Panorama das negociações comerciais internacionais no período 1994-2002 Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas Daniela Cristina Dias Teixeira Especialista em ComércioExterior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie RESUMO O trabalho realizado procurou analisar quais as discussões e negociações comerciais internacionais que fizeram parte da agenda do governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), a exceção das negociações ALCA, OMC e União Européia que se esgotam em literatura atualmente. Através do detalhamento dos Acordos Comerciais firmados naquele Governo, de forma simples e clara, poderemos usar o trabalho realizado como forma de conscientização da importância de se fazer um acompanhamento analítico e criterioso das ações do governo para a promoção do comércio, não somente através do desenvolvimento de ações de investimento, redução tributária ou estruturação de agências governamentais. Palavras-chave: Acordos comerciais. Negociações internacionais. Mercosul. 1 INTRODUÇÃO Não comumente vemos bibliografia acerca das recentes negociações comerciais internacionais arroladas pelo Mercosul e tão pouco pelo Brasil. As ações com vistas ao mercado internacional do Governo de Fernando Henrique Cardoso no período de 1994 a 2002, não foram ainda analisadas com uma profundidade voltada exclusivamente para o tema Negociações Comerciais Internacionais, fato este que contribui para o desinteresse e desinformação dos setores produtivos e acadêmicos, não desenvolvendo MACKENZIE 23 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas uma análise mais ampla e crítica da importância estratégica e dos impactos positivos e negativos que as Negociações Comerciais Internacionais vêm adquirindo ao longo das últimas duas décadas. As Negociações Internacionais Comerciais estabelecidas pelo Brasil durante aquele governo, foram descritas e analisadas, como forma de salientar a importância do estudo e da constatação destes mecanismos de promoção de comércio, redução de tributos e de amadurecimento da política externa brasileira que, conjuntamente às ações já descritas, formaram e contribuíram para a inserção brasileira na rota de negociações e discussões comerciais mais importantes. Considera-se, portanto, que a relevância do trabalho realizado reside na exploração não somente dos efeitos das políticas macroeconômicas mencionadas no início desta introdução e sim na importância das Negociações Comerciais Internacionais e a caracterização dos diversos acordos comerciais entre o Brasil e os países da América Latina e África do Sul, firmados durante o período, bem como o seu escopo e abrangência, seu histórico e, principalmente, os benefícios que estes instrumentos trouxeram para a indústria nacional de bens e serviços e para o país de um modo geral. O objetivo da pesquisa é o de conhecer quais as discussões e negociações comerciais internacionais fizeram parte da agenda do governo no período analisado, a exceção das negociações ALCA, OMC e União Européia que se esgotam em literatura atualmente. Através do detalhamento dos Acordos Comerciais firmados neste Governo, de forma simples e clara, poderemos usar o trabalho realizado como forma de conscientização da importância de se fazer um acompanhamento analítico e criterioso das ações do governo para a promoção do comércio, não somente através do desenvolvimento de ações de investimento, redução tributária ou estruturação de agências governamentais. 2 PANORAMA DAS NEGOCIAÇÕES – GOVERNO FHC (19942002) A década de 90 foi marcada por grandes e importantes avanços na diplomacia brasileira, principalmente em relação à intensificação das aproximações com os países da América Latina, culminando na assinatura do Tratado de Assunção e do Protocolo de Ouro Preto, como instrumentos que deram a base jurídica ao MERCOSUL, em 1991 e 1994 respectivamente. Observamos, entretanto, um movimento diplomático em direção a novos mercados e, concomitante a estes esforços, às negociações finais da Rodada Uruguai e criação da OMC, sinalizando uma nova era nas relações internacionais e diplomacia brasileira. MACKENZIE As Negociações Internacionais Comerciais levadas a cabo durante os dois mandatos do Governo FHC (1994-2002), juntamente ao desenvolvimento de mecanismos de promoção de comércio, redução de tributos e de amadurecimento da política externa brasileira formaram e contribuíram para a inserção brasileira na rota de negociações e discussões comerciais mais importantes. No governo atual, verificamos 24 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. que o trabalho antes realizado não foi perdido e sim, pelo contrário, complementado e dinamizado. Algumas das medidas para o desenvolvimento do comércio exterior brasileiro somente foram possíveis diante de um quadro macroeconômico favorável de estabilidade econômica, inflação reduzida a um dígito e abertura gradual da economia, para os investimentos externos e para o comércio. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas Podemos, contudo, verificar os dois alicerces da nova política comercial brasileira que possibilitaram dar o start para o processo: o primeiro alicerce calcou-se na abertura comercial, ou seja, na abertura do mercado interno às importações. A abertura às importações foi o mecanismo encontrado para a manutenção dos preços (e queda) dos preços internos, bem como para propiciar o aumento da concorrência. Tais medidas foram acompanhadas por alterações nas tarifas de importação do período analisado (1994-2002), onde se verifica, uma redução significativa na média tributada destas alíquotas passando de 16,5% (1993) para 11,8% (2002) segundo fonte do MDIC/SECEX. Esta redução da média tarifária teve implicação direta na competitividade e na produtividade das empresas brasileiras, passando a estarem mais atentas aos padrões e qualidade dos produtos importados concorrentes e complementares. A abertura propiciou, também, a entrada do capital externo na forma de investimentos diretos, principalmente sob a égide do processo de privatização de empresas importantes na infra-estrutura da economia brasileira, como as áreas de telecomunicações, energia, instituições financeiras, entre outras. A entrada de mais de US$ 100 bilhões no período, nos mostra o volume expressivo de investimentos externos diretos (IED) no Brasil, deixando-nos na segunda posição, entre os países em desenvolvimento, no destino de IED, estando somente atrás da China. O segundo alicerce que contribuiu para solidificar a inserção do Brasil na economia e comércio mundial, foi a ênfase dada às exportações como forma de reduzir o déficit em conta corrente, o Risco Brasil e a taxa de juros. Outro ponto importante da pauta do Governo FHC foi o estímulo à internacionalização de empresas brasileiras. Esta prática contribui significativamente para o aumento das exportações, da qualidade do produto exportado e da receita por ele gerado. Ressalta-se que para a inserção internacional, os produtos e serviços brasileiros precisam adquirir um maior valor agregado e este também foi um fator considerado entre as ações para o desenvolvimento do comércio exterior brasileiro no período estudado. Tais medidas são exemplos do comprometimento do Governo em relação ao comércio internacional, encarando-o de forma profissional, afastando os amadorismos e contribuindo para que o país possa desenvolver novos laços comerciais e diplomáticos com nações que venham a colaborar para o incremento de nossas exportações e que nos acompanhe nas negociações multilaterais de comércio. Nessa linha, o Brasil teve como herança deixada ao corrente governo, uma série de negociações bilaterais que exemplificam a corrida pela conquista de novos mercados e espaços no cenário internacional, entre as principais com a África do Sul, China e México. MACKENZIE 25 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas Estas negociações bilaterais visam, em sua grande parte, a outorga de vantagens ao acesso a mercados através de reduções de tarifas de importação somente entre os países que farão parte do futuro acordo de livre comércio ou de preferências tarifárias. A aplicação prática desta constatação conclui que [...] a proliferação de acordos comerciais regionais e bilaterais no mundo tem impacto negativo sobre as exportações dos países que deles não fazem parte. A participação do Brasil nessas negociações é importante para assegurar que os exportadores brasileiros enfrentem nos mercados consumidores condições de acesso semelhantes àquelas concedidas aos seus concorrentes [...] (RIOS, 2003). É neste sentido que o governo brasileiro vem agindo nesta última década, com o objetivo de não ficar de fora da aproximação externa e perder a capacidade competitiva em meio aos benefícios outorgados entre os países membros de uma área de livre comércio ou união aduaneira. A negociação bilateral com o maior número de países estratégicos para a diplomacia brasileira, corrobora o acima exposto, ou seja, negociações com Peru, México, Chile, Bolívia, Venezuela, África do Sul, Índia, entre outros, implicam na criação de um ambiente favorável ao intercâmbio comercial privilegiado entre países e acabam por dinamizar este comércio. A política de “boa vizinhança”, somada à prospecção de mercados antes não vistos como potenciais, deram ao Brasil a expressão necessária para a dinamização de sua política externa que possibilitasse a sua inserção no contexto das relações comerciais internacionais. Percebeu-se que aquele era o momento certo para a participação do país nas crescentes discussões bilaterais e regionais sobre o aumento de acesso a mercados, que começavam a surgir paralelamente às negociações multilaterais de comércio. As negociações bilaterais, em sua maioria mais dinâmicas nas discussões e entendimentos e com número reduzido de participantes, por sua vez, firmaram-se como instrumentos desta aproximação com os países membros ou não da ALADI, e como alternativa às lentas negociações regionais e multilaterais para o livre comércio de bens e serviços. Em sua grande parte, visam o incremento recíproco do comércio entre os futuros países partícipes, principalmente através das vantagens tarifárias que se apresentam em relação aos terceiros países. Muitas vezes, essas negociações inicialmente caracterizam-se muito mais pelo aspecto diplomático e político do que comercial, ou seja, as implicações no aumento dos volumes de importação e exportação podem não estar entre as prioridades iniciais de uma negociação bilateral. Concomitantemente o Brasil enfrenta neste momento um processo lento de discussões e negociações dentro dos acordos regionais e multilaterais dos quais é parte signatária: ALCA E OMC. O primeiro, desde o início apresenta já a dificuldade por se tratar de um acordo de livre comércio entre 34 países, dos quais apenas quatro (EUA, Canadá, México e Brasil) apresentam economia interna e relacionamento comercial externo realmente expressivos e que já apresentam incongruências e interesses díspares que dificultam o andamento de discussões, principalmente, de acesso a mercados. MACKENZIE Os entraves comerciais norte-americanos e a política protecionista a setores importantes para o comércio exterior brasileiro que estão sendo mantidos, quando 26 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. observamos as já propostas apresentadas, servem como balizadores do que se pode esperar da negociação dos outros temas que compõem a mesa negociadora da ALCA. Frente a esta situação, os negociadores brasileiros perceberam que as discussões com os EUA devem ser mantidas dentro ou fora da ALCA, pois o preço a ser pago internamente pela opção de não negociarmos com este país e pelos desvios de comércio e investimentos gerados poderá ser bastante elevado. Para tanto, é preciso que novas alternativas concomitantes às discussões da ALCA sejam avaliadas, momento este em que os acordos bilaterais tomam forma e ganham expressão. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas O segundo, as negociações multilaterais no âmbito da OMC, seguramente não trará resultados significantes em termos de liberalização comercial de bens agrícolas e não agrícolas e tão pouco das normas reguladoras deste comércio, em sua última reunião de 2003 pela Rodada de Doha, mais conhecida como a Rodada do Desenvolvimento. O trade-off entre bens agrícolas e não agrícolas acabou por limitar o processo negociador de barganhas nesta Rodada, fazendo com que não houvesse nem ganhadores nem perdedores, já que foi mantido o status quo para as grandes potências de um lado e, do outro lado, o bloco dos países em desenvolvimento e agrícolas somaram 21 mercados que se posicionaram contra a hegemonia bipartite EUA-UE no contexto multilateral do comércio. Países como Chile, México e EUA já adotaram os acordos bilaterais como forma de aquecerem seus mercados enquanto a ALCA não se torna uma realidade. Acordos bilaterais com a União Européia e países asiáticos têm sido os mais recorrentes entre os países latino-americanos, incluindo-se o Brasil. 3 ANÁLISES COMPARATIVAS O Brasil já conta com mais de seis acordos bilaterais assinados, sendo os mais importantes na América Latina firmados com o México, Chile, Bolívia e Comunidade Andina e os demais firmados com a União Européia, África do Sul e Índia. Esta variedade de mercados demonstra a habilidade dos diplomatas e negociadores brasileiros em articular alternativas às negociações multilaterais e regionais que podem ainda levar algum tempo para terem sua vigência oficializada. As negociações oficiais com a Comunidade Andina datam de abril de 1998, quando da assinatura do Acordo-Quadro para a criação de uma zona de livre comércio entre o MERCOSUL e a Comunidade Andina. Entretanto, a partir de 1999, foram assinados acordos bilaterais que aqueceram as negociações entre os dois blocos, mas que resultaram em acordos bilaterais distintos entre os países-membros que tenderiam à convergência até findo o prazo de 31 de dezembro de 2003, quando seriam encapsulados pelo acordo de livre-comércio entre os blocos. O Brasil assinou o seu acordo bilateral em agosto de 1999 (Acordo de Alcance Parcial de Complementação Econômica no 39, firmado entre Brasil e Comunidade Andina). MACKENZIE 27 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas Segundo percepções de mercado, as negociações com a Comunidade Andina deverão sofrer o impacto das discussões a respeito da ALCA, o que acabaria retardando o efetivo início de negociações de métodos e modalidades até o final de 2003, prazo este já estabelecido no Acordo Quadro de 2002, mas não incorporado por boa parte dos países contratantes. No estudo das relações bilaterais com o Chile, devemos antes atentar para a eficiente “máquina” diplomática que esse país possui. O Chile possui um PIB de aproximadamente US$ 65 bilhões (2002), valor esse considerado ínfimo perto dos mais de US$ 450 bilhões do Brasil (2002), entretanto isso não reflete a eficiente dinâmica adotada pelo governo chileno de negociações comerciais em várias frentes (Estados Unidos, Canadá, União Européia, Coréia do Sul, entre outros) e uma considerável abertura à entrada de produtos e serviços estrangeiros. As negociações comerciais bilaterais com o Chile deram-se a partir da conformação do Mercosul, já que antes deste não houve avanços comerciais na aproximação entre Brasil e Chile. O acordo celebrado em 1996 entre Mercosul e Chile previa o estabelecimento de uma área de livre comércio no prazo de 10 anos.Desde então não existem outros mecanismos que possibilitem um maior comprometimento em termos de relacionamento comercial, econômico ou político entre os dois países, o que configura um contexto de certa incerteza frente às negociações da ALCA. Mesmo sendo considerado como membro associado ao Mercosul, o Chile não refuta a idéia de não consolidar a parceria com o Brasil no âmbito da OMC e ALCA. Atualmente configuram entre os principais produtos brasileiros exportados para o Chile os automóveis de passeio, utilitários e caminhões; telefones celulares; farináceos e outros condimentos alimentares e os papéis e equipamentos gráficos para impressão. As importações brasileiras de produtos chilenos são caracterizadas por partes e peças para automóveis e aeronaves; minérios e minerais; pescados e frutas e outros produtos relacionados à alimentação. Como podemos observar, a pauta comercial é bastante diversificada, porém não contempla produtos de alto valor agregado produzidos no Brasil. É necessária a análise da possibilidade de o mercado consumidor chileno estar sendo suprido por produtos de outros países e não pelo Brasil, oportunidade esta para aprofundarmos as relações entre os países. As relações comerciais com o México, por sua vez, somente foram avaliadas como significativas para o Brasil, no momento da assinatura do Acordo de Livre Comércio entre o governo mexicano, canadense e norte-americano, no que conhecemos como NAFTA. Paralelamente a esse processo, consolidava-se o Mercosul com uma proposta ambiciosa de integração e cooperação na América do Sul. MACKENZIE É nesse contexto que o Governo FHC e o atual procuraram inúmeras vezes recuperar as discussões em torno de um aprofundamento no intercâmbio comercial entre Brasil e México. Era preciso afastar a hipótese de uma “invasão” norte-americana no mercado mexicano que tivesse um impacto expressivo para as exportações brasileiras 28 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. ao país. Desde então, o governo FHC promoveu uma série de discussões para que se chegasse a um índice comum entre os países e estes pudessem estabelecer uma agenda negociadora abrangente e definitiva. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas Atualmente temos três frentes de comércio com o México baseadas em compromissos assinados no âmbito da ALADI em forma de acordos: Brasil x México (ACE 53), Mercosul x México (ACE 55 – setor automotivo) e Mercosul x México (ACE 54 – acordo de livre comércio). Sendo que apenas os dois primeiros estão em funcionamento. Dando continuidade ao processo de priorização das relações políticas e diplomáticas com a América do Sul, o governo Lula procurou enfatizar a importância do investimento em infra-estrutura do país amigo, o Equador, como forma de dinamizar a economia interna equatoriana, um exemplo disso é o estudo por parte do BNDES de uma forma de financiar as reformas referentes ao tratamento de água e canais de irrigação equatorianos.O equilíbrio na balança comercial dos dois países de forma a propiciar a atração de bens e serviços originários do Equador também é uma medida apontada pelo atual governo como forma de alavancar o desenvolvimento sócioeconômico equatoriano. Como principal produto equatoriano exportado para o Brasil, temos uma variedade de gêneros alimentícios e artigos para limpeza e higiene pessoal. Em contrapartida o Brasil exporta para o Equador veículos, fibras sintéticas, minérios, tratores, estruturas de tubulações, máquinas e ferramentas. No âmbito das relações comerciais, o atual governo retomou as discussões acerca do restabelecimento do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos, como mecanismo de liquidação das operações comerciais. Ainda neste tema, o Brasil procura o apoio equatoriano nas negociações para a reforma do Conselho de Segurança da ONU, bem como nas negociações multilaterais na OMC, ALCA e no avanço das discussões para o desenvolvimento de uma área de livre comércio entre Mercosul e Comunidade Andina. Na área de integração física já estão avançadas as discussões para a execução de projetos ao longo do Eixo Multimodal do Amazonas para o desenvolvimento e integração dos transportes fluvial e terrestre, que permitirão acelerar a integração das regiões amazônica e andina e viabilizar uma futura ligação do Oceano Pacífico ao Atlântico. Diante da perspectiva de criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) o governo brasileiro quer intensificar os esforços de integração econômica e comercial com a América do Sul. Um dos primeiros passos é assinatura de um acordo de livre comércio (ALC) entre o Mercosul e o Peru, visando configurar as bases de um Acordo de Livre Comércio no formato “4 + 1” e com a finalidade de que o acordo tenha um efeito demonstrativo e que abra caminho para acerto semelhante com os outros integrantes da Comunidade Andina (CAN) - Equador, Colômbia e Venezuela (a Bolívia também faz parte, mas já tem acordo, em separado, com o Mercosul). Buscou-se solucionar questões sanitárias e fitossanitárias que barram exportações peruanas ao Brasil. Há interesse na criação de joint-ventures entre MACKENZIE 29 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas empresas dos dois países nas áreas florestal, de pesca e agroindústria, e em setores como calçados e móveis, com foco também em terceiros mercados. Outra possibilidade é parceria na produção de etanol, no Norte do Peru, para exportação. O acordo com o Peru vem sendo discutido desde o final do ano passado, quando o Mercosul e a CAN assinaram um acordo-quadro (ACE 56) que prevê a conclusão das negociações em torno de uma área de Livre Comércio até o fim de 2003. A idéia era firmar um acordo que pudesse abranger 85% do comércio Mercosul/ Peru com prazo de desgravação de dez anos e prazos mais dilatados para os bens considerados sensíveis. Assinado em 26 de agosto de 2003 o acordo com o Peru ainda aguarda publicação no Diário Oficial da União para que os procedimentos de internalização no âmbito jurídico interno sejam encerrados (situação em dezembro de 2003). Por outro lado, as relações bilaterais entre Brasil e Venezuela são fortemente identificadas pela relação comercial entre os Estados do Norte e Nordeste brasileiro com o país. Ressaltamos que assim como o Mercosul foi um projeto importante para o desenvolvimento das relações comerciais entre os Estados do Sul do Brasil, os países membros da Comunidade Andina exercem grande impacto nas atividades produtivas do Norte e Nordeste. A economia venezuelana vem sofrendo com o agravamento da crise econômica interna em seu período mais grave e nesse contexto as relações comerciais com o Brasil ficaram extremamente abaladas e a adoção do controle cambial estabelecido pelo governo venezuelano para conter a fuga de capitais e uma desvalorização maior da moeda, contribuíram para a queda das exportações brasileiras ao país.Entretanto, o governo atual continua incentivando os investimentos na área agroindustrial e de infra-estrutura na Venezuela. No atual governo, assinou-se o decreto do projeto Brasil-Venezuela, que será coordenado pelo Ministério das Relações Exteriores, visando o incremento das relações entre os dois países nas áreas da administração pública e no setor privado, empreendendo atividades como visitas de autoridades, projetos de interesse mútuo e programas de cooperação bilateral. Reafirmou-se também a disposição de avançar no processo de negociação para uma zona de livre comércio entre a comunidade andina e o Mercosul, Venezuela e Mercosul, além de incentivar a utilização do Convênio de Créditos Recíprocos (CCR) para a liquidação das operações de comércio bilaterais em os dois países. Estas medidas visam reforçar as ações para a integração intra-regional como forma de envidar esforços na conquista de novos parceiros que suportem o Brasil nas negociações regionais e multilaterais nas quais está inserido. No caso das relações bilaterais com a Venezuela, o governo FHC ratificou o acordo com a Comunidade Andina que, atualmente, é o único instrumento de benefícios tarifários entre os dois países, firmado em 1999. MACKENZIE Entre os principais produtos que figuram na pauta de exportações venezuelanas para o Brasil, temos os materiais originários do refino de petróleo, pescados, minérios, 30 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. entre outros. As importações venezuelanas originárias do Brasil caracterizam-se por partes e peças e veículos de passeio e transporte de pessoas e cargas, tratores, chapas e outros artefatos de alumínio e equipamentos de radiodifusão. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas Em junho de 2003, após a reunião de Cúpula do G8 (grupo das sete nações mais industrializadas do mundo e a Rússia), os representantes do atual governo iniciaram efetivamente as articulações em direção a uma aproximação com os países em desenvolvimento que possuem características econômicas, sociais e políticas semelhantes às brasileiras. À época, os entendimentos resultaram na assinatura de acordos com Índia e África do Sul, além da organização do G-3, que mais tarde cogitou-se chegar ao G-5, agregando-se China e Rússia ao grupo. Caracterizando grupo conhecido como “países-baleia”. Nesse sentido, o Mercosul e a África do Sul estudam desde 2000, o estabelecimento de um acordo de preferências tarifárias. O comércio entre o Brasil, particularmente, e a África do Sul caracteriza-se pelas exportações brasileiras de produtos agroindustriais, alimentos, máquinas e equipamentos, bens de consumo em geral, entre outros e pela importação da África do Sul de produtos como os mais diversos minérios e carvão. No ano de 2002 houve um significativo incremento nas exportações brasileiras para o país, em conseqüência do amadurecimento das relações comerciais e de confiança entre os exportadores brasileiros e importadores sul-africanos. A África do Sul, como responsável por quase metade da produção industrial do continente, é parte da União Aduaneira da África do Sul (SACU - Southern African Customs Union, em inglês) com Botswana, Lesoto, Namíbia e Suazilândia, que data de 1970 e está processo de reformulação. Neste ínterim, o Mercosul aguarda a oportunidade para o desenvolvimento de negociações entre os dois blocos, já que segundo análises a África do Sul é um dos maiores fornecedores de máquinas e equipamentos, metais, produtos químicos, veículos, equipamentos de transportes e produtos alimentícios para os países do sul da África. Paralelamente, discute-se ainda, desde finais de 2002, o fechamento de um acordo do setor automotivo que, como já visto em outras negociações, apresenta uma oportunidade de liderar e acelerar as discussões dos outros setores, caracterizando uma negociação final de maior amplitude. Em continuidade ao processo de aproximação com países emergentes, o Brasil iniciou em 2003 uma série de encontros e reuniões com representantes do governo indiano, tanto no Brasil quanto no exterior. Em abril de 2003, em Assunção, os diplomatas da Índia e do Mercosul reuniram-se para a primeira rodada de negociações do que se pretende construir para a criação de uma zona de livre comércio entre o país e o bloco. Esta agenda propiciou a união de esforços para a assinatura do AcordoQuadro entre Mercosul e Índia em junho de 2003. O acordo seria, inicialmente, um entendimento em que os países reduziriam suas tarifas para incrementar o comércio. Em um segundo momento, o Mercosul e a Índia lançariam uma nova fase das negociações para concluir um tratado de livre comércio, que somente seria concluído em médio prazo. MACKENZIE 31 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas O objetivo, além de aproximar o país e o bloco, é aumentar as exportações principalmente de produtos manufaturados do Brasil. O País acredita que poderia se beneficiar de um crescimento nas vendas para a Índia de aviões, automóveis, tecnologia de álcool, bens de capital e aço, assim como, frango e soja, entre outras matériasprimas. Em contrapartida, o governo indiano deve tentar incrementar suas exportações de remédios genéricos, além de conseguir facilidades para investir no setor farmacêutico brasileiro. Outro objetivo da Índia é intensificar os contatos entre suas empresas de software e as do Brasil, já que os indianos exportam para todo o mundo mais de US$ 9 bilhões em softwares, quinze vezes a mais do que as exportações brasileiras. Um pouco mais dispares, as relações bilaterais entre o Brasil e a Rússia datam desde a antiga União Soviética (URSS), principalmente desde os anos oitenta, onde o montante substantivo do comércio entre as partes era realizado através do countertrade com as trocas comerciais realizadas à base da troca de mercadoria por mercadoria. Desde então, o comércio com a Rússia não transpõe às limitações do fluxo de, principalmente, produtos primários e matérias-primas, como a carne, o café, o açúcar, os adubos e os fertilizantes. Temas como investimentos, serviços e outras formas de comércio ainda não foram motivos de uma aproximação mais profunda. A exportação de produtos primários sofreu, no comércio bilateral com a Rússia, grandes percalços até manter-se nos altos níveis e com um saldo superavitário em 2001. As exportações brasileiras em 2000 sofreram uma queda significativa, chegando a ficarem deficitárias na balança em quase US$150 milhões. Isto devido a uma política russa de proteção ao mercado produtor local que reduziu as quotas aos produtos brasileiros, elevando os impostos de importação e tarifas extra-cotas e ainda desqualificando-os dos benefícios do Sistema Geral de Preferências – SGP. Mesmo assim, em 2001 os produtores brasileiros conseguiram superar estas barreiras e atingir o mercado russo, sendo que 90% de toda a pauta brasileira de exportações, em 2001, ao país foram de produtos primários. A China, sendo o segundo maior importador do Brasil, é identificado como um expressivo mercado consumidor e potencial para o incremento das exportações brasileiras. Observa-se, com relevância, a entrada da China para quadro de membros da Organização Mundial do Comércio – OMC, em 2001, o que estimulou e encorajou o setor produtivo brasileiro a aumentar o comércio com o país. No entanto, alguns esforços foram iniciados no governo Fernando Henrique Cardoso de modo a estreitar as relações e aproximação entre os dois países. Como exemplo, a Feira Brasil-China ocorrida em Xangai em abril de 2002. À época o Brasil tentou estabelecer contatos com os setores automotivo e alcooleiro com vistas a estabelecer um acordo de livre comércio, bem como apresentou um memorando para cooperação tecnológica nestes setores. Atualmente podemos citar como os principais produtos exportados para a China o café solúvel, suco de laranja, couro e calçados, soja em grão, minério e laminados de ferro e aço, partes e peças para tratores, CKDs (completely knocked down) e aeronaves. MACKENZIE 32 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. Há, também, um forte potencial nas exportações de serviços, principalmente os referentes ao sistema e softwares bancários brasileiros, como também tecnologia do setor de telecomunicações. Acredita-se que com a presença comercial no país tanto volume quanto diversidade de produtos poderiam ser incrementados, porém a legislação chinesa ainda não oferece abertura para que isso ocorra. Por enquanto, somente na forma de joint ventures as empresas brasileiras estão conseguindo entrar no mercado chinês e aumentar a fatia de mercado para os produtos brasileiros. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas Todos estes fatores de aprimoramento da inteligência comercial brasileira, somados à dinâmica da economia chinesa, que vem crescendo a taxas superiores a 8% a.a., a entrada efetiva do país na OMC e, principalmente, sendo o país que mais atrai os investidores e capital externo, vislumbram um cenário favorável ao aumento do intercâmbio comercial entre Brasil e China de forma mais sustentável. Com isso, o cenário das correntes investidas européias e norte-americanas na conquista de uma maior fatia do mercado chinês, seja através de investimentos diretos seja por tratados de cooperação, terão que enfrentar mais um ator: Brasil. 4 NOTAS TÉCNICAS DOS ACORDOS BILATERAIS FIRMADOS PELO BRASIL O Brasil, como país membro da Associação Latino-Americana de Integração, atende às regras e procedimentos estabelecidos no marco normativo e constitutivo da ALADI conhecido como Tratado de Montevidéu de 1980 (TM 80). É através desta base normativa que estão regidos os diversos acordos firmados no âmbito da ALADI. Estes acordos, porém, possuem diferenças significativas e peculiaridades distintas em relação ao objetivo, escopo e área de abrangência. A caracterização correta de cada acordo permite uma melhor compreensão de sua estrutura negociadora, bem como o objetivo a ser seguido pelos países signatários. Observa-se, porém, que a utilização mais comumente conhecida destes instrumentos dá-se no âmbito dos Acordos de Alcance Parcial que dentre as principais modalidades amparadas estão os Acordos de Complementação Econômica. Estes acordos visam, entre outros objetivos, promover o máximo aproveitamento dos fatores de produção, estimular a complementação econômica, garantir condições eqüitativas de concorrência, facilitar a penetração dos produtos no mercado internacional e impulsionar o desenvolvimento equilibrado e harmônico dos países-membros. São basicamente acordos para o estabelecimento de margens de preferências tarifárias fixas que serviriam como primeiro passo para a criação de zonas de livre comércio entre os países da região, como forma de esquemas de integração sub-regionais. É possível, contudo, a realização de acordos não preferenciais, ou seja, que não possuam matéria específica e diferente da outorga de preferências tarifárias Em alguns casos, como nos acordos de promoção do comércio e alguns dos assinados ao amparo do Artigo 14 do Tratado de Montevidéu; os países-membros realizaram ações MACKENZIE 33 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas de cooperação visando criar condições favoráveis para o intercâmbio de bens e de serviços, tais como o transporte e o turismo, a proteção do meio ambiente, a otimização do uso da infra-estrutura física viária, a superação de barreiras técnicas ao comércio, etc. Ainda com base do disposto no Tratado de Montevidéu 1980, em seu Artigo 25, “os países-membros podem assinar acordos com países não membros e áreas de integração econômica da América Latina, dentro das modalidades indicadas”. De um total de 38 acordos assinados nesta modalidade (AAP 25TM), permanecem atualmente em vigor apenas 19, devido a três circunstâncias: ter vencido o prazo acordado por seus signatários, ter sido substituído pelos novos acordos de complementação econômica assinados com países-membros da ALADI e, finalmente, pela entrada em vigor dos Tratados de Livre Comércio assinados que deixaram sem efeito tais Acordos. O desenvolvimento de novos instrumentos negociadores brasileiros tem permitido o aprimoramento das relações bilaterais nacionais na forma de novos acordos comerciais que fogem da temática “Aladiana” conhecida há muito pelo Brasil. A forma, mesmo que aparentemente diferente ainda apresenta os resquícios da tradição de uma negociação caracterizada por medidas de acesso a mercados, através de reduções progressivas e gradativas dos impostos de importação entre os signatários, chamadas “margens de preferências fixas”. Temas como serviços, propriedade intelectual, solução de controvérsias, entre outros tantos discutidos no âmbito multilateral, não são ainda muito utilizados como instrumentos de aprofundamento de objeto e escopo destes acordos, muito embora sejam discriminados como parte integrante de alguns deles. À exceção temos as negociações da Área de Livre Comércio das Américas e Acordo de Livre Comércio com União Européia, onde os negociadores norteamericanos e europeus foram solícitos nas questões das normas e disciplinas ainda em desuso nas negociações comerciais bilaterais brasileiras. As negociações bilaterais realizadas com base nos acordos já firmados com a África do Sul e Índia foram, e continuam sendo, pautadas na troca recíproca de preferências tarifárias fixas ou no desenvolvimento de um cronograma, ainda a definir, de desgravações progressivas do Imposto de Importação. A intenção de ambas as negociações é a formação, em longo prazo, de uma área de livre comércio, que consiste na eliminação de todas as barreiras tarifárias e não-tarifárias que incidem sobre o comércio dos países do grupo, respeitadas as regras de origem que definirão se um produto é ou não originário dos países signatários. É importante o exercício de identificação e análise da tipologia de cada acordo firmado e em negociação pelo Brasil, na medida em que estes representam os instrumentos nacionais da prática de política externa comercial e definirão os resultados que obteremos a curto, médio e longo prazo. A importante atenção aos prazos definidos para a vigência de cada acordo e o cronograma de redução das alíquotas do imposto de importação, permite uma ação estratégica do setor industrial que o prepare a enfrentar as conseqüências de uma Área de Livre Comércio, de forma mais pró-ativa e menos resistente ao desenvolvimento de novos negócios e mercados. MACKENZIE 34 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. Com a redução dos impostos de importação motivada pela celebração dos acordos bilaterais negociados pelo Brasil, a expectativa é que os mercados não se diferenciem mais pela questão das alíquotas tributadas e sim pelos outros tipos de condicionantes internos, de cada país signatário, que não estarão mais ligados às tarifas como, por exemplo, as barreiras não-tarifárias, as regras de origem não-preferenciais, medidas compensatórias, antidumping etc. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas Uma melhor conscientização em relação aos temas reguladores do comércio, que serão fundamentais para o exercício legítimo das atividades industriais e comerciais no contexto internacional, contribuirá para o estabelecimento de uma agenda positiva entre empresários e representantes do governo, de modo que o Governo possa melhor orientar e capacitar estes empresários para as discussões que estarão por vir. 5 CONCLUSÃO A política externa brasileira há muito não observava um processo de aproximações tão diversificadas como as que presenciamos na última década. Acreditamos no amadurecimento de nossos negociadores e corpo diplomático que observaram com sabedoria que o Brasil é um global player e não deve adotar somente uma postura reativa ao contexto e às condições impostas pelos países mais desenvolvidos. As políticas de promoção comercial iniciadas no governo anterior que tiveram apoio e continuidade do governo Lula contribuíram significativamente para o avanço dos produtos brasileiros a outros mercados. Além disso, as aproximações diplomáticas têm reforçado a imagem do país como não apenas um produtor agrícola e sim como uma potência industrial que poderá vir a crescer ainda mais se conseguirmos concluir uma reforma política interna que contribua para o crescimento e desenvolvimento do nosso parque industrial e para a geração de empregos. O enfrentamento de um cenário multilateral de negociações acirradas e, por muitas vezes, infrutíferas é parte do desenvolvimento de nossos instrumentos de negociação e aproximação a mercados não-tradicionais. A multilateralidade permitiu, também, ao Brasil identificar novos parceiros comerciais e políticos que darão um ânimo maior nas discussões de comércio nos grandes fóruns: OMC, ALCA e União Européia. Vale ressaltar que ainda temos muito que avançar em termos de formação de um quadro de profissionais especializados no estudo de políticas e mercados externos, bem como de negociadores que possam defender com categoria os interesses nacionais. Entretanto já demos os primeiros passos em direção ao reconhecimento internacional de nosso potencial, haja vista os entraves colocados nas negociações ALCA e OMC. Em outra perspectiva, a do setor industrial, as negociações comerciais apresentadas neste trabalho não trouxeram um ganho econômico expressivo em suas atividades exportadoras. Muitas vezes classificados pela indústria como acordos MACKENZIE 35 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. Cadernos de Pós-Graduação em Administração de Empresas políticos e diplomáticos, os acordos comerciais internacionais firmados com África do Sul, países da Comunidade Andina e em vias de negociação com China e outros paísesbaleia não trouxeram o ganho econômico esperado e propagado pelos negociadores brasileiros. Muitos dos esforços empresariais e das associações de classe em subsidiar o governo brasileiro, no período FHC, de informação e posicionamento setorial nos acordos supracitados foram suprimidos pela vontade política de se negociar aqueles acordos, ou seja, o resultado comercial deixou (e ainda deixa) a desejar e iniciou-se um movimento setorial de discussão em relação da real importância de se assinar tais acordos. O que pode ser visto é que mesmo sem a obtenção de ganhos econômicos e produtivos na assinatura e vigência de certos acordos, o custo da não-participação no jogo internacional de alianças estratégicas será infinitamente superior ao possível distanciamento em relação àqueles mercados sem potencial real de ampliação do fluxo comercial com o Brasil. Panorama of the international commercial negotiations in the period 1994-2002 ABSTRACT The research was developed in order to create subsidies to analyze and follow more carefully the international discussion related to commercial issues by businessmen and national academics. That would be the only way to stress the importance of strategic and theoretical studies that International Trade Agreements deserve. Based on the detailed observation of the Trade Agreements established by Fernando Henrique Cardoso´s Government (19942002), we can, clearly, use the research in reference to call attention to the importance of an analytical and thoughtful study of the government actions to the trade promotion, not only through the development of actions of investment, tax reduction or structuralism of governmental activities. Keywords: Trade agreements. International agreements. Mercosur. REFERÊNCIAS MACKENZIE ALMEIDA, Paulo Roberto; BARBOSA, Rubens Antônio. O Brasil e os Estados Unidos num mundo em mutação: relações políticas, econômicas e diplomáticas nos contextos regional e internacional. Edição provisória. Washington, D.C.: Embaixada do Brasil, 2003. 36 Cad. de Pós-Graduação em Adm. de Emp. São Paulo, v. 3, n. 1, p. 23-37, 2003. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. 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