BA I L E D E F O RM A T U RA
Teatro Imagético
Roteiro de:
JULIO CARRARA
Escrita em 1997
Julio Carrara
Baile de Formatura
1
PERSONAGENS:
MOÇA
RAPAZ
IRMÃ DA MOÇA
2.º RAPAZ
2.ª MOÇA
3.º RAPAZ
3.ª MOÇA
4.º RAPAZ
O BARMAN
6 RAPAZES
ÉPOCA: Atual
CENÁRIO: Rotunda branca com uma abertura no centro. Atrás desta rotunda,
um tablado. Na frente deste tablado, no centro, uma escada glamourosa que
leva para a pista de dança, que fica no centro do palco. Na parte central, à
esquerda, está o barzinho. No proscênio à esquerda, uma mesinha com duas
cadeiras, enfeitadas com papel crepom etc. No proscênio, à direita está uma
outra mesinha com o mesmo enfeite. O toalete masculino fica atrás da rotunda,
do lado esquerdo e o feminino, do lado direito. A decoração do salão fica a
cargo do cenógrafo e do diretor. Na rotunda branca, desde que inicia o
espetáculo, deverão ser projetadas “sombras chinesas” para as entradas e
saídas de personagens e outras cenas que ocorrerão através das sombras. Na
iluminação, um globo central, um “strobo”, luz de néon e luz negra e se
possível, toda a iluminação que um salão de baile possa ter. O espetáculo,
obrigatoriamente, terá que ser bastante colorido.
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PRÓLOGO
O pano se abre lentamente revelando um luxuoso salão de baile. Uma luz de
néon ilumina a cena e revela a entrada de vários casais, que formam um círculo em
torno da pista de dança. MOÇA é a única que está sem par. Ela está no topo da escada
e olha para todos, com muita tristeza. Todos estão congelados. Ouve-se no áudio a voz
de um locutor, que faz a abertura do baile.
LOCUTOR
(Off.) Quando subimos ao palco, em trajes de festa, o coração bate mais
forte. Tremor generalizado invadindo o corpo, plateia aplaudindo nossa
conquista. Talvez o nervosismo nos domine, e não saibamos a maravilhosa
magia do momento sublime do qual nos aproximamos. Mas um dia iremos
recordar e tudo será vivido como se estivesse acontecendo novamente. E nos
iremos sentir mais completos, mais inteiros, como hoje.
Ouve-se no áudio a introdução da valsa “Danúbio Azul”. Luz sobe em
resistência. Os casais descongelam e começam a dançar. Primeiro se movimentam em
círculo, depois se espalham pela a pista, dançando a sua maneira. Parecem flutuar.
MOÇA soluça e segura o choro. Todos os meninos e meninas estão vestidos
elegantemente, exceto a MOÇA, que está com um vestido bem simples, contrastando
com os vestidos das outras. RAPAZ é um tremendo pé-de-valsa, e faz par com a IRMÃ
DA MOÇA. Outros pares são: 2.º RAPAZ e 2.ª MOÇA; 3.º RAPAZ e 3.ª MOÇA e
o 4.º RAPAZ que está no balcão conversando com o BARMAN. Este ao ver MOÇA
chateada se aproxima dela e convida-a para dançar com ele. Ela não aceita, pois só tem
olhos para o RAPAZ, que está com sua irmã. O 4.º RAPAZ volta para o balcão. A
valsa chega ao fim.
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CENA 1
Imediatamente ouve-se o som de um rock’n’roll. Os casais deixam o formalismo
da valsa e dançam animadamente.
Ninguém está parado.
Nessa cena começa a estabelecer o relacionamento das personagens e a
personalidade de cada um. MOÇA, que assistiu do topo da escada toda a valsa, desce
as escadas e caminha até uma mesinha bem afastada. Senta-se e chama o BARMAN.
Este atende o seu pedido e vai até sua mesa. Ela pede um refrigerante pra ele, que vai
até o barzinho buscar.
Nesse momento, RAPAZ tira um cigarro do bolso e o acende. MOÇA não tira
os olhos dele. Este se aproxima dela e utiliza o cinzeiro de sua mesa, mas antes de jogar
a cinza, solta toda a fumaça na cara dela. Ela começa a tossir e abana a fumaça que se
alojou ali. RAPAZ sai de perto dela e volta a dançar com sua IRMÃ. Como ele sabe da
paixão da MOÇA para com ele, começa a usar a IRMÃ da mesma, para lhe provocar
ciúmes. IRMÃ, quando percebe que O RAPAZ está de olho na MOÇA, segura em seu
queixo e faz com que ele a olhe e não dê atenção à outra.
BARMAN aproxima-se da mesa da MOÇA com uma bandeja trazendo o
refrigerante. Quando este segura na garrafa para colocá-la à mesa, RAPAZ vira a
IRMÃ para a direção de onde ele está e dá um forte empurrão nela, que bate no
BARMAN. Este se atrapalha e derruba todo o conteúdo existente na garrafa no vestido
da MOÇA, que reage incomodada. BARMAN pede desculpas pelo acidente, enquanto
IRMÃ e RAPAZ se afastam, zombando dela e voltando a dançar. Ao chegarem à pista,
ambos se agarram.
MOÇA fica olhando para o vestido manchado e para RAPAZ e sua IRMÃ,
enquanto BARMAN lhe traz um pano úmido e entrega para a garota, que o limpa
rapidamente. Mas a mancha não sai. Ela decide ir até o toalete. No meio do caminho,
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ela passa pelo RAPAZ. Este, quando percebe que ela se aproxima, coloca o pé na frente
e ela, que está muito preocupada com o seu vestido, não vê o que ele fez, tropeça em seu
pé e cai no chão. Todos fazem um ruído como: “Eêêêêêêê!!!!!”, por exemplo, exceto o 4.º
RAPAZ, que se aproxima dela e ajuda-a se levantar. Ela está vermelha de tanta
vergonha, muda de ideia e volta para a mesa. 4.º RAPAZ, percebendo que a garota
quer ficar sozinha, caminha até uma mesa, que está em outro extremo do palco e sentase nela, sem tirar os olhos da MOÇA.
CENA 2
O rock’n’roll agora dá lugar para uma música lenta. IRMÃ continua dançando
com RAPAZ; 2.º RAPAZ com 2.ª MOÇA, a fogosa, que aproveita a ocasião da lenta
para “meter a mão na massa muscular” dele. Ele, como não é bobo, faz o mesmo; e 3.º
RAPAZ com a 3.ª MOÇA. Esta pede licença para ele e para de dançar um pouco. Vai
com ele até o barzinho e pede para BARMAN duas latinhas de cerveja. Ambos vão
dançar na pista e começam a beber enquanto dançam. A música permite um forte clima
entre os casais.
MOÇA e 4.º RAPAZ são os únicos que estão parados e sentados. 4.º RAPAZ
observa MOÇA, que olha para RAPAZ e sua IRMÃ dançando coladinhos na pista.
Este, quando percebe que a garota o olha, para lhe deixar enciumada, pega a IRMÃ e
beija-lhe. MOÇA, ao ver a cena, pega o enfeite da mesa, esmaga-o e o atira longe.
Abaixa a cabeça e chora baixinho.
4.º RAPAZ se aproxima da mesa dela cautelosamente e coloca a mão em sua
cabeça, depois com a outra mão, levanta seu queixo e vê seu rosto coberto de lágrimas.
MOÇA tira seus óculos que embaçaram e os deposita sobre a mesinha. 4.º RAPAZ tira
do bolso da camisa um lenço e enxuga seus olhos, sorrindo para ela. Ela retribui ao
sorriso, mas ainda seu semblante está melancólico. Ele se afasta e lhe estende a mão,
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convidando-a para dançar. Ela não quer, mas ele não desiste. Tenta novamente; nada.
Só na terceira tentativa consegue convencê-la.
Ela caminha com ele para a pista, toda desengonçada e, quando ele a põe na
posição de dança, ela pisa em seu pé. Decepcionada, vai voltar para sua mesa, mas ele a
impede e se mostra dócil e atencioso. Ele vai ensinando-lhe os passos. Aos poucos ela
vai pegando os movimentos até entrar em sincronia com ele. Dançam, mas ela não tira
os olhos do RAPAZ. A lenta cessa.
CENA 3
Um “twist” dos anos 50 quebra o clima da cena anterior.
2.ª MOÇA e O 2.º RAPAZ dançam animadamente. A 3.ª MOÇA com 3.º
RAPAZ deixam a pista e vão novamente para o bar pegar uma outra latinha de
cerveja. A garota toma um grande gole. Já está um pouco “tocada” pelo efeito do álcool.
A MOÇA e o 4.º RAPAZ também deixam a pista e caminham até a mesa. O
RAPAZ e IRMÃ também deixam a pista e vão sentar-se em outra mesinha. A MOÇA
pega os óculos e quando vai colocá-los, O 4.º RAPAZ tira-os de suas mãos e os coloca
no bolso de sua camisa. Pede licença para ela e vai até o toalete, deixando-a sozinha. O
RAPAZ a olha, um pouco enciumado. A IRMÃ, ao perceber que ele não tira os olhos
da MOÇA, começa a discutir com ele. Essa discussão vai aumentando gradativamente.
No auge da revolta, ela quebra um copo e sai furiosa, deixando-o sozinho. A 2.ª
MOÇA e 2.º RAPAZ olham para A MOÇA de um lado e o RAPAZ do outro, e
planejam algo. Riem bastante. Aproximam-se do RAPAZ e o cumprimentam. Botam o
plano em prática. Fazem uma aposta, dizendo, através de gestos, que se o RAPAZ
beijar a MOÇA, eles darão todo o dinheiro que tem. Retira do bolso da calça um maço
de dinheiro e o coloca em cima da mesa. Caso contrário, RAPAZ tem que pagar para
eles; e o pagamento é o relógio de ouro que tem no pulso. Este tira o relógio e o deposita
na mesa junto com o maço de dinheiro. Apertam as mãos e a 2.ª MOÇA corta a aposta.
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O casal fica na mesa, enquanto RAPAZ se aproxima da MOÇA. Música “Only
You”. Com pose de galã, ele se aproxima dela e convida-a para ser sua parceira. Ela
aceita no ato e não acredita que isto esteja acontecendo realmente. Ambos vão para a
pista. Ela treme. Começam a dançar. RAPAZ olha para o casal que a tudo observa e
diz através de gestos que a aposta está no papo. O casal ri da situação. RAPAZ olha
para ela, fecha os olhos e a beija. Ela vibra. O beijo é prolongado. O casal se desespera.
O 2.º RAPAZ se despede de seu dinheiro.
Enquanto se beijam, 4.º RAPAZ chega do toalete radiante e ao ver a cena, muda
radicalmente. Caminha até o bar e pede uma bebida forte ao BARMAN e vira o copo
num só gole. Vai até a mesa e reage frustrado.
Na pista, RAPAZ corta o beijo abruptamente e empurra a MOÇA. Depois
debocha na cara da mesma e cospe no chão, limpando a boca com as mãos, logo em
seguida. A garota fica sem entender nada. O RAPAZ vai até a mesa e pega o seu
relógio e todo o dinheiro do 2.º RAPAZ e faz cara de vencedor.
A MOÇA, ao perceber que foi feita de boba, se aproxima do RAPAZ que está
indo para o barzinho “torrar a grana” e lhe acerta uma violenta bofetada. Ele vai
revidar. Ergue a mão para batê-la, mas O 4.º RAPAZ o impede, segurando seu braço
com toda a força. Ambos se olham com ódio. Congelam. Luz baixa em resistência,
ficando somente a luz néon.
CENA 4
Luz sobe em resistência. O clima tenso da cena anterior é quebrado com a
música “In the Mood”.
O RAPAZ sai de perto da MOÇA e do 4.º RAPAZ e vai até o bar comprar
bebida, enquanto o casal sai de cena.
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A 3.ª MOÇA, que no decorrer dessas cenas não parou de beber um minuto
sequer, passa mal, põe a mão na boca e vai para o toalete vomitar, deixando o 3.º
RAPAZ sozinho. Este dança sozinho num canto.
Na pista estão somente A 2.ª MOÇA e o 2.º RAPAZ, dançando. Ela puxa a
gravata do garoto e o leva para o toalete feminino, que fica atrás da rotunda. Ambos se
agarram e a platéia só vê a cena através da “sombra chinesa”. Ela desabotoa sua camisa
e fica se esfregando nele. A 3.ª MOÇA quando sai do banheiro, ao ver a cena, fica
aterrorizada com a cena e grita. Corre para a pista e tampa os olhos com as mãos. O 3.º
RAPAZ vem acudi-la. O 2.º RAPAZ sai de trás da rotunda, com o cabelo todo
despenteado, com a camisa aberta e cheia de batom e com as calças abertas. Desce as
escadas e vem até o centro para se arrumar. Atrás dele vem a 2.ª MOÇA, com muito
calor, se abanando e torna levá-lo para o mesmo lugar.
Cena de repetição, só que agora ambos simulam o ato sexual. Ele retorna, todo
suado. Arruma-se. Ela volta, com a boca toda borrada de batom e tenta levá-lo
novamente para lá. Ele se recusa, pois está esgotado. Ambos se sentam. Ela começa a
olhar para o BARMAN e fica paquerando-o.
CENA 5
Ouve-se uma música qualquer.
A 2.ª MOÇA diz para o 2.º RAPAZ que vai tomar algo no bar, deixando-o
sozinho. Ele fica se arrumando, enquanto ela entra no barzinho do BARMAN. Pega
uma cadeira e sobe para pegar a bebida desejada, empinando as nádegas para ele, que
fica olhando para elas, com os olhos esbugalhados. Ela desce da cadeira e agarra o jovem
BARMAN, levando-o debaixo do balcão. O RAPAZ chama a 3.ª MOÇA para dançar
com ele, pois o 3.º RAPAZ foi tomar um ar, lá fora do clube. Ela aceita. Ela está agora
bem mais embriagada e perde o equilíbrio várias vezes e não pára de rir. O BARMAN
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levanta-se e aparece atrás do balcão, mas a 2.ª MOÇA puxa-o de volta para ela. O 2.º
RAPAZ quando sente a falta da parceira, vai procurá-la no bar e se assusta quando ela
se levanta de trás do balcão e sorri para ele, um sorriso amarelo. Pouco depois, é o
BARMAN, que se levanta e se arruma. O 2.º RAPAZ certificando-se que foi traído e
com um gesto único, diz: “me ferrei”, e vai se sentar.
Nesse momento aparece a IRMÃ DA MOÇA junto com o 3.º RAPAZ. Esta
fica furiosa ao ver O RAPAZ dançando com a 3.ª MOÇA. O 3.º RAPAZ reage da
mesma maneira. Ambos sentam-se e começam a tramar uma vingança contra O
RAPAZ.
Atrás da rotunda, em “sombra chinesa”, está A MOÇA e o 4.º RAPAZ. Este
solta os cabelos da garota e vai lhe ensinando os passos da música. Ela pega os
movimentos com muito mais desenvoltura e coordenação. A música chega ao fim.
Inicia uma outra, do mesmo estilo, só que mais agitada. A MOÇA e o 4.º
RAPAZ entram correndo na pista. Ela está totalmente transformada. Está com um
vestido preto maravilhoso. Agora as outras meninas que perderam o brilho para ela.
Está belíssima. Ninguém acredita no que vê. Ninguém imaginou que aquele “patinhofeio” se transformasse num “belo cisne”.
Ambos dão um show na pista.
Todos os olhares estão voltados para ela, inclusive os olhos do RAPAZ, que fica
boquiaberto ao vê-la transformada. O BARMAN e a 2.ª MOÇA saem de trás do
balcão e vão dançar também. O RAPAZ vai se aproximar da IRMÃ DA MOÇA.
Tenta conversar com ela, mas o 3.º RAPAZ o encara feio e ela o esnoba. O RAPAZ
fica com cara de tacho enquanto a IRMÃ DA MOÇA sai acompanhada com o novo
parceiro.
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CENA 6
Música carnavalesca. A alegria é geral.
A MOÇA perdeu de vez a timidez e dança pra valer. A 3.ª MOÇA está
completamente bêbada, tenta pegar os passinhos dos outros e cambaleia, caindo no
chão. Todos fazem dela um “joão-bobo”. Ela rodopia para todos os lados e capota. O
grupo se une, fazendo trenzinho e passa por cima dela, que tenta se levantar. Todos
estão empolgadíssimos. Brincam, pulam um por cima do outro, sambam.
A IRMÃ DA MOÇA e o 3.º RAPAZ aparecem na abertura da rotunda e ficam
encarando O RAPAZ, que está fumando num canto. Ela acena a cabeça
afirmativamente para ele, como quem diz: “agora é o momento de agir”.
O 3.º
RAPAZ sai.
Ouve-se em off um assobio. Logo em seguida ele volta, acompanhado por mais
SEIS RAPAZES, todos mal-encarados e completamente drogados. Ficam ali
observando tudo.
IRMÃ DA MOÇA aponta para O RAPAZ. As meninas, ao notarem a
presença dos “penetras” caminham até o barzinho e ficam espiando amedrontadas.
2.º e o 4.º RAPAZ percebem que algo está errado e chamam O RAPAZ para
ficar perto deles. O RAPAZ, nem percebe que está sendo observado e atende ao pedido
dos colegas, indo na direção deles.
No meio do percurso, os SEIS RAPAZES e o 3.º RAPAZ o cercam e começam a
batê-lo com fúria. Quando iniciar a briga, somente o “strobo” deverá ficar ligado,
piscando e deixando a cena em câmera lenta.
MOÇA ao ver o RAPAZ apanhando, começa a gritar desesperadamente e quer
apartar a briga, mas outras meninas a impedem, segurando-a bem firme. A 3.ª
MOÇA, muito alcoolizada, se diverte e grita: “Porrada! Porrada! Porrada!!!”.
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O 2.º e o 4.º RAPAZ entram no meio da briga e tenta separá-los. Um dos
“penetras” aponta um punhal para eles, mas o 4.º RAPAZ chuta a mão deste e o
punhal vai parar do outro lado do salão. Todos, exceto as meninas e o BARMAN, que
as protege, entram na briga. A pancadaria é geral.
O RAPAZ perde os sentidos e continua apanhando. Além de baterem no
RAPAZ, os “penetras” quebram mesas, copos, jogam cadeiras no chão, xingam...
Ouve-se em um alto volume o som de uma sirene de polícia. Os “invasores”
saem e deixam o RAPAZ estendido no chão com a boca e o nariz ensangüentados. Aos
poucos vai recuperando os sentidos.
IRMÃ DA MOÇA e o 3.º RAPAZ se aproximam dele. A menina sorri
diabolicamente para ele, enquanto que o 3.º RAPAZ lhe chuta e cospe em sua cara.
Ambos ficam de mãos dadas e saem de cena sem olhar para ninguém, imponentes.
EPÍLOGO
Acalmada a confusão, MOÇA se aproxima do RAPAZ e se ajoelha do seu lado.
Põe a cabeça dele em seu colo, enquanto o BARMAN lhe traz um pano úmido. Ela
começa a limpar o sangue do rosto dele, que se contorce de dor. BARMAN vai
arrumando o estrago feito pelos “penetras”. Depois de tudo arrumado, pega a 3.ª
MOÇA que está “miando”, gargalhando e fazendo caretas num canto e leva-a embora
dali.
A 2.ª MOÇA e o 2.º RAPAZ fazem as pazes e vão para a pista dançar a última
lenta. O 4.º RAPAZ fica no bar observando tudo. A MOÇA leva o RAPAZ até uma
cadeira e faz com que ele sente.
A 2.ª MOÇA e o 2.º RAPAZ param de dançar e saem de cena de mãos dadas,
olhando tristemente para o ambiente.
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O RAPAZ lentamente caminha até a pista, mancando um pouco e estende as
mãos para ela, convidando-a para dançar. O 4.º RAPAZ repete o mesmo gesto, mas A
MOÇA, como uma hipnotizada, caminha em direção do RAPAZ, deixando o outro.
Ele, desolado, ao ver a pessoa amada nos braços de outro homem, vai saindo.
Antes de sair, torna a olhar para eles. Chora muito. Ainda guarda uma esperança e fica
esperando, olhando para eles.
O RAPAZ abraça carinhosamente A MOÇA. Ambos se olham e se entregam
num longo e apaixonado beijo. O 4.º RAPAZ ao ver isso, sai, agora totalmente
desiludido.
De repente, surge na mente da MOÇA tudo o que O RAPAZ aprontou pra ela.
As imagens aparecem numa seqüência fragmentada e não-linear, mas com um grande
significado. Ela corta o beijo. Ambos ficam se fitando, calados. No áudio ouve-se a voz
de ambos.
RAPAZ
(Off.) Eu quero namorar você.
MOÇA
(Off. Depois de uma pausa) Não.
RAPAZ
(Off.) Por quê não? Você sempre foi apaixonada por mim...
MOÇA
(Off.) Pois é. Fui. Não sou mais. Você brincou comigo, zombou dos meus
sentimentos... Não, eu não quero namorar você. Continuaremos amigos, se
você quiser... Agora, namorados... um dia... quem sabe no próximo baile...
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Ambos se abraçam e se olham por um longo tempo. Viram-se de costas para o
público, sobem as escadas e quando chegam no topo dela, se olham novamente e saem
do salão, entrando pela abertura da rotunda.
Saem por lados opostos e a “sombra chinesa” novamente desenha essas figuras,
que seguem seu caminho sem olhar para trás; um de costas para o outro.
Luz desce em resistência. Somente o globo permanece girando, deixando no ar
um clima de melancolia. Black-out.
Luz sobe em resistência e os atores entram para os agradecimentos
completamente felizes. Cativam a platéia, pegam o público para dançar e se
confraternizam numa grande comunhão até deixarem a cena. O pano se fecha.
FIM
OBSERVAÇÃO: O espetáculo não deve ter, em hipótese alguma, coreografias
marcadinhas, pois em um baile de formatura tudo é mais solto e espontâneo e
cada um tem sua forma de dançar.
Março/1997
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