0
ESCOLA SUPERIOR DE ENSINO ANÍSIO TEIXEIRA
PEDAGOGIA
ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT’ANNA
LEIZA DE OLIVEIRA PINTO
WAILLA PAOLA SOEIRO
PEDAGOGIA HOSPITALAR: UMA MODALIDADE DE ENSINO EM DIFERENTES
OLHARES
SERRA
2011
1
ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT‟ANNA
LEIZA DE OLIVEIRA PINTO
WAILLA PAOLA SOEIRO
PEDAGOGIA HOSPITALAR: UMA MODALIDADE DE ENSINO EM DIFERENTES
OLHARES
Monografia apresentada ao Programa de Graduação
em Licenciatura em Pedagogia da Escola Superior de
Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia.
Orientadora: Profª. Mestre Vânia Rosa Rodrigues
SERRA
2011
2
ALECSANDRA DOS REIS ZUCOLOTO DE SANT’ANNA
LEIZA DE OLIVEIRA PINTO
WAILLA PAOLA SOEIRO
PEDAGOGIA HOSPITALAR: UMA MODALIDADE DE ENSINO EM DIFERENTES
OLHARES
Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Licenciatura em Pedagogia da Escola
Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em
Pedagogia.
Aprovada em 07 de Julho de 2011.
COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________________________
Profª Mestre Vânia Rosa Rodrigues
Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira
Orientadora
_________________________________________________
Profª Especialista Carina Sabadim Veloso
Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira
Membro 1
_______________________________________________
Profª Mestre Rosimar Macedo Alves
Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira
Membro 2
3
Dedicamos primeiramente a Deus, aos
nossos familiares que sempre estiveram
conosco durante toda essa árdua jornada,
nos incentivando a cada minuto e não nos
deixando desistir jamais.
4
A Profª. Vânia Rosa Rodrigues por toda
orientação e carinho a nós dispensada.
Obrigada por sempre acreditar em nós, e
por todas as palavras animadoras.
Aos nossos professores que de forma
clara e concisa contribuíram para nossa
formação acadêmica.
Aos nossos entrevistados que de forma
dispendiosa contribuíram para o
enriquecimento desta pesquisa e
principalmente nos abriram os olhos para
uma educação mais humanizada e
afetiva.
5
"Todos podem ver as táticas de minhas
conquistas, mas ninguém consegue
discernir a estratégia que gerou as
vitórias".
(Sun Tzu)
6
LISTA DE SIGLAS
CNEFEI – Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas
SEESP – Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
MEC – Ministério da Educação e Cultura
SED – Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
PRONAICA – Programa Nacional de Atenção à Criança e ao Adolescente
CNE – Conselho Nacional de Educação
CEB – Câmara de Educação Básica
PNHAH – Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
7
RESUMO
A presente pesquisa vem apresentar a Pedagogia Hospitalar como uma modalidade
de ensino, que busca legalmente proporcionar a criança e ao adolescente
hospitalizado a continuidade de seus estudos, visando sua reintegração ao ambiente
escolar e à sociedade. Utilizou-se para tanto, o emprego da pesquisa em caráter
qualitativo e de natureza bibliográfica em que se utilizou como método o estudo de
caso tendo como instrumento de pesquisa entrevistas semi-estruturadas. Será
abordado um breve histórico da Pedagogia Hospitalar, os parâmetros legais
referentes a esta modalidade de ensino, a estrutura curricular em ambiente
hospitalar ainda como uma lacuna existente, a necessidade da formação específica
dos
profissionais
atuantes
em
ambiente
hospitalar,
sendo
esta
tanto
acadêmica/teórico como também o preparo emocional, a humanização e a
afetividade como fundamentos necessários à prática pedagógica hospitalar. Será
abordada a atuação do pedagogo em diferentes olhares dos sujeitos envolvidos no
processo de reintegração e reinserção da criança e adolescente hospitalizado como:
um Pedagogo da rede regular de ensino, um Pedagogo atuante em ambiente
hospitalar, um médico pediatra e uma mãe de uma adolescente hospitalizada
atendida pedagogicamente no ambiente hospitalar. Comprovando assim, que o
Pedagogo hospitalar vem contribuir com a família e com toda a equipe de saúde
para
a
recuperação
integral
do
educando
hospitalizado.
Auxiliando-o
no
autoconhecimento de sua patologia, elevando sua autoestima como também por
muitas vezes o lidar com a possibilidade da morte.
Palavras-Chaves: Modalidade de ensino, Currículo, Formação, Humanização,
Afetividade.
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................10
2 METODOLOGIA.............................................................................................13
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................14
3.1 CONCEITUANDO PEDAGOGIA HOSPITALAR..................................................14
3.2 UM BREVE HISTÓRICO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR.................................18
3.3 DIRETRIZES LEGAIS DA PEDAGOGIA HOSPITALAR......................................21
3.4 PLANEJAMENTO CURRICULAR DA PEDAGOGIA HOSPITALAR....................25
3.5 A FORMAÇÃO ESPECÍFICA E A PRÁTICA DOS PEDAGOGOS ATUANTES EM
AMBIENTE HOSPITALAR.........................................................................................28
3.6 A HUMANIZAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR..............................................34
3.7 LIMITES E DESAFIOS NO CONTEXTO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR.........40
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS/ESTUDO DE
CASO.................................................................................................................43
4.1 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO PEDAGOGO DA REDE
REGULAR DE ENSINO.......................................................................................43
4.2 A
PEDAGOGIA
HOSPITALAR
NO
OLHAR
DO
PEDAGOGO
HOSPITALAR......................................................................................................48
4.3 A
PEDAGOGIA
HOSPITALAR
NO
OLHAR
DO
MÉDICO
PEDIATRA...........................................................................................................55
4.4 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DE UMA MÃE................................61
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................67
6 REFERÊNCIAS...............................................................................................68
9
APÊNDICES...........................................................................................................71
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM PEDAGOGO DA REDE
REGULAR DE ENSINO.............................................................................................72
APÊNDICE
B
-
QUESTIONÁRIO
DE
ENTREVISTA
COM
PEDAGOGO
HOSPITALAR.............................................................................................................73
APENDICE
C
–
QUESTINÁRIO
DE
ENTREVISTA
COM
O
MÉDICO
PEDIATRA..................................................................................................................74
10
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa aborda o tema da Pedagogia Hospitalar, pois, a atuação do
pedagogo em ambientes extra-escolares vem se ampliando, não podendo mais se
restringir somente à educação sistemática.
Neste sentindo a prática pedagógica deve além de ensinar, resgata a autoestima de
cada criança/adolescente hospitalizado, levando-o a aceitar naquele momento, a
sua relação com as demais pessoas e com a própria doença de forma saudável.
No Brasil, a legislação reconheceu através do Estatuto da Criança e do Adolescente
Hospitalizado, o direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de
educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua
permanência hospitalar.
A Pedagogia Hospitalar nos dias atuais tem sido um recurso a mais dentro da área
da educação para transmitir e levar conhecimento, não importando o espaço em que
está sendo trabalhado, mas sim importando o aluno que necessite deste apoio fora
do espaço escolar.
Por esse motivo, torna-se fundamental uma formação específica de Pedagogos para
atuação em ambiente hospitalar, sendo necessário por parte deste profissional um
comprometimento para com as necessidades específicas da criança/adolescente
hospitalizado com propostas criativas e competentes, isto é torna-se crucial uma
habilitação específica em que prepare, norteando a prática do ensino docente.
Exercer a função fora da escola é um desafio que o professor como pedagogo tem
superado a cada dia, promovendo um espaço lúdico, afetivo, com amor para a
criança se sentir estimulada a dar continuidade a seus estudos.
Podemos considerar a atuação do pedagogo em ambiente hospitalar algo novo em
nossa sociedade e pouco se fala e se escreve sobre o assunto. Por isso a presente
pesquisa busca como objetivo conceituar o que é Pedagogia Hospitalar, quais seus
parâmetros legais vigentes, a rotina do pedagogo neste ambiente, qual o profissional
que atua junto com o pedagogo e a relação familiar dentro de todo este contexto.
11
Além desta introdução, a fundamentação teórica da pesquisa está organizada em 07
capítulos, análise dos dados coletados e considerações finais.
No capítulo 1, abordamos a concepção da Pedagogia Hospitalar em que vem sendo
descoberta por aqueles pacientes que se encontram internados dentro do ambiente
hospitalar e que com a parceria das equipes multidisciplinares e a classe que é o
local de atendimento realizam integração do aluno no meio social de forma a realizar
uma ponte entre a escola e o aluno que necessita da continuidade de seus estudos.
No segundo capítulo, abordamos um breve histórico da Pedagogia Hospitalar, desde
o seu surgimento em 1935, tendo como o objetivo de suprir as dificuldades
escolares de crianças tuberculosas, até a atualidade com o objetivo de proporcionar
a criança e adolescente hospitalizado a continuidade de seus estudos.
No terceiro capítulo, abordaremos os parâmetros legais destinados à Pedagogia
Hospitalar viabilizando a oferta do atendimento pedagógico em hospitais e
domiciliar, assegurando a criança o acesso à educação básica. Promovendo dessa
forma o desenvolvimento e a construção do conhecimento desses educandos.
No quarto capítulo, será contextualizado o planejamento curricular no que diz
respeito ao atendimento pedagógico no ambiente hospitalar sendo necessário,
portanto que o professor atuante em ambiente hospitalar precisa estar ciente que
cada dia se constrói com planejamento estruturado e flexível.
No capítulo 5, será abordada a formação específica de Pedagogos para atuação em
ambiente hospitalar, sendo esta necessária para um atendimento de qualidade
devido uma nova escuta do pedagogo e de quebra de paradigmas no que diz
respeito à educação fora do ambiente escolar.
No sexto capítulo, abordamos a humanização e a afetividade como vertentes
necessárias à Pedagogia Hospitalar. Devido à necessidade do “novo olhar” do
pedagogo quanto às necessidades especiais dos alunos hospitalizados, criando
assim ambientes acolhedores que estimulem a capacidade da criança e adolescente
hospitalizados a sonhar com o retorno de sua vida escolar, o sonho de uma nova
vida.
12
No capítulo 7, abordamos os limites impostos pela doença a cada dia, em que há a
necessidade do rompimento de barreiras por parte dos pedagogos com a produção
de um projeto novo e espaços lúdicos tendo por finalidade elevar a autoestima da
criança/adolescente amenizando seu sofrimento perante a doença e seu tratamento.
No quarto tópico será descrito e analisado o estudo de caso realizado por meio de
entrevistas com um pedagogo atuante em ambiente hospitalar, um profissional
médico pediatra, um pedagogo da rede regular de ensino e com uma mãe de uma
adolescente hospitalizada diagnosticada com leucemia e que teve atendimento
pedagógico durante sua permanência no ambiente hospitalar.
13
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo partindo do pressuposto da relação
existente entre a realidade e o sujeito da pesquisa, “uma interdependência viva entre
o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito” (CHIZZOTTI, 1998, p. 79), em que há uma participação,
compreensão e interpretação dos pesquisadores, de natureza bibliográfica não
sendo esta “a mera repetição do que já foi dito ou escrito, mas propicia o exame do
texto sob novo enfoque, chegando a conclusões inovadoras” (LAKATOS; MARCONI,
1991, p.183) e da utilização do método de estudo de caso, considerando a
investigação mais profunda de um objeto específico, permitindo o aprofundamento
no conhecimento.
De acordo com Young (apud, GIL, 1991, p. 59) o estudo de caso pode ser definido
como:
[...] um conjunto de dados que descrevem uma fase ou totalidade do
processo social de uma unidade, em suas várias relações internas e nas
suas fixações culturais, que seja por essa unidade por pessoa, uma família,
um profissional, uma instituição social, uma comunidade ou uma nação.
Devido à impossibilidade do estudo de caso ser realizado dentro do ambiente
hospitalar em decorrência da burocracia existente, não foi possível a observação da
Pedagogia Hospitalar in loco, mas mesmo fora desse espaço ouviram-se como
sujeitos de pesquisa nessa prática pedagógica no ambiente hospitalar.
Utilizou-se assim, como instrumento de pesquisa entrevistas semi-estruturadas com
um pedagogo atuante em hospital público, um profissional médico pediatra com
especialização em Infectologia também atuante em hospital público, com um
pedagogo da rede regular de ensino e com uma mãe de uma adolescente
hospitalizada atendida pedagogicamente no ambiente hospitalar. Foram utilizados
nomes fictícios a fim de preservar a identidade dos sujeitos de pesquisa.
A fim de maior compreensão e interpretação, os dados coletados por meio das
entrevistas foram analisados por categorias temáticas.
14
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 CONCEITUANDO PEDAGOGIA HOSPITALAR
As palavras pedagogia e hospitalar são termos que pelo dicionário Aurélio possuem
definições indiferentes, a pedagogia por sua vez representa “teoria e ciência da
educação e do ensino” já o termo hospitalar quer dizer “relativo a hospital, onde se
tratam doentes internados ou não”. A junção destes dois termos se deu no momento
em que se percebeu a necessidade em dar continuidade aos estudos daquelas
crianças que estavam afastadas do meio escolar.
Na busca pela História da educação no meio hospitalar foi possível perceber em
revisões bibliográficas que o incentivo maior da implantação da assistência
pedagógica dentro dos hospitais primeiramente para o cuidado infantil foi com a
segunda guerra mundial. Mas o termo Pedagogia surgiu na Grécia Antiga, sendo
esta a ciência da educação que a história demorou séculos para reconhecer a
cientificidade do Pedagogo, somente no século XVIII na Europa Ocidental que
concretizou o processo educativo.
A Pedagogia Hospitalar é um novo conceito que vem ganhando espaço no âmbito
da educação, pois a educação não pode ser mais vista somente ocorrendo no
ambiente escolar, mas também fora da sala de aula e um desses ambientes é o
hospital que passou a ser espaço do saber. Segundo Matos e Mugiatti (2007, p.37),
a Pedagogia Hospitalar:
É um processo alternativo de educação continuada que ultrapassa o
contexto formal da escola, pois levanta parâmetros para o atendimento de
necessidades especiais transitórias do educando, em ambiente hospitalar
e/ou domiciliar.
Para aquelas crianças que necessitam dar continuidade ao processo de ensino
aprendizagem a Pedagogia Hospitalar é a ponte entre a escola e o aluno facilitando
o seu desenvolvimento escolar e possibilitando com que a criança hospitalizada não
perca seu ano letivo e o estímulo em dar continuidade aos seus estudos.
15
O primeiro hospital no Brasil segundo estudos já realizados foi o Hospital Municipal
Jesus que fica localizado na cidade do Rio de Janeiro que deu inicio ao seu trabalho
no ano de 1950 e que mantém seu funcionamento até os dias de hoje.
No Brasil temos o Ministério da Educação: Secretaria de Educação Especial que no
ano de 2002 publicou um documento que regulariza e fala como deve ser a classe
hospitalar e o atendimento pedagógico domiciliar:
Os ambientes serão projetados com o propósito de favorecer o
desenvolvimento e a construção dos conhecimentos para crianças, jovens e
adultos, no âmbito da educação básica, respeitando suas capacidades e
necessidades educacionais especiais individuais. (BRASIL, 2002, p. 15. 16)
Por ser em um hospital a Pedagogia trabalha de forma Inter/Multi/Transdisciplinar
abordando variados tipos de culturas, desta forma exige do profissional um
atendimento diferenciado e na maioria das vezes individualizado no leito e classe
hospitalar que existem nas instituições que possuem esta modalidade de ensino.
Este Pedagogo trabalha não só com os alunos, mas com os familiares que
acompanham seus filhos e equipes que compõe o trabalho interdisciplinar.
Conforme Matos e Mugiatti (2007, p.116), “a ação pedagógica, em ambientes e
condições diferenciadas, como é o hospital, representa um universo de
possibilidades
para
o
desenvolvimento
e
ampliação
da
habilidade
do
Pedagogo/Educador”, é preciso buscar a vivência de outros lugares para aperfeiçoar
o conhecimento teórico.
O seu principal objetivo é promover e integrar o aluno ao hospital o período que se
fizer necessário sem que haja trauma para ele e seu familiar dentro do ambiente
hospitalar onde desperta angústia e desespero quando a palavra é doença para
estes que necessitam deste atendimento diferenciado, Matos e Mugiatti (2007, p. 92)
afirmam que:
Viver e conviver juntos de forma harmoniosa ainda é um desafio deste
século. Pois, pensar em novas propostas, alargar horizontes, integrar
saberes, pensar numa nova sociedade é pensar necessariamente em um
novo reaculturamento social e educacional.
16
Sobre isto Cardoso (apud, MATOS; MUGIATTI, 2007, p.117) destaca que:
Educar significa utilizar práticas pedagógicas que desenvolvam
simultaneamente razão, sensação, sentimento e intuição e que estimulem a
integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e
da unidade do mundo. Assim, a educação - além de transmitir e construir o
saber sistematizado - assume um sentido terapêutico ao despertar no
educando uma nova consciência que transcenda do eu individual para o eu
transpessoal.
A continuidade dos estudos para estas crianças é de suma importância para a sua
identidade critica e a não evasão escolar que existe nos dias de hoje, pois a doença
se torna um obstáculo para os alunos/pacientes que precisam permanecer por um
tempo determinado no ambiente hospitalar devido ao quadro que se apresenta por
este motivo as crianças quando não são acompanhados pelo profissional da
educação, sentem-se excluídos do grupo da escola por não conseguir acompanhar
o conteúdo e acaba entrando na estatística de evasão escolar.
Para Assis (2009, p.17), “não é qualquer ensino que promove o desenvolvimento da
pessoa enferma; é preciso uma mediação profícua para suscitar-lhe o desejo de
superação e de participação no seu processo educativo dentro do contexto
hospitalar”. E essa promoção do desenvolvimento parte de uma ação em conjunto
com a equipe da unidade hospitalar.
A Pedagogia Hospitalar veio para intermediar estes alunos pacientes que
necessitam dar continuidade aos estudos, este profissional que atende os alunos
com necessidades de continuar seus estudos tem que possuir maneiras diferentes
de dar sua aula e é preciso elaborar projetos que obtenham uma visão de um todo.
Nesta ótica, Matos e Mugiatti (2007, p.117) dizem que “a visão do educador, nesse
contexto, deve abranger uma perspectiva integradora, uma concepção de prática
pedagógica que visualize o conceito integral de educação que
promova
aperfeiçoamento humano”.
No entanto para o pedagogo que escolhe trabalhar na área, tem que está sujeito a
novos desafios e principalmente a construção de novos saberes para auxiliar estas
crianças e adolescentes, consideradas como portadoras de necessidades especiais,
pois de acordo com Matos e Mugiatti:
17
Tal condição requer um fazer e um agir que não devem estar vinculados a
processos estanques, deixando o educador livre para desenvolver e criticar
a sua ação pedagógica, a fim de fazê-la reflexiva e transformadora da
realidade que envolve o escolar atendido em contexto hospitalar. (2007,
p.116)
Essa assistência prestada na educação hospitalar requer do pedagogo um olhar e
uma autonomia para tomar decisões de acordo com as necessidades de cada um
dentro da área hospitalar, por isso é preciso manter um atendimento diferenciado e
flexível que atenda a criança ou adolescente que necessita dar continuidade ao seu
processo de formação educativa.
18
3.2 UM BREVE HISTÓRICO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR
A Pedagogia Hospitalar surgiu devido à necessidade de a criança continuar seus
estudos após a enfermidade que era acometida fosse ela física como as mutilações
das guerras como também as doenças patológicas do tipo hanseníase e
tuberculose, a escola teve que ir até estes alunos de forma conjunta com a saúde.
Na perspectiva de Matos e Mugiatti:
Se a ação pedagógica integrada é importante para toda pessoa também o
será para a criança (ou adolescente) enferma, considerando que o seu
processo de educação foi interrompido, gerando, entre outros
impedimentos, o de frequentar a escola regular. (2007, p.46)
Essa visão do espaço hospitalar iniciou-se em 1935, quando Henri Sellier inaugurou
a primeira escola para crianças inadaptadas, nos arredores de Paris. A sua proposta
se estendeu para a Alemanha, França, Europa e Estados Unidos, com o objetivo de
suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas.
Como marco decisório das escolas em hospital é possível afirmar que foi a Segunda
Guerra Mundial, apesar de um marco traumático principalmente para as crianças,
fez com que a classe médica se engajasse na defensoria da escola no âmbito
hospitalar para que as crianças e jovens daquela época não enlouquecessem dentro
do hospital pelas mutilações sofridas.
Em 1939, é criado o C.N.E.F.E.I. - Centro Nacional de Estudos e de Formação para
a Infância Inadaptadas localizado na cidade de Suresnes em França, tendo como
objetivo a formação de professores para o trabalho em institutos especiais e
hospitais. Ainda em 1939, é criado o cargo de professor hospitalar junto ao
Ministério da Educação na França. Este Centro Nacional de Estudos tem como
missão ate os dias de hoje mostrar que a escola não é um espaço fechado, este
promove estágios em regime de internato dirigido a professores e diretores de
escolas, a médicos de saúde escolar e a assistentes sociais.
Desde então os C.N.E.F.E.I. têm formado professores para atendimento escolar
hospitalar, a duração do curso é de dois anos e até hoje já formou mais de mil
professores para as classes hospitalares.
19
No Brasil, a legislação reconheceu através do Estatuto da Criança e do Adolescente
Hospitalizado, com a resolução n° 41 de outubro de 1995, no item nove, o “Direito de
desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde,
acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”.
No ano de 2002 o Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria de Educação
Especial, elaborou um documento de estratégias e orientações para atendimento
nas classes hospitalares, assegurando o acesso à educação básica. Este
documento diz que:
O Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria de Educação
Especial, tendo em vista a necessidade de estruturar ações políticas de
organização do sistema de atendimento educacional em ambientes e
instituições outros que não a escola, resolveu elaborar um documento de
estratégias e orientações que viessem promover a oferta do atendimento
pedagógico em ambientes hospitalares e domiciliares de forma a assegurar
o acesso à educação básica e à atenção às necessidades educacionais
especiais, de modo a promover o desenvolvimento e contribuir para a
construção do conhecimento desses educandos. (MEC, SEESP, 2002,
p.07)
Sendo esta publicação do MEC mais recente referente à classe hospitalar e ao
atendimento pedagógico domiciliar onde tem direito ao atendimento escolar em
ambulatórios de atenção integral à saúde ou em domicilio; alunos que estão
impossibilitados de freqüentar a escola por razões de proteção à saúde ou
segurança abrigados em casas de apoio, casas de passagem, casas lar e
residências terapêuticas.
Em Santa Cantarina, a SED baixou a portaria que “dispõe sobre a implantação de
atendimento educacional na classe hospitalar para crianças e adolescentes
matriculados na Pré-Escola e no Ensino Fundamental, internados em hospitais”.
(portaria nº. 30, SED, de 05/03/2001).
Para toda criança e adolescente hospitalizado que frequenta a sala de aula
hospitalar deve existir um cadastro de hospitalização e da escola da rede regular de
ensino para que ao final de cada aula o professor realize os registros em uma ficha
com os conteúdos trabalhados e outras informações que se fizer necessário.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, conforme artigo 205, Seção I – Da
Educação, da Cultura e do Desporto:
20
A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. (Constituição da República Federativa do
Brasil, 1988)
Configura-se legalmente, a educação um direito de todos e para todos. A área
hospitalar não poderia deixar de ser mais um espaço em que seja possível educar, e
levar a oportunidade para aqueles que no momento estão com alguma enfermidade,
que impossibilita estar na sala de aula.
As autoras Matos e Mugiatti em seu livro Pedagogia Hospitalar (2007, p. 65) afirmam
que:
[...] o que mais importa é que a criança ou adolescente hospitalizado venha
receber, sempre e com o máximo empenho, o atendimento a que fazem jus,
nessa tão importante fase de sua vida, da qual depende a sua futura
estrutura, enquanto pessoa e cidadão.
Essa visão afirma o propósito em que a Pedagogia Hospitalar vem proporcionar a
estes alunos um suporte para continuação do ensino, amparado por leis que
garantem a idoneidade e valida sua existência com a Constituição Federal, onde
afirma que todos merecem o direito de estudar.
21
3.3 DIRETRIZES LEGAIS DA PEDAGOGIA HOSPITALAR
Dentro da pesquisa desenvolvida a primeira referência legal encontrada no Brasil
sobre Educação Hospitalar foi no Decreto Lei n. 1044, de 24.10.1969 que diz no seu
art. 1º:
São considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de
qualquer nível de ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas,
infecções, traumatismo ou outras condições mórbidas, determinando
distúrbios agudos ou agonizantes, caracterizados por: a) incapacidade física
relativa, incompatível com a frequência aos trabalhos escolares; desde que
se verifique a conservação das condições intelectuais necessárias para o
prosseguimento da atividade escolar em novos moldes; b) ocorrência
isolada ou esporádica; c) duração que não ultrapasse o máximo ainda
admissível, em cada caso, para a continuidade pedagógica de aprendizado,
atendendo a que tais características se verificam, entre outros, em casos de
síndromes hemorrágicos (tais como hemofilia), asma, pericardites, afecções
osteoarticulares submetidas a correções ortopédicas, etc.
Em 17/04/75 foi promulgada a Lei 6.202, que atribui à estudante em estado de
gestação o regime de exercícios domiciliares instituído pela lei 1044/69. Que diz no
seu artigo 1º:
A partir do oitavo mês de gestação e durante três meses a estudante em
estado de gravidez ficará assistida pelo regime de exercícios domiciliares
instituído pelo Decreto 1044, 21 de outubro de 1969.
Parágrafo único. „O início e o fim do período em que é permitido o
afastamento serão determinados por atestado médico a ser apresentado à
direção da escola‟.
Em 1988 com a instituição a Constituição Federal, que em seu art.205 relata: “A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho”. E no art. 214 que afirma que as ações do poder público devem conduzir à
universalização do atendimento escolar, porém poucas ações efetivas foram
consolidadas no ambiente hospitalar.
Em 24.10.1989, artigo 2º, inciso I, alínea “d”, “O oferecimento obrigatório de
programas de Educação Especial a nível pré-escolar, em unidades hospitalares e
22
congêneres nas quais estejam internados, por prazo igual ou superior a um ano,
educandos portadores de deficiência”.
O ano de 1990 pode ser referendado com um marco para a justiça e para a
educação, quando foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) , na
lei 8.069 no seu art. 3º, menciona que “a criança e o adolescente gozam de todos os
direitos inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
social, em condições de liberdade e de dignidade”. Com o ECA, vários outros órgãos
se engajaram em uma luta com vistas à sua implantação. Entre eles, sobressaem o
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), o
Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (PRONAICA), o
Conselho da Comunidade Solidária e os Conselhos Tutelares.
O Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da criança e do Adolescente
(CONANDA) foi fundado em 1995 e com ele foi possível a elaboração e aprovação
da resolução n. 41/95 de 13.10.1995, esta resolução delibera no seu item 9, “ A
criança e o adolescente tem o direito de desfrutar de alguma forma de recreação,
programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar
durante sua permanência hospitalar”.
Em 1996, a legislação em vigor recebe o expressivo reforço da LDB - Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394 de 20.12.1996, que, no artigo V,
prevê que: “O atendimento educacional será efetivado em escolas, classes ou
serviços especializados, sempre que em função das condições específicas dos
alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”.
Decreto n. 3.298, de 20.12.1999, artigo 24, inciso V, que estabelece o oferecimento
obrigatório dos serviços de educação especial ao educando portador de deficiência
em unidades hospitalares e congêneres nas quais esteja internado por prazo igual
ou superior a um ano.
Em 2001 temos a Resolução CNE/CEB (Conselho Nacional de Educação/ Câmara
de Educação Básica) n. 2 no seu artigo 13, parágrafos 1º e 2º, “Os sistemas de
23
ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem organizar o
atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar as
aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar,
atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio”.
§1º As classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem
dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de
aprendizagem de alunos matriculados em escolas da Educação Básica,
contribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e
desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não
matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso
à escola regular.
§2º Nos casos de que trata este artigo, a certificação de frequência deve ser
realizada com base no relatório elaborado pelo professor especializado que
atende o aluno.
Resolução n. 1 CNE/CP de 18.02.2002 “Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a formação de professores da Educação Básica”. Na exigência da legitimidade
desse direito o prof. Amaury César Moraes (2008) salienta:
Apenas como nota reclamo que haveria necessidade urgente de uma
verdadeira consolidação das Leis da Educação ou um Código de Educação,
capaz de dar uniformidade à legislação educacional e, sobretudo, passá-la
pelo crivo de juristas com profundo conhecimento em ambos os campos –
Direito e Educação -, pois o que se percebe muitas vezes é dispositivos
legais descambarem para a digressão ou auto interpretação, ultrapassando
o seu caráter normativo, restringindo a competência e autonomia de quem
aplica e interpreta a lei. Por vezes, por conta de Pareceres e Diretrizes nada
sobra para que os sujeitos reais, objeto da legislação, tenham sua
concretude reconhecida, isto é, suas vidas são desde já vividas
antecipadamente – pela legislação.
O documento intitulado Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar:
Estratégias e Orientações, editado pelo MEC, em 2002 estabelece que:
O Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria Especial, tendo em
vista a necessidade de estruturar ações políticas de organização do sistema
de atendimento educacional em ambientes e instituições outros que não a
escola, resolveu elaborar um documento de estratégias e orientações que
viessem promover a oferta do atendimento pedagógico em ambientes
hospitalares e domiciliares de forma a assegurar o acesso à educação
básica e à atenção às necessidades educacionais especiais, de modo a
promover o desenvolvimento e contribuir para a construção do
conhecimento desses educandos. (2002, p. 07)
24
O objetivo principal do documento Classe Hospitalar é criar estratégias e orientações
que viabilizem a oferta do atendimento pedagógico em hospitais e domiciliar,
assegurando a criança o acesso à educação básica. Promovendo dessa forma o
desenvolvimento e a construção do conhecimento desses educandos. Segundo
Mattos e Mugiatti (2007, p.13), a pedagogia hospitalar pretende oferecer à criança e
ao adolescente a valorização dos seus direitos à educação e a saúde, como também
ao espaço que lhe é devido enquanto cidadão.
Nesta ótica, Assis considera que:
Tratar do atendimento pedagógico-educacional em instituições hospitalares
é considerar a inter-relação de duas importantes áreas- educação e saúdeque devem atuar com a finalidade de promover o desenvolvimento integral
da pessoa que está sob tratamento de saúde, visando aos seus direitos e à
sua qualidade de vida. A qualidade de vida- o bem estar. O estar bemimplica condições físicas, psicológicas e sociais que favoreçam a pessoa a
desfrutar uma vida equilibrada, isto é, a possibilidade de realização pessoal,
profissional e afetiva. (2009, p.81)
Muitos documentos e leis foram criados, mas poucos entraram em ação
verdadeiramente para transformar a condição da criança brasileira. Leis e Decretos
são necessários, mas não suficientes para reverter o quadro existente. São
necessárias verbas, especialização do profissional da área da educação e da saúde,
divulgação e informação de tudo que acontece nos hospitais e atendimentos
domiciliares. A efetivação destas leis depende também do engajamento das
organizações, dos professores e do corpo clínico para garantir os direitos a todos os
estudantes que se encontram hospitalizados.
25
3.4 PLANEJAMENTO CURRICULAR DA PEDAGOGIA HOSPITALAR
A questão da elaboração curricular para o aluno hospitalizado é muito peculiar e
específica, pois cada criança/adolescente deve ter o seu currículo adaptado
individualmente, para dar condições a ela que aprenda e desenvolva as atividades
levando em consideração suas limitações momentâneas ou não. O documento
Classe Hospitalar – MEC afirma que: [...] “um currículo flexibilizado e/ou adaptado,
favorecendo seu ingresso, retorno ou adequada integração ao seu grupo escolar
correspondente, como parte do direito de atenção integral”. (2002, p. 13)
O MEC sugere articular o programa de atendimento em dois momentos. No primeiro,
o docente trabalha com os conteúdos definidos num currículo próprio, geral, que tem
por base os parâmetros curriculares nacionais. No segundo a equipe do hospital
adapta o trabalho pedagógico de acordo com o histórico do aluno, muitas vezes
lançando mão de uma avaliação inicial.
A aplicação de provas para medir o nível do aluno em seu retorno à escola regular,
não é defendida pelo MEC. O ideal, para o órgão é que a equipe pedagógica estude
os materiais enviados pelo hospital para chegar a um diagnóstico. A esse respeito é
conferido pelo MEC em relação à organização e competências para viabilização da
Pedagogia Hospitalar que:
A definição e implementação de procedimento de coordenação, avaliação e
controle educacional devem ocorrer na perspectiva do aprimoramento da
qualidade do processo pedagógico. Compete às secretarias estaduais e
municipais de educação e do Distrito Federal, o acompanhamento das
classes hospitalares e do atendimento pedagógico domiciliar. O
acompanhamento deve considerar o cumprimento da legislação
educacional, a execução da proposta pedagógica, o processo de melhoria
da qualidade dos serviços prestados, as ações previstas na proposta
pedagógica, a qualidade dos espaços físicos, instalações, os equipamentos
e a adequação às suas finalidades, a articulação da educação com a família
e a comunidade. (Classe Hospitalar, 2002, p. 19)
Observando essas finalidades e especificidades das condições das crianças
atendidas o ambiente da classe hospitalar necessita ser diferenciado, deve ser
acolhedor, com estimulações visuais, brinquedos, jogos, sendo assim um ambiente
alegre e aconchegante. É necessário, portanto que as atividades realizadas com
essas crianças e adolescentes tenham começo, meio e fim e o professor precisa
26
estar ciente que cada dia se constrói com planejamento estruturado e flexível. O
professor deve conhecer a realidade com qual o aluno esteja apto a aprender e
realizar as atividades que o professor venha a propor.
A atuação conjunta dos professores dentro do hospital e a elaboração do projeto
pedagógico permitem agregar harmoniosamente as propostas dos diferentes
profissionais. Em geral, o atendimento ao estudante hospitalizado é personalizado,
pois cada um está num nível distinto de ensino e precisa ser atendido em suas
especificidades, mas esta particularização não autoriza os educadores a improvisar
o atendimento. O professor deve ter conhecimento teórico e metodológico para dar
condições ao seu aluno de aprender, pois de acordo com Ceccim e Fonseca:
[...] abre-se, com este estudo, a necessidade de formular propostas e
aprofundar conhecimentos teóricos e metodológicos, visando em atingir o
objetivo de dar continuidade aos processos de desenvolvimento psíquico e
cognitivo das crianças e jovens hospitalizados. (1999, p. 117)
Essa exigência de formação técnica e profissional para atuar na pedagogia
hospitalar demonstra que a escolarização durante a hospitalização garante não só a
continuidade do processo de educação formal quanto promove o bem-estar da
criança que se sente mais íntegra, ativa cognitivamente, com autoestima elevada e
por consequência com melhor suporte ao processo de tratamento e hospitalização.
Conforme Travassos:
As crianças em diferentes idades possuem necessidades diferentes,
respondem a diferentes formas de informação cultural e assimilam
conteúdos com diferentes estruturas motivacionais e cognitivas, logo os
tipos de regimes educacionais planejados pelos educadores precisam levar
em conta esses fatores desenvolvidos. Os tipos de modelos educacionais
que são oferecidos às crianças podem demonstrar a direção que elas
poderão tomar, podendo ser encorajadas ou não para a perícia, criatividade,
etc. Em nossa sociedade pode haver modelos contrastantes sobre o uso do
talento e as maneiras pelas quais ele pode ser desenvolvido. (2001, p.32)
Pode-se analisar que a grande diversidade na estrutura e funcionamento do
atendimento escolar hospitalar levou alguns escritores a esboçar uma distinção
entre duas linhas pedagógicas para o atendimento educacional em hospitais: A
Pedagógico-educacional e a lúdico-terapêutica. Essa distinção é esboçada por
27
Ceccim e Fonseca (1999) e posteriormente detalhada por Fontes (2004), que adota
os termos correntes pedagógicas.
A corrente Pedagógico-educacional está mais focada no ensino formal, buscando
dar continuidade ao currículo regular. O professor é um agente de escolarização nos
moldes da escola regular. Já a corrente lúdico-terapêutica busca trabalhos diversos
e sugere à construção de uma prática pedagógica com características próprias do
contexto hospitalar, buscando seus conhecimentos, não necessariamente nos
moldes curriculares, visando o bem estar físico e emocional dos pacientes.
A utilização de uma corrente ou outra não se dá de uma forma explícita, quando se
institui uma classe hospitalar. Ela vai se construindo a partir dos profissionais
envolvidos e das condições humanas e materiais existentes em cada hospital.
Na visão de Assis, a profissão docente impõe que:
[...] o professor nunca deixe de estudar, de aprender, já que a prática
educativa exige ressignificação de saberes e adaptação a novas situações;
por conseguinte, pressupõe um processo constante de aprendizagem
pessoal e profissional e aquisição de competências técnicas tanto no campo
teórico como no prático. (2009, p. 102)
Essa
perspectiva
em construção
do
professor
é
fundamental,
tanto
no
desenvolvimento técnico como pedagógico. O trabalho pedagógico no espaço
hospitalar nos mostra que não existe modelo pronto, mas o desafio de construir uma
ação pedagógica que contemple esta diversidade e especificidade. A Pedagogia não
pode ser nada mais que a prática de um profissional guiada por uma ética
profissional e que confronta a cada dia com situações e desafios sem formulas para
resolução. O profissional do ensino deve buscar a construção do seu próprio espaço
pedagógico, em que só ele pode assumir e resolver conflitos cotidianos, apoiado na
sua visão de mundo, de homem e sociedade.
28
3.5 A FORMAÇÃO ESPECÍFICA E A PRÁTICA DOS PEDAGOGOS PARA
ATUAÇÃO EM AMBIENTE HOSPITALAR
Começa a surgir um novo perfil de pedagogo exigindo uma profunda reflexão e
mudança em sua prática educativa a partir de novas perspectivas e anseios da
sociedade, para isso torna-se necessária uma formação específica e continuada a
fim de desenvolver novas habilidades para enfrentar tal demanda no que consiste a
internação para tratamento hospitalar.
De acordo com Matos e Mugiatti, a questão de formação desse profissional:
[...] constitui-se num desafio aos cursos de Pedagogia, uma vez que as
mudanças sociais aceleradas estão a exigir uma premente e avançada
abertura de seus parâmetros, com vistas a oferecer os necessários
fundamentos teórico-práticos, para o alcance de atendimentos diferenciados
emergentes no cenário educacional. (2007, p. 13)
Por esse motivo, torna-se necessário uma formação específica de pedagogos para
atuação em ambiente hospitalar, como afirma Warnock, “que os professores de
classes hospitalares tenham acesso aos treinamentos em serviços e outros cursos
de capacitação.” (apud MATOS; MUGIATTI, 2007, p. 47), é necessário um
comprometimento para com as necessidades específicas da criança/adolescente
hospitalizado com propostas criativas e competentes, isto é torna-se crucial uma
habilitação específica em que prepare, norteando a prática do ensino docente.
Em referência à necessidade e a preocupação com formação específica do
profissional da educação atuante no ambiente hospitalar Caiado (apud, ASSIS,
2009, p. 103), afirma que:
[...] justifica-se pela rápida ampliação da oferta desse atendimento ocorrida
no final da década de 1990 no país e pela particularidade desse serviço,
pois historicamente os cursos de formação de professores discutem o
cotidiano da escola e os cursos de formação de profissionais de saúde não
consideram o professor como participante da equipe hospitalar.
Com esta afirmação, devemos perceber o quanto se faz necessário uma formação
específica do profissional da educação para o atendimento pedagógico-educacional
no ambiente hospitalar, devidos suas especificidades e necessidades.
29
Estudos indicam que para que a atuação do profissional da educação em ambiente
hospitalar seja adequada, é necessário que o professor:
[...] esteja capacitado para lidar com as referências subjetivas das crianças
e deve ter destreza e discernimento para atuar com planos e programas
abertos, móveis, mutantes, constantemente reorientados pela situação
especial e individual de cada criança, ou seja, o aluno da escola hospitalar.
(FONSECA, apud, ASSIS, 2009, p.42.43)
Certamente, o professor que deseja atuar no ambiente hospitalar, deverá ter uma
formação específica a fim de promover o desenvolvimento de habilidades
necessárias para o trabalho neste novo ambiente educacional. Esta formação
deverá também propiciar ao professor uma maior compreensão e formação
emocional para lidar com possíveis conflitos de ideias, posições e principalmente
com um novo conceito de aluno. Aluno este, acometido por doenças e limitações
físicas, emocionais, sociais, etc.
Portanto, torna-se necessário uma reorientação e reformulação dos cursos
formadores de profissionais de educação, para que possa assim propiciar uma
melhoria na qualidade do atendimento oferecido a este novo conceito de aluno, o
aluno/paciente.
Noffs e Rachman afirmam que:
[...] faz-se necessário esclarecer que tal oferta de ensino no ambiente
hospitalar deve ser pensada com cautela, pois não pode ser reduzido à
mera transferência das práticas do ensino regular ao ensino hospitalar,
considerando as diferentes demandas dos diversos alunos pacientes.
(apud, ASSIS, 2009, p.89)
Os cursos de formação específica para esse educador hospitalar devem levar em
conta que além dos conhecimentos pedagógicos inerentes à sua profissão deve
segundo Assis (2009, p. 106):





estar aberto ao diálogo, à incorporação de outras práticas e às
mudanças;
dominar conhecimentos das várias séries da educação básica;
ter competência para transitar bem entre os campos da saúde e da
educação;
estabelecer vínculos de afeto;
ser mediador de conhecimentos e de relações interpessoais;
30


ter maturidade emocional para lidar com as intercorrências do
entorno hospitalar;
saber interpretar as necessidades educativas de seus alunos, que
podem requerer modificação no currículo e/ou alguma tecnologia
assistida.
A prática pedagógica em ambientes hospitalares requer dos profissionais maior
flexibilidade, com conteúdos, procedimentos e recursos individualizados, levando em
consideração cada criança/adolescente envolvido no processo de aprendizagem,
sempre com atenção para o momento do tratamento, para a condição atual do
paciente. Pois, o pedagogo que atua em ambiente hospitalar deverá visualizar o
conceito integral de educação, deverá promover o aperfeiçoamento humano,
promovendo tanto a educação quanto a saúde.
Quanto à função e prática pedagógica do professor atuante na classe hospitalar
Ceccim (apud MATOS; TORRES, 2010, p.60), afirma:
Não é apenas “ocupar criativamente” o tempo da criança para que ela
possa “expressar e elaborar” os sentimentos trazidos pelo adoecimento e
pela hospitalização, aprendendo novas condutas emocionais, como também
não apenas abrir espaços lúdicos com ênfase no lazer pedagógico para que
a criança “esqueça por alguns momentos” que está doente ou em um
hospital. O professor deve estar no hospital para operar com processos
afetivos de construção da aprendizagem cognitiva e permitir aquisições
escolares às crianças. O contato com o professor e com uma “escola no
hospital” funciona, de modo importante, como uma oportunidade de ligação
com os padrões de vida cotidiana do comum das crianças, como ligação
com a vida em casa e na escola.
Neste intuito as atividades deverão ser elaboradas de forma a dar continuidade ao
trabalho já desenvolvido no ambiente escolar de origem da criança/adolescente que
se encontra em classe hospitalar. Pois, de acordo com Matos e Mugiatti (2007, p.
13) a Pedagogia Hospitalar vem ter como objetivo contribuir para o retorno do
mesmo a sua escola de origem ao obter alta, sem prejuízo ao seu processo de
escolaridade com isso “pretende-se, assim, oferecer à criança e ao adolescente
hospitalizado, ou em longo tratamento hospitalar, a valorização de seus direitos à
educação e à saúde, como também ao espaço que lhe é devido enquanto cidadã”.
O pedagogo que atua em ambiente hospitalar deve acompanhar e intervir no
processo de ensino aprendizagem por meio de atividades lúdicas como, o ato de
contar histórias, brincadeiras, jogos, dramatizações, musicalização, desenhos e
31
pinturas, atividades estas realizadas nas classes hospitalares ou por diversas vezes
no próprio leito a criança/adolescente hospitalizado, quando o mesmo estiver
impossibilitado de frequentar a classe hospitalar.
Portanto, para que o pedagogo hospitalar possa realizar um trabalho eficaz é
necessário um espaço físico adequado, recursos humanos para poder atender a
todas as crianças hospitalizadas, e materiais didáticos adequados como, por
exemplo, revistas, lousa mágica, quebra-cabeças, alfabetos móveis, ou seja, tudo
aquilo que possa ser deslocado da classe hospitalar, até o leito do paciente.
Atividades estas que auxiliarão na adaptação, na motivação, na auto-estima e na
recuperação do paciente.
Podemos dividir a Pedagogia Hospitalar em três modalidades, nas quais ocorre
atuação do Pedagogo Hospitalar.

A classe hospitalar que consiste no espaço físico que se realiza o
atendimento à criança hospitalizada. A classe hospitalar torna-se a “escola”
durante a permanência dos mesmos, contribuindo para o seu retorno à escola
de origem.

A brinquedoteca em que consiste no espaço físico que possibilita o
desenvolvimento
de
novas
competências,
socializando
o
brinquedo,
resgatando brincadeiras tradicionais, assegurando à criança o seu direito de
brincar.

A recreação hospitalar, em que através do brincar, o contato com brinquedos
possibilita
a
prática
de
atividades
lúdicas,
contribuindo
com
o
desenvolvimento psíquico, emocional e cognitivo da criança/adolescente
hospitalizado. Portanto, devido a importância da recreação, o pedagogo deve
ter a visibilidade, contribuindo para que a criança e adolescente hospitalizado
e acamado participe dentro de suas possibilidades desta modalidade.
Sendo assim a prática pedagógica deve além de ensinar, resgatar cada
criança/adolescente hospitalizado a gostar de si mesmo, relacionando-se consigo
próprio, com as demais pessoas e com a própria doença de forma saudável.
Deve-se considerar que a fase de escolarização do educando será transitória e se
dará de acordo com a permanência do educando no ambiente hospitalar. Portanto,
32
“durante a fase de hospitalização, é necessário haver um permanente estímulo às
relações com a escola de origem, por meio de intercâmbio de informações e de
manutenção de interesses”. (MATOS; MUGIATTI, 2007, p. 124)
O pedagogo hospitalar em sua prática exerce papel fundamental, pois contribui com
a equipe de saúde, favorecendo na integração da criança/adolescente hospitalizado,
suas famílias e os profissionais de saúde. Integração esta indispensável tanto para a
permanência da mesma no hospital quanto para o seu desenvolvimento cognitivo e
psíquico, ou seja, na sua totalidade.
O pedagogo em ambiente hospitalar tem como função ser um agente facilitador e
não um ditador que imponha normas de instrução às crianças/adolescentes
hospitalizados que em virtude de sua doença e estadia no hospital, se vê
impossibilitados de frequentar uma escola regular.
Sobre a necessidade de continuidade, Matos afirma que:
[...] a necessidade de continuidade, exigida pelo processo de escolarização,
é algo tão notório que salta à vista dos pais, professores e mesmo das
próprias crianças e adolescentes e a atitude estimulante dos pais ou
responsáveis, representam uma significativa contribuição, em termos
psicológicos, para a estruturação da personalidade da criança/adolescente
hospitalizada. (2007, p. 68. 125)
Para que todo o trabalho desenvolvido seja eficiente torna- se necessário uma
parceria
construída
com
os
familiares
para
que
possa
incentivar
à
criança/adolescente hospitalizado a participação, vislumbrando um próximo retorno
ao meio extra-hospitalar. Contudo podemos verificar que existem dois tipos de
familiares, os estimulantes, que contribuem inspirando segurança, confiança,
fazendo com que as crianças/adolescentes hospitalizados tenham condições de
progredir, contribuindo assim de forma ativa no processo de cura em sua totalidade.
Existem ainda os familiares não estimulantes, que superprotegem seus filhos, não
permitindo a participação, não valorizando o processo de ensino aprendizagem no
ambiente hospitalar.
Deve-se levar em consideração o papel fundamental que exerce a afetividade no
período da escolarização hospitalar, seja por parte dos familiares, seja por parte do
33
pedagogo hospitalar, e que as partes envolvidas neste processo tenham o cuidado
para não confundir o educador como recreador, mãe substituta, Psicóloga, mas sim
como
um
agente
promotor
do
processo
de
ensino
aprendizagem
da
criança/adolescente hospitalizado.
Enfim, a necessidade da formação específica “grita por socorro”, dada a importância
do papel do educador dentro do hospital. Ele vai além do mediador de conteúdos
curriculares, ele auxilia, estimula o aumento da autoestima e da autoconfiança do
aluno hospitalizado. Ele de forma concreta, trabalhando com as possibilidades e não
com as limitações do aluno hospitalizado possibilita e reaviva o simples ato de
sonhar.
34
3.6 A HUMANIZAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR
Para melhor entendimento quanto à importância e a necessidade da humanização
no ambiente hospitalar, primeiramente conceituaremos a palavra humanizar que de
acordo com o dicionário Aurélio é “1. dar condição humana a; humanar. 2. Civilizar.
P. 3. Tornar-se humano; humanar-se.”
Segundo Oliveira (apud, MATOS, 2009, p. 85), humanizar caracteriza-se em:
[...] colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida, entregar-se
de maneira sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as
palavras e os silêncios. O relacionamento e o contato direto fazem crescer,
e é neste momento de troca que humanizo, porque assim posso me
reconhecer e me identificar como agente, como ser humano.
Partindo deste conceito, faz-se necessário a humanização no ambiente hospitalar,
ou seja, dar condições humanas às crianças e adolescentes hospitalizados
primeiramente com o respeito pelo indivíduo enfermo e seus familiares, já
demasiadamente fragilizados pelo ambiente a que são expostos e pela doença
imposta a eles, dando um maior conforto, sendo solidários, proporcionando uma
significativa melhora na qualidade de vida. Conforme Assis:
[...] a qualidade de vida – o bem-estar, o estar bem – implica condições
físicas, psicológicas e sociais que favoreçam a pessoa a desfrutar uma vida
equilibrada, isto é, a possibilidade de realização pessoal, profissional e
afetiva. [...] resgatando a importância dos aspectos humanos, das
competências relacionais, além dos cuidados técnico-científicos, e
concretizando um trabalho que cuida, respeita e valoriza a vida humana; um
trabalho mais humanizado. (2009, p.81-82)
Por sua complexidade, o ambiente hospitalar impõe a ampliação da discussão com
a sociedade, a fim de estabelecer um quadro ético de referência para o cuidado
humanizado. Um caminho possível e adequado para a humanização se constitui,
acima de tudo, na presença solidária do profissional, refletido na compreensão e no
olhar sensível, aquele olhar de cuidado que desperta, no ser humano confiança.
Embora o cotidiano do hospital submeta, constantemente, os profissionais a
situações críticas e indesejáveis, como as longas jornadas de trabalho, a falta de
leitos, a escassez de recursos materiais e humanos, provocadores de dilemas éticos
35
importantes, é sempre possível a inter-relação, demonstrar a solidariedade orgânica
e mecânica. Essa convivência propicia viver o aconchego das coisas simples,
mesmo diante das tensões e riscos dos momentos mutantes, muitas vezes
imprevisíveis e plenos de significados. Todavia, deve-se “enraizar valores e atitudes
de respeito à vida humana, indispensáveis à consolidação e à sustentação de uma
nova cultura de atendimento à saúde.” (CALEGARI, apud, ASSIS, 2009, p. 87)
Ao se falar de um ambiente humanizado, se deve considerar a necessidade da
afetividade e da solidariedade seja na sociedade em geral, ou no ambiente
hospitalar que em suas especificidades requer um novo olhar. Portanto, a
solidariedade e a afetividade devem fazer parte da linguagem do cotidiano das
pessoas.
De acordo com o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar –
PNHAH (2002), humanizar é:
[...] garantir à palavra a sua dignidade ética. Ou seja, para que o sofrimento
humano e as percepções de dor ou de prazer sejam reconhecidas pelo
outro. É preciso ainda, que esse sujeito ouça do outro palavras do seu
reconhecimento. [...] é pela linguagem que fazemos as descobertas de
meios pessoais de comunicação com o outro. Sem isso, nos
desumanizamos reciprocamente. Em resumo: sem comunicação não há
humanização. A humanização depende da nossa capacidade de falar e de
ouvir, depende do diálogo com nossos semelhantes.
Partindo deste pressuposto, falar em humanização é fácil, o difícil é praticá-la.
Humanizar é respeitar alguém fragilizado, com naturalidade, sem parecer superior.
No caso de pessoas doentes, procurar avaliar o seu sofrimento, ter compaixão no
bom sentido, com atitudes positivas. No caso de doentes sem possibilidades de
viver, deixá-los morrer com dignidade.
Quando se fala de crianças hospitalizadas essa humanização é ainda mais
complexa. Há algumas décadas as crianças não podiam ser acompanhadas pelos
familiares e isso levava a um stress e sofrimento muito grande para as crianças.
Por isso, os hospitais por volta da década de 80, iniciaram o programa de pais
acompanhantes.
Pesquisas
realizadas
na
área
mostraram
que
crianças
acompanhadas se sentiam mais seguras, o melhoramento clínico foi significativo e o
tempo de internação diminuiu.
36
Com esse programa o problema existente em relação às crianças foi amenizado,
porém os Hospitais se confrontaram com um novo problema referente aos pais e
aos acompanhantes, não acostumados ao ambiente hospitalar, de constante
movimento, má diferenciação entre dia e noite, alarmes, sondas, etc. Além disso,
havia a necessidade de fornecer informações com muito mais frequência que
anteriormente, gerando também stress à equipe médica e de enfermagem, que nem
sempre estavam disponíveis no momento desejado.
A partir da nova dificuldade existente foram adotadas medidas para proporcionar um
maior conforto, atenção, entretenimento, dentre outras, afim de então diminuir a
carga de ansiedade que envolve não só os pacientes e os acompanhantes como
também a equipe médica.
Vários programas então foram e estão sendo desenvolvidos no intuito de otimizar
esta relação além da abordagem de outros aspectos como a associação do local
com perdas e morte, medo de dor, ansiedade, perda da privacidade e do sentido
temporal (dia/noite), estado de semiconsciência, etc.
De acordo com o Hospital do Câncer, humanizar significa:
[...] tornar humano, afável. É um ambiente assim que precisa existir nas
UTIs. Para isto é necessário uma intervenção efetiva. Mudanças nas
estruturas, nos conceitos, derrubar obstáculos e tabus. É importante
também a compreensão dos fatores que produzem estresse e o
planejamento de intervenções oportunas e eficazes.
Alguns exemplos de humanização no sistema de saúde já estão sendo empregado
com resultados bastante significativos, como o parto humanizado, hospital amigo da
criança, incentivo ao aleitamento materno, método canguru, alojamento conjunto,
presença de palhaços e contadores de histórias, voluntariado e brinquedotecas.
37
Sobre a presença dos palhaços no ambiente hospitalar, Achar (apud, MATOS, 2009,
p. 138-139), afirma que:
Independente da condição física da criança/adolescente hospitalizado, „o
palhaço chama a atenção daquilo que ainda está saudável no indivíduo
doente‟ pois consegue resgatar sentimentos esquecidos ou apagados pela
dor da solidão, pela distância de coisas que lhe são familiares, pela privação
de objetos íntimos, pela falta de contato com o mundo exterior ao hospital e,
mais do que tudo, pela impotência que sente o indivíduo perante a doença.
O palhaço também trabalha a esperança dos pais, enfermeiros, médicos e
demais envolvidos com os enfermos.
A literatura e o brincar estão muito presentes na vida da criança e esses projetos
buscam trazer essa realidade da criança para dentro do espaço hospitalar. A
literatura infantil é conhecida na maioria das vezes pelas crianças desde quando
nascem.
Quem nunca ouviu uma história contada pelo pai, mãe ou avós. E ao costume de
contar ou até mesmo criar histórias já vem de longos anos, esta prática remete a
momentos de aconchego e ternura.
O ato de contar histórias é um momento que consolida os laços afetivos de
companheirismo e amizade entre os ouvintes e os contadores e é neste momento
que a criança se sente parte a história, trazendo o imaginário para o seu cotidiano,
podendo transformar a sua realidade.
A literatura infantil pode ser usada no ambiente hospitalar com a finalidade de
repouso, uma história agradável e calma pode ajudar a criança a ter um sono
tranquilo, favorecendo o seu bem estar e promovendo a saúde.
A Pedagogia Hospitalar vivência sensações e emoções de forma intensa e lida com
elas na medida em que auxilia a criança da melhor forma possível, no convívio com
a doença e o ambiente hospitalar.
Acredita-se que a literatura infantil pode abordar essas emoções e sensações,
transformando este ambiente em um lugar de acolhimento onde a criança tenha o
direito de continuar desenvolvendo as suas habilidades cognitivas e sociais.
38
A criança está apta dentro de suas condições físicas e emocionais a participar de
atividades pedagógicas e lúdicas mesmo inserida no ambiente hospitalar. Portanto,
a Pedagogia em ambiente hospitalar vem com o propósito de amenizar este
momento de dor e transformar em um momento de aprendizagem e descontração.
A ideia de introduzir um trabalho com brinquedos para a criança hospitalizada já
existe desde 1956 na Suécia, por Yvonny Lindquist. Sua iniciativa foi inicialmente
rejeitada por medo de atrapalhar os trabalhos de médicos e enfermeiros.
Em 1984, no III Congresso Internacional de Ludotecas, realizado na Bélgica, Rubfaix
e Delsemme, duas bibliotecárias do hospital da Cruz Vermelha, em Bruxelas,
apresentaram uma pesquisa sobre brincar no hospital no qual se referiam ao
trabalho desenvolvido pela Cruz Vermelha em que visava à humanização dos
hospitais e relataram que chegaram à conclusão que o trabalho desenvolvido pelos
voluntários, que iam uma vez por semana brincar com as crianças, provou ser tão
útil que se tornasse diário e com maior tempo de permanência junto às crianças.
Assim foram surgindo as brinquedotecas hospitalares, para alegrar as crianças em
sua permanência no hospital. Lá a criança pode encontrar brinquedos, diversão e
estímulos para continuar se desenvolvendo de forma saudável.
A brinquedoteca deve ser um espaço diferente, mágico, que faça voar a imaginação.
Brincar de faz de conta ajuda a criança a compreender e aceitar a condição anormal
em que se encontra e a sentir-se mais segura. À medida que expressa seus
sentimentos, alivia suas tensões e sua ansiedade.
Em relação às brinquedotecas, Viegas (apud, ASSIS, 2009, p. 25) afirma que tem
que ser:
[...] um espaço no hospital, provido de brinquedos e jogos educativos,
destinado a estimular as crianças, os adolescentes e seus acompanhantes
a brincar no sentido mais amplo possível e conseguir sua recuperação com
uma melhor qualidade de vida.
Deve haver brinquedos bem variados, de casinha de bonecas aos jogos de armar.
Pode ser também um espaço em que a criança mate a saudade de sua casa, um
espaço para desenvolver atividades, como artes plásticas ou artesanato. Este
39
espaço será de grande ajuda, não só para a criança, mas também para a família,
que terá oportunidade de fazer uma atividade diferente que, além de ajudar a passar
o tempo, pode representar a oportunidade para aprender uma nova forma de
expressão.
Sobre as brinquedotecas hospitalares Paula (apud, MATOS, 2009, p. 142), afirma
que o seu sentido vai muito além de diversão e que “o brincar no ambiente hospitalar
vem como um coadjuvante terapêutico ao alívio do estresse associado à internação.
[...] na brinquedoteca, as crianças têm a referência do seu espaço para recreação,
lazer e o lúdico”.
Uma preocupação existente em relação aos brinquedos no hospital é a possibilidade
de contaminação entre os pacientes através dos brinquedos. Tornando- se assim
um empecilho ao lúdico dentro do ambiente hospitalar. Assim deve haver
orientações e o esclarecimento de dúvidas, pelo especialista aos familiares e
acompanhantes para que possa evitar assim prováveis contaminações.
Eles devem ser informados de que alguns vírus respiratórios podem sobreviver
horas em superfícies e outros micro-organismos, que causam diarréia, por exemplo,
podem sobreviver por dias nos brinquedos. Por isso, os brinquedos utilizados por
bebês e crianças pequenas não devem ser compartilhados, pois crianças nessa
idade levam os brinquedos à boca. Para os brinquedos das crianças maiores uma
rotina institucional deve ser elaborada, especificando a periodicidade da limpeza e
desinfecção dos brinquedos.
Brincar é uma atividade dinâmica que produz e resulta de transformações. Os
brinquedos acumulam significados atribuídos não só pelo indivíduo, com que ele
brinca naquele instante, mas também por várias gerações e povos, ao longo da
história da humanidade.
Portanto, pode-se concluir que o espaço hospitalar humanizado, contribui tanto para
a recuperação física, psíquica e emocional quanto para o desenvolvimento cognitivo
da criança/adolescente hospitalizado, além de aproximá-lo da possibilidade de sua
reintegração social. Cabendo assim aos profissionais da educação e da saúde o
papel de humanizadores do ambiente hospitalar, transformando-o em um ambiente
acolhedor, aconchegante, alegre e, sobretudo solidário.
40
3.7 LIMITES E DESAFIOS NO CONTEXTO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR
O pedagogo atuante em ambiente hospitalar enfrenta a cada dia um novo desafio,
devido ao encontro diário com um sujeito debilitado por sua doença, contudo ainda
esperançoso com sua recuperação e com seu retorno a sua realidade e rotina de
vida.
Entende-se por doença um processo natural da vida, mas é de difícil compreensão
quando envolve criança que sofre por algum tipo de deficiência seja ela física,
metabólica, hematológicas e outras mais encontradas dentro da área hospitalar.
O tratamento da doença é quem determina o tempo da criança/adolescente no
hospital, e a distância da escola regular, a Pedagogia em ambiente hospitalar veio
para suprir as necessidades desta criança e adolescente hospitalizado, e a
modalidade como assim é reconhecida se vê todos os dias diante a uma batalha
quando se fala principalmente de saúde x doença.
Nesta perspectiva Matos e Mugiatti afirmam que:
Se a doença, portanto, se mostra multifatorial, não é justo que se realize um
atendimento meramente físico, assim atentando apenas para o mais
evidente, perturbador e residual, descartando os demais aspectos,
igualmente importantes, que contribuíram para sua instalação e,
seguramente contribuirão para sua recidiva, se não forem devidamente
solucionados. (2007, p. 20)
Sobre esta ótica, os limites impostos pela doença a cada dia exigem dos pedagogos
a força e a vontade para romper estas barreiras, colocando em prática ideias
inovadoras e criativas, como por exemplo, produzir projetos novos, dinâmicos e
criando
espaços
lúdicos
com
a
finalidade
de
elevar
a
autoestima
da
criança/adolescente diminuindo o sofrimento e descontraindo para que possa
esquecer nem que seja por alguns minutos o seu estado de saúde.
Matos e Mugiatti, sobre as atitudes inovadoras afirmam que:
Inovar, abrir caminhos nunca foi tarefa das mais fáceis. A grande dificuldade
daquele que ousa buscar o novo não esta nos percalços do devir, mas no
forte enraizamento das resistências do vigente que, de repente, vê seus
valores se esvaecerem diante de outros mais abrangentes. (2007, p 23)
41
Com certeza o trabalho a ser desenvolvido por profissionais da educação dentro do
ambiente hospitalar deve ser realizado de forma a contribuir ao desenvolvimento
cognitivo dos educando que por motivos alheios a sua vontade encontram-se
impossibilitados de frequentar as salas de aulas regulares.
Para que tal contribuição se torne efetiva, torna-se necessário um ambiente
apropriado e adequado às condições impostas à criança e adolescente
hospitalizado. Ambiente este, sendo um verdadeiro desafio a ser transposto pela
equipe pedagógica.
A tão necessária organização da Classe Hospitalar é exigida e garantida pelo
documento Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: estratégias e
orientações. (BRASIL, 2002)
Os ambientes serão projetados com o propósito de favorecer o
desenvolvimento e a construção dos conhecimentos para as crianças,
jovens e adultos, no âmbito da educação básica, respeitando suas
capacidades e necessidades educacionais especiais individuais. Uma sala
para desenvolvimento das atividades pedagógicas com mobiliário adequado
e uma bancada com pia são exigências mínimas. Instalações sanitária
próprias, completas, suficientes e adaptadas são altamente recomendáveis
e o espaço ao ar livre adequado para atividades físicas e ludo-pedagógicas.
Além de um espaço próprio para a classe hospitalar, o atendimento
propriamente dito poderá desenvolver-se na enfermaria, no leito ou no
quarto de isolamento, uma vez que restrições impostas ao educando por
sua condição clínica ou de tratamento que assim requeiram. O atendimento
pedagógico poderá também ser solicitado pelo ambulatório do hospital onde
poderá ser organizada uma sala específica da classe hospitalar ou utilizarse os espaços para atendimento educacional. (p.15-16)
Nesta perspectiva, a construção de um ambiente apropriado e adequado para o
atendimento Pedagógico torna-se tão necessário e fundamental quanto a formação
específica do Pedagogo Hospitalar.
De acordo com Matos e Mugiatti, cabe ao pedagogo hospitalar uma formação e
capacitação específica para tal trabalho, um olhar diferenciado, a fim de utilizarem
práticas diferenciadas.
[...] essas práticas da pedagogia hospitalar apontam para a necessidade de
formação de pedagogos especializados para atuação no contexto
hospitalar. Objetivando alicerçar sua continuidade dentro do contexto da
pedagogia acadêmica, torna-se importante que se tenha em mente a sua
significação em termos sociais, bem como a oportunidade que se oferece
42
para o desenvolvimento de práticas específicas, visando a adaptar
condições aprendizagem que em determinadas situações que se instalam
em contexto hospitalar são diferenciadas das que se apresentam nos
padrões normais de sala de aula. (2007, p. 122)
Além dos aspectos analisados, necessita também um sentimento de cooperação,
pois, no ambiente hospitalar o profissional da educação não trabalha sozinho, mas
com todos os demais profissionais da saúde e familiares.
Enxergar e acreditar na criança enferma, assim como em qualquer criança, é um
primeiro passo para compreendê-la, respeitá-la e auxiliá-la em seu processo de
desenvolvimento, porque de acordo com Wallon (1941, p. 11) "a criança não sabe
senão viver sua infância. Conhecê-la pertence ao adulto".
A práxis do pedagogo deve estar voltada para uma atividade integradora conciliando
a saúde e educação sobre o olhar da doença e sua ação transformadora para a
criança/adolescente que precisa deste atendimento dentro ambiente hospitalar.
Enfim, deve-se ter a consciência que há um grande caminho a percorrer, mas que
não se deve desistir jamais. Pois, o trabalho desenvolvido vai muito além de
somente transmitir conhecimento à criança/adolescente hospitalizado, é contribuir
para um “viver melhor” do mesmo.
43
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS/ESTUDO DE CASO
4.1 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO PEDAGOGO DA REDE
REGULAR DE ENSINO
Esta entrevista foi realizada com Helen, sexo feminino, 44 anos, que é pedagoga de
uma Escola Estadual do ES. Sua graduação é em Pedagogia e foi concluída há 10
anos. Atua nesta instituição há cinco anos como pedagoga.
A entrevista foi analisada nos respectivos blocos temáticos apresentados abaixo:
1. PROCESSO DE FORMAÇÃO
Helen me relatou que é pedagoga da
instituição há 5 anos e que o caso de
Mel foi o único que ela vivenciou. Disse
O caso de Mel foi o primeiro de discente ainda que a doença de Mel mexeu muito
hospitalizado
que
a
acompanhou?
instituição emocionalmente com todos na escola.
Pois era uma criança carismática e muito
dedicada aos estudos. Mel cursou na
instituição
a
5ª,
6ª
e
se
afastou
definitivamente na 7ª série.
Não. Quando me graduei, foi comentado
muito brevemente e superficialmente
Você acha que os cursos de graduação sobre
essa
vertente
da
Pedagogia
da área de educação, de alguma forma Hospitalar.
nos preparam para esse enfoque do Espero
que
em
breve
os
cursos
atendimento pedagógico da criança e comecem a focar mais essas novas
adolescente hospitalizados?
áreas pedagógicas, não só a hospitalar,
como a prisional, a empresarial, a social
e outras existentes.
44
Nas respostas dadas pela pedagoga Helen é visível que o tema Pedagogia
Hospitalar ainda é algo muito distante da rotina escolar e também dos cursos de
Pedagogia. Segundo Machado (apud, MATOS, 2010, p. 92), a Pedagogia tem como
objetivo formar educadores para a educação regular e escolar. Os cursos de
Pedagogia ainda não preparam o profissional para outras vertentes da Pedagogia
como a Hospitalar, a empresarial, a prisional entre outras, o foco principal dos
cursos ainda é a escola regular.
Helen é formada há dez anos, mas pelo que se pôde observar os cursos de
graduação não mudaram muito sua perspectiva. O profissional que se interessar
pela área da Pedagogia Hospitalar deverá buscar especialização. Porém a mesma
ainda não é ofertada na maioria das instituições restringindo assim o acesso aos
cursos.
Mattos afirma que:
As observações e as práticas desenvolvidas em contexto hospitalar,
vivenciadas durante a pós-graduação em pedagogia hospitalar,
possibilitaram um conhecimento e entendimento maior da dimensão do
campo de atuação do pedagogo em hospitais, permitindo afirmar sobre sua
abrangência e relevância. (2010, p.84)
As formações continuadas e especializações do profissional de educação tem se
configurado como imprescindível para o desenvolvimento e a melhoria dos sistemas
educativos, e isso implica na capacitação e qualificação dos profissionais que
buscam atuar nesta área e legitimá-la como um campo significativo da prática
pedagógica.
2. ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO
O envio das atividades foi feito por cerca
Por
quanto
tempo
foi
feito
acompanhamento pedagógico de Mel?
o de seis meses. Helen informou que
todas as atividades eram separadas
pelos professores e enviadas a Mel por
intermédio de um primo que estudava na
45
mesma escola. Porém depois de um
tempo a mãe não mais solicitou as
atividades. Helen acredita que a família
já estava focada na doença e que Mel
não conseguia mais acompanhar as
atividades da escola regular.
As atividades foram em parte adaptadas
a Mel. Pois quando ficamos sabendo do
motivo do seu afastamento. Todas as
As atividades que eram enviadas a Mel
atividades realizadas na escola eram
foram elaboradas especificamente para
colocadas em uma pasta específica para
ela ou eram as mesmas propostas para
serem enviadas a ela. Mas com o
a turma da escola?
avanço
da
doença
os
professores
começaram a adaptar as atividades e
algumas vezes não eram enviadas com
intuito de facilitar o aprendizado de Mel.
Não houve nenhum contato por parte do
Houve algum contato da equipe
pedagógica hospitalar com a Escola?
hospital.
O
trabalho
do
envio
das
atividades para Mel foi feito sempre por
intermédio da família.
É possível observar na entrevista que com a evolução da doença de Mel, ela não
conseguiu acompanhar mais as atividades da escola regular. É aí que entra o olhar
diferenciado do hedagogo Hospitalar. De acordo com Noff e Rachman:
... Faz necessário esclarecer que tal oferta de ensino no ambiente hospitalar
deve ser pensada com cautela, pois não pode ser reduzida à mera
transferência das práticas do ensino regular ao ensino hospital,
considerando as diferentes demandas dos diversos alunos pacientes.
(2007, p. 162).
46
O pedagogo Hospitalar deve buscar nesta problemática desenvolver atividades que
despertem interesse no aluno e não deve estar somente focado em ensinar
conteúdos e sim buscar o bem estar da criança ou adolescente, elevar sua
autoestima. Pois o papel do pedagogo hospitalar vai muito além de ensinar
conteúdos. Confirmando essa visão Assis, ressalta que:
A programação das atividades escolares tem características próprias,
adaptadas às necessidades físicas, sensoriais e de aprendizagem dos
alunos, abrangendo os vários fatores envolvidos nas relações com o
ambiente hospitalar. (2009, p.92)
Demonstra-se assim que o trabalho desenvolvido com os alunos hospitalizados é
muito mais abrangente, ele tem não somente o foco cognitivo, como o físico, o
emocional e além de tudo o afetivo. O professor hospitalar é o elo da criança
hospitalizada com a realidade que vivia antes de ser internada.
3. VISÃO EM RELAÇÃO AO ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO
HOSPITALAR
Muito importante, pois é a oportunidade
da criança sair do isolamento do hospital
Qual sua opinião como profissional da
área de educação, a respeito do
atendimento a crianças e adolescentes
hospitalizados?
e estabelecer contato com sua antiga
rotina. Eles se sentem valorizados como
pessoa. Esse trabalho é de grande
importância na recuperação ou convívio
com a doença, pois ajuda a elevar a
autoestima.
Apesar de o ambiente hospitalar não fazer parte da realidade de trabalho da
pedagoga Helen. A visão dela considera que é de suma importância o trabalho da
Pedagogia Hospitalar, reconhecendo o papel da Pedagogia no processo de
humanização e da condição da criança hospitalizada em socialização e todas as
suas dimensões físicas, cognitivas e emocionais.
47
Em relação ao sofrimento, Mattos afirma que:
[...] é grande e muitos precisam ultrapassar situações difíceis, pois alguns
passam longo tempo com dor, e sua recuperação está diretamente ligada
ao seu estado físico e emocional. Assim os profissionais que convivem com
estas crianças e adolescentes observam a melhoria e a mudança do estado
de saúde quando ocupam o tempo ocioso com atividade pedagógica dentro
do hospital. Alguns manifestam a preocupação de estar fora de casa e
também da escola, pois temem não acompanhar os estudos quando se
recuperarem e voltarem ao convívio da família em suas casas e na escola.
(2010, p.11)
A reflexão do autor propõe pensar a Pedagogia Hospitalar juntamente com
pedagogos e os profissionais da saúde, família e escola, a interação para ajudar as
crianças e adolescentes a superarem seus medos, e proporcionar uma recuperação
aliviada por meio de atividades lúdicas, pedagógicas e recreativas. E é esse o
sentido e a essência da interação de todos os agentes envolvidos no processo
educativo, de socialização e recuperação dessas crianças, pois a força dessa
proposta está na convergência de todos esses interessados e na perspectiva da
globalidade dessa problemática.
48
4.2 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DO PEDAGOGO HOSPITALAR
Paula, 29 anos de idade, possui o 3º grau completo, funcionária de uma Instituição
Pública Estadual, há um ano atua na função de professora em ambiente hospitalar.
A entrevista aconteceu no ambiente de trabalho de Paula, e entre um atendimento e
outro a professora respondia as perguntas elaboradas com orientação da professora
e orientadora do trabalho de conclusão de curso, que ao final da entrevista dividiu as
perguntas em blocos temáticos.
Estes blocos temáticos abordaram à formação, o cotidiano da Pedagogia Hospitalar,
a família, perspectivas e visão de alcance da Pedagogia Hospitalar e propostas da
Pedagogia Hospitalar. A proposta da entrevista é mostrar a realidade e contexto que
o Pedagogo vive no dia a dia.
1. A formação
Há quanto tempo trabalha nesta
área?
Possui especialização na área de
Pedagogia Hospitalar?
Há doze meses trabalho nesta área e há
três anos é formada em Pedagogia.
Não, mas possuo em outras áreas e
pretendo fazer pós em gestão hospitalar.
Em análise ao quadro acima sobre a formação do pedagogo percebe-se que nas
instituições de ensino universitário pouco se falam da modalidade de ensino que por
sua vez falha em não preparar o pedagogo para trabalhar também em instituições
não escolares, a divulgação desta modalidade deveria ser mais consistente, pois a
continuação do saber independe do espaço escolar.
Sobre a formação do educador Marques, afirma que:
Busca-se formar um educador ao nível dos demais, com e como eles
portador de uma sólida formação teórica atenta aos desafios que lhe porá a
49
concretude ampla das práticas da educação escolar. Neste eixo articulador,
que é a formação pedagógica, coletiva e ampla, capaz de dar conta das
práticas diversas, e justamente porque diverso, no interior dos processos de
educação, ai se insere, como raios divergentes, a distinta atenção que se
deverão prestar as situações varia e concretas objetivações. (2003, p.122)
De acordo com Paula, durante sua formação não ouviu falar desta modalidade e que
realmente só conheceu pelos editais de processos seletivos, e que ela acredita que
a formação deste profissional tem que ser dentro das faculdades e não só nas
especializações.
2. O cotidiano da Pedagogia Hospitalar.
O
hospital
atendimentos,
O Hospital possui classe hospitalar
ou atendimento individual?
possui
a
os
classe
dois
para
tipos
de
aqueles
alunos que podem se locomover e o
atendimento no leito que é realizado
quando solicitado pela gerente da unidade
e ambos são individualizados.
Não, na verdade quem traz os pacientes
Quando o paciente é internado existe
a procura do atendimento?
são os profissionais de saúde ou os pais
quando estão passando e acham que a
sala é um espaço para recreação, mas a
maioria das famílias sabe da existência do
atendimento na unidade.
50
Quando o aluno chega à instituição a
família e o aluno preenche uma ficha
Como
é
atendimento?
a
sua
rotina
de investigativa na qual descreve o nível de
conhecimento, e a família leva outra ficha
para a escola com a finalidade de analiar o
processo de ensino do aluno.
A continuação dos estudos das crianças, adolescentes e jovens deve permanecer
no ambiente que se fizer necessário, para que não haja prejuízo e déficit no
aprendizado evitando repetência de ano ou até mesmo desistência e da
continuidade de seus estudos devido ao afastamento por motivo de doença.
A esse respeito Matos e Mugiatti salientam que:
A educação que se processa, por meio da Pedagogia Hospitalar, não pode
ser identificada como simples instrução (transmissão de alguns
conhecimentos formalizados). É muito mais que isto. É um suporte psicosócio-pedagógico dos mais importantes, porque não isola o escolar na
condição pura de doente, mas, sim o mantém integrado em suas atividades
da escola e da família e apoiado pedagogicamente na sua condição de
doente. (2007, p.47)
O atendimento hospitalar de acordo com a professora acontece em classe hospitalar
que a instituição possui e atendimento no leito no qual este funciona a partir de uma
ficha avaliativa que é preenchida pelos alunos e pais que buscam informações na
escola. Esta ficha tem a proposta de saber o nível de conhecimento do aluno para
que a professora de andamento ao processo de ensino aprendizagem.
O seguimento do ensino aprendizagem depende de uma investigação prévia do
aluno e seu conhecimento de mundo que é importante nesta questão para a
elaboração do plano de aula para atender estes alunos da classe hospitalar, e a
integração da Escola com o Hospital e o apoio dos pais em buscar os conteúdos e
levar o que o aluno realiza enquanto esta no hospital.
51
3. A família
Eles vão até a escola, fazem a ligação
Como a família contribui para o entre a Escola e o Hospital e ajudam com
melhor andamento de seu trabalho o material didático para melhor atender o
com o paciente/aluno?
aluno. Apesar de no início acharem que a
classe hospitalar é só uma sala de
recreação.
A classe hospitalar para a família em seu primeiro instante é vista como ambiente de
recreação dos alunos/pacientes, mas quando os profissionais lhes convidam a
participar do projeto e lhe explicam como funciona e os direitos que as crianças
possuem eles compreendem melhor o porquê desse atendimento especializado
dentro do hospital.
A família é o cordão umbilical que alimenta o saber entre o Hospital e a Escola e
contribui de forma efetiva e afetiva no processo de humanização e alfabetização do
aluno em sua fase hospitalar. Segundo Matos e Mugiatti (2007, p. 125), este
processo se confirma na “atitude estimulante dos pais ou responsável representa
uma significativa contribuição, em termos psicológicos, para estruturação da
personalidade da criança (ou adolescente) hospitalizada”.
Esta parceria possibilita ao professor desempenhar o seu papel de educador com
mais segurança e certeza de contribuição para um futuro certo aos alunos que
necessitam do atendimento especial e diferenciado. Acredita-se que os pais devem
desenvolver não só nos hospitais, mas, nas escolas de ensino regular o estimulo de
continuidade dos estudos de seus filhos.
52
4. Perspectivas e Visão de Alcance da Pedagogia Hospitalar
É de suma importância, todo o hospital
deveria ter o atendimento especializado,
Qual
sua
opinião
sobre
o para que a criança se sinta inserida na
atendimento da Pedagogia dentro do escola quando retorna para a escola,
Hospital?
apesar de estar internada. Os hospitais
deveriam ter o atendimento diferenciado.
Os profissionais da área de saúde são
colaboradores do trabalho Pedagógico,
Como os profissionais da área de
eles estimulam as crianças mesmo quando
saúde compreendem o seu
os pais não sabem do atendimento os
atendimento?
levam até a classe hospitalar.
Produtivo, o paciente se sente mais alegre
se recupera melhor, com animo novo com
Como você vê o seu trabalho, na as atividades propostas apesar de estarem
recuperação do paciente?
internadas e isto é notável dentro da
pediatria.
Qual a contribuição do seu trabalho
pedagógico
paciente?
na
recuperação
Elevo a autoestima, estímulo o paciente e
do a família para que não venham desanimar
devido à doença e acredito que a minha
contribuição vai além da educação.
53
O atendimento diferenciado deveria ter em todos os hospitais que se fizer
necessário a continuidade do educando, pois a continuidade é garantida por lei e o
seu processo de ensino aprendizagem independe do espaço escolar. De acordo
com Matos e Mugiatti afirmam que:
Para o sucesso deste intento recomenda-se rever aspectos de
possibilidades num espaço planejado, o qual se constituirá no paradigma
mais amplo da educação que busca a natureza do aprendizado, em
contraposição de métodos que levem apenas a instrução. (2007, p.105)
A contribuição pedagógica vai além do ser educado mais parte também para o
emocional que possibilita o paciente a sua melhora e recuperação no processo da
saúde e doença que o individuo passa ao longo de sua vida, sendo assim de acordo
com Matos e Mugiatti (2007, p. 104) “a enfermidade acaba, quase sempre, por
atingir os aspectos-cognitivos, psicológico e social – da criança (ou adolescente)
hospitalizada, e isso se reporta a um momento de atendimento especial em sua
vida”.
Esse momento de atendimento especial para criança e adolescente, acontece de
forma carinhosa e humanística pelo educador que trabalha com esta modalidade de
ensino dentro do ambiente hospitalar.
5. Propostas da Pedagogia Hospitalar
Qual sua opinião para melhorar o
atendimento
do
Pedagogo
no Disponibilização de material didático.
ambiente hospitalar?
Para a continuidade do trabalho é preciso à parceria de todos, não só dos
profissionais de saúde e de educação, mas dos gestores a fim de colaborar com
materiais didáticos e um ambiente educador, pois para se educar é preciso de um
ambiente que favoreça.
54
Para o sucesso deste intento, Matos e Mugiatti (2007, p.105) recomendam que se
deva “rever aspectos de possibilidades num espaço planejado, o qual se constituirá
no paradigma mais amplo da educação que busca a natureza do aprendizado em
contraposição de métodos que levem apenas à instrução”.
A Pedagogia Hospitalar precisa de mais apoio, pois ela esta presente e não pode
ser ignorada, mas sim reconhecida como mais um ambiente de continuidade de
seus estudos.
55
4.3 A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DA MÉDICA PEDIATRA
Amanda, 35 anos de idade, Médica Pediatra há 13 anos, especializada em
Infectologia Pediátrica há 10 anos. Profissional atuante em Hospital Público
Pediátrico.
1. A Visão sobre a Pedagogia Hospitalar
Hoje em dia cada vez mais a doença
Qual a sua opinião da importância da
atuação do pedagogo no ambiente
hospitalar?
crônica está presente na vida da criança,
fazendo com que elas praticamente
vivam dentro do hospital. Principalmente
por esse motivo há a necessidade do
pedagogo dentro do Hospital.
Sim e muito. Porque moramos em um
país
praticamente
analfabeto.
A
tecnologia está muito presente no nosso
dia a dia principalmente no campo da
Você considera importante na atualidade medicina em que melhorou a sobrevida
o atendimento educacional às crianças do
hospitalizadas?
paciente,
porém
ainda
não
proporcionou a cura. Nesse sentido o
atendimento
educacional
dentro
do
ambiente hospitalar vem proporcionar
junto com a medicina a melhora na
sobrevida do paciente.
A sociedade atual, com suas especificidades e necessidades exigem do sistema de
ensino novas adequações, um novo perfil do profissional da educação,
principalmente nesta modalidade de ensino, não tão nova em nossa realidade, mas
ainda pouco explorada.
56
A respeito do campo de atuação do pedagogo, Libâneo (apud, MATTOS, 2009,
p.83) afirma que:
É quase unânime entre os estudiosos, hoje, o entendimento de que as
práticas educativas estendem-se às mais variadas instâncias da vida social
não se restringindo, portanto, à escola e muito menos à docência, embora
estas devam ser a referência da formação do pedagogo escolar. Sendo
assim o campo de atuação do profissional formado em pedagogia é tão
vasto quanto são as práticas educativas na sociedade. Em todo lugar onde
houver uma prática educativa com caráter de internacionalidade, há ai uma
pedagogia.
A atuação do Pedagogo em ambiente Hospitalar vem contribuir para o retorno da
criança e adolescente hospitalizado à sua rotina de vida, proporcionando a
possibilidade do retorno à Escola regular sem prejuízos à sua educação.
Em referência à importância e ao reconhecimento da Classe hospitalar, Nascimento
e Freitas (apud, MATOS; TORRES, 2010, p. 24) afirmam que:
O serviço de cunho educativo de maior expressividade nos hospitais
brasileiros remete-se a Classe Hospitalar, legalmente reconhecida a partir
de 1994, com a Política Nacional de Educação Especial (Brasil, 1994), a
qual afirma que a Classe Hospitalar é a modalidade de atendimento
educacional-pedagógico no contexto do hospital. Preconiza a Classe
Hospitalar como modalidade de ensino que prevê a assistência educativa às
crianças internadas, caracterizadas como crianças em situação de risco
educacional ao fracasso escolar e à evasão escolar.
Como podemos observar a incidência de doenças crônicas na infância e na
adolescência estão cada vez mais presentes em nossa realidade, desta forma a
permanência da criança e adolescente em ambiente hospitalar, se tornam longos e
duradouros fazendo com que a criança se afaste da Escola, acarretando sérios
prejuízos ao seu desenvolvimento cognitivo e psicológico.
2. O Impacto e a Importância do Atendimento Pedagógico no Tratamento
Clínico das Crianças e Adolescentes Hospitalizados
Do ponto de vista clínico como você Vou utilizar um ditado muito antigo que
observa a interferência Pedagógica no minha avó falava: “mente desocupada,
tratamento
e
recuperação
criança/adolescente hospitalizada?
da oficina do diabo”. Com o ensino dentro
do Hospital você desvia o foco da
57
doença, pois a criança se envolve com
os conteúdos da escola, se preocupa
com
português,
matemática,
se
preocupa com outras coisas, se desvia
dele a preocupação maciça com a
doença, a preocupação com a alta, com
o tratamento muitas vezes doloroso.
Você dá um novo sentido de vida. Você
dá objetivo para que ele volte a sonhar,
seja com sua melhora, seja com seu
retorno ao lar, ou ao seu retorno a
escola. E isso só contribui com a
recuperação do paciente.
Fundamental,
Hospitais
principalmente
que
atendam
em
crianças
portadoras de doenças crônicas, mas é
necessário em minha opinião um maior
envolvimento de todos os membros da
Qual
a
sua
necessidade
Pedagógico
hospitalar?
avaliação
do
dentro
quanto
à equipe de saúde e pedagógica, para que
atendimento possa
do
se quebrar vários
ambiente paciente
é
de
todos,
e
tabus. O
com
um
atendimento melhor, o único beneficiário
será a criança. A criança que tem o
atendimento fica mais receptiva ao
tratamento, eleva sua autoestima, e isso
só contribui para sua recuperação.
O atendimento pedagógico em ambiente hospitalar contribui efetivamente para o
autoconhecimento da criança e adolescente hospitalizado a respeito do seu estado
de saúde e de seu tratamento, mesmo estando em um ambiente não comum a eles,
como afirmam Nascimento e Freitas (apud, 2010, p. 23):
58
[...] a criança se vê em um ambiente estranho, cercada de pessoas
igualmente estranhas. Os procedimentos terapêuticos são, muitas vezes,
dolorosos e invasivos, e, nesse contexto, o processo da doença pode levar
a descaracterização da personalidade infantil.
Nesta ótica, o profissional da educação atuante no ambiente hospitalar oferece
subsídios para o retorno do aluno ao seu ambiente comum, como também uma
maior compreensão do seu estado de saúde, sua doença. Assim, a participação
efetiva do Pedagogo Hospitalar, auxilia concretamente na recuperação e na
sobrevida da criança e adolescente hospitalizado.
A possibilidade de retorno à escola, “permite que a criança se mantenha conectada
com a vida normal e reforça a esperança de sentir-se bem e de curar-se.”
(GRANEMANN, apud, MATOS; TORRES, 2010, p. 135)
Seja a criança portadora de uma doença crônica ou de uma doença com maior
possibilidade de recuperação, a permanência dela em um ambiente estranho e
considerado muitas vezes “frio”, faz com que ela se distancie de sua rotina de vida.
Distância essa que não contribui e sim prejudica sua recuperação.
Quando a criança ou adolescente hospitalizado têm o acompanhamento pedagógico
no ambiente hospitalar, este ambiente anteriormente considerado “frio” se torna
acolhedor e aconchegante, contribuindo assim para a recuperação e elevando sua
autoestima.
3. Relação Equipe Médica com a Equipe Pedagógica
No Hospital em que trabalho é muito
Existe de alguma forma a participação pouca e de forma arcaica. O Pedagogo
do profissional médico no que se refere atende
ao atendimento Pedagógico?
a
demanda
espontânea.
O
Professor não procura o Médico para
saber o diagnóstico ou sugestões. E o
Médico também não procura o Professor
para solicitar o acompanhamento para o
59
seu paciente. Tenho observado que não
existe preparo psicológico do Pedagogo
para atender crianças com doenças
crônicas, principalmente crianças com
AIDS, existindo muito preconceito, às
vezes medo até de se aproximar, de
tocar a criança.
Eu penso que deve ter um melhor
entrosamento da equipe, já podemos
comprovar
a
importância
deste
atendimento, porém seria necessário um
maior
diálogo
profissionais
Quais
sugestões
você
daria
entre
envolvidos,
todos
os
Professores,
para Médicos, Enfermagem, Psicólogos, etc.
melhorar a relação entre a equipe O paciente pertence a todos, e sua
Médica e a equipe Pedagógica?
recuperação, ou melhora da sobrevida
depende de todos.
Para isso eu acredito que poderiam
acontecer
reuniões
semanais,
para
discussões de diagnóstico, melhores
técnicas,
momentos
para
tirarmos
dúvidas e acharmos soluções.
Observa-se nessas informações apresentadas pelo entrevistado que há a
necessidade de um trabalho em conjunto com a toda a equipe envolvida com a
criança e adolescente hospitalizado, como afirma Matos e Mugiatti:
A Pedagogia Hospitalar, por suas peculiaridades e características, situa-se
numa inter-relação entre os profissionais da equipe médica e da educação.
Tanto pelos conteúdos da educação formal, como para a saúde e para a
vida, como pelo modo de trazer continuidade do processo a que estava
inserida de forma diferenciada e transitória a cada enfermo. (2001, p.37)
60
O trabalho em conjunto entre a equipe Pedagógica e a equipe de saúde, torna-se
uma base fundamental para que os objetivos propostos com a Pedagogia Hospitalar
sejam alcançados como, por exemplo, a recuperação, a elevação da autoestima, a
possibilidade do retorno aos estudos após o tratamento sem prejuízo ao seu
aprendizado se concretize.
Em relação à necessidade do trabalho em conjunto Assis afirma que:
Assim fica estabelecida uma verdadeira parceria colaborativa, visto que
saúde e educação trabalham juntas compartilhando objetivos,
responsabilidades, expectativas, frustrações e sucessos. Todos têm a
ganhar com um trabalho colaborativo, porque ele tende a responder com
maior qualidade às demandas da pessoa enferma e, quando da alta
hospitalar, facilitar seu processo de (re) inclusão social/escolar. (2009, p.88)
Para tanto, se torna necessário à formação adequada dos profissionais da educação
para que se preparem psicologicamente e emocionalmente, para o trato e convívio
constante com crianças que necessitam de maior atenção, devido suas
especificidades clínicas e patológicas.
É necessário um olhar acolhedor e solidário direcionado àqueles que apresentam
limites físicos, emocionais, sociais, culturais, psicológicos ou cognitivos. Olhar este
devendo ser pertencente a todos os sujeitos envolvidos independente de ser da
equipe de saúde ou pedagógica, para que juntas possam traçar metodologias e
estratégias de intervenção sempre com a preocupação com o indivíduo humano.
61
4.4
A PEDAGOGIA HOSPITALAR NO OLHAR DE UMA MÃE
A presente entrevista foi realizada com Maria, 44 anos de idade, dona de casa, mãe
de Mel, filha única, uma adolescente que ao ser hospitalizada encontrava-se com 12
anos de idade e que cursava a sexta série de ensino fundamental em uma Escola
Pública.
Hospitalização esta que teve duração de 11meses em um Hospital Público
Pediátrico com o diagnóstico de Leucemia tipo T um caso raro de manifestação da
doença, em que não há possibilidade de transplante de medula óssea ou cura
(informação esta dada por Maria), no qual Mel veio a falecer quando já havia
completado 13 anos de idade.
Maria ao se lembrar de Mel e começar a relatar a sua rotina de vida, começou a
chorar muito pedindo para interromper a entrevista e para que pudéssemos
recomeçar em um novo dia, em outro momento, pois ela não estava se sentindo
muito bem.
No segundo momento Maria já se apresentava mais calma, porém, solicitou caso ela
sentisse necessidade ela iria pedir a presença de seu esposo, no qual foi
concordado. De início na gravação pudemos observar sua voz embargada, contudo
no decorrer de sua fala ela foi se tranquilizando, podendo assim relatar com detalhes
a rotina de internação e atendimento pedagógico de Mel.
“Em novembro, nós descobrimos que a Mel estava doente quando apareceu
um carocinho no pescoço dela, aí eu e o Jorge (pai de Mel) a levamos para
o hospital, onde ela já ficou internada para fazer alguns exames, e na
próxima semana os médicos nos chamaram para dizer que ela estava com
leucemia. Ai, Mel começou o tratamento e de novembro até maio nós
achávamos que era uma leucemia comum, mas em maio em meio a um
bloco de quimioterapia os médicos descobriram que era uma leucemia tipo
T, que é uma leucemia muito rara nos disse a doutora ainda que nos
próximos 10 anos, que se teria mais aprofundamento nos estudos sobre
esse tipo de leucemia, para assim se descobrir um tratamento, que não
tinha nem chance de transplante, mas Mel continuou com as sessões de
quimioterapia, e isso durou por onze meses.
Em novembro Mel estava cursando a sexta série do ensino fundamental, e
como ela sempre foi boa aluna, ela tinha boas notas e por isso ela já tinha
passado de ano, então ela foi aprovada para a sétima série.
No início do novo ano, ela já estava na sétima série, e os professores
começaram a mandar atividades para ela por suas coleguinhas de classe,
que as levavam até minha casa e Jorge levava as atividades para o Hospital
para que Mel pudesse fazer, e no hospital tinha também os professores que
62
tem uma sala de aula, mas como Mel não podia ir até a sala de aula os
professores iriam até a enfermaria que ela estava para dar aula para ela.
Então tanto os professores da escola mandavam atividades como os
professores do hospital também davam atividades para ela e
acompanhavam as atividades que eram levadas da escola.
Depois que Mel terminava as atividades que a escola mandava, Jorge
levava para a escola para que os professores pudessem corrigir. E era
sempre assim ele juntava mais, ela fazia, Jorge levava, e a Mel foi
estudando assim. E isso começou em novembro e depois quando retornou
as aulas, mas a escola foi parando de mandar tarefas para ela e foi ficando
muito difícil para o pai dela levar para a escola as atividades, então ela
começou a fazer somente as atividades preparadas pelas tias do Hospital,
por serem mais adaptadas ao seu estado de saúde e por ela ficar mais no
Hospital.
Mel amava a rotina de estudo no Hospital, ela estudava o dia todo, Mel lia
muito, ela estava lendo três livros. Lia um livro atrás do outro, o pai dela
comprava livros pela internet, os Enfermeiros dava livros para ela de
presente, tinha uma doutora que também deu um livro para ela, eles
ficavam encantados por ela estar sempre lendo. E isso ajudava muito
porque ela estava lá, mas estava estudando, estava em contato e isso foi
muito bom.
E essa rotina era todos os dias. Todos os dias, de segunda a sexta ela tinha
o seu horário de aula e as professoras iam até Mel para passar atividades.
Mas, nos dias que ela tinha quimioterapia e ela não estava se sentindo bem
ela não queria, ela dizia „ tia hoje eu não quero fazer dever ‟. Mas era muito
difícil isso acontecer, pois mesmo ela passando mal, ela doentinha, ela
queria fazer. Só nos dias que ela fazia a quimioterapia que era feita na
coluna, na espinha, então o dia que ela fazia isso ela tomava um remedinho
para dormir e nesse dia Mel dormia muito, então nesse dia ela ficava muito
sonolenta então ela não fazia a aula, mesmo as tias indo elas levavam as
atividades para ela e colocavam debaixo do travesseirinho dela.
Às vezes ela fazia as atividades de madrugada, ela mesma pegava, fazia
tudo e no outro dia a tia passava e corrigia. Em momento algum Mel fez
avaliações no hospital, acredito por não ter dado tempo, porque ela foi
piorando e ficando muito ruinzinha e com isso ela só conseguiu estudar até
julho.
Nesse período ela queria era ler, fazer mais pinturas, desenhos e não a
fazer mais os deveres de português, de matemática. E as tias respeitavam
muito isso nela, deixando com que ela fizesse o seu próprio horário e dando
deveres de leitura e pintura. Eu acho que foi por Mel ser muito dócil e
carinhosa com todos.
Todos eles eram muito maravilhosos com minha filha e com todos os que
estavam na mesma enfermaria que Mel, e todos eles tinham
acompanhamento desde os mais pequenininhos, com atividades com
brinquedos e jogos educativos. Eu lembro que na sala de aula tinha uma
mesa bem grande com muitos brinquedos montados, eles ficavam
brincando, pintando, rabiscando. Todos tinham atividades diárias com as
tias do hospital.
Nunca nenhum médico me disse que isso tudo ajudava a Mel, mas eu
percebia que ajudava e muito ficava animada, e isso era muito maravilhoso
para mim, era muito bom ver ela assim, ela entertia muito. Mel era uma
criança que em momento algum, nunca me disse „ mãe eu estou triste, eu
63
estou doente „. E ela acreditava a todo o momento que voltaria para a
escola, que iria ficar curada. Ela tinha muitos sonhos.
Eu acho que a maneiras que eles tratam as crianças ajudam e muito para
que elas continuarem a sonhar, pois elas ficam muito tempo dentro do
Hospital e ficam afastadas de tudo. Eu lembro que na época, Jorge
comprou um notebook para ela, para que mesmo lá dentro pudesse se
comunicar com as coleguinhas aqui fora e com os parentes.
Por causa da quimioterapia as crianças ficam muito tempo dentro do
Hospital, não podendo nem ir para fora do Hospital por causa do sol, por
causa do contato com outras pessoas, devido à imunidade que fica muito
baixa, então isso é muito difícil para elas e esse atendimento ajuda muito às
crianças.
Mel completou 12 anos no dia 25 de junho de 2008, no dia 10 de novembro
de 2008 ela foi hospitalizada, no ano seguinte ela completou 13 anos dentro
do Hospital, falecendo no dia 29 de setembro de 2009. Foram 11 meses de
tratamento.
Hoje ficam as lembranças boas e dolorosas e muitas saudades. Mel em
nenhum momento reclamou, nem mesmo quando precisou raspar sua
cabeça devido à queda dos cabelos por causa da quimioterapia, ela sempre
teve um sorriso em seu rosto.
No dia do seu aniversário de 12 anos, nós estávamos andando pela rua e
ela me disse que achava que iria morrer muito cedo, isso me deixou muito
assustada. Quando nós recebemos a notícia de sua doença ela pediu
licença a toda a equipe para ficar sozinha comigo e com seu pai, e me
perguntou: “mãe, você acredita?”, e essa pergunta ela me fez por três
vezes, até eu responder que eu acreditava. Então ela me disse, „mãe eu
não te disse que não viveria muito, que eu morreria cedo?‟.
Ela foi muito desejada, desde que eu descobri que estava grávida eu parei
de trabalhar para cuidar dela, e não me arrependo nenhum segundo de
minha vida. Ela só me deu alegria. Eu acredito que Mel foi um anjo que
Deus me deu, como diz em Hebreus 13, „permaneça o amor fraternal, não
vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não sabendo,
hospedaram anjos‟. Ela foi o “anjo que Deus quis que eu cuidasse”.
Ao analisarmos a entrevista realizada com esta mãe, pudemos observar que Maria
em todo momento comentou com muito carinho sobre todo o ocorrido com sua filha,
aqui carinhosamente chamada de Mel, fazendo-nos perceber o grande envolvimento
emocional e afetivo que ocorreu entre a família da adolescente hospitalizada e a
equipe pedagógica.
Com toda afetividade envolvida a mãe fala do acompanhamento pedagógico com
uma função importante de dar esperança de vida, de sonhar e projetar vida para
além dos problemas enfrentados.
64
O câncer na adolescência como no caso de Mel pode acarretar vários problemas
desde os de estética como psicológicos, como é afirmado e questionado por Lucon
(apud, MATOS; TORRES, 2010, p. 289).
Para o adolescente, entre muitas implicações que acarreta o diagnóstico de
câncer pode prejudicar o desenvolvimento da sua identidade, levando-o a
perder o sentido de sua continuidade histórica e a perspectiva de futuro,
pois a hospitalização traz consigo a percepção da fragilidade, do
desconforto da dor e a insegurança da possível finitude. [...] O
distanciamento dos amigos, o afastamento de casa, o administrar o
tratamento, o conviver com condutas invasivas e cirúrgicas necessárias, o
lidar com a mudança no ritmo e estilo de vida, o abandono de projetos, de
sonhos, e a inevitável interrupção dos estudos. Frente a esta realidade,
como fica a vida escolar deste adolescente?
Nesta ótica, o profissional da educação no ambiente hospitalar passa então a ser
visto além do papel de um recreador hospitalar, como alguém que proporciona o
retorno a capacidade de sonhar seja com sua recuperação, seja com o retorno a sua
vida “normal” com seu retorno a escola regular, ou até mesmo com sua cura.
De acordo com Santos e Souza (apud, MATOS, 2009, p.115), o apoio pedagógico
tem a função de ser:
[...], mais que tentativa de repor a ausência do aluno à escola, tem se
manifestado como fator importantíssimo ao pronto restabelecimento da
saúde do educando, pois, se verifica que, motivados pela assistência
educacional, os pacientes sempre se manifestam melhoria nos seus
estados de saúde, consequência direta da valorização humana que sentem
ao receberem complementação educacional enquanto submetidos a
tratamentos de saúde. (2009, p. 115)
Mas para que isso se concretize, será exigida do educador uma escuta mais
aguçada, que vá além de sons, que escute qualquer forma de expressão da criança.
É necessário que o educador passe a conhecer bem a criança ou adolescente
hospitalizado, para poder respeitar as limitações impostas aos internos.
Segundo Martins (apud, MATOS, 2009, p. 100), “a escuta vai muito mais além que
dos choros e das vozes; ela interpreta o desejo, o olhar, a dor da criança, lê nas
entrelinhas dos movimentos à sua volta, visualizando a esperança que a criança tem
em viver”.
65
O pedagogo hospitalar e a equipe de saúde devem, portanto, em seu olhar, em sua
escuta respeitar as histórias de vida de seus alunos/pacientes e seus familiares,
sendo que estas histórias são únicas e singulares.
Podemos observar que o atendimento educacional oferecido a Mel contribui tanto
para a melhora em sua autoestima, como também proporcionou à família a
continuidade dos sonhos do seu retorno ao lar. O atendimento pedagógico apesar
de direcionado à adolescente refletiu diretamente em sua família, sendo esta relação
proveitosa para ambos os lados, por incentivar a participação e envolvimento por
parte da família em todo o processo, como é afirmado por Santos e Souza (apud,
MATOS, 2009, p. 114).
É neste momento que os profissionais da educação devem trabalhar para
despertar a consciência da criança, do adolescente e da família acerca da
importância da continuidade de seus hábitos cotidianos, respeitando os
limites impostos pelo processo vivenciado, esclarecendo à família e muitas
vezes a escola de origem sobre o direito legal da criança continuar seu
processo de escolarização.
O atendimento pedagógico deve, portanto, ser oferecido a todas as crianças
hospitalizadas, independente de idade ou patologia. Sendo que este atendimento
como dito anteriormente deverá respeitar as limitações impostas a cada criança,
como por exemplo, as crianças que não podem se deslocar até a classe hospitalar
deverá como no caso de Mel ter o seu atendimento no próprio leito.
O atendimento pedagógico irá por várias vezes ultrapassar as questões didáticas, de
conteúdos a serem dados. Ele passará a ser por várias vezes o único elo da criança
com o ambiente externo, com sua realidade de vida anterior, com sua história.
Enfim, como afirma Porto (2008, p. 99), para ser um pedagogo hospitalar há a
necessidade de se ter:
[...] muita coragem e determinação. É tirar o salto alto quando for preciso e
usá-lo quando for necessário. É ter coragem e determinação aliadas ao
embasamento teórico não só pedagógico, mas também patológicos e
psicopatológicos. É arregaçar as mangas quando o serviço for pesado e,
principalmente, não desanimar nunca. É difícil? É, mas não impossível. E
finalmente é gostar de gente, do seu semelhante, como já dizia o poeta:
„quando queremos e determinamos uma coisa, todo o universo conspira a
nosso favor‟.
66
Isso é pensar a Pedagogia como um meio de dar esperança e coragem diante das
adversidades da dor, da doença e como no caso de Mel o enfrentamento direto com
a morte.
67
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atuação do pedagogo no ambiente hospitalar ainda é uma prática não muito
conhecida e reconhecida em nossa sociedade, mesmo esta prática sendo tão
necessária nos dias atuais.
Com isso a formação específica tão necessária e defendida nesta pesquisa é pouco
explorada seja esta nos cursos de graduação onde se fala muito superficialmente
dos espaços não escolares, como nos cursos de especializações ainda pouco vista
e divulgada no meio pedagógico.
É exigido do pedagogo hospitalar um olhar diferenciado quanto às especificidades
de cada educando atendido, para isso se torna necessário uma flexibilidade no
currículo para que este possa respeitar as condições a que a criança/adolescente se
encontra. Podemos observar que ainda existe uma lacuna a ser preenchida quando
se refere ao currículo no contexto hospitalar, cabendo ao pedagogo uma visão
holística do meio a que o educando está inserido.
A prática do pedagogo no ambiente hospitalar vem contribuir expressivamente na
superação dos desafios impostos à criança e adolescente hospitalizado que são
acometidos por doenças que por muitas vezes os afastam de seu ambiente escolar
e principalmente familiar.
O pedagogo hospitalar vem somar com a família e com toda a equipe de saúde para
a recuperação física, emocional, psíquica, social, etc. Auxiliando ao educando no
autoconhecimento de sua patologia como também por muitas vezes o lidar com a
possibilidade da morte.
Desta forma possibilitando a humanização e a integração da saúde e a educação,
fundamentados no sonho, na educação, principalmente no amor e na formação
específica dos profissionais que atuam nesta área.
Enfim, devido à importância do pedagogo hospitalar na reintegração da criança e
adolescente hospitalizado no meio escolar e social, ressaltamos a necessidade no
aprofundamento de discussões e pesquisas que envolvam esta temática, a fim que
se possa divulgar esta modalidade de ensino tão necessária às nossas
crianças/adolescentes.
68
6 REFERÊNCIAS
ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto. A psicologia no hospital. São Paulo:
Traço, 1988.
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro:
Zahar,1981.
ASSIS, Walkíria de. Classe hospitalar: um olhar pedagógico singular. São Paulo:
Phorte, 2009.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:
promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.mec.gov.br.
Acesso em 15 de abril de 2010.
______, Direitos da criança e do adolescente hospitalizados. Diário Oficial, Brasília,
17 out. 1995. Seção 1, p. 319-320. Disponível em: <http://www.mec.gov.br. Acesso
em 15 de abril de 2010.
______, (1994). Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília, DF (Mensagem especial,
v. 1). Disponível em: <http://www.mec.gov.br. Acesso em 15 de outubro de 2010
______. Ministério da Educação. Classe hospitalar e atendimento pedagógico
domiciliar: estratégias e orientações. Secretaria de Educação Especial. Brasília,
DF: MEC; SEESP, 2002. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/livro9.pdf. Acesso em: 11 de março de
2011
CECCIM, Ricardo Burg, CARVALHO, Paulo R. Antonacci, (orgs.). Criança
hospitalizada: atenção integral como escuta à vida. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 1997.
CECCIM, Ricardo B., FONSECA, Eneida S. . Classe hospitalar: buscando padrões
referenciais de atendimento pedagógico-educacional a criança e ao adolescente
hospitalizados. Revista Integração, MEC/SEESP, ano 9, nº 21,1999, p. 31-39.
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1998.
ESTEVES, Claudia R. Pedagogia Hospitalar: um breve histórico. Disponível em:
http://qualievidanapedhospitalar.blogspot.com. Acesso em: 22 de março de 2010.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa. 3 ed. São Paulo: Positivo, 2004.
FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento escolar hospitalar: o trabalho
pedagógico-educacional no ambiente hospitalar: a criança doente também estuda e
aprende. Rio de Janeiro: UERJ, 2001.
69
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas,
1991.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de
metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez,
2000.
MARQUES, Mario Osorio. A formação do profissional de educação.4 ed., Editora
Unijuí, 2003.
MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGIATTI, Margarida Maria Teixeira de Freitas.
Pedagogia hospitalar: A humanização integrando educação e saúde. 2. ed .
Petrópolis: Vozes, 2007.
______, Pedagogia Hospitalar. Curitiba: Champagnat, 2001, p.37.
______, (org.) Escolarização hospitalar: educação e saúde de mãos dadas para
humanizar. Petrópolis: Vozes, 2009.
MATOS, Elizete Lúcia Moreira; TORRES, Patrícia Lupion (orgs.). Teoria e prática
na pedagogia hospitalar: novos cenários, novos desafios. Curitiba: Champagnat,
2010.
MORAES, Amaury César. As Diretrizes Curriculares para os Cursos de
Licenciatura: tentando uma abordagem. Disponível
em:<http://macsul.wordpress.com/2008/07/31/as-diretrizes-curriculares-nacionaispara-os-cursos-de-licenciatura-tentando-uma-abordagem/). Acesso em: 17 de março
de 2010
NOFFS, Neide de Aquino; RACHMAN, Vivian C. B. Psicopedagogia e saúde:
reflexões sobre a atuação psicopedagógica no contexto hospitalar. Revista
Psicopedagogia, São Paulo, v. 24, p. 160-8, jun. 2007.
NÓVOA, Antônio. A formação de professores e qualidade de ensino. Revista
aprendizagem: a revista da prática pedagógica. Pinhais: Melo, n. 2, p. 25-31, 2007.
OLIVEIRA, Linda Marquers de; FILHO, Vanessa Cristiane de Souza; GONÇALVES,
Adriana Garcia. Revista Científica Eletrônica de Pedagogia. São Paulo, ano VI, n.
11, janeiro 2008. Disponível em: <http://www.revista.inf.br . Acesso em: 18 de maio
de 2010.
PORTO, Olívia. Psicopedagogia hospitalar: Intermediando a humanização na
saúde. Rio de Janeiro: Wak, 2008.
TRAVASSOS, L.C.P. (s.d.) inteligências Mútiplas Disponível em:
<http://pt.wikipédia.org . Acesso em: 11 de maio de 2010.
70
VIEGAS, Dráusio (org). Brinquedoteca Hospitalar: Isto é humanização. 1. ed. Rio
de Janeiro: Wak, 2007.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos
processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
______, Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
______, Manuscrito de 1929: psicologia concreta do homem. 2ª ed. Educação &
Sociedade, Campinas, v. 21, nº71, p. 21-44, 2000.
Portal do Hospital do Cancêr: Disponível em
<htpp://www.hcanc.org.br/oncoped/UTIped1. Acesso em: 22 de maio de 2010
WALLON, Henri. As origens do caráter na criança: os prelúdios do sentimento de
personalidade. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1971.
______, A evolução psicológica da criança. 70. Ed. Rio de Janeiro: Andes,1941.
71
APÊNDICES
72
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM O PEDAGOGO DA REDE
REGULAR DE ENSINO
IDENTIFICAÇÃO:
Nome:
Sexo:
Idade:
Profissão:
Especialização:
Tempo de atuação na área:
1. O caso de Mel foi o primeiro caso de discente hospitalizado que a instituição
acompanhou?
2. Você acha que os cursos de graduação da área de educação, de alguma
forma preparam para que esse enfoque do atendimento Pedagógico da
criança e adolescente hospitalizados?
3. Por quanto tempo foi feito o acompanhamento pedagógico de Mel?
4. As atividades que eram enviadas a Mel foram elaboradas especificamente
para ela ou eram as mesmas propostas para a turma da escola?
5. Houve algum contato da equipe pedagógica do Hospital com a Escola?
73
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM O PEDAGOGO
HOSPITALAR
IDENTIFICAÇÃO:
Nome:
Sexo:
Idade:
Profissão:
Especialização:
Tempo de atuação na área:
1. Há quanto tempo trabalha nesta área?
2. Possui especialização na área de Pedagogia Hospitalar?
3. No Hospital possui classe hospitalar ou atendimento individual?
4. Quando o paciente é internado existe a procura do atendimento?
5. Como é a sua rotina de atendimento?
6. Como a família contribui para o melhor andamento de seu trabalho com o
paciente/aluno?
7. Qual sua opinião sobre o atendimento da pedagogia dentro do Hospital?
8. Como os profissionais da área de saúde compreendem o seu atendimento?
9. Como você vê o seu trabalho, na recuperação do paciente?
10. Qual a contribuição do seu trabalho pedagógico na recuperação do
paciente?
11. Qual sua opinião para melhorar o atendimento do pedagogo no ambiente
hospitalar?
74
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM O MÉDICO PEDIATRA
IDENTIFICAÇÃO:
Nome:
Sexo:
Idade:
Profissão:
Especialização:
Tempo de atuação na área:
1. Qual a sua visão da importância da atuação do pedagogo no ambiente
hospitalar?
2. Você considera importante na atualidade o atendimento educacional às
crianças hospitalizadas?
3. Do ponto de vista clínico como você observa a interferência pedagógica no
tratamento e recuperação da criança hospitalizada?
4. Existe de alguma forma a participação do profissional médico no que se
refere ao atendimento pedagógico?
5. Qual a sua avaliação quanto à necessidade do atendimento pedagógico
dentro do ambiente hospitalar?
6. Quais sugestões você daria para melhorar a relação entre a equipe médica e
a equipe pedagógica?
Download

pedagogia hospitalar: uma modalidade de ensino em diferentes