0 ESCOLA SUPERIOR DE ENSINO ANÍSIO TEIXEIRA PEDAGOGIA ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT’ANNA LEIZA DE OLIVEIRA PINTO WAILLA PAOLA SOEIRO PEDAGOGIA HOSPITALAR: UMA MODALIDADE DE ENSINO EM DIFERENTES OLHARES SERRA 2011 1 ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT‟ANNA LEIZA DE OLIVEIRA PINTO WAILLA PAOLA SOEIRO PEDAGOGIA HOSPITALAR: UMA MODALIDADE DE ENSINO EM DIFERENTES OLHARES Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Licenciatura em Pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia. Orientadora: Profª. Mestre Vânia Rosa Rodrigues SERRA 2011 2 ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT’ANNA LEIZA DE OLIVEIRA PINTO WAILLA PAOLA SOEIRO PEDAGOGIA HOSPITALAR: UMA MODALIDADE DE ENSINO EM DIFERENTES OLHARES Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Licenciatura em Pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia. Aprovada em 07 de Julho de 2011. COMISSÃO EXAMINADORA _________________________________________________ Profª Mestre Vânia Rosa Rodrigues Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Orientadora _________________________________________________ Profª Especialista Carina Sabadim Veloso Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Membro 1 _______________________________________________ Profª Mestre Rosimar Macedo Alves Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Membro 2 3 Dedicamos primeiramente a Deus, aos nossos familiares que sempre estiveram conosco durante toda essa árdua jornada, nos incentivando a cada minuto e não nos deixando desistir jamais. 4 A Profª. Vânia Rosa Rodrigues por toda orientação e carinho a nós dispensada. Obrigada por sempre acreditar em nós, e por todas as palavras animadoras. Aos nossos professores que de forma clara e concisa contribuíram para nossa formação acadêmica. Aos nossos entrevistados que de forma dispendiosa contribuíram para o enriquecimento desta pesquisa e principalmente nos abriram os olhos para uma educação mais humanizada e afetiva. 5 "Todos podem ver as táticas de minhas conquistas, mas ninguém consegue discernir a estratégia que gerou as vitórias". (Sun Tzu) 6 LISTA DE SIGLAS CNEFEI – Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas SEESP – Secretaria da Educação do Estado de São Paulo MEC – Ministério da Educação e Cultura SED – Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente PRONAICA – Programa Nacional de Atenção à Criança e ao Adolescente CNE – Conselho Nacional de Educação CEB – Câmara de Educação Básica PNHAH – Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar 7 RESUMO A presente pesquisa vem apresentar a Pedagogia Hospitalar como uma modalidade de ensino, que busca legalmente proporcionar a criança e ao adolescente hospitalizado a continuidade de seus estudos, visando sua reintegração ao ambiente escolar e à sociedade. Utilizou-se para tanto, o emprego da pesquisa em caráter qualitativo e de natureza bibliográfica em que se utilizou como método o estudo de caso tendo como instrumento de pesquisa entrevistas semi-estruturadas. Será abordado um breve histórico da Pedagogia Hospitalar, os parâmetros legais referentes a esta modalidade de ensino, a estrutura curricular em ambiente hospitalar ainda como uma lacuna existente, a necessidade da formação específica dos profissionais atuantes em ambiente hospitalar, sendo esta tanto acadêmica/teórico como também o preparo emocional, a humanização e a afetividade como fundamentos necessários à prática pedagógica hospitalar. Será abordada a atuação do pedagogo em diferentes olhares dos sujeitos envolvidos no processo de reintegração e reinserção da criança e adolescente hospitalizado como: um Pedagogo da rede regular de ensino, um Pedagogo atuante em ambiente hospitalar, um médico pediatra e uma mãe de uma adolescente hospitalizada atendida pedagogicamente no ambiente hospitalar. Comprovando assim, que o Pedagogo hospitalar vem contribuir com a família e com toda a equipe de saúde para a recuperação integral do educando hospitalizado. Auxiliando-o no autoconhecimento de sua patologia, elevando sua autoestima como também por muitas vezes o lidar com a possibilidade da morte. Palavras-Chaves: Modalidade de ensino, Currículo, Formação, Humanização, Afetividade. 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................10 2 METODOLOGIA.............................................................................................13 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................14 3.1 CONCEITUANDO PEDAGOGIA HOSPITALAR..................................................14 3.2 UM BREVE HISTÓRICO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR.................................18 3.3 DIRETRIZES LEGAIS DA PEDAGOGIA HOSPITALAR......................................21 3.4 PLANEJAMENTO CURRICULAR DA PEDAGOGIA HOSPITALAR....................25 3.5 A FORMAÇÃO ESPECÍFICA E A PRÁTICA DOS PEDAGOGOS ATUANTES EM AMBIENTE HOSPITALAR.........................................................................................28 3.6 A HUMANIZAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR..............................................34 3.7 LIMITES E DESAFIOS NO CONTEXTO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR.........40 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS/ESTUDO DE CASO.................................................................................................................43 4.1 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO PEDAGOGO DA REDE REGULAR DE ENSINO.......................................................................................43 4.2 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO PEDAGOGO HOSPITALAR......................................................................................................48 4.3 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO MÉDICO PEDIATRA...........................................................................................................55 4.4 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DE UMA MÃE................................61 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................67 6 REFERÊNCIAS...............................................................................................68 9 APÊNDICES...........................................................................................................71 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM PEDAGOGO DA REDE REGULAR DE ENSINO.............................................................................................72 APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM PEDAGOGO HOSPITALAR.............................................................................................................73 APENDICE C – QUESTINÁRIO DE ENTREVISTA COM O MÉDICO PEDIATRA..................................................................................................................74 10 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa aborda o tema da Pedagogia Hospitalar, pois, a atuação do pedagogo em ambientes extra-escolares vem se ampliando, não podendo mais se restringir somente à educação sistemática. Neste sentindo a prática pedagógica deve além de ensinar, resgata a autoestima de cada criança/adolescente hospitalizado, levando-o a aceitar naquele momento, a sua relação com as demais pessoas e com a própria doença de forma saudável. No Brasil, a legislação reconheceu através do Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, o direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar. A Pedagogia Hospitalar nos dias atuais tem sido um recurso a mais dentro da área da educação para transmitir e levar conhecimento, não importando o espaço em que está sendo trabalhado, mas sim importando o aluno que necessite deste apoio fora do espaço escolar. Por esse motivo, torna-se fundamental uma formação específica de Pedagogos para atuação em ambiente hospitalar, sendo necessário por parte deste profissional um comprometimento para com as necessidades específicas da criança/adolescente hospitalizado com propostas criativas e competentes, isto é torna-se crucial uma habilitação específica em que prepare, norteando a prática do ensino docente. Exercer a função fora da escola é um desafio que o professor como pedagogo tem superado a cada dia, promovendo um espaço lúdico, afetivo, com amor para a criança se sentir estimulada a dar continuidade a seus estudos. Podemos considerar a atuação do pedagogo em ambiente hospitalar algo novo em nossa sociedade e pouco se fala e se escreve sobre o assunto. Por isso a presente pesquisa busca como objetivo conceituar o que é Pedagogia Hospitalar, quais seus parâmetros legais vigentes, a rotina do pedagogo neste ambiente, qual o profissional que atua junto com o pedagogo e a relação familiar dentro de todo este contexto. 11 Além desta introdução, a fundamentação teórica da pesquisa está organizada em 07 capítulos, análise dos dados coletados e considerações finais. No capítulo 1, abordamos a concepção da Pedagogia Hospitalar em que vem sendo descoberta por aqueles pacientes que se encontram internados dentro do ambiente hospitalar e que com a parceria das equipes multidisciplinares e a classe que é o local de atendimento realizam integração do aluno no meio social de forma a realizar uma ponte entre a escola e o aluno que necessita da continuidade de seus estudos. No segundo capítulo, abordamos um breve histórico da Pedagogia Hospitalar, desde o seu surgimento em 1935, tendo como o objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas, até a atualidade com o objetivo de proporcionar a criança e adolescente hospitalizado a continuidade de seus estudos. No terceiro capítulo, abordaremos os parâmetros legais destinados à Pedagogia Hospitalar viabilizando a oferta do atendimento pedagógico em hospitais e domiciliar, assegurando a criança o acesso à educação básica. Promovendo dessa forma o desenvolvimento e a construção do conhecimento desses educandos. No quarto capítulo, será contextualizado o planejamento curricular no que diz respeito ao atendimento pedagógico no ambiente hospitalar sendo necessário, portanto que o professor atuante em ambiente hospitalar precisa estar ciente que cada dia se constrói com planejamento estruturado e flexível. No capítulo 5, será abordada a formação específica de Pedagogos para atuação em ambiente hospitalar, sendo esta necessária para um atendimento de qualidade devido uma nova escuta do pedagogo e de quebra de paradigmas no que diz respeito à educação fora do ambiente escolar. No sexto capítulo, abordamos a humanização e a afetividade como vertentes necessárias à Pedagogia Hospitalar. Devido à necessidade do “novo olhar” do pedagogo quanto às necessidades especiais dos alunos hospitalizados, criando assim ambientes acolhedores que estimulem a capacidade da criança e adolescente hospitalizados a sonhar com o retorno de sua vida escolar, o sonho de uma nova vida. 12 No capítulo 7, abordamos os limites impostos pela doença a cada dia, em que há a necessidade do rompimento de barreiras por parte dos pedagogos com a produção de um projeto novo e espaços lúdicos tendo por finalidade elevar a autoestima da criança/adolescente amenizando seu sofrimento perante a doença e seu tratamento. No quarto tópico será descrito e analisado o estudo de caso realizado por meio de entrevistas com um pedagogo atuante em ambiente hospitalar, um profissional médico pediatra, um pedagogo da rede regular de ensino e com uma mãe de uma adolescente hospitalizada diagnosticada com leucemia e que teve atendimento pedagógico durante sua permanência no ambiente hospitalar. 13 2 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo partindo do pressuposto da relação existente entre a realidade e o sujeito da pesquisa, “uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito” (CHIZZOTTI, 1998, p. 79), em que há uma participação, compreensão e interpretação dos pesquisadores, de natureza bibliográfica não sendo esta “a mera repetição do que já foi dito ou escrito, mas propicia o exame do texto sob novo enfoque, chegando a conclusões inovadoras” (LAKATOS; MARCONI, 1991, p.183) e da utilização do método de estudo de caso, considerando a investigação mais profunda de um objeto específico, permitindo o aprofundamento no conhecimento. De acordo com Young (apud, GIL, 1991, p. 59) o estudo de caso pode ser definido como: [...] um conjunto de dados que descrevem uma fase ou totalidade do processo social de uma unidade, em suas várias relações internas e nas suas fixações culturais, que seja por essa unidade por pessoa, uma família, um profissional, uma instituição social, uma comunidade ou uma nação. Devido à impossibilidade do estudo de caso ser realizado dentro do ambiente hospitalar em decorrência da burocracia existente, não foi possível a observação da Pedagogia Hospitalar in loco, mas mesmo fora desse espaço ouviram-se como sujeitos de pesquisa nessa prática pedagógica no ambiente hospitalar. Utilizou-se assim, como instrumento de pesquisa entrevistas semi-estruturadas com um pedagogo atuante em hospital público, um profissional médico pediatra com especialização em Infectologia também atuante em hospital público, com um pedagogo da rede regular de ensino e com uma mãe de uma adolescente hospitalizada atendida pedagogicamente no ambiente hospitalar. Foram utilizados nomes fictícios a fim de preservar a identidade dos sujeitos de pesquisa. A fim de maior compreensão e interpretação, os dados coletados por meio das entrevistas foram analisados por categorias temáticas. 14 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 CONCEITUANDO PEDAGOGIA HOSPITALAR As palavras pedagogia e hospitalar são termos que pelo dicionário Aurélio possuem definições indiferentes, a pedagogia por sua vez representa “teoria e ciência da educação e do ensino” já o termo hospitalar quer dizer “relativo a hospital, onde se tratam doentes internados ou não”. A junção destes dois termos se deu no momento em que se percebeu a necessidade em dar continuidade aos estudos daquelas crianças que estavam afastadas do meio escolar. Na busca pela História da educação no meio hospitalar foi possível perceber em revisões bibliográficas que o incentivo maior da implantação da assistência pedagógica dentro dos hospitais primeiramente para o cuidado infantil foi com a segunda guerra mundial. Mas o termo Pedagogia surgiu na Grécia Antiga, sendo esta a ciência da educação que a história demorou séculos para reconhecer a cientificidade do Pedagogo, somente no século XVIII na Europa Ocidental que concretizou o processo educativo. A Pedagogia Hospitalar é um novo conceito que vem ganhando espaço no âmbito da educação, pois a educação não pode ser mais vista somente ocorrendo no ambiente escolar, mas também fora da sala de aula e um desses ambientes é o hospital que passou a ser espaço do saber. Segundo Matos e Mugiatti (2007, p.37), a Pedagogia Hospitalar: É um processo alternativo de educação continuada que ultrapassa o contexto formal da escola, pois levanta parâmetros para o atendimento de necessidades especiais transitórias do educando, em ambiente hospitalar e/ou domiciliar. Para aquelas crianças que necessitam dar continuidade ao processo de ensino aprendizagem a Pedagogia Hospitalar é a ponte entre a escola e o aluno facilitando o seu desenvolvimento escolar e possibilitando com que a criança hospitalizada não perca seu ano letivo e o estímulo em dar continuidade aos seus estudos. 15 O primeiro hospital no Brasil segundo estudos já realizados foi o Hospital Municipal Jesus que fica localizado na cidade do Rio de Janeiro que deu inicio ao seu trabalho no ano de 1950 e que mantém seu funcionamento até os dias de hoje. No Brasil temos o Ministério da Educação: Secretaria de Educação Especial que no ano de 2002 publicou um documento que regulariza e fala como deve ser a classe hospitalar e o atendimento pedagógico domiciliar: Os ambientes serão projetados com o propósito de favorecer o desenvolvimento e a construção dos conhecimentos para crianças, jovens e adultos, no âmbito da educação básica, respeitando suas capacidades e necessidades educacionais especiais individuais. (BRASIL, 2002, p. 15. 16) Por ser em um hospital a Pedagogia trabalha de forma Inter/Multi/Transdisciplinar abordando variados tipos de culturas, desta forma exige do profissional um atendimento diferenciado e na maioria das vezes individualizado no leito e classe hospitalar que existem nas instituições que possuem esta modalidade de ensino. Este Pedagogo trabalha não só com os alunos, mas com os familiares que acompanham seus filhos e equipes que compõe o trabalho interdisciplinar. Conforme Matos e Mugiatti (2007, p.116), “a ação pedagógica, em ambientes e condições diferenciadas, como é o hospital, representa um universo de possibilidades para o desenvolvimento e ampliação da habilidade do Pedagogo/Educador”, é preciso buscar a vivência de outros lugares para aperfeiçoar o conhecimento teórico. O seu principal objetivo é promover e integrar o aluno ao hospital o período que se fizer necessário sem que haja trauma para ele e seu familiar dentro do ambiente hospitalar onde desperta angústia e desespero quando a palavra é doença para estes que necessitam deste atendimento diferenciado, Matos e Mugiatti (2007, p. 92) afirmam que: Viver e conviver juntos de forma harmoniosa ainda é um desafio deste século. Pois, pensar em novas propostas, alargar horizontes, integrar saberes, pensar numa nova sociedade é pensar necessariamente em um novo reaculturamento social e educacional. 16 Sobre isto Cardoso (apud, MATOS; MUGIATTI, 2007, p.117) destaca que: Educar significa utilizar práticas pedagógicas que desenvolvam simultaneamente razão, sensação, sentimento e intuição e que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e da unidade do mundo. Assim, a educação - além de transmitir e construir o saber sistematizado - assume um sentido terapêutico ao despertar no educando uma nova consciência que transcenda do eu individual para o eu transpessoal. A continuidade dos estudos para estas crianças é de suma importância para a sua identidade critica e a não evasão escolar que existe nos dias de hoje, pois a doença se torna um obstáculo para os alunos/pacientes que precisam permanecer por um tempo determinado no ambiente hospitalar devido ao quadro que se apresenta por este motivo as crianças quando não são acompanhados pelo profissional da educação, sentem-se excluídos do grupo da escola por não conseguir acompanhar o conteúdo e acaba entrando na estatística de evasão escolar. Para Assis (2009, p.17), “não é qualquer ensino que promove o desenvolvimento da pessoa enferma; é preciso uma mediação profícua para suscitar-lhe o desejo de superação e de participação no seu processo educativo dentro do contexto hospitalar”. E essa promoção do desenvolvimento parte de uma ação em conjunto com a equipe da unidade hospitalar. A Pedagogia Hospitalar veio para intermediar estes alunos pacientes que necessitam dar continuidade aos estudos, este profissional que atende os alunos com necessidades de continuar seus estudos tem que possuir maneiras diferentes de dar sua aula e é preciso elaborar projetos que obtenham uma visão de um todo. Nesta ótica, Matos e Mugiatti (2007, p.117) dizem que “a visão do educador, nesse contexto, deve abranger uma perspectiva integradora, uma concepção de prática pedagógica que visualize o conceito integral de educação que promova aperfeiçoamento humano”. No entanto para o pedagogo que escolhe trabalhar na área, tem que está sujeito a novos desafios e principalmente a construção de novos saberes para auxiliar estas crianças e adolescentes, consideradas como portadoras de necessidades especiais, pois de acordo com Matos e Mugiatti: 17 Tal condição requer um fazer e um agir que não devem estar vinculados a processos estanques, deixando o educador livre para desenvolver e criticar a sua ação pedagógica, a fim de fazê-la reflexiva e transformadora da realidade que envolve o escolar atendido em contexto hospitalar. (2007, p.116) Essa assistência prestada na educação hospitalar requer do pedagogo um olhar e uma autonomia para tomar decisões de acordo com as necessidades de cada um dentro da área hospitalar, por isso é preciso manter um atendimento diferenciado e flexível que atenda a criança ou adolescente que necessita dar continuidade ao seu processo de formação educativa. 18 3.2 UM BREVE HISTÓRICO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR A Pedagogia Hospitalar surgiu devido à necessidade de a criança continuar seus estudos após a enfermidade que era acometida fosse ela física como as mutilações das guerras como também as doenças patológicas do tipo hanseníase e tuberculose, a escola teve que ir até estes alunos de forma conjunta com a saúde. Na perspectiva de Matos e Mugiatti: Se a ação pedagógica integrada é importante para toda pessoa também o será para a criança (ou adolescente) enferma, considerando que o seu processo de educação foi interrompido, gerando, entre outros impedimentos, o de frequentar a escola regular. (2007, p.46) Essa visão do espaço hospitalar iniciou-se em 1935, quando Henri Sellier inaugurou a primeira escola para crianças inadaptadas, nos arredores de Paris. A sua proposta se estendeu para a Alemanha, França, Europa e Estados Unidos, com o objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas. Como marco decisório das escolas em hospital é possível afirmar que foi a Segunda Guerra Mundial, apesar de um marco traumático principalmente para as crianças, fez com que a classe médica se engajasse na defensoria da escola no âmbito hospitalar para que as crianças e jovens daquela época não enlouquecessem dentro do hospital pelas mutilações sofridas. Em 1939, é criado o C.N.E.F.E.I. - Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas localizado na cidade de Suresnes em França, tendo como objetivo a formação de professores para o trabalho em institutos especiais e hospitais. Ainda em 1939, é criado o cargo de professor hospitalar junto ao Ministério da Educação na França. Este Centro Nacional de Estudos tem como missão ate os dias de hoje mostrar que a escola não é um espaço fechado, este promove estágios em regime de internato dirigido a professores e diretores de escolas, a médicos de saúde escolar e a assistentes sociais. Desde então os C.N.E.F.E.I. têm formado professores para atendimento escolar hospitalar, a duração do curso é de dois anos e até hoje já formou mais de mil professores para as classes hospitalares. 19 No Brasil, a legislação reconheceu através do Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, com a resolução n° 41 de outubro de 1995, no item nove, o “Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”. No ano de 2002 o Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria de Educação Especial, elaborou um documento de estratégias e orientações para atendimento nas classes hospitalares, assegurando o acesso à educação básica. Este documento diz que: O Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria de Educação Especial, tendo em vista a necessidade de estruturar ações políticas de organização do sistema de atendimento educacional em ambientes e instituições outros que não a escola, resolveu elaborar um documento de estratégias e orientações que viessem promover a oferta do atendimento pedagógico em ambientes hospitalares e domiciliares de forma a assegurar o acesso à educação básica e à atenção às necessidades educacionais especiais, de modo a promover o desenvolvimento e contribuir para a construção do conhecimento desses educandos. (MEC, SEESP, 2002, p.07) Sendo esta publicação do MEC mais recente referente à classe hospitalar e ao atendimento pedagógico domiciliar onde tem direito ao atendimento escolar em ambulatórios de atenção integral à saúde ou em domicilio; alunos que estão impossibilitados de freqüentar a escola por razões de proteção à saúde ou segurança abrigados em casas de apoio, casas de passagem, casas lar e residências terapêuticas. Em Santa Cantarina, a SED baixou a portaria que “dispõe sobre a implantação de atendimento educacional na classe hospitalar para crianças e adolescentes matriculados na Pré-Escola e no Ensino Fundamental, internados em hospitais”. (portaria nº. 30, SED, de 05/03/2001). Para toda criança e adolescente hospitalizado que frequenta a sala de aula hospitalar deve existir um cadastro de hospitalização e da escola da rede regular de ensino para que ao final de cada aula o professor realize os registros em uma ficha com os conteúdos trabalhados e outras informações que se fizer necessário. De acordo com a Constituição Federal de 1988, conforme artigo 205, Seção I – Da Educação, da Cultura e do Desporto: 20 A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988) Configura-se legalmente, a educação um direito de todos e para todos. A área hospitalar não poderia deixar de ser mais um espaço em que seja possível educar, e levar a oportunidade para aqueles que no momento estão com alguma enfermidade, que impossibilita estar na sala de aula. As autoras Matos e Mugiatti em seu livro Pedagogia Hospitalar (2007, p. 65) afirmam que: [...] o que mais importa é que a criança ou adolescente hospitalizado venha receber, sempre e com o máximo empenho, o atendimento a que fazem jus, nessa tão importante fase de sua vida, da qual depende a sua futura estrutura, enquanto pessoa e cidadão. Essa visão afirma o propósito em que a Pedagogia Hospitalar vem proporcionar a estes alunos um suporte para continuação do ensino, amparado por leis que garantem a idoneidade e valida sua existência com a Constituição Federal, onde afirma que todos merecem o direito de estudar. 21 3.3 DIRETRIZES LEGAIS DA PEDAGOGIA HOSPITALAR Dentro da pesquisa desenvolvida a primeira referência legal encontrada no Brasil sobre Educação Hospitalar foi no Decreto Lei n. 1044, de 24.10.1969 que diz no seu art. 1º: São considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de qualquer nível de ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras condições mórbidas, determinando distúrbios agudos ou agonizantes, caracterizados por: a) incapacidade física relativa, incompatível com a frequência aos trabalhos escolares; desde que se verifique a conservação das condições intelectuais necessárias para o prosseguimento da atividade escolar em novos moldes; b) ocorrência isolada ou esporádica; c) duração que não ultrapasse o máximo ainda admissível, em cada caso, para a continuidade pedagógica de aprendizado, atendendo a que tais características se verificam, entre outros, em casos de síndromes hemorrágicos (tais como hemofilia), asma, pericardites, afecções osteoarticulares submetidas a correções ortopédicas, etc. Em 17/04/75 foi promulgada a Lei 6.202, que atribui à estudante em estado de gestação o regime de exercícios domiciliares instituído pela lei 1044/69. Que diz no seu artigo 1º: A partir do oitavo mês de gestação e durante três meses a estudante em estado de gravidez ficará assistida pelo regime de exercícios domiciliares instituído pelo Decreto 1044, 21 de outubro de 1969. Parágrafo único. „O início e o fim do período em que é permitido o afastamento serão determinados por atestado médico a ser apresentado à direção da escola‟. Em 1988 com a instituição a Constituição Federal, que em seu art.205 relata: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. E no art. 214 que afirma que as ações do poder público devem conduzir à universalização do atendimento escolar, porém poucas ações efetivas foram consolidadas no ambiente hospitalar. Em 24.10.1989, artigo 2º, inciso I, alínea “d”, “O oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial a nível pré-escolar, em unidades hospitalares e 22 congêneres nas quais estejam internados, por prazo igual ou superior a um ano, educandos portadores de deficiência”. O ano de 1990 pode ser referendado com um marco para a justiça e para a educação, quando foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) , na lei 8.069 no seu art. 3º, menciona que “a criança e o adolescente gozam de todos os direitos inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”. Com o ECA, vários outros órgãos se engajaram em uma luta com vistas à sua implantação. Entre eles, sobressaem o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), o Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (PRONAICA), o Conselho da Comunidade Solidária e os Conselhos Tutelares. O Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da criança e do Adolescente (CONANDA) foi fundado em 1995 e com ele foi possível a elaboração e aprovação da resolução n. 41/95 de 13.10.1995, esta resolução delibera no seu item 9, “ A criança e o adolescente tem o direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”. Em 1996, a legislação em vigor recebe o expressivo reforço da LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394 de 20.12.1996, que, no artigo V, prevê que: “O atendimento educacional será efetivado em escolas, classes ou serviços especializados, sempre que em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. Decreto n. 3.298, de 20.12.1999, artigo 24, inciso V, que estabelece o oferecimento obrigatório dos serviços de educação especial ao educando portador de deficiência em unidades hospitalares e congêneres nas quais esteja internado por prazo igual ou superior a um ano. Em 2001 temos a Resolução CNE/CEB (Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Educação Básica) n. 2 no seu artigo 13, parágrafos 1º e 2º, “Os sistemas de 23 ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio”. §1º As classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos matriculados em escolas da Educação Básica, contribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à escola regular. §2º Nos casos de que trata este artigo, a certificação de frequência deve ser realizada com base no relatório elaborado pelo professor especializado que atende o aluno. Resolução n. 1 CNE/CP de 18.02.2002 “Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica”. Na exigência da legitimidade desse direito o prof. Amaury César Moraes (2008) salienta: Apenas como nota reclamo que haveria necessidade urgente de uma verdadeira consolidação das Leis da Educação ou um Código de Educação, capaz de dar uniformidade à legislação educacional e, sobretudo, passá-la pelo crivo de juristas com profundo conhecimento em ambos os campos – Direito e Educação -, pois o que se percebe muitas vezes é dispositivos legais descambarem para a digressão ou auto interpretação, ultrapassando o seu caráter normativo, restringindo a competência e autonomia de quem aplica e interpreta a lei. Por vezes, por conta de Pareceres e Diretrizes nada sobra para que os sujeitos reais, objeto da legislação, tenham sua concretude reconhecida, isto é, suas vidas são desde já vividas antecipadamente – pela legislação. O documento intitulado Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: Estratégias e Orientações, editado pelo MEC, em 2002 estabelece que: O Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria Especial, tendo em vista a necessidade de estruturar ações políticas de organização do sistema de atendimento educacional em ambientes e instituições outros que não a escola, resolveu elaborar um documento de estratégias e orientações que viessem promover a oferta do atendimento pedagógico em ambientes hospitalares e domiciliares de forma a assegurar o acesso à educação básica e à atenção às necessidades educacionais especiais, de modo a promover o desenvolvimento e contribuir para a construção do conhecimento desses educandos. (2002, p. 07) 24 O objetivo principal do documento Classe Hospitalar é criar estratégias e orientações que viabilizem a oferta do atendimento pedagógico em hospitais e domiciliar, assegurando a criança o acesso à educação básica. Promovendo dessa forma o desenvolvimento e a construção do conhecimento desses educandos. Segundo Mattos e Mugiatti (2007, p.13), a pedagogia hospitalar pretende oferecer à criança e ao adolescente a valorização dos seus direitos à educação e a saúde, como também ao espaço que lhe é devido enquanto cidadão. Nesta ótica, Assis considera que: Tratar do atendimento pedagógico-educacional em instituições hospitalares é considerar a inter-relação de duas importantes áreas- educação e saúdeque devem atuar com a finalidade de promover o desenvolvimento integral da pessoa que está sob tratamento de saúde, visando aos seus direitos e à sua qualidade de vida. A qualidade de vida- o bem estar. O estar bemimplica condições físicas, psicológicas e sociais que favoreçam a pessoa a desfrutar uma vida equilibrada, isto é, a possibilidade de realização pessoal, profissional e afetiva. (2009, p.81) Muitos documentos e leis foram criados, mas poucos entraram em ação verdadeiramente para transformar a condição da criança brasileira. Leis e Decretos são necessários, mas não suficientes para reverter o quadro existente. São necessárias verbas, especialização do profissional da área da educação e da saúde, divulgação e informação de tudo que acontece nos hospitais e atendimentos domiciliares. A efetivação destas leis depende também do engajamento das organizações, dos professores e do corpo clínico para garantir os direitos a todos os estudantes que se encontram hospitalizados. 25 3.4 PLANEJAMENTO CURRICULAR DA PEDAGOGIA HOSPITALAR A questão da elaboração curricular para o aluno hospitalizado é muito peculiar e específica, pois cada criança/adolescente deve ter o seu currículo adaptado individualmente, para dar condições a ela que aprenda e desenvolva as atividades levando em consideração suas limitações momentâneas ou não. O documento Classe Hospitalar – MEC afirma que: [...] “um currículo flexibilizado e/ou adaptado, favorecendo seu ingresso, retorno ou adequada integração ao seu grupo escolar correspondente, como parte do direito de atenção integral”. (2002, p. 13) O MEC sugere articular o programa de atendimento em dois momentos. No primeiro, o docente trabalha com os conteúdos definidos num currículo próprio, geral, que tem por base os parâmetros curriculares nacionais. No segundo a equipe do hospital adapta o trabalho pedagógico de acordo com o histórico do aluno, muitas vezes lançando mão de uma avaliação inicial. A aplicação de provas para medir o nível do aluno em seu retorno à escola regular, não é defendida pelo MEC. O ideal, para o órgão é que a equipe pedagógica estude os materiais enviados pelo hospital para chegar a um diagnóstico. A esse respeito é conferido pelo MEC em relação à organização e competências para viabilização da Pedagogia Hospitalar que: A definição e implementação de procedimento de coordenação, avaliação e controle educacional devem ocorrer na perspectiva do aprimoramento da qualidade do processo pedagógico. Compete às secretarias estaduais e municipais de educação e do Distrito Federal, o acompanhamento das classes hospitalares e do atendimento pedagógico domiciliar. O acompanhamento deve considerar o cumprimento da legislação educacional, a execução da proposta pedagógica, o processo de melhoria da qualidade dos serviços prestados, as ações previstas na proposta pedagógica, a qualidade dos espaços físicos, instalações, os equipamentos e a adequação às suas finalidades, a articulação da educação com a família e a comunidade. (Classe Hospitalar, 2002, p. 19) Observando essas finalidades e especificidades das condições das crianças atendidas o ambiente da classe hospitalar necessita ser diferenciado, deve ser acolhedor, com estimulações visuais, brinquedos, jogos, sendo assim um ambiente alegre e aconchegante. É necessário, portanto que as atividades realizadas com essas crianças e adolescentes tenham começo, meio e fim e o professor precisa 26 estar ciente que cada dia se constrói com planejamento estruturado e flexível. O professor deve conhecer a realidade com qual o aluno esteja apto a aprender e realizar as atividades que o professor venha a propor. A atuação conjunta dos professores dentro do hospital e a elaboração do projeto pedagógico permitem agregar harmoniosamente as propostas dos diferentes profissionais. Em geral, o atendimento ao estudante hospitalizado é personalizado, pois cada um está num nível distinto de ensino e precisa ser atendido em suas especificidades, mas esta particularização não autoriza os educadores a improvisar o atendimento. O professor deve ter conhecimento teórico e metodológico para dar condições ao seu aluno de aprender, pois de acordo com Ceccim e Fonseca: [...] abre-se, com este estudo, a necessidade de formular propostas e aprofundar conhecimentos teóricos e metodológicos, visando em atingir o objetivo de dar continuidade aos processos de desenvolvimento psíquico e cognitivo das crianças e jovens hospitalizados. (1999, p. 117) Essa exigência de formação técnica e profissional para atuar na pedagogia hospitalar demonstra que a escolarização durante a hospitalização garante não só a continuidade do processo de educação formal quanto promove o bem-estar da criança que se sente mais íntegra, ativa cognitivamente, com autoestima elevada e por consequência com melhor suporte ao processo de tratamento e hospitalização. Conforme Travassos: As crianças em diferentes idades possuem necessidades diferentes, respondem a diferentes formas de informação cultural e assimilam conteúdos com diferentes estruturas motivacionais e cognitivas, logo os tipos de regimes educacionais planejados pelos educadores precisam levar em conta esses fatores desenvolvidos. Os tipos de modelos educacionais que são oferecidos às crianças podem demonstrar a direção que elas poderão tomar, podendo ser encorajadas ou não para a perícia, criatividade, etc. Em nossa sociedade pode haver modelos contrastantes sobre o uso do talento e as maneiras pelas quais ele pode ser desenvolvido. (2001, p.32) Pode-se analisar que a grande diversidade na estrutura e funcionamento do atendimento escolar hospitalar levou alguns escritores a esboçar uma distinção entre duas linhas pedagógicas para o atendimento educacional em hospitais: A Pedagógico-educacional e a lúdico-terapêutica. Essa distinção é esboçada por 27 Ceccim e Fonseca (1999) e posteriormente detalhada por Fontes (2004), que adota os termos correntes pedagógicas. A corrente Pedagógico-educacional está mais focada no ensino formal, buscando dar continuidade ao currículo regular. O professor é um agente de escolarização nos moldes da escola regular. Já a corrente lúdico-terapêutica busca trabalhos diversos e sugere à construção de uma prática pedagógica com características próprias do contexto hospitalar, buscando seus conhecimentos, não necessariamente nos moldes curriculares, visando o bem estar físico e emocional dos pacientes. A utilização de uma corrente ou outra não se dá de uma forma explícita, quando se institui uma classe hospitalar. Ela vai se construindo a partir dos profissionais envolvidos e das condições humanas e materiais existentes em cada hospital. Na visão de Assis, a profissão docente impõe que: [...] o professor nunca deixe de estudar, de aprender, já que a prática educativa exige ressignificação de saberes e adaptação a novas situações; por conseguinte, pressupõe um processo constante de aprendizagem pessoal e profissional e aquisição de competências técnicas tanto no campo teórico como no prático. (2009, p. 102) Essa perspectiva em construção do professor é fundamental, tanto no desenvolvimento técnico como pedagógico. O trabalho pedagógico no espaço hospitalar nos mostra que não existe modelo pronto, mas o desafio de construir uma ação pedagógica que contemple esta diversidade e especificidade. A Pedagogia não pode ser nada mais que a prática de um profissional guiada por uma ética profissional e que confronta a cada dia com situações e desafios sem formulas para resolução. O profissional do ensino deve buscar a construção do seu próprio espaço pedagógico, em que só ele pode assumir e resolver conflitos cotidianos, apoiado na sua visão de mundo, de homem e sociedade. 28 3.5 A FORMAÇÃO ESPECÍFICA E A PRÁTICA DOS PEDAGOGOS PARA ATUAÇÃO EM AMBIENTE HOSPITALAR Começa a surgir um novo perfil de pedagogo exigindo uma profunda reflexão e mudança em sua prática educativa a partir de novas perspectivas e anseios da sociedade, para isso torna-se necessária uma formação específica e continuada a fim de desenvolver novas habilidades para enfrentar tal demanda no que consiste a internação para tratamento hospitalar. De acordo com Matos e Mugiatti, a questão de formação desse profissional: [...] constitui-se num desafio aos cursos de Pedagogia, uma vez que as mudanças sociais aceleradas estão a exigir uma premente e avançada abertura de seus parâmetros, com vistas a oferecer os necessários fundamentos teórico-práticos, para o alcance de atendimentos diferenciados emergentes no cenário educacional. (2007, p. 13) Por esse motivo, torna-se necessário uma formação específica de pedagogos para atuação em ambiente hospitalar, como afirma Warnock, “que os professores de classes hospitalares tenham acesso aos treinamentos em serviços e outros cursos de capacitação.” (apud MATOS; MUGIATTI, 2007, p. 47), é necessário um comprometimento para com as necessidades específicas da criança/adolescente hospitalizado com propostas criativas e competentes, isto é torna-se crucial uma habilitação específica em que prepare, norteando a prática do ensino docente. Em referência à necessidade e a preocupação com formação específica do profissional da educação atuante no ambiente hospitalar Caiado (apud, ASSIS, 2009, p. 103), afirma que: [...] justifica-se pela rápida ampliação da oferta desse atendimento ocorrida no final da década de 1990 no país e pela particularidade desse serviço, pois historicamente os cursos de formação de professores discutem o cotidiano da escola e os cursos de formação de profissionais de saúde não consideram o professor como participante da equipe hospitalar. Com esta afirmação, devemos perceber o quanto se faz necessário uma formação específica do profissional da educação para o atendimento pedagógico-educacional no ambiente hospitalar, devidos suas especificidades e necessidades. 29 Estudos indicam que para que a atuação do profissional da educação em ambiente hospitalar seja adequada, é necessário que o professor: [...] esteja capacitado para lidar com as referências subjetivas das crianças e deve ter destreza e discernimento para atuar com planos e programas abertos, móveis, mutantes, constantemente reorientados pela situação especial e individual de cada criança, ou seja, o aluno da escola hospitalar. (FONSECA, apud, ASSIS, 2009, p.42.43) Certamente, o professor que deseja atuar no ambiente hospitalar, deverá ter uma formação específica a fim de promover o desenvolvimento de habilidades necessárias para o trabalho neste novo ambiente educacional. Esta formação deverá também propiciar ao professor uma maior compreensão e formação emocional para lidar com possíveis conflitos de ideias, posições e principalmente com um novo conceito de aluno. Aluno este, acometido por doenças e limitações físicas, emocionais, sociais, etc. Portanto, torna-se necessário uma reorientação e reformulação dos cursos formadores de profissionais de educação, para que possa assim propiciar uma melhoria na qualidade do atendimento oferecido a este novo conceito de aluno, o aluno/paciente. Noffs e Rachman afirmam que: [...] faz-se necessário esclarecer que tal oferta de ensino no ambiente hospitalar deve ser pensada com cautela, pois não pode ser reduzido à mera transferência das práticas do ensino regular ao ensino hospitalar, considerando as diferentes demandas dos diversos alunos pacientes. (apud, ASSIS, 2009, p.89) Os cursos de formação específica para esse educador hospitalar devem levar em conta que além dos conhecimentos pedagógicos inerentes à sua profissão deve segundo Assis (2009, p. 106): estar aberto ao diálogo, à incorporação de outras práticas e às mudanças; dominar conhecimentos das várias séries da educação básica; ter competência para transitar bem entre os campos da saúde e da educação; estabelecer vínculos de afeto; ser mediador de conhecimentos e de relações interpessoais; 30 ter maturidade emocional para lidar com as intercorrências do entorno hospitalar; saber interpretar as necessidades educativas de seus alunos, que podem requerer modificação no currículo e/ou alguma tecnologia assistida. A prática pedagógica em ambientes hospitalares requer dos profissionais maior flexibilidade, com conteúdos, procedimentos e recursos individualizados, levando em consideração cada criança/adolescente envolvido no processo de aprendizagem, sempre com atenção para o momento do tratamento, para a condição atual do paciente. Pois, o pedagogo que atua em ambiente hospitalar deverá visualizar o conceito integral de educação, deverá promover o aperfeiçoamento humano, promovendo tanto a educação quanto a saúde. Quanto à função e prática pedagógica do professor atuante na classe hospitalar Ceccim (apud MATOS; TORRES, 2010, p.60), afirma: Não é apenas “ocupar criativamente” o tempo da criança para que ela possa “expressar e elaborar” os sentimentos trazidos pelo adoecimento e pela hospitalização, aprendendo novas condutas emocionais, como também não apenas abrir espaços lúdicos com ênfase no lazer pedagógico para que a criança “esqueça por alguns momentos” que está doente ou em um hospital. O professor deve estar no hospital para operar com processos afetivos de construção da aprendizagem cognitiva e permitir aquisições escolares às crianças. O contato com o professor e com uma “escola no hospital” funciona, de modo importante, como uma oportunidade de ligação com os padrões de vida cotidiana do comum das crianças, como ligação com a vida em casa e na escola. Neste intuito as atividades deverão ser elaboradas de forma a dar continuidade ao trabalho já desenvolvido no ambiente escolar de origem da criança/adolescente que se encontra em classe hospitalar. Pois, de acordo com Matos e Mugiatti (2007, p. 13) a Pedagogia Hospitalar vem ter como objetivo contribuir para o retorno do mesmo a sua escola de origem ao obter alta, sem prejuízo ao seu processo de escolaridade com isso “pretende-se, assim, oferecer à criança e ao adolescente hospitalizado, ou em longo tratamento hospitalar, a valorização de seus direitos à educação e à saúde, como também ao espaço que lhe é devido enquanto cidadã”. O pedagogo que atua em ambiente hospitalar deve acompanhar e intervir no processo de ensino aprendizagem por meio de atividades lúdicas como, o ato de contar histórias, brincadeiras, jogos, dramatizações, musicalização, desenhos e 31 pinturas, atividades estas realizadas nas classes hospitalares ou por diversas vezes no próprio leito a criança/adolescente hospitalizado, quando o mesmo estiver impossibilitado de frequentar a classe hospitalar. Portanto, para que o pedagogo hospitalar possa realizar um trabalho eficaz é necessário um espaço físico adequado, recursos humanos para poder atender a todas as crianças hospitalizadas, e materiais didáticos adequados como, por exemplo, revistas, lousa mágica, quebra-cabeças, alfabetos móveis, ou seja, tudo aquilo que possa ser deslocado da classe hospitalar, até o leito do paciente. Atividades estas que auxiliarão na adaptação, na motivação, na auto-estima e na recuperação do paciente. Podemos dividir a Pedagogia Hospitalar em três modalidades, nas quais ocorre atuação do Pedagogo Hospitalar. A classe hospitalar que consiste no espaço físico que se realiza o atendimento à criança hospitalizada. A classe hospitalar torna-se a “escola” durante a permanência dos mesmos, contribuindo para o seu retorno à escola de origem. A brinquedoteca em que consiste no espaço físico que possibilita o desenvolvimento de novas competências, socializando o brinquedo, resgatando brincadeiras tradicionais, assegurando à criança o seu direito de brincar. A recreação hospitalar, em que através do brincar, o contato com brinquedos possibilita a prática de atividades lúdicas, contribuindo com o desenvolvimento psíquico, emocional e cognitivo da criança/adolescente hospitalizado. Portanto, devido a importância da recreação, o pedagogo deve ter a visibilidade, contribuindo para que a criança e adolescente hospitalizado e acamado participe dentro de suas possibilidades desta modalidade. Sendo assim a prática pedagógica deve além de ensinar, resgatar cada criança/adolescente hospitalizado a gostar de si mesmo, relacionando-se consigo próprio, com as demais pessoas e com a própria doença de forma saudável. Deve-se considerar que a fase de escolarização do educando será transitória e se dará de acordo com a permanência do educando no ambiente hospitalar. Portanto, 32 “durante a fase de hospitalização, é necessário haver um permanente estímulo às relações com a escola de origem, por meio de intercâmbio de informações e de manutenção de interesses”. (MATOS; MUGIATTI, 2007, p. 124) O pedagogo hospitalar em sua prática exerce papel fundamental, pois contribui com a equipe de saúde, favorecendo na integração da criança/adolescente hospitalizado, suas famílias e os profissionais de saúde. Integração esta indispensável tanto para a permanência da mesma no hospital quanto para o seu desenvolvimento cognitivo e psíquico, ou seja, na sua totalidade. O pedagogo em ambiente hospitalar tem como função ser um agente facilitador e não um ditador que imponha normas de instrução às crianças/adolescentes hospitalizados que em virtude de sua doença e estadia no hospital, se vê impossibilitados de frequentar uma escola regular. Sobre a necessidade de continuidade, Matos afirma que: [...] a necessidade de continuidade, exigida pelo processo de escolarização, é algo tão notório que salta à vista dos pais, professores e mesmo das próprias crianças e adolescentes e a atitude estimulante dos pais ou responsáveis, representam uma significativa contribuição, em termos psicológicos, para a estruturação da personalidade da criança/adolescente hospitalizada. (2007, p. 68. 125) Para que todo o trabalho desenvolvido seja eficiente torna- se necessário uma parceria construída com os familiares para que possa incentivar à criança/adolescente hospitalizado a participação, vislumbrando um próximo retorno ao meio extra-hospitalar. Contudo podemos verificar que existem dois tipos de familiares, os estimulantes, que contribuem inspirando segurança, confiança, fazendo com que as crianças/adolescentes hospitalizados tenham condições de progredir, contribuindo assim de forma ativa no processo de cura em sua totalidade. Existem ainda os familiares não estimulantes, que superprotegem seus filhos, não permitindo a participação, não valorizando o processo de ensino aprendizagem no ambiente hospitalar. Deve-se levar em consideração o papel fundamental que exerce a afetividade no período da escolarização hospitalar, seja por parte dos familiares, seja por parte do 33 pedagogo hospitalar, e que as partes envolvidas neste processo tenham o cuidado para não confundir o educador como recreador, mãe substituta, Psicóloga, mas sim como um agente promotor do processo de ensino aprendizagem da criança/adolescente hospitalizado. Enfim, a necessidade da formação específica “grita por socorro”, dada a importância do papel do educador dentro do hospital. Ele vai além do mediador de conteúdos curriculares, ele auxilia, estimula o aumento da autoestima e da autoconfiança do aluno hospitalizado. Ele de forma concreta, trabalhando com as possibilidades e não com as limitações do aluno hospitalizado possibilita e reaviva o simples ato de sonhar. 34 3.6 A HUMANIZAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR Para melhor entendimento quanto à importância e a necessidade da humanização no ambiente hospitalar, primeiramente conceituaremos a palavra humanizar que de acordo com o dicionário Aurélio é “1. dar condição humana a; humanar. 2. Civilizar. P. 3. Tornar-se humano; humanar-se.” Segundo Oliveira (apud, MATOS, 2009, p. 85), humanizar caracteriza-se em: [...] colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida, entregar-se de maneira sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os silêncios. O relacionamento e o contato direto fazem crescer, e é neste momento de troca que humanizo, porque assim posso me reconhecer e me identificar como agente, como ser humano. Partindo deste conceito, faz-se necessário a humanização no ambiente hospitalar, ou seja, dar condições humanas às crianças e adolescentes hospitalizados primeiramente com o respeito pelo indivíduo enfermo e seus familiares, já demasiadamente fragilizados pelo ambiente a que são expostos e pela doença imposta a eles, dando um maior conforto, sendo solidários, proporcionando uma significativa melhora na qualidade de vida. Conforme Assis: [...] a qualidade de vida – o bem-estar, o estar bem – implica condições físicas, psicológicas e sociais que favoreçam a pessoa a desfrutar uma vida equilibrada, isto é, a possibilidade de realização pessoal, profissional e afetiva. [...] resgatando a importância dos aspectos humanos, das competências relacionais, além dos cuidados técnico-científicos, e concretizando um trabalho que cuida, respeita e valoriza a vida humana; um trabalho mais humanizado. (2009, p.81-82) Por sua complexidade, o ambiente hospitalar impõe a ampliação da discussão com a sociedade, a fim de estabelecer um quadro ético de referência para o cuidado humanizado. Um caminho possível e adequado para a humanização se constitui, acima de tudo, na presença solidária do profissional, refletido na compreensão e no olhar sensível, aquele olhar de cuidado que desperta, no ser humano confiança. Embora o cotidiano do hospital submeta, constantemente, os profissionais a situações críticas e indesejáveis, como as longas jornadas de trabalho, a falta de leitos, a escassez de recursos materiais e humanos, provocadores de dilemas éticos 35 importantes, é sempre possível a inter-relação, demonstrar a solidariedade orgânica e mecânica. Essa convivência propicia viver o aconchego das coisas simples, mesmo diante das tensões e riscos dos momentos mutantes, muitas vezes imprevisíveis e plenos de significados. Todavia, deve-se “enraizar valores e atitudes de respeito à vida humana, indispensáveis à consolidação e à sustentação de uma nova cultura de atendimento à saúde.” (CALEGARI, apud, ASSIS, 2009, p. 87) Ao se falar de um ambiente humanizado, se deve considerar a necessidade da afetividade e da solidariedade seja na sociedade em geral, ou no ambiente hospitalar que em suas especificidades requer um novo olhar. Portanto, a solidariedade e a afetividade devem fazer parte da linguagem do cotidiano das pessoas. De acordo com o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH (2002), humanizar é: [...] garantir à palavra a sua dignidade ética. Ou seja, para que o sofrimento humano e as percepções de dor ou de prazer sejam reconhecidas pelo outro. É preciso ainda, que esse sujeito ouça do outro palavras do seu reconhecimento. [...] é pela linguagem que fazemos as descobertas de meios pessoais de comunicação com o outro. Sem isso, nos desumanizamos reciprocamente. Em resumo: sem comunicação não há humanização. A humanização depende da nossa capacidade de falar e de ouvir, depende do diálogo com nossos semelhantes. Partindo deste pressuposto, falar em humanização é fácil, o difícil é praticá-la. Humanizar é respeitar alguém fragilizado, com naturalidade, sem parecer superior. No caso de pessoas doentes, procurar avaliar o seu sofrimento, ter compaixão no bom sentido, com atitudes positivas. No caso de doentes sem possibilidades de viver, deixá-los morrer com dignidade. Quando se fala de crianças hospitalizadas essa humanização é ainda mais complexa. Há algumas décadas as crianças não podiam ser acompanhadas pelos familiares e isso levava a um stress e sofrimento muito grande para as crianças. Por isso, os hospitais por volta da década de 80, iniciaram o programa de pais acompanhantes. Pesquisas realizadas na área mostraram que crianças acompanhadas se sentiam mais seguras, o melhoramento clínico foi significativo e o tempo de internação diminuiu. 36 Com esse programa o problema existente em relação às crianças foi amenizado, porém os Hospitais se confrontaram com um novo problema referente aos pais e aos acompanhantes, não acostumados ao ambiente hospitalar, de constante movimento, má diferenciação entre dia e noite, alarmes, sondas, etc. Além disso, havia a necessidade de fornecer informações com muito mais frequência que anteriormente, gerando também stress à equipe médica e de enfermagem, que nem sempre estavam disponíveis no momento desejado. A partir da nova dificuldade existente foram adotadas medidas para proporcionar um maior conforto, atenção, entretenimento, dentre outras, afim de então diminuir a carga de ansiedade que envolve não só os pacientes e os acompanhantes como também a equipe médica. Vários programas então foram e estão sendo desenvolvidos no intuito de otimizar esta relação além da abordagem de outros aspectos como a associação do local com perdas e morte, medo de dor, ansiedade, perda da privacidade e do sentido temporal (dia/noite), estado de semiconsciência, etc. De acordo com o Hospital do Câncer, humanizar significa: [...] tornar humano, afável. É um ambiente assim que precisa existir nas UTIs. Para isto é necessário uma intervenção efetiva. Mudanças nas estruturas, nos conceitos, derrubar obstáculos e tabus. É importante também a compreensão dos fatores que produzem estresse e o planejamento de intervenções oportunas e eficazes. Alguns exemplos de humanização no sistema de saúde já estão sendo empregado com resultados bastante significativos, como o parto humanizado, hospital amigo da criança, incentivo ao aleitamento materno, método canguru, alojamento conjunto, presença de palhaços e contadores de histórias, voluntariado e brinquedotecas. 37 Sobre a presença dos palhaços no ambiente hospitalar, Achar (apud, MATOS, 2009, p. 138-139), afirma que: Independente da condição física da criança/adolescente hospitalizado, „o palhaço chama a atenção daquilo que ainda está saudável no indivíduo doente‟ pois consegue resgatar sentimentos esquecidos ou apagados pela dor da solidão, pela distância de coisas que lhe são familiares, pela privação de objetos íntimos, pela falta de contato com o mundo exterior ao hospital e, mais do que tudo, pela impotência que sente o indivíduo perante a doença. O palhaço também trabalha a esperança dos pais, enfermeiros, médicos e demais envolvidos com os enfermos. A literatura e o brincar estão muito presentes na vida da criança e esses projetos buscam trazer essa realidade da criança para dentro do espaço hospitalar. A literatura infantil é conhecida na maioria das vezes pelas crianças desde quando nascem. Quem nunca ouviu uma história contada pelo pai, mãe ou avós. E ao costume de contar ou até mesmo criar histórias já vem de longos anos, esta prática remete a momentos de aconchego e ternura. O ato de contar histórias é um momento que consolida os laços afetivos de companheirismo e amizade entre os ouvintes e os contadores e é neste momento que a criança se sente parte a história, trazendo o imaginário para o seu cotidiano, podendo transformar a sua realidade. A literatura infantil pode ser usada no ambiente hospitalar com a finalidade de repouso, uma história agradável e calma pode ajudar a criança a ter um sono tranquilo, favorecendo o seu bem estar e promovendo a saúde. A Pedagogia Hospitalar vivência sensações e emoções de forma intensa e lida com elas na medida em que auxilia a criança da melhor forma possível, no convívio com a doença e o ambiente hospitalar. Acredita-se que a literatura infantil pode abordar essas emoções e sensações, transformando este ambiente em um lugar de acolhimento onde a criança tenha o direito de continuar desenvolvendo as suas habilidades cognitivas e sociais. 38 A criança está apta dentro de suas condições físicas e emocionais a participar de atividades pedagógicas e lúdicas mesmo inserida no ambiente hospitalar. Portanto, a Pedagogia em ambiente hospitalar vem com o propósito de amenizar este momento de dor e transformar em um momento de aprendizagem e descontração. A ideia de introduzir um trabalho com brinquedos para a criança hospitalizada já existe desde 1956 na Suécia, por Yvonny Lindquist. Sua iniciativa foi inicialmente rejeitada por medo de atrapalhar os trabalhos de médicos e enfermeiros. Em 1984, no III Congresso Internacional de Ludotecas, realizado na Bélgica, Rubfaix e Delsemme, duas bibliotecárias do hospital da Cruz Vermelha, em Bruxelas, apresentaram uma pesquisa sobre brincar no hospital no qual se referiam ao trabalho desenvolvido pela Cruz Vermelha em que visava à humanização dos hospitais e relataram que chegaram à conclusão que o trabalho desenvolvido pelos voluntários, que iam uma vez por semana brincar com as crianças, provou ser tão útil que se tornasse diário e com maior tempo de permanência junto às crianças. Assim foram surgindo as brinquedotecas hospitalares, para alegrar as crianças em sua permanência no hospital. Lá a criança pode encontrar brinquedos, diversão e estímulos para continuar se desenvolvendo de forma saudável. A brinquedoteca deve ser um espaço diferente, mágico, que faça voar a imaginação. Brincar de faz de conta ajuda a criança a compreender e aceitar a condição anormal em que se encontra e a sentir-se mais segura. À medida que expressa seus sentimentos, alivia suas tensões e sua ansiedade. Em relação às brinquedotecas, Viegas (apud, ASSIS, 2009, p. 25) afirma que tem que ser: [...] um espaço no hospital, provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças, os adolescentes e seus acompanhantes a brincar no sentido mais amplo possível e conseguir sua recuperação com uma melhor qualidade de vida. Deve haver brinquedos bem variados, de casinha de bonecas aos jogos de armar. Pode ser também um espaço em que a criança mate a saudade de sua casa, um espaço para desenvolver atividades, como artes plásticas ou artesanato. Este 39 espaço será de grande ajuda, não só para a criança, mas também para a família, que terá oportunidade de fazer uma atividade diferente que, além de ajudar a passar o tempo, pode representar a oportunidade para aprender uma nova forma de expressão. Sobre as brinquedotecas hospitalares Paula (apud, MATOS, 2009, p. 142), afirma que o seu sentido vai muito além de diversão e que “o brincar no ambiente hospitalar vem como um coadjuvante terapêutico ao alívio do estresse associado à internação. [...] na brinquedoteca, as crianças têm a referência do seu espaço para recreação, lazer e o lúdico”. Uma preocupação existente em relação aos brinquedos no hospital é a possibilidade de contaminação entre os pacientes através dos brinquedos. Tornando- se assim um empecilho ao lúdico dentro do ambiente hospitalar. Assim deve haver orientações e o esclarecimento de dúvidas, pelo especialista aos familiares e acompanhantes para que possa evitar assim prováveis contaminações. Eles devem ser informados de que alguns vírus respiratórios podem sobreviver horas em superfícies e outros micro-organismos, que causam diarréia, por exemplo, podem sobreviver por dias nos brinquedos. Por isso, os brinquedos utilizados por bebês e crianças pequenas não devem ser compartilhados, pois crianças nessa idade levam os brinquedos à boca. Para os brinquedos das crianças maiores uma rotina institucional deve ser elaborada, especificando a periodicidade da limpeza e desinfecção dos brinquedos. Brincar é uma atividade dinâmica que produz e resulta de transformações. Os brinquedos acumulam significados atribuídos não só pelo indivíduo, com que ele brinca naquele instante, mas também por várias gerações e povos, ao longo da história da humanidade. Portanto, pode-se concluir que o espaço hospitalar humanizado, contribui tanto para a recuperação física, psíquica e emocional quanto para o desenvolvimento cognitivo da criança/adolescente hospitalizado, além de aproximá-lo da possibilidade de sua reintegração social. Cabendo assim aos profissionais da educação e da saúde o papel de humanizadores do ambiente hospitalar, transformando-o em um ambiente acolhedor, aconchegante, alegre e, sobretudo solidário. 40 3.7 LIMITES E DESAFIOS NO CONTEXTO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR O pedagogo atuante em ambiente hospitalar enfrenta a cada dia um novo desafio, devido ao encontro diário com um sujeito debilitado por sua doença, contudo ainda esperançoso com sua recuperação e com seu retorno a sua realidade e rotina de vida. Entende-se por doença um processo natural da vida, mas é de difícil compreensão quando envolve criança que sofre por algum tipo de deficiência seja ela física, metabólica, hematológicas e outras mais encontradas dentro da área hospitalar. O tratamento da doença é quem determina o tempo da criança/adolescente no hospital, e a distância da escola regular, a Pedagogia em ambiente hospitalar veio para suprir as necessidades desta criança e adolescente hospitalizado, e a modalidade como assim é reconhecida se vê todos os dias diante a uma batalha quando se fala principalmente de saúde x doença. Nesta perspectiva Matos e Mugiatti afirmam que: Se a doença, portanto, se mostra multifatorial, não é justo que se realize um atendimento meramente físico, assim atentando apenas para o mais evidente, perturbador e residual, descartando os demais aspectos, igualmente importantes, que contribuíram para sua instalação e, seguramente contribuirão para sua recidiva, se não forem devidamente solucionados. (2007, p. 20) Sobre esta ótica, os limites impostos pela doença a cada dia exigem dos pedagogos a força e a vontade para romper estas barreiras, colocando em prática ideias inovadoras e criativas, como por exemplo, produzir projetos novos, dinâmicos e criando espaços lúdicos com a finalidade de elevar a autoestima da criança/adolescente diminuindo o sofrimento e descontraindo para que possa esquecer nem que seja por alguns minutos o seu estado de saúde. Matos e Mugiatti, sobre as atitudes inovadoras afirmam que: Inovar, abrir caminhos nunca foi tarefa das mais fáceis. A grande dificuldade daquele que ousa buscar o novo não esta nos percalços do devir, mas no forte enraizamento das resistências do vigente que, de repente, vê seus valores se esvaecerem diante de outros mais abrangentes. (2007, p 23) 41 Com certeza o trabalho a ser desenvolvido por profissionais da educação dentro do ambiente hospitalar deve ser realizado de forma a contribuir ao desenvolvimento cognitivo dos educando que por motivos alheios a sua vontade encontram-se impossibilitados de frequentar as salas de aulas regulares. Para que tal contribuição se torne efetiva, torna-se necessário um ambiente apropriado e adequado às condições impostas à criança e adolescente hospitalizado. Ambiente este, sendo um verdadeiro desafio a ser transposto pela equipe pedagógica. A tão necessária organização da Classe Hospitalar é exigida e garantida pelo documento Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: estratégias e orientações. (BRASIL, 2002) Os ambientes serão projetados com o propósito de favorecer o desenvolvimento e a construção dos conhecimentos para as crianças, jovens e adultos, no âmbito da educação básica, respeitando suas capacidades e necessidades educacionais especiais individuais. Uma sala para desenvolvimento das atividades pedagógicas com mobiliário adequado e uma bancada com pia são exigências mínimas. Instalações sanitária próprias, completas, suficientes e adaptadas são altamente recomendáveis e o espaço ao ar livre adequado para atividades físicas e ludo-pedagógicas. Além de um espaço próprio para a classe hospitalar, o atendimento propriamente dito poderá desenvolver-se na enfermaria, no leito ou no quarto de isolamento, uma vez que restrições impostas ao educando por sua condição clínica ou de tratamento que assim requeiram. O atendimento pedagógico poderá também ser solicitado pelo ambulatório do hospital onde poderá ser organizada uma sala específica da classe hospitalar ou utilizarse os espaços para atendimento educacional. (p.15-16) Nesta perspectiva, a construção de um ambiente apropriado e adequado para o atendimento Pedagógico torna-se tão necessário e fundamental quanto a formação específica do Pedagogo Hospitalar. De acordo com Matos e Mugiatti, cabe ao pedagogo hospitalar uma formação e capacitação específica para tal trabalho, um olhar diferenciado, a fim de utilizarem práticas diferenciadas. [...] essas práticas da pedagogia hospitalar apontam para a necessidade de formação de pedagogos especializados para atuação no contexto hospitalar. Objetivando alicerçar sua continuidade dentro do contexto da pedagogia acadêmica, torna-se importante que se tenha em mente a sua significação em termos sociais, bem como a oportunidade que se oferece 42 para o desenvolvimento de práticas específicas, visando a adaptar condições aprendizagem que em determinadas situações que se instalam em contexto hospitalar são diferenciadas das que se apresentam nos padrões normais de sala de aula. (2007, p. 122) Além dos aspectos analisados, necessita também um sentimento de cooperação, pois, no ambiente hospitalar o profissional da educação não trabalha sozinho, mas com todos os demais profissionais da saúde e familiares. Enxergar e acreditar na criança enferma, assim como em qualquer criança, é um primeiro passo para compreendê-la, respeitá-la e auxiliá-la em seu processo de desenvolvimento, porque de acordo com Wallon (1941, p. 11) "a criança não sabe senão viver sua infância. Conhecê-la pertence ao adulto". A práxis do pedagogo deve estar voltada para uma atividade integradora conciliando a saúde e educação sobre o olhar da doença e sua ação transformadora para a criança/adolescente que precisa deste atendimento dentro ambiente hospitalar. Enfim, deve-se ter a consciência que há um grande caminho a percorrer, mas que não se deve desistir jamais. Pois, o trabalho desenvolvido vai muito além de somente transmitir conhecimento à criança/adolescente hospitalizado, é contribuir para um “viver melhor” do mesmo. 43 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS/ESTUDO DE CASO 4.1 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO PEDAGOGO DA REDE REGULAR DE ENSINO Esta entrevista foi realizada com Helen, sexo feminino, 44 anos, que é pedagoga de uma Escola Estadual do ES. Sua graduação é em Pedagogia e foi concluída há 10 anos. Atua nesta instituição há cinco anos como pedagoga. A entrevista foi analisada nos respectivos blocos temáticos apresentados abaixo: 1. PROCESSO DE FORMAÇÃO Helen me relatou que é pedagoga da instituição há 5 anos e que o caso de Mel foi o único que ela vivenciou. Disse O caso de Mel foi o primeiro de discente ainda que a doença de Mel mexeu muito hospitalizado que a acompanhou? instituição emocionalmente com todos na escola. Pois era uma criança carismática e muito dedicada aos estudos. Mel cursou na instituição a 5ª, 6ª e se afastou definitivamente na 7ª série. Não. Quando me graduei, foi comentado muito brevemente e superficialmente Você acha que os cursos de graduação sobre essa vertente da Pedagogia da área de educação, de alguma forma Hospitalar. nos preparam para esse enfoque do Espero que em breve os cursos atendimento pedagógico da criança e comecem a focar mais essas novas adolescente hospitalizados? áreas pedagógicas, não só a hospitalar, como a prisional, a empresarial, a social e outras existentes. 44 Nas respostas dadas pela pedagoga Helen é visível que o tema Pedagogia Hospitalar ainda é algo muito distante da rotina escolar e também dos cursos de Pedagogia. Segundo Machado (apud, MATOS, 2010, p. 92), a Pedagogia tem como objetivo formar educadores para a educação regular e escolar. Os cursos de Pedagogia ainda não preparam o profissional para outras vertentes da Pedagogia como a Hospitalar, a empresarial, a prisional entre outras, o foco principal dos cursos ainda é a escola regular. Helen é formada há dez anos, mas pelo que se pôde observar os cursos de graduação não mudaram muito sua perspectiva. O profissional que se interessar pela área da Pedagogia Hospitalar deverá buscar especialização. Porém a mesma ainda não é ofertada na maioria das instituições restringindo assim o acesso aos cursos. Mattos afirma que: As observações e as práticas desenvolvidas em contexto hospitalar, vivenciadas durante a pós-graduação em pedagogia hospitalar, possibilitaram um conhecimento e entendimento maior da dimensão do campo de atuação do pedagogo em hospitais, permitindo afirmar sobre sua abrangência e relevância. (2010, p.84) As formações continuadas e especializações do profissional de educação tem se configurado como imprescindível para o desenvolvimento e a melhoria dos sistemas educativos, e isso implica na capacitação e qualificação dos profissionais que buscam atuar nesta área e legitimá-la como um campo significativo da prática pedagógica. 2. ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO O envio das atividades foi feito por cerca Por quanto tempo foi feito acompanhamento pedagógico de Mel? o de seis meses. Helen informou que todas as atividades eram separadas pelos professores e enviadas a Mel por intermédio de um primo que estudava na 45 mesma escola. Porém depois de um tempo a mãe não mais solicitou as atividades. Helen acredita que a família já estava focada na doença e que Mel não conseguia mais acompanhar as atividades da escola regular. As atividades foram em parte adaptadas a Mel. Pois quando ficamos sabendo do motivo do seu afastamento. Todas as As atividades que eram enviadas a Mel atividades realizadas na escola eram foram elaboradas especificamente para colocadas em uma pasta específica para ela ou eram as mesmas propostas para serem enviadas a ela. Mas com o a turma da escola? avanço da doença os professores começaram a adaptar as atividades e algumas vezes não eram enviadas com intuito de facilitar o aprendizado de Mel. Não houve nenhum contato por parte do Houve algum contato da equipe pedagógica hospitalar com a Escola? hospital. O trabalho do envio das atividades para Mel foi feito sempre por intermédio da família. É possível observar na entrevista que com a evolução da doença de Mel, ela não conseguiu acompanhar mais as atividades da escola regular. É aí que entra o olhar diferenciado do hedagogo Hospitalar. De acordo com Noff e Rachman: ... Faz necessário esclarecer que tal oferta de ensino no ambiente hospitalar deve ser pensada com cautela, pois não pode ser reduzida à mera transferência das práticas do ensino regular ao ensino hospital, considerando as diferentes demandas dos diversos alunos pacientes. (2007, p. 162). 46 O pedagogo Hospitalar deve buscar nesta problemática desenvolver atividades que despertem interesse no aluno e não deve estar somente focado em ensinar conteúdos e sim buscar o bem estar da criança ou adolescente, elevar sua autoestima. Pois o papel do pedagogo hospitalar vai muito além de ensinar conteúdos. Confirmando essa visão Assis, ressalta que: A programação das atividades escolares tem características próprias, adaptadas às necessidades físicas, sensoriais e de aprendizagem dos alunos, abrangendo os vários fatores envolvidos nas relações com o ambiente hospitalar. (2009, p.92) Demonstra-se assim que o trabalho desenvolvido com os alunos hospitalizados é muito mais abrangente, ele tem não somente o foco cognitivo, como o físico, o emocional e além de tudo o afetivo. O professor hospitalar é o elo da criança hospitalizada com a realidade que vivia antes de ser internada. 3. VISÃO EM RELAÇÃO AO ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO HOSPITALAR Muito importante, pois é a oportunidade da criança sair do isolamento do hospital Qual sua opinião como profissional da área de educação, a respeito do atendimento a crianças e adolescentes hospitalizados? e estabelecer contato com sua antiga rotina. Eles se sentem valorizados como pessoa. Esse trabalho é de grande importância na recuperação ou convívio com a doença, pois ajuda a elevar a autoestima. Apesar de o ambiente hospitalar não fazer parte da realidade de trabalho da pedagoga Helen. A visão dela considera que é de suma importância o trabalho da Pedagogia Hospitalar, reconhecendo o papel da Pedagogia no processo de humanização e da condição da criança hospitalizada em socialização e todas as suas dimensões físicas, cognitivas e emocionais. 47 Em relação ao sofrimento, Mattos afirma que: [...] é grande e muitos precisam ultrapassar situações difíceis, pois alguns passam longo tempo com dor, e sua recuperação está diretamente ligada ao seu estado físico e emocional. Assim os profissionais que convivem com estas crianças e adolescentes observam a melhoria e a mudança do estado de saúde quando ocupam o tempo ocioso com atividade pedagógica dentro do hospital. Alguns manifestam a preocupação de estar fora de casa e também da escola, pois temem não acompanhar os estudos quando se recuperarem e voltarem ao convívio da família em suas casas e na escola. (2010, p.11) A reflexão do autor propõe pensar a Pedagogia Hospitalar juntamente com pedagogos e os profissionais da saúde, família e escola, a interação para ajudar as crianças e adolescentes a superarem seus medos, e proporcionar uma recuperação aliviada por meio de atividades lúdicas, pedagógicas e recreativas. E é esse o sentido e a essência da interação de todos os agentes envolvidos no processo educativo, de socialização e recuperação dessas crianças, pois a força dessa proposta está na convergência de todos esses interessados e na perspectiva da globalidade dessa problemática. 48 4.2 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO PEDAGOGO HOSPITALAR Paula, 29 anos de idade, possui o 3º grau completo, funcionária de uma Instituição Pública Estadual, há um ano atua na função de professora em ambiente hospitalar. A entrevista aconteceu no ambiente de trabalho de Paula, e entre um atendimento e outro a professora respondia as perguntas elaboradas com orientação da professora e orientadora do trabalho de conclusão de curso, que ao final da entrevista dividiu as perguntas em blocos temáticos. Estes blocos temáticos abordaram à formação, o cotidiano da Pedagogia Hospitalar, a família, perspectivas e visão de alcance da Pedagogia Hospitalar e propostas da Pedagogia Hospitalar. A proposta da entrevista é mostrar a realidade e contexto que o Pedagogo vive no dia a dia. 1. A formação Há quanto tempo trabalha nesta área? Possui especialização na área de Pedagogia Hospitalar? Há doze meses trabalho nesta área e há três anos é formada em Pedagogia. Não, mas possuo em outras áreas e pretendo fazer pós em gestão hospitalar. Em análise ao quadro acima sobre a formação do pedagogo percebe-se que nas instituições de ensino universitário pouco se falam da modalidade de ensino que por sua vez falha em não preparar o pedagogo para trabalhar também em instituições não escolares, a divulgação desta modalidade deveria ser mais consistente, pois a continuação do saber independe do espaço escolar. Sobre a formação do educador Marques, afirma que: Busca-se formar um educador ao nível dos demais, com e como eles portador de uma sólida formação teórica atenta aos desafios que lhe porá a 49 concretude ampla das práticas da educação escolar. Neste eixo articulador, que é a formação pedagógica, coletiva e ampla, capaz de dar conta das práticas diversas, e justamente porque diverso, no interior dos processos de educação, ai se insere, como raios divergentes, a distinta atenção que se deverão prestar as situações varia e concretas objetivações. (2003, p.122) De acordo com Paula, durante sua formação não ouviu falar desta modalidade e que realmente só conheceu pelos editais de processos seletivos, e que ela acredita que a formação deste profissional tem que ser dentro das faculdades e não só nas especializações. 2. O cotidiano da Pedagogia Hospitalar. O hospital atendimentos, O Hospital possui classe hospitalar ou atendimento individual? possui a os classe dois para tipos de aqueles alunos que podem se locomover e o atendimento no leito que é realizado quando solicitado pela gerente da unidade e ambos são individualizados. Não, na verdade quem traz os pacientes Quando o paciente é internado existe a procura do atendimento? são os profissionais de saúde ou os pais quando estão passando e acham que a sala é um espaço para recreação, mas a maioria das famílias sabe da existência do atendimento na unidade. 50 Quando o aluno chega à instituição a família e o aluno preenche uma ficha Como é atendimento? a sua rotina de investigativa na qual descreve o nível de conhecimento, e a família leva outra ficha para a escola com a finalidade de analiar o processo de ensino do aluno. A continuação dos estudos das crianças, adolescentes e jovens deve permanecer no ambiente que se fizer necessário, para que não haja prejuízo e déficit no aprendizado evitando repetência de ano ou até mesmo desistência e da continuidade de seus estudos devido ao afastamento por motivo de doença. A esse respeito Matos e Mugiatti salientam que: A educação que se processa, por meio da Pedagogia Hospitalar, não pode ser identificada como simples instrução (transmissão de alguns conhecimentos formalizados). É muito mais que isto. É um suporte psicosócio-pedagógico dos mais importantes, porque não isola o escolar na condição pura de doente, mas, sim o mantém integrado em suas atividades da escola e da família e apoiado pedagogicamente na sua condição de doente. (2007, p.47) O atendimento hospitalar de acordo com a professora acontece em classe hospitalar que a instituição possui e atendimento no leito no qual este funciona a partir de uma ficha avaliativa que é preenchida pelos alunos e pais que buscam informações na escola. Esta ficha tem a proposta de saber o nível de conhecimento do aluno para que a professora de andamento ao processo de ensino aprendizagem. O seguimento do ensino aprendizagem depende de uma investigação prévia do aluno e seu conhecimento de mundo que é importante nesta questão para a elaboração do plano de aula para atender estes alunos da classe hospitalar, e a integração da Escola com o Hospital e o apoio dos pais em buscar os conteúdos e levar o que o aluno realiza enquanto esta no hospital. 51 3. A família Eles vão até a escola, fazem a ligação Como a família contribui para o entre a Escola e o Hospital e ajudam com melhor andamento de seu trabalho o material didático para melhor atender o com o paciente/aluno? aluno. Apesar de no início acharem que a classe hospitalar é só uma sala de recreação. A classe hospitalar para a família em seu primeiro instante é vista como ambiente de recreação dos alunos/pacientes, mas quando os profissionais lhes convidam a participar do projeto e lhe explicam como funciona e os direitos que as crianças possuem eles compreendem melhor o porquê desse atendimento especializado dentro do hospital. A família é o cordão umbilical que alimenta o saber entre o Hospital e a Escola e contribui de forma efetiva e afetiva no processo de humanização e alfabetização do aluno em sua fase hospitalar. Segundo Matos e Mugiatti (2007, p. 125), este processo se confirma na “atitude estimulante dos pais ou responsável representa uma significativa contribuição, em termos psicológicos, para estruturação da personalidade da criança (ou adolescente) hospitalizada”. Esta parceria possibilita ao professor desempenhar o seu papel de educador com mais segurança e certeza de contribuição para um futuro certo aos alunos que necessitam do atendimento especial e diferenciado. Acredita-se que os pais devem desenvolver não só nos hospitais, mas, nas escolas de ensino regular o estimulo de continuidade dos estudos de seus filhos. 52 4. Perspectivas e Visão de Alcance da Pedagogia Hospitalar É de suma importância, todo o hospital deveria ter o atendimento especializado, Qual sua opinião sobre o para que a criança se sinta inserida na atendimento da Pedagogia dentro do escola quando retorna para a escola, Hospital? apesar de estar internada. Os hospitais deveriam ter o atendimento diferenciado. Os profissionais da área de saúde são colaboradores do trabalho Pedagógico, Como os profissionais da área de eles estimulam as crianças mesmo quando saúde compreendem o seu os pais não sabem do atendimento os atendimento? levam até a classe hospitalar. Produtivo, o paciente se sente mais alegre se recupera melhor, com animo novo com Como você vê o seu trabalho, na as atividades propostas apesar de estarem recuperação do paciente? internadas e isto é notável dentro da pediatria. Qual a contribuição do seu trabalho pedagógico paciente? na recuperação Elevo a autoestima, estímulo o paciente e do a família para que não venham desanimar devido à doença e acredito que a minha contribuição vai além da educação. 53 O atendimento diferenciado deveria ter em todos os hospitais que se fizer necessário a continuidade do educando, pois a continuidade é garantida por lei e o seu processo de ensino aprendizagem independe do espaço escolar. De acordo com Matos e Mugiatti afirmam que: Para o sucesso deste intento recomenda-se rever aspectos de possibilidades num espaço planejado, o qual se constituirá no paradigma mais amplo da educação que busca a natureza do aprendizado, em contraposição de métodos que levem apenas a instrução. (2007, p.105) A contribuição pedagógica vai além do ser educado mais parte também para o emocional que possibilita o paciente a sua melhora e recuperação no processo da saúde e doença que o individuo passa ao longo de sua vida, sendo assim de acordo com Matos e Mugiatti (2007, p. 104) “a enfermidade acaba, quase sempre, por atingir os aspectos-cognitivos, psicológico e social – da criança (ou adolescente) hospitalizada, e isso se reporta a um momento de atendimento especial em sua vida”. Esse momento de atendimento especial para criança e adolescente, acontece de forma carinhosa e humanística pelo educador que trabalha com esta modalidade de ensino dentro do ambiente hospitalar. 5. Propostas da Pedagogia Hospitalar Qual sua opinião para melhorar o atendimento do Pedagogo no Disponibilização de material didático. ambiente hospitalar? Para a continuidade do trabalho é preciso à parceria de todos, não só dos profissionais de saúde e de educação, mas dos gestores a fim de colaborar com materiais didáticos e um ambiente educador, pois para se educar é preciso de um ambiente que favoreça. 54 Para o sucesso deste intento, Matos e Mugiatti (2007, p.105) recomendam que se deva “rever aspectos de possibilidades num espaço planejado, o qual se constituirá no paradigma mais amplo da educação que busca a natureza do aprendizado em contraposição de métodos que levem apenas à instrução”. A Pedagogia Hospitalar precisa de mais apoio, pois ela esta presente e não pode ser ignorada, mas sim reconhecida como mais um ambiente de continuidade de seus estudos. 55 4.3 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DA MÉDICA PEDIATRA Amanda, 35 anos de idade, Médica Pediatra há 13 anos, especializada em Infectologia Pediátrica há 10 anos. Profissional atuante em Hospital Público Pediátrico. 1. A Visão sobre a Pedagogia Hospitalar Hoje em dia cada vez mais a doença Qual a sua opinião da importância da atuação do pedagogo no ambiente hospitalar? crônica está presente na vida da criança, fazendo com que elas praticamente vivam dentro do hospital. Principalmente por esse motivo há a necessidade do pedagogo dentro do Hospital. Sim e muito. Porque moramos em um país praticamente analfabeto. A tecnologia está muito presente no nosso dia a dia principalmente no campo da Você considera importante na atualidade medicina em que melhorou a sobrevida o atendimento educacional às crianças do hospitalizadas? paciente, porém ainda não proporcionou a cura. Nesse sentido o atendimento educacional dentro do ambiente hospitalar vem proporcionar junto com a medicina a melhora na sobrevida do paciente. A sociedade atual, com suas especificidades e necessidades exigem do sistema de ensino novas adequações, um novo perfil do profissional da educação, principalmente nesta modalidade de ensino, não tão nova em nossa realidade, mas ainda pouco explorada. 56 A respeito do campo de atuação do pedagogo, Libâneo (apud, MATTOS, 2009, p.83) afirma que: É quase unânime entre os estudiosos, hoje, o entendimento de que as práticas educativas estendem-se às mais variadas instâncias da vida social não se restringindo, portanto, à escola e muito menos à docência, embora estas devam ser a referência da formação do pedagogo escolar. Sendo assim o campo de atuação do profissional formado em pedagogia é tão vasto quanto são as práticas educativas na sociedade. Em todo lugar onde houver uma prática educativa com caráter de internacionalidade, há ai uma pedagogia. A atuação do Pedagogo em ambiente Hospitalar vem contribuir para o retorno da criança e adolescente hospitalizado à sua rotina de vida, proporcionando a possibilidade do retorno à Escola regular sem prejuízos à sua educação. Em referência à importância e ao reconhecimento da Classe hospitalar, Nascimento e Freitas (apud, MATOS; TORRES, 2010, p. 24) afirmam que: O serviço de cunho educativo de maior expressividade nos hospitais brasileiros remete-se a Classe Hospitalar, legalmente reconhecida a partir de 1994, com a Política Nacional de Educação Especial (Brasil, 1994), a qual afirma que a Classe Hospitalar é a modalidade de atendimento educacional-pedagógico no contexto do hospital. Preconiza a Classe Hospitalar como modalidade de ensino que prevê a assistência educativa às crianças internadas, caracterizadas como crianças em situação de risco educacional ao fracasso escolar e à evasão escolar. Como podemos observar a incidência de doenças crônicas na infância e na adolescência estão cada vez mais presentes em nossa realidade, desta forma a permanência da criança e adolescente em ambiente hospitalar, se tornam longos e duradouros fazendo com que a criança se afaste da Escola, acarretando sérios prejuízos ao seu desenvolvimento cognitivo e psicológico. 2. O Impacto e a Importância do Atendimento Pedagógico no Tratamento Clínico das Crianças e Adolescentes Hospitalizados Do ponto de vista clínico como você Vou utilizar um ditado muito antigo que observa a interferência Pedagógica no minha avó falava: “mente desocupada, tratamento e recuperação criança/adolescente hospitalizada? da oficina do diabo”. Com o ensino dentro do Hospital você desvia o foco da 57 doença, pois a criança se envolve com os conteúdos da escola, se preocupa com português, matemática, se preocupa com outras coisas, se desvia dele a preocupação maciça com a doença, a preocupação com a alta, com o tratamento muitas vezes doloroso. Você dá um novo sentido de vida. Você dá objetivo para que ele volte a sonhar, seja com sua melhora, seja com seu retorno ao lar, ou ao seu retorno a escola. E isso só contribui com a recuperação do paciente. Fundamental, Hospitais principalmente que atendam em crianças portadoras de doenças crônicas, mas é necessário em minha opinião um maior envolvimento de todos os membros da Qual a sua necessidade Pedagógico hospitalar? avaliação do dentro quanto à equipe de saúde e pedagógica, para que atendimento possa do se quebrar vários ambiente paciente é de todos, e tabus. O com um atendimento melhor, o único beneficiário será a criança. A criança que tem o atendimento fica mais receptiva ao tratamento, eleva sua autoestima, e isso só contribui para sua recuperação. O atendimento pedagógico em ambiente hospitalar contribui efetivamente para o autoconhecimento da criança e adolescente hospitalizado a respeito do seu estado de saúde e de seu tratamento, mesmo estando em um ambiente não comum a eles, como afirmam Nascimento e Freitas (apud, 2010, p. 23): 58 [...] a criança se vê em um ambiente estranho, cercada de pessoas igualmente estranhas. Os procedimentos terapêuticos são, muitas vezes, dolorosos e invasivos, e, nesse contexto, o processo da doença pode levar a descaracterização da personalidade infantil. Nesta ótica, o profissional da educação atuante no ambiente hospitalar oferece subsídios para o retorno do aluno ao seu ambiente comum, como também uma maior compreensão do seu estado de saúde, sua doença. Assim, a participação efetiva do Pedagogo Hospitalar, auxilia concretamente na recuperação e na sobrevida da criança e adolescente hospitalizado. A possibilidade de retorno à escola, “permite que a criança se mantenha conectada com a vida normal e reforça a esperança de sentir-se bem e de curar-se.” (GRANEMANN, apud, MATOS; TORRES, 2010, p. 135) Seja a criança portadora de uma doença crônica ou de uma doença com maior possibilidade de recuperação, a permanência dela em um ambiente estranho e considerado muitas vezes “frio”, faz com que ela se distancie de sua rotina de vida. Distância essa que não contribui e sim prejudica sua recuperação. Quando a criança ou adolescente hospitalizado têm o acompanhamento pedagógico no ambiente hospitalar, este ambiente anteriormente considerado “frio” se torna acolhedor e aconchegante, contribuindo assim para a recuperação e elevando sua autoestima. 3. Relação Equipe Médica com a Equipe Pedagógica No Hospital em que trabalho é muito Existe de alguma forma a participação pouca e de forma arcaica. O Pedagogo do profissional médico no que se refere atende ao atendimento Pedagógico? a demanda espontânea. O Professor não procura o Médico para saber o diagnóstico ou sugestões. E o Médico também não procura o Professor para solicitar o acompanhamento para o 59 seu paciente. Tenho observado que não existe preparo psicológico do Pedagogo para atender crianças com doenças crônicas, principalmente crianças com AIDS, existindo muito preconceito, às vezes medo até de se aproximar, de tocar a criança. Eu penso que deve ter um melhor entrosamento da equipe, já podemos comprovar a importância deste atendimento, porém seria necessário um maior diálogo profissionais Quais sugestões você daria entre envolvidos, todos os Professores, para Médicos, Enfermagem, Psicólogos, etc. melhorar a relação entre a equipe O paciente pertence a todos, e sua Médica e a equipe Pedagógica? recuperação, ou melhora da sobrevida depende de todos. Para isso eu acredito que poderiam acontecer reuniões semanais, para discussões de diagnóstico, melhores técnicas, momentos para tirarmos dúvidas e acharmos soluções. Observa-se nessas informações apresentadas pelo entrevistado que há a necessidade de um trabalho em conjunto com a toda a equipe envolvida com a criança e adolescente hospitalizado, como afirma Matos e Mugiatti: A Pedagogia Hospitalar, por suas peculiaridades e características, situa-se numa inter-relação entre os profissionais da equipe médica e da educação. Tanto pelos conteúdos da educação formal, como para a saúde e para a vida, como pelo modo de trazer continuidade do processo a que estava inserida de forma diferenciada e transitória a cada enfermo. (2001, p.37) 60 O trabalho em conjunto entre a equipe Pedagógica e a equipe de saúde, torna-se uma base fundamental para que os objetivos propostos com a Pedagogia Hospitalar sejam alcançados como, por exemplo, a recuperação, a elevação da autoestima, a possibilidade do retorno aos estudos após o tratamento sem prejuízo ao seu aprendizado se concretize. Em relação à necessidade do trabalho em conjunto Assis afirma que: Assim fica estabelecida uma verdadeira parceria colaborativa, visto que saúde e educação trabalham juntas compartilhando objetivos, responsabilidades, expectativas, frustrações e sucessos. Todos têm a ganhar com um trabalho colaborativo, porque ele tende a responder com maior qualidade às demandas da pessoa enferma e, quando da alta hospitalar, facilitar seu processo de (re) inclusão social/escolar. (2009, p.88) Para tanto, se torna necessário à formação adequada dos profissionais da educação para que se preparem psicologicamente e emocionalmente, para o trato e convívio constante com crianças que necessitam de maior atenção, devido suas especificidades clínicas e patológicas. É necessário um olhar acolhedor e solidário direcionado àqueles que apresentam limites físicos, emocionais, sociais, culturais, psicológicos ou cognitivos. Olhar este devendo ser pertencente a todos os sujeitos envolvidos independente de ser da equipe de saúde ou pedagógica, para que juntas possam traçar metodologias e estratégias de intervenção sempre com a preocupação com o indivíduo humano. 61 4.4 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DE UMA MÃE A presente entrevista foi realizada com Maria, 44 anos de idade, dona de casa, mãe de Mel, filha única, uma adolescente que ao ser hospitalizada encontrava-se com 12 anos de idade e que cursava a sexta série de ensino fundamental em uma Escola Pública. Hospitalização esta que teve duração de 11meses em um Hospital Público Pediátrico com o diagnóstico de Leucemia tipo T um caso raro de manifestação da doença, em que não há possibilidade de transplante de medula óssea ou cura (informação esta dada por Maria), no qual Mel veio a falecer quando já havia completado 13 anos de idade. Maria ao se lembrar de Mel e começar a relatar a sua rotina de vida, começou a chorar muito pedindo para interromper a entrevista e para que pudéssemos recomeçar em um novo dia, em outro momento, pois ela não estava se sentindo muito bem. No segundo momento Maria já se apresentava mais calma, porém, solicitou caso ela sentisse necessidade ela iria pedir a presença de seu esposo, no qual foi concordado. De início na gravação pudemos observar sua voz embargada, contudo no decorrer de sua fala ela foi se tranquilizando, podendo assim relatar com detalhes a rotina de internação e atendimento pedagógico de Mel. “Em novembro, nós descobrimos que a Mel estava doente quando apareceu um carocinho no pescoço dela, aí eu e o Jorge (pai de Mel) a levamos para o hospital, onde ela já ficou internada para fazer alguns exames, e na próxima semana os médicos nos chamaram para dizer que ela estava com leucemia. Ai, Mel começou o tratamento e de novembro até maio nós achávamos que era uma leucemia comum, mas em maio em meio a um bloco de quimioterapia os médicos descobriram que era uma leucemia tipo T, que é uma leucemia muito rara nos disse a doutora ainda que nos próximos 10 anos, que se teria mais aprofundamento nos estudos sobre esse tipo de leucemia, para assim se descobrir um tratamento, que não tinha nem chance de transplante, mas Mel continuou com as sessões de quimioterapia, e isso durou por onze meses. Em novembro Mel estava cursando a sexta série do ensino fundamental, e como ela sempre foi boa aluna, ela tinha boas notas e por isso ela já tinha passado de ano, então ela foi aprovada para a sétima série. No início do novo ano, ela já estava na sétima série, e os professores começaram a mandar atividades para ela por suas coleguinhas de classe, que as levavam até minha casa e Jorge levava as atividades para o Hospital para que Mel pudesse fazer, e no hospital tinha também os professores que 62 tem uma sala de aula, mas como Mel não podia ir até a sala de aula os professores iriam até a enfermaria que ela estava para dar aula para ela. Então tanto os professores da escola mandavam atividades como os professores do hospital também davam atividades para ela e acompanhavam as atividades que eram levadas da escola. Depois que Mel terminava as atividades que a escola mandava, Jorge levava para a escola para que os professores pudessem corrigir. E era sempre assim ele juntava mais, ela fazia, Jorge levava, e a Mel foi estudando assim. E isso começou em novembro e depois quando retornou as aulas, mas a escola foi parando de mandar tarefas para ela e foi ficando muito difícil para o pai dela levar para a escola as atividades, então ela começou a fazer somente as atividades preparadas pelas tias do Hospital, por serem mais adaptadas ao seu estado de saúde e por ela ficar mais no Hospital. Mel amava a rotina de estudo no Hospital, ela estudava o dia todo, Mel lia muito, ela estava lendo três livros. Lia um livro atrás do outro, o pai dela comprava livros pela internet, os Enfermeiros dava livros para ela de presente, tinha uma doutora que também deu um livro para ela, eles ficavam encantados por ela estar sempre lendo. E isso ajudava muito porque ela estava lá, mas estava estudando, estava em contato e isso foi muito bom. E essa rotina era todos os dias. Todos os dias, de segunda a sexta ela tinha o seu horário de aula e as professoras iam até Mel para passar atividades. Mas, nos dias que ela tinha quimioterapia e ela não estava se sentindo bem ela não queria, ela dizia „ tia hoje eu não quero fazer dever ‟. Mas era muito difícil isso acontecer, pois mesmo ela passando mal, ela doentinha, ela queria fazer. Só nos dias que ela fazia a quimioterapia que era feita na coluna, na espinha, então o dia que ela fazia isso ela tomava um remedinho para dormir e nesse dia Mel dormia muito, então nesse dia ela ficava muito sonolenta então ela não fazia a aula, mesmo as tias indo elas levavam as atividades para ela e colocavam debaixo do travesseirinho dela. Às vezes ela fazia as atividades de madrugada, ela mesma pegava, fazia tudo e no outro dia a tia passava e corrigia. Em momento algum Mel fez avaliações no hospital, acredito por não ter dado tempo, porque ela foi piorando e ficando muito ruinzinha e com isso ela só conseguiu estudar até julho. Nesse período ela queria era ler, fazer mais pinturas, desenhos e não a fazer mais os deveres de português, de matemática. E as tias respeitavam muito isso nela, deixando com que ela fizesse o seu próprio horário e dando deveres de leitura e pintura. Eu acho que foi por Mel ser muito dócil e carinhosa com todos. Todos eles eram muito maravilhosos com minha filha e com todos os que estavam na mesma enfermaria que Mel, e todos eles tinham acompanhamento desde os mais pequenininhos, com atividades com brinquedos e jogos educativos. Eu lembro que na sala de aula tinha uma mesa bem grande com muitos brinquedos montados, eles ficavam brincando, pintando, rabiscando. Todos tinham atividades diárias com as tias do hospital. Nunca nenhum médico me disse que isso tudo ajudava a Mel, mas eu percebia que ajudava e muito ficava animada, e isso era muito maravilhoso para mim, era muito bom ver ela assim, ela entertia muito. Mel era uma criança que em momento algum, nunca me disse „ mãe eu estou triste, eu 63 estou doente „. E ela acreditava a todo o momento que voltaria para a escola, que iria ficar curada. Ela tinha muitos sonhos. Eu acho que a maneiras que eles tratam as crianças ajudam e muito para que elas continuarem a sonhar, pois elas ficam muito tempo dentro do Hospital e ficam afastadas de tudo. Eu lembro que na época, Jorge comprou um notebook para ela, para que mesmo lá dentro pudesse se comunicar com as coleguinhas aqui fora e com os parentes. Por causa da quimioterapia as crianças ficam muito tempo dentro do Hospital, não podendo nem ir para fora do Hospital por causa do sol, por causa do contato com outras pessoas, devido à imunidade que fica muito baixa, então isso é muito difícil para elas e esse atendimento ajuda muito às crianças. Mel completou 12 anos no dia 25 de junho de 2008, no dia 10 de novembro de 2008 ela foi hospitalizada, no ano seguinte ela completou 13 anos dentro do Hospital, falecendo no dia 29 de setembro de 2009. Foram 11 meses de tratamento. Hoje ficam as lembranças boas e dolorosas e muitas saudades. Mel em nenhum momento reclamou, nem mesmo quando precisou raspar sua cabeça devido à queda dos cabelos por causa da quimioterapia, ela sempre teve um sorriso em seu rosto. No dia do seu aniversário de 12 anos, nós estávamos andando pela rua e ela me disse que achava que iria morrer muito cedo, isso me deixou muito assustada. Quando nós recebemos a notícia de sua doença ela pediu licença a toda a equipe para ficar sozinha comigo e com seu pai, e me perguntou: “mãe, você acredita?”, e essa pergunta ela me fez por três vezes, até eu responder que eu acreditava. Então ela me disse, „mãe eu não te disse que não viveria muito, que eu morreria cedo?‟. Ela foi muito desejada, desde que eu descobri que estava grávida eu parei de trabalhar para cuidar dela, e não me arrependo nenhum segundo de minha vida. Ela só me deu alegria. Eu acredito que Mel foi um anjo que Deus me deu, como diz em Hebreus 13, „permaneça o amor fraternal, não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não sabendo, hospedaram anjos‟. Ela foi o “anjo que Deus quis que eu cuidasse”. Ao analisarmos a entrevista realizada com esta mãe, pudemos observar que Maria em todo momento comentou com muito carinho sobre todo o ocorrido com sua filha, aqui carinhosamente chamada de Mel, fazendo-nos perceber o grande envolvimento emocional e afetivo que ocorreu entre a família da adolescente hospitalizada e a equipe pedagógica. Com toda afetividade envolvida a mãe fala do acompanhamento pedagógico com uma função importante de dar esperança de vida, de sonhar e projetar vida para além dos problemas enfrentados. 64 O câncer na adolescência como no caso de Mel pode acarretar vários problemas desde os de estética como psicológicos, como é afirmado e questionado por Lucon (apud, MATOS; TORRES, 2010, p. 289). Para o adolescente, entre muitas implicações que acarreta o diagnóstico de câncer pode prejudicar o desenvolvimento da sua identidade, levando-o a perder o sentido de sua continuidade histórica e a perspectiva de futuro, pois a hospitalização traz consigo a percepção da fragilidade, do desconforto da dor e a insegurança da possível finitude. [...] O distanciamento dos amigos, o afastamento de casa, o administrar o tratamento, o conviver com condutas invasivas e cirúrgicas necessárias, o lidar com a mudança no ritmo e estilo de vida, o abandono de projetos, de sonhos, e a inevitável interrupção dos estudos. Frente a esta realidade, como fica a vida escolar deste adolescente? Nesta ótica, o profissional da educação no ambiente hospitalar passa então a ser visto além do papel de um recreador hospitalar, como alguém que proporciona o retorno a capacidade de sonhar seja com sua recuperação, seja com o retorno a sua vida “normal” com seu retorno a escola regular, ou até mesmo com sua cura. De acordo com Santos e Souza (apud, MATOS, 2009, p.115), o apoio pedagógico tem a função de ser: [...], mais que tentativa de repor a ausência do aluno à escola, tem se manifestado como fator importantíssimo ao pronto restabelecimento da saúde do educando, pois, se verifica que, motivados pela assistência educacional, os pacientes sempre se manifestam melhoria nos seus estados de saúde, consequência direta da valorização humana que sentem ao receberem complementação educacional enquanto submetidos a tratamentos de saúde. (2009, p. 115) Mas para que isso se concretize, será exigida do educador uma escuta mais aguçada, que vá além de sons, que escute qualquer forma de expressão da criança. É necessário que o educador passe a conhecer bem a criança ou adolescente hospitalizado, para poder respeitar as limitações impostas aos internos. Segundo Martins (apud, MATOS, 2009, p. 100), “a escuta vai muito mais além que dos choros e das vozes; ela interpreta o desejo, o olhar, a dor da criança, lê nas entrelinhas dos movimentos à sua volta, visualizando a esperança que a criança tem em viver”. 65 O pedagogo hospitalar e a equipe de saúde devem, portanto, em seu olhar, em sua escuta respeitar as histórias de vida de seus alunos/pacientes e seus familiares, sendo que estas histórias são únicas e singulares. Podemos observar que o atendimento educacional oferecido a Mel contribui tanto para a melhora em sua autoestima, como também proporcionou à família a continuidade dos sonhos do seu retorno ao lar. O atendimento pedagógico apesar de direcionado à adolescente refletiu diretamente em sua família, sendo esta relação proveitosa para ambos os lados, por incentivar a participação e envolvimento por parte da família em todo o processo, como é afirmado por Santos e Souza (apud, MATOS, 2009, p. 114). É neste momento que os profissionais da educação devem trabalhar para despertar a consciência da criança, do adolescente e da família acerca da importância da continuidade de seus hábitos cotidianos, respeitando os limites impostos pelo processo vivenciado, esclarecendo à família e muitas vezes a escola de origem sobre o direito legal da criança continuar seu processo de escolarização. O atendimento pedagógico deve, portanto, ser oferecido a todas as crianças hospitalizadas, independente de idade ou patologia. Sendo que este atendimento como dito anteriormente deverá respeitar as limitações impostas a cada criança, como por exemplo, as crianças que não podem se deslocar até a classe hospitalar deverá como no caso de Mel ter o seu atendimento no próprio leito. O atendimento pedagógico irá por várias vezes ultrapassar as questões didáticas, de conteúdos a serem dados. Ele passará a ser por várias vezes o único elo da criança com o ambiente externo, com sua realidade de vida anterior, com sua história. Enfim, como afirma Porto (2008, p. 99), para ser um pedagogo hospitalar há a necessidade de se ter: [...] muita coragem e determinação. É tirar o salto alto quando for preciso e usá-lo quando for necessário. É ter coragem e determinação aliadas ao embasamento teórico não só pedagógico, mas também patológicos e psicopatológicos. É arregaçar as mangas quando o serviço for pesado e, principalmente, não desanimar nunca. É difícil? É, mas não impossível. E finalmente é gostar de gente, do seu semelhante, como já dizia o poeta: „quando queremos e determinamos uma coisa, todo o universo conspira a nosso favor‟. 66 Isso é pensar a Pedagogia como um meio de dar esperança e coragem diante das adversidades da dor, da doença e como no caso de Mel o enfrentamento direto com a morte. 67 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A atuação do pedagogo no ambiente hospitalar ainda é uma prática não muito conhecida e reconhecida em nossa sociedade, mesmo esta prática sendo tão necessária nos dias atuais. Com isso a formação específica tão necessária e defendida nesta pesquisa é pouco explorada seja esta nos cursos de graduação onde se fala muito superficialmente dos espaços não escolares, como nos cursos de especializações ainda pouco vista e divulgada no meio pedagógico. É exigido do pedagogo hospitalar um olhar diferenciado quanto às especificidades de cada educando atendido, para isso se torna necessário uma flexibilidade no currículo para que este possa respeitar as condições a que a criança/adolescente se encontra. Podemos observar que ainda existe uma lacuna a ser preenchida quando se refere ao currículo no contexto hospitalar, cabendo ao pedagogo uma visão holística do meio a que o educando está inserido. A prática do pedagogo no ambiente hospitalar vem contribuir expressivamente na superação dos desafios impostos à criança e adolescente hospitalizado que são acometidos por doenças que por muitas vezes os afastam de seu ambiente escolar e principalmente familiar. O pedagogo hospitalar vem somar com a família e com toda a equipe de saúde para a recuperação física, emocional, psíquica, social, etc. Auxiliando ao educando no autoconhecimento de sua patologia como também por muitas vezes o lidar com a possibilidade da morte. Desta forma possibilitando a humanização e a integração da saúde e a educação, fundamentados no sonho, na educação, principalmente no amor e na formação específica dos profissionais que atuam nesta área. Enfim, devido à importância do pedagogo hospitalar na reintegração da criança e adolescente hospitalizado no meio escolar e social, ressaltamos a necessidade no aprofundamento de discussões e pesquisas que envolvam esta temática, a fim que se possa divulgar esta modalidade de ensino tão necessária às nossas crianças/adolescentes. 68 6 REFERÊNCIAS ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto. A psicologia no hospital. São Paulo: Traço, 1988. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar,1981. ASSIS, Walkíria de. Classe hospitalar: um olhar pedagógico singular. São Paulo: Phorte, 2009. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.mec.gov.br. Acesso em 15 de abril de 2010. ______, Direitos da criança e do adolescente hospitalizados. Diário Oficial, Brasília, 17 out. 1995. Seção 1, p. 319-320. Disponível em: <http://www.mec.gov.br. Acesso em 15 de abril de 2010. ______, (1994). Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília, DF (Mensagem especial, v. 1). Disponível em: <http://www.mec.gov.br. Acesso em 15 de outubro de 2010 ______. Ministério da Educação. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Secretaria de Educação Especial. Brasília, DF: MEC; SEESP, 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/livro9.pdf. Acesso em: 11 de março de 2011 CECCIM, Ricardo Burg, CARVALHO, Paulo R. Antonacci, (orgs.). Criança hospitalizada: atenção integral como escuta à vida. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1997. CECCIM, Ricardo B., FONSECA, Eneida S. . Classe hospitalar: buscando padrões referenciais de atendimento pedagógico-educacional a criança e ao adolescente hospitalizados. Revista Integração, MEC/SEESP, ano 9, nº 21,1999, p. 31-39. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1998. ESTEVES, Claudia R. Pedagogia Hospitalar: um breve histórico. Disponível em: http://qualievidanapedhospitalar.blogspot.com. Acesso em: 22 de março de 2010. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3 ed. São Paulo: Positivo, 2004. FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento escolar hospitalar: o trabalho pedagógico-educacional no ambiente hospitalar: a criança doente também estuda e aprende. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. 69 GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2000. MARQUES, Mario Osorio. A formação do profissional de educação.4 ed., Editora Unijuí, 2003. MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGIATTI, Margarida Maria Teixeira de Freitas. Pedagogia hospitalar: A humanização integrando educação e saúde. 2. ed . Petrópolis: Vozes, 2007. ______, Pedagogia Hospitalar. Curitiba: Champagnat, 2001, p.37. ______, (org.) Escolarização hospitalar: educação e saúde de mãos dadas para humanizar. Petrópolis: Vozes, 2009. MATOS, Elizete Lúcia Moreira; TORRES, Patrícia Lupion (orgs.). Teoria e prática na pedagogia hospitalar: novos cenários, novos desafios. Curitiba: Champagnat, 2010. MORAES, Amaury César. As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Licenciatura: tentando uma abordagem. Disponível em:<http://macsul.wordpress.com/2008/07/31/as-diretrizes-curriculares-nacionaispara-os-cursos-de-licenciatura-tentando-uma-abordagem/). Acesso em: 17 de março de 2010 NOFFS, Neide de Aquino; RACHMAN, Vivian C. B. Psicopedagogia e saúde: reflexões sobre a atuação psicopedagógica no contexto hospitalar. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v. 24, p. 160-8, jun. 2007. NÓVOA, Antônio. A formação de professores e qualidade de ensino. Revista aprendizagem: a revista da prática pedagógica. Pinhais: Melo, n. 2, p. 25-31, 2007. OLIVEIRA, Linda Marquers de; FILHO, Vanessa Cristiane de Souza; GONÇALVES, Adriana Garcia. Revista Científica Eletrônica de Pedagogia. São Paulo, ano VI, n. 11, janeiro 2008. Disponível em: <http://www.revista.inf.br . Acesso em: 18 de maio de 2010. PORTO, Olívia. Psicopedagogia hospitalar: Intermediando a humanização na saúde. Rio de Janeiro: Wak, 2008. TRAVASSOS, L.C.P. (s.d.) inteligências Mútiplas Disponível em: <http://pt.wikipédia.org . Acesso em: 11 de maio de 2010. 70 VIEGAS, Dráusio (org). Brinquedoteca Hospitalar: Isto é humanização. 1. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2007. VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ______, Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ______, Manuscrito de 1929: psicologia concreta do homem. 2ª ed. Educação & Sociedade, Campinas, v. 21, nº71, p. 21-44, 2000. Portal do Hospital do Cancêr: Disponível em <htpp://www.hcanc.org.br/oncoped/UTIped1. Acesso em: 22 de maio de 2010 WALLON, Henri. As origens do caráter na criança: os prelúdios do sentimento de personalidade. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1971. ______, A evolução psicológica da criança. 70. Ed. Rio de Janeiro: Andes,1941. 71 APÊNDICES 72 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM O PEDAGOGO DA REDE REGULAR DE ENSINO IDENTIFICAÇÃO: Nome: Sexo: Idade: Profissão: Especialização: Tempo de atuação na área: 1. O caso de Mel foi o primeiro caso de discente hospitalizado que a instituição acompanhou? 2. Você acha que os cursos de graduação da área de educação, de alguma forma preparam para que esse enfoque do atendimento Pedagógico da criança e adolescente hospitalizados? 3. Por quanto tempo foi feito o acompanhamento pedagógico de Mel? 4. As atividades que eram enviadas a Mel foram elaboradas especificamente para ela ou eram as mesmas propostas para a turma da escola? 5. Houve algum contato da equipe pedagógica do Hospital com a Escola? 73 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM O PEDAGOGO HOSPITALAR IDENTIFICAÇÃO: Nome: Sexo: Idade: Profissão: Especialização: Tempo de atuação na área: 1. Há quanto tempo trabalha nesta área? 2. Possui especialização na área de Pedagogia Hospitalar? 3. No Hospital possui classe hospitalar ou atendimento individual? 4. Quando o paciente é internado existe a procura do atendimento? 5. Como é a sua rotina de atendimento? 6. Como a família contribui para o melhor andamento de seu trabalho com o paciente/aluno? 7. Qual sua opinião sobre o atendimento da pedagogia dentro do Hospital? 8. Como os profissionais da área de saúde compreendem o seu atendimento? 9. Como você vê o seu trabalho, na recuperação do paciente? 10. Qual a contribuição do seu trabalho pedagógico na recuperação do paciente? 11. Qual sua opinião para melhorar o atendimento do pedagogo no ambiente hospitalar? 74 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM O MÉDICO PEDIATRA IDENTIFICAÇÃO: Nome: Sexo: Idade: Profissão: Especialização: Tempo de atuação na área: 1. Qual a sua visão da importância da atuação do pedagogo no ambiente hospitalar? 2. Você considera importante na atualidade o atendimento educacional às crianças hospitalizadas? 3. Do ponto de vista clínico como você observa a interferência pedagógica no tratamento e recuperação da criança hospitalizada? 4. Existe de alguma forma a participação do profissional médico no que se refere ao atendimento pedagógico? 5. Qual a sua avaliação quanto à necessidade do atendimento pedagógico dentro do ambiente hospitalar? 6. Quais sugestões você daria para melhorar a relação entre a equipe médica e a equipe pedagógica?