Mais tempo para a escola pública por Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade* Em artigo publicado aqui no Parnamirim Notícia eu dizia da necessidade de continuar formando professores para o sistema escolar, mesmo depois que todos os professores em serviço tivessem obtido seu certificado de formação superior. Falava eu na ocasião que além de manter a reposição dos mestres que se retirassem do trabalho por motivos diversos, seria necessário pensar em novas demandas decorrentes da ampliação da jornada escolar. Mas de que é que se trata? Em todos os paises desenvolvidos, a escola básica atende a todas as crianças, nos dois turnos diurnos, por cerca de dez anos. Se quisermos, de fato, uma escola de qualidade, teremos que pensar em duplicar a jornada escolar para que nossas crianças e adolescentes tenham oportunidade de cultivar o corpo, praticar esportes, não como lazer mas como uma atividade imprescindível ao seu desenvolvimento pleno. É necessário tempo para que os alunos da escola básica aprendam as diversas linguagens que vêem sendo desenvolvidas ao longo da história e em que é veiculada grande parte da cultura humana. Às expressões artísticas como o teatro, a pintura a escultura e a música, nós acrescentamos, hoje o cinema , o rádio, a televisão, o vídeo e o computador, meios de expressão e informação de origem tecnológica recente mas que marcaram nossa época de tal modo que já fazem parte da contemporaneidade. E não é só! nossas crianças existem numa comunidade, cuja história e cujos valores, são veiculados sob formas de expressão típicas e que precisam ser apreendidas como um emblema, uma identidade, um contínuo sócio histórico imprescindível à sua condição de cidadão. Mas se hoje uma escola de qualidade razoável, de apenas um turno, já parece algo inatingível dado o custo de prédios escolares bons e bem equipados, de profissionais da educação qualificados e bem pagos e de um alunado bem alimentado e bem vestido, imagine a duplicação da jornada escolar, que nos remete de imediato, à duplicação de todos aqueles os investimentos já enumerados. É aí que reside a genialidade da solução oferecida por uma nova leitura da Escola Parque de Anísio Teixeira. As Escolas Parque, atenderiam pela manhã, os alunos das escolas comuns de um só turno, que estudassem a tarde, e atenderiam às tardes os alunos que estudassem pelas manhãs. As escolas comuns (Escolas Classe) seriam responsáveis pelos conteúdos curriculares da educação básica e as Escolas Parque seriam responsáveis por aquela formação geral, cidadã, de que acabamos de falar. Essas escolas poderiam receber recursos das mais diversas fontes pois na integração com a comunidade, poderiam receber recursos do FAT para a formação do trabalhador; recursos dos programas de reintegração produtiva de idosos, programas de assistência a meninos de rua, já que a ampliação da jornada escolar os atrairia para atividades educativas e prazerosas; recursos de programas de ampliação de renda, já que a 1 manutenção dos equipamentos e instalações escolares poderia ser confiada a cidadãos da comunidade formados ou qualificados nos cursos profissionais ali oferecidos; recursos de programas destinados a atividade cultural da população pois ali, poderia estar o pequeno teatro, a formação do coral, o cinema de arte, a biblioteca do bairro... A convergência de programas daria à Escola Parque, a dimensão de ação estruturante, num plano estratégico de desenvolvimento para um município, uma região metropolitana, ou para o sistema escolar de um Estado. Não sei quando começaremos mas tenho certeza de que lá chegaremos, pois não há muitos modos de se chegar à civilização senão participando de sua construção, geração após geração. _______________ * Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade é licenciado em Psicologia da Educação (Universidade Federal da Bahia – UFBA), especialista em Produção de Televisão Educativa (INPE – São José dos Campos/SP), mestre em Tecnologia Educacional (INPE – São José dos Campos/SP) e doutor em Ciências da Educação (Université de Caen, U.CAEN, França). Atualmente é professor e chefe do Departamento de Educação – UFRN. Sinta-se à vontade para disseminar estes textos em sua rede de relacionamento. Imprima ou envie por e-mail. Para citar os textos publicados neste site siga o seguinte modelo: ANDRADE, Arnon de. Título do artigo em itálico [on-line] In: Arnon de Andrade – Site Pessoal. Disponível em http://www.educ.ufrn.br/arnon. Internet. Acessado em dia/mês/ano Os arquivos publicados no site pessoal de ARNON DE ANDRADE são do tipo Copyleft. Isso significa que você tem autorização para usar seu conteúdo, gratuitamente, desde que não seja para fins comerciais. Cite integralmente o nome do autor e o site como fontes da informação. 2