CRISTINA PORTUGAL
Educação à Distância: do século l ao ciberespaço
IMAGO – VIRTUALIDADE - http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/imago/
A Educação à Distância Mediada pela Internet
Este trabalho apresenta a questão da educação à distância, tendo por fio
condutor as novas tecnologias como suporte mais otimizado no presente.
Para o desenvolvimento deste trabalho, tomamos por base os
conceitos de EAD elaborados por vários especialistas nesta modalidade
de educação. Dentre eles destacam-se Arnaldo Niskier, que apresenta
uma visão política, considerando a educação à distância como algo
inserido no contexto social; Carlos Lucena e Hugo Fuks, que abordam
os aspectos tecnológicos deste tipo de ensino; Pierre Lévy que enfoca a
luz da filosofia, a cultura virtual contemporânea; Andrea Ramal, Giovana
Farias, Stella Pedrosa, abordando o tema de educação na cibercultura a
partir da leitura hipertextual
e da conexão da internet, sempre na
perspectiva de análise de uma educação humanista.
Os autores acima citados têm em comum o entendimento de que a educação
à distância consiste no ensino por meio de mídia impressa ou eletrônica, onde os
instrutores e os aprendizes estão separados no tempo e no espaço. A EAD é
entendida por eles como um processo educativo que exige a duplavia de
comunicação e a instauração de um processo continuado.
Em conseqüência das inovações tecnológicas, a educação à
distância tem sofrido contínuas mudanças, assim como, ampliado seu
raio de ação. Pode-se vislumbrar neste caminho quatro gerações de
tecnologias: a primeira, desenvolvida a partir de 1840, tem por base o
texto escrito; a segunda, surgiu a partir de 1950, utilizando o rádio e a
televisão; a terceira, que teve lugar entre os anos de 1960 e 1970,
marca a incorporação das novas tecnologias, propiciando o surgimento
de multimeios; a quarta, passa a utilizar o computador como ferramenta
de comunicação, tendo na internet o meio de ligação e de
interação
dialógica entre os sujeitos.
Na educação à distância, os meios tecnológicos assumem um papel
fundamental de mediadores do conhecimento, na medida em que
possibilitam a troca de informações e conhecimento de maneira célere e
indireta. Segundo Lévy, quanto mais as linguagens se enriquecem,
maiores são as possibilidades de similar, imaginar, fazer imaginar um
alhures
ou
uma
alteridade.
A
virtualização
proporcionada
pelas
ferramentas tecnológicas, ao liberar o que era apenas aqui e agora, ela
abre novos espaços, outras velocidades. Ligada à emergência da
linguagem, surge uma nova rapidez de aprendizagem, uma celeridade
de pensamento inédita. Neste sistema de educação à distância, os
recursos tecnológicos se revelam como um elo que interliga a voz do
professor à do aluno e vice-versa. Por isto a importância acessibilidade
e a compreensão destes recursos tanto para o aluno quanto para o
professor. Os sistemas computacionais por si só não podem comunicar,
não podemos incorrer no erro grave de considerar os sistemas autosuficientes para promover a comunicação e a interatividade. Nesta linha,
estas mídias não são dialogantes, sabemos que, o diálogo ocorre entre
dois ou mais sujeitos, o que se pode dizer é que estes recursos
propiciam a potencialização da informação e da comunicação, que
precisa e deve ser explorado para a prática educativa.
Como conseqüências das mudanças nos meios e procedimentos de EAD,
vários estudiosos desta modalidade de educação apresentam em suas pesquisas,
diferentes conceitos para a educação à distância. Neste trabalho vamos nos
ater contudo, ao conceito de educação à distância, mediada pela internet.
Cabe evidenciar, logo de início, a importância dos debates sobre educação
à distância, uma vez que esta é uma modalidade de educação já consagrada em
todo o mundo. Apesar do Brasil ainda estar dando seus primeiros passos em EAD.
As bases legais já existem, é possível reconhecer que as possibilidades de
realizar este tipo de educação são grandes, e esperar que os limites sejam
superados pelos dirigentes educacionais.
A educação à distância sempre teve um papel secundário em relação ao
ensino convencional. Entretanto, segundo Lévy (1999), atualmente toma-se
consciência dos novos paradigmas para aquisição de conhecimento e para
construção dos saberes, direcionam-se para um sistema pedagógico que propicie
a construção de trajetórias e percursos de aprendizagem, através a participação
ativa do aluno de uma transição de informação num tempo e espaço flexível.
Assim, é um enorme desafio aprender a gerenciar o processo de ensino e
aprendizagem à distância, além deste tipo de ensino exigir técnicas pedagógicas
específicas, não se pode deixar de lado os aspectos tecnológicos. Afinal, não se
pode incorrer no erro grave de fazer adaptações inadequadas que procuram dar
uma nova aparência aos modelos de suportes pedagógicos tradicionais. Na EAD,
o processo de ensino e aprendizagem ocorre entre professores e alunos
fisicamente separados, mas, conectados, interligados por tecnologias que
propiciam a interatividade. Neste trabalho, são enfatizados a conexão via internet,
com ênfase nos conceitos de interatividade.
O conceito de interatividade implica a participação ativa do aluno,
oferecendo-lhe a possibilidade de adquirir e construir sobre as informações
recebidas, numa perspectiva de reciprocidade da comunicação.
Nessa linha, Lévy (1996) ressalta a importância de entender o significado da
palavra virtual. O virtual surge a partir da subjetividade humana, quando o texto
pode significar, ocorre à atualização do conteúdo do texto, ou seja, a interpretação
da leitura. Deve-se entender texto no sentido mais geral como discurso elaborado
ou propósito deliberado. A interface computacional é um suporte de leitura, o local
onde existe informações disponíveis, que podem ser disponibilizadas por um
usuário. O computador é antes de mais nada um potencializador de informações e
de comunicações, que cada leitor pode editar uma montagem singular.
A EAD se insere nesse patamar da virtualidade, uma vez que estabelece
relações virtuais, freqüentemente desterritorializadas, onde aluno e professores se
unem por sistemas de comunicação. Os participantes compartilham os mesmos
interesses, num espaço de interações sociais, que possibilita relações
independentes do contato físico, do espaço e do tempo. Nos termos de Lévy, o
campo da educação constitui um espaço aonde a virtualização vem se atualizar,
por meio da modalidade do ensino à distância.
Pelo fato de ser um ensino não presencial, a EAD permite o surgimento de
novos meios de interação e ritmo das cronologias, revelando uma multiplicidade
de tempo e de espaço, até então não considerada no campo da educação.
Procura-se, assim, no campo do Design, buscar subsídios para a construção de
interfaces computacionais que acolham a heterogeneidade, a alteridade e o
dialogismo, necessários para a transmissão de informação e para a construção do
conhecimento.
No mundo contemporâneo, a educação à distância tem possibilidade de
ganhar terreno, redimensionada pelas novas tecnologias de informação e de
comunicação que facilitam e ampliam o acesso a informações e conhecimentos,
que aparecem num ritmo cada vez mais acelerado. O ensino à distância mediado
pela internet possibilita um diálogo entre sujeitos.
Apresenta-se, a seguir, alguns conceitos de educação à distância, com o
objetivo de traçar um sucinto panorama sobre os vários modos como ela se
desdobra hoje em dia.
Educação à Distância: do século l ao ciberespaço
Para contemplar, no presente trabalho, os variados conceitos de educação
à distância e as iniciativas neste campo, no Brasil, foram consideradas questões
relacionadas com sua história, legislação e aspectos sociais.
Para este fim, foram tomados por base alguns conceitos de autores que vêm
praticando e refletindo sobre esta modalidade de ensino no Brasil. Em relação aos
aspectos históricos, a pesquisa se desenvolveu a partir das idéias do professor
Arnaldo Niskier, que acumula mais de 40 anos em experiência em EAD, mediada
pelo rádio e pela televisão. Desde 1972 que Niskier vem realizando pesquisas
para a implantação desta modalidade de educação em instituição de ensino do
País.
Para melhor entender o percurso da EAD no Brasil optam-se, nesta
pesquisa, percorrer seus caminhos desde o surgimento dos cursos por
correspondência até o momento atual, no qual a Internet viabiliza parte dos modos
de educação não presencial.
A modalidade de educação à distância não constitui propriamente uma
inovação. Vem sendo aplicada desde o ensino e a difusão do Cristianismo.
Segundo Ladini (apud Farias, 2001: 02), “Desde o primeiro século, os padres da
igreja ditavam suas obras e seus estenógrafo que, juntamente com os copistas, se
encarregavam de multiplicá-las, com a finalidade de ensinar e divulgar a boa nova
do Messias de Belém”. Mais recentemente, encontrados registros do século
passado mostrando suas aplicações em países desenvolvidos, obviamente, sem
utilizar os extraordinários recursos atuais, como por exemplo, o computador, a
internet, a TV digital, o CD-Rom, entre outros.
Ao longo das décadas, e em conseqüência das inovações tecnológicas, o
próprio conceito de EAD tem sofrido mudanças.
No Brasil, segundo Niskier (1999), a educação à distância surgiu em 1939
com a criação do Instituto Rádio Monitor. Logo depois, em 1941, foi fundado o
Instituto Universal Brasileiro. Na década de 50, outras instituições passaram a
utilizar a educação à distância tendo por base a metodologia de Ensino por
Correspondência.
Após estas primeiras iniciativas, foram surgindo vários outros programas
para a educação à distância, como por exemplo: Movimento de Educação de Base
(1956), Projeto Minerva (1970), Logos (1977), Telecurso de 2o grau (1978), Mobral
(1979), Fundação Educar (1988), Um Salto para o Futuro “da Fundação Roquete
Pinto (1991). Telecurso 2000 (1995), TV Escola (1996).
Em 1998, o MEC formulou uma política nacional para regulamentar esta
modalidade de ensino. A Universidade Aberta e à Distância foi implantada, além
da criação da Secretaria de Educação à Distância (SEAD), que coordena dois
programas que já existiam TV Escola e Programa de Informática na Educação.
O Brasil conheceu a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira somente em 1961 (Lei nº 4.024), durante todo o período de vigência da
legislação anterior à Lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional nº 9.394 de
1996, um único curso superior de graduação foi implantado na modalidade à
distância, na Universidade Federal de Mato Grosso, iniciativa baseada na
autonomia universitária. Com esta nova Lei foi oficialmente reconhecida à
importância e a determinação política para a implementação da EAD no Brasil.
Por que não utilizar esta modalidade de ensino no atual contexto de mundo
globalizado, cujos efeitos geram mudanças nos hábitos, valores, costumes, em
todos os setores da sociedade? Determinada pelo dilúvio de informações,
proporcionada pela ciência e a tecnologia nas áreas da inteligência artificial, pelas
viagens ao espaço e pela engenharia genética, a educação à distância têm
despertado a atenção e o interesse de pessoas e instituições que se dedicam à
educação. Amplia-se a noção de ensino, na modalidade de educação à distância e
os limites antes determinados pela sala de aula não mais existem.
Segundo Niskier (1999), o Brasil teve um avanço significativo na indústria,
enquanto na educação o resultado não foi o mesmo. Nas décadas de 40 e 50, o
perfil do povo brasileiro mudou radicalmente. A população urbana cresceu
significativamente e houve um grande aumento demográfico, agravando-se os
problemas sociais. O País avançou muito no campo industrial enquanto que na
educação não acompanhou as mudanças que estavam acontecendo.
A população tomou consciência dos seus direitos a educação e a igualdade
de oportunidades, mas a educação não avançou no ritmo necessário para
suportar esta nova demanda.
A iniciativa tomada para educar a grande massa de excluídos no País foi
decretada na Lei nº 5.692/71, a qual determinava a utilização do rádio, da TV, da
correspondência e de outros meios de comunicação para que se pudesse atingir o
maior número de indivíduos possível.
Até hoje temos um quadro de educação aquém do desejável. A escolaridade
brasileira revela-se muito restrita e a grande maioria da população só tem até a 4º
série do ensino fundamental. Existem no País 19 milhões de analfabetos adultos e
até a década passada, 38% dos trabalhadores tinham no máximo o antigo curso
primário.
A tecnologia educacional foi absorvida pela legislação, mas só de forma
supletiva. Atualmente, está prevista legalmente à implantação da educação à
distância, o que possibilita seu desenvolvimento. As questões sociais devem ser
tratadas como um todo, assim sendo, deve-se dar prosseguimentos a projetos que
sejam desta ordem e a educação é uma das muitas questões sociais, talvez a
primordial delas.
Cabe evidenciar a importância dos debates sobre EAD, que, apesar de ser
uma modalidade de educação consagrada em muitos países, no Brasil ainda está
dando os primeiros passos na área de graduação de nível superior. Desta forma,
com as bases legais já existentes no País, é preciso reconhecer que as
possibilidades são grandes, e esperar que os limites sejam superados pelos
dirigentes educacionais.
A educação à distância sempre teve um papel secundário em relação ao
ensino convencional. Entretanto, como diz Lévy (1999), atualmente toma-se
consciência dos novos paradigmas para adquirir conhecimento e para a
construção de saberes, caminhando para um sistema pedagógico que propicie o
direcionamento de trajetórias e percursos de aprendizagem, através da
participação ativa do aluno e de uma transição de informação num tempo e
espaço flexíveis. A modalidade de educação à distância vem sendo adotada por
muitos países com economia estável de acordo com a realidade de cada um
deles.
No mundo contemporâneo, revela-se o surgimento de metrópoles, com
superpopulação, concentração de consumidores, com os indivíduos cada vez mais
distanciados das áreas rurais e da natureza, que tem as novas tecnologias cada
vez mais presentes nas suas tarefas cotidianas. Seu comportamento está
associado a modelos determinados pela mídia, que fazem com que o consumidor
modifique seus desejos numa enorme rapidez, exigindo um atendimento
personalizado, cada vez mais individualizado, gerando assim um mercado cada
vez mais competitivo e sofisticado.
Na economia quebram-se as barreiras mercantis, organizam-se países para
formar uma moeda única, para se fortalecer tendo objetivos comuns. As empresas
multinacionais, que não têm limites geográficos, influenciam em decisões políticas
e governamentais em todo o mundo. Capitais financeiros buscam a maior
lucratividade, independente do interesse das nações.
Na política, os conflitos entre as nações permanecem, surgem novas
epidemias, o desemprego aumenta, conflitos raciais são uma constante. Cresce o
consumo de drogas, surge um novo tipo de analfabetismo, o tecnológico, e
aumenta a desigualdade social. Enfim, há um distanciamento cada vez maior dos
países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Dadas as desigualdades
sociais, acentua-se a violência e, consequentemente, a intolerância entre os seres
humanos.
A base estrutural do Estado moderno está na soberania e na territorialidade,
enquanto o ciberespaço é desterritorializado. Pela rede digital, informações,
programas, dados podem transitar sem nenhum tipo de fronteira. Os bens
informacionais estão disponíveis no ciberespaço, podendo ser acessados por
qualquer indivíduo, sem discriminação de nacionalidade, raça, ideologia e deles,
somente são excluídos os analfabetos tecnológicos. Os serviços como educação,
financeiros, jurídicos, médicos, de pesquisa e outros, também podem ser
prestados por empresas estrangeiras. Assim, o Estado perde o controle dos fluxos
econômicos e informacionais que ultrapassaram as fronteiras territoriais.
O dinamismo econômico depende hoje da
capacidade dos indivíduos, das instituições, das
empresas, das organizações em geral para
alimentarem focos autônomos de inteligência coletiva
(independência) e para se alimentarem de
inteligência coletiva mundial (abertura). É preciso
entender aqui inteligência no sentido da educação,
das facilidades de aprendizagem (aprender em
conjunto, uns com os outros), das competências
adquiridas e colocadas em sinergia das reservas
dinâmicas de memória comum, na possibilidade de
inovar e acolher a inovação. O ciberespaço oferece
um poderoso suporte de inteligência coletiva, tanto
em sua força cognitiva como em seu aspecto social,
(Lévy,2001: 207)
No Brasil, onde existe riqueza e pobreza, alto nível de desenvolvimento
tecnológico e, por outro lado, carência de recursos básicos para a sobrevivência, a
educação apresenta grandes distorções tanto qualitativas quanto quantitativas e
as perspectivas não são favoráveis. Refletir sobre educação é fundamental para
reverter este quadro desanimador.
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
1[1]
(1996), incentiva
o desenvolvimento e a veicularão dos programas de educação à distância, em
todos os níveis e modalidades de ensino, não mais só para o supletivo como
anteriormente.
Mesmo assim, a EAD ainda fica à margem de discussões no campo
educacional. Preconceituosamente, os educadores vêem as novas tecnologias
educacionais como substituto do ensino convencional e presencial, nas salas de
aula.
Os educadores precisam ter consciência de que a tecnologia educacional
veio para somar e que se revela como uma ferramenta eficaz para disseminar o
aprendizado. Em um país com dimensões continentais como é o Brasil, estas
ferramentas por si só não poderão solucionar os problemas educacionais
brasileiros. A educação à distância e as escolas tradicionais devem e podem
coexistir, com seus ritmos próprios e de acordo com as prioridades estabelecidas.
O que não se pode fazer é condenar a educação à distância, prejudicando o
surgimento de outras oportunidades educacionais.
Enquanto por um lado o desenvolvimento tecnológico torna-se a cada dia
maior, por outro lado o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) divulgou
em 1998 a situação educacional do Brasil: só 1% dos alunos brasileiros completa
a sexta série sem repetir um ano. O Brasil está ao lado de países como
Guatemala, Honduras, El Salvador. Enquanto países desenvolvidos investem alto
na educação, na faixa de 4170 dólares por aluno/ano e o Brasil investe apenas
1[1]
o
Artigo 8 da Lei n• 9.394/96. “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas
de ensino à distância, em todos os níveis e em todas as modalidades de ensino, e da educação continuada”.
cerca de 252 dólares. Como reduzir uma desproporção descomunal como esta?
Nestas condições não podemos competir com países desenvolvidos. As primeiras
providências a serem tomada, teriam que ser a capacitação de professores, que
atualmente ainda fazem greves para melhores salários.
A formação do professor é o ponto crucial para a modernização do ensino. A
profissionalização do professor envolve uma série de questões, que abrange
recursos econômicos e decisões políticas. Porém, não se pode negligenciar que
um caminho para a concretização desta idéia é a formação continuada, entendida
tanto na busca do saber como a de tomada de consciência da sua prática, do
próprio fazer pedagógico, o que possibilita a segurança e a visualização de novos
desafios e perspectivas.
Pela necessidade de uma formação continuada, vários países discutem a
modalidade de educação à distância. Alguns, para manter atualizadas as
informações que circulam e para disseminar o saber, outros, buscando
informações e saberes. Assim, são criados centros de estudo, ampliando as trocas
de experiência e de conhecimento.
Há uma expectativa positiva em países que querem se desenvolver e
precisam, assim, utilizar esta tecnologia educacional para capacitar seus recursos
humanos. O processo democrático que vem tomando força na América Latina, por
exemplo, tem por base uma crença na prosperidade geral, o que seria impossível
conseguir sem o apoio de uma educação consistente. Da mesma forma, a
Associação Brasileira de Tecnologia Educacional vem divulgando que a educação
à distância é um recurso a ser usado para a diminuição das diferenças sociais e
para dignificar o povo brasileiro.
Após a 2º Guerra, ampliaram-se os programas de educação à distância. A
iniciativa mais importante foi a Open University (1967), que é o modelo mais bem
sucedido do mundo, sendo seu primeiro curso à distância o de formação e
aperfeiçoamento de professores. Hoje, a Open University é uma instituição sólida
com mais de 200 mil alunos em todo o mundo. Todos os seus cursos são
basicamente apoiados pela BBC de Londres, com aulas de apoio e em crescente
qualidade.
A “revolução digital” da qual fazemos parte, de uma maneira ou de outra é
portadora de um discurso interpretativo e explicativo e enuncia um futuro diferente
de tudo que existe e se conhece
Mas tudo isto, segundo o próprio Pierre Lévy, é apenas o começo. O acesso
à educação de qualidade nos países em desenvolvimento ainda deixa a desejar e
o nível de conscientização e interesse pelas questões públicas ainda precisam
melhorar. No entanto, Lévy vislumbra no horizonte da “sociedade em rede” o
potencial para uma mudança importante que repercutirá por todo mundo e
pergunta se não seria o início desta tão proclamada “conexão global”, o pano de
fundo para a emergência de uma “inteligência coletiva”? Num sentido ainda mais
abstrato, Lévy
diz que poderíamos estar assistindo, já em nossa época, a
ascensão da Humanidade a um patamar evolucionário mais nobre.
A seguir, discute-se aspectos pedagógicos, tecnológicos e técnicos de
educação à distância, com o objetivo de mostrar que a tecnologia constitui
uma ferramenta de comunicação, em potencial, pata ser utilizada na
educação, como instrumento para promover a interação entre professores e
alunos.
Educação à Distância: aspectos pedagógicos, tecnológicos e técnicos
Através da conceituação de educação à distância discutiremos os aspectos
pedagógicos, tecnológicos e técnicos deste tipo de instrumento. A escrita será
enfocada como ferramenta tecnológica nos processos de interação entre sujeitos
e as questões técnicas que permeiam as mídias de educação à distância. São
apresentados, também, aspectos relacionados com aprendizagem, os meios de
comunicação, multimídia e o ensino centrado no aluno.
Existem vários autores que já empreenderam a tarefa de definir educação à
distância. O levantamento bibliográfico realizado nesta pesquisa mostrou que,
apesar de cada autor estudado apresentar uma visão particular do tema, muitos
aspectos em suas definições são coincidentes. Os
aspectos pedagógicos,
tecnológicos e técnicos da educação à distância são enfocados a partir de
Aparecida Mamede, Andrea Ramal, Maria Cláudia Oliveira, Giovana Farias, Stella
Pedrosa, mestres e/ou doutoras pelo Departamento de Educação da Universidade
PUC-Rio,. Buscamos em Niskier, uma visão política da EAD, considerando esta
prática como algo inserido no contexto social. Buscamos nos especialistas
em informática, Lucena e Fuks, bases para entendermos os
aspectos
tecnológicos. O pensamento filosófico de Pierre Levy foi utilizado para
esclarecermos questões sócios-culturais, com o advento das novas
tecnologias
O próprio conceito de educação à distância implica ausência presencial do
professor. Isto não significa, contudo, a falta de relação entre professor e aluno. As
relações entre professores e alunos na educação à distância se diferenciam da
educação presencial. O professor, no ensino presencial, é um mediador entre a
informação proposta e a aprendizagem pelos alunos. Na educação à distância, o
professor tem um papel de tutor, enquanto as informações são mediatizadas pelos
textos e outros materiais que são disponibilizados para o aluno.
Segundo Farias (2001), a educação à distância pode ser caracterizada
como um ensino no qual o professor e o aluno, separados no espaço e/ou no
tempo, interagem através de uma comunicação mediada por textos impressos ou
por algum tipo de tecnologia. Portanto, a comunicação é a base de um sistema de
educação a distância.
Diversos meios de comunicação podem ser utilizados separadamente ou
em conjunto, e para que a interação do professor e do aluno seja eficiente, faz-se
necessário que pelo menos em um destes meios de comunicação o aluno perceba
e se comunique com o professor.
Até a metade do século XX, os cursos por correspondências eram os mais
difundidos no campo da educação à distância, mas este meio de comunicação
deixa um pouco a desejar, pois a comunicação entre o professor e o aluno revelase mínima. A disponibilidade do material via correio é lenta em relação à outras
tecnologias de informação e de comunicação atuais ocorrendo, assim, um largo
espaço de tempo na comunicação entre professor e aluno. Com a difusão do uso
do rádio e da televisão, a informação era disponibilizada mais rapidamente, mas o
processo comunicacional continuava a ser unidirecional, pois o professor
disponibilizava a informação e o aluno participava do processo educativo
passivamente.
Nestas condições de comunicação o processo de ensino e aprendizagem à
distância revela-se ineficiente para a interação entre professor e aluno. O telefone
também é usado neste sistema para viabilizar uma interatividade mais intensa e
rápida entre os sujeitos no processo, mas devido a seu alto custo e por sua
peculiaridade do uso individualizado, torna-se uma ferramenta não muito
adequada a utilização em um processo educacional de massa. Com as novas
tecnologias
de
informação
e
de
comunicação,
estes
problemas
foram
solucionados com a expansão dos computadores em rede e, principalmente, a
inernet, possibilita uma comunicação mais intensa, rápida e eficiente.
Hoje existe uma diversidade de meios de comunicação: impressão, rádio,
televisão comum, televisão interativa, videoconferência e a internet, ferramentas
que podem ser experimentadas e exploradas no processo educativo à distância.
As tecnologias intelectuais vêm reformulando a visão do homem no mundo, e sua
compreensão do outro como uma peça fundamental para a sua própria existência.
Por isso, proliferam-se pela internet grupos de discussão (newsgroups), salas de
bate-papo virtual (chats), fóruns de assuntos específicos, listas de contato para
troca de mensagens instantâneas in real-time (como o software ICQ), entre outros.
Vários aspectos da sociabilidade humana estão ocorrendo através dos recursos
das tecnologias de informação e de comunicação, compondo um novo cenário de
relacionamentos. Cada vez mais, se faz necessário o estudo das tecnologias que
possibilitem a interatividade entre professor e aluno, para a inclusão destas
tecnologias no processo de ensino e aprendizagem à distância.
Em países desenvolvidos, o sistema de educação à distância já foi
consolidado, enquanto no Brasil esta modalidade de educação começou a ser
absorvida por instituições de ensino, mas ainda está longe de utilizar os meios de
comunicação já existente no País.
A educação à distância sempre teve um papel secundário em relação ao
ensino convencional. Este fator representa mais uma rejeição à modalidade em si
do que propriamente na qualidade dos cursos. A educação à distância pode ser
tão eficaz como ineficiente, tanto quanto o ensino convencional onde, a qualidade
do processo de ensino e aprendizagem é quem determina sua eficiência.
A mediação pedagógica na educação à distância se faz pela relação
professor e aluno e pelo material didático. Se por um lado a educação à distância
tem como premissa o autoaprendizado, por outro lado, o aluno necessita do
professor para atender as suas solicitações, de modo a orientar o aluno para que
ele supere suas dificuldades. Assim sendo, a interação professor e aluno é de
extrema importância no processo ensino e aprendizagem à distância.
Esta modalidade de ensino, diferencia-se da convencional, uma vez que a
interação do aluno com o professor tem que ser vista de uma nova maneira, de
um novo ângulo. Apesar do aluno estudar sozinho ele não deve se sentir isolado,
deve-se estabelecer um diálogo através de comunicação escrita e oral entre
professores e alunos e com as organizações de apoio. O diálogo pode ser feito de
diferentes formas, não se faz necessário a presença física e constante do
professor, necessitando o aluno à distância compreender que o ensino à distância
é um novo sistema de ensino e aprendizagem. Há necessidade assim, que o
aluno se insira numa cultura de educação à distância, na qual a autonomia
necessita ser bem maior do que aquela dos cursos convencionais.
Na educação à distância o processo de ensino está centrado no aluno. Para
que o aluno torne-se motivado no processo educacional, a informação precisa ser
organizada de maneira a viabilizar a construção do conhecimento e a incentivar o
pensamento crítico e criativo, ampliando as possibilidades de construção do
conhecimento. Uma seleção de atividades e interações devem ser programadas,
escolhendo situações e exemplos de acordo com o interesse dos alunos,
estruturando-os numa seqüência lógica, de modo que ele não se limite apenas a
observar e análisar, mas que seja motivado a atuar e a investigar. É essencial que
o próprio aluno encontre em si mesmo a vontade de busca, de superação e de
realização.
Os recursos tecnológicos como mediadores pedagógicos revelam-se
importantes e benéficos para o aprendizado do aluno. A tecnologia ocupa um
lugar importante na educação, mostra-se um meio riquíssimo de difusão de
conhecimentos e informações, além de propiciar a construção de uma teia de
relações que favorecem sobremaneira a comunicação interativa no processo
educativo, promovendo a construção compartilhada de conhecimentos.
Um dos aspectos a serem observados é o acesso às tecnologias pelos
sujeitos envolvidos no processo ensino e aprendizagem à distância. Os cursos
têm que disponibilizar as tecnologias de acordo com os recursos tecnológicos de
seu público alvo, e não adotá-la em qualquer situação, sem um objetivo específico
pedagógico.
A “tecnologia” constitui uma ferramenta de comunicação, em potencial, mas
a comunicação só será efetivada na interação dos sujeitos no processo
pedagógico, que facilite a criação de vínculos entre professor e aluno e estimule o
contato dialógico.
Quando a tecnologia da escrita se disseminou, provocou profundas
mudanças na prática educativa, assim como ocorre hoje com o advento das novas
tecnologias. Atualmente, não podemos vislumbrar um processo de ensino e
aprendizagem sem um material escrito, fato este que tecnologias modernas e
antigas podem conviver, complementando-se, contribuindo para a construção do
conhecimento.
Segundo Lévy (1996), a escrita como tecnologia exteriorizou, virtualizou a
função cognitiva da memória. No entanto, ao exteriorizar uma atividade intelectual
tal “tecnologia” transformou a própria função cognitiva. A escrita é uma
virtualização porque, com ela, houve a separação parcial de um corpo vivo. O
escrito criou um distanciamento entre o saber e seu sujeito e voltar ao escrito era
diferente de apenas lembrar dele de memória. A nossa memória é seletiva e ao
voltar ao escrito após um período de distanciamento passou-se a poder perceber
detalhes que antes não eram percebidos. A escrita, então, ao virtualizar a
memória, permitiu o desenvolvimento do pensamento crítico e refinou as práticas
de interpretação.
Ao mesmo tempo, a possibilidade de ler um texto num contexto diferente do
que foi produzido fez com que aqueles que escreviam precisassem imaginar
enunciados,
formas
de
escrever
que
pudessem
ser
entendidas
independentemente daquele contexto e que tivessem, portanto, alguns critérios de
universalidade.
A escrita dessincronizava, deslocalizava porque separava as
mensagens no tempo e no espaço. Com a maior presença da escrita na
sociedade, tais critérios passaram a prevalecer sobre os saberes narrativos e
rituais das sociedades orais, que se fundavam mais estreitamente no contexto de
produção onde não havia a separação entre emissão e recepção, pois as duas
aconteciam ao mesmo tempo e no mesmo espaço.
Levy nos mostra que o texto contemporâneo ou hipertexto em redes,
desterrritorializado e mergulhado no ciberespaço, reconstitui a co-presença da
mensagem e de seu contexto que caracteriza a comunicação oral. Desta forma,
também percebemos que os critérios mudam. Se a introdução da escrita modificou
a forma de pensamento e a comunicação entre os homens, porque a internet não
provocaria mudanças também em nosso modo de pensar e entender o mundo?
Num país de dimensão continental como o Brasil, marcado por realidades
econômicas, sociais e culturais tão diversificadas, é preciso uma adaptação
desses recursos tecnológicos em termos operacionais, na medida em que se faz
necessário aprender a manusear estes equipamentos, a operar programas e
assimilar toda uma nova linguagem.
Para Farias (2001), grande parte dos educadores não estão familiarizados
com essas novas tecnologias. Faz- se necessário a formação dos docentes, para
que seja entendido o paradoxo real e virtual que, segundo Lévy, não existe.
As novas tecnologias estão provocando mudanças, não somente nos
conceitos de educação à distância como também no ensino convencional.
Estas tecnologias nos remetem, no âmbito da comunicação, a uma outra
percepção de tempo e de espaço, contrapondo-se entre o real e o virtual. O
ciberespaço não se caracteriza por referências físicas e geográficas e nem por
elementos materiais. A inovação trazida pelas novas tecnologias, em relação à
escrita, podem propiciar tanto uma comunicação assíncrona quanto síncrona. A
escrita permite que a comunicação ocorra em lugar e tempo diferente de sua
origem, constituindo uma forma de comunicação mais perene no tempo e no
espaço, podendo assim processar trocas e contatos interativos numa outra
dimensão temporal.
Os contatos via correio eletrônico viabilizam o diálogo entre sujeitos de forma
assíncrona, isto é,
uma comunicação que ocorre independentemente da
simultaneidade do tempo entre os sujeitos, potencializando a característica da
escrita de permanência no tempo para haver trocas e interações numa outra
dimensão temporal. As salas de bate papo, por exemplo, podem dar continuidade
a comunicações anteriores, possibilitando uma comunicação síncrona, isto é, no
mesmo tempo real.
A nova relação com o tempo e espaço mudam o paradigma linear
tradicional e surge um desafio para a educação, em relação às suas práticas
educativas convencionais.
Questões sobre cognição e aprendizagem: as tecnologias Intelectuais que
permeiam o processo de Educação à Distância
As mudanças que ocorrem na organização e na produção de conhecimento
estabelecem a base de uma nova sociedade, na qual a inteligência passa a ser
entendida como o fruto de agenciamentos coletivos que envolvem sujeitos e
artefatos tecnológicos. Mudando a estrutura de nossa subjetividade, mudam
também as formas de construção do conhecimento e conseqüentemente os
processos de ensino e aprendizagem.
Segundo Ramal (2001), o primeiro elemento dessas mudanças na relação
com o saber está relacionado com a velocidade com a qual as informações
circulam e são produzidas. O segundo elemento está vinculado a compreensão
das relações entre trabalho, cidadania e aprendizagem. O sujeito de hoje, precisa
ser um receptor crítico e ativo dos meios de comunicação, localizar as
informações e utilizá-las criativamente, relacionar-se bem com os grupos e com a
produção de saber. O terceiro elemento diz respeito às tecnologias. Durante
séculos as sociedades utilizaram a comunicação oral para a transmissão e
aprendizagem dos saberes culturais. Depois, por um longo período, a escrita foi
associada à comunicação oral, trazendo novos modos de relação com o
conhecimento e ampliando determinadas capacidades humanas.
A informática é hoje uma espécie de terceiro pólo comunicacional. Os
suportes digitais, as redes e os hipertextos constituem-se como as tecnologias
intelectuais que a humanidade passará a utilizar para o ensino e aprendizagem,
para
gerar informação, para interpretar a realidade e transformá-la. Não são
suportes estáticos, seu movimento se dá pela troca pelo diálogo, pela conversa
virtual que quebra barreiras, vence fronteiras espaço-temporais e disciplinares,
transformando a relação humana com o conhecimento e com a cultura.
Esses elementos vêm trazer questionamentos para a principal instituição
responsável pela formação do indivíduo e sua inserção na sociedade, a escola. As
mudanças na produção de conhecimentos vêm questionar suas estruturas rígidas
e distantes da realidade.
As
tecnologias
intelectuais
com
seus
suportes
hipertextuais,
interconectados, interativos e múltiplos, questionam a escola e a sua
compartimentalização disciplinar, suas grades curriculares pouco propícias ao
diálogo entre os saberes. Enquanto no mundo digital cada navegante é autor de
seu percurso, a escola padece por sua falta de personalização, por levar a todos
os alunos apenas uma possibilidade de tempo e ritmo. Somam-se a isto, as
classes organizadas por faixa etária e o monologismo que emana do professor.
O hipertexto como agente das transformações comunicacionais e subjetivas
atuais, torna insustentável um modelo escolar que se mostra ineficiente e
obsoleto. A reflexão sobre a educação tradicional, a fim de possibilitar novos
modelos de ensino e aprendizagem, faz-se necessária no novo paradigma da
construção do conhecimento.
Os estudos sobre as tecnologias intelectuais com seus suportes
hipertextuais, interconectados, interativos e múltiplos nos remetem, inicialmente, à
origem da palavra página, que vem do latin pagus, que era a denominação do
território rural. A escrita reproduz de certo modo a aragem do solo, o agricultor
fazendo sulcos na terra, o escriba cavando sinais na argila. Por analogia, pode-se
dizer que o agricultor trabalha ‘para além do seu tempo’ para que, mesmo
havendo intervalos entre o registro de suas mensagens e a sua leitura, ‘plantio e
colheita’,
a
comunicação
seja
possível,
superando
as
distâncias,
as
incompreensões e as inevitáveis perdas.
Hoje conhecemos um novo suporte de escrita e de leitura. As letras antes
escritas sobre superfície estática, transformaram-se em sinais digitais; a página
passou, muitas vezes, a ser o monitor e o lápis, o teclado. Trabalha-se, agora,
com outra materialidade. Ë um novo modo de lidar com a escrita, que invade um
novo espaço, o ciberespaço que conceituamos aqui como uma estrutura
transacional de comunicação interativa.
O aparecimento da escrita acelerou um processo de
artificialização, de exteriolização e de virtualização da
memória que certamente começou com a hominização.
Uma tecnologia intelectual, quase sempre, exterioriza,
objetiviza, virtualiza uma função cognitiva, uma atividade
mental. Com a escrita o saber e seu sujeito podem se
distanciar. A escrita fez surgir um mecanismo de
comunicação no qual freqüentemente as mensagens estão
separadas no tempo e no espaço. Assim as mensagens
são geralmente recebidas fora do contexto a que elas
pertencem. Enquanto na leitura foram estabelecidas
práticas de interpretação, na redação foram criados
sistemas que favoreciam as mensagens que eram de
acordo com critérios universais. Mas, a existência de uma
verdade universal, objetiva e crítica só pode se impor
numa ecologia cognitiva na escrita sobre suporte estático.
Para o texto digital, textos que estão em rede, on line,
fluido sem território definido, este texto dinâmico
reconstitui a comunicação oral, mas numa escala muito
maior. De novo, os critérios mudam. Reaproximam-se
daqueles do diálogo ou de conversação. (Lévy. 1996: )
O ponto da virada histórica da relação com o saber, segundo Lévy (1999),
situa-se provavelmente no fim do século XVIII, naquele momento de frágil
equilíbrio em que o mundo antigo brilhava com suas melhores luzes, enquanto as
fumaças da revolução industrial começavam a mudar a cor do céu, enquanto
Diderot e d’Alembert publicavam sua grande enciclopédia. Até aquele momento,
então, um pequeno grupo de homens podia ter a esperança de dominar a
totalidade dos saberes e propor aos outros o ideal desse domínio. O
conhecimento ainda podia ser totalizado, somado. A partir do século XIX, com a
ampliação do mundo, com a progressiva descoberta de sua diversidade, com o
crescimento cada vez mais rápido dos conhecimentos científicos e técnicos, o
projeto de domínio do saber por um indivíduo ou um pequeno grupo tornou-se
cada vez mais ilusório. O conhecimento não é mais totaliizável.
Sendo assim, pela primeira vez na história da humanidade, grande parte
das competências adquiridas por uma pessoa, no começo de seu percurso
profissional, ficam obsoletas no fim de sua carreira. A segunda constatação,
fortemente ligada à primeira, concerne à nova natureza do trabalho, na qual a
parte de transação de conhecimentos não para de crescer. Trabalhar eqüivale
cada vez mais a aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos. A terceira
idéia é que o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que ampliam,
exteriorizam e alteram muitas funções cognitivas humanas: a memória (bancos de
dados, hipertextos, fichários digitais [numéricos] de todas as ordens), a
imaginação (simulações), a percepção (sensores digitais, telepresença, realidades
virtuais), os raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenômenos
complexos).
A World Wide Web propagou-se rapidamente entre os usuários da internet
para tornar-se, em poucos anos, um dos principais eixos de desenvolvimento do
ciberespaço. Talvez isso não expresse mais do que uma tendência provisória.
Mas, pelos dados que ela lança para o resto da rede, pelos cruzamentos ou as
bifurcações que propõe, constitui-se também numa seleção organizadora, um
agente estruturante. Cada elemento dessa rede é, ao mesmo tempo, um suporte
de informação e um instrumento de navegação. Numa face, a página Web forma a
gota de água, enquanto na outra face um oceano de informações.
Na Web, tudo está no mesmo plano. Não obstante, tudo está diferenciado.
Não há nenhuma hierarquia absoluta, e cada hipertexto é um agente de seleção,
de encaminhamento ou de hierarquização parcial.
O ciberespaço propicia o acesso as mais diversas informações Assim
sendo, na educação atual, não é preciso acumular informações, mas estar pronto
para obter a assimilar a informação sempre que for necessário.
Se por um lado, a rede internet anula as distâncias, por outro lado aqueles
que não participam disto ficam isolados. O uso da tecnologia faz com que a
educação tenha um custo mais elevado ainda. Os equipamentos tornam-se cada
vez mais acessíveis mas o alto grau de obsolescência faz com que seja
necessária a troca dos equipamentos num espaço de tempo muito curto, não
sendo absorvido o custo-benefício.. Cada vez mais a educação é um privilégio
daqueles que podem pagar.
Ramal (2001), alerta que o processo de implantação da tecnologia pode
representar um acirramento do problema da distância entre as classes sociais e,
se não houver uma política de democratização do acesso aos artefatos
tecnológicos, pode ser mantida ou mesmo aumentar as desigualdades sociais,
atuais de exclusão e de dominação que vivemos atualmente.
A tecnologia oferece novas perspectivas para o campo pedagógico, pela
operacionalidade entre o carretar abstrato dos modelos pedagógicos e sua
tradução em imagem tridimensional, sua simulação concreta.
Novas retóricas vão desenvolver-se na base de
combinatórias complexas entre níveis diferenciados de
imagens, pondo em cena diferentes tipos de hibridação
entre o real e o virtual, entre o sintético e o natural.
Metamorfoses contínuas poderão encadear-se entre estas
representações. Os “espaços virtuais” equivalendo a
campos de dados no qual cada ponto pode ser
considerado como a porta de entrada para um campo de
dados, em direção a um novo campo virtual, ele mesmo
conduzindo a outros espaços de dados. Novas formas de
navegação mental serão necessárias para reencontrar-se
nos labirintos informacionais em constante regeneração
(Quéeu, in Parente, 2001:96)
Segundo Quéeu (in Parente, 2001), é evidente que com o advento de tais
tecnologias devemos ver desenvolver-se novas formas de manipulação e de
linguagens. É urgente e necessário que desenvolva uma consciência destas
mudanças, que se melhore a formação do indivíduo, que se estabeleça mais
rapidamente possível os meios de uma nova forma de alfabetização. A imagem
gerada pelas tecnologias, tomada como escrita ubíqua, não deve ser vista como
natural, distraidamente vista, mas deve ser antecipadamente lida, analisada,
comparada a seu contexto, como aprendemos a fazê-lo no campo informacional
da escrita em suporte estático.
O desenvolvimento de redes virtuais nos exigirá uma atenção crescente a
problemas ainda inesperados. O mundo virtual que permite mergulhos e
navegações, propicia um aspecto sublime do real, do palpável, do tangível e
aparentemente verdadeiro. Será imprescindível instituir, pois, critérios, situar com
precisão os campos de expressão, os lugares de onde se fala, estabelecer as
bases de uma ética do mundo virtual.
A interação humana com as interfaces computacionais
No início da era da informática, os computadores eram utilizados somente
por técnicos, indivíduos que conheciam a linguagem computacional. Hoje em dia
os computadores estão por toda parte e por esta razão as interfaces
computacionais passaram a ter um caráter essencial na interação com o homem e
o ambiente mediado pelas novas tecnologias.
Para o design o importante é como configurar as interfaces mediadas pelas
novas tecnologias. Segundo Pereira Jr (2001), a configuração da interface tem um
importante papel na nossa interação com o mundo a partir da tecnologia. Uma
interface bem configurada, adequada às nossas necessidades aumenta a
eficiência da nossa ação. Por outro lado, uma interface mal configurada prejudica
a nossa ação. As interfaces computacionais apresentam um novo paradigma da
interação com a tecnologia, diferente da experiência que desenvolvemos durante
séculos com o mundo mecânico. Como a tecnologia da informação tem se
desenvolvido de forma muito rápida e como nossas estruturas sociais passam a
depender cada vez mais da tecnologia da informação, estamos sendo expostos
cada vez mais a interfaces computacionais para tarefas cada vez mais complexas,
onde problemas de eficiência podem trazer conseqüências desastrosas.
Como observado por Lee (em Pereira Jr 2001), no ano de 1990 o Airbus
320, do vôo 605, da Indian Airlines caiu matando 98 pessoas. Na nota oficial da
Airbus Industries, foi apontado o problema como uma falha humana causada pela
má adequação dos pilotos à tecnologia de automação.
As interfaces computacionais devem ser projetadas para atender às
necessidades do usuário e devem ser configuradas de acordo com a capacidade
humana, Com a expansão do uso das interfaces computacionais, cada vez mais
se faz necessário projetar objetos que propiciem ima melhor qualidade de vida
para o ser humano. Vários aspectos devem ser levados em conta para a
construção de interfaces computacionais, os estudo desenvolvidos em HumanComputer-Interaction (HCI) veio trazer princípios centrados no usuário para os
objetos desenvolvidos para o meio computacional.
A interatividade com os sistemas computacionais torna-se muito difícil de
ser manuseada pelos usuários. Segundo Norman (1999), os computadores têm
várias funções, são muito complexos. O mesmo design para hardware e software
é feito para servir a todos os indivíduos em todo o mundo. A mesma máquina faz
todas as tarefas e atividades que você deseja fazer. O design não é projetado
para um conjunto de aplicações, mas, ao contrário, os sistemas computacionais
são projetados para todos. Isto significa que tem um número enorme de
operações que não são necessárias para todos os usuários e como resultado os
sistemas computacionais tornam-se muito complexos.
Para Brown (apud Pereira Jr, 2001), as razões para nossas dificuldades
sobre o uso e compreensão do uso das interfaces computacionais estão
relacionadas aos seguintes fatores: a opacidade dos sistemas, a complexidade de
processamentos múltiplos, a complexidade funcional, a ausência de metáforas
explanatórias, e os aspectos de interatividade e ambigüidade.
O conceito de opacidade dos sistemas computacionais diz respeito ao fato
que as funções dos sistemas computacionais Não pode ser percebida a partir da
sua estrutura, estas estruturas são invisíveis, Em sistemas mecânicos, podemos
desenvolver um modelo do seu funcionamento a partir das evidências de sua
estrutura e dos aspectos físicos.
A complexidade em processamentos múltiplos está relacionada ao fato que
o computador permite a execução de diferentes processos ao mesmo tempo, o
que exige do usuário a estabelecer relações entre estes processos, sobre os
aspectos disparadores de ação de cada um deles e sobre as respostas do sistema
para cada processo.
A complexidade funcional está relacionada ao fato de que, cada vez mais,
novos tipos de aplicação passaram a ser realizadas nos sistemas computacionais.
A ausência de metáforas causais explanativas é um outro aspecto que
diferencia
os
sistemas
computacionais
dos
sistemas
mecânicos.
Nossa
experiência com o mundo físico e as reações de causa e efeito dos objetos nos
permitem estabelecer modelos plausíveis para o funcionamento de rodas,
alavancas, rampas, etc. Enquanto ao conhecimento das linguagens dos sistemas
computacionais estamos ainda na infância.
Para o desenvolvimento de interfaces computacionais amigáveis torna-se
necessário que estes sistemas sejam auto-explicativos. Ocorrendo uma
necessidade de desenvolver sistemas auto-explicativos, e a dificuldade humana
de fazer sentido sobre os sistemas computacionais, destacamos alguns princípios
que devem ser trabalhados na confecção de interfaces computacionais, como
proposto por Norman (1999), Esses princípios seriam: visibilidade, mapeamento,
restrições, sugestibilidade, feedback.
Para Norman (1999), a interface deve ser representada de modo invisível,
de restringir a ação do usuário dentro do domínio da aplicação e entendimento do
sistema, pois quando exercemos uma tarefa não devemos focar na interface e sim
na operação da tarefa. Por exemplo: quando desempenhamos uma ação como
dirigir um carro, não descrevemos nossas ações, como apertar a embreagem,
passar a segunda marcha, apertar o freio. O mapeamento mental já está feito. A
ação analítica e descritiva só ocorre quando tarefa é quebrada.
Winograd (1996) observa que a interface computacional opera no domínio
da linguagem, opera na criação, manipulação e transmissão dos objetos
simbólicos. A linguagem existe enquanto ação, enquanto é usada em um processo
de interpretação e comunicação.
A partir do desenvolvimento da linguagem mais adequada às nossas
necessidades de interação com os sistemas computacionais, através dos quais o
ensino à distância pode ser mediado, estaremos proporcionando uma nova
relação dos indivíduos com o ambiente e com a sociedade. Portanto, o desafio do
designer será configurar o nosso ambiente procurando não só o bem estar do
indivíduo, como o bem estar comum.
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Educação à Distância: do século l ao ciberespaço