FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO
III SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA FESPSP
05 A 09 DE DEZEMBRO DE 2011
A ALFABETIZAÇÃO DOS SURDOS E A COMUNICAÇÃO COM OS NÃO-SURDOS
Pesquisadora: Maíza Mara de Souza – [email protected]
Orientador: Rogério Baptistini – [email protected]
O texto, apresentado na forma de um ensaio, pretende discutir alguns aspectos
relacionados ao mundo dos surdos e à sua inserção na comunidade dos não surdos.
Embora alguns deficientes auditivos sejam alfabetizados com base na linguagem brasileira
de sinais (LIBRAS), acabam por enfrentar limitações significativas, sobretudo em virtude de
os demais membros da sociedade ignorarem a linguagem, o que prejudica a integração
plena daqueles, mantendo-os em situação de isolamento e lateralidade. Há aqueles
inseridos em escolas consideradas “normais” que recebem a oralidade como fator
preponderante, limitando seu círculo de relações sociais, segregando os grupos.Visa
também, através de sua história, trazer informações para um maior conhecimento sobre a
importância da língua e a questão da mesma como fator de pertencimento. Interessa, a
princípio, não somente o olhar sobre o surdo, mas o que ele enxerga da realidade que o
norteia, como apreende o indivíduo considerado “normal” e no que este influencia a sua
vida. Fala-se de inclusão do indivíduo com necessidades especiais na sociedade, embora
esta não esteja preparada para comportar tal diversidade sendo a relação aluno/aluno a que
nos interessa neste estudo. A pesquisa que originou o texto foi realizada ao longo do último
ano e se apoiou em bibliografia especializada, entrevistas, visitas a sítios eletrônicos e no
convívio com membros da comunidade surda.
Palavras-chave: surdo, deficiência auditiva, ouvinte, estigma.
1
O presente artigo procura estudar as relações entre surdos1, deficientes auditivos e
ouvintes e como ocorre essa relação, principalmente se ocorre tal relação no que diz
respeito ao uso da linguagem, seja em LIBRAS2, seja em Língua Portuguesa, e as suas
limitações. Interessa, a princípio, não somente o olhar sobre o surdo, mas o que ele enxerga
da realidade que o norteia, como apreende o indivíduo considerado “normal” e no que este
influencia a sua vida.
Os estudos sobre LIBRAS disponíveis em trabalhos acadêmicos, em sua maioria,
são voltados para a relação entre professores e alunos e nosso interesse incide sobre a
relação aluno/aluno. Fala-se de inclusão do indivíduo com necessidades especiais na
sociedade, embora esta não esteja preparada para comportar tal diversidade. José
Guilherme Cantor Magnani 3 , quando convidado a ir a uma festa junina promovida por
Surdos, relata sua “ida ao campo”:
(...) como um estrangeiro, [eu] caminhava no meio deles apreciando as
rodinhas de conversa, dos grupos de amigos, os casais, as conversas, a
forma como estavam vestidos; pelo fato de não dominar a língua de sinais,
não me prendi a nenhum grupo, nem procurei decifrar o que diziam(...).
Por não deter o conhecimento da linguagem de LIBRAS ficou isolado, somente como
observador de algo que não compreendia, ou seja, a linguagem do grupo. Sendo ouvinte no
meio de surdos e deficientes auditivos não se tornou privilegiado por ser “normal”, pelo
contrário, ficou segregado. Sua “normalidade” o excluiu.
Em uma sociedade considerada “normal”, o diferente é excluído e se articula em
pequenos grupos que se relacionam, na maioria dos casos, com seus pares. Isso foi
justamente o que aconteceu com Magnani. Sua “normalidade” fez diferença em sentido
negativo. O fato de ser ouvinte não o socializou em um grupo onde ouvir não fazia a menor
diferença. Este grupo não se fechou por não querer o convívio ou o estabelecimento de
alguma relação, mas pelo simples fato de o ouvinte não conhecer a forma de comunicação
utilizada no momento, dificultando sua aproximação com o grupo, impedindo a socialização
plena. Em certo sentido, Magnani era um estrangeiro.
A Declaração de Salamanca4pretende
1
Será apresentada nas páginas seguintes explicação para a utilização do S maiúsculo e minúsculo.
Língua Brasileira de Sinais.
3
José Guilherme Cantor Magnani é antropólogo, coordenador do núcleo de antropologia (NAU) na
Universidade de São Paulo e editor da revista eletrônica Ponto Urbe.
4
A Declaração de Salamanca, ocorrida na cidade de mesmo nome, localizada na Espanha e
realizada entre os dias 07 e 10 de Junho de 1994 trata sobre os princípios, políticas e práticas na
2
2
(...) estimular a comunidade acadêmica no sentido de fortalecer pesquisa,
redes de trabalho e o estabelecimento de centros regionais de informação e
documentação e da mesma forma, a servir de exemplo em tais atividades e
na disseminação dos resultados específicos e dos progressos alcançados
em cada país no sentido de realizar o que almeja a presente Declaração,
que não deseja outra coisa, senão, socializar os atores, independente de suas condições
físicas e intelectuais. Vale ressaltar também que a mesma declaração reforça a necessidade
de novas posturas no que se refere a deficientes e sua inclusão social. Separar o aluno com
deficiência
do
aluno
considerado
“normal”
é
estigmatizar
determinados
grupos,
impossibilitando as relações (afetivas, trabalhistas, culturais, etc.) que o contato entre esses
atores, na sua multiplicidade, podem desenvolver, conforme percebemos em nossa
pesquisa, desenvolvida com base em pesquisa bibliográfica, sítios eletrônicos, site de
relacionamentos Orkut, pesquisa de campo no Instituto Elohim 5 e entrevista livre com
surdos, deficientes auditivos e ouvintes que atuam como professores e intérpretes.
O Artigo I, da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, consolida
a idéia de que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direito”. Ao longo da
história, antes da declaração, no que diz respeito aos Surdos, pode-se notar que igualdade
era imposição e em vários momentos históricos o diferente não era bem visto pelos
considerados “normais”. A história da deficiência aponta não somente estigma, tal como
Goffman define - “referência a um atributo profundamente depreciativo” - mas, também,
como exclusão do que é diferente da maioria.
Somente a partir da década de 1960 que, aos poucos, a história do grupo minoritário
– os deficientes – começou a ser questionada. Foi somente a partir deste período que surgiu
a idéia de que deficientes poderiam e deveriam participar da sociedade. No Brasil surgiu o
processo de integração a partir de um padrão de “normalidade” onde as primeiras
informações sobre pessoas com alguma deficiência estão associadas ao atendimento
assistencial de pobres e doentes de um modo geral. As primeiras iniciativas datam da época
do Império, com a criação em 1854 do Instituo Imperial dos Meninos Cegos, hoje conhecido,
como Instituto Benjamin Constant e, em 1856, do Instituto dos Surdos-Mudos, atual Instituto
Nacional de Educação de Surdos (INES), ambos criados por D. Pedro II. Na mesma época,
começaram a surgir questionamentos das práticas assistencialistas em relação aos
deficientes, havendo pedidos de participação destes em diversos setores societários.
área das necessidades educativas especiais, independente da necessidade em questão. Este
documento é uma forma de assegurar aos portadores de deficiência, direitos dentro da sociedade.
5
Localizado dentro da 1ª Igreja Batista da Penha,possui o intuito de ensinar LIBRAS para
evangelizar.
3
É a partir da década de 1980 que surge o conceito de sociedade inclusiva e a
diversidade ganha maior visibilidade, embora os deficientes físicos tenham conseguido
maiores conquistas para o atendimento de sua demanda. O Artigo XXVI, da mesma
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, assegura que:
1- Toda pessoa tem direito à instrução. (...) 2 – A instrução será orientada
no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do
fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais.
Independente de sua limitação. Todos são iguais em direitos e são seres únicos.
A linguagem de sinais é utilizada principalmente pela comunidade Surda. Possui sua
própria estrutura gramatical, tendo status de língua por utilizar-se de níveis lingüísticos como
fonologia, morfologia, sintaxe e semântica. O que é denominado de palavra ou item lexical
nas línguas oral-auditivas é denominado sinal na linguagem de sinais. Sua origem está na
Língua de Sinais Francesa e foi desenvolvida por De l’Epée 6 com o intuito de levar os
ensinamentos católicos para os surdos, mas não é universal justamente por cada país
possuir sua própria cultura, em constante movimento. Aliás, como toda língua, seu
vocabulário acompanha as mudanças culturais e tecnológicas variando também conforme
cada região (regionalismo), o que só legitima ainda mais seu status de língua.
A linguagem dos sinais não é a Língua Portuguesa “feita com as mãos”, onde cada
sinal substitui a palavra.Muito menos possui limitação, ou seja, não expressa somente idéias
concretas, mas pelo contrário, um “falante” da linguagem de LIBRAS conversa sobre
qualquer assunto como todo indivíduo inserido na sociedade.
No Brasil, a Linguagem de Sinais é instituída pela Lei de número 10.436, de 24 de
Abril de 2002, quea reconhece como meio legal de comunicação e expressão conforme o
Artigo 1º, mas não substitui a Língua Portuguesa, oficial do país. Além disso, não é uma
língua ágrafa7. Possui escrita e, no Brasil, é conhecido como escrita em língua de sinais
(ELS).
O Capítulo VI, Artigo 22, da Lei que institui a Linguagem dos Sinais, garante o direito
à educação das pessoas surdas ou com deficiência auditiva em escolas de educação
bilíngue, aberta a alunos surdos e ouvintes, mas são poucas instituições públicas que
6
Abade que se interessou em passar, mesmo que de outra forma, no caso a linguagem de sinais,
ensinamentos católicos para os surdos pobres. Em 1755 foi fundada uma escola com seu nome e foi
a primeira a receber auxílio público, permitindo assim que vários surdos passassem a se expressar.
7
Não é somente falada, mas possui escrita. Recentemente, no Brasil, muitas instituições privadas
abriram cursos sobre a ELS.
4
garantem essa forma de ensino. Nossa pesquisa localizou somente escolas públicas
voltadas para Surdos, sendo somente quatro localizadas dentro da cidade de São Paulo.
Nas escolas privadas há salas especiais para este grupo, limitando o acesso de uma grande
maioria de surdos e deficientes auditivos por conta dos custos de um ensino privado.
Desde a primeira infância, o surdo/deficiente auditivo é encaminhado para salas
especiais, tendo contato somente com outros alunos possuidores da mesma característica
comum. Quando um aluno é inserido dentro de uma sala de ouvintes sua relação limita-se
somente ao professor, visto que as escolas, em sua maioria, não estão preparadas para
comportar essa diversidade. A idéia, a princípio, seria a de que o surdo fosse alfabetizado
em LIBRAS como primeira língua e Língua Portuguesa como segunda, tornando sua
educação bilíngüe, o que o possibilitaria interagir com surdos e não surdos, visto que teria o
arcabouço necessário para obter tal comunicação. O que observamos, contudo, é que
muitos surdos/deficientes auditivos quando encaminhados para uma turma considerada
“normal” acabam por comprometer suas possibilidades de aprendizado, ficando limitados
somente a relação aluno e professor.
Sendo seu contato restrito, essa relação entre “dois mundos” não ocorre,
comprometendo a realização dos princípios da Lei de LIBRAS, da Declaração de
Salamanca e dos Direitos Humanos. Além disso, a educação bilíngue também gera, dentro
da própria comunidade Surda, controvérsias, embora seja anseio da maioria. Há autores
que defendem essa posição visando um maior contato do surdo com seu espaço Surdo e os
que defendem a Língua Portuguesa ensinada antes da linguagem de sinais visando uma
melhor adaptação do surdo/deficiente auditivo no mundo ouvinte, que é predominante.
Aprender as duas línguas não necessariamente significa “falá-las” ao mesmo tempo.
Essa forma conhecida como bimodalismo8 não é bem vista pelos Surdos, visto que limita a
mensagem a ser passada aos dois grupos quando utilizadas ao mesmo tempo. Para isso, a
melhor solução apontada é a de que haja uma pessoa que fale em Língua Portuguesa e
outra que faça a tradução em LIBRAS, o intérprete, como já acontece em alguns programas
de televisão, por exemplo.
O termo deficiente aparece no sentido de falta, e apesar de haver uma limitação, o
deficiente auditivo e o surdo não são incapazes de realizar tarefas, ter pensamentos e
interagir de forma igual aos que são considerados “normais”,embora sejam possuidores de
perda de audição em maior ou menor grau.
8
Capacidade de falar em Língua Portuguesa e em LIBRAS ao mesmo tempo. Tal modalidade não é
muito difundida visto que a estrutura das duas línguas é diferente gerando uma limitação no sentido
de transmissão da mensagem de forma clara.
5
O termo surdo, neste trabalho, aparece de duas formas: 1- com s minúsculo para
tratar do indivíduo sem nenhuma audição e 2- com S maiúsculo para quando estiver
tratando do grupo/comunidade Surda (englobando os surdos e deficientes auditivos)
compreendendo que é um grupo com características próprias e cultura complexa indo muito
além do não ouvir, pois detém uma língua com estrutura complexa, uma história de lutas por
igualdade e oportunidades e não de serem considerados como ouvintes ou se adequarem a
sociedade ouvinte que pode ser colocado como questão de identidade. Envolve uma cultura
vasta como definiu Karen Strobel9, onde coloca que, a cultura surda é
o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de se
torná-lo acessível e habitável ajustando-o com as suas percepções visuais,
que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das
comunidades surdas. (...) é como algo que penetra na pele do povo surdo
que participa das comunidades surdas, que compartilha algo que tem em
comum, seu conjunto de nomes, valores e comportamentos. (2009, p. 27).
Segundo a mesma autora,
A humanidade, ao longo do tempo, adquire conhecimento através de língua,
crenças, hábitos, costumes, normas de comportamento, entre ouras
manifestações. Partindo do suposto que cultura é a herança que o grupo
social transmite a seus membros através de aprendizagem e de
convivência, percebe-se que cada geração e sujeito também contribuem
para ampliá-la e modificá-la. (2009, p.19).
Os surdos/deficientes auditivos possuem seu espaço e reivindicam o direito de o
terem dentro de uma sociedade de maioria ouvinte. Para tanto, a FENEIS (Federação
Nacional de Educação e Integração dos Surdos)10 atua na conscientização e divulgação da
cultura Surda, trazendo conhecimento para surdos/deficientes auditivos e ouvintes sendo
estes estudantes da área da educação e familiares.
Em uma sociedade de maioria ouvinte, os Surdos, procuram garantias para que seus
direitos sejam preservados e as suas necessidades respeitadas.Equerem, como a maioria,
ter direito de escolha. Recebendo constantemente o que a cultura dominante impõe, no
caso, a cultura dos ouvintes, muitos Surdos acabam ingressando em escolas “normais”
aprendendo a Língua Portuguesa e perdendo seu referencial de língua, no caso, a LIBRAS.
9
Surda, Professora Doutora em Educação pela Universidade Feral de Santa Catarina (UFSC) e
diretora-presidente da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS).
10
Entidade filantrópica, sem fins lucrativos, com finalidade sociocultural, assistencial e educacional
que têm por objetivo a defesa e a luta pelos direitos da comunidade surda brasileira filiada à
Federação Mundial dos Surdos.
6
Estas pessoas acabam por não conhecer a história de lutas e o acervo cultural, ignorando,
assim, a riqueza da trajetória de seu grupo.
Muitos pais, querendo a “normalidade” dos filhos e a sua aceitação social, acabam
por incutir em sua história escolar valores que não fazem parte de seu meio, como a música.
Surdos não ouvem, portanto essa arte não faz parte de sua vida, salvo para os deficientes
auditivos que usam aparelhos ou que ouvem com dificuldade. Não aprendendo LIBRAS
acabam também por não se comunicar com outros com a mesma limitação, tornando-se
assim, ouvintes funcionais, ou seja, são prejudicados na área de conhecimentos, ficando
mais limitados e no limite entre dois mundos. Correm o risco de serem sujeitos a-históricos,
pois não fazem parte nem do mundo ouvinte, nem do mundo Surdo, sofrendoproblemas de
pertencimento.
Desde o início da história dos Surdos eles foram estigmatizados por serem diferentes
dos padrões da maioria. Por um período foram até proibidos de utilizarem a linguagem de
sinais, pelo fato de não condizer com a forma utilizada, no caso a fala. Quando usamos o
termo pela primeira vez, foi no sentido de que uma pessoa estigmatizada não é aceita pela
sua diferença, procurando assim ser aceita em grupos onde sua diferença não seja a única,
gerando assim segregação de pessoas e grupos. Uma pessoa estigmatizada não
necessariamente será hostilizada, embora elementos depreciativos apareçam. Exemplo
disso é a trajetória de Douglas11, surdo que entrevistamos.
Douglas se considera surdo oralizado, embora ouça com a ajuda de aparelho
auditivo. Quando criança foi estigmatizado em função da ignorância dos ouvintes,
que
julgam os surdos como sendo também mudos. Seu apelido por um pequeno período de
tempo era mudinho, embora não havia compreendido na época escolar o porquê de tal
apelido. Não sabe LIBRAS, embora possua grande interesse em aprender a língua. Suas
conversas são com ouvintes, já que usa aparelho e ouve bem, tendo somente a limitação
com relação ao telefone. Para ele, não é o estigma que separa Surdos e ouvintes e sim a
barreira linguística e falta de paciência de ambos os lados. Não se relaciona com surdos
utilizadores da linguagem de sinais tendo como amigos os deficientes auditivos, embora
tenha grande interesse em conversar em LIBRAS com outros Surdos. Seus amigos
portadores da mesma peculiaridade localizam-se no local de trabalho através de incentivos
que alguns órgãos são filiados.12
11
Douglas Furtado, Surdo oralizado e um dos meus entrevistados o qual agradeço pela gentileza em
me ceder à entrevista.
12
Lista de empresas participantes pode servisualizada no site da FENEIS.
7
Ademir13 também partilha da idéia de que o aprendizado da língua é fundamental
para estreitar as relações entre “dois mundos” e defende o conhecimento dos Surdos com
sua própria história. Trabalha como professor de LIBRAS e enxerga no seu ofício a
possibilidade de transitar, como um ser híbrido, entre as duas culturas de forma a conduzir
seu trabalho a serviço de Deus, evangelizando Surdos para que possam ter acesso pleno
aos cultos promovidos pela Igreja onde participa. Além disso, é a favor da educação
bilíngüepara que não haja segregação entre as pessoas. Pensa ser fundamental o contato
entre as diferenças para que estas não sejam, no futuro, objetos de separação entre grupos.
Surdos não aceitam de forma tão rápida a amizade de um ouvinte que está fora de seu
círculo de amigos, mas, quando o fazem é de forma bastante intensa. No Instituto Elohim,
por exemplo, isso pôde ser notado na própria disponibilização da sala. Os Surdos sentavam
atrás, bem aos fundos, e observavam os ouvintes aprendendo sua língua, ajudando quando
era o caso, mas, tratando diretamente com o professor presente em sala e não com o
colega ouvinte. Dão preferência de contato com as pessoas que já sabem sua língua não
tendo a menor disponibilidade para quem ainda não a possui, o que pode ser visto como
“retribuição” do que recebem da sociedade dita e considerada “normal”.
Surdos utilizadores de LIBRAS “deixam de lado” quem não conhece a língua,
inclusive os próprios surdos oralizados e os deficientes com aparelhos auditivos 14 , até
mesmo porque, para surdos utilizadores de LIBRAS, utilizá-las mostra status dentro do
grupo, e os que possuem tal habilidade, ouvinte ou não, são mais bem considerados pelo
grupo. A utilização ou não do aparelho auditivo também gera grande discussão entre eles.
Pôde ser notado um grande distanciamento dos Surdos na utilização desses aparelhos.
Muitos não utilizam e preferem o silêncio ao invés de ouvir vozes, para eles extremamente
distorcidas e em um tom grave, e barulhos desnecessários onde, no máximo, ganham dores
de cabeça e na região dos olhos. Evitam ouvir pelo incômodo não somente físico, mas,
também, pelo que escutam. Preferem a comunicação em LIBRAS e fazem questão de
utilizá-la. Por optarem pela utilização da LIBRAS, a função da fala perde o sentido e muitos
não falam simplesmente por não quererem. Há aversão com relação ao trabalho
desenvolvido pelos fonoaudiólogos e sempre que possível se afastam de todo e qualquer
tratamento, garantindo o direito de utilizar seu modo de “falar” não aceitando o modo de falar
convencional.
Entendendo a necessidade de dar voz ao Surdo, o estudo acaba por chegar a alguns
impasses, quanto ao que não chega a ser comportamento padrão do grupo. O deficiente
13
Ouvinte, professor de LIBRAS no Instituto Elohim onde aprendeu a linguagem de sinais para os
cultos da Igreja. Agradeço pela gentileza em m ceder a entrevista.
14
Este fato pôde ser constatado não somente no Instituto, mas também com o depoimento do
Douglas.
8
auditivo se priva, por sua própria vontade, da utilização do aparelho corretivo e, a grande
maioria, é contra o implante coclear 15 , preferindo, novamente, a utilização dos sinais.
Marcela 16 utilizou-se dessa cirurgia e é a favor da mesma. Não se define como surda
embora a operação tenha sido feita recentemente. Ela colocou-se na posição de ouvinte por
ter sido oralizada. Defende a cirurgia para que o Surdo ouça e viva de forma “normal”, pois
considera ser Surdo como algo ruim. Se fosse, de forma grosseira, classificá-la, Marcela
seria, e foi durante muito tempo e a contragosto, considerada deficiente, mas como definir o
que ela foi se nunca se percebeu como tal? Era surda oralizada 17 , vivendo no mundo
ouvinte e agora ouve com a ajuda de aparelhos e se posiciona como ouvinte e ainda assim,
pelos padrões de normalidade, é considerada deficiente, ao contrário do Douglas, que se
posiciona como Surdo, sendo oralizado também, mas utilizador do aparelho auditivo.
Karin Strobel e Armando Nembri 18 se posicionam como Surdos possuidores da
capacidade de ler lábios e detentores do uso dos sinais. Dentro da própria comunidade
Surda não há um consenso e por isso há muitos trabalhos voltados para a inserção no
mercado de trabalho, acesso as escolas e acervo cultural. Definir o que é ser Surdo é
objetivo de muitos autores estudados e também não há um consenso sendo somente a
língua LIBRAS como um dos principais fatores de identidade19.
Surdos procuram os Surdos para se relacionar e nessa busca por uma característica
em comum foi criada a Comunidade Surdos no site de relacionamentos Orkut onde Surdos
e ouvintes se relacionam para ensinar e aprender LIBRAS respectivamente, além de criar
laços de amizade. Nesta comunidade, a princípio somente para Surdos, pode-se notar que a
língua, portuguesa no caso, é utilizada de uma forma em que ouvir ou não ouvir não importa
visto que o que vale é a escrita e esta rompe com qualquer limitação existente, não
causando desconforto a nenhum dos participantes, ao contrário de um contato frente a
frente como apontaram os já citados Magnani, Douglas e Ademir.
Ter acesso ao mundo do Surdo requer paciência e o conhecimento da língua é
extremamente valorizada por eles, abrindo um acesso de forma mais rápida do que o não
conhecimento da mesma. Magnani não obteve sucesso por não deter o domínio da língua.
15
Dispositivo eletrônico de alta tecnologiaque estimula eletricamente as fibras nervosas
remanescentes, permitindo a transmissão do sinal elétrico para o nervo auditivo. Amplifica o som e
fornece impulsos elétricos para estimulação das fibras neurais para a capacidade de perceber o som.
Atualmente existem no mundo, mais de 60.000 usuários de implante coclear.
16
Nome fictício a pedido da entrevista. Agradeço a gentileza de me conceder uma entrevista.
17
Utilizou essa denominação para dar início a argumentação da importância de poder ouvir e ser
aceita.
18
Armando Guimarães Nembri, surdo, mestre em educação pela UFRJ. Pesquisador e pesquisado
em sua dissertação de mestrado.
19
Colocar LIBRAS como fator de identidade surge no sentido de que todos possuem grande estima
pela língua e esta é considerada “carro chefe” de suas lutas por direitos.
9
Douglas conversa de forma restrita. Ademir já transita facilmente entre os mundos em
questão e chega a ser valorizado pelo trabalho que desenvolve na comunidade em que
atua. Conversar com um Surdo só será possível se souber a língua que Ele fala e não da
sociedade ouvinte. Isso só vai ocorrer quando o Surdo necessitar de algo (compras, vendas,
serviços públicos) do “mundo ouvinte”, caso contrário, se voltará para o grupo possuidor da
mesma característica sua. A barreira da língua só é quebrada quando todos os atores
utilizam-se da língua comum, no caso dessa comunidade dentro de redes sociais, é a língua
escrita.
Uma grande barreira colocada para os Surdos, e que tentam constantemente
transpor, é o que denominam como poder ouvintista, definido como “um conjunto de
representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se
como se fosse ouvinte.” (SKLIAR, p. 15, apud STROBEL, 2008, p. 24)
Um exemplo disso, e já citado anteriormente, é a inserção da música para os Surdos
que não faz parte de sua cultura ao contrário do cinema e programas televisivos com
legendas, a literatura, o teatro e a política. É impor uma forma de como ele deverá agir
dentro da sociedade. É pensar que Surdo quer ouvir sem ao menos perguntar se é o que
realmente quer. É responder por ele achando que ele não é capaz de articular idéias claras
sobre como enxerga o que lhe acontece. Ele reivindica seu direito de ser Surdo e isso é
constatado nas ações políticas que procuram conseguir através não somente da FENEIS,
mas de encontros anuais, nacionais e regionais, de diversas categorias, para tratar de
assuntos pertinentes aos seus interesses. É dizer que ele tem um problema por não ouvir. O
Surdo não pensa que possui um problema20, afinal, não possui parâmetro para saber se
ouvir é bom já que nunca ouviu. Perguntar para um ouvinte se ele quer ser Surdo
provavelmente a resposta será negativa, mas, perguntar para um Surdo se ele quer ouvir vai
variar dos valores que recebeu pela família e sociedade e muitos provavelmente dirão não
pelo simples fato de pertencerem a um grupo diferente e desejarem serem reconhecidos
como tal. Na reportagem concedida a um jornal eletrônico, Sílvia 21 expõe de forma mais
específica quando questionada sobre ser ou não deficiente. Responde da seguinte forma:
O termo deficiente auditivo aloca-se dentro da perspectiva patológica da surdez, que
na busca de adequar os surdos ao padrão estabelecido da normalidade. Os surdos são
sujeitos culturais, com experiências visuais e identidades próprias: as identidades
surdas. Assim, defende-se a concepção de que a Língua de Sinais, para mais além do
20
Essa afirmação é baseada na observação dos Surdos envolvidos no estudo e embora não possa
ser considerada para todos pode-se colocar desta forma visto que surdo não gosta de ser chamado
de deficiente auditivo.
21
Doutora pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), surda há seis anos, entrevista concedida ao sítio G1.
10
que uma forma de comunicação dos surdos constitui-se como seiva identitária. Eu
assumo minha híbrida identidade surda e recuso o rótulo de deficiente.
Na conhecida história de Helen Keller, surda e cega, educada por um professor, com
limitação visual, traz questões ainda existentes nas relações entre Surdos e ouvintes atuais.
A película é de 1962, mas questões como normalidade, não normalidade, ser considerado
inapto para qualquer tipo de ação (entenda-se trabalhista, amorosa, familiar), impor a cultura
dominante são situações mais presentes em nosso cotidiano, embora a comunidade Surda
procure sempre dar apoio, não somente ao Surdo, mas também aos seus familiares. Para
Silvia isso ocorre porque “o problema não está nos alunos, mas na carência de qualidade dos
conteúdos trabalhados em sala de aula. Os surdos são tratados preconceituosamente como
incapazes de apreender." Relações de poder são constantemente exercidas sobre o
indivíduo e quando este não possui bases sólidas, não conhece sua história, sua
peculiaridade,
acaba
por
tentar
se
adequar
ao
movimento
da
maioria,
comconseqüênciassobre as suas relações.
Autores e pesquisados concordam que a base familiar é fundamental para encarar
sua diferença perante o mundo, mas sem o devido conhecimento sobre sua diferença, o
Surdo não se define como tal e buscará adaptar-se as medidas normalizantes inseridas nas
relações sociais. Sem o devido conhecimento sobre sua diferença esse indivíduo não possui
parâmetro algum para escolha.
Se, entre os ouvintes, os processos cognitivos são construídos por repetição, pelo
exemplo, com os Surdos não é diferente. O que difereas formas de ensino é o tempo com
um aluno Surdo, que reclama um tempo maior devido sua limitação e o emprego da
utilização da fala. Talvez por isso a sociedade ainda não esteja preparada para comportar,
em uma única sala, as diversidades que esta mesma sociedade conhece.
Por isso, a questão da língua surge como fator fundamental para a cultura Surda.
Seja em linguagem de sinais, seja em gestos caseiros22, a comunicação para o grupo é
importante para o reconhecimento de sua identidade e ter contato com as informações e
conhecimentos para a construção da mesma é importante que haja uma ligação do
surdo/deficiente auditivo com sua comunidade Surda.
Entendendo o quanto a questão da língua é importante para a cultura Surda
podemos supor uma educação bilíngüe não somente para Surdos, mas, para ouvintes
também. Aprender uma nova língua é importante para qualquer área de desenvolvimento do
22
Gestos inventadosno seio familiar, não possuem estrutura tal como a linguagem de sinais, mas a
comunicação entre emissor e receptor é realizada através de sinais rudimentares.
11
indivíduo e hoje o interesse volta-se para uma língua estrangeira, no caso o inglês. Inseridos
todos dentro de um território onde uma língua é falada por grande parte da população as
minorias acabam por aprender, de forma pobre, essa forma de comunicação sendo inibido
se manifestarem de forma mais explanadora sobre o mundo que o norteia. Incutir para um
indivíduo surdo a necessidade de utilizar-se da fala e da leitura labial faz com que este não
desenvolva toda a capacidade que um indivíduo ouvinte aprende não somente na sua
trajetória escolar, mas acarreta influências na sua vida profissional, amorosa, grupos de
amigos o que definirá suas preferências. Durante décadas o indivíduo Surdo foi considerado
inapto e hoje ainda, em determinados lugares, ainda é visto dessa forma. Programas para
incentivar são realizados, mas políticas públicas caminham em passos lentos embora
procurem atuar valorizando sua história não somente para sua própria comunidade, mas
também para que o ouvinte veja, escute e entenda suas diferenças. É possível integrar
Surdos e ouvintes no mesmo espaço escolar como aponta uma escola do ensino
fundamental do Rio Grande do Sul, que, para atender, a princípio, um aluno, mobilizou a
escola no aprendizado bilíngue não somente dos professores, mas também dos alunos,
acarretando relações positivas e de enriquecimento curricular para os dois grupos
envolvidos onde suas relações ocorrem de forma mais tolerante e pacífica segundo a
reportagem. Houve parceria entre a família, a escola considerada “normal” e a “especial”
para que isso fosse possível de concretização.
As relações entre Surdos e ouvintes ocorrem embora aconteçam de forma mais
substancial quando fazem parte do mesmo ambiente, seja o ouvinte da família ou da
comunidade em que participa, caso contrário, as relações são de forma muito “rasa” e isso
se dá pelo não conhecimento do ouvinte por LIBRAS, em sua grande maioria.
Surdos possuem hoje o direito de aprender LIBRAS e serem educados como tal,
mas há uma luta para que aprendam LIBRAS antes da Língua Portuguesa o que não
acontece, no máximo a educação será bilíngue e as formas de acesso ainda são
estritamente reduzidas a uns poucos egressos nessa modalidade de ensino.
A minoria procura se estabelecer dentro da maioria embora esta exerça grande força
sobre aquela. Conhecer sobre Surdos e sua história torna-se importante para que possamos
compreendê-los melhor. Mas ouvi-los, prestar atenção no que desejam, para eles é o
primeiro passo para maiores interações sociais. Se Surdos veem vozes para entender o
“mundo” ouvinte, que este então “ouça” mãos para entender e respeitar o “mundo” Surdo.
12
Para finalizar, a citação de J. Schuyler Long 23 , no livro de Oliver Sacks, se faz
necessário para que haja respeito pelo “falante” da linguagem de sinais e tendo em mente
que a mesma citação acompanhou o desenvolvimento do trabalho, é pertinente que, neste
momento, seja utilizada:
[A língua de sinais], nas mãos de seus mestres, é uma língua
extraordinariamente bela e expressiva, para a qual, na comunicação uns
com os outros e como modo de atingir com facilidade e rapidez a mente dos
surdos, nem a natureza nem a arte lhes concedeu um substituo à altura.
Para aqueles que não a entendem, é impossível perceber suas
possibilidades para os surdos, sua poderosa influência sobre o moral e a
felicidade social dos que são privados da audição e seu admirável poder de
levar o pensamento a intelectos que de outro modo estariam em perpétua
escuridão. Tampouco são capazes de avaliar o poder que ela tem sobre os
surdos. Enquanto houver duas pessoas surdas sobre a face da Terra e elas
se encontrarem, serão usados sinais.
23
Diretor da Iowa School For the Deaf. Prefácio do livro Vendo Vozes.
13
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Humanos.
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A alfabetização dos surdos e a comunicação com os não