TERMOS DE REFERÊNCIA Programa integrado para a redução da mortalidade materna e infantil (PIMI): Componente de Reforço da Disponibilidade e Qualidade dos Cuidados de Saúde Materno-infantis nas Regiões de Cacheu, Biombo, Oio e Farim 1. Contexto A Guiné-Bissau ocupa a 176ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano de 20111 entre 187 países e, em 2012, a revista Foreign Policy atribui-lhe o 15º lugar na lista dos Estados Frágeis de 2012. Desde a sua independência, o País tem experimentado recorrentes crises políticas que colocam em causa a prossecução de estratégias e respectivo êxito, conduzindo a um gradual colapso de estruturas nacionais já por si débeis, afetando a população em geral e, particularmente, a população rural. O Sistema Nacional de Saúde (SNS) encontra-se entre as estruturas mais afectadas. Com uma esperança média de vida à nascença de 48,1 anos, estima-se que, em 2008, apenas 38% da população Bissau-guineense tinha acesso a infra-estruturas de saúde2, a taxa de consultas por ano fica-se por 0.213 consultas por habitante e somente 44% dos partos são assistidos por profissionais de saúde. De facto, cerca de 40%4 da população viverá a mais de 5 km de distância de um Centro de Saúde muitos dos quais ficam frequentemente inacessíveis durante a época das chuvas. A esta restrição alia-se a barreira económica que representa o preço das consultas, medicamentos e transporte, bem como factores culturais que inibem as deslocações da população aos Centros de Saúde. Também a percepção da fraca qualidade dos cuidados prestados desmotiva o recurso, por parte da população, às unidades de saúde. Por um lado, existe disponibilidade limitada de recursos humanos, ausência de equipamentos e materiais, ruptura de stock de medicamentos e consumíveis; por outro lado, existem fortes carências ao nível da formação dos profissionais de saúde e gestores administrativos e financeiros dos respectivos serviços. No que toca à saúde materno-infantil, alvo dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) 4 e 5, traçados na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2000, os indicadores são particularmente graves. De acordo com dados das Nações Unidas ajustados para permitir comparação internacional do progresso face aos ODM, entre 1990 e 2010 a taxa de mortalidade infantil na Guiné-Bissau registou uma redução de 23% e 21% no caso de crianças até aos 5 anos de idade (infanto-juvenil) e 1 ano de idade, respectivamente. Apesar de representar uma diminuição significativa, a mesma vêm-se processando a um ritmo relativamente lento, sendo difícil que se venha alcançar a meta dos ODM em 2015: redução da mortalidade infanto-juvenil para 80‰. A mortalidade materna, por sua vez, terá diminuído cerca de 28% entre 1990 e 2010, estimando-se, de acordo com as Nações Unidas, cerca de 790 óbitos maternos por 100.000 nados vivos em 2010 – uma taxa ainda muito elevada, superior à média dos países com um perfil socioeconómico semelhante. A taxa de fecundidade mantém-se elevada para todas as mulheres em idade fértil (5,8 filhos por mulher), caracterizada por múltiplas gestações, com pouco espaçamento, precoces e tardias. A gravidez precoce afecta 33% das adolescentes e a taxa de prevalência contraceptiva é ainda muito baixa:14,2%5. No caso das crianças, as principais causas de morte até aos 5 anos de idade são complicações PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2011 Plano Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Humanos da Saúde (PNDRHS), 2008 3 Idem 4 Plano Operacional de Passagem à Escala Nacional das Intervenções de Alto Impacto relativamente à redução da mortalidade materna e infantil na Guiné-Bissau (POPEN), Março 2012 5 Fonte : MICS 2010 1 2 Av. Unidade Africana, 40-A, Bissau, Guiné-Bissau, Tel: (+245) 689 13 05 1 neo-natais (24% incluindo prematuridade, asfixia e sepsis neonatal) a malária (18%) as Infecções Respiratórias Agudas (IRA – 18%) e as diarreias (12%)6. A mortalidade materna, por outro lado, é causada por hemorragia pós-parto (42%), distocia (19), infecções (16%), abortos (9%) e eclampsia (6%). e apenas 31% das crianças menores de 5 anos em áreas rurais recebem antibióticos quando diagnosticadas com uma pneumonia, por exemplo. Tendo por base estes dados, foi desenhado o Plano Operacional de Passagem à Escala Nacional das Intervenções de Alto Impacto relativamente à redução da mortalidade materna e infantil na Guiné-Bissau (POPEN), documento estratégico e orientador para todos os intervenientes no domínio da saúde materno-infantil na Guiné-Bissau. Fundamentado no Documento Estratégico Nacional de Redução da Pobreza II (DENARP II) e na filosofia subjacente de “Djito tem”7 o POPEN assenta na promoção das seguintes Intervenções de Alto Impacto (IAI) comprovado na redução da maternidade materno-infantil: Intervenções de Alto Impacto Vacinação Micro-nutrientes e desparasitagem Pacote de Cuidados pré-natais completos Cuidados Planeamento familiar Preventivos Prevenção da Transmissão do HIV-SIDA da Mãe para o Filho (PTMF) Tratamento profiláctico do paludismo durante a gravidez Aleitamento precoce e exclusivo durante os 6 primeiros meses Pacote de Alimentação complementar da criança Cuidados Mosqueteiros impregnados de insecticida Promocionais Prevenção do HIV-SIDA e acompanhamento do tratamento Água, saneamento e higiene Tratamento por antibiótico au nível comunitário Pacote de Cuidados para os recém-nascidos de baixo peso à nascença e tratamento da septisémia Cuidados TRO (Tratamento de Reidratação Oral) + Zinco para tratamento da diarreia Curativos Comunitários Tratamento efectivo do paludismo Tratamento da malnutrição aguda Partos efectuados por pessoal qualificado Pacote de Cuidados Obstétricos e Neonatais de Urgência Cuidados Cuidados de qualidade para os recém-nascidos de baixo peso e tratamento da septisémia Curativos em neonatal Estruturas Cuidados preventivos e tratamento pediátrico da SIDA sanitárias Cuidados de qualidade para o tratamento da pneumonia, diarreia, paludismo e malnutrição aguda Levando em consideração as principais dificuldades do sistema sanitário na Guiné-Bissau ao nível dos cuidados materno-infantis, a União Europeia (UE) desenhou o Programa Integrado para a Redução da Mortalidade Materna e Infantil (PIMI) nas regiões sanitárias de Cacheu, Biombo, Oio e Farim, inteiramente enquadrado nos objectivos e eixos de intervenção do POPEN. O PIMI tem como objetivo global contribuir para a redução das mortalidades materna, neonatal e infanto-juvenil nas 4 regiões sanitárias referidas e, em particular, para o alcance das metas traçadas nos ODM. No entanto, dada a evolução registada até ao momento, o PIMI terá como metas a redução das taxas de mortalidade materna e infanto-juvenil para níveis ajustados, designadamente 108‰ e 777/100.000, respectivamente. O seu objectivo específico é assegurar e perenisar um melhor acesso a cuidados de saúde de qualidade a mulheres grávidas e puérperes (até 45 dias após o parto) e crianças até aos 5 anos naquelas regiões. Para este efeito, o PIMI assenta nas IAI previstas no POPEN, estruturadas em 3 pacotes de cuidados prestados de forma integrada a mulheres e crianças, antes e durante períodos de alto risco tais como gravidez, parto, período de pós-parto e pequena infância (até aos 5 anos) – 6 7 Fonte: OMS, 2012 Tradução aproximada do Crioulo: “Há solução” Av. Unidade Africana, 40-A, Bissau, Guiné-Bissau, Tel: (+245) 689 13 05 2 Práticas Familiares Essenciais (PFE), Pacote Mínimo de cuidados (PM) e Pacote Complementar de cuidados (PC) – através das estratégias fixa, avançada e móvel. O PIMI procurará melhorar a capacidade de resposta do SNS, estimulando a oferta e a procura de IAI ao nível dos cuidados materno-infantis através de intervenções tendentes à melhoria do acesso e da disponibilidade e qualidade dos cuidados materno-infantis. A implementação do PIMI será assegurada por 3 actores principais: Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Entraide Médicale Internacional (EMI) e IMVF. Em estreita articulação entre si, estas entidades vão contribuir para o alcance dos resultados traçados através da implementação das seguintes actividades: IMVF Resultado 1: Medicamentos e consumíveis médicos essenciais disponíveis em permanência Actividade 1.1: Adquirir e assegurar a logística para medicamentos e outros insumos médicos Actividade 1.2: Distribuir medicamentos e outros insumos médicos Resultado 2: Procura de serviços de saúde que oferecem as IAI aumentada Actividade 2.1: Melhorar a acessibilidade financeira às IAI Actividade 2.2: Melhorar a acessibilidade cultural às IAI Actividade 2.3: Facilitar o transporte de grávidas e crianças até aos 5 anos de idade de acordo com as necessidades Resultado 3: 16 PFE promovidas Actividade 3.1: Redigir e implementar o quadro regulamentar e operacional dos ASC Actividade 3.2: Formar os ASC nas PFE Actividade 3.3 : Gerir, supervisionar e avaliar os ASC Actividade 3.4: Assegurar a fidelização dos ASC Resultado 4: Centros de Saúde e Hospitais Regionais asseguram cuidados clínicos individuais Actividade 4.1: Implementar o PM ao nível da estratégia fixa, móvel e avançada Actividade 4.2: Implementar o PC Actividade 4.3: Formar, gerir e fidelizar os profissionais das unidades de saúde que prestam os PM e PC de cuidados maternoinfantis Actividade 4.4: Reabilitar e equipar 45 unidades de saúde, entre Centros de Saúde, Hospitais Regionais e Hospitais de referência de acordo com as necessidades Resultado 5: Coordenação de serviços periféricos e gestão de recursos das estruturas de saúde melhoradas Actividade 5.1: Reforçar a gestão administrativa e financeira das unidades de saúde Actividade 5.2: Reforçar a planificação e supervisão descentralizada O PIMI- Componente de Reforço da Disponibilidade e Qualidade dos Cuidados de Saúde Maternoinfantis nas regiões de Cacheu, Biombo, Oio e Farim corresponde, assim, à participação do IMVF na implementação do PIMI e partilha os objectivos geral e específico do programa. A acção terá como beneficiários directos, as crianças até 5 anos de idade, as mulheres em idade fértil das regiões-alvo e os profissionais de saúde das 45 estruturas sanitárias (2 Hospitais Regionais (HR) de Canchungo e Mansoa, 3 Hospitais de Referência (Hospital de Cumura, Hospital Pediátrico de Bor, Hospital Materno-Infantil de Quinhamel), 3 Centros de Saúde Tipo A (CSA) e 37 Centros de Saúde dos Tipos B e C (CSB e CSC)) das regiões em questão. Os beneficiários finais do projecto são os habitantes das 4 regiões sanitárias. 2. Descrição da função O IMVF pretende contratar um Médico Pediatra/ Especialista em Saúde Infantil. 2.1. Local de Trabalho: O Médico Pediatra terá a sua base operacional em Bissau mas realizará a maior parte do seu trabalho nas áreas sanitárias de Biombo, Cacheu, Oio e Farim, em regime de rotatividade. Av. Unidade Africana, 40-A, Bissau, Guiné-Bissau, Tel: (+245) 689 13 05 3 2.2. Duração: O contrato terá início em Agosto de 2013 e terá a duração de 1 ano, podendo ser renovado anualmente por idêntico período até um máximo de 3 anos. 2.3. Objectivos da função: O Médico Pediatra/ Especialista em Saúde Infantil será responsável pelo acompanhamento regular aos Centros de Saúde e Hospitais-alvo, garantindo a implementação das componentes médicas da estratégia fixa dos Pacotes Mínimo e Complementar em articulação com as estratégias móveis e avançadas, bem como assistência especializada, formação, e introdução e supervisão da aplicação das práticas e metodologias previstas para a assistência materno-infantil na rede de cuidados. 2.4. Responsabilidades: No quadro da Actividade 1.1: Adquirir e assegurar a logística para medicamentos e outros consumíveis médicos - Colaborar na determinação da dotação inicial de medicamentos e consumíveis médicos a adquirir para a implementação do PM e do PC em estratégia fixa, no domínio da Saúde Infantil, de acordo com as orientações da OMS ao nível dos Medicamentos Essenciais e com base no número de crianças-alvo nas 4 áreas sanitárias apoiadas pelo PIMI; - Apoiar na determinação, com uma regularidade a fixar, das necessidades subsequentes de medicamentos e consumíveis médicos para a implementação do PM e PC no domínio da Saúde Infantil, com base em dados concretos das patologias por grupo-alvo; No quadro das Actividades 4.1: Implementar o PM ao nível da estratégia fixa, móvel e avançada e 4.2: Implementar o PC ao nível da estratégia fixa - Realizar um diagnóstico das competências dos profissionais de saúde no domínio da Saúde Infantil, sua distribuição geográfica, grau de implementação das IAI-alvo e práticas utilizadas na sua implementação e fluxos e procedimentos de referenciação em utilização; - Definir a componente do Plano Sanitário para a implementação do PM e do PC de cuidados de SMI em estratégia fixa, no domínio da Saúde Infantil; - Contribuir para o desenvolvimento de um Sistema de Referenciação e ContraReferenciação entre níveis de prestação de cuidados de saúde infantis; - Prestar cuidados de saúde infantil promocionais, primários e assistenciais até que exista uma massa crítica de competências para o efeito nos profissionais de saúde, numa óptica de capacitação em serviço e de phasing-out; - Orientar tecnicamente os profissionais do SNS, apoiá-los no planeamento, acompanhar e avaliar a prestação dos cuidados de saúde infantil compreendidos no PM e no PC nos CS e Hospitais-alvo; No quadro da Actividade 4.3: Formar, gerir e fidelizar os profissionais das unidades de saúde que prestam os PM e PC de cuidados materno-infantis - Apoiar na elaboração da componente de Saúde Infantil do Plano Global de Formação e do Programa de Formação para o Ano 1, partindo do diagnóstico inicial de competências dos Av. Unidade Africana, 40-A, Bissau, Guiné-Bissau, Tel: (+245) 689 13 05 4 profissionais para a implementação dos PM e PC e focada na assistência médica e no apoio técnico numa óptica de formação de multiplicadores; - Avalizar a coerência científica, harmonização metodológica e controlo de qualidade das formações no domínio da Saúde Infantil; - Colaborar na capacitação em serviço dos profissionais de saúde-alvo para a prestação de cuidados de saúde infantil promocionais, primários e assistenciais, durante consultas e sessões clínicas temáticas; - Assegurar a capacitação em serviço dos profissionais de saúde-alvo para o planeamento, seguimento e avaliação sanitária; - Contribuir para a definição do Sistema de Informação do PIMI no domínio da Saúde Infantil; - Apoiar na avaliação da evolução dos indicadores de Resultado e Impacto do PIMI no domínio da Saúde Infantil; - Contribuir para o desenvolvimento do Sistema de Avaliação do Desempenho dos profissionais de saúde, particularmente no que diz respeito aos critérios associados à Saúde Infantil; - Colaborar na avaliação regular do desempenho dos profissionais de saúde no âmbito dos critérios associados à Saúde Infantil; No quadro da Actividade 4.4: Reabilitar e equipar 45 unidades de saúde, entre Centros de Saúde, Hospitais Regionais e Hospitais de referência de acordo com as necessidades - Opinar sobre as carências infra-estruturais e de equipamentos das unidades sanitárias e contribuir para a validação/ redefinição das intervenções e dotações a realizar; Outras responsabilidades - Contribuir para a identificação atempada de estrangulamentos e dificuldades e propor e implementar soluções; - Participar nas reuniões mensais de concertação do PIMI a nível regional e nas reuniões trimestrais do CP-PIMI, bem como noutros encontros pertinentes; - Apoiar no seguimento das orientações da OMS e melhores práticas internacionais no domínio da Saúde Infantil; - Contribuir para o bom relacionamento institucional com todos os parceiros do PIMI e actores que trabalham no sector da saúde materno-infantil na Guiné-Bissau; - Contribuir para a elaboração dos Relatórios Narrativos do projecto no âmbito das responsabilidades do Médico Pediatra/ Especialista em Saúde Infantil; - Colaborar com avaliações internas e externas do projecto e do programa. Av. Unidade Africana, 40-A, Bissau, Guiné-Bissau, Tel: (+245) 689 13 05 5 2.5. Responde perante: O Coordenador Operacional e, estritamente no domínio da medicina, o Coordenador Médico. 3. III. Perfil Formação Académica - Formação universitária em Medicina e especialização ou experiência no domínio da Pediatria/Saúde Infantil; - Formação em Medicina Tropical e experiência de trabalho na Guiné-Bissau são mais-valias; Experiência profissional e competências: - Mínimo de 8 anos de experiência médica e 2 anos no domínio da Saúde Infantil; - Mínimo de 1 ano de experiência profissional em países em desenvolvimento em missões de média ou longa-duração – a experiência em Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa será um factor preferencial; - Experiência na montagem de sistemas de prestação de cuidados de Saúde Infantil; - Experiência no desenho e implementação de Planos de Formação; - Excelente capacidade de diálogo, comunicação e concertação; - Capacidade de posicionamento crítico e de formulação de propostas que permitam atingir os objectivos estabelecidos numa óptica de sustentabilidade; Outros requisitos essenciais: 4. - Domínio de Português e capacidade de trabalho em pelo menos uma das seguintes línguas: Francês e/ou Inglês - capacidade de trabalho em Crioulo da Guiné-Bissau será uma mais-valia; - Conhecimentos informáticos na óptica do utilizador; - Capacidade de adaptação ao trabalho de terreno e em ambientes instáveis. IV. Condições Remuneração compatível com as funções a desempenhar; Alojamento; Viatura para fins profissionais; 1 viagem anual País/ Cidade de Origem – Bissau – País/ Cidade de Origem. Av. Unidade Africana, 40-A, Bissau, Guiné-Bissau, Tel: (+245) 689 13 05 6