Bauru, domingo, 11 de dezembro de 2011 - Página 3
Bauru, domingo, 11 de dezembro de 2011 - Página 2
BAIRROS
BAIRROS
Éder Azevedo
A rota do lixo reciclável pelos bairros de Bauru
Das ruas até a reciclagem, lixo
viaja pela cidade, percorre
vários caminhos e até mesmo
se perde nas etapas pelas quais
tem de passar
Douglas Reis
Douglas Reis
Empresas especializadas em intermediar a compra e
venda de materiais recicláveis participam do processo
final da rota do lixo; na foto, a Sucata Urubatan
Intermediado por atravessadores...
Ademir Meira coleta recicláveis nas ruas do Jardim Redentor e
Jardim Carolina; para arrecadar mais, ele antecipa o percurso do
caminhão de coleta seletiva
O lixo é colocado nas ruas...
Neide Carlos/ Arquivo
Recolhido por catadores...
Os catadores de materiais recicláveis são figuras bastante conhecidas
pelos bairros de Bauru. Munidos de um carrinho de mão eles percorrem
os quatro cantos da cidade em busca do que, para muitos, é lixo, mas que,
para eles, é dinheiro.
Ademir Gonçalves Meira, 53 anos, é uma das 471 pessoas que trabalham com a coleta de lixo reciclável nos bairros de Bauru. Ele tornou-se
catador de material reciclável há 10 anos. Antes, trabalhava como servente
de pedreiro, profissão que teve de interromper por conta de um problema
na coluna.
“Foi a alternativa que encontrei para garantir minha renda. Por mês,
tiro cerca de R$ 250,00. Como não pago aluguel e vivo sozinho, é o suficiente”, explica.
Ele percorre, diariamente, as ruas do Jardim Redentor e Jardim Carolina, que ficam próximas a sua residência. Os dias da semana de maior trabalho são terça-feira e quinta-feira. Isso porque ele, assim como a maioria
dos catadores de recicláveis de Bauru, tem uma tática: sua rota de trabalho
é traçada de acordo com o cronograma da coleta seletiva da Secretaria
Municipal do Meio Ambiente de Bauru (Semma).
“Nos dias de coleta seletiva acordo bem cedo, lá pelas 5h, e saio para
a rua com meu carrinho. Nestes dias, as pessoas já colocaram o material
reciclável nas ruas para esperar a coleta. Como eu passo antes, levo o que
me interessa. Facilita bastante”, explica.
Os coletores não levam plástico duro nem caixas de leite, porque não
conseguem vender o material. Os ferros-velhos, que emprestam os carrinhos aos catadores, compram o material coletado no final do dia. (WF)
A maioria do lixo reciclável de Bauru, antes de ganhar vida nova, passa por atravessadores, termo pelo qual são chamadas as empresas que intermediam o processo
de venda para empresas de reciclagem.
Em Bauru, cerca de cinco empresas fazem este trabalho. Elas compram os recicláveis da Cooperativa dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Bauru (Cootramat), de catadores e também de ferros-velhos, triam e compactam parte deste material, e depois vendem diretamente para as empresas que farão a reciclagem.
Luis Gustavo Costa, proprietário da Reciclagem Urubatan, localizada no Núcleo Mary Dota, é um desses atravessadores. Ele faz o trabalho de intermédio há 10
anos e reclama que, a principal dificuldade, é a falta de incentivo.
“São muitas exigências e pouca ajuda”, explica.
Sem o serviço prestado por empresas como a dele, o lixo, dificilmente, ganharia
vida nova.
Isso porque a rota do lixo reciclável em Bauru depende da infraestrutura e de
espaços como os mantidos por atravessadores.
“As empresas que fazem a reciclagem só compram material em grande quantidade. Por isso, os catadores, ferros-velhos e até mesmo a Cootramat não tem como
armazená-los. Além disso, somos nós que temos de fazer o transporte do material até
a empresa e atender a todos os prazos estipulados”, enumera Luis Gustavo.
Por mês, Reciclagem Ubiratan recebe cerca de 130 toneladas de recicláveis, que
é vendida, em sua maioria, para empresas de São Paulo. (WF)
Os ferros-velhos compram o material coletado pelos catadores e,
depois, revendem aos atravessadores; na foto, Lourival Ramos,
dono de uma empresa do ramo
Chega aos ferros-velhos...
Bauru tem cerca de 30 ferros-velhos. E eles são os responsáveis por manter na rua os
catadores de lixos recicláveis. Isso porque é iniciativa dos ferros-velhos ceder o carrinho de
mão utilizado pelos catadores e, no fim do expediente, comprar todo o material arrecadado.
Os preços pagos pelos depósitos aos catadores pelo quilo do material é bem inferior ao
valor de mercado, já que o ferros-velhos não vendem o material diretamente para quem faz a
reciclagem, mas, sim, o repassam para os chamados atravessadores.
Um exemplo é o jornal. Os ferros-velhos pagam, em média, de R$ 0,07 pelo quilo do
material, enquanto a Cooperativa dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Bauru (Cootramat) o comercializa R$ 0,18 o quilo.
Caixas de leite, bandejas de ovos e sacolinhas de mercado não são compradas. Já o cobre
é o material mais caro e também o mais raro. Por isso, vale R$ 8,00 o quilo.
Lourival Ramos é proprietário de um ferro-velho localizado no Jardim Redentor há 3
anos e cinco meses. Ele é um dos poucos no ramo que negociam os materiais diretamente com
as empresas que farão a reciclagem.
“Como consigo acumular muito material, a negociação fica fácil. A cada 15 dias, consigo
encher uma caçamba com cerca de 5 mil quilos de sucata. E, semanalmente, junto 25 quilos
de pet e 55 quilos de latinha de alumínio”, explica. (WF)
E, finalmente, é
reciclado
Triado na Cootramat...
Malavolta Jr.
Colocar o lixo reciclável nas ruas para coleta seletiva é o
primeiro passo para contribuir com a reciclagem
Das prateleiras das lojas para as calçadas. O percurso que
transforma um objeto de desejo em lixo e incômodo é rápido e
acontece a todo instante nos quatro cantos da cidade.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), por dia, o brasileiro produz 2,216 quilos de lixo, sendo
que, destes, 0,539 quilos são de materiais recicláveis.
Sendo assim, em Bauru, diariamente, vão para as ruas
185,382 quilos de lixo reciclável. Número que, no fim do mês,
chega ao montante de 5.561,461 toneladas. Mas, infelizmente,
muito material reciclável se mistura com lixo orgânico e, no
fim das contas, deste total, apenas 3,41% chega a Cooperativa
dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Bauru (Cootramat). Outra pequena porcentagem é coletada por catadores de
materiais recicláveis e o restante vai direto para o aterro sanitário, onde passará anos e anos a espera da decomposição. (WF)
Recolhido pela Semma...
Divulgação/Alexandre H. Silva
Compactado e vendido...
Malavolta Jr.
Todo o lixo coletado pela Semma é levado à Cootramat, onde é feita a triagem do material
Diariamente, quatro caminhões da Semma percorrem os bairros da
cidade para recolher o lixo reciclável depositado nas ruas
Todos os dias, às 7h da manhã, quatro caminhões da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) percorrem diversos bairros de Bauru com o
objetivo de coletar o lixo reciclável descartado pelos moradores da cidade. À
tarde, por volta das 12h, a busca se repete.
Atualmente, a coleta seletiva atende a 86% dos bairros e ocorre uma vez
por semana, sempre em dias alternados da coleta de lixo orgânico, feita pela
Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb).
Cinco motoristas e 17 coletores estão envolvidos no processo que, por
mês, dá vida nova a cerca de 190 mil quilos de materiais recicláveis, 3,41% do
total descartado pela cidade.
O serviço funciona no município desde 1995. Todo o lixo coletado é
encaminhado à Cooperativa dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de
Bauru (Cootramat). (WF)
Sacos e mais sacos de materiais chegam, por dia, ao galpão localizado na rua James Russel, no
Jardim Redentor, onde está localizada a Cooperativa dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis de
Bauru (Cootramat).
Lá trabalham, atualmente, 23 pessoas, que iniciam a jornada às 7h e finalizam o expediente às
17h, com pausa para o almoço.
O principal serviço do grupo é triar o material descarregado diariamente pelos caminhões da
Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma). Para isso, descarregam os sacos sobre grandes
mesas e começam a separação. Nesta etapa, cada material vai para um recipiente diferente. Depois que
atingem certa quantidade, são levados para o galpão superior, onde compartimentos feitos de tijolo
separam um tipo de material reciclável do outro. Lá existem compartimentos para garrafas pet verdes,
garrafas pet brancas, jornais, revistas, papel branco, papel cartão, papelão, embalagem tetra pak, entre
outras coisas.
Nesta etapa, os cooperativados lutam contra o tempo e o cansaço. Isso porque, além do serviço
ter grande volume, o que acumula trabalho, eles precisam rezar para que a chuva não danifique o material que não coube nos galpões e ficou exposto ao tempo. (WF)
Depois de separado, material reciclável passa por
compactação e está pronto para venda
No galpão superior da Cooperativa dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis
de Bauru (Cootramat), duas máquinas compactam o material triado pelos trabalhadores. Papéis, jornais e revistas são ensacados e não passam por esse processo. Depois disso, os materiais são embalados e acondicionados para venda.
O papelão, que chega em maior volume ao galpão, é um dos materiais de menor
valor: é vendido a R$ 0,20 o quilo, perdendo apenas para o vidro, que vale R$ 0,10 o
quilo; para as embalagens tetra pak, que têm valor de R$ 0,15 o quilo; e para o jornal,
que vale R$ 0,18 o quilo.
Já o alumínio e as garrafas pet chegam em menor volume à Cootramat e são
os materiais que tem maior valor no mercado de recicláveis: valem R$ 2,50 e R$
1,40, respectivamente. Todo o material que triado pela Cootramat é vendido aos
atravessadores, como são chamadas as empresas que intermediam o processo entre a
cooperativa e as empresas de reciclagem. (WF)
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