O GLOBO
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SEGUNDO CADERNO
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AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
PÁGINA 1 - Edição: 1/09/2011 - Impresso: 31/08/2011 — 15: h
A mostra Live Cinema começa hoje com
performances audiovisuais de 12 artistas • 12
O ‘thriller’ político ‘Tudo pelo poder’, de George
Clooney, abre o 68 -o Festival de Veneza • 3
SEGUNDO CADERNO
QUINTA-FEIRA, 1 DE SETEMBRO DE 2011
por milhares de expositores, autores, estudantes
e visitantes, que vão circular pelos 55 mil metros quadrados do Riocentro durante a
15 a- Bienal do Livro. Mas será tomado, sobretudo, por um
desejo de democracia
na leitura. Em
meio às ações
de divulgação e
promoção de livros
que sempre são realizadas na bienal, nesta edição
duas vão chamar a atenção pelas
possibilidades concretas que apresentam
para aumentar o acesso ao livro no Brasil.
‘
o
De hoje até 11 de setembro, o Rio será tomado
A primeira é um programa batizado de Livro Po-
’
pular, que será anunciado hoje, às 15h30m, na
cerimônia de abertura, pela presidente Dilma
Rousseff. Trata-se de um projeto de incentivo à cadeia de distribuição dos livros, cuja meta é levar ao mercado de 2 a 3 mil obras
com o preço máximo
de R$ 10 até o
fim de 2012.
Já na terça-feira
da semana que
vem, a Bienal será palco
do seminário E-books e a Democratização do Acesso, que, organizado pela Biblioteca Nacional, servirá como
mesa de debates para um projeto de empréstimo
de livros digitais pelas bibliotecas brasileiras.
A Bienal e o
acesso ao livro
André Miranda
[email protected]
O
programa Livro Popular
foi elaborado para se tentar solucionar o problema
da baixa procura por publicações no Brasil. Há
dez anos, a média de venda de livros era de 1,1 obra por habitante por ano. Hoje, mesmo com o recente
aumento no consumo da classe C, a taxa
ainda é exatamente a mesma. Com isso,
o projeto será dividido em três editais,
um para bibliotecas, outro para editoras
e um último para os pontos de venda.
O das bibliotecas, que já será publicado na próxima semana, vai disponibilizar um total de R$ 35 milhões para as
instituições rurais, municipais e comunitárias que se inscreverem. O das editoras virá logo em seguida, para que as
“
Hoje, é o governo que
escolhe e compra os livros.
Agora, nós vamos envolver
os pontos de venda na
distribuição e também
possibilitar que as
bibliotecas escolham
Galeno Amorim, presidente da Fundação
Biblioteca Nacional
empresas apresentem suas obras populares aptas a integrar o programa. Serão
apenas duas exigências do governo:
qualidade na edição e um preço de capa
nunca maior do que R$ 10. Ao mesmo
tempo, será lançado um terceiro edital
voltado para livrarias, papelarias, bancas de jornal ou outros estabelecimentos que comercializem livros.
A ideia é que as editoras vendam suas
publicações populares para as livrarias e
afins, que por sua vez venderão tanto para
as bibliotecas, com incentivo do governo,
quanto para qualquer leitor interessado.
— A gente quer ativar os vários elos da
cadeia. O programa aumenta o número
de pontos de venda e as tiragens e permite que se baixe de forma definitiva o
preço — acredita Galeno Amorim, presidente da Fundação Biblioteca Nacional,
órgão responsável pela elaboração do Livro Popular. — E também vamos mudar
uma lógica vigente no setor. Hoje, é o governo que escolhe e compra os livros.
Agora, nós vamos envolver os pontos de
venda na distribuição e também possibilitar que as bibliotecas escolham. As bibliotecas passarão a ser protagonistas.
O valor dedicado a cada biblioteca
inscrita será calculado conforme a população de sua localidade e o número
de usuários. Porém, todas que se interessarem serão apoiadas de alguma
forma. No caso de as instituições apresentarem demandas grandes por uma
mesma obra popular, o próprio governo poderá ir até o mercado e fazer a
mediação da compra.
A lógica do projeto é que se estabeleça no Brasil uma prática bastante comum nos EUA e na Europa, onde os livros são primeiro lançados em edições
de capa dura, mais robustas e caras, depois chegam em volumes um pouco
mais simples e baratos e, após alguns
meses, são publicados em versões de
bolso e com preços mais acessíveis.
— O cinema faz isso bem. O filme vai
para as telas, aí segue para a locadora,
para o DVD, para a TV e daí em diante.
Ele percorre um caminho e chega ao espectador com vários preços diferentes
— explica Amorim.
Paralelamente ao lançamento do Livro
Popular, Amorim diz que tem conversado
com representantes das editoras e dos
pontos de venda para explicar a possibilidade de se aumentar a circulação dos livros. Haverá investimento, ainda, na formação dos bibliotecários — o que, na prática, pode evitar que a demanda do programa seja limitada a poucas publicações, geralmente best-sellers e clássicos, estes já
bastante presentes nos acervos.
Outra discussão que a Biblioteca Nacional começa a ter com o mercado é sobre como implementar o empréstimo de
livros digitais. A palestra E-books e a Democratização do Acesso, marcada para
terça-feira, às 9h30m, no Auditório Dinah
Silveira de Queiroz do Riocentro, terá essa finalidade e trará ao Rio Aquiles Alencar-Brayner, cearense que ocupa o posto
de curador digital da British Library, uma
biblioteca nacional inglesa com 150 milhões de títulos, entre livros e periódicos.
A British Library tem 3% de seu acervo
digitalizado e oferece os livros para consulta através de um aplicativo de iPad.
— A grande discussão é mais a da democracia da informação do que simplesmente da democracia dos livros digitais — diz Aquiles. — Na Europa, o
grande problema é o acesso ao livro. A
questão dos direitos autorais é complexa. As editoras têm medo de que as bibliotecas comecem a oferecer e-books e
os leitores parem de comprar livros.
Aquiles lembra do embate ocorrido nos
EUA no início deste ano, quando a editora
HarperCollins, uma das principais do país,
impôs um limite de 26 empréstimos para
os livros digitais. Depois disso, seria necessário comprar uma nova licença. O motivo,
segundo a companhia, é que um livro físico
só suportaria até 26 empréstimos. O ponto
é que, mesmo que seja verdade, assumir
uma lógica analógica para uma realidade
virtual parece ser um retrocesso.
— As bibliotecas americanas ficaram
indignadas — diz Aquiles. — O problema
é que as editoras querem vender uma licença e não querem que o e-book seja armazenado no acervo digital da biblioteca.
Ele fica armazenado apenas na empresa.
Isso é ruim, inclusive, para a preservação
da informação. No caso das obras impressas, os livros eram mantidos acorrentados nas bibliotecas. No caso das digitais,
as correntes são o direito autoral. ■
“
No caso das obras
impressas, os livros
eram mantidos
acorrentados nas
bibliotecas. No caso
das digitais, as correntes
são o direito autoral
Aquiles Alencar-Brayner, curador digital
da British Library
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