241 Refletindo Sobre o Novo Esta parte da einstein tem como objetivo atualizar o leitor de forma concisa. As áreas a serem abordadas neste setor são: clínica médica, cirurgia, materno-infantil, pediatria, ginecologia/obstetrícia, medicina de urgência/medicina intensiva, administração em saúde, medicina baseada em evidências, pesquisa científica, pedagogia em saúde, oncologia e transplantes. Eduardo Weltman Editor Associado da einstein Both donor and recipient NOD2/ CARD15 mutations associate with transplant-related mortality and GvHD following allogeneic stem cell transplantation A presença de mutação NOD2/CARD15, tanto no doador como no receptor, está associada ao aumento da mortalidade relacionada ao transplante e da doença enxerto contra hospedeiro em transplantes alogênicos de célulastronco Holler E, Rogler G, Herfarth H, Brenmoehl J, Wild PJ, Hahn J, Eissner G, Scholmerich J, Andreesen R Blood. 2004;104(3):889-94. Comentado por: Daniel Goldberg Tabak1, Ilana Zalcberg2 1 Hematologista e Oncologista do Centro de Tratamento Oncológico - Rio de Janeiro (RJ). 2 Imunologista do Laboratório Progenética - Rio de Janeiro (RJ). Vários modelos experimentais ressaltam a importância do dano intestinal na gênese da doença do enxerto contra hospedeiro (DECH). Van Bekkum demonstrou que animais mantidos em ambientes livres de germes não desenvolviam DECH. Hoje, a translocação bacteriana e a conseqüente liberação de citocinas por monócitos e macrófagos seguida da ativação de linfócitos T é reconhecida como um dos agentes críticos na gênese da DECH. Vários polimorfismos na seqüência de diversos genes e de seus promotores têm sido identificados como mediadores da DECH. O melhor conhecimento da fisiopatologia da DECH permitirá o melhor controle de uma das principais complicações associadas ao TMO. Na busca de genes reguladores, Holler et al. identificaram de forma surpreendente e pela primeira vez a associação de polimorfismos de NOD2/CARD15 e a DECH. Polimorfismos do gene CARD15, localizado no cromossoma 16, conferem uma maior suscetibilidade para doença de Crohn aos seus portadores. Ele codifica uma proteína intracitoplasmática denominada NOD2, pertencente a uma superfamília de reguladores da apoptose. Ela funciona como um sensor para lipopolissacarídeos bacterianos em monócitos e em células do epitélio intestinal. Ao intermediar a ativação de NF-kB, determina a subseqüente produção de citocinas inflamatórias. Pacientes portadores da doença de Crohn apresentam um aumento da expressão de CARD15 na mucosa intestinal. Diante da semelhança dos processos imunorreguladores entre a doença de Crohn e a DECH, Holler et al. estudaram as mutações de CARD15/NOD2 em 169 pacientes portadores de neoplasias hematológicas submetidos a TMO, bem como os seus doadores (78 doadores familiares idênticos, 87 doadores não consangüíneos e 4 doadores familiares não idênticos). O padrão selvagem (ausência de mutação) foi observado em 70,5% dos pares, semelhante ao observado em um grupo controle. Em 22 pares (13%), apenas os receptores apresentavam mutações. Em 16 pares (9,5%), apenas o doador apresentava uma mutação, e em 12 pares (7%) tanto o doador como o receptor apresentavam mutações. A mortalidade associada ao transplante variou de 20% nos pares sem mutação a 59% nos pares com mutação nos doadores, 49% nos pares com mutação nos receptores e 83% quando ambos apresentavam a mutação. A incidência de DECH GIV foi de 44% (32-60%) nos pares que apresentavam mutação, enquanto os não-mutantes apresentaram uma incidência de 19% (13-27%). Nenhuma diferença, entretanto, foi documentada quanto a taxa de recidiva entre os pacientes mutantes e os não-mutantes. As mutações de NOD2/CARD15 foram fortemente associadas com a mortalidade por DECH, mas também por complicações pulmonares. O maior impacto das mutações foi documentado nos transplantes entre indivíduos familiares HLA idênticos, embora também tenha sido observado nos não idênticos. Monócitos do receptor são rapidamente substituídos por células do doador no transplante alogênico. Mutações de CARD15 determinam uma redução da expressão de NF-kB, resultando em uma redução da resposta ao ataque bacteriano e conseqüente ativação de linfócitos T. A relevância destas observações é clara. O papel da resposta inflamatória intestinal e a disfunção de monócitos e macrófagos pode ser estabelecido e sugere einstein. 2004; 2(3):241 242 que o transplante a partir de um doador mutante deve ser evitado, independente da identidade HLA. Vários outros estudos na literatura têm procurado ressaltar a importância dos polimorfismos dos genes de citocinas como fatores de morbidade associados ao TMO. Entre eles podemos citar TNF, IL -6, IL -1R. O polimorfismo de determinadas enzimas, como CY2PB6, envolvida no metabolismo da ciclofosfamida, também deve ser mencionado devido à associação com doença venoclusiva hepática, cistite hemorrágica e mucosite. O estudo dos polimorfismos de genes críticos da resposta inflamatória facilitará não apenas a individualização dos programas de profilaxia de DECH, como também os regimes de condicionamento e a melhor seleção de doadores. einstein. 2004; 2(3):242