RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Análise de uma população de doentes atendidos em unidade de terapia intensiva - estudo observacional de sete anos (1992 - 1999) A pr evalence survey of critically ill patients in an Adult Medical prevalence Intensive Car e Unit - an observational study fr om 1992 to 1999 Care from Sergio AR Paiva1; Olivia Matai2; Nicola O Resende2; Alvaro O Campana3 ABSTRACT Objective: The aim of this work was to assess length of stay, morbidity and mortality rate of patients of an intensive care unit (ICU) in a university hospital. Methods: Data were collected from the book of medical records of patients admitted to the ICU over a period of seven years, from 1992 to 1999. Results and Conclusions: Patients (968 men and 725 women) were alloted to three groups according to age: 12-20 y, 21-60 y and more than 60 y. The duration of ICU stay ranged from 2,5 to 5,2 days, according to the age range; the stay was longer (more than seven days) in around 17% of patients. The mortality rate was 29,7% for men and 29% for women; it increased with age, being greater in the older patients. In the older groups, acute myocardial infarction and acute respiratory failure were the most frequent diagnoses in both sexes; in men, the third most frequent clinical condition was upper gastrointestinal bleeding and in women, septic shock. In the younger group, the most frequent diagnoses were acute intoxication in males (mainly drugs) and diabetic ketoacidosis in females. The frequency of myocardial infarction was higher in men (19,5% against 13,5% in women). Clinical conditions more strongly associated with death were acute respiratory failure and septic shock. The mortality rate in the cases of acute myocardial infarction was significantly higher in women. In women, the mortality rate was also higher in upper gastrointestinal bleeding and in acute pulmonary edema; in men, it was higher in septic shock. Keywords: Adult intensive care unit, mortality rate, duration of ICU stay, frequency of diagnoses. Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista - UNESP 1 Prof. Dr. da Disciplina de Clínica Médica Geral 2 Alunos de Medicina 3 Prof. Titular do Departamento de Clínica Médica Correspondência: Alvaro O Campana – Departamento de Clínica Médica – Faculdade de Medicina de Botucatu Rubião Júnior s/n, Botucatu, SP, Brasil – CEP 18618-000 – Fone (0XX )14 68222969, Fax (0XX )14 68222238 – Email [email protected] Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 as últimas décadas, os progressos da cirurgia invasiva e dos procedimentos clínicos, diagnósticos e terapêuticos, acompanharamse da criação de unidades que contavam com equipe especializada de médicos, enfermeiros e outros profissionais, apoiada por equipamentos para monitorização e intervenções de emergência. Proliferaram, com o decorrer do tempo, as unidades de recuperação pós-operatória, de assistência respiratória, as relacionadas ao choque e ao trauma e, por fim, as unidades visando ao suporte cardiopulmonar de pacientes clínicos ou cirúrgicos graves. Estas unidades é que deram origem às modernas unidades de terapia intensiva (UTI). As unidades de terapia intensiva ocupam espaço apropriado e usualmente dispõem de equipamentos necessários para o desempenho de intervenções médicas de difícil execução em enfermarias normais. O atendimento, nesses centros, fica aos cuidados de equipe permanente de médicos e de pessoal da enfermagem, além de outros profissionais da saúde. A equipe deve ter preparo e inclinação para o atendimento do tipo de doente em questão e, obviamente, conhecimentos teóricos relacionados à área específica da terapia intensiva. A experiência prática, conseqüente ao acompanhamento dos doentes que passam pela unidade, é também fator importante do sucesso da UTI, no que concerne à recuperação dos seus pacientes. No Hospital das Clínicas de Botucatu, além da UTI Central, existem, atuantes, centros de terapia intensiva em diversas enfermarias. Um deles está agregado à enfermaria de Clínica Médica, implantado em 1992, devido ao aumento da freqüência de casos graves nessa enfermaria. Recentemente, considerou-se de importância proceder à análise dos casos atendidos pela Unidade desde sua implantação, visando fornecer N 73 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL subsídios para o diagnóstico e a terapêutica e, adicionalmente, para a adaptação da UTI ao atendimento dos problemas médicos mais freqüentes e importantes. Levando em conta o referido, realizou-se este trabalho com o objetivo de analisar o perfil diagnóstico, os dados demográficos e algumas características da evolução dos pacientes internados no período de 1992 a 1999 na UTI da Enfermaria de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina do Campus de Botucatu - UNESP. CASUÍSTICA E MÉTODOS O Hospital das Clínicas de Botucatu é um hospital geral, universitário, de nível terciário e dispõe de 400 leitos. A UTI agregada ao Departamento de Clínica Médica tem capacidade para atender quatro pacientes por vez. Sua clientela é constituída por pacientes internados na Enfermaria de Clínica Médica que apresentam, em algum momento da evolução, um evento clínico que exige atendimento intensivo, bem como por pacientes com afecções clínicas graves, provenientes do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, internados na Clínica Médica. Tais pacientes são encaminhados para a UTI; estabelecido o diagnóstico que motivou a admissão na UTI, este é aposto em livro de registro das internações. Neste livro, são anotados os dados pessoais dos doentes, sua evolução, outros diagnósticos e seu tempo de permanência. Os dados do presente trabalho foram obtidos a partir da consulta do livro de registro e relacionamse com as internações ocorridas no período de 09/03/ 1992 a 09/07/1999, no total de 1.693 pacientes. Todos os pacientes internados nesse período foram considerados. Para análise das informações, os doentes foram agrupados por sexo e faixa etária. Foram consideradas três faixas: de 12 a 20, 21 a 60 e de mais de 60 anos de idade. Foi analisado o tempo de permanência dos pacientes na UTI e calculada a distribuição dos doentes segundo o tempo de permanência, maior ou menor que sete dias, de acordo com o sexo e a faixa etária. Foram analisados os diagnósticos que motivaram a internação na UTI e a mortalidade associada aos diagnósticos mais freqüentes. Quanto à evolução, consideraram-se os pacientes que se mantiveram vivos (incluídos os que tiveram alta em boas condições, em condições regulares ou más e os transferidos para outras unidades) e os que faleceram. Foi aplicado o teste do quiquadrado ou o teste exato de Fischer nas comparações entre as proporções (1); na comparação entre mais de dois grupos 74 independentes, para determinar a diferença entre os grupos, foi utilizado o teste de Goodman (2,3). O nível de significância adotado foi de 5%. O pacote estatístico “MANAP”, desenvolvido pela Unidade de Processamento de Dados de Rubião Júnior - Campus de Botucatu, foi utilizado para tratamento dos resultados. Os dados foram digitados e trabalhados de acordo com o programa Excel. RESULTADOS No período de estudo, foram internados 1.693 pacientes, sendo 968 (57,2%) do sexo masculino e 725 (42,8%) do sexo feminino. Em cada uma das faixas etárias, não houve diferença significante entre sexos quanto ao número e porcentagem dos pacientes atendidos. Maior freqüência de atendimentos foi observada nas duas faixas etárias, de 21 a 60 anos e de mais de 60 anos (Tabela 1). Tabela 1 - Distribuição dos Pacientes segundo Sexo e Faixa Etária FAIXA ETÁRIA - ANOS SEXO n 12 - 20 21 - 60 > 60 Masculino 3,3a∀ 49,8a∃ 46,9a∃ 968 Feminino 5,7a∀ 46,1a∃ 48,2a∃ 725 a - indica diferença não significante entre sexos em cada uma das faixas etárias. ∀ e ∃ - indicam diferença significante entre faixas etárias em cada um dos sexos. O tempo médio de permanência dos pacientes na UTI variou, de acordo com as faixas etárias, de 2,5 a 5,2 dias; em valores absolutos, este tempo estendeuse de algumas horas a 93 dias. Dezessete por cento dos homens e 17,9% das mulheres permaneceram internados por mais de 7 dias. A Tabela 2 contém os dados e as estatísticas relacionadas com a permanência dos doentes em período maior ou menor que 7 dias. Verificou-se: 1) que o tempo de permanência não sofreu influência do sexo e da faixa etária; 2) que o acometimento, em cada sexo, não sofreu influência da faixa etária e do tempo de permanência; 3) que a faixa etária teve efeito significante sobre a distribuição dos casos, esta sendo predominante nas duas faixas de mais idade, nos dois sexos. Observouse, ainda, que menor número de casos manteve-se internado mais de 7 dias, tanto no sexo masculino (164 casos), como no sexo feminino (130 casos), sendo não significante (P = 0,588), nesse grupo, a Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Tabela 2 - Distribuição Porcentual dos Pacientes Segundo o Tempo de Permanência na UTI, Levando em Consideração Sexo e Faixa Etária SEXO TEMPO DE PERMANÊNCIA FAIXA ETÁRIA - ANOS 12 - 20 21 - 60 aA• aA• n* > 60 Masculino < 7d 3,2 51,4 45,3aA• 801 Masculino > 7d 1,8aA• 42,7aA• 55,5aA• 164 Feminino < 7d 5,3aA• 46,2aA• 48,6aA• 587 Feminino > 7d 3,1aA• 47,8aA• 49,2aA• 130 a, b - em cada sexo e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre tempos de permanência. A e B em cada tempo de permanência e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre sexos. •, • em cada sexo e em cada tempo de permanência, letras diferentes indicam diferença significante entre cada faixa etária. * Não foram incluídos, nos grupos, os dados de alguns pacientes em razão de não se dispor, nesses casos, das datas da alta ou da transferência da UTI. diferença entre sexos. Na Tabela 3, estão registrados os dados concernentes à evolução dos pacientes, considerando, de um lado, os que faleceram na UTI e, de outro, os que tiveram alta, em bom estado geral ou não, além daqueles que foram transferidos para outras unidades do Hospital. Verificou-se: 1) as distribuições entre vivos e falecidos, na faixa mais jovem, não se mostraram diferentes nos sexos masculino e feminino; contudo, na faixa de 21 a 60 anos, a distribuição indicou maior sobrevivência no sexo masculino e, na faixa de mais de 60 anos, maior mortalidade em Tabela 3 - Distribuição Porcentual dos Pacientes de acordo com a Evolução: Pacientes que Faleceram e os que Permaneceram Vivos SEXO EVOLUÇÃO FAIXA ETÁRIA - ANOS 12 - 20 21 - 60 Masculino óbito aA• 1,4 aA• n > 60 38,9 aA• 59,7aA• 288 bA• bA• 680 Masculino vivo 4,1 54,4 41,5 Feminino óbito 4,3aA• 38,1aA• 57,6aA• 210 Feminino vivo 6,2aA• 49,4aA• 44,4bA• 514 a,b - em cada sexo e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de óbitos e vivos. A,B - letras diferentes indicam diferenças entre sexos ao levarem-se em conta a evolução do caso (óbito ou sobrevida) e a faixa etária. •,• - letras diferentes indicam diferenças significantes entre cada faixa etária, levando-se em conta óbito/sobrevida e sexos. Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 ambos os sexos; 2) a distribuição dos achados não trouxe evidências para a influência das outras variáveis consideradas em relação aos sexos masculino e feminino; 3) aumento da mortalidade acompanhando o aumento da faixa etária. Em conjunto, observou-se mortalidade de 29,7% no sexo masculino e de 29% no sexo feminino, diferença esta não significante (P = 0,780). Estão registradas, na Tabela 4, as freqüências das condições clínicas de maior prevalência na UTI no período examinado. No sexo masculino, nas duas faixas de maior idade, destacam-se, com freqüência decrescente, os diagnósticos: infarto agudo de miocárdio, insuficiência respiratória aguda, angina instável, hemorragia digestiva alta e choque séptico; no sexo feminino, também em ordem decrescente: infarto agudo do miocárdio, insuficiência respiratória aguda, choque séptico, angina instável e edema agudo de pulmão. A ordem das freqüências das condições clínicas estudadas mostrou-se semelhante, mas não igual, ao considerar os sexos. Assim, a hemorragia digestiva alta que, no sexo masculino, foi a quarta causa mais freqüente de internação, correspondeu à sétima causa nas mulheres. Na faixa de doentes dos 12 aos 20 anos, a causa mais freqüente de internação, no sexo masculino, foi a intoxicação exógena e, no feminino, a cetoacidose diabética. A seguir, estão em segundo lugar, nos homens, a insuficiência respiratória, a cetoacidose diabética e o choque séptico e, nas mulheres, a intoxicação exógena e a insuficiência respiratória. Nas Tabelas 5, 6, 7 e 8, estão registrados os dados e as estatísticas relacionadas com o diagnóstico mais freqüente como causa de internação na UTI (infarto agudo do miocárdio), as estatísticas relativas a diagnósticos em que a simples inspeção dos dados sugeriu existir diferença entre sexos ou faixas etárias (hemorragia digestiva alta e choque séptico), bem como os dados que mostram a freqüência elevada da intoxicação exógena entre os jovens de 12 a 20 anos, tanto no sexo masculino quanto no feminino. Verificou-se, na Tabela 5: 1) não ocorrer o diagnóstico de IAM nas faixas de 12 a 20 anos em ambos os sexos; 2) não haver diferença de porcentagens de pacientes com ou sem IAM, em ambos os sexos, nas faixas de 21 a 60 e mais de 60 anos; 3) não terem sido observadas diferenças significantes da freqüência de casos de IAM+ e IAM- entre os pacientes masculinos e femininos em todas as faixas etárias; 4) não terem sido observadas diferenças de freqüência de casos, nas faixas etárias de 21 a 60 e mais de 60 anos e nos dois sexos, quanto à presença ou ausência de IAM. 75 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Tabela 4 - Condições Clínicas de Maior Prevalência (Diagnósticos Primários) nos Sexos Masculino e Feminino, nas Três Faixas Etárias - Porcentagens Relacionadas ao Número de Casos em Cada Sexo DIAGNÓSTICOS SEXO MASCULINO – ANOS SEXO FEMININO – ANOS 12 - 20 21 - 60 > 60 12 - 20 21 - 60 > 60 Acidente Vascular Cerebral 0 0 1.8 0 0 0 Angina instável 0 6.2 4.2 0 6.9 6.3 Cetoacidose Diabética 9.4 1.9 0 22 3.6 2.3 Choque cardiogênico 0 0 1.8 0 2.4 0 Choque séptico 9.4 3.1 5.1 2.4 9.9 5.4 Coma hipoglicêmico 0 0.6 0 0 0 4.9 Edema Agudo de Pulmão 0 0 2.9 4.9 6 4.9 Embolia Pulmonar 0 1.5 3.5 0 0 0 Encefalopatia hepática 0 4.4 0.4 0 1.5 0 Endocardite Bacteriana 0 0.8 0 0 0 0 Hemorragia Digestiva Alta 6.3 5.8 2.6 0 3 5.4 Infarto agudo do miocárdio 0 20.1 20.3 0 12.3 16.3 0 2.5 3.3 0 0 2.3 Insuficiência Respiratória Aguda 9.4 10 15.4 14.6 9 12.3 Intoxicação exógena 15.6 2.1 0.2 14.6 1.5 0 Lupus Eritematoso 0 0 0 2.4 3.3 0 Pancreatite aguda 0 0.8 0 0 0 0 Pneumonia 6.3 0 5.5 0 0 3.7 32 482 454 41 334 350 Insuficiência Cardíaca Congestiva Número de pacientes de cada grupo Tabela 5 - Distribuição Percentual dos Pacientes de Acordo com Positividade ou Negatividade do Diagnóstico Primário de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) SEXO DIAGNÓSTICO IAM FAIXA ETÁRIA ANOS 12 - 20 21 - 60 Masc Masc Fem Fem + + - 0aA? bA? 4,1 aA? 0 bA? 6,5 n > 60 51,3aA• 48,7aA• 49,4 aA• 41,8 aA• 46,7 aA• 189 46,5 aA• 779 58,2 aA• 98 46,7 aA• 627 + diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem = feminino. a,b em cada sexo e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de pacientes com o diagnóstico de IAM+ ou -. A,B em cada grupo de pacientes com diagnóstico de IAM+ ou IAM-, e em cada faixa etária, letras diferentes indicam diferença significante entre os sexos. •,• em cada sexo e em cada grupo de pacientes com o diagnóstico de IAM+ ou IAM-, letras diferentes indicam diferença significante entre cada faixa etária. 76 Em conjunto, observou-se freqüência de IAM de 19,5% no sexo masculino, porcentagem significantemente maior (P = 0,001) que a encontrada no sexo feminino (13,5%). Verifica-se na Tabela 6 que, no sexo masculino, nas três faixas etárias e, no sexo feminino, nas faixas de 21 a 60 e de mais de 60 anos, a proporção de doentes não sujeitos à hemorragia digestiva alta não foi diferente da proporção que a apresentou. Não houve casos de HDA no grupo do sexo feminino de 12 a 20 anos de idade. Os resultados mostraram, também, proporção maior de mulheres sofrendo de HDA, em relação ao sexo masculino, na faixa de mais de 60 anos. Quanto à idade, a proporção de indivíduos afetados pla HDA aumentou com a idade, mais claramente no sexo feminino. Registraram-se frequências de HDA de 4,3% no sexo masculino e de 4,0% no sexo feminino, diferença esta não significante (P = 0,825). Quanto aos dados relativos ao choque séptico, verificou-se (Tabela 7): 1) não haver diferença Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL Tabela 6 - Distribuição Percentual dos Pacientes de acordo com Positividade ou Negatividade do Diagnóstico Primário de Hemorragia Digestiva Alta (HDA) SEXO DIAGNÓSTICO HDA FAIXA ETÁRIA ANOS 12 - 20 21 - 60 Masc Masc Fem Fem + + - aA• 4,8 aA• 3,2 0 aA• bA• 5,9 66,7 aA• 49,0 aA• 34,5 aA• 46,6 aA• n Tabela 8 - Distribuição Percentual de Pacientes de acordo com Positividade ou Negatividade do Diagnóstico Primário de Intoxicação Exógena (IE) SEXO DIAGNÓSTICO IE > 60 28,6 aA• 47,7 aA• 65,5 aB• 47,5 aA• 42 926 29 696 Masc + Masc Fem + Fem - FAIXA ETÁRIA ANOS n 12 - 20 21 - 60 > 60 aA•• 62,5 aA• 6,3aA• 49,6 aA• 45,5 aA• 46,1 aA• 31,3 aA• 2,8 54,5 aA• aA• 4,9 47,6 0 16 bA• 952 aA• bA• 49 11 714 + diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem = feminino. a,b letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de pacientes com diagnóstico + e -. A,B letras diferentes indicam diferença entre sexos. •,• letras diferentes indicam diferença entre faixas etárias (ver rodapé da Tabela 5). + diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem = feminino. a,b letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de pacientes com diagnóstico + e -. A,B letras diferentes indicam diferença entre sexos. •,• letras diferentes indicam diferença entre faixas etárias (ver rodapé da Tabela 5). Tabela 7 - Distribuição Percentual de Pacientes de acordo com Positividade ou Negatividade do Diagnóstico Primário de Choque Séptico (CS) e não comprometidos evidenciadas nos doentes do sexo feminino de 12 a 20 anos e em mulheres e homens de mais de 60 anos; neste último grupo, houve predominância do diagnóstico negativo em homens e, em mulheres, não ocorreu nenhum caso de intoxicação exógena; 2) não foram detectadas diferenças quanto à distribuição entre sexos; 3) diferenças de acordo com a idade, sendo a prevalência muito baixa nos homens de mais de 60 anos e não tendo sido encontrado nenhum caso entre as mulheres dessa idade. Registraram-se freqüências de intoxicação exógena de 1,7% no sexo masculino e de SEXO DIAGNÓSTICO CS FAIXA ETÁRIA ANOS 12 - 20 21 - 60 Masc + aA• 7,3 aA• n > 60 36,6 aA• 56,1aA• aA• aA• 46,5 41 Masc - 3,1 50,4 927 Fem + 1,9aA• 62,3aA• 35,8aA• 53 Fem - 6,0aA• 44,8aA• 49,2aA• 672 + diagnóstico presente; - diagnóstico ausente; Masc = masculino, Fem = feminino. a,b letras diferentes indicam diferença significante entre porcentagem de pacientes com diagnóstico + e -. A,B letras diferentes indicam diferença entre sexos. •,• letras diferentes indicam diferença entre faixas etárias (ver rodapé da Tabela 5). significante da freqüência entre os afetados e os não afetados pelo choque séptico em todas as faixas etárias, tanto no sexo masculino quanto no feminino; 2) não haver diferença das freqüências ao comparar sexos, considerando afetados ou não afetados pelo choque, em cada faixa etária; 3) em ambos os sexos, o choque séptico foi mais freqüente nas duas faixas etárias de maior idade. Registraram-se freqüências de choque séptico de 4,2% no sexo masculino e de 7,3% feminino, diferença esta estatisticamente significante (P = 0,008). Quanto à intoxicação exógena, verificou-se (Tabela 8): 1) diferenças entre grupos comprometidos Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 Tabela 9 - Evolução para Óbito Considerando os Principais Diagnósticos dos Pacientes Admitidos na UTI - Idade: 21-60 e > 60 Anos DIAGNÓSTICO SEXO SEXO MASCULINO FEMININO VALOR DE P % (Nº DE % (Nº DE CASOS) CASOS) Infarto Agudo do Miocárdio 7,4 (189) 16,3 (98) 0.032 Insuficiência Respiratória Aguda 43,0 (121) 38,0 (79) 0.578 Hemorragia Digestiva Alta 19,0 (42) 44,8 (29) 0.038 Choque Séptico 73,2 (41) 47,2 (53) 0.02 Edema Agudo de Pulmão 0 (13) 28,2 (39) 1 77 ARTIGO ORIGINAL 1,5% no sexo feminino; a diferença de porcentagem entre os sexos não foi significante (P = 0,981). Procurou-se, também, verificar a porcentagem dos afetados que evoluiu para óbito em cada uma das principais causas de internação na UTI. Esses dados estão registrados na Tabela 9; os dados de cada sexo foram considerados separadamente. A porcentagem de mortalidade foi alta nos casos de insuficiência respiratória aguda, não tendo havido diferença entre homens e mulheres. A letalidade foi também alta nos casos de choque séptico; neste caso, a mortalidade, entre os homens, foi significantemente maior. Verificou-se que porcentagem significantemente maior de mulheres com infarto do miocárdio evoluiu para óbito, o mesmo ocorrendo nos casos de hemorragia digestiva alta. Nos casos de edema agudo de pulmão, o óbito ocorreu apenas entre as mulheres. Quanto aos indivíduos de 12 a 20 anos de idade, evoluíram para óbito 1 de 3 pacientes do sexo masculino com choque séptico e, no caso do sexo feminino, 2 de 6 pacientes com intoxicação exógena e 3 de 6, com insuficiência respiratória aguda. DISCUSSÃO Os resultados do presente trabalho mostram que a clientela atendida pela UTI da Clínica Médica incluiu doentes desde os 12 anos até a faixa de mais de 60 anos (Tabela 1). O grupo de doentes de 12 a 20 anos foi o menos numeroso, representando perto de 5% do total dos casos; por outro lado, 40% dos doentes atendidos tinham mais que 60 anos de idade. Porcentagens elevadas de atendimento de pacientes com idade acima de 50 anos têm sido relatadas em publicações relacionadas com UTI. 78 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva Hernández et al. (4) verificaram, em 513 pacientes de hospital geral, em Cuba, que o grupo etário mais afetado era o de 60 a 74 anos. Medeiros et al (5), por sua vez, mencionam que 33,7% de 1320 internações em UTI geral de hospital, no Rio de Janeiro, tinham mais de 60 anos e Souza et al (6) referem média de idade acima de 50 anos para um grupo de 316 pacientes atendidos em UTI, em período de seis meses. É habitual que o tempo de internação em UTI seja curto, sendo citadas, na literatura, permanências de duração de 1 dia e de 2 a 4 dias; contudo, há internações de 5 a 10 dias (6). São referidas médias ou medianas de permanência de 3 (com intervalo interquartil de 1,8 e 5 dias) (7) de 3,8 (5,8), de 3,13 e de 5,74 dias (9). A permanência na UTI depende de vários fatores, como, por exemplo, a natureza da doença básica e as exigências terapêuticas decorrentes das complicações; assim, em doentes submetidos à cirurgia cardíaca, Kolh et al. (10) relataram um período médio de permanência de 16,8 dias, e, em pancreatite aguda grave, foi referida por Appelros et al (11) permanência média de 18,9 dias, numa faixa de 1 a 320 dias. Nossa média de permanência variou de 2,5 a 5,2 dias; em nosso trabalho, separamos os casos de acordo com sua permanência nos leitos da UTI; verificamos que 17% dos homens e 17,9% das mulheres permaneceram internados por mais de sete dias, os restantes pacientes tendo sido atendidos por períodos menores que sete dias (Tabela 2). Dados da literatura apontam ligeiro predomínio do sexo masculino entre os pacientes de UTI (5,6). Hernández et al. (4) referem, também, o sexo masculino como o mais afetado, desde que não sejam consideradas a cetoacidose diabética e a asma brônquica. Nossa casuística incluiu, de fato, maior número de homens (968) que mulheres (724) (Tabela 1). Contudo, a análise estatística não mostrou existir diferença significante entre sexos, em cada uma das três faixas etárias. A mortalidade, em nosso trabalho foi 29,7% no sexo masculino e 29% no sexo feminino. Em alguns estudos, os valores referidos foram menores que os de nossa casuística. Assim, em unidade de cuidados intensivos incluindo casos clínicos, pacientes em pós-operatório e após traumatismo, Hernández et al. referiram mortalidade de 16,9% e, em unidade de terapia semiintensiva de pós-operatório (4), Rocco & Japiassú observaram taxa de mortalidade de 23% (9). Em unidade de terapia intensiva para atendimento de afecções clínicas e de natureza cirúrgica, um estudo prospectivo de 93 pacientes mostrou taxa de mortalidade de 20,4% (7). Entretanto, porcentagens de mortalidade semelhantes à nossa foram observadas no Centro de Tratamento Intensivo do Hopital Universitário Clementino Fraga Filho (25,8%, segundo Rocco & Japiassú (9)) e em UTI Geral para atendimento de pacientes predominantemente em pós-operatório (27,65%, de acordo com Medeiros et al. (5)). Gut et al. referiram mortalidade de 26,4% em 576 doentes admitidos na UTI Central de Adultos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, no período de 1994 a 1997 (12); essa unidade atende doentes provenientes do Pronto Socorro, do Centro Cirúrgico e das enfermarias cirúrgicas. Em nossa casuística, a morta- Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva lidade foi menor na faixa mais jovem dos pacientes, aumentou com a idade e foi maior na faixa de mais de 60 anos, onde, em ambos os sexos, a freqüência de óbitos foi maior que a dos que permaneceram vivos (Tabela 3). O infarto agudo do miocárdio constituiu a causa principal de internação na UTI, com exceção do grupo etário jovem, no qual este diagnóstico não foi registrado (Tabelas 4 e 5). Ao considerar cada faixa etária, não houve diferença da freqüência de infarto entre sexos (Tabela 5); contudo, globalmente, a freqüência foi maior no sexo masculino (19,5% no sexo masculino e 13,5% no sexo feminino, P = 0,001). Diagnósticos mais freqüentes, em nossa casuística, além do infarto agudo do miocárdio, foram, acima dos 21 anos de idade, a insuficiência respiratória aguda, a angina instável, o choque séptico e a hemorragia digestiva alta (Tabelas 4, 6 e 7) e, na faixa de 12 a 20 anos, a cetoacidose diabética, a intoxicação exógena e a insuficiência respiratória aguda (Tabelas 4 e 8). Na casuística, destaca-se a hemorragia digestiva alta, ausente apenas na faixa mais jovem, no sexo feminino (Tabelas 4 e 6). A cetoacidose foi diagnosticada, em mulheres, em todas as faixas etárias e somente nos homens não o foi na faixa de mais de 60 anos de idade (Tabela 4). Chama, ainda, a atenção a porcentagem alta de casos de intoxicação exógena, principalmente associada a drogas, na faixa etária de 12 a 20 anos de idade, tanto no sexo masculino, como no feminino. Entretanto, o número de casos de intoxicação diminuiu na faixa acima de 60 anos, não tendo sido registrado nenhum caso entre as mulheres dessa idade (Tabelas 4 e 8). O infarto agudo do miocárdio foi também apontado por Hernández et al. como causa principal da admissão em unidade de cuidados intensivos; em seqüência, são citadas a intoxicação exógena aguda, a angina aguda instável, a cetoacidose diabética e o pós-operatório de grandes cirurgias (4). A presença desses diagnósticos, na lista de Hernández et al., mostra pontos de contacto de sua casuística com o grupo estudado em Botucatu. Deve-se considerar a eventualidade da existência de alguma discrepância entre os diagnósticos de admissão e os estabelecidos de acordo com critérios mais apurados. Entretanto, este aspecto já tem sido mencionado na literatura (13,14,15). De fato, em nosso meio, a comparação de diagnósticos clínicos com os fornecidos pela necrópsia, mostrou correspondência de diagnósticos em 67% dos casos (12). Desta maneira, deve-se contar com eventualidade da existência de algum tipo de erro diagnóstico no presente estudo. Na Tabela 9, foi apresentada a evolução para óbito, considerando os principais diagnósticos dos pacientes admitidos na UTI. A insuficiência respiratória aguda e o choque séptico foram as condições clínicas em que se registraram as mais altas porcentagens de evolução dos casos para óbito. Quanto ao infarto agudo do miocárdio, a mortalidade, no caso de homens, foi de 7,4% e, de mulheres, 16,3%, diferença estatisticamente significante. Valores de mortalidade mais altos foram observados na publicação de Hernández et al (49%) (4), referente a doentes acompanhados em unidade de terapia intensiva, e de Zornoff et al. (22%) (16), relativa a pacientes admitidos em Centro Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002 ARTIGO ORIGINAL de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu e acompanhados durante 30 dias. Entretanto, nossos dados são bem próximos daqueles referidos por Pimenta et al. em estudo envolvendo 600 pacientes com diagnóstico de infarto agudo de miocárdio, atendidos em hospital privado de atendimento emergencial primário e em hospital universitário terciário, na cidade do Rio de Janeiro (17). Na casuística de Pimenta et al., a mortalidade no sexo masculino foi de 9,9% e, no sexo feminino, 23%, sendo esses valores significantemente diferentes. Nossos dados indicam, também, existir uma diferença entre homens e mulheres no que concerne à evolução para óbito em casos de hemorragia digestiva alta, edema agudo de pulmão e choque séptico. No caso das duas primeiras condições, o grupo mais afetado foi o das mulheres e, na última, os homens. Agradecimentos: Aos membros da Disciplina de Clínica Médica Geral, ao Prof. Dr Carlos Roberto Padovani e a Sra Ana Maria Mengue pela colaboração prestada. RESUMO O objetivo deste trabalho foi analisar o perfil diagnóstico, os dados demográficos e algumas características da evolução de pacientes internados em unidade de terapia intensiva, no período de 1992 a 1999. Casuística e Métodos: Os dados foram obtidos a partir da consulta do livro de registro clínico da unidade; os doentes foram agrupados por sexo e faixa etária; foram consideradas três faixas: de 12 a 20, de 21 a 60 e de mais de 60 anos de idade. Resultados e Conclusões: A 79 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO ORIGINAL casuística incluiu 968 pacientes masculinos e 725, femininos; 46,9% dos homens e 48,2% das mulheres tinham mais de 60 anos de idade. 17% dos homens e 17,9% das mulheres permaneceram internados por mais de sete dias. A mortalidade foi de 29,7% nos homens e de 29%, nas mulheres; houve aumento da mortalidade, acompanhando o aumento da faixa etária: a freqüência de óbitos foi maior na faixa de mais de 60 anos, em ambos os sexos. Os diagnósticos mais freqüentes, acima dos 21 anos, foram o infarto agudo do miocárdio e a insuficiência respiratória aguda. Na faixa etária mais jovem, os diagnósticos mais freqüentes foram a intoxicação exógena (homens) e a cetoacidose diabética (mulheres). O infarto agudo do miocárdio foi o diagnóstico mais freqüente nos pacientes adultos, nos dois sexos. A freqüência de infarto foi significantemente maior nos homens, entretanto, a freqüência de mortalidade foi maior nas mulheres. A insuficiência respiratória aguda e o choque séptico foram as condições que apresentaram mais altas porcentagens de evolução para óbito. Palavras chave: UTI, taxa de mortalidade, permanência, freqüência de diagnósticos 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Glantz SA. Primer of biostatistics. New York: McGraw-Hill, 1997:473. 2. Goodman LA. On simultaneous confidence intervals for contrasts among multinominal populations. Ann Math Stat 1964. 35: 716-25. 3. Goodman LA. On simultaneous confidence intervals for multinomial proportions. Technometrics 1965. 7: 247-54. 4. Hernández JFR, Galende MLQ, Rodriguez RR. Morbimortalidad en cuidados intensivos. Estudio de dos años. Rev Cubana Med 1990. 29: 323-36. 5. Medeiros MS, Melek I, Dusilek COL, et al. Análise epidemiológica de 1320 internamentos em uti geral. Livro de Resumos do V Congresso Brasileiro de Clínica Médica 1999. 188. 6. Souza KZ, Alves MP, Castro RC, et al. Análise das internações na uti do hcsl (hospital das clínicas samuel libâneo). Livro de Resumos do V Congresso Brasileiro de Clínica Médica 1999. 102. 7. Cook D, Attia J, Weaver B, et al. Venous thromboembolic disease: An observational study in medical-surgical intensive care unit patients. J Crit Care 2000. 15: 127-32. 8. Eddleston JM, White P, Guthrie E. Survival, morbidity, and quality of life after discharge from intensive care. Crit Care Med 2000. 28: 2293-9. 9. Rocco JR, Japiassú AM. Validação do modelo prognóstico apache ii em duas unidades do hospital universitário clementino fraga filho da ufrj. Livro de Resumos do V Congresso Brasileiro de Clínica Médica 1999. 188. 10. Kolh PH, Torchiana DF, Buckley MJ. Atheroembolization in cardiac surgery - the need for preoperative diagnosis. J Cardiovasc Surgery 1999. 40: 77-81. 11. Appelros S, Lindgren S, Borgstrom A. Short and long term outcome of severe acute pancreatitis. Eur J Surg 2001. 167: 281-6. 12. Gut AL, Ferreira ALA, Montenegro MR. Autopsy: Quality assurance in the icu. Intensive Care Med 1999. 25: 360-3. 13. Scottolini AG, Weinstein SR. The autopsy in clinical-quality control. JAMA-J Am Med Assoc 1983. 250: 1192-4. 14. Gough J. Correlation between clinical and autopsy diagnoses in a community-hospital. Can Med Assoc J 1985. 133: 420-2. 15. Cameron HM, McGoogan E. A prospective-study of 1152 hospital autopsies .1. Inaccuracies in death certification. J Pathol 1981. 133: 273-83. 16. Zornoff LAM, Paiva SAR, Assalin VM, et al. Perfil clínico, preditores de mortalidade e tratamento de pacientes após infarto agudo do miocárdio, em hospital terciário universitário. Arq Bras Cardiol 2002. 78: 396-400. 17. Pimenta L, Bassan R, Potsch A, et al. É o sexo feminino um preditor independente de mortalidade hospitalar no infarto agudo do miocárdio? Arq Bras Cardiol 2001. 77: 37-43. Volume 14 - Número 2 - Abril/Junho 2002