CELSO LUIZ DE SOUZA LACERDA RELAÇÕES ESTRATÉGICAS DO BRASIL COM A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS: uma proposta de melhoria nos processos decisórios para as missões de paz Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: CMG (RM-1 FN) Fernando Mose da Silva Abreu Rio de Janeiro 2013 C2013 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG. _________________________________ Assinatura do autor Biblioteca General Cordeiro de Farias Lacerda, Celso Luiz de Souza. Relações estratégicas do Brasil com a Organização das Nações Unidas: uma proposta de melhoria nos processos decisórios para as missões de paz / Celso Luiz de Souza Lacerda. – Rio de Janeiro: ESG, 2013. 40 f.: il. Orientador: CMG (RM-1 FN) Fernando Mose da Silva Abreu. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013. 1. Missões de Paz. 2. Organização das Nações Unidas. 3. Negociações estratégicas. I. Título. A todos da família que durante o meu período de formação contribuíram com ensinamentos e incentivos. A minha gratidão, em especial para Cláudia, minha esposa e meus filhos: Pedro, Gabriel e Luíza, pela compreensão, como resposta aos momentos de minhas ausências e omissões, em atividades da ESG. dedicação às AGRADECIMENTOS Aos meus professores de todas as épocas por terem sido responsáveis por parte considerável da minha formação e do meu aprendizado. Aos estagiários da Turma FORÇA BRASIL, pelo convívio harmonioso de todas as horas. Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil com a responsabilidade implícita de ter que melhorar. Aos colaboradores, que responderam meus questionamentos e indagações, permitindo que pudéssemos – juntos – colaborar com a projeção do Brasil no âmbito das missões de paz. À equipe da Biblioteca da ESG, pela paciência e pelas orientações na confecção do trabalho segundo as normas da ABNT e da escola. Ao CMG Mose, meu orientador, pela paciência e pelas orientações seguras e precisas, para a confecção deste trabalho. Aos operadores de paz brasileiros, que se dedicam e se desdobram em bem cumprir suas missões, em nome do Brasil e em apoio às populações necessitadas, pelo Bem Comum, deixando suas famílias e interesses particulares em segundo plano. As others have said before me, while the United Nations may not be able to take humanity to heaven, it must act to save humanity from hell. Como outros me disseram anteriormente, enquanto as Nações Unidas não estão aptas a levar a humanidade ao céu, elas devem salvá-las do inferno. (tradução do autor) Dag Hammarskjöld RESUMO Esta monografia aborda relações estratégicas entre o Brasil e a ONU, com o objetivo de ampliar a participação brasileira nas missões de paz e permitir a contribuição para a conquista do assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Cada vez mais o Brasil se faz representado no concerto das nações com as suas forças armadas visando levar melhores condições de vida, buscando o Bem Comum mundial. O autor procurou analisar o processo de comunicação entre o Governo Brasileiro e as Nações Unidas para propor maneiras de reduzir o prazo no tramite de documentos e acelerar o envio de militares para operarem nas missões de paz. Foi realizada uma pesquisa com diversos órgãos envolvidos no processo, visando aprofundar o conhecimento e a proposta do circuito da cadeia de comando. Palavras chave: Missões de Paz. Organização das Nações Unidas. Negociações estratégicas. ABSTRACT This work treats about strategical relations between Brazil and UN, which objective is to grow the Brazilian participation in the peacekeeping missions and to permit the conquest of the permanent seat in the UN’s Security Council. Once more Brazil is represented in the council of the nations with his armed forces looking for to give better life conditions, for the good way of life in the world. The author tried to analyze the communication process between the Brazilian Government and United Nations to suggest ways to reduce the time in the way of the documents and accelerate the process to send of military to operate in the peacekeeping missions. He made a research to many organizations involved in the process, looking for deep knowledge and made a proposal to the chain of command. Key words: Peacekeeping operations. United Nations Organization. Strategical Negotiations. Relations. RESUMEN Este trabajo és sobre relaciones estrategicas entre Brasil y las Naciones Unidas, con el proposito de ampliar la participación brasileña en las misiones de paz y permitir la conquista de la cilla permanente del Consejo de Seguridad. Cada vez más Brasil és representado en el concerto de las naciones con sus fuerzas armadas mirando llevar mejores condiciones de vida en búsqueda del Bien Común Mundial. El autor procuró analisar el proceso de comunicación entre el gobierno brasileño y las Naciones Unidas para proponer maneras de reducir el tiempo del camino de los documentos y acelerar el envío de militares para participaren con diversos órganos arrollados en el proceso, mirando aprofundar conociomiento y la proposta del circuito en la cadena de mando. Palavras clave: misiones de paz. Organización de las Naciones Unidas. Negociaciones estrategicas. Relaciones. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1: Missões dirigidas pelo Departamento de Operações de Paz ................. 24 FIGURA 2: Fluxo do caminhamento do processo para missões de paz ................... 25 FIGURA 3: O Sistema das Nações Unidas ............................................................... 42 FIGURA 4: Operações de Paz da ONU – somos parceiros globais.......................... 43 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACNUDH Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados ACISO Ação Cívico-Social AG Assembleia Geral AIEA Agência Internacional de Energia Atômica ASPLAN Assessoria de Planejamento do Ministério da Defesa BI F Paz Batalhão de Infantaria de Força de Paz BIRD Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento ou Banco Mundial BRABAT Batalhão Brasileiro CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia Cia E Paz Companhia de Engenharia de Paz Cia PE Companhia de Polícia do Exército CCOPAB Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil CEP Centro de Estudos de Pessoal CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe CFI Corporação Financeira Internacional CIJ Corte Internacional de Justiça ou Corte de Haia CTBTO Organização Preparatória para o Tratado de Proibição de Testes Nucleares DFS Department of Field Support (Departamento de suporte ao terreno) DPAZ Divisão de Paz e Segurança Internacional DPKO Department of Peacekeeping Operation (Departamento de Operações de Paz) ECA Comissão Econômica para a África ECE Comissão Econômica para a Europa ECOSOC Conselho Econômico e Social EMCFA Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas ESCAP Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico ESCWA Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental ESG Escola Superior de Guerra FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura FIDA Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola FMI Fundo Monetário Internacional H Cmp Hospital de Campanha ICAO Organização da Aviação Civil Internacional IDA Associação Internacional do Desenvolvimento ILANUD Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente INSTRAW Instituto Internacional de Treinamento e Pesquisa para a Promoção da Mulher ITC Centro Internacional de Comércio MD Ministério da Defesa MINUSTAH Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti MONUSCO Missão das Nações Unidas para a Estabilização da República Democrática do Congo MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão MRE Ministério das Relações Exteriores NFCCC Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima OCHA Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários OIT Organização Internacional do Trabalho OM Organização Militar OM F Paz Organização Militar de Força de Paz OMC Organização Mundial do Comércio OMI Organização Marítima Internacional OMM Organização Meteorológica Mundial OMPI Organização Mundial de Propriedade Intelectual OMS Organização Mundial da Saúde OMT Organização Mundial do Turismo ONU Mulheres Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres ONU Organização das Nações Unidas ONU-HABITAT Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos OPAQ Organização para Proibição de Armas Químicas OPAS Organização Pan-Americana da Saúde Pel PE Pelotão de Polícia do Exército PMA Programa Mundial de Alimentos PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente RP Representação Permanente do Brasil junto à ONU TPI Tribunal Penal Internacional UIT União Internacional de Telecomunicações UEH Unidade de Emprego de Helicópteros UN/ISDR Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres UNAIDS Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids UNAVEM III Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola UNCTAD Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento UNEF I Primeira Força de Emergência das Nações Unidas UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura UNFIL Forças Interinas das Nações Unidas no Líbano UNFPA Fundo de População das Nações Unidas UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância UNICRI Instituto Inter-regional das Nações Unidas para Pesquisas sobre Crime e Justiça UNIDIR Instituto das Nações Unidas para Pesquisas sobre Desarmamento UNIDO Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial UNITAR Instituto das Nações Unidas para Formação e Pesquisa UN-LiREC Centro Regional das Nações Unidas para a Paz o Desarme e o Desenvolvimento na América Latina e Caribe UNODA Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento UNODC Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime UNOMOZ Operação das Nações Unidas em Moçambique UNOOSA Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Sideral UNOPS Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos UNPA Administração Postal das Nações Unidas UNRWA Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos UNSAS United Nations Stand-by Arrengment System UNSCOB Comissão Especial das Nações Unidas para os Bálcãs UNTAET Missão das Nações Unidas para a Administração Transitória do Timor Leste UNU Universidade das Nações Unidas UPU União Postal Universal VNU Programa de Voluntários das Nações Unidas SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12 2. A ONU ................................................................................................................. 13 2.1. O SISTEMA ONU ................................................................................................ 14 2.2. RELATÓRIO BRAHIMI ....................................................................................... 16 3. PERSPECTIVAS DO BRASIL PARA AS MISSÕES DE PAZ ............................. 19 3.1. A CONTRIBUIÇÃO BRASILEIRA ...................................................................... 19 3.2. MISSÕES COM TROPA NO HAITI E NO LÍBANO, MISSÕES INDIVIDUAIS ..... 20 3.3. PERSPECTIVAS ATUAIS E FUTURAS ............................................................. 21 3.4. MISSÕES DE PAZ EM ANDAMENTO ................................................................ 22 4. O PROCESSO DECISÓRIO ............................................................................... 25 4.1. PESQUISA DE CAMPO ...................................................................................... 27 4.2. TEMPO DAS DEMANDAS .................................................................................. 28 5. PREPARO .......................................................................................................... 30 5.1. SISTEMA DA ONU DE TROPAS DE PRONTO EMPREGO ................................ 30 5.2. PREPARO – PARA MISSÕES COM TROPA, INDIVIDUAL E DE PM ................ 33 6. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 38 ANEXO A – Organograma da ONU ................................................................... 42 ANEXO B – Atores globais em missões de paz ................................................ 43 ANEXO C – Respostas do Ministro Norberto Moretti ao questionário de .......... pesquisa ..................................................................................... 2 ANEXO D – Respostas do Cel Inf Walter da Costa Ferreira ao questionário .... de pesquisa ................................................................................ 1 12 1. INTRODUÇÃO O Brasil sempre teve a tradição e o reconhecimento nas relações políticas internacionais. Relaciona-se muito bom com os países fronteiriços; todos os problemas de fronteiras foram conformados há mais de cem anos; não se envolve em guerras com seus vizinhos e colabora com o bem comum mundial. Essas relações são consequência natural da índole pacífica de seu povo, de sua estatura geopolítica e de sua projeção internacional. Na atualidade, o Brasil estabeleceu uma linha coerente de defesa do multilateralismo e da responsabilidade recíproca entre os Estados por um sistema eficiente de segurança coletiva. Nesse sentido, firmou parceria e coordenação eficientes com o campo militar do Poder Nacional para atendimento dos compromissos internacionais assumidos junto a organismos supranacionais, como a antiga Liga das Nações, a Organização dos Estados Americanos e a Organização das Nações Unidas. Sob essa ótica, o Ministro Moretti (2013, p. 26), chefe da Divisão de Paz e Segurança Internacional do Itamaraty, afirmou que: As operações de manutenção da paz (OMP) da Organização das Nações Unidas (ONU) foram e continuam sendo instrumento importante na promoção de diversos objetivos da política externa do Brasil. Entre estes, destaca-se a prevalência do multilateralismo nas relações internacionais, em geral, e nos esforços de manutenção da paz e da segurança [...] Para a realização desta monografia, o autor fez uma pesquisa bibliográfica na legislação vigente – nacional e internacional, bem como em livros e trabalhos acadêmicos e entrevistou alguns militares e civis que servem em órgãos diretamente ligados as missões de paz, desde as Nações Unidas, até o comando do Exército. Procurou-se estudar a ONU, como funciona o seu sistema, como se deu a evolução das missões de paz ao longo do tempo, para que fosse possível idealizar propostas a serem seguidas pelo MD e, em consequência, das Forças Armadas. O objeto da análise se baseou no largo tempo de respostas as demandas da ONU, permitindo criar sugestões para acelerar e otimizar não somente as missões futuras, mas também perceber a possiblidade de ampliar a participação brasileira nas missões de paz e, assim, corroborar para a conquista de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. 13 2. A ONU O Brasil participa das Nações Unidas desde a sua fundação, em 24 de outubro de 1945, com o sentimento da comunidade internacional de que era necessário encontrar uma forma de manter a paz entre os países. A citação a seguir trata da declaração de criação da ONU, demonstrando o espírito que reinava na sua gestação e os objetivos das nações naquele momento tão sensível da história da humanidade, no pós-2ª Guerra Mundial e início da Guerra Fria entre os blocos hegemônicos – capitalista e socialista. Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que, por duas vezes no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes de direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla. E para tais fins praticar a tolerância e viver em paz uns com os outros, como bons vizinhos, unir nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, e empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos. Resolvemos conjugar nossos esforços para a consecução desses objetivos. Em vista disso, nossos respectivos governos, por intermédio de representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Organização das Nações Unidas. (NAÇÕES UNIDAS, 2001, p. 3) A Carta das Nações Unidas foi assinada em 26 de junho de 1945, em São Francisco, EUA, por ocasião do encerramento da Conferência das Nações Unidas sobre Organizações Internacionais. As Nações Unidas foram criadas para “salvar o mundo do flagelo da guerra” e tem como primeiro propósito a manutenção da paz e segurança internacionais. 14 2.1. O SISTEMA ONU A Assembleia Geral da ONU é o principal órgão deliberativo da ONU, onde os 193 Estados-Membros, a Cidade do Vaticano e a Palestina (com o status de observador) se reúnem para discutir os assuntos que afetam a vida de todo o planeta. Nessa assembleia todos os países têm direito a um voto, com total igualdade entre todos seus membros. Tratam dos seguintes assuntos: paz e segurança, aprovação de novos membros, questões de orçamento, desarmamento, cooperação internacional em todas as áreas, direitos humanos etc. Após votadas e aprovadas, as resoluções funcionam como recomendações e não são obrigatórias. O Conselho de Segurança1 é o órgão da ONU responsável pela paz e segurança internacionais. É formado por 15 membros: cinco permanentes, que possuem o direito a veto – Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China – e dez membros não-permanentes, eleitos pela Assembleia Geral por dois anos. Este é o único órgão da ONU que tem poder decisório, isto é, todos os membros das Nações Unidas devem aceitar e cumprir as decisões do Conselho. Além dos dois organismos destacados anteriormente, ainda existem: o Conselho Econômico e Social, responsável de auxiliar na promoção da cooperação econômica e social internacional e desenvolvimento; o Secretariado, para fornecimento de estudos, informações e facilidades necessárias para a ONU; o Tribunal Internacional de Justiça; e os órgãos complementares de todas as outras agências do Sistema das Nações Unidas, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Programa Alimentar Mundial (PAM) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). O Brasil participa dos processos de tomada de decisão e do trabalho das Nações Unidas principalmente por meio de quatro representações permanentes — nas cidades de Nova York (Estados Unidos), Genebra (Suíça), Roma (Itália) e Paris (França), cujas funções são acompanhar de perto a agenda da ONU, obter informações mais específicas sobre os trabalhos e ampliar a participação do País no Sistema Nações Unidas. As operações de paz não estão previstas na Carta das Nações Unidas (NAÇÕES UNIDAS, 2001). Foi necessário criar essas operações para atender as 1 Boutros Boutros-Ghali, 6º Secretário Geral da ONU, afirmou que o instrumento de veto foi utilizado 279 vezes no período da Guerra Fria, num artigo publicado em 1993 na revista The World Today. 15 demandas da comunidade internacional, quando os países percebiam crises em determinadas áreas ou regiões. No período de 1947 a 1987 ocorreram 13 operações de paz, com características militar, cujo objetivos eram monitorar o cessar-fogo, supervisionar a retirada de forças e/ ou prevenir hostilidades em áreas de fronteira. Com o final da Guerra Fria, nos fins dos anos 1980, surgiram diversos conflitos motivados por problemas culturais, étnicos e/ ou religiosos, que exigiam respostas imediatas e eficazes por parte da ONU. De 1989 a 1994 foram estabelecidas 20 missões, elevando de 11 mil para 75 mil os efetivos de mantenedores da paz empregados. As operações foram se tornando cada vez mais complexas, pela diversificação dos atores envolvidos e pelas ações necessárias ao cumprimento dos respectivos mandatos. Desta feita, alcançaram, também, contingentes policiais, civis e diversas organizações (da ONU, governamentais e não governamentais) para a reconstrução e reorganização das instituições locais e na melhoria das condições humanitárias. A primeira missão brasileira foi em 1948, enviando observadores para integrar a Comissão Especial das Nações Unidas para os Bálcãs (UNSCOB), que, no contexto da guerra civil que se travava na Grécia, arrastava ao conflito a Albânia, a Bulgária e a Iugoslávia. Desde a primeira, o Brasil participou de 30 operações de manutenção de paz da ONU, tendo cedido um total de mais de 25 mil homens. Integrou operações na África, na América Latina, no Caribe, na Ásia e na Europa. Além de contribuir com observadores militares e policiais em diversas missões ao longo da história da ONU, o Brasil empregou unidades militares formadas em seis operações: Suez (UNEF I), Angola (UNAVEM III), Moçambique (ONUMOZ), TimorLeste (UNTAET/UNMISET), Haiti (MINUSTAH) e Líbano (UNIFIL). Após apresentar o breve histórico da inserção do Brasil nas missões de paz, com alguns destaques para as participações brasileiras junto à ONU, este trabalho se voltará para verificar como funcionam as relações com aquelas organizações e como proceder para aperfeiçoá-las e colaborar para o Bem Comum internacional. 16 2.2. RELATÓRIO BRAHIMI Ao longo do tempo, as missões passaram a incorporar novas funções e novos componentes, como policiais, agências de fomento e humanitárias, supervisores eleitorais, monitores de direitos humanos, organismos regionais e não- governamentais etc. Os mandatos tornaram-se mais complexos, ambiciosos e difusos, incluindo enorme gama de novas tarefas, sobrepostas às já tradicionais atividades de separação de tropas e monitoramento de cessar-fogo. O Embaixador Paulo Roberto Campos Tarrisse da Fontoura classificou como “conceitos mais elásticos para o entendimento das questões relativas a ameaça à paz e à segurança internacionais” (FONTOURA, 1999, p. 101). A manutenção da lei e da ordem, o desarmamento, o desengajamento e a reinserção de ex-combatentes na vida civil, a ajuda humanitária, o reassentamento de refugiados, a formação e o treinamento de policiais e de novas forças armadas, as ações de desminagem e o apoio à reconstrução econômica do país ganharam destaque. Esse conceito mais abrangente, de associação de esforços civis e militares nas áreas operacionais, trouxe benefício a muitas regiões do mundo. Áreas afetadas por guerras civis decorrentes do processo de distensão da Guerra Fria, as chamadas proxy-wars, viram chegar a paz mediante acordos complexos, politicamente negociados e consentidos entre todas as partes envolvidas, como foram os casos das missões na Namíbia, no Camboja, em El Salvador, na Guatemala, em Moçambique e em Angola. Segundo o Cel Elias, tratando sobre esse momento das missões de paz, na sua monografia do CAEPE de 2011 (MARTINS FILHO, 2011, p. 26), disse: [...] essas operações passaram a focar respostas rápidas as demandas da ONU; desdobramento de operações robustas, nas quais os contingentes estariam melhor armados; inserção de elementos de construção da paz desde o início das operações; trabalho conjunto com policiais, civis e organizações humanitárias; emprego de especialistas em áreas como a defesa, judiciária, a penitenciária e a policial na reconstrução das instituições do Estado-anfitrião; e a coordenação com organismos internacionais de segurança. Entretanto, a ONU foi chamada a implementar a mesma doutrina de paz em regiões onde não havia paz a ser mantida, a direção política era claudicante, o comando militar era difuso e o consentimento das partes nem sempre era possível. Tendo, em função dessa nova realidade, de buscar o apoio de organizações políticas 17 regionais e alianças militares de defesa, perdeu-se, muitas vezes, a unidade de comando operacional da missão, fragmentaram-se os objetivos políticos, turvou-se a clareza dos mandatos e relativizaram-se princípios como imparcialidade e negociação. Desse período, são contabilizados fracassos como os de RuandaBurundi, ex-Iugoslávia e Somália. A ONU chegou ao ano 2000 desgastada politicamente e exaurida financeiramente. Compelida por esse fato e pela análise prospectiva da conjuntura da comunidade internacional, que continuava a ansiar por um foro legítimo e eficaz no tratamento das questões da paz e da segurança mundiais, decidiu reavaliar seus métodos de condução das operações. Após realizar uma profunda investigação doutrinária, durante o ano de 1999, concluiu a elaboração do relatório do "Painel das Nações Unidas sobre as Operações de Paz" – conhecido como "Relatório Brahimi"2. O Relatório Brahimi identificou as falhas da Organização ao lidar com as operações de paz, projetou os cenários das futuras missões, conclamou a ONU e os estados-membros ao fim das "meias-medidas" e à adoção de mandatos claros e exequíveis. Advertiu sobre critérios de análise mais objetiva dos conflitos, estabeleceu processos de planejamento integrado, sugeriu a melhoria das estruturas operacionais e logísticas, bem como recomendou o aperfeiçoamento das metodologias de treinamento padronizado para todos os componentes das missões de paz. Dessa forma, traçou estratégias mais seguras e eficientes para as futuras missões, coordenando cada passo ou decisão com os países contribuintes, que assim se tornaram corresponsáveis pelo processo. A partir de 2004, um novo elemento foi inserido nas operações de paz: a integração entre civis, militares e policiais, agilizando os processos e as decisões. Ocorreu em dois níveis: Externo: onde organizações e instituições extrínsecas à ONU, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, ONG e outras organizações presentes na área da missão; e Interno: integrando os diversos Departamentos e Agências da ONU. Dessa forma foram criadas as operações multidimensionais, assim chamadas pela diversidade de atores que incluem para o cumprimento do mandato com elevado 2 O grupo de eminentes especialistas que o produziu foi liderado pelo Embaixador argelino Lakhdar Brahimi. 18 grau de complexidade. São desdobradas em ambientes voláteis imediatamente após conflitos, sob alguns princípios, dos quais destacam-se: o consentimento das partes, a imparcialidade e o não-uso da força, senão em legítima defesa ou em defesa do mandato. O primeiro laboratório para esse novo modelo de atuação da ONU foi a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), que tem demonstrado o sucesso, ao longo desses 9 anos de funcionamento. Percebe-se que a ONU já reduz os efetivos presentes paulatinamente, acompanhando a reassunção das garantias do Estado aos seus cidadão. Assim, o encerramento da MINUSTAH, dentre em breve (estima-se que em 2016), demonstrará o sucesso da ONU e dos países contribuintes com tropa nessa empreitada. 19 3. PERSPECTIVAS DO BRASIL PARA AS MISSÕES DE PAZ 3.1. A CONTRIBUIÇÃO BRASILEIRA Quanto mais conheço as peculiaridades das missões da ONU mais me convenço da importância da participação do Brasil nelas pois, além de permitir o adestramento e o reequipamento, aumentam a nossa auto-estima. Este é o efeito perceptível, interno. Entretanto, o que pouco se percebe e é imensamente importante é a projeção internacional das nossas Forças. As tropas brasileiras são reconhecidas atualmente como as melhores à disposição da ONU, tanto no aspecto operacional como no disciplinar. (AVENA, 2013) Os aspectos legais para o emprego nas operações de paz são preocupações constantes da diplomacia brasileira, de acordo com o Artigo 4º da Constituição Federal de 1988, com os princípios de não-intervenção, igualdade entre os povos, defesa da paz, de direitos humanos e a solução pacífica dos conflitos. O envio de força armada ao exterior está disciplinado pela Lei nº 2.953, de 17 de novembro de 1956, que estabelece o envio de tropa ao exterior condicionado à aprovação do Congresso Nacional, a quem cabe, também, a liberação de créditos suplementares para o custeio dos contingentes. A Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, posteriormente modificada pela Lei Complementar nº 117, de 2 de setembro de 2004 e pela Lei complementar nº 136, de 25 de agosto de 2010, inseriu as operações de paz no ordenamento jurídico nacional, subordinando as Forças Singulares ao Ministro da Defesa, quando da participação em operações de paz. A Lei nº 10.937, de 12 de agosto de 2004, criou a possibilidade de militar brasileiro ser colocado à disposição de organização internacional da qual o Brasil seja signatário; estabeleceu uma tabela de pagamento específica para o emprego de tropa no exterior, sob a égide de organismo internacional; e disciplinou o destino das indenizações pagas por razões de morte ou invalidez. 20 3.2. MISSÕES COM TROPA NO HAITI E NO LÍBANO, MISSÕES INDIVIDUAIS Atualmente, estão ocorrendo 15 operações de paz 3 da ONU, utilizando um efetivo total de 91.216 operadores4 (76.752 de Tropas, 12.626 Policiais e 1838 Observadores Militares e Staff Officers). O Brasil participa de 10 missões: 9 de manutenção da paz (MINUSTAH-Haiti, UNIFIL-Líbano, MINURSO-Saara Ocidental, UNFICYP-Chipre, UNMIL-Libéria, UNOCI-Costa do Marfim, MONUSCO-RD do Congo, UNMISS-Sudão do Sul e UNISFA-Abyei/Sudão) e uma de construção da paz (UNIOGBIS-Guiné-Bissau)5, com um total de 1713 homens e mulheres, sendo 1.679 tropas, 10 policiais e 24 Observadores Militares e Staff Officers6. Quanto às missões individuais, os militares poderão ser designados para observadores militares, observadores policiais, oficiais de ligação, assessores militares, estado-maior da Força de Paz e outros, conforme a necessidade da operação. Esses militares são colocados à disposição da ONU, que se encarrega da administração e da logística para a missão. O Brasil é signatário do United Nations Stand-by Arrengment System (UNSAS), que define as tropas de pronto emprego, a serem desdobradas no terreno em até 3 meses. São previstos nesse sistema: 1 Batalhão, 1 Companhia de Engenharia de Combate, 1 Unidade de Emprego de Helicópteros, 1 Hospital de Campanha e 1 Companhia/ Pelotão de Polícia do Exército. Todos os militares designados para os diversos efetivos em missões de paz são voluntários, treinados pelas forças e adestrados pelo Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), que segue as recomendações estabelecidas pela ONU para a preparação intelectual e profissional no emprego em missões de paz. Ao longo do tempo, o Brasil participou das seguintes operações de paz com tropas: UNEF I: Primeira Força de Emergência das Nações Unidas, de 1957 a 1967, com um Batalhão de Infantaria, empregando 6300 militares; 3 Disponível Disponível 5 Disponível 6 Disponível 4 em: http://www.un.org/en/peacekeeping/archive/2013/bnote0513.pdf em: http://www.un.org/en/peacekeeping/contributors/2013/jun13_1.pdf em: http://www.un.org/en/peacekeeping/contributors/2013/jun13_3.pdf em: http://www.un.org/en/peacekeeping/contributors/2013/jun13_1.pdf 21 UNAVEM III: Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola, entre 1989 e 1997, com 1 Batalhão de Infantaria, 1 Companhia e Engenharia, 2 Hospitais de Campanha, observadores militares, policiais militares e oficiais para o estado-maior da Força de Paz; UNOMOZ: Operação das Nações Unidas em Moçambique, de 1992 a 1994, com 1 Companhia de Infantaria e observadores militares; UNTAET: Missão das Nações Unidas para a Administração Transitória do Timor Leste, de 1999 a 2002, com 1 Pelotão de Polícia do Exército; MINUSTAH: Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti, desde 2004, com o Comando da Força de Paz (um Oficial General brasileiro), inicialmente com 1 Batalhão de Infantaria e, após o terremoto em 2010, com 2 Batalhões e 1 Companhia de Engenharia. 3.3. PERSPECTIVAS ATUAIS E FUTURAS O Ministro da Defesa e ex-Chanceler Celso Luiz Nunes Amorim, afirmou ao Correio Brasiliense em 2004, quando avaliava a política externa brasileira: O Brasil é hoje porta-voz dos países em desenvolvimento, e seu governo exporta exemplos morais, como na missão de estabilização do Haiti e no empenho em colocar na agenda internacional o tema do combate à fome. Mas a liderança tem seu preço: nos próximos anos, estarão em jogo a capacidade de articulação e a credibilidade do Brasil (GALVÃO, 2004). As perspectivas brasileiras são alvissareiras, no sentido de ampliar cada vez mais sua participação na agenda mundial, em especial com relação as missões de paz, tendo em vista colaborar com a paz mundial e o seu Bem Comum e, ao mesmo tempo, adestrar suas tropas e projetar poder em outros países e, até mesmo, outros continentes. Da avaliação do Ministro Celso Amorim em 2004 até os dias atuais, o Brasil continua comandando o componente militar da MINUSTAH; remeteu para o Haiti mais tropas para auxiliar na sua reconstrução após o terremoto de 2010; comanda o componente naval da UNIFIL, “criada desde 1978, sendo que a Força-Tarefa Marítima foi criada em 2006 e desde 2011 é comandada por um Almirante brasileiro” (Centro de Comunicação Social da Marinha, 2013); também a participação do Gen Div R-1 22 Santos Cruz, como comandante da MONUSCO; e a participação de outras 6 missões de paz com observadores militares e membros de estado-maior das Forças de Paz. O Brasil continua sendo convidado para participar de outras missões de paz, concretizando as palavras citadas na entrevista em 2004. O Embaixador Ronaldo Sardenberg disse que a participação brasileira na missão de paz das Nações Unidas no Haiti eram válidas para assegurar a estabilidade democrática e o desenvolvimento em toda a América Latina. Também afirmou que a presença do comando brasileiro na missão atraiu a participação de outros países latino-americanos, como Argentina, Chile, Guatemala e Paraguai (SARDENBERG, 2004). Seguindo a mesma linha, ainda tratando do Haiti como exemplo da destacada participação brasileira em missões de paz, o professor Ricardo Seitenfus, da Universidade de Santa Maria, disse que “o Brasil assume papel fundamental ao colocar sua expertise a favor de uma ‘diplomacia solidária’”. E o professor conclui o seu artigo com palavras estimuladoras a participação internacional de apoio humanitário: Esperemos que a diplomacia solidária, sob inspiração da América Latina, especialmente do Brasil, consiga reverter o tenebroso quadro haitiano colocando um termo ao caos e à extrema dependência que precipitaram a antiga Pérola das Antilhas aos baixios da desumanidade. Para tal é indispensável que os países desenvolvidos associem-se à empreitada. Somente assim alcançaremos um mundo menos injusto e consequentemente mais pacífico. (SEITENFUS, 2004, p. 5) 3.4. MISSÕES DE PAZ EM ANDAMENTO Anualmente a ONU analisa cada missão e o Secretário Geral apresenta ao Conselho de Segurança uma proposta. Conforme a ONU considera a conclusão de uma missão, ela é encerrada. Não depende do período de tempo, mas do cumprimento da missão. Porém, há casos de interrupção e início de outra missão, com características diferentes. Dag Hammarskjöld, Secretário Geral da ONU no período de 1953 a 1961, afirmou que “operação de paz não é uma tarefa para soldados, mas apenas soldados 23 podem fazê-la”. Por isso há enormes efetivos empregados, com 119 mil pessoas de 116 países contribuintes e um orçamento de cerca de 7 bilhões de dólares 7. Atualmente, o Brasil é o maior contribuinte de tropas para a Missão da ONU para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). De 2004 a fevereiro de 2010, o País manteve um contingente de 1.200 militares, com rotação semestral. Após o terremoto, que atingiu o país em janeiro de 2010, passou a manter um contingente maior, formado por cerca de 2.200 militares. Desde o início da participação brasileira até hoje, mais de 13 mil militares brasileiros serviram no Haiti. Desde 2004, o comando militar de todas as tropas que compõem a MINUSTAH, provenientes de 19 países, é exercido por generais brasileiros. Nas Forças Interinas das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) o Brasil lidera a missão naval, com um Almirante numa fragata e 265 militares. É a primeira vez, nas Nações Unidas, que há uma operação de manutenção da paz com uma vertente terrestre e outra naval. Mais recentemente, em maio deste ano, o Gen Carlos Alberto dos Santos Cruz assumiu o comando de cerca de 20 mil homens na Missão das Nações Unidas para a Estabilização da República Democrática do Congo (MONUSCO), demonstrando o reconhecimento e a confiança da ONU nos brasileiros. Na figura a seguir, são apresentadas as missões correntes. 7 ANEXO B 24 FIGURA 1: Missões dirigidas pelo Departamento de Operações de Paz Fonte: ONU, 2013 25 4. O PROCESSO DECISÓRIO O processo decisório envolve os Ministérios das Relações Exteriores (MRE), da Defesa (MD), do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), a Casa Civil, o Congresso Nacional e a Presidência da República. O Itamaraty mantém contato constante com a ONU por meio do seu Representante Permanente junto às Nações Unidas, em ligação direta com o Departamento das Nações Unidas do Ministério das Relações Exteriores. Na ONU, o tema é tratado na Assembleia Geral (AG), no Secretariado (DPKO e DFS) e no Conselho de Segurança. A IV Comissão, da AG, discute o tema operações de paz em todo o mundo. Vinculado à AG, o Comitê Especial sobre Operações para a Manutenção da Paz (composto por 100 integrantes) é o foro dedicado às discussões dos aspectos relativos às operações de paz. A ONU, através do DPKO, faz consultas informais a Missão Permanente sobre o interesse do Brasil participar de uma operação de paz. Caso a resposta seja afirmativa, será encaminhada uma Nota Verbal ao representante da Missão Permanente (MP), que remeterá ao MRE. FIGURA 2: Fluxo do caminhamento do processo para missões de paz Fonte: o autor 26 O MRE e o MD preparam em conjunto uma “exposição de motivos”, que segue para a Casa Civil da Presidência da República para a apreciação do Presidente. Com a concordância da autoridade máxima do Poder Executivo, será feita uma Mensagem ao Legislativo, submetendo-a ao Congresso Nacional. Após a aprovação do Congresso, o MPOG será consultado e condicionará a liberação dos recursos necessários para o custeio das tropas, novamente ao exame do Congresso. Finalmente, após as duas passagens pelo Congresso, o Presidente da República toma a decisão do envio das tropas para o exterior. Percebe-se que desde a origem até o encerramento do processo, demandase muito tempo. Segundo o Cel Walter, por vezes, o circuito apresentado, com um convite formal, demora meses. No caso da UNMISS, a resposta negativa chegou com mais de 6 meses (FERREIRA, 2013, p. 2). Há necessidade de mapear os caminhos e buscar celeridade, para que o quanto antes seja aprovada a missão. Somente após a sua aprovação, serão liberados os créditos suplementares para as Forças Singulares iniciarem a seleção e o preparo dos contingentes a serem enviados ao exterior. Sendo assim, urge a necessidade da criação de uma política para as missões de paz. O Embaixador Tarrisse demonstrou a sua preocupação, comentando que para melhor capacitar o Brasil a responder às consultas formuladas pelas Nações Unidas sobre a cessão de pessoal e equipamentos, seria recomendável que o Executivo e o Legislativo estabelecessem um sistema de co-responsabilidade, diante da sensibilidade da matéria e da eventual necessidade de aprovação de créditos suplementares para viabilizar a participação brasileira nessas operações (FONTOURA, 1999). As Nações Unidas conhecem muito bem os trabalhos dos brasileiros nas missões de paz. Sempre solicitam um aumento dessa participação. Porém, os atrasos no processo muitas vezes levam a perda de credibilidade. Para que seja melhorada a imagem do Brasil, quanto mais rápida a resposta e quanto melhor a participação brasileira, seguramente contará com a boa apreciação não somente da ONU, mas também dos seus países membros. Além da imagem, no tocante ao cumprimento da missão, segue-se a ordem de chegada para conseguir melhores zonas de ação e possibilidades. Por isso o interesse na rapidez. 27 Cita-se como exemplo positivo, que o envio de tropas ao Haiti, para a MINUSTAH, em 2004, foi de cerca de 30 dias após a Resolução 1542 do Conselho de Segurança da ONU. O mesmo ocorreu após o terremoto em Porto Príncipe, quando o BRABAT/2 apresentou-se 20 dias depois da catástrofe. Em contrapartida, o exemplo negativo se refere à designação das tropas para a UNAVEM III, em Angola, em 1995, quando os brasileiros chegaram 7 meses após o convite da ONU ao Governo Brasileiro. Além do dano político, houve o operacional, pois ficaram numa zona de ação de menor interesse, mais problemática e de difícil acesso. 4.1. PESQUISA DE CAMPO Foram remetidos questionários para diversos órgãos com o objetivo de esclarecer e levantar dados e informações a respeito das negociações entre o Brasil e a ONU. O principal aspecto levantado se refere ao tempo útil entre a solicitação da ONU e a resposta obtida. O Ministro Norberto Moretti8, do MRE, informou que o caminho dos documentos segue da seguinte forma: O Secretariado das Nações Unidas remete uma nota à Representação Permanente (RP) do Brasil junto à organização. A RP envia comunicação à Divisão de Paz e Segurança Internacional (DPAZ) do Ministério das Relações Exteriores (MRE), que, por sua vez, transmite a solicitação por Mensagem Oficial ao Ministério da Defesa (MD). O MD consulta as Forças Singulares quanto aos pareceres das possibilidades e limitações para responder a ONU, seguindo o mesmo caminho. O Cel Inf Walter da Costa Ferreira9, do Exército, servindo na RP, disse que a maior demora no tramite dos documentos se dá no MD, tendo em vista a necessidade de consultar as Forças Armadas, que consultam órgãos internos. É essencial o aumento da participação de tropas brasileiras em missões de paz. Se o Brasil conseguir dispor de forças de pronto emprego, vocacionadas para operações de manutenção da paz e adestradas permanentemente, com prazo de 8 9 Resposta do Questionário de Pesquisa ao Ministério das Relações Exteriores (ANEXO C). Resposta ao Questionário de Pesquisa a Representação Brasileira junto a ONU (ANEXO D). 28 desdobramento de noventa dias ou menos, após o convite formal da ONU, de modo a concentrar o esforço “pre-deployment” no apronto operacional da tropa, poderá reduzir o tempo de resposta à ONU, ganhando maior confiabilidade perante o UNSAS. 4.2. TEMPO DAS DEMANDAS O circuito das ligações entre a ONU e o Brasil é muito longo e demorado. Verificou-se nas respostas aos questionamentos (ANEXO B) que a resposta a documentos rotineiros e classificados como urgentes chegam a demorar cerca de 30 dias. Em quase todas as consultas sobre a possibilidade do Brasil enviar tropas para missões de paz há atrasos. Recentemente houve o caso de uma resposta negativa ter sido entregue no DPKO mais de 6 meses após o acionamento. Fatos como esses denigrem a excelente imagem apresentada no exterior pelos envolvidos nas missões de paz – membros do MRE, do MD, das Forças Armadas e operadores de paz (tropa e individual). A burocracia e os caminhos tortuosos dos documentos tiram do Brasil a possibilidade de almejar cargos importantes e a participação, em condições favoráveis, em missões de paz. Em 2011, a ONU solicitou duas vezes a possibilidade do Brasil mandar uma Unidade de Emprego de Helicópteros, constante no UNSAS, para a UNMISS e para a MONUSCO. Todavia, foi negado, tendo em vista consumir muitas tripulações, a dificuldade de rodízios posteriores, as dificuldades logísticas para a região e a possibilidade de reduzir drasticamente o número pilotos no Brasil, chegando a níveis perigosos para as Forças Singulares. Na avaliação do Gen Avena, ex-assessor militar da Missão Permanente do Brasil junto a ONU, “muito ainda pode e deve ser feito para otimizar nossos processos, pois agimos quando as demandas chegam, deixando de agir de forma proativa, o que seria o ideal” (AVENA, 2013). O MD deve desenvolver um planejamento estratégico com o MRE voltado para as missões de paz. Para cada oportunidade de missão surge uma demanda de estudos, que, quando prontos, são preenchidos pelos países mais prontos. Assim, as negociações do Brasil com a ONU poderão ampliar a participação nas missões de paz (ANEXO E). 29 Atualmente, tanto o CCOPAB quanto o CEP tem preparado os militares para as missões após a sua designação e a determinação do COTER para a sua execução. O tempo ideal de estágios seria de cerca de 3 a 6 meses. Ou seja: após a designação, os militares ainda não estarão prontos e só estarão em condições de serem empregados pela ONU, no terreno, num tempo maior que o estipulado no UNSAS. Essa demora da reação dos documentos e da preparação tem tirado o Brasil de missões de destaque, além de colocá-lo numa posição desvantajosa no ranking dos Países Contribuintes com Tropa – em 31 de outubro de 2013 o Brasil encontravase em 20º lugar, com 1711 militares em missões (NAÇÕES UNIDAS, 2013 d). Se os militares se capacitassem previamente para participar das missões de paz, realizando os testes de habilitação linguística e os estágios do CCOPAB e do CEP, permitiria inverter o processo, garantindo que a seleção ocorresse de maneira mais eficaz. Então, os militares buscariam a sua habilitação para concorrerem para as missões. Ao serem designados, iriam ao CCOPAB para um rápido briefing a respeito da região de operações onde desempenharão suas funções. Acredita-se que dessa forma seria reduzido para ¼ o tempo de envio do militar para a missão de paz. O mesmo poderá ocorrer com as tropas. 30 5. PREPARO 5.1. SISTEMA DA ONU DE TROPAS DE PRONTO EMPREGO O United Nations Stand-by Arrengement System – UNSAS – (Sistema da ONU de tropas de pronto emprego – tradução do autor) foi criado para que a ONU possa cumprir o seu propósito de manter a paz e a segurança internacional, respondendo rapidamente contra as ameaças à Paz mundial, de acordo com o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas (NAÇÕES UNIDAS, 2001). Em 1992, o Secretário Geral da ONU criou os requerimentos para as tropas estarem aptas mediante um acionamento imediato, capaz de uma rápida e eficiente intervenção, quando necessário. Posteriormente, o relatório Brahimi recomendou o emprego do UNSAS, endossado pela Assembleia Geral, como estando pronto para duas missões tradicionais10 em 30 dias e para uma missão complexa 11, em 90 dias. A experiência dos últimos anos recomenda que a ONU assuma o compromisso estratégico de estar em condições de iniciar duas novas missões por ano: uma tradicional e uma complexa. Ao longo do tempo tornou-se difícil para a ONU iniciar uma nova missão de paz em curto espaço de tempo, tendo em vista a complexidade dos processos, desde o planejamento até a confirmação do país contribuinte, passando pelas fazes da composição as tropas. Desta forma, a criação do UNSAS, permitiu agilizar a designação das tropas, a sua instalação no terreno e a obtenção de recursos para a missão com bastante eficácia. Uma grande vantagem do UNSAS é permitir ao governo do país contribuinte planejar e orçar a sua possível contribuição para a ONU, treinando e preparando o seu pessoal e, se necessário, organizar a aquisição de equipamentos para a missão de paz. Os efetivos estarão prontos para serem empregados, sendo designados para missões de 6 meses, no caso das tropas, e de um ano, para Observadores Militares 10 Tropas de aproximadamente 5000 militares (50% autossustentável), 100 elementos de Estado-Maior, 200 Observadores Militares e Policiais, 200 administrativos (estrangeiros e locais). 11 Tropas de aproximadamente 10000 militares (25% autossustentável), 300 elementos de EstadoMaior, 1000 Observadores Militares e Policiais, 1000 administrativos (estrangeiros e locais). Isso ocorrerá quando as missões forem designadas para áreas cuja infraestrutura local seja limitada. 31 ou elementos do Estado-Maior e Policiais Militares. Após esse prazo, serão repatriados por término de missão, ou substituídos. Todos os custos serão por conta do País-Membro, enquanto os efetivos estiverem no país. A ONU arcará com os custos de deslocamentos para o destino da missão. O reembolso aos Países-Membros ocorrerá segundo as normas da ONU, de acordo com o Manual de Políticas e Procedimentos Referentes ao Reembolso e Controle dos Equipamentos dos Contingentes (COE, sigla em inglês) dos Países Contribuintes com Tropas nas Missões de Paz (tradução do autor)12. O sistema trata de recursos – militares, civis, pessoal e material – fornecidos pelos governos com vistas a facilitar um rápido emprego das necessidades pelo DPKO. A ONU provê alimento, água, combustíveis e lubrificantes durante toda a missão de paz. Todavia, na fase inicial do desdobramento, as tropas deverão chegar ao terreno com estoques para 90 dias, até que seja estabelecido o suprimento. Existe uma escala de contribuições do UNSAS, onde são destacados três níveis: Nível 1: é uma lista descritiva das capacidades oferecidas, incluindo tamanho, efetivo e o compromisso do tempo a ser desdobrado; Nível 2: é uma previsão mais detalhada, com tabelas e inventários, descrevendo a contribuição, incluindo a organização das unidades, uma lista com os equipamentos pesados e coletivos, o nível de autossustento e dados individuais; e Nível 3: um Memorando de Entendimento de UNSAS genérico com a ONU, especificando os recursos providos, prazos e condições de desdobramento. Também é incluído nesse memorando os dados referentes as contribuições. Também é medida a rapidez prometida de desdobramento, variando de 30 a 90 dias. Essa informação serve para os três interessados: o governo do país onde ocorrerá a missão, para se preparar para tal; o DPKO, para acelerar os procedimentos e definir prazos e o país contribuinte, para se preparar corretamente com antecedência, selecionando e preparando seus efetivos e adquirindo e manutenindo os equipamentos. “Manual on Policies and Procedures Concerning Reimbursement and Control of Contingent Owned Equipment (COE) of Troop Contributing Countries Participating in Peacekeeping Missions” (COE Manual, Edition 2002) (NAÇÕES UNIDAS, 2002). 12 32 Os acordos do Brasil com a ONU definem como sendo do nível 1, com prazos de deslocamento para o destino em 90 dias. Todavia, a experiência mostra que isso é impossível, tendo em vista que o processo demora cerca de 9 meses, desde a seleção dos comandantes de OM F Paz, as funções principais das OM, posteriormente, a seleção dos demais integrantes das OM, com baterias de exames médicos, psicológicos e físicos, pelas instruções, pelos treinamentos e exercícios, pelas preparações de documentos individuais e, finalmente, pela concentração final. O caso do envio do BRABAT 2 ao Haiti imediatamente após o terremoto de 2010 foi anômalo, tendo em vista terem sido convocados todos os militares que haviam participado dos contingentes anteriores. Todas as etapas foram ultrapassadas. O país contribuinte tem a responsabilidade de executar os treinamentos primários do seu pessoal. Para facilitar os conhecimentos básicos e as regras operacionais específicas da ONU, esses objetivos são publicados pelo Secretariado. Para a situação específica da missão, como natureza da missão, informações operacionais, etc, serão conduzidos treinamentos específicos com a devida antecedência. Dessa forma, são elaboradas tabelas de organizações e equipamentos. No caso do Brasil, foram ofertados: 2 Batalhões de Infantaria de Paz (BI F Paz); 1 Companhia de Engenharia de Paz (Cia E Paz); 1 Companhia ou Pelotão de Polícia do Exército (Cia PE ou Pel PE); 1 Fragata; 1 Unidade de Emprego de Helicópteros (UEH); e 1 Hospital de Campanha (H Cmp). Desses, como hoje há tropas empenhadas na MINUSTAH e na UNIFIL, há disponibilidade de 1 BI F Paz, de 1 Cia PE, 1 UEH e 1 H Cmp. Quando a ONU planeja uma nova missão, ou pretende fazer uma substituição de tropas, ou incrementar os efetivos presentes, consulta os Países-Membros sobre a possibilidade de apresentar, até 90 dias, na área da missão. Disso depreende-se que as tropas deverão estar prontas, em condições de rapidamente seguirem destino para a área de operações. 33 5.2. PREPARO – PARA MISSÕES COM TROPA, INDIVIDUAL E DE PM Quando o Exército Brasileiro enviou os primeiros contingentes de tropa para missões de paz, coube aos próprios sua preparação. Posteriormente, a 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército ficou encarregada de planejar esses treinamentos e adestramentos. Em 2001 foi criado, na Divisão de Missão de Paz do Comando de Operações Terrestres (COTER), o Centro de Preparação e Avaliação para Missões de Paz do Exército Brasileiro (CEPAEB), com a missão de orientar o preparo de todos os militares brasileiros designados para integrarem Missões de Paz. Em 23 de fevereiro de 2005, foi criado o Centro de Instrução de Operações de Paz (CI Op Paz) – nas instalações do COTER – em decorrência dos EstadosMembros da ONU organizarem-se no estabelecimento de programas de treinamento para militares e pessoal civil. Como consequência do compromisso internacional assumido em face da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), o CI Op Paz iniciou suas atividades com a incumbência de conduzir o preparo da então Brigada Haiti, 3º Contingente, integrada pela 9ª Bda Inf Mtz, instalando-se provisoriamente no aquartelamento do 57º BI Mtz (Es) / REI. A partir do terceiro contingente, as tropas passaram a preparar-se e a serem empregadas sob o foco do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, coerentemente com o mandato da MINUSTAH, produzindo significativas modificações nos seus comportamentos no terreno. A portaria nº 952/MD, de 15 de junho de 2010, designou o Centro de Instrução de Operações de Paz (CI Op Paz), do Exército Brasileiro para a preparação de militares e civis brasileiros e de nações amigas a serem enviados em missões de paz e alterou a sua denominação, para Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB) (BRASIL, 2010), com a missão de apoiar a preparação de militares, policiais e civis brasileiros e de nações amigas para missões de paz e desminagem humanitária (CCOPAB, 2013 b). Durante a visita realizada pelo Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da ESG ao CCOPAB, em 30 de setembro de 2013, o autor conversou com o Cel Luiz Fernando Estorilho Baganha, comandante daquele Centro, sobre o funcionamento do preparo para os militares seguirem para missões de paz, foi explicado o seguinte: 34 Após selecionado pelas forças, os militares seguem para treinamento no CCOPAB segundo o calendário de preparação, confeccionado pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), quer para missões individuais, quer com tropa. Os militares também passam por uma imersão, na língua da missão, no Centro de Estudos de Pessoal (CEP). Em paralelo, o militar estará realizando a sua preparação de saúde, com exames e consultas médicas e laboratoriais, dentistas, psicólogos etc (BAGANHA, 2013). Participam desses estágios os militares da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro, da Aeronáutica, das Polícias Militares e dos Bombeiros Militares, sendo preparados para missões individuais ou com tropas (MINUSTAH e UNIFIL). Via de regra, os eventos citados anteriormente consomem de 3 a 9 meses, dependendo da disponibilidade de calendário. Para que não ocorra atraso na apresentação do(s) militar(es) na missão, esse processo costuma iniciar praticamente um ano antes do evento. Como há casos de início de uma nova missão, ou substituição de militares por motivos diversos (morte, saúde, problemas pessoais ou psicológicos), muitas vezes ocorrem prejuízos comprometedores para o desempenho das funções futuras. Se o processo for invertido, ou seja: o militar somente participará do universo de seleção para uma missão de paz após concluir um curso para capacitar-se em operações de missões de paz13 e habilitar-se no nível mais elevado de compreensão da língua inglesa – oficial da ONU. Posteriormente, após a designação para a missão, o militar será novamente encaminhado ao CCOPAB para um estágio de cerca de 2 semanas, onde será ambientado sobre a situação operacional e de segurança no ambiente onde vai operar, com informações e apresentações, incluindo exercícios práticos. Da entrevista com o comandante do CCOPAB, o autor entende que essa proposta é perfeitamente viável, pois atenderá explicitamente os prazos e a qualidade de conhecimento necessário ao militar, estando em condições de apresentar-se pronto para a missão em menos de 30 dias – quer componha tropa ou vá em missão individual. 13 Estágio de Preparação para Missões de Paz (EPMP), destinado a preparar militares para exercer as funções de Observadores Militares, Oficiais de Estado-Maior e Policiais das Nações Unidas (REVISTA INTEGRAÇÃO, 2013). 35 6. CONCLUSÃO O Brasil é reconhecido pelas Nações Unidas e seus integrantes com bastante consideração, em face dos seus relacionamentos e sua capacidade de articulação, com um corpo de diplomatas altamente competente, que interage em todos os fóruns da ONU. Essa capacidade natural de mediação em questões complexas provém da sua habilidade diplomática e da inexistência de interesses unilaterais, que dificultam ou impedem a obtenção do consenso internacional. Adicionalmente, no que se refere às missões de Paz, o sucesso brasileiro no ambiente da ONU também se deve ao desempenho exemplar dos nossos militares e policiais militares no cumprimento das suas missões – quer individuais, quer como tropa. Mas, há um óbice: o longo caminho e a demora no processamento dos documentos, prejudicam essa imagem. Em decorrência, deverá ser planejada a mobilização dos diversos órgãos envolvidos (MRE, MD, Forças Singulares) para sistematizar o fluxo da informação ONU – Brasil e vice-versa, com vistas a minimizar o tempo de resposta, quer em questões operacionais, quer administrativas; também, deverá ser montado um sistema online, permitindo a ligação direta com a Missão Brasileira junto à ONU, para otimizar os trabalhos do MRE e do MD e permitir uma ligação direta entre o Escritório do Conselheiro Militar da Missão Permanente e as Forças Singulares em assuntos que não necessitem a exigência de intervenção direta do MD. Durante os estudos, entrevistas e questionamentos para a realização deste trabalho monográfico, levantou-se a possibilidade de pré-selecionar missões. Entretanto, concluiu-se sobre a impossibilidade legal, tendo em vista que tanto a Presidência da República, quanto o Congresso Nacional não podem decidir diante de dados incompletos e inconsistentes. Assim, conclui-se não ser possível acelerar o processo de envio de efetivos para missões de paz sem que seja cumprida a necessidade de um estudo aprofundado na esfera política nacional. Desta feita, a oportunidade de aceleração dos processos fica restrita às comunicações e negociações, cujos encaminhamentos deverão ser feitos de forma a agilizar a chegada de informações aos decisores. 36 Ao mesmo tempo, o MRE e o MD devem elaborar planejamentos estratégicos, visando as missões de paz para áreas de interesse do Brasil, de forma a colaborar com o Bem Comum mundial e atender as demandas da ONU e do Brasil. Um aspecto que merece consideração é o da prontificação das tropas, uma vez que pode determinar atrasos adicionais no atendimento das demandas da ONU. Na adesão ao UNSAS, o Brasil concordou com a ONU sobre as possibilidades de remessa imediata de 1 Batalhão de Infantaria, 1 Companhia de Engenharia, 1 Unidade de Emprego de Helicópteros, 1 Hospital de Campanha e Companhia/ Pelotão de Polícia do Exército. A despeito da obrigação assumida, hoje em dia, após o recebimento da missão, o Brasil inicia a seleção, para posteriormente preparar e enviar os militares, o que demora cerca de 6 a 8 meses. Assim, a assunção de situação de pronta resposta mais rápida pode ser obtida a antecipação de cursos e estágios, de modo que os militares passarão a constar de um banco de dados, para serem apresentados à seleção. Por outro lado, tem sido reconhecido que o excepcional desempenho do militar brasileiro, advém não somente do seu preparo profissional, mas, também da própria índole do povo, conforme é muito bem sintetizado na citação a seguir: Um aspecto faz a diferença e favorece enormemente a participação brasileira nesse ambiente: a cultura e o caráter negociador do brasileiro. O soldado brasileiro é solidário, negociador por excelência e busca ao máximo acomodar os interesses em disputa usando a força somente quando esgotados todos os recursos. Para ele, a população local não é inimiga, mas carente de toda a sorte de recursos por ter sido abandonada à própria sorte numa região onde o conflito a faz a maior vítima. (MARTINS FILHO, 2011) Esse aspecto tem sobrepesado na nossa confiabilidade perante as Nações Unidas, que pode ser afetada por retardos motivados por comunicações ineficientes, que redundem em não cumprimento de prazos e que possam ademais levar o Governo Brasileiro à impossibilidade de cooperar nas suas ações. Finalmente, ao encerrar esse trabalho monográfico, o autor apresenta novamente palavras do Ministro Moretti (2013, p. 29), que resumem espetacularmente o tema tratado, com a visão das relações internacionais: Em poucas palavras, nossa participação em tais operações exprime o que somos, como povo e nação: amantes da paz, solidários, respeitosos do Direito Internacional e genuinamente interessados na estabilidade e prosperidade de outros povos e nações. Cabe-nos continuar trabalhando 37 para garantir que nossa presença nas missões de paz siga ganhando importância, em benefício nosso, dos países em que atuamos e de uma ordem internacional efetivamente multilateral. Que Deus nos abençoe nessa sina de colaborar com o Bem Comum Internacional e a paz mundial! 38 REFERÊNCIAS AVENA, Ítalo Fortes. Monografia sobre missões de paz [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 22 jul. 2013. BAGANHA, Luiz Fernando Estorilho. Entrevista pessoal. In: VISITA DO CAEPE 2013 DA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRRA AO CCOPAB, 2013, Rio de Janeiro. Anotações pessoais. Rio de Janeiro : 2013. BEIRÃO, André Panno. Aspectos políticos-legais e legal-militares da participação brasileira em operações de manutenção da paz da ONU, pós-1988. 2008, - f. Dissertação (Mestrado em Filosofia e Ciências Sociais) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. BOBBITT, Philip. A guerra e a paz na história moderna: o impacto dos grandes conflitos e da política na formulação das nações. Tradução de Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2003. BRASIL. Constituição (1988). 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ANEXO C – Respostas do Ministro Norberto Moretti ao questionário de pesquisa14 Negociações da ONU com o Governo brasileiro (DPAZ/MRE, 29/7/13) A comunicação entre a ONU e os órgãos do Governo brasileiro encarregados de decidir a respeito da nossa participação em Operações de Manutenção da Paz (OMPs) segue, via de regra, o seguinte fluxo: 1) o Secretariado das Nações Unidas envia nota à Representação Permanente (RP) do Brasil junto à organização; 2) a RP envia comunicação à Divisão de Paz e Segurança Internacional (DPAZ) do Ministério das Relações Exteriores (MRE); e 3) a DPAZ/MRE transmite a solicitação por Mensagem Oficial ao Ministério da Defesa (MD). A resposta do MD às solicitações ou convites da ONU seguem o itinerário inverso, também passando pela DPAZ/MRE. Nesse trâmite, o nível hierárquico em que se processará a comunicação entre MRE e MD dependerá da natureza e importância da solicitação. Pedidos corriqueiros de substituição de militares, indicação de participantes em cursos ou em "workshops", uso de equipamentos do contingente brasileiro por outros batalhões de uma OMP, entre outros, tramitam entre as Chefias da Divisão de Paz e Segurança Internacional (DPAZ) do MRE e a Seção de Relações Internacionais (SRI) do MD. Pedidos que exijam maior nível hierárquico tramitam entre o Departamento de Organismos Internacionais (DOI) do MRE e a Subchefia de Assuntos Internacionais do MD. (Exemplos recentes de negociações tramitadas nesse nível são o pedido de envio de Unidade de Polícia Formada à MINUSTAH e a indicação do General Santos Cruz como "Force Commander" da MONUSCO). Por fim, solicitações de maior importância política são tramitadas entre a Subsecretaria-Geral Política I (SGAP-I) do MRE e a Chefia de Assuntos Estratégicos do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do MD. Assunto recente que tramitou 14 O autor copiou e colou o texto recebido, tendo apenas formatado, no padrão determinado pela ESG. ANEXO C 3 nesse nível foi a indicação brasileira para o cargo de Chefe do Escritório de Assuntos Militares da ONU. (Nesse nível, é possível também que a negociação chegue a envolver gestões dos próprios Ministros de Estado da Defesa e das Relações Exteriores, a depender da importância política concedida ao assunto pelos respectivos Ministérios). Negociações que envolvam decisões quanto ao envio de tropas brasileiras a operações de manutenção da paz (OMPs) são conduzidas pelo MRE, em estreita coordenação com o Ministério da Defesa. Em geral, nesses casos, o MRE encaminha a solicitação da ONU ao MD, com parecer (avaliação) a respeito da conveniência política de assentir ou não à demanda da organização. A partir de então, cabe ao MD avaliar se há interesse e viabilidade em responder positivamente ao pedido e, posteriormente, transmitir a decisão à ONU, via MRE. Tratativas acerca da incorporação de pelotões estrangeiros ao BRABATT na MINUSTAH são geralmente conduzidas pelo MD, ouvido o MRE. Não dispomos de banco de dados que nos permita realizar levantamento estatístico sobre o tempo preciso de resposta aos questionamentos feitos pela ONU ao Brasil. Ademais, o tempo de resposta costuma variar de acordo com a natureza da solicitação e a área ou organismo responsável pela decisão final (por exemplo, pedidos de indicação de substitutos de militares em OMPs costumam tramitar rapidamente, dada a natureza cotidiana da solicitação; pedidos que envolvam decisão política mais elevada, como a incorporação de pelotão estrangeiro a um batalhão brasileiro em OMP, demoram mais tempo para serem respondidos). Dentre as negociações entre a ONU e o Governo brasileiro ocorridas recentemente, podemos citar a incorporação do contingente canadense ao BRABATT, a realização de curso "Training of Trainers" no CCOPAB, o pedido de envio de tropas brasileiras à MINUSMA, entre outros. ANEXO D – Respostas do Cel Inf Walter da Costa Ferreira ao questionário de pesquisa15 MINISTÉRIO DA DEFESA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia CAEPE 2013 - Turma Força Brasil Patrono: Marechal Maximiano Eduardo da Silva Fonseca Caro Cel Walter, Estou cursando o CAEPE na ESG e fazendo uma monografia de conclusão de curso a respeito do tema NEGOCIAÇÕES ESTRATÉGICAS DO BRASIL COM A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OPERAÇÕES DE MISSÕES DE PAZ. Quero pedir apoio em responder o questionário abaixo, bem como contribuir com sugestões que tanto o Sr, quanto a equipe com quem trabalha, poderão acrescentar, para ações futuras a serem realizadas pelo Ministério da Defesa. Desde já agradeço a compreensão e apoio. Com relação a participação funcional da Delegação Brasileira Junto à ONU, solicito-vos responder os seguintes questionamentos: 1. Que negociações ocorreram nos últimos 5 anos? É possível apresentar exemplos e detalhes? Resposta: A participação brasileira na UNIFIL foi negociada em 2010, com o CAlte Caroli assumindo o Cmdo MTF em Fev 2011 e a Fragata União chegando à Missão em Nov 2011. 15 O autor copiou e colou o texto recebido, tendo apenas formatado, no padrão determinado pela ESG. ANEXO D 2 Em 2010, após o terremoto no Haiti, o Brasil negociou a duplicação de sua participação na MINUSTAH, assumindo a 11ª posição no ranking de TCC da ONU. Não me recordo de outras negociações estratégicas do Brasil com a Organização das Nações Unidas relacionadas às operações de manutenção da paz. O Brasil foi convidado a participar de uma possível missão na Síria, ou recompletar tropas na UNIFIL, caso necessário, mas, até o momento, não respondeu e, por isso, não houve negociação com o DPKO. As negociações de MOU e LOA têm caráter administrativo e, portanto, não as considero como estratégicas. A participação de contingentes de outros países no ContBras/MINUSTAH, como foi o caso do Canadá em 2013, é consequência de acordo bilateral, sem participação da ONU. 2. Quanto tempo leva a resposta de questionamentos feitos pela ONU ao Brasil? (Explicação: a pergunta se refere ao período entre a solicitação feita pelo DPKO/ DFS, até o órgão receber a resposta brasileira) Resposta: Normalmente, a resposta brasileira leva, em média, 30 dias ou mais. Se a solicitação for classificada como urgentíssima, esse tempo reduz à metade. Nos convites informais para participação em Op Mnt Paz, o Governo Brasileiro demora meses para responder. No caso da UNMISS, a resposta negativa levou seis meses. 3. Seria interessante a DELBRASONU ter uma “carta branca” para negociar com a ONU (DPKO/DFS)? (Explicação: a DELBRASONU poderia ter uma autorização prévia para negociar com a ONU, por exemplo, com uma provável região de desdobramento, tipo de tropa e equipamentos etc) Resposta: Não diria carta branca, mas uma orientação estratégica. A MPB representa o Governo, mas não o substitui. O fornecimento de orientações, capacitando a MPB a negociar dentro de certos limites, delimitando áreas de interesse estratégico do Brasil, tornando as ofertas de contribuição do UNSAS ANEXO D 3 mais confiáveis, com prazos de desdobramento mais reduzidos, permitiria ao Brasil aproveitar novas oportunidades no cenário internacional. 4. É possível esboçar um mapeamento do processo decisório entre a solicitação da ONU e a sua resposta? Resposta: ONU – MPB – MRE – MD – Forças Singulares – MD – MRE – MPB – ONU. Sem dúvida alguma, o maior tempo de processamento da informação ocorre no Ministério da Defesa, devido à sua estrutura de comando extremamente verticalizada. 5. Solicito-vos apresentar sugestões e comentários. Resposta: A despeito da carência de recursos, de toda ordem, e de restrições políticas internas, é essencial a ampliação da participação brasileira em outras operações de manutenção da paz, pois a MINUSTAH está em fase final do cumprimento do seu mandato (término estimado em 2016 ou 2017), além de não constituir, atualmente, foco de atenção prioritária das Nações Unidas. Há, também, necessidade de dispor de forças de pronto emprego, vocacionadas para operações de manutenção da paz e adestradas permanentemente, com prazo de desdobramento de noventa dias ou menos, após o convite formal da ONU, de modo a concentrar o esforço “predeployment” no apronto operacional da tropa (reunião e manutenção do material, exames médicos preliminares, recompletamento de pessoal, dentre outras medidas logísticas e administrativas). É possível, desde que haja a mobilização dos diversos órgãos envolvidos (MRE-MD-Forças), sistematizar o fluxo da informação ONU-Brasil, e viceversa, de modo a minimizar o tempo de reação e resposta às solicitações operacionais e administrativas das Nações Unidas, evitando, assim, a perda de importantes oportunidades por empecilhos burocráticos. ANEXO D 4 Compreendo as vossas dificuldades funcionais, todavia, estas respostas serão úteis se remetidas até no máximo até 9 AGO 13, para que seja possível consolidar as informações e incluir no corpo da monografia. Se o Sr considerar positivo, solicito-vos que repasse o questionário aos demais integrantes dessa delegação. Coloco-me a disposição, pelo e-mail [email protected], [email protected], (61) 84876119 e (21) 75482363. Fique com Deus. Sinceramente, Celso Luiz de Souza Lacerda – Cel Art ANEXO E – Respostas do Gen Bda R1 Ítalo Fortes Avena, ao questionário de pesquisa16 Nova Iorque, 18 de julho de 2013. Caro Cel Lacerda, Desejo inicialmente parabenizá-lo pela escolha do tema da sua monografia. Quanto mais conheço as peculiaridades das missões da ONU mais me convenço da importância da participação do Brasil nelas pois, além de permitir o adestramento e o reequipamento, aumentam a nossa auto-estima. Este é o efeito perceptível, interno. Entretanto, o que pouco se percebe e é imensamente importante é a projeção internacional das nossas Forças. As tropas brasileiras são reconhecidas atualmente como as melhores à disposição da ONU, tanto no aspecto operacional como no disciplinar. Isso não significa que não haja espaço para melhorias e é neste ponto que sugiro focar na sua monografia. O Walter, como em tudo o que faz, já é doutor no assunto e você deve explorar bastante os conhecimentos dele para que a sua monografia seja o mais completa possível. Tenho certeza de que ele, mesmo estando muito atarefado, vai ter o maior prazer em apoiá-lo. Ele já deve ter passado para você a palestra que ele preparou em power point mas se não o fez ainda solicite que o faça. Entretanto, isso não basta. Peça informações complementares sobre qualquer parte dela que ele certamente lhe fornecerá muitas peculiaridades que enriquecerão o seu trabalho. Com relação aos seus questionamentos, prefiro não respondê-los separadamente mas fazer algumas considerações gerais sobre a nossa missão. O escritório do conselheiro, composto por ele e mais quatro oficiais superiores (foi acrescentado mais um para executar tarefas administrativas), está instalado no prédio da Missão do Brasil junto à ONU mas é vinculado ao Ministério da Defesa. Seu trabalho é direcionado a muitos temas, entre os quais o principal, no momento, referese às missões de paz. O nosso trabalho é pouco divulgado e, por isso mesmo, pouco conhecido. Muitas vezes nos confundem com o DPKO, achando que estamos localizados na ONU, trabalhando diretamente para ela. No entanto, seu papel fundamental é para o êxito dessas missões. 16 O autor copiou e colou o texto recebido, tendo apenas formatado, no padrão determinado pela ESG. ANEXO D 2 Na minha avaliação muito ainda pode e deve ser feito para otimizar nossos processos, pois agimos quando as demandas chegam, deixando de agir de forma proativa, o que seria o ideal. Isso acontece porque não temos um planejamento estratégico no MD voltado para as missões de paz, razão pela qual cada oportunidade que surge demanda estudos e, quando estes ficam prontos, na maior parte das vezes os espaços já foram preenchidos. Portanto, respondendo a uma de suas perguntas precisamos de ter um planejamento estratégico que nos dê maior liberdade para negociarmos com o DPKO e assim ampliarmos o espaço ocupado pelo Brasil na ONU. Os nossos processos também são muito arcaicos e, além de gerar muito retrabalho, aumentam consideravelmente os tempos para obtermos respostas às nossas demandas. Urge que seja realizado o mapeamento e a automatização de todos eles, o que é perfeitamente possível, apesar de envolver muitos órgãos. Isso permitiria que o foco das nossas atenções passasse a ser direcionado para as atividades-fim e não para as atividades-meio como ocorre atualmente. Nossos assessores militares têm que estar constantemente em contato com os setores competentes da ONU, assistindo e participando dos inúmeros fóruns que lá acontecem sobre os mais variados e significativos temas e também com os conselheiros das missões de outros países, discutindo temas de interesse comum, costurando acordos, trocando informações relevantes em lugar de ficar na maior parte do tempo confeccionando ou corrigindo documentos, como ocorre hoje. As técnicas modernas e os avanços tecnológicos na área de informática nos permitem a rápida e racional tramitação da mais complexa rede burocrática e estamos ainda engatinhando nessa dinâmica. Apesar de todas as limitações que temos, inúmeras negociações importantes foram realizadas nos últimos anos. Estamos elaborando o Relatório Final do Conselheiro Militar e nele deverão constar as principais. Tão logo fique pronto, poderei enviar para você, juntamente como do Conselheiro anterior, cobrindo 4 anos de gestão. Creio que essa remessa atenderá o seu pedido em relação a esse item específico. Estas são as principais considerações que tenho a fazer e coloco toda a minha equipe a sua disposição para outros questionamentos que surgirem até a conclusão do seu trabalho. Um forte abraço. ANEXO D 3 Gen Avena Com relação a participação funcional da Delegação Brasileira Junto à ONU, solicito-vos responder os seguintes questionamentos: 1. Que negociações ocorreram nos últimos 5 anos? É possível apresentar exemplos e detalhes? 2. Quanto tempo leva a resposta de questionamentos feitos pela ONU ao Brasil? (Explicação: a pergunta se refere ao período entre a solicitação feita pelo DPKO/ DFS, até o órgão receber a resposta brasileira) 3. Seria interessante a DELBRASONU ter uma “carta branca” para negociar com a ONU (DPKO/DFS)? (Explicação: a DELBRASONU poderia ter uma autorização prévia para negociar com a ONU, por exemplo, com uma provável região de desdobramento, tipo de tropa e equipamentos etc) 4. É possível esboçar um mapeamento do processo decisório entre a solicitação da ONU e a sua resposta? 5. Solicito-vos apresentar sugestões e comentários.