RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva
ARTIGO ORIGINAL
Análise de uma população de doentes
atendidos em unidade de terapia intensiva
- estudo observacional de sete anos (1992 - 1999)
A pr
evalence survey of critically ill patients in an Adult Medical
prevalence
Intensive Car
e Unit - an observational study fr
om 1992 to 1999
Care
from
Sergio AR Paiva1; Olivia Matai2; Nicola O Resende2; Alvaro O Campana3
ABSTRACT
Objective: The aim of this work was to assess length of
stay, morbidity and mortality rate of patients of an intensive
care unit (ICU) in a university hospital. Methods: Data were
collected from the book of medical records of patients admitted to the ICU over a period of seven years, from 1992
to 1999. Results and Conclusions: Patients (968 men and
725 women) were alloted to three groups according to age:
12-20 y, 21-60 y and more than 60 y. The duration of ICU
stay ranged from 2,5 to 5,2 days, according to the age range;
the stay was longer (more than seven days) in around 17%
of patients. The mortality rate was 29,7% for men and 29%
for women; it increased with age, being greater in the older
patients. In the older groups, acute myocardial infarction
and acute respiratory failure were the most frequent diagnoses in both sexes; in men, the third most frequent clinical condition was upper gastrointestinal bleeding and in
women, septic shock. In the younger group, the most frequent diagnoses were acute intoxication in males (mainly
drugs) and diabetic ketoacidosis in females. The frequency
of myocardial infarction was higher in men (19,5% against
13,5% in women). Clinical conditions more strongly associated with death were acute respiratory failure and septic
shock. The mortality rate in the cases of acute myocardial
infarction was significantly higher in women. In women, the
mortality rate was also higher in upper gastrointestinal
bleeding and in acute pulmonary edema; in men, it was
higher in septic shock.
Keywords: Adult intensive care unit, mortality rate, duration of ICU stay, frequency of diagnoses.
Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista - UNESP
1
Prof. Dr. da Disciplina de Clínica Médica Geral
2
Alunos de Medicina
3
Prof. Titular do Departamento de Clínica Médica
Correspondência: Alvaro O Campana – Departamento de Clínica Médica –
Faculdade de Medicina de Botucatu
Rubião Júnior s/n, Botucatu, SP, Brasil – CEP 18618-000 – Fone (0XX )14
68222969, Fax (0XX )14 68222238 – Email [email protected]
Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002
as últimas décadas, os progressos da cirurgia
invasiva e dos procedimentos clínicos,
diagnósticos e terapêuticos, acompanharamse da criação de unidades que contavam com equipe
especializada de médicos, enfermeiros e outros
profissionais, apoiada por equipamentos para
monitorização e intervenções de emergência.
Proliferaram, com o decorrer do tempo, as unidades
de recuperação pós-operatória, de assistência
respiratória, as relacionadas ao choque e ao trauma
e, por fim, as unidades visando ao suporte cardiopulmonar de pacientes clínicos ou cirúrgicos graves.
Estas unidades é que deram origem às modernas
unidades de terapia intensiva (UTI).
As unidades de terapia intensiva ocupam espaço
apropriado e usualmente dispõem de equipamentos
necessários para o desempenho de intervenções
médicas de difícil execução em enfermarias normais.
O atendimento, nesses centros, fica aos cuidados de
equipe permanente de médicos e de pessoal da
enfermagem, além de outros profissionais da saúde.
A equipe deve ter preparo e inclinação para o
atendimento do tipo de doente em questão e,
obviamente, conhecimentos teóricos relacionados à
área específica da terapia intensiva. A experiência
prática, conseqüente ao acompanhamento dos doentes
que passam pela unidade, é também fator importante
do sucesso da UTI, no que concerne à recuperação
dos seus pacientes.
No Hospital das Clínicas de Botucatu, além da UTI
Central, existem, atuantes, centros de terapia intensiva
em diversas enfermarias. Um deles está agregado à
enfermaria de Clínica Médica, implantado em 1992,
devido ao aumento da freqüência de casos graves
nessa enfermaria. Recentemente, considerou-se de
importância proceder à análise dos casos atendidos
pela Unidade desde sua implantação, visando fornecer
N
73
RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva
ARTIGO ORIGINAL
subsídios para o diagnóstico e a terapêutica e,
adicionalmente, para a adaptação da UTI ao atendimento dos problemas médicos mais freqüentes e
importantes.
Levando em conta o referido, realizou-se este
trabalho com o objetivo de analisar o perfil diagnóstico, os dados demográficos e algumas características
da evolução dos pacientes internados no período de
1992 a 1999 na UTI da Enfermaria de Clínica Médica
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
do Campus de Botucatu - UNESP.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
O Hospital das Clínicas de Botucatu é um hospital
geral, universitário, de nível terciário e dispõe de 400
leitos. A UTI agregada ao Departamento de Clínica
Médica tem capacidade para atender quatro pacientes
por vez. Sua clientela é constituída por pacientes
internados na Enfermaria de Clínica Médica que
apresentam, em algum momento da evolução, um
evento clínico que exige atendimento intensivo, bem
como por pacientes com afecções clínicas graves,
provenientes do Pronto Socorro do Hospital das
Clínicas, internados na Clínica Médica. Tais pacientes
são encaminhados para a UTI; estabelecido o
diagnóstico que motivou a admissão na UTI, este é
aposto em livro de registro das internações. Neste
livro, são anotados os dados pessoais dos doentes,
sua evolução, outros diagnósticos e seu tempo de
permanência.
Os dados do presente trabalho foram obtidos a
partir da consulta do livro de registro e relacionamse com as internações ocorridas no período de 09/03/
1992 a 09/07/1999, no total de 1.693 pacientes. Todos
os pacientes internados nesse período foram considerados. Para análise das informações, os doentes foram
agrupados por sexo e faixa etária. Foram consideradas
três faixas: de 12 a 20, 21 a 60 e de mais de 60 anos
de idade. Foi analisado o tempo de permanência dos
pacientes na UTI e calculada a distribuição dos
doentes segundo o tempo de permanência, maior ou
menor que sete dias, de acordo com o sexo e a faixa
etária. Foram analisados os diagnósticos que
motivaram a internação na UTI e a mortalidade
associada aos diagnósticos mais freqüentes. Quanto
à evolução, consideraram-se os pacientes que se
mantiveram vivos (incluídos os que tiveram alta em
boas condições, em condições regulares ou más e os
transferidos para outras unidades) e os que faleceram.
Foi aplicado o teste do quiquadrado ou o teste
exato de Fischer nas comparações entre as proporções
(1); na comparação entre mais de dois grupos
74
independentes, para determinar a diferença entre os
grupos, foi utilizado o teste de Goodman (2,3). O
nível de significância adotado foi de 5%. O pacote
estatístico “MANAP”, desenvolvido pela Unidade de
Processamento de Dados de Rubião Júnior - Campus
de Botucatu, foi utilizado para tratamento dos
resultados.
Os dados foram digitados e trabalhados de acordo
com o programa Excel.
RESULTADOS
No período de estudo, foram internados 1.693
pacientes, sendo 968 (57,2%) do sexo masculino e
725 (42,8%) do sexo feminino. Em cada uma das
faixas etárias, não houve diferença significante entre
sexos quanto ao número e porcentagem dos pacientes
atendidos. Maior freqüência de atendimentos foi
observada nas duas faixas etárias, de 21 a 60 anos e
de mais de 60 anos (Tabela 1).
Tabela 1 - Distribuição dos Pacientes segundo
Sexo e Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA - ANOS
SEXO
n
12 - 20
21 - 60
> 60
Masculino
3,3a∀
49,8a∃
46,9a∃
968
Feminino
5,7a∀
46,1a∃
48,2a∃
725
a - indica diferença não significante entre sexos em cada uma das
faixas etárias.
∀ e ∃ - indicam diferença significante entre faixas etárias em cada um
dos sexos.
O tempo médio de permanência dos pacientes na
UTI variou, de acordo com as faixas etárias, de 2,5 a
5,2 dias; em valores absolutos, este tempo estendeuse de algumas horas a 93 dias. Dezessete por cento
dos homens e 17,9% das mulheres permaneceram
internados por mais de 7 dias. A Tabela 2 contém os
dados e as estatísticas relacionadas com a permanência dos doentes em período maior ou menor que
7 dias. Verificou-se: 1) que o tempo de permanência
não sofreu influência do sexo e da faixa etária; 2)
que o acometimento, em cada sexo, não sofreu
influência da faixa etária e do tempo de permanência;
3) que a faixa etária teve efeito significante sobre a
distribuição dos casos, esta sendo predominante nas
duas faixas de mais idade, nos dois sexos. Observouse, ainda, que menor número de casos manteve-se
internado mais de 7 dias, tanto no sexo masculino
(164 casos), como no sexo feminino (130 casos),
sendo não significante (P = 0,588), nesse grupo, a
Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002
RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva
ARTIGO ORIGINAL
Tabela 2 - Distribuição Porcentual dos Pacientes
Segundo o Tempo de Permanência na UTI,
Levando em Consideração Sexo e Faixa Etária
SEXO
TEMPO
DE PERMANÊNCIA
FAIXA ETÁRIA
- ANOS
12 - 20 21 - 60
aA•
aA•
n*
> 60
Masculino
< 7d
3,2
51,4
45,3aA•
801
Masculino
> 7d
1,8aA•
42,7aA• 55,5aA•
164
Feminino
< 7d
5,3aA•
46,2aA• 48,6aA•
587
Feminino
> 7d
3,1aA•
47,8aA• 49,2aA•
130
a, b - em cada sexo e em cada faixa etária, letras diferentes indicam
diferença significante entre tempos de permanência.
A e B em cada tempo de permanência e em cada faixa etária, letras
diferentes indicam diferença significante entre sexos.
•, • em cada sexo e em cada tempo de permanência, letras diferentes
indicam diferença significante entre cada faixa etária.
* Não foram incluídos, nos grupos, os dados de alguns pacientes em
razão de não se dispor, nesses casos, das datas da alta ou da transferência da UTI.
diferença entre sexos.
Na Tabela 3, estão registrados os dados concernentes à evolução dos pacientes, considerando, de
um lado, os que faleceram na UTI e, de outro, os que
tiveram alta, em bom estado geral ou não, além
daqueles que foram transferidos para outras unidades
do Hospital. Verificou-se: 1) as distribuições entre
vivos e falecidos, na faixa mais jovem, não se
mostraram diferentes nos sexos masculino e feminino;
contudo, na faixa de 21 a 60 anos, a distribuição
indicou maior sobrevivência no sexo masculino e, na
faixa de mais de 60 anos, maior mortalidade em
Tabela 3 - Distribuição Porcentual dos Pacientes
de acordo com a Evolução: Pacientes que
Faleceram e os que Permaneceram Vivos
SEXO
EVOLUÇÃO
FAIXA ETÁRIA
- ANOS
12 - 20 21 - 60
Masculino
óbito
aA•
1,4
aA•
n
> 60
38,9
aA•
59,7aA•
288
bA•
bA•
680
Masculino
vivo
4,1
54,4
41,5
Feminino
óbito
4,3aA•
38,1aA• 57,6aA•
210
Feminino
vivo
6,2aA•
49,4aA• 44,4bA•
514
a,b - em cada sexo e em cada faixa etária, letras diferentes indicam
diferença significante entre porcentagem de óbitos e vivos.
A,B - letras diferentes indicam diferenças entre sexos ao levarem-se
em conta a evolução do caso (óbito ou sobrevida) e a faixa etária.
•,• - letras diferentes indicam diferenças significantes entre cada faixa
etária, levando-se em conta óbito/sobrevida e sexos.
Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002
ambos os sexos; 2) a distribuição dos achados não
trouxe evidências para a influência das outras
variáveis consideradas em relação aos sexos masculino e feminino; 3) aumento da mortalidade
acompanhando o aumento da faixa etária. Em
conjunto, observou-se mortalidade de 29,7% no sexo
masculino e de 29% no sexo feminino, diferença esta
não significante (P = 0,780).
Estão registradas, na Tabela 4, as freqüências das
condições clínicas de maior prevalência na UTI no
período examinado. No sexo masculino, nas duas
faixas de maior idade, destacam-se, com freqüência
decrescente, os diagnósticos: infarto agudo de
miocárdio, insuficiência respiratória aguda, angina
instável, hemorragia digestiva alta e choque séptico;
no sexo feminino, também em ordem decrescente:
infarto agudo do miocárdio, insuficiência respiratória
aguda, choque séptico, angina instável e edema agudo
de pulmão. A ordem das freqüências das condições
clínicas estudadas mostrou-se semelhante, mas não
igual, ao considerar os sexos. Assim, a hemorragia
digestiva alta que, no sexo masculino, foi a quarta
causa mais freqüente de internação, correspondeu à
sétima causa nas mulheres. Na faixa de doentes dos
12 aos 20 anos, a causa mais freqüente de internação,
no sexo masculino, foi a intoxicação exógena e, no
feminino, a cetoacidose diabética. A seguir, estão em
segundo lugar, nos homens, a insuficiência respiratória, a cetoacidose diabética e o choque séptico e,
nas mulheres, a intoxicação exógena e a insuficiência
respiratória.
Nas Tabelas 5, 6, 7 e 8, estão registrados os dados
e as estatísticas relacionadas com o diagnóstico mais
freqüente como causa de internação na UTI (infarto
agudo do miocárdio), as estatísticas relativas a
diagnósticos em que a simples inspeção dos dados
sugeriu existir diferença entre sexos ou faixas etárias
(hemorragia digestiva alta e choque séptico), bem
como os dados que mostram a freqüência elevada da
intoxicação exógena entre os jovens de 12 a 20 anos,
tanto no sexo masculino quanto no feminino.
Verificou-se, na Tabela 5: 1) não ocorrer o diagnóstico
de IAM nas faixas de 12 a 20 anos em ambos os sexos;
2) não haver diferença de porcentagens de pacientes
com ou sem IAM, em ambos os sexos, nas faixas de
21 a 60 e mais de 60 anos; 3) não terem sido
observadas diferenças significantes da freqüência de
casos de IAM+ e IAM- entre os pacientes masculinos
e femininos em todas as faixas etárias; 4) não terem
sido observadas diferenças de freqüência de casos,
nas faixas etárias de 21 a 60 e mais de 60 anos e nos
dois sexos, quanto à presença ou ausência de IAM.
75
RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva
ARTIGO ORIGINAL
Tabela 4 - Condições Clínicas de Maior Prevalência (Diagnósticos Primários) nos Sexos Masculino e
Feminino, nas Três Faixas Etárias - Porcentagens Relacionadas ao Número de Casos em Cada Sexo
DIAGNÓSTICOS
SEXO MASCULINO – ANOS
SEXO FEMININO – ANOS
12 - 20
21 - 60
> 60
12 - 20
21 - 60
> 60
Acidente Vascular Cerebral
0
0
1.8
0
0
0
Angina instável
0
6.2
4.2
0
6.9
6.3
Cetoacidose Diabética
9.4
1.9
0
22
3.6
2.3
Choque cardiogênico
0
0
1.8
0
2.4
0
Choque séptico
9.4
3.1
5.1
2.4
9.9
5.4
Coma hipoglicêmico
0
0.6
0
0
0
4.9
Edema Agudo de Pulmão
0
0
2.9
4.9
6
4.9
Embolia Pulmonar
0
1.5
3.5
0
0
0
Encefalopatia hepática
0
4.4
0.4
0
1.5
0
Endocardite Bacteriana
0
0.8
0
0
0
0
Hemorragia Digestiva Alta
6.3
5.8
2.6
0
3
5.4
Infarto agudo do miocárdio
0
20.1
20.3
0
12.3
16.3
0
2.5
3.3
0
0
2.3
Insuficiência Respiratória Aguda
9.4
10
15.4
14.6
9
12.3
Intoxicação exógena
15.6
2.1
0.2
14.6
1.5
0
Lupus Eritematoso
0
0
0
2.4
3.3
0
Pancreatite aguda
0
0.8
0
0
0
0
Pneumonia
6.3
0
5.5
0
0
3.7
32
482
454
41
334
350
Insuficiência Cardíaca Congestiva
Número de pacientes de cada grupo
Tabela 5 - Distribuição Percentual dos Pacientes
de Acordo com Positividade ou Negatividade do
Diagnóstico Primário de Infarto Agudo do
Miocárdio (IAM)
SEXO DIAGNÓSTICO
IAM
FAIXA ETÁRIA ANOS
12 - 20 21 - 60
Masc
Masc
Fem
Fem
+
+
-
0aA?
bA?
4,1
aA?
0
bA?
6,5
n
> 60
51,3aA• 48,7aA•
49,4
aA•
41,8
aA•
46,7
aA•
189
46,5
aA•
779
58,2
aA•
98
46,7
aA•
627
+ diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem
= feminino.
a,b
em cada sexo e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de pacientes com o diagnóstico
de IAM+ ou -.
A,B em cada grupo de pacientes com diagnóstico de IAM+ ou IAM-, e
em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante
entre os sexos.
•,• em cada sexo e em cada grupo de pacientes com o diagnóstico de
IAM+ ou IAM-, letras diferentes indicam diferença significante entre
cada faixa etária.
76
Em conjunto, observou-se freqüência de IAM de
19,5% no sexo masculino, porcentagem significantemente maior (P = 0,001) que a encontrada no
sexo feminino (13,5%).
Verifica-se na Tabela 6 que, no sexo masculino,
nas três faixas etárias e, no sexo feminino, nas faixas
de 21 a 60 e de mais de 60 anos, a proporção de
doentes não sujeitos à hemorragia digestiva alta não
foi diferente da proporção que a apresentou. Não
houve casos de HDA no grupo do sexo feminino de
12 a 20 anos de idade. Os resultados mostraram,
também, proporção maior de mulheres sofrendo de
HDA, em relação ao sexo masculino, na faixa de mais
de 60 anos. Quanto à idade, a proporção de indivíduos
afetados pla HDA aumentou com a idade, mais
claramente no sexo feminino. Registraram-se
frequências de HDA de 4,3% no sexo masculino e de
4,0% no sexo feminino, diferença esta não significante (P = 0,825).
Quanto aos dados relativos ao choque séptico,
verificou-se (Tabela 7): 1) não haver diferença
Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002
RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva
ARTIGO ORIGINAL
Tabela 6 - Distribuição Percentual dos Pacientes
de acordo com Positividade ou Negatividade
do Diagnóstico Primário de Hemorragia
Digestiva Alta (HDA)
SEXO DIAGNÓSTICO
HDA
FAIXA ETÁRIA ANOS
12 - 20 21 - 60
Masc
Masc
Fem
Fem
+
+
-
aA•
4,8
aA•
3,2
0
aA•
bA•
5,9
66,7
aA•
49,0
aA•
34,5
aA•
46,6
aA•
n
Tabela 8 - Distribuição Percentual de Pacientes
de acordo com Positividade ou Negatividade
do Diagnóstico Primário de Intoxicação
Exógena (IE)
SEXO DIAGNÓSTICO
IE
> 60
28,6
aA•
47,7
aA•
65,5
aB•
47,5
aA•
42
926
29
696
Masc
+
Masc
Fem
+
Fem
-
FAIXA ETÁRIA ANOS
n
12 - 20
21 - 60
> 60
aA••
62,5
aA•
6,3aA•
49,6
aA•
45,5
aA•
46,1
aA•
31,3
aA•
2,8
54,5
aA•
aA•
4,9
47,6
0
16
bA•
952
aA•
bA•
49
11
714
+ diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem
= feminino.
a,b letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem
de pacientes com diagnóstico + e -.
A,B letras diferentes indicam diferença entre sexos.
•,• letras diferentes indicam diferença entre faixas etárias (ver rodapé
da Tabela 5).
+ diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem
= feminino.
a,b letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem
de pacientes com diagnóstico + e -.
A,B letras diferentes indicam diferença entre sexos.
•,• letras diferentes indicam diferença entre faixas etárias (ver rodapé
da Tabela 5).
Tabela 7 - Distribuição Percentual de Pacientes
de acordo com Positividade ou Negatividade do
Diagnóstico Primário de Choque Séptico (CS)
e não comprometidos evidenciadas nos doentes do
sexo feminino de 12 a 20 anos e em mulheres e
homens de mais de 60 anos; neste último grupo, houve
predominância do diagnóstico negativo em homens
e, em mulheres, não ocorreu nenhum caso de
intoxicação exógena; 2) não foram detectadas
diferenças quanto à distribuição entre sexos; 3)
diferenças de acordo com a idade, sendo a prevalência
muito baixa nos homens de mais de 60 anos e não
tendo sido encontrado nenhum caso entre as mulheres
dessa idade. Registraram-se freqüências de intoxicação exógena de 1,7% no sexo masculino e de
SEXO DIAGNÓSTICO
CS
FAIXA ETÁRIA ANOS
12 - 20 21 - 60
Masc
+
aA•
7,3
aA•
n
> 60
36,6
aA•
56,1aA•
aA•
aA•
46,5
41
Masc
-
3,1
50,4
927
Fem
+
1,9aA•
62,3aA• 35,8aA•
53
Fem
-
6,0aA•
44,8aA• 49,2aA•
672
+ diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem
= feminino.
a,b letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem
de pacientes com diagnóstico + e -.
A,B letras diferentes indicam diferença entre sexos.
•,• letras diferentes indicam diferença entre faixas etárias (ver rodapé
da Tabela 5).
significante da freqüência entre os afetados e os não
afetados pelo choque séptico em todas as faixas
etárias, tanto no sexo masculino quanto no feminino;
2) não haver diferença das freqüências ao comparar
sexos, considerando afetados ou não afetados pelo
choque, em cada faixa etária; 3) em ambos os sexos,
o choque séptico foi mais freqüente nas duas faixas
etárias de maior idade. Registraram-se freqüências
de choque séptico de 4,2% no sexo masculino e de
7,3% feminino, diferença esta estatisticamente
significante (P = 0,008).
Quanto à intoxicação exógena, verificou-se
(Tabela 8): 1) diferenças entre grupos comprometidos
Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002
Tabela 9 - Evolução para Óbito Considerando
os Principais Diagnósticos dos Pacientes
Admitidos na UTI - Idade: 21-60 e > 60 Anos
DIAGNÓSTICO
SEXO
SEXO
MASCULINO FEMININO VALOR
DE P
% (Nº DE
% (Nº DE
CASOS)
CASOS)
Infarto Agudo
do Miocárdio
7,4 (189)
16,3 (98)
0.032
Insuficiência
Respiratória Aguda
43,0 (121)
38,0 (79)
0.578
Hemorragia
Digestiva Alta
19,0 (42)
44,8 (29)
0.038
Choque Séptico
73,2 (41)
47,2 (53)
0.02
Edema Agudo
de Pulmão
0 (13)
28,2 (39)
1
77
ARTIGO ORIGINAL
1,5% no sexo feminino; a diferença de porcentagem entre os sexos
não foi significante (P = 0,981).
Procurou-se, também, verificar
a porcentagem dos afetados que
evoluiu para óbito em cada uma
das principais causas de internação na UTI. Esses dados estão
registrados na Tabela 9; os dados
de cada sexo foram considerados
separadamente. A porcentagem de
mortalidade foi alta nos casos de
insuficiência respiratória aguda,
não tendo havido diferença entre
homens e mulheres. A letalidade
foi também alta nos casos de
choque séptico; neste caso, a
mortalidade, entre os homens, foi
significantemente maior. Verificou-se que porcentagem significantemente maior de mulheres
com infarto do miocárdio evoluiu
para óbito, o mesmo ocorrendo
nos casos de hemorragia digestiva
alta. Nos casos de edema agudo de
pulmão, o óbito ocorreu apenas
entre as mulheres.
Quanto aos indivíduos de 12 a
20 anos de idade, evoluíram para
óbito 1 de 3 pacientes do sexo
masculino com choque séptico e,
no caso do sexo feminino, 2 de 6
pacientes com intoxicação exógena e 3 de 6, com insuficiência
respiratória aguda.
DISCUSSÃO
Os resultados do presente trabalho
mostram que a clientela atendida
pela UTI da Clínica Médica incluiu doentes desde os 12 anos até
a faixa de mais de 60 anos (Tabela
1). O grupo de doentes de 12 a 20
anos foi o menos numeroso, representando perto de 5% do total dos
casos; por outro lado, 40% dos
doentes atendidos tinham mais
que 60 anos de idade. Porcentagens elevadas de atendimento de
pacientes com idade acima de 50
anos têm sido relatadas em publicações relacionadas com UTI.
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RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva
Hernández et al. (4) verificaram,
em 513 pacientes de hospital
geral, em Cuba, que o grupo etário
mais afetado era o de 60 a 74 anos.
Medeiros et al (5), por sua vez,
mencionam que 33,7% de 1320
internações em UTI geral de
hospital, no Rio de Janeiro, tinham
mais de 60 anos e Souza et al (6)
referem média de idade acima de
50 anos para um grupo de 316
pacientes atendidos em UTI, em
período de seis meses.
É habitual que o tempo de
internação em UTI seja curto,
sendo citadas, na literatura, permanências de duração de 1 dia e
de 2 a 4 dias; contudo, há internações de 5 a 10 dias (6). São
referidas médias ou medianas de
permanência de 3 (com intervalo
interquartil de 1,8 e 5 dias) (7) de
3,8 (5,8), de 3,13 e de 5,74 dias
(9). A permanência na UTI depende de vários fatores, como, por
exemplo, a natureza da doença
básica e as exigências terapêuticas
decorrentes das complicações;
assim, em doentes submetidos à
cirurgia cardíaca, Kolh et al. (10)
relataram um período médio de
permanência de 16,8 dias, e, em
pancreatite aguda grave, foi referida por Appelros et al (11) permanência média de 18,9 dias,
numa faixa de 1 a 320 dias. Nossa
média de permanência variou de
2,5 a 5,2 dias; em nosso trabalho,
separamos os casos de acordo com
sua permanência nos leitos da
UTI; verificamos que 17% dos
homens e 17,9% das mulheres
permaneceram internados por
mais de sete dias, os restantes
pacientes tendo sido atendidos por
períodos menores que sete dias
(Tabela 2).
Dados da literatura apontam
ligeiro predomínio do sexo masculino entre os pacientes de UTI
(5,6). Hernández et al. (4) referem,
também, o sexo masculino como
o mais afetado, desde que não
sejam consideradas a cetoacidose
diabética e a asma brônquica.
Nossa casuística incluiu, de fato,
maior número de homens (968)
que mulheres (724) (Tabela 1).
Contudo, a análise estatística não
mostrou existir diferença significante entre sexos, em cada uma
das três faixas etárias.
A mortalidade, em nosso trabalho foi 29,7% no sexo masculino e 29% no sexo feminino.
Em alguns estudos, os valores
referidos foram menores que os de
nossa casuística. Assim, em unidade de cuidados intensivos incluindo casos clínicos, pacientes
em pós-operatório e após traumatismo, Hernández et al. referiram mortalidade de 16,9% e,
em unidade de terapia semiintensiva de pós-operatório (4),
Rocco & Japiassú observaram
taxa de mortalidade de 23% (9).
Em unidade de terapia intensiva
para atendimento de afecções
clínicas e de natureza cirúrgica,
um estudo prospectivo de 93
pacientes mostrou taxa de mortalidade de 20,4% (7). Entretanto,
porcentagens de mortalidade semelhantes à nossa foram observadas no Centro de Tratamento
Intensivo do Hopital Universitário
Clementino Fraga Filho (25,8%,
segundo Rocco & Japiassú (9)) e
em UTI Geral para atendimento de
pacientes predominantemente em
pós-operatório (27,65%, de acordo com Medeiros et al. (5)). Gut
et al. referiram mortalidade de
26,4% em 576 doentes admitidos
na UTI Central de Adultos do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, no
período de 1994 a 1997 (12); essa
unidade atende doentes provenientes do Pronto Socorro, do
Centro Cirúrgico e das enfermarias cirúrgicas.
Em nossa casuística, a morta-
Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002
RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva
lidade foi menor na faixa mais
jovem dos pacientes, aumentou
com a idade e foi maior na faixa
de mais de 60 anos, onde, em
ambos os sexos, a freqüência de
óbitos foi maior que a dos que
permaneceram vivos (Tabela 3).
O infarto agudo do miocárdio
constituiu a causa principal de
internação na UTI, com exceção
do grupo etário jovem, no qual
este diagnóstico não foi registrado
(Tabelas 4 e 5). Ao considerar cada
faixa etária, não houve diferença
da freqüência de infarto entre
sexos (Tabela 5); contudo, globalmente, a freqüência foi maior
no sexo masculino (19,5% no sexo
masculino e 13,5% no sexo feminino, P = 0,001).
Diagnósticos mais freqüentes,
em nossa casuística, além do
infarto agudo do miocárdio, foram, acima dos 21 anos de idade,
a insuficiência respiratória aguda,
a angina instável, o choque séptico
e a hemorragia digestiva alta
(Tabelas 4, 6 e 7) e, na faixa de 12
a 20 anos, a cetoacidose diabética,
a intoxicação exógena e a insuficiência respiratória aguda (Tabelas 4 e 8). Na casuística, destaca-se a hemorragia digestiva
alta, ausente apenas na faixa mais
jovem, no sexo feminino (Tabelas
4 e 6). A cetoacidose foi diagnosticada, em mulheres, em todas
as faixas etárias e somente nos
homens não o foi na faixa de mais
de 60 anos de idade (Tabela 4).
Chama, ainda, a atenção a porcentagem alta de casos de intoxicação exógena, principalmente
associada a drogas, na faixa etária
de 12 a 20 anos de idade, tanto no
sexo masculino, como no feminino. Entretanto, o número de
casos de intoxicação diminuiu na
faixa acima de 60 anos, não tendo
sido registrado nenhum caso entre
as mulheres dessa idade (Tabelas
4 e 8).
O infarto agudo do miocárdio
foi também apontado por
Hernández et al. como causa
principal da admissão em unidade
de cuidados intensivos; em seqüência, são citadas a intoxicação
exógena aguda, a angina aguda
instável, a cetoacidose diabética e
o pós-operatório de grandes cirurgias (4). A presença desses
diagnósticos, na lista de
Hernández et al., mostra pontos de
contacto de sua casuística com o
grupo estudado em Botucatu.
Deve-se considerar a eventualidade da existência de alguma
discrepância entre os diagnósticos
de admissão e os estabelecidos de
acordo com critérios mais apurados. Entretanto, este aspecto já
tem sido mencionado na literatura
(13,14,15). De fato, em nosso
meio, a comparação de diagnósticos clínicos com os fornecidos
pela necrópsia, mostrou correspondência de diagnósticos em
67% dos casos (12). Desta maneira, deve-se contar com eventualidade da existência de algum
tipo de erro diagnóstico no presente estudo.
Na Tabela 9, foi apresentada a
evolução para óbito, considerando
os principais diagnósticos dos
pacientes admitidos na UTI. A
insuficiência respiratória aguda e
o choque séptico foram as condições clínicas em que se registraram as mais altas porcentagens
de evolução dos casos para óbito.
Quanto ao infarto agudo do miocárdio, a mortalidade, no caso de
homens, foi de 7,4% e, de mulheres, 16,3%, diferença estatisticamente significante. Valores de
mortalidade mais altos foram
observados na publicação de
Hernández et al (49%) (4), referente a doentes acompanhados em
unidade de terapia intensiva, e de
Zornoff et al. (22%) (16), relativa
a pacientes admitidos em Centro
Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002
ARTIGO ORIGINAL
de Terapia Intensiva do Hospital
das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Botucatu e acompanhados durante 30 dias. Entretanto, nossos dados são bem
próximos daqueles referidos por
Pimenta et al. em estudo
envolvendo 600 pacientes com
diagnóstico de infarto agudo de
miocárdio, atendidos em hospital
privado de atendimento emergencial primário e em hospital
universitário terciário, na cidade
do Rio de Janeiro (17). Na casuística de Pimenta et al., a
mortalidade no sexo masculino foi
de 9,9% e, no sexo feminino, 23%,
sendo esses valores significantemente diferentes.
Nossos dados indicam, também, existir uma diferença entre
homens e mulheres no que concerne à evolução para óbito em
casos de hemorragia digestiva
alta, edema agudo de pulmão e
choque séptico. No caso das duas
primeiras condições, o grupo mais
afetado foi o das mulheres e, na
última, os homens.
Agradecimentos: Aos membros
da Disciplina de Clínica Médica
Geral, ao Prof. Dr Carlos Roberto
Padovani e a Sra Ana Maria
Mengue pela colaboração prestada.
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi
analisar o perfil diagnóstico, os
dados demográficos e algumas
características da evolução de
pacientes internados em unidade
de terapia intensiva, no período de
1992 a 1999. Casuística e
Métodos: Os dados foram obtidos
a partir da consulta do livro de
registro clínico da unidade; os
doentes foram agrupados por sexo
e faixa etária; foram consideradas
três faixas: de 12 a 20, de 21 a 60
e de mais de 60 anos de idade.
Resultados e Conclusões: A
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RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva
ARTIGO ORIGINAL
casuística incluiu 968 pacientes
masculinos e 725, femininos;
46,9% dos homens e 48,2% das
mulheres tinham mais de 60 anos
de idade. 17% dos homens e
17,9% das mulheres permaneceram internados por mais de sete
dias. A mortalidade foi de 29,7%
nos homens e de 29%, nas mulheres; houve aumento da mortalidade, acompanhando o aumento da faixa etária: a freqüência de
óbitos foi maior na faixa de mais
de 60 anos, em ambos os sexos.
Os diagnósticos mais freqüentes,
acima dos 21 anos, foram o infarto
agudo do miocárdio e a insuficiência respiratória aguda. Na
faixa etária mais jovem, os diagnósticos mais freqüentes foram a
intoxicação exógena (homens) e a
cetoacidose diabética (mulheres).
O infarto agudo do miocárdio foi
o diagnóstico mais freqüente nos
pacientes adultos, nos dois sexos.
A freqüência de infarto foi significantemente maior nos homens,
entretanto, a freqüência de mortalidade foi maior nas mulheres. A
insuficiência respiratória aguda e
o choque séptico foram as condições que apresentaram mais altas
porcentagens de evolução para
óbito.
Palavras chave: UTI, taxa de
mortalidade, permanência, freqüência de diagnósticos
80
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Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002
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Análise de uma população de doentes atendidos em