ANÁLISE SOBRE A ADEQUAÇÃO DA AMOSTRA DA COLETA CITOLÓGICA
CÉRVICO-VAGINAL EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE NA ZONA LESTE
DE SÃO PAULO
Roberto De Alcântara Madeira(1)
Chennyfer Dobbins(2)
Carolina Bessa Ferreira de Oliveira(3)
RESUMO: Este artigo apresenta pesquisa observando resultados de coletas de citologia
cervicovaginais em mulheres entre 15 e mais de 60 anos, predispondo-se a compilar dados e
trabalhar os aspectos relacionados à adequação destas coletas quanto a presença dos limites
dos epitélios, denominadas junções escamo-colunares, criando mecanismo para análise de
dados que possam tornar-se substrato para tomada de decisão quanto à adequabilidade da
coleta.
ABSTRACT: This article presents research results of observing samples of cervicovaginal
cytology in women aged 15 and over 60 years, predisposing to gather data and work aspects
related to the suitability of these samples for the presence of the boundaries of the epithelia,
called joints squamous columnar, creating mechanism for data analysis that may become the
substrate for making a decision regarding the suitability of collection.
PALAVRAS-CHAVES: Citologia cérvico-vaginal, junção escamocolunar, câncer uterino
(Cervicovaginal cytology, squamocolumnar junction, uterine câncer).
INTRODUÇÃO
O câncer cervical, ou de colo do útero, é uma patologia que prevê uma enorme margem de
prevenção, tratamento e cura, porém, indicadores mostram que em um prazo de tempo de
cinco anos de desenvolvimento da doença sejam suficientes para estimar em 51% de
letalidade em países subdesenvolvidos contra 30% em países desenvolvidos.
(1)Graduado em Odontologia_ Universidade Metodista_ Especialista em Saúde da Família _ Especialista em Gestão Pública de Serviços em
Saúde _ Santa Casa_ e-mail: [email protected].
(2)Graduada em Enfermagem, doutora em Saúde Coletiva, mestre em Economia da Saúde pela Universidade Federal de São
Paulo; especialista em Enfermagem do Trabalho, Auditoria e Epidemiologia Hospitalar_ email: [email protected]
(3) Mestra e doutoranda em Educação _Tutora orientadora do Curso de Especialização em Gestão em Saúde - UNIFESP/UAB.
1
O grande diferencial, nestes indicadores refere-se ao diagnóstico precoce da lesão e de
que forma este diagnóstico possa estar sendo realizado de forma qualitativa.
No Brasil, o câncer cervical é causa importante de morbimortalidade feminina e as duas
principais categorias de carcinomas que atingem o cérvice são: 80% de casos de carcinoma de
células escamosas e 10% de adenocarcinomas, estes atingindo uma população feminina
jovem.
As lesões de baixo grau evoluem, em média, entre dez a quinze anos, sendo que a detecção
precoce e os programas de prevenção tornam-se prioritários para diminuição do agravo citado.
Um dos exames que melhor podem propiciar uma relação de custo-efetividade, é o de
coleta citopatológica cervicovaginal ou esfregaço cervicovaginal, ou colpocitologia oncótica
cervical ou simplesmente exame de Papanicolau. Na década de 1930 Georgious
Papanikolaou, médico grego, desenvolveu procedimento que possibilitou a descoberta de
lesões precursoras, dez anos antes da manifestação, do câncer propriamente dito no tecido
cervical. O método consistia, e consiste ainda, em técnica não invasiva de coleta de restos
celulares da mucosa do trato vaginal e espalhando-os sobre uma lâmina de vidro para exame
microscópico, como forma de identificar o câncer cervical. Em 1998, o Ministério da Saúde
do Brasil estabeleceu que o teste de Papanicolaou (PAP) deve ser realizado anualmente por
mulheres com idade entre 25 e 60 anos ou antes desta faixa etária, caso já tenham mantido
relações sexuais. Atualmente, esta faixa etária expandiu-se aos 65 anos.
A confiabilidade dos resultados nas coletas citológicas cervicovaginais é pautada por
documento publicado pela Fundação Oncocentro (FOSP) e pela Secretaria de Saúde do
Estado de São Paulo (SSESP), que preconiza protocolo para o procedimento.
Em dezembro de 1988, uma oficina de trabalho promovida pelo Instituto Nacional de
Câncer (EDA), em Bethesda, Maryland, criou o sistema Bethesda (TBS) com revisões em
1991 e 2001; este tinha por objetivo desenvolver um sistema de descrição dos esfregaços de
Papanicolaou que representaria a interpretação citológico de um modo claro e relevante para o
clínico. O resultado deste primeiro encontro foi o sistema Bethesda de 1988. O Sistema
Bethesda (TBS), documento apresentado introduziu a análise da qualidade do esfregaço no
laudo do exame citopatológico, levando em conta os componentes presentes na amostra; o
mesmo grupo, em 2001, propôs modificações no documento anterior, publicando o TBS para
Citologia, o qual norteia a adequação da amostra colhida por meio do exame de coleta
citológica cérvico-vaginal.
2
Dois fatores são essenciais quanto à confiabilidade do exame de coleta citológica cérvicovaginal: os fatores relacionados à coleta e os fatores relacionados aos procedimentos
laboratoriais.
Este estudo, focalizou o fator da coleta e sua adequação, seguindo a classificação de
Bethesda, em sua atualização de 2001 e como demonstrar a importância na manipulação desta
coleta, visto que muitos exames que demandam de um grande número de execuções acabam
por desprezar a forma correta, nesta chamada manipulação, pela execução corriqueira e até,
porque não dizer, por sua simplicidade.
A referida unidade de saúde, local de estudo, foi a UBS_AMA_PSF_COE Jardim São
Francisco II, situada na Zona Leste do município de São Paulo, dentro da Subprefeitura de
São Mateus (Figura 1), está no distrito do São Rafael (Figura 2 e 3), sob gerência da
organização social Casa de Saúde Santa Marcelina.
Figura 1: São Paulo e suas subprefeituras, indicando o índice saúde em 2005. (Fonte:
3
HTTP://www.prefeitura.sp.gov.br)
Figura 2: São Mateus e seus três distritos administrativos. (Fonte: HTTP://www.prefeitura.sp.gov.br)
Figura 3: São Mateus, suas unidades e mortalidade em 2003. (Fonte: HTTP://www.prefeitura.sp.gov.br)
4
O distrito de São Rafael é um dos três distritos que formam a Subprefeitura de São
Mateus, na Zona Leste de São Paulo, distando em 25 quilômetros da praça da Sé, marco-zero
da cidade e apenas oito quilômetros do centro da cidade de Santo André. A ocupação da
região começou ainda na década de 1960, quando amplas áreas foram loteadas em terrenos
menores e vendidas às famílias de trabalhadores que migravam de outras regiões do estado de
São Paulo e de outros estados do Brasil para trabalhar nas indústrias da Região do Grande
ABC Paulista num período de grande desenvolvimento econômico, dando ao Bairro
características de classe-média e média-baixa.
No início dos anos 70 uma grande favela foi instalada pela prefeitura na divisa do Parque
São Rafael com o Jardim Vera Cruz. Neste local, a administração municipal assentou
moradores oriundos da Favela Vergueiro, que foi desocupada e mais tarde transformou-se na
Chácara Klabin, bairro de alto padrão na Zona Sul de São Paulo, próximo à Vila Mariana. Em
2004, de acordo com dados da Fundação Seade, o distrito de São Rafael possuía cerca de 136
mil habitantes. Entre 1991 e 2004 apresentou uma taxa média de crescimento populacional de
3,3% ao ano, uma das mais elevadas da Capital neste período. Tal crescimento deu-se pela
intensa ocupação das regiões limítrofes do distrito nos anos 90 por famílias de baixa renda,
tanto aquelas que passaram a ocupar ilegalmente os terrenos, como aqueles que foram
instalados em conjuntos habitacionais construídos pelo poder municipal e estadual de São
Paulo.
Basicamente, até meados de 2006, a unidade não contava com um serviço de atendimento
constante e efetivo.
Em meados de 2006, a unidade, que era modelo estanque no atendimento das necessidades
de uma população altamente reivindicativa e participante, começou a se estruturar a estratégia
da saúde da família como modelo de atenção à saúde.
O perfil epidemiológico da região caracteriza-se por uma população 55% feminina e 45%
masculina, sedo 28% a população feminina composta entre os 15 e 49 anos e 8% a população
total entre 0 e 5 anos. Está população adoece de hipertensão arterial sistêmica, diabetes
mellitus, afecções respiratórias, diarreias, dorsalgias.
Atualmente a unidade de saúde conta hoje com 158 colaboradores em seus diversos setores.
Com esta análise tentaremos demonstrar que um simples olhar para a qualidade de um
exame de corriqueira execução, pode desde reorganizar fluxo na prospecção de lesões
significativas que poderá ser impactante para a diminuição da morte por câncer uterino e
5
permitirá uma melhor assistência à saúde da mulher e, consequentemente, uma diminuição na
ocorrência de eventos indesejáveis.
2. OBJETIVO
Sendo o câncer de colo uterino uma patologia ainda prevalente e incidente na população
brasileira e sendo a coleta de citologia cérvico-vaginal um procedimento regular e usual nas
unidades básicas do Município de São Paulo, entre outros, o estudo propõe-se a analisar como
é a adequação da amostra que advém da referida coleta, a partir dos resultados do esfregaço
vaginal e da identificação dos três estratos da junção escamocolunar, conforme o protocolo de
Bethesda.
Em uma etapa pré-clínica, onde não surgem sintomas, do câncer do colo do útero, em que a
detecção de lesões precursoras, que são aquelas que antecedem o surgimento da doença, pode
ser realizada através do exame de Papanicolau, ou também chamada coleta citopatológica
cervicovaginal.
Hoje somos sabedores que quando há diagnóstico em sua fase inicial, as chances de cura
do câncer cervical são de 100%.
Na evolução da doença, aparecem sintomas como sangramento vaginal, corrimento e dor.
O Papanicolau como a forma mais simples, corriqueira e usual de exame preventivo do
câncer do colo do útero faz-se a principal estratégia para detectar lesões precursoras e fazer o
diagnóstico da doença e é o método de rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil.
A priorização da faixa etária preconizada pelo Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira
de Ginecologia e Obstetrícia, como a população-alvo do Programa de Prevenção do Câncer
Uterino, justifica-se por ser a de maior ocorrência das lesões de alto grau, passíveis de serem
tratadas efetivamente para não evoluírem para o câncer. Segundo a OMS, a incidência deste
câncer aumenta nas mulheres entre 30 e 39 anos de idade e atinge seu pico na quinta ou sexta
décadas de vida. Antes dos 25 anos prevalecem as infecções por HPV e as lesões de baixo
grau, que regredirão espontaneamente na maioria dos casos e, portanto, podem ser apenas
acompanhadas conforme recomendações clínicas. Após os 65 anos, por outro lado, se a
mulher tiver feito os exames preventivos regularmente, com resultados normais, o risco de
desenvolvimento do câncer cervical é reduzido dado a sua lenta evolução.
6
Figura 4: Incidência do Câncer Uterino por regiões (Fonte: www.inca2.gov.br)
A rotina recomendada para o rastreamento no Brasil é a repetição do exame Papanicolaou
a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um
ano. A repetição em um ano após o primeiro teste tem como objetivo reduzir a possibilidade
de um resultado falso-negativo na primeira rodada do rastreamento. A periodicidade de três
anos tem como base a recomendação da OMS e as diretrizes da maioria dos países com
programa de rastreamento organizado. Tais diretrizes justificam-se pela ausência de
evidências de que o rastreamento anual seja significativamente mais efetivo do que se
realizado em intervalo de três anos. O rastreamento de mulheres portadoras do vírus HIV ou
imunodeprimidas constitui uma situação especial, pois, em função da defesa imunológica
reduzida e, consequentemente, da maior vulnerabilidade para as lesões precursoras do câncer
do colo do útero, o exame deve ser realizado logo após o início da atividade sexual, com
periodicidade anual após dois exames normais consecutivos realizados com intervalo
semestral. Por outro lado, não devem ser incluídas no rastreamento mulheres sem história de
atividade sexual ou submetidas a histerectomia total por outras razões que não o câncer do
colo do útero.
7
3. MÉTODO
Como mencionado anteriormente, este exame pode ser feito em postos ou unidades de
saúde da rede pública que tenham profissionais capacitados, e quando falamos de capacitação
ela consiste exatamente no que esta análise se pressupõe a demonstrar: a fundamentação na
observação das junções epiteliais, sua identificação por quem faz a coleta e a observância de
que a técnica, de maneira eficaz e eficiente, deve ser uma constante no mister de quem
executa a ação.
Para quem se utiliza dos serviços de saúde é fundamental receber além da orientação
sobre a importância do exame preventivo, pois sua realização periódica permite reduzir a
mortalidade por câncer do colo do útero, como esta coleta está sendo realizada e o porquê da
forma de sua realização.
A coleta citológica cervicovaginal é um exame preventivo indolor, simples e rápido,
podendo, ao máximo, causar um pequeno desconforto que diminui se a mulher conseguir
relaxar e se o exame for realizado com boa técnica e de forma delicada.
A garantia de um resultado correto depende de alguns fatores como: a paciente não deve
ter relações sexuais (mesmo com camisinha) nos dois dias anteriores ao exame; evitar também
o uso de duchas, medicamentos vaginais e anticoncepcionais locais nas 48 horas anteriores à
realização do exame. É importante também que não esteja menstruada, porque a presença de
sangue pode propiciar alteração de resultado. Para as gestantes não há contraindicação na
submissão ao exame, pois não há fundamentação científica que denote prejuízo à sua saúde ou
a do feto.
Tecnicamente, para a coleta do material, é introduzido um instrumento chamado espéculo
na vagina, também conhecido popularmente como “bico de pato”, devido ao seu formato,
sendo os modelos descartáveis os mais recomendados. Logo após o profissional faz a
inspeção visual do interior da vagina e do colo do útero e promove a escamação da superfície
externa e interna do colo do útero com uma espátula de madeira e uma escovinha; as células
colhidas são colocadas numa lâmina para análise em laboratório especializado em
citopatologia (Figura 5).
8
Figura 5: Demonstra coleta de material (Fonte:www.inca2.gov.br)
Ressalto aqui que é justamente esta fase de “escamação” o objeto desta análise e é nela
que consiste nossa atenção, quanto à correta manipulação, pois é aí que incide os maiores
vieses neste exame simples e corriqueiro. O profissional o qual não se ater à coleta
diferenciada, que alcance os três epitélios de maneira vertical, ou seja, do epitélio mais
externo ao mais interno, como também de maneira horizontal, abrangendo toda a extensão do
colo uterino, poderá haver desprezo por área, que apresente lesão, acusando resultado final
que não detectará alteração presente. Assim, reforço que a presença de todos os epitélios, em
número de três, no resultado da amostra colhida é o confiável para que o profissional
solicitante firme diagnóstico final confiável.
O exame preventivo pode ser realizado por todas as mulheres que tem ou já tiveram
vida sexual e que estão entre os 25 anos e 64 anos com periodicidade anual. O preconizado é
que em se realizando dois exames seguidos, com intervalo de um ano, e que os mesmos
apresentem como resultado aquilo que é considerado normal, esta mulher possa realizar o
exame com periodicidade trienal.
Neste item da faixa etária, hoje, em 2014, temos discussões sobre a ampliação da mesma
a mulheres abaixo dos 25 anos e até, devido ao aumento da longevidade e da vida sexual dos
idosos, para além dos 64 anos. Dados atuais mostram que entre 2011 e 2012 houve queda
9
destes exames (4,6%, segundo a Coordenação Geral de Atenção às Pessoas com Doenças
Crônicas do Ministério da Saúde, fechando em 10,9 milhões de coletas); assim o próprio
Ministério da Saúde, em sua pasta correlata da Saúde da Mulher traçou metas de cobertura em
75% das mulheres na faixa etária preconizada. Julgo importante frisar que, na cobertura,
quanto á realização da coleta de Papanicolau, trabalha-se com um viés que a duplicidade,
quanto ao período e à mulher que vai ao exame, pois a análise de dados é quantitativa e não
qualitativa; ou seja, não discrimina se a mesma mulher colheu duas vezes no intervalo de um
ano o exame, deixando assim outra mulher descoberta nesta coleta. Nossa análise também não
trabalhou este viés, retendo-se a analisar os dados de maneira bruta, ou seja, quantitativa.
O resultado da coleta citológica cervicovaginal, ou Papanicolau, pode acusar os seguintes
resultados:
• Negativo para câncer (caso esse seja o primeiro resultado negativo, a mulher deverá fazer
novo exame preventivo daqui a um ano; caso a mulher já tenha um resultado negativo do ano
anterior, deverá fazer o próximo exame preventivo daqui a três anos);
• Alteração (NIC I _deverá repetir o exame daqui a seis meses);
• Outras alterações (NIC II e NIC III _ o Profissional que realizar o diagnóstico decidirá a
melhor conduta, onde haverá provável solicitação de outros exames como a colposcopia);
• Infecção pelo HPV (a mulher deverá repetir o exame daqui a seis meses);
• Amostra insatisfatória (a quantidade de material não foi suficiente para fazer o exame e a
mulher deverá repetir o exame logo que for possível).
Além destes resultados, poderão surgir outras infecções que terão seu diagnóstico e
conduta clínica.
Assim, unidades de saúde, no nível de atenção primária, com seus profissionais médicos e de
enfermagem, são habituadas ao procedimento da coleta do esfregaço vaginal, sendo também
habituadas a identificarem as neoplasias intracervicais, em seus níveis de um à três, porém,
não são habituadas a verificarem o tabulamento quanto ao número de exames insatisfatórios,
os satisfatórios, porém, limitados com a abarcamento de um epitélio, e os satisfatórios, com
dois ou três epitélios.
Como o estudo predispõe-se a compilar os dados, trabalhando os aspectos relacionados à
adequação das coletas, no que tange observar os resultados dos exames e a presença dos
limites dos epitélios, denominadas junções escamo-colunares, a proposta é criar mecanismo
para análise de dados e, que esta análise de dados, possa ser substrato para tomada de decisão
quanto à adequabilidade da coleta.
10
A partir da coleta de dados e da análise dos resultados do exame citopatológico, esperamos
poder identificar a adequabilidade do procedimento clínico, determinando que a variável
possível seja a idade das usuárias nas quais o procedimento foi realizado, considerando,
portanto, a questão da população idosa neste referido procedimento.
Embora simples de ser executado, para obter um resultado final que assegure à mulher a
inexistência de qualquer lesão neoplásica ou precursora na cérvix, o profissional executante
do procedimento deve ter bom conhecimento anatômico para localizar a cérvix e discernir os
epitélios cervicais (ectocervix e endocervix), ter destreza ao manusear a espátula de Ayres e a
escova endocervical e para realizar o esfregaço, fixando-o no tempo mais curto possível de
forma a preservar as células.
Foram analisados os resultados dos exames recebidos a partir da coleta de exames de
papanicolau, ou esfregaço vaginal, ou coleta de citologia cérvico-vaginal das usuárias entre 15
e mais de 60 anos, identificando, nestes resultados, a presença dos três estratos da junção
escamocolunar, em um corte descritivo de metodologia transversal.
Além de interessar ao gestor da unidade e aos trabalhadores da unidade, o estudo é foco
de interesse a outras unidades da região, por conta do perfil das usuárias ser comum e por não
haver estudo equiparativo na região.
Em relação a estudos correlacionados e existentes, este estudo amplia a idade das
estudadas, até por conta de uma situação recente, referente à ampliação da vida sexual ativa
das mesmas; outros estudos limitam-se às idades preconizadas pelo Ministério da Saúde e
pela Sociedade Brasileira de Ginecologia. Este estudo, também, desmembra o grupo de
exames satisfatórios em exames com todos os três epitélios e os com dois epitélios
considerados satisfatórios; desta forma, poderemos lançar um olhar diferenciado para este
"satisfatório" de excelência, que é a coleta dos três epitélios.
O objetivo deste estudo foi verificar a qualidade do esfregaço de material cervical para
teste de Papanicolau realizado por profissionais da rede de atenção primária em relação a um
grupo controle, considerando-se os parâmetros estabelecidos no documento da Fundação
Oncocentro (FOSP) e Secretaria de Saúde do Município de São Paulo.
Secundariamente, a qualificação destes dados quantitativos poderá gerar ações
educativas, quando observados números contrários aos propostos com indicadores
satisfatórios, para a equipe ou, mesmo, para entes dessas equipes, visto a rotatividade nos
inúmeros serviços prestados pela enfermagem, ao que tange as escalas profissionais; neste
aspecto, com as escalas do(a)s enfermeiro(a)s na coleta, em suas múltiplas variações, mensais,
11
bimensais e assim por diante, será possível identificar variações, mesmo focais, conforme a
alternância dos membros das equipes, possibilitando capacitação, ou recapacitação desta
equipe.
Este é um estudo descritivo que aborda quantitativamente um corte, em um espaço de
tempo consecutivo de doze meses.
A pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem quantitativa, será executada a partir
da compilação de dados levantados a partir dos resultados dos exames de coleta cérvicovaginal enviados pelo laboratório responsável por analisar tais amostras.
A partir da chegada dos resultados mensurou-se o número de exames, conforme o
protocolo de Bethesda, agrupando os exames satisfatórios (2 ou mais epitélios), insatisfatórios
(1 epitélio) e inadequados (coleta comprometida). A questão da adequabilidade da amostra
vem, ao longo do tempo, suscitando inúmeros questionamentos e modificações, dado o seu
caráter de matéria conflitante e de difícil conceituação, plenamente aceitável. A disposição,
em um sistema binário (satisfatória x insatisfatória), melhor caracteriza a definição da visão
microscópica da colheita; no atual Sistema de Bethesda, a adequabilidade da amostra também
está colocada nesses dois parâmetros. Contudo, nesse sistema, a caracterização da junção
escamocolunar (JEC) faz parte dessa definição, o que não ocorre aqui. Deve-se considerar
como satisfatória a amostra que apresente células em quantidade suficiente, bem distribuídas,
fixadas e coradas, de tal modo que sua visualização permita uma conclusão diagnóstica.
Observe que os aspectos de representatividade dos epitélios não constam desse item, mas
deverão estar em caixa própria, para que seja dada a informação (obrigatória) dos epitélios
representados na amostra. A definição de adequabilidade pela representatividade passa a ser
da exclusiva competência do responsável pela paciente, que deverá levar em consideração as
condições próprias de cada uma (idade, estado menstrual, limitações anatômicas, objetivo do
exame etc). Insatisfatória é a amostra cuja leitura esteja prejudicada pelas razões expostas
acima, todas de natureza técnica e não de amostragem celular.
Os epitélios são: o escamoso, o glandular e o metaplásico.
A coleta de dados se deu entre Janeiro e Dezembro de 2011.
Em 1998, durante o Programa Nacional de Combate ao Câncer de Colo do Útero, foram
revistas 2.278 lâminas colhidas em Naviraí/MS, e foram encontrados 12,5 % de esfregaços
insatisfatórios. Esse número foi considerado elevado e para nosso estudo consideramos 10%
dos esfregaços insatisfatórios como ideal para o mesmo.
12
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir do pressuposto inicial de compilar dados trabalhados a partir da coleta sobre os
resultados dos exames citopatológicos da população que era alvo da pesquisa, examinando
assim, nos referidos resultados, a presença dos limites dos epitélios, tabulamos os dados
(tabela 1) e analisamos mês a mês, conforme o limite de 10% de insatisfatórios proposto no
estudo, considerando também a variável da idade das usuárias nas quais o procedimento foi
realizado, ou seja, de como este viés apresenta-se nesta população idosa, pudemos atingir o
objetivo de que tal coleta de dados pudesse ser substrato para tomada de decisão.
%
INSATISFATÓ
RIO
23
13
19
23
28
33
24
29
21
16
16
11
%
SATISFATÓRI
O
4
0
0
4
2
0
1
0
0
3
1
0
NIC 3
40
33
76
73
70
60
60
67
44
56
58
34
NIC 2
69
78
98
148
200
206
106
125
118
138
115
40
NIC 1
112
228
174
224
270
266
166
192
162
194
174
74
UM EPITÉLIO
INSATISFATÓ
PORRIO
IDADE
(UM
EPITÉLIO)
TODOS OS
EPITELIOS
DATA (2011)
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
JUNHO
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
Nº COLETAS
ADEQUAÇÃO DOS RESULTADOS DA COLETAS DE PAPANICOLAU
UBS SÃO FRANCISCO II
1
2
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
61,61%
34,21%
56,32%
66,07%
74,07%
77,44%
63,86%
65,10%
72,84%
71,13%
66,09%
54,05%
15,18%
8,77%
32,76%
22,32%
15,56%
10,15%
21,69%
19,79%
14,20%
20,62%
24,14%
31,08%
Tabela 1_ Tabela com a série histórica de resultados apurados a partir da proposta da pesquisa (Fonte: arquivos
pessoais).
Nos meses onde este número foi em muito superior ao limite proposto no estudo, a
tomada de decisão foi reavaliar a escala e os profissionais envolvidos na coleta para
identificação de dificuldades e limitações e, a partir de então, propor ações que pudessem
13
repercutir em uma melhoria do indicador. Estas ações envolveram desde pequenos ajustes de
como o (s) profissional (ais) pudesse (m) estar desenvolvendo o procedimento, de maneira
técnica (Janeiro, Maio, Setembro), até ações de educação permanente com corpo clínico
(equipe médica e de enfermagem) de maneira a problematizar o porquê de um número além
do que havia sido a proposta inicial do estudo (Março e Dezembro).
Importante ressaltar que a análise vem de encontro à gestão de qualidade dos exames,
programa do Ministério da Saúde iniciado em 2009 e mais atualmente no programa Qualicito
(2014), este mais voltado aos laboratórios, porém, ressaltando a importância da qualidade em
exame de grande impacto na saúde coletiva a despeito de seu baixo custo; todos estes aspectos
visam o objetivo de impulsionar o monitoramento interno e externo da qualidade dos
laboratórios de citopatologia (MIQ e MEQ).
As ações incluíram a avaliação das diretrizes e construção de modelo de monitoramento
para o plano de trabalho dos Estados; realização de diagnóstico situacional do MIQ e MEQ
nos prestadores de serviços ao SUS; acompanhamento e monitoramento das atividades em
estados–piloto.
Em 2013 foi publicada a Portaria nº 3388 visando garantir a qualidade do exame
citopatológicos do colo do útero a partir da implantação do MIQ e MEQ e acompanhamento
de indicadores de qualidade dos laboratórios de citopatologia ligados ao SUS.
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, para trabalhos futuros recomenda-se abordar as ações desenvolvidas para
capacitação ou requalificação das equipes envolvidas no exame, e sua coleta, e como isto
possa estar impactando indicador de mortalidade por câncer uterino.
14
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análise sobre a adequação da amostra da coleta citológica cérvico