áreas de atuação do ecomuseu são realizadas produções agrícolas orgânicos sem a utilização de adubação química e inseticidas químicos contra pragas e doenças. Para essas pragas e doenças é utilizado o inseticida orgânico para combaterem essas moléstias. A produção também é obtida com o sistema de roça sem queima que é a retirada da vegetação secundaria utilizando como cobertura morta contribuindo para o enriquecimento devido o aumento da matéria orgânica no solo, ajudando a recuperar as áreas degradadas. Além disso, se desenvolverá nas comunidades como, por exemplo, nas ilhas de Mosqueiro será implantado o manejo de camarão e de peixes lá existentes, ou seja, estes organismos serão capturados e transferidos para viveiros de várzea (que dependem do período da maré) já moldados pela natureza, mas que serão adaptados com barramento natural para represamento da água. Já na Comunidade de Poção, Ilha de Cotijuba, iniciou-se o projeto de piscicultura sustentável com a adaptação de viveiro a um seio natural formado pela natureza. Neste, serão aclimatados alevinos de tambaqui, alimentados inicialmente com ração comercial balanceada, mas intencionamos formular uma ração alternativa na fase de terminação final, composta de resíduos da agricultura, folhas e subprodutos animais descartados por matadouros, indústrias e mercados. Palavras-chave: reflorestamento - agrícola - orgânico - várzea - alevinos. ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Eixo Turismo Eixo TURISMO Ecomuseu da Amazônia – Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira – Secretaria Municipal de Educação – Prefeitura Municipal de Belém. RESUMO 308 O presente banner expõe uma síntese das experiências do eixo turismo nas áreas de atuação do Ecomuseu da Amazônia através de ações que evidenciam os limites geográficos, os territórios das áreas de atuação, o acervo natural e cultural a fim de valorizar o patrimônio existente nas comunidades e fortalecer a identidade, agregando valor aos atrativos para expô-los a própria comunidade, aos visitantes e turistas. São ações fundamentadas no turismo de base comunitária na qual os protagonistas são os comunitários/alunos que elaboram o inventário de oferta turística objetivando o levantamento e identificação dos atrativos, serviços e infraestrutura de apoio a atividade turística; a caracterização da oferta turística que vincula atratividade com a ordenação do registro documental das áreas; as trilhas ecoturísticas que sensibilizam turistas, visitantes e morador local sobre a questão ambiental e os cursos de capacitação de hospitalidade e turismo sustentável que viabiliza uma relação mais igualitária entre o hóspede e o anfitrião como uma troca de cultura, informações e melhoria na aquisição de renda, viabilizando assim, qualidade de vida. Palavras-chave: Turismo de base comunitária - Atrativos - Trilha - Hospitalidade Inventário. ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Eixo Cidadania Eixo CIDADANIA Ecomuseu da Amazônia – Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira – Secretaria Municipal de Educação – Prefeitura Municipal de Belém. RESUMO O presente Banner demostra um resumo e fotos das experiências do eixo cidadania do Ecomuseu da Amazônia nas quatro áreas de atuação: Distrito de Icoaraci (Paracuri: Sociedade de São Vicente de Paulo - SSVP e Sociedade de Artesãos e Amigos de Icoaraci - Soami) e Feira de Artesanato do Paracuri Cruzeiro - Orla; Ilha de Cotijuba: Faveira, Piri e Poção; Ilha de Caratateua: Fama, Tucumaeira e São João de Outeiro;e ilha de Mosqueiro: Paulo Fonteles, Caruaru e Castanhal do Mari Mari. Este eixo tem como justificativa apresentar os resultados dos eixos cultura, meio ambiente e turismo trabalhados, onde os atores contribuem de forma direta para o fortalecimento da permanência da memória social de cada comunidade envolvida no Programa Ecomuseu da Amazônia, buscando articular e fortalecer diferentes iniciativas de valorização da história das pessoas, de seus fazeres. Estão aliadas as diferentes práticas da moderna museologia e nas propostas de novos museus como: Museus Comunitários, Ecomuseus, Museus de Território entre outros, são museus concebidos e criados por membros de uma comunidade de origem ou de destino, fundado em interesses coletivos, com o objetivo de preservar processualmente a sua cultura viva, construir memória e usá-la para desenvolver harmônica e sustentavelmente o seu espaço-vida. Palavras-chave: Cidadão; Fortalecimento; História; Cultura e Sustentabilidade. ECOMUSEU DA AMAZÔNIA Biomapas: elaboração e produção. BIOMAPAS: elaboração e produção Ecomuseu da Amazônia – Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira – Secretaria Municipal de Educação – Prefeitura Municipal de Belém. RESUMO 309 Originalmente os biomapas eram produzidos pelos próprios comunitários das áreas de atuação do programa a partir de suas próprias concepções espaciais e geográficas. Nesses registros gráficos simplificados enfatizava-se o funcional como: o espaço comunitário, as vias de acesso, furos, trilhas, e pontos de referência. Atualmente, a elaboração de biomapas, fundamenta-se num processo técnico de produção essencialmente artístico, e sua principal finalidade é possibilitar o acesso visual às comunidades atendidas pelo programa, definindo e identificando a abrangência desses grupos em cada território especificamente, além de conter informações sobre aspectos da cultura e do patrimônio local, modalidades da arte popular, símbolos e serviços desenvolvidos em cada comunidade. 1. Experimentação/Histórico: Originalmente os biomapas eram produzidos por comunitários das áreas de atuação do programa a partir de suas próprias concepções espaciais por serem sabedores natos de sua geografia local. Sua solicitação era feita pelos técnicos do Ecomuseu da Amazônia frente às necessidades de acessibilidade, de esclarecimentos sobre essas áreas geralmente isoladas, como também, por sua utilização como referência visual para dar acesso a todas as comunidades atendidas pelo programa. Nesses registros enfatizava-se o espaço territorial da comunidade, vias de acesso, como furos e trilhas, e pontos de referência, como pequenos comércios, igrejas, e outros. Posteriormente tomamos como prioridade o processo artístico nessas produções, priorizando, dessa forma, sua originalidade incluindo ilustrações pertinentes aos aspectos específicos da cultura popular em cada uma dessas áreas inserindo cores e formas geográficas para uma nova proposta visual. Para isso, fez-se necessário mudar o referencial (território geográfico). Entendemos os biomapas como representações inacabadas por uma série de fatores, dentre eles estão ás mudanças estruturais como novas construções ou demolições, origem de novas atividades comerciais ou culturais decorrentes do processo de urbanização, assim como transferências ou abandono de estruturas administrativas. 2. Estilização: A elaboração de biomapas se fundamenta num processo essencialmente artístico em base a referências visuais cotidianas, a partir de informações das diferentes comunidades atendidas pelo programa, como também recebendo apoio de (mapas) informações geográficas limitadas pelo fato dessas áreas (comunidades) ainda não pertencerem ao campo visual de fotos aéreas ou de satélite por estarem cobertas pela vegetação, mas que, de outro modo corrige consideravelmente as imperfeições geográficas decorrentes das limitações humanas. LIMA, Wildinei NATURARTT “a natureza em evidência” NATURARTT “A NATUREZA EM EVIDÊNCIA” Wildinei Lima* *Artista plástico/colaborador voluntário do Ecomuseu da Amazônia. RESUMO O presente pôster demonstra através de fotos um resumo das experiências adquiridas através de ações e participação voluntária no Ecomuseu da Amazônia e tem como objetivo apresentar as inúmeras possibilidades de adequação dos materiais naturais de forma prática a fim de incentivar a substituição de materiais industrializados, valorizando a cultura (práticas artesanais), o homem (seu autor) e a conscientização ambiental (produção biodegradável) como resultado do conhecimento adquirido durante as oficinas, palestras e as capacitações promovidas pelo Ecomuseu da Amazônia tendo como base os eixos trabalhados pelo programa. Palavras-chave: Cidadão - Fortalecimento - História - Cultura - Sustentabilidade. LOBATO, Alessandra da Silva. 310 Turismo de base comunitária e patrimônio cultural na Vila do Pesqueiro – Soure/Brasil. TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL NA VILA DO PESQUEIRO – SOURE/BRASIL Alessandra da Silva Lobato* *Geógrafa, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFPA. RESUMO A Vila do Pesqueiro é uma comunidade de pescadores que está localizada na porção litorânea do município de Soure/Pará. Possui uma praia de mesmo nome que é bastante visitada por turistas, assim o turismo de sol e praia é um dos mais desenvolvidos nessa área, no entanto outra forma de turismo começa a conquistar espaço na Vila é o Turismo de Base Comunitária (TBC). O presente trabalho tem como objetivo compreender como o Turismo de Base Comunitária, que está sendo desenvolvido com o Projeto Viagem Encontrando Marajó (VEM), pode contribuir com a preservação do patrimônio cultural da Vila do Pesqueiro. Para a elaboração deste trabalho foram realizados levantamentos e análises bibliográficas sobre o tema, observações in loco, entrevistas semi-estruturadas com representantes do turismo do município de Soure, representantes das associações e comunitários da Vila do Pesqueiro e registros fotográficos. Com a pesquisa observou-se que o TBC é uma forma de turismo que tem contribuído muito com a preservação do patrimônio cultural, pois com o desenvolvimento do projeto VEM promoveu-se um “resgate” de algumas manifestações como o grupo folclórico de Carimbó que existia na Vila e que atualmente é realizado pelas crianças da Vila. Outra forma de contribuição com a preservação do patrimônio foi observada durante a pesquisa através dos passeios que são oferecidos aos turistas, pois os passeios são todos ligados a atividades que normalmente são realizadas na comunidade, a exemplo da extração do óleo da Andiroba, da coleta de Turú, da pesca nos igarapés. Palavras-Chave: Vila do Pesqueiro - Turismo de Base Comunitária - Patrimônio Cultural. MENEZES, M.L.P.; MORAIS, V.C.; LEOPOLDO, D.F.; RODRIGUES, G.G.; BORGES, C.P.; GABRIEL, R.A.; GUELBER, V.T.; NASCIMENTO, F.C. Ecomuseu da Comunidade Quilombola de São Pedro de Cima. ECOMUSEU DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SÃO PEDRO DE CIMA M.L.P Menezes, V.C. Morais, D.F. Leopoldo, G.G. Rodrigues, C.P.Borges, Gabriel, V.T. Guelber, F.C. Nascimento. UFJF – Juiz de Fora – MG – BRASIL. R.A. RESUMO O projeto ECOMUSEU da Comunidade Quilombola de São Pedro de Cima foi pensado e organizado enquanto projeto de extensão universitária contando com professores e estudantes do curso de Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora. O contato com esta comunidade se deu a partir de um trabalho de campo realizado no ano de 2007 na disciplina de Geografia Agrária, em que foi possível conhecer um pouco da sua realidade e realizar um projeto extensionista com base nas demandas apresentadas pelos seus membros, buscando refletir, os seus problemas e suas necessidades. O principal objetivo deste projeto consiste na criação de um ECOMUSEU na Comunidade Quilombola de São Pedro de Cima, visando construir práticas de diálogo e ação para construção e consolidação da identidade comunitária. Não se trata de um projeto diretamente baseado em metodologias de capacitação, mas que vem se desenvolvendo, através do inventário do patrimônio local, tangível e intangível e da divulgação e apreensão da educação patrimonial. Assim, temos construído junto com a comunidade uma produção didático-pedagógica-cultural, como por exemplo: o Atlas Geográfico Cultural e a Cartilha do “Nosso Lugar”, com a 311 proposta de registrar, representar, estimular e promover o desenvolvimento cultural da comunidade e consolidar o saber histórico e geográfico local. Assim, o projeto visa sensibilizar a comunidade para a questão do patrimônio geográfico e cultural, de modo que os moradores se reconheçam enquanto sujeitos e produtores do espaço, e também possam recuperar o histórico de constituição de sua identidade, frente às inovações e novos hábitos introduzidos recentemente na comunidade pelo modo de vida urbano. Palavras-chave: Geografia Rural - Comunidade Quilombola - Territorialidade Ecomuseu - Educação Patrimonial. PEREIRA, Célia Maria; SANTOS, Maria Suzana Loureiro dos Memória Sociocultural e Histórica da Comunidade do Povo Novo MEMÓRIA SOCIOCULTURAL E HISTÓRICA DA COMUNIDADE DO POVO NOVO* Célia Maria Pereira, Maria Suzana Loureiro dos Santos Ponto de Cultura ArtEstação – Rio Grande/RS – BRASIL RESUMO Esta ação está integrada ao Projeto Na Trilha de Memórias Vivas, iniciativa contemplada no Prêmio Asas, Ministério da Cultura, Governo Federal. Contou com a parceria da 18ª Coordenadoria Regional de Educação e Geribanda - Pontão de Cultura da Universidade do Rio Grande/FURG. Sua intenção é “voar a locais e histórias, ouvindo e recontando, pontuando detentores de saberes e compartilhando conhecimentos”. Foi realizada no ano de 2011, no 4º Distrito do município do Rio Grande denominado Povo Novo. Para a sua realização envolveu a comunidade, entre estes, estudantes, antigos moradores, educadores e equipe do Ponto de Cultura ArtEstação. Através deste coletivo, memórias e histórias foram compiladas em formato de revista e de audiovisual. Os moradores da localidade foram os protagonistas da ação e escolheram os temas por consenso, onde se destacaram: lendas, personagens, os clubes de futebol Santo Antônio e Esperança, histórico da E. E. E. M. Alfredo Ferreira Rodrigues e do surgimento da localidade, a música, a economia local (a agricultura e as barraquinhas de verdura, frutas e legumes da estrada, a pesca), os antigos cinemas e o trem de passageiros, os povos pré-coloniais habitantes de morrinhos/cerritos, as festas de carnaval, crenças (Terno de Santinho e benzeduras) e heranças culturais afrodescendente e portuguesa. O entrecruzamento de muitas vozes desenhou fisionomias das comunidades que compõem o Povo Novo (Barra Falsa, Pesqueiro, Barro Vermelho, Torotama, Arraial, Domingues Petroline e Capão Seco). O objetivo do trabalho foi estimular o fortalecimento de laços identitários, valorizando e difundindo traços culturais dessa localidade. A intenção não foi contar a História, de dizer o que é a comunidade, pois ela está viva. As histórias vão sendo construídas no dia a dia, estando presente nos afazeres, no jeito de ser das pessoas que ali moram, em suas crenças e vivências. Um dos anseios do coletivo é se organizar num espaço que possa reunir os documentos, fotografias, objetos, etc. coletados durante a pesquisa e que possam compartilhá-los de forma democrática e dialógica, organizando encontros, exposições, oficinas e que seja de fruição da cultura local e fomentador de novas ações. Palavras-chave: Memória - Identidade - Cultura. SILVA, Michelle Louise G. da e MARTON, Margareth Veisac Projeto Memória de vida - Ecomuseu da Serra de Ouro Preto PROJETO MEMÓRIA DE VIDA – ECOMUSEU DA SERRA DE OURO PRETO Michelle Louise Guimarães da Silva* Margareth Veisac Marton* 312 *Ecomuseu da Serra de Ouro Preto – MG – BRASIL Orientadora: Profª Drª Yara Mattos – Departamento de Museologia/UFOP RESUMO O projeto “Memória de Vida” faz parte do “Programa Ecomuseu da Serra de Ouro Preto”. Os bairros envolvidos com a implantação do Ecomuseu são os morros da Queimada, São João, Santana e São Sebastião. A partir do recolhimento de depoimentos da população local, o projeto tem como objetivo a reconstrução das memórias passadas e presentes das comunidades que habitam o território compreendido pelo Programa. Nesta nova fase do projeto, o primeiro depoimento recolhido no dia 06/12/2011 foi o de Maria Glicéria Gomes, moradora do Morro Santana. A ação ocorreu a partir de uma entrevista registrada em vídeo na casa da entrevistada. Por meio das questões formuladas pela equipe, foram recolhidas informações sobre as vivências da moradora, suas origens, procedências, crenças, costumes, objetos. O projeto “Memória de Vida” tem como alvo entrevistar primeiramente a população local que tenha atingido a maturidade (a partir dos 50 anos), incentivando o papel de protagonista na comunidade. A partir da recuperação de informações sobre as vivências das pessoas em referência ao território que habitam, será produzido um documento histórico-científico, futuramente difundido à comunidade da Serra de Ouro Preto. Estas informações sócio-culturais contribuem para o levantamento do perfil dos moradores da região. Palavras-chave: Memória - Ecomuseu - Serra de Ouro Preto - Território - Vivências Entrevistas. SOUZA, Adirleide Greice Carmo de Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva: desafios e perspectivas da preservação do meio ambiente cultural do Amapá. MUSEU HISTÓRICO DO AMAPÁ JOAQUIM CAETANO DA SILVA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE CULTURAL DO AMAPÁ Adirleide Greice Carmo de Souza* Museu Histórico do Amapá JCS – Macapá – AP – BRASIL *Socióloga, graduanda em Direito, Mestranda em Direito Ambiental e Políticas Públicas. RESUMO O Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva - MHAJCS é um Museu Estadual que faz parte da Coordenação de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura do Estado do Amapá, o qual exerce um importante papel na preservação do Meio Ambiente Cultural. Assim, o presente estudo visa traçar os principais desafios e perspectivas do MHAJCS como eficaz instrumento de preservação do patrimônio histórico do Amapá. Para tanto, utilizou-se de uma pesquisa descritiva - analítica, qualitativa, através de pesquisa bibliográfica, entrevistas e registros fotográficos. Os resultados apontam que, embora o MHAJCS receba constantes visitas, este precisa ser mais divulgado e sua importância disseminada para a sociedade amapaense, haja vista, que atualmente o maior indicie de visitação é de turistas de outros Estados, sendo assim, a educação patrimonial e ambiental se apresentam como um desafio para disseminação da importância da preservação do meio ambiente cultural do Amapá, que traduz a história de um povo, a sua formação, cultura e, portanto, os próprios elementos identificadores de sua cidadania, que constitui princípio fundamental norteador da República Federativa do Brasil (FIORILLO, 2010). Sendo necessário o fortalecimento de seus mecanismos administrativos e jurídicos, pois o MHAJCS não tem autonomia e enfrenta problemas com sua manutenção, além da carência de corpo técnico. 313 Palavras-chave: Meio ambiente cultural - Museu - Educação - Patrimônio histórico – Preservação. SPERB, Ângela; HANSEN, Patrícia Patrimônio Histórico e Educação: Ações que geram reações. PATRIMÔNIO HISTÓRICO E EDUCAÇÃO: AÇÕES QUE GERAM REAÇÕES Angela Teresa Sperb, Patrícia Rosina Hansen Museu Comunitário de Percurso de Picada Café – RS – BRASIL RESUMO Com o objetivo de identificar e valorizar a cultura, a história, a arte, a memória e o ambiente da comunidade de Picada Café, aproximando as gerações e integrando-as amorosa e solidariamente no presente para projetar o futuro com sustentabilidade, as ações educativas e ações diretamente relacionadas à comunidade (com a comunidade, para a comunidade e da comunidade) geram reações que se concretizam em parcerias e novas ações que se consolidam em museus, memoriais e roteiros, cumprindo-se assim, a missão de preservar e valorizar a memória material e imaterial com e através das pessoas e da comunidade, em ações traçadas entre o material e o imaterial. Palavras-chave: Museu de percurso - História - Memória - Solidariedade - Tradição Comunidade - Sustentabilidade. WILD, Bianca Movimento Ecomuseu de Sepetiba: espelho onde se ‘revê’ e se descobre a própria imagem. MOVIMENTO ECOMUSEU SEPETIBA: ESPELHO ONDE SE “REVÊ” E SE DESCOBRE A PRÓPRIA IMAGEM. Bianca Wild Movimento Ecomuseu de Sepetiba – RJ – BRASIL RESUMO O pôster do qual este é o resumo tem por escopo oferecer subsídios para a compreensão do fenômeno social que tem sua visibilidade assegurada pelas transformações na paisagem natural do bairro de Sepetiba, Rio de janeiro (RJ). Para atingir tal objetivo e para identificar esse fenômeno social, o pôster propõe o exame a partir da observação de fotografias dispostas de forma quase cronológica, para que assim seja despertada uma reflexão acerca de como a paisagem enquanto patrimônio influencia no cotidiano de uma população e sofre influência dela. Para tanto, utilizamos as falas elucidativas de Hugues de Varine durante a Conferência “Comunidade, Patrimônio, Paisagem e Desenvolvimento Local - o diálogo possível”, realizada durante o Colóquio Comunidade, Indústria e Desenvolvimento Local - o diálogo possível. Rio de Janeiro, Santa Cruz, 2011. Neste trabalho propomos compreender “lugar” enquanto espaço onde vivenciamos nossas experiências e buscamos uma análise da paisagem enquanto elemento que pode mostrar como se organizou uma sociedade em um determinado momento histórico. O título bastante sugestivo corresponde à reflexão que pretendemos lançar, inspirados em Georges-Henri Rivière propomos uma crítica da paisagem enquanto nosso reflexo, representação fiel de uma sociedade, de uma comunidade de como ela viveu, se transformou e principalmente como administrou as modificações ocorridas ao longo dos anos e como o “diálogo possível” proposto na conferência citada acima foi efetuado ou não nesta região específica. Palavras-chave: Patrimônio - Paisagem - Desenvolvimento - Degradação. 314 CONCLUSÕES IV EIEMC - Carta de Caratateua. - Testimonios Convidados Extranjeros. - Moção. - Mês Conclusions Personnelles Sur Le IV EIEMC - H. de Varine. - Lembranças e reflexões sobre o IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários em Belém - Pará - Dayse Aderne Carneiro. 315 IX. CONCLUSÕES DO IV EIEMC CARTA DE CARATATEUA BELÉM 2012 Considerando–se que a) ao reunirmos para o IV EIEMC – IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários protagonistas, responsáveis, participantes, estudiosos e simpatizantes de iniciativas brasileiras e estrangeiras consolidadas e/ ou embrionárias para discutir “Patrimônio e Capacitação dos Atores do Desenvolvimento Local”, formalizamos a reflexão sobre a ressignificação que damos a esse patrimônio e a sua apropriação; b) as comunidades presentes ou representadas no IV EIEMC, ao liberarem suas reivindicações e suas demandas, exercem seu direito de livre expressão e cidadania; c) o encontro entre os praticantes e os pensadores da museologia comunitária suscita a importância de uma responsabilização cada vez mais crítica de nossas ações como comunidade; d) a herança da Mesa de Santiago do Chile traçou, ao longo de 40 anos, uma trajetória concreta da evolução do conceito de patrimônio, com marcas deixadas pelas múltiplas iniciativasque se propagam em todos os quadrantes do mundo museal e que por isso a sua gestão tem que ser por e para a comunidade; e) o patrimônio é reconhecido política e culturalmentena sua diversidade e que a paisagem é a síntese da interação entre as comunidades e esse patrimônio; e) o patrimônio é vivido e interpretado pelas comunidades como um símbolo de pertencimentoe um recurso para afirmar e desenvolver o local onde vivem, e pode ser criativamente usado como gerador de trabalho e rendas, aproveitando e valorizando saberes e fazeres como cultura endógena, seja considerada individual ou cooperativamente, com direito à inovação (a capacidade da comunidade de inventar seus projetos); f) o fomento e o apoio às iniciativas museológicas comunitárias podem estimular a participação e a organização das comunidades, desenvolverem talentos e lideranças, sondar e aproveitar aptidões e, sobretudo favorecer a criação de microempresas e cooperativas; g) o turismo de base comunitária , quando enraizado na cultura viva local, valoriza o patrimônio e promove o desenvolvimento local; h) a capacitação dos atores do desenvolvimento localé tratada como estratégia de empoderamento das comunidades para se reconhecer e se valorizar como atores do desenvolvimento local e que não pode haver empoderamento sem a capacitação desses atores; j) o conceito de coleção ecomuseal1 entendido como o conjunto dos patrimônios naturais e culturais, materiais e imateriais das comunidades contemplam e ampliam a noção de museu que a priori pressupõe coleção de bens e assim elimina o desconforto e a crítica aos ecomuseus/museus comunitários antes erroneamente interpretados como museus sem coleções: 1 Expressão proposta por René Binette (Museu do Fier Monde, Montréal) 316 k) o “saber cuidar” é a mola mestra da capacitação dos atores com a qual se tornam capazes de fazer escolhas e tomar decisões, ou seja, se capacitam também para a ação, para serem sujeitos históricos; l) o enraizamento das comunidades em seus espaços de vida se dá também com a capacitação dos atores, favorecendo consequentemente a ação consciente, autônoma e responsável; m) a ética do cuidado exige em contrapartida a adoção de políticas do cuidado voltadas para a educação e só com ela podemos garantir a sustentabilidadedo planeta; n)a participação popular na gestão ecomuseológica e comunitária contribui para a afirmação de uma museologia cooperativa e libertadora, em que o poder decisório necessita emanar da comunidade, a fim de provocar senso critico da própria realidade e transformar os atores sociais, garantindo o empoderamento; m) e que as capacitações das lideranças locais utilizam a museologia como instrumento político e mantenedor de direitos; Apresentamos a resposta coletiva às quatro questões propostas pelo IV EIEMC no texto provocativo “A CAPACITAÇÃO: práticas e tentativas de teorização”, baseada nos relatos das experiências dos participantes: Como as comunidades compreendem e usam o seu patrimônio? As comunidades se apropriam dos patrimônios quando reconhecem o seu valor, pois sabem o que querem para eles mesmos, decidindo o que eles querem dentro da sua própria comunidade. Para isso educam crianças e jovens de modo quereconheçam e compreendam esse patrimônio e o utilizem para seu próprio benefício. De que modo o patrimônio pode ser para a comunidade um gerador de rendas? A partir do trabalho que é realizado nas comunidades, na identificação do patrimônio e valorização. O patrimônio é visto como gerador de renda quando é originado do processo de construção do conhecimento, percepção e inclusão no contexto social. Deve-se ter uma construção e consolidação da identidade, pois havendo o mapeamento da história local, sendo determinadas quais as raízes e os principais traços culturais, através dessa memória transversal pode-se identificar o fazer para geração de renda. Nem sempre essa ação está relacionada ao desenvolvimento econômico da comunidade e sim ao cuidar da qualidade de vida, com a preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural, valorizando a autoestima e identidade cultural, que acabam por se perder com a chegada de novas comunidades. Mas quando esse patrimônio gera rendas, simultaneamente ocorre uma maior valorização e visibilidade desse patrimônio. Lidar com o patrimônio da comunidade provoca a construção de uma visão sistêmica de seu território, pois caso não seja realizado desta maneira, ocorre a repetição dos processos contrários aos da museologia comunitária: a geração de renda se torna comprometida e dependente do mercado. Portanto, é possível trabalhar com a necessidade das comunidades na esfera econômica, desde que se capacitemquanto aos valores tanto do local quanto do global. Como capacitar uma comunidade para o desenvolvimento local, usando o patrimônio como recurso? 317 É necessária a afinidade com o trabalho, despertando a sensibilidade, a vivência do dia-a-dia, aprendendo a exercitar a escuta do outro, avaliandoque contribuições oferecer, mais ainda que escutar, reconhecer com humildade a riqueza que a troca de saberes pode oferecer e fazer essa comunidade dialogar com o patrimônio de seus conhecimentos. A própria necessidade de qualificação vem no decorrer da capacitação, na busca de uma maior valorização do produto. Essa capacitação pode ocorrer na forma de visitas a campo, em oficinas práticas, onde o saber popular e o saber acadêmico têm oportunidades de interagir e se completar. Como tornar essa comunidade gestora de seu patrimônio e a manter-se autosustentável? A comunidade somente vai se tornar gestora de seu patrimônio, se esta estiver identificada e tiver relação com a sua história ou memória, o que passa na questão da capacitação e tem muito a ver com a autoestima e o reconhecimento do seu próprio patrimônio: as pessoas se reconhecem dentro do grupo e são chamadas para expor seus problemas, e, na sequência, discute-se sobre suas esperanças e sobre o caminho a seguir, exercendo a cidadania, de entender-se e perceber-se como um agente de mudança, seja na questão da renda seja na melhoria da qualidade de vida. Essas capacitações devem envolver crianças, jovens e comunidade/lideranças comunitárias, em reuniões abertas realizadas por eles, facilitando a liberdade de comunicação, a tomada de decisões e após o consenso (definição das escolhas), estas são anunciadas e levadas aos órgãos competentes para orientar a gestão. Assim, a comunidade, através da participação organizada e democrática, pode contribuir na gestão do patrimônio, auxiliada pela universidade. Porém, será preciso garantir a autonomia das comunidades, o direito de cobrar dos poderes públicos a participação das comunidades na gestão do patrimônio. A auto-sustentabilidade é uma consequência do desenvolvimento comunitário. Para refletir esse acúmulo derespostas na trajetória, discussão e da relação da prática com a teoria e medidas que podem ser tomadas para quantificar estes impactos efetivamente alcançados por nossas experiências, que medidas podem conseguir necessariamente condensar de forma ampla social e economicamente em beneficio das comunidades, elegemos resumidamente as ações realizadas pelo Ecomuseu da Amazônia, como catalisador de práticas culturais e sustentáveis do Patrimônio Comunitário, como principais eixos da CARTA DE CARATATEUA: as capacitações exitosas em Cultura, Ambiente, Turismo e Cidadania que adotamos para toda a Museologia Comunitária e Ecomuseologia, norteando os horizontes de nossas experiências criadoras, participativas, pedagógicas e libertadoras 318 IV ENCUENTRO INTERNACIONAL DE ECOMUSEOS Y MUSEOS COMUNITARIOS BELÉM – PARÁ – BRASIL 12 – 16 JUNIO 2012 Testimonios Convidados Extranjeros Los convidados extranjeros al IV Encuentro Internacional de Ecomuseos y Museos Comunitarios celebrado en Belém – Pará – Brasil (12-16 junio 2012) quieren dejar su testimonio de agradecimiento y unas palabras de reflexión de cada país, como contribución a los trabajos de los que han sido presentados en ese asamblea. Testimonios Portugal As duas museólogas actuando em Portugal, presentes neste Encontro, salientam a vitalidade da museologia comunitária brasileira, sua diversidade e adequação ao meio e a competência e generosidade dos seus actores. Quer os projectos consolidados, quer os que iniciam o seu caminho constituem um significativo factor de aprofundamento da museologia, como processo de desenvolvimento das sociedades. Quarenta anos depois de Santiago, para além das dinâmicas próprias que ecomuseus e museus comunitários têm gerado, sublinhamos a importância da mudança que estes mesmos movimentos provocaram, tanto no mundo dos museus em geral, como em todo o universo patrimonial. É da interacção entre a reflexão teórica e a avaliação das experiências de intervenção social em que actuam os museus e as suas comunidades, que acreditamos advir uma sólida perspectiva de uso dos patrimónios como resposta aos problemas da sociedade contemporânea. Neste enquadramento e em função do seu contexto histórico, a museologia em Portugal tem ganho um amplo espaço de intervenção social, especialmente no âmbito local, graças à promoção da participação activa das comunidades nos museus, impulsionada pelo esforço de organizações como o MINOM e pelo trabalho de técnicos e de museólogos portugueses. Testemunho: Ana Mercedes e Graça Filipe (Portugal) México El IV Encuentro de Ecomuseos y Museos Comunitarios ha sido una excelente oportunidad para contrastar y aprender de la gran diversidad de experiencias en ecomuseos y museos comunitarios en Brasil, Portugal, Italia, España y Argentina; enriquecer ideas para la práctica de la apropiación comunitaria del museo, establecer nuevos vínculos para colaboraciones en el futuro, esperando posteriormente enlazar las mismas comunidades que desarrollan estas iniciativas en nuevas redes para la acción colectiva. Testimonio: Teresa Morales (México) 319 Italia 1.Privilegiare il metodo ai risultati. La partecipazione della comunità. Il coinvogimiento di diverse generazioni e categorie sociali anche le minoranze (immigranti, persone con disabilità o disagio sociale). 2.Privilegiare percorsi condividi di conoscenza e sviluppo sostenibile, duraturo e solidale anziché la musealizzazione del patrimonio naturale e culturale. 3.Trovare spazi di collaborazione con programmi di progresso economico per permettere start up di microimprese comunitarie. 4.Declinare l’esperienza turismo comunitario. Testimoni: Raul dal Santo, Nerina Baldi, Estelca Ridolfo (Italia) Argentina La experiencia de ver funcionando de manera a veces provocativa, liberadora y contestataria tantos museos comunitarios y ecomuseos fue impactante. Uno de los puntos centrales que me pareció para destacar es la claridad ideológica de muchos de los proyectos, basados en intereses de la gente organizada en algún tipo de comunidad, y no sobre un tipo de patrimonio tangible en particular. Pensar museos sin patrimonio tangible es aún imposible en Argentina, aún si los museos se organizan en torno al relato de una comunidad y su memoria. Aún así, la gente, el público, las autoridades, los decidores que otorgan subsidios y ayudas esperan que en “algún momento” se muestre algo: objetos, paisajes, películas. El objetivo central de un centro de generación, recuperación y conservación de la memoria identitaria de un grupo me parece superador de muchas de las contradicciones de la idea europea de “Museos” en tierras donde este concepto no existía (América). Testimonio: Alejandra Korstanje (Argentina) El haber participado en este IV Encuentro Internacional de Ecomuseos y Museos Comunitarios me ha consolidado la vital importancia de tomar como base fundamental los intereses de los propios actores protagonistas de la acción comunitaria. A pesar de no ser del área especifica-exclusiva, de mi trabajo, se repite que cuando el que pone las ideas, el que gestiona y el que desarrolla es el propio interesado, la cosa, el proyecto o el trabajo es exitoso, se siente propio y es estimulante para replicar. Sea en micro-crédito, en acción social o en el área que sea, siempre es así, y cuando es en RED se POTENCIA. Testimonio: Sebastián Carrera (Argentina) España Para la mirada inquieta de la museología social (ecomuseología) española ser testigos de la realidad de la acción museológica social desarrollada en las distintas partes de Brasil ha supuesto la toma de conciencia y la reafirmación de que la función principal de un museo puede recaer sobre “lo social” antes que sobre el bien patrimonial coleccionable. Lo social, de esta manera, constituye el motor de desarrollo de una 320 concienciación pedagógica colectiva para la apropiación patrimonial (natural y cultural), el desarrollo y la paliación de las necesidades de una comunidad, y para la construcción de una identidad colectiva. Así mismo, esta realidad museológica comunitaria de la que hemos sido partícipes deja patente las distancias que aún existen a nivel mundial en la práctica y teoría museológica; pero nos estimula para pensar en trazar puentes –necesarios– donde intercambiar experiencias, metodologías y pensamientos para construir una renovada alianza de reflexión sociomuseológica común (MINOM) con la que actuar en diversos contextos y diversas comunidades. Testimonio: Óscar Navajas Corral (España) 321 Proposta apresentada por: Marcelly Pereira do Museu da Maré; Marlucia de Souza do Museu Vivo de São Bento e Márcia Souza do Museu da Favela, Rio de Janeiro – RJ e aprovada em plenária por unanimidade. MOÇÃO A comunidade museológica reunida no IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários orgulha-se das ações realizadas pelo Ecomuseu da Amazônia, como catalisador de práticas culturais e sustentáveis do Patrimônio Comunitário. Aprovamos a participação popular na gestão ecomuseológica, uma museologia cooperativa e libertadora, em que o poder decisório necessita emanar da comunidade, a fim de provocar senso crítico da própria realidade e transformar os atores sociais, garantindo o empoderamento. Elogiamos as capacitações promovidas por esta instituição, das lideranças locais, utilizando a museologia como instrumento político e mantenedor de direitos. Compreendemos que seja de vital importância a continuidade da gestão realizada, nos dias de hoje. É necessária a permanência desta gestão para a sustentabilidade do espaço democrático que respeita e valoriza as comunidades locais. Pensamos que, com a garantia desta gestão no Ecomuseu da Amazônia, este local permanecerá como espaço ímpar de educação ambiental e valorização de práticas sustentáveis. Nós, agentes de trabalho dos Ecomuseus e Museus Comunitários do Brasil e tantos lugares do mundo, afirmamos aqui nossa admiração, respeito e reconhecimento pelo trabalho louvável que acontece aqui nas terras paraenses, nas terras da Escola Bosque, nas terras do Ecomuseu da Amazônia. Belém , PA, 15 de junho de 2012 322 MES CONCLUSIONS PERSONNELLES SUR LE IV EIEMC Hugues de Varine Une fois de plus, comme ce fut le cas pour les trois autres rencontres de 1992, 2000 et 2004, on remarque l’utilité de faire se rencontrer des praticiens de terrain de divers pays et, pour le Brésil, de divers états. J’ai noté que plusieurs projets d’échanges et de coopération s’étaient discutés et préparés à cette occasion. L’isolement relatif et le cadre naturel exceptionnel de l’Escola Funbosque, le mélange permanent entre les participants de la rencontre et les élèves et enseignants de l’école, la possibilité de déjeuner sur place ont été, sans doute, des facteurs facilitateurs de dépaysement et d’ouverture, et aussi d’efficacité des rapports humains.. Le thème de la capacitation (ou empowerment) a été traité de plusieurs façons et selon plusieurs modes de pratique, mais toujours dans son sens d’acte politique. Il s’allie bien aux principes de la muséologie de la libération, qui ont été souvent évoqués. Je crois nécessaire de continuer à explorer, dans la théorie comme dans la pratique, ces différents concepts, qui prolongent et approfondissent la déclaration de Santiago. L’une des conséquences de la capacitation est la création d’un sentiment d’autoestime, qui sera nécessaire pour la négociation, phase essentielle de la participation communautaire au développement et notamment à la gestion collective du patrimoine. Le concept économique de filière de production à partir d’éléments de patrimoine, minéral, agricole ou artisanal, a été un apport novateur (expérience du Pan de Sorc, Ecomuseo delle Acque, Gemona). Ce concept permet à la fois de faire revivre des productions traditionnelles, de les rentabiliser en termes de revenus et d’emploi, et aussi de les moderniser pour les adapter aux exigences, aux normes et aux habitudes de consommation responsable de notre temps. Le tourisme de base communautaire a été souvent évoqué. C’est une autre filière économique qui implique de nombreux acteurs des communautés. Encore faut-il préciser et connaître les cibles spécifiques d’un tel tourisme, en fonction à la fois de l’offre et de la demande. Les membres de la communauté qui ont fait l’objet des programmes de capacitation deviennent aptes à prendre leur part des responsabilités du développement, aux côtés des autres acteurs. Ils peuvent apporter et appliquer leurs compétences d’usage et présenter leurs avis et leurs revendications de manière audible de la part des responsables traditionnels (élus, administrateurs, experts). Ils ont aussi une part dominante dans l’affirmation des dimensions culturelle et sociale de ce développement. Du fait qu’il n’existe pas de "modèle" ou de norme pour les écomusées et musées communautaires (chacun est unique), il n’y a pas non plus de statut recommandé. Mais trop d’écomusées ne se préoccupent pas sérieusement de leur avenir, au delà de la phase de construction du musée et du dynamisme des fondateurs. Toute écomusée devrait en permanence se poser le problème de son avenir : c’est un autre aspect de la soutenabilité. Il faut, dans ce type de rencontres, tenir compte du nouvel ordre du monde et des conséquences de la globalisation culturelle et économique sur les communautés de base. Cela marque l’importance des initiatives comme les écomusées ou musées 323 communautaires, les agendas 21 locaux et d’une manière générale tout ce qui renforce la capacité de prise de responsabilité de la part des citoyens dans la gestion de leurs environnements, de leurs patrimoines et des spécificités de leurs cultures vivantes. Hugues de Varine MINHAS CONCLUSÕES PESSOAIS SOBRE O IV EIEMC Hugues de Varine Uma vez mais, como foi o caso dos três outros encontros de 1992, 2000 e 2004, destaca-se a utilidade de fazer encontrar os praticantes de campo de diversos países e, para o Brasil, de diversos estados. Notei que vários projetos de trocas e de cooperação eram discutidos e preparados nessa ocasião. O isolamento relativo e o contexto natural da Escola Bosque, a mistura permanente entre os participantes do encontro e os alunos e professores da escola, a possibilidade de almoçar juntos foram, sem dúvida, fatores facilitadores de dépaysement e de abertura e também da eficácia das relações humanas. O tema da capacitação (ou empowerment) foi tratado de várias maneiras e segundo diversos modos de práticas, mas sempre num sentido de ato político. Ele se alia bem aos princípios da museologia da libertação que foram frequentemente evocados. Creio ser necessário continuar a explorar, tanto na teoria como na prática, esses diferentes conceitos, que prolongam e aprofundam a Declaração de Santiago Uma das consequências da capacitação é a criação de um sentimento de autoestima, que sera necessário para a negociação, fase essencial para a participação comunitária no desenvolvimento e notadamente na gestão coletiva do patrimônio. O conceito econômico de fileira de produção a partir de elementos de patrimônio, mineral, agrícola ou artesanal, foi uma contribuição inovadora (experiência do Pan de Sorc, Ecomuseo delle Acque, Gemona). Esse conceito permite simultaneamente fazer reviver / recuperar / revitalizar as produções tradicionais, de torná-las rentáveis em termos de geração de rendas e emprego e também de modernizá-las para adaptá-las às exigências, às normas e aos hábitos de consumo de nosso tempo. O turismo de base comunitária foi frequentemente evocado. É uma outra fileira econômica que implica numerosos atores das comunidades. Ainda é preciso definir e conhecer os alvos específicos de um tal turismo, simultaneamente em função da oferta e da procura. Os membros da comunidade que foram objeto dos programas de capacitação tornaram-se aptos a tomar parte das responsabilidades do desenvolvimento, ao lado de outros atores Eles podem trazer e aplicar suas competências de uso e apresentar sua opinião e suas reivindicações de maneira acessível por parte dos responsáveis tradicionais (eleitos, administradores, expertos). Eles tiveram também uma parte dominante na afirmação das dimensões cultural e social desse desenvolvimento. Como não existe « modelo » ou norma para os ecomuseus ou museus comunitários (cada um é único), não há também receita pronta). Mas muitos ecomuseus não se 324 preocupam seriamente com seu futuro, para além da fase de construção do museu e do dinamismo de seus fundadores. Todo ecomuseu deveria permanentemente se colocar o problema de seu futuro: é um outro aspecto da sustentabilidade. É preciso, nesse tipo de encontros, ter em conta a nova ordem do mundo e as consequências da globalização cultural e econômica sobre as comunidades de base. Isso marca a importância de iniciativas como os ecomuseus ou museus comunitários, as Agendas 21 locais e de uma maneira geral tudo o que reforça a capacidade de tomada de responsabilidade por parte dos cidadãos na gestão de seus ambientes, de seus patrimônios e das especificidades de suas culturas vivas. Hugues de Varine Trad. OMP 325 Ecomuseu da Amazônia Lembranças e reflexões sobre o IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários em Belém- Pará. Daisy Aderne Carneiro “O museu é um espelho onde a comunidade se olha para se reconhecer” Hugues de Varine Era meia noite de nove de junho deste ano de 2012. Eu dormia tranquilamente aqui no Leme, onde moro há uns seis anos, telefones fixo e celular bem à mão, a mala já pronta ao pé da cama, para a viagem. Num sobressalto atendi à tão esperada chamada de Terezinha Resende, boa amiga dos tempos de Laïs e atual Coordenadora do Ecomuseu da Amazônia, agora sediando o IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários, agendado para a semana de 11 a 16 de junho deste ano. Há alguns meses eu aceitara o convite para representar a família de Laïs Aderne na homenagem que lhe seria prestada durante o evento, uma vez que o Ecomuseu foi uma concepção sua. Confirmei por e-mail minha presença e aguardei, desde então, pois a Comissão Organizadora providenciaria passagens e estadia aos seus convidados. Agora, só precisei me certificar de todos os detalhes no e-mail e realizar essa empolgante aventura! Ainda no avião, quase chegando ao Pará, fiquei assustada com a imensidão de água da bacia amazônica! Não dá para imaginar que, pelo menos naquela região, a água possa um dia acabar! Cheguei a pensar que devia estar chovendo muito por lá! Fui então acumulando surpresas, sempre agradáveis! A primeira delas foi minha conexão em Fortaleza, minha terra natal. Adorei! No aeroporto de Belém, encontrei os participantes do evento e Terezinha Resende, nossa anfitriã nos apresentou ao Eráclito, museólogo do Rio Grande do Sul que nos ciceroneou e nos ofereceu sorvetes com sabores típicos, ali mesmo onde tudo me pareceu grandioso e moderno. Aproveitamos para registrar nossa chegada com várias fotos e assim, já íamos nos conhecendo.Todas as pessoas eram de uma amabilidade espontânea e contagiante. Aliás, essa é a característica dos nortistas em geral. Eles são alegres e nas danças típicas extravasam essa alegria toda. No tradicional, simpático e confortável Hotel Vila Rica onde me hospedei, assim como vários participantes do evento, tive a oportunidade e a satisfação de conhecer e conviver com nomes relevantes da museologia internacional, como o francês Hugues de Varine. Hugues é membro do Conselho Internacional de Museus e fundador do Ecomuseu Le Creusot-Montceau na França e atuou no Ministério da Cultura da França. Vindo com alguma regularidade aos encontros de museologia no Brasil, Hugues fala português com fluência e fundou o Osdic Consultores, empresa que atua em desenvolvimento de comunidades, que foi uma referência para Laïs. Sua esposa, Beatrice foi minha companheira de trilhas na floresta, a caminho da localidade de Caruaru. Nós nos comunicávamos em português afrancesado e um pouco em inglês. 326 Por ocasião do IV Encontro em Belém, Hugues lançou seu livro “Raízes do Futuro” em português, traduzido do francês por Maria de Lourdes Parreiras Horta, a Lourdinha, museóloga a quem fiquei muito ligada, por nossa proximidade no hotel Vila Rica. Lourdinha atuou na direção do Museu Nacional de Belas Artes e no Museu Imperial de Petrópolis e contribuiu de forma importante na museologia nacional. Tive a grata satisfação de estar ao lado do grande teólogo Leonardo Boff e sua esposa, Márcia Miranda. O livro de Leonardo Boff, O Tao da Libertação, lançado em 2010 ganhou nos Estados Unidos a medalha de ouro na área de Nova Ciência e Cosmologia. Sua participação na minha formação holística na primeira turma da UNIPAZ de Curitiba foi muito importante, assim como as influências de Pierre Weill, Jean Yves Leloup e outros. Tivemos ainda a oportunidade de assistir a apresentações extraordinárias de participantes brasileiros. A apresentação que mais gostei foi da Consciência Negra 13 de Maio, de Santa Maria, Rio Grande do Sul (clubessociaisnegros.com.br), feita pela Giane. No dia da abertura do encontro a Secretária Municipal de Educação professora Therezinha Moraes Gueiros apresentou a biografia de Laïs Fontoura Aderne, que concebeu a idéia e deu início ao movimento de desenvolvimento comunitário com ênfase nos fazeres e saberes da memória coletiva. Neste momento, fiquei muito emocionada. Uma das diretrizes eficazes para o sucesso do Ecomuseu da Amazônia, além da determinação e eficiência de sua Coordenadora professora Terezinha Resende, está no apoio recebido pela Secretaria Municipal de Educação de Belém. A parceria do Ecomuseu da Amazônia com a Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental, Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira, “FUNBOSQUE”, através da Coordenadoria de Desenvolvimento Comunitário-CDC, possibilitou ao Ecomuseu estabelecer sua sede na ilha de Caratateua, ou Outeiro, como é mais conhecida, a 35 km de Belém, numa bela e rica área de floresta tropical secundária, com 120 mil m2 (12 hectares). Por ali transitam centenas de alunos distribuídos, na sede e nas outras sete unidades pedagógicas, do Jardim 1 ao ensino médio profissionalizante – curso técnico em meio ambiente, e ainda o projeto AMA com ação voluntária e participativa. Na sede do Ecomuseu vi a foto de Laïs em destaque. Uma nova sede está sendo construída ali mesmo. Todo o entorno da sede do Ecomuseu da Amazônia e da Funbosque pode ser percorrido por caminhos impecavelmente limpos, perfeitamente sinalizados, por entre árvores exuberantes; tais caminhos levam a incontáveis edificações destinadas às atividades da Escola Bosque. Pude ver funcionários da FUNBOSQUE, uniformizados, fazendo a manutenção dos espaços. A área de abrangência do Ecomuseu compreende o Distrito de Icoaraci (bairros Paracuri e Orla) estendendo-se até a região das Ilhas Caratateua (bairros São João do Outeiro, Fama e Tucumaeira), Cotijuba (comunidades Poção Seringal e Faveira) e Mosqueiro (Vila, Assentamento Paulo Fonteles e Circuito Castanhal do Mari-MariCaruaru). Icoaraci é um distrito administrativo de Belém, distante cerca de 20 km da capital, com aproximadamente 300 mil habitantes. Para alguns historiadores, Icoaraci significa “de frente para o sol” ou “aonde o sol repousa”. O historiador José Valente diz que Icoara significa águas e ci significa mãe. Portanto, o significado do nome seria mãe de todas as águas. As principais atividades econômicas de Icoaraci são o turismo, a pesca, o artesanato com ênfase na cerâmica, o comércio informal, indústrias e serviços públicos e privados. Tivemos a oportunidade de visitar a ilha fluvial de Mosqueiro, o nome Mosqueiro é originário da antiga prática de moqueio do peixe, pelos índios Tupinambás que 327 habitavam a ilha. A ilha é localizada na costa oriental do Rio Pará, braço sul do rio Amazonas, em frente à baía de Guajará, mais especificamente aLila (área urbana) e as comunidades de Castanhal do Mari-Mari e Caruaru. A Ilha tem uma área de aproximadamente 212 km2 e é ligada a Belém pela ponte Sebastião de Oliveira, com 1.485m de extensão, que atravessa o Furo das Marinhas, distante cerca de 80 km de Belém. Conhecemos os chalés e as belezas naturais da ilha. Um bom desafio para mim foi percorrer a trilha Olhos D’Água, que se estende por 3.668m, terminando na Comunidade Caruaru, onde almoçamos. Fizemos essa trilha em um grupo pequeno, guiados pelo Renato, funcionário do Ecomuseu da Amazônia. Assistimos apresentações de Carimbó (que adorei dançar) assim como uma apresentação infantil, com temática ambiental, que emocionou a todos. Pude voltar no tempo ouvindo relatos sobre Laïs, que percorria de barco, na companhia de cientistas, historiadores, geógrafos e ecologistas nas ilhas, florestas e trilhas, levantando suas potencialidades e inventariando as atividades das populações ribeirinhas. Quis ela então que tudo aquilo fosse resgatado e hoje, cinco anos depois, se ela pudesse estar lá, veria a valorização daqueles mestres em potencial. Na verdade, ela ainda teve a oportunidade de participar da criação e inauguração do magnífico “Liceu de Artes e Ofícios” e ali agregar um grande número de ceramistas, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação. As ações desenvolvidas pelo Ecomuseu são pautadas em quatro eixos: ambiental, cultural, turismo e cidadania. Por ocasião do IV Encontro Internacional de Ecomuseus e Museus Comunitários, o Ecomuseu da Amazônia pôde dispor de espaços adequados e confortáveis para o grande número de participantes nacionais e internacionais. Pudemos usufruir não só do bem montado anfiteatro para apresentações, como das modernas tecnologias que permitem a tradução simultânea de palestras. Contamos ainda com espaços aprazíveis para refeições ligeiras, onde eram servidos pratos típicos, assim como assistimos com frequência grupos de danças e apresentações de teatro ao ar livre. Na recepção oferecida após a abertura do IV Encontro, no Centro de Eventos Benedito Nunes, na Universidade Federal do Pará, um imenso e caloroso ambiente, onde delícias da culinária regional eram servidas, encontrei muitas pessoas que conheceram Laïs e queriam contar suas lembranças; outras, que mesmo sem tê-la conhecido desenvolveram tal afinidade que chegaram a montar peça de teatro com Laïs de protagonista, improvisando seus trajes, etc... Esse era o Diogo, da Universidade Federal do Pará/UFPA. Ele virá ao Rio conversar sobre ela, pois se não me engano, quer fazer uma pesquisa sobre Laïs. No encerramento do Encontro houve a homenagem do Ecomuseu à Laïs, que foi muito emocionante, realizada justamente em Icoaraci, o reduto dos ceramistas agregados num local especial, às margens do rio onde, mensalmente, se reúnem ao lado de seus quiosques, com suas cerâmicas, para cultuar o pôr do sol cultural. Então, junto à população dançam animadamente o Carimbó, ao som de músicas regionais. Nesse ambiente apresentei e li a carta escrita por Laïs, poucos meses antes de sua partida. A comoção foi geral! As pessoas viam em mim sua querida protetora e assim, vinham me abraçar com muito carinho e dizer o quanto a amavam. Uma kardecista presente dizia que Laïs estava ali também! Naquele momento foi gravado um pequeno vídeo com meu depoimento. Um gigante e delicioso bolo foi servido a todos, como de praxe nos aniversários e terminamos a festa cantando os parabéns à Laïs e ao Ecomuseu da Amazonia que fazia cinco anos. 328 Como todos os participantes, recebi uma bolsa com a logomarca do Ecomuseu, contendo folders informativos da região, um cd com músicas do Carimbó e uma bela mandala em cerâmica comemorativa do evento. Por fim, ainda uma surpresa! Terezinha Resende nos proporcionou uma pequena excursão de táxi a Belém. Éramos quatro pessoas: Béatrice, Lurdinha e Maria Mirilande dos Santos, que nos acompanhou a pedido de nossa anfitriã. Conhecemos as Docas, algo extraordinário após a reurbanização, onde almoçamos um delicioso vatapá. Tudo é imensamente grande como são, aliás, todas as docas e águas a perder de vista. Tiramos algumas fotos. Muito original é o espaço dos músicos que, como um grande elevador horizontal, percorre todo o espaço dos restaurantes e lojas de um lado para outro, todo o tempo. O Mercado Ver o Peso logo ao lado, é outra atração, mas só o vimos por fora, pois o tempo era curto, considerando que a viagem de volta seria de duas horas e muita água cobrindo a estrada. Visitamos a Catedral da Sé e toda a região Central de Belém, com imensos edifícios e a parte antiga, com suas belas construções. Na verdade, não houve tempo para assimilar tanta informação, mas pudemos ter uma visão geral da capital do Pará. E ainda, concluindo minha visita ao município de Belém, no último dia, fui informada sobre outra homenagem importante realizada a professora Laïs através da Secretária Municipal de Educação, a Eco Escola Municipal Laïs Fontoura Aderne, localizada no bairro de Paracuri-Icoaraci, a qual tive a satisfação de conhecê-la, assim como pude perceber que a professora Therezinha Gueiros não mede esforços no exercício de suas funções para a realização de numerosas e grandes obras que tanto favorecem a população de Belém. FIM 329