Prá não dizer que não falei das sondagens... A prospecção geotécnica do subsolo, única informação que o engenheiro de fundações dispõe para elaboração de projetos, infelizmente ainda tem sido relegada a segundo plano, quando não é descartada em obras de menor envergadura. A menos das grandes linhas de transmissão, não tem sido incomum se deixar de executar sondagens a percussão, torre a torre, para definição e projeto das fundações. Adota-se a prática de se realizar apenas algumas sondagens, nos pontos mais "duvidosos", e interpola-se para os intermediários. Com o objetivo de ressaltar a importância da execução de sondagens para elaboração dos projetos de fundações, são apresentadas abaixo algumas correlações entre valores de SPT e a resistência lateral em estacas, bem como entre aqueles e a tensão admissível em fundações diretas (tubulões, sapatas e grelhas). Para as estacas foi adotado a metodologia de cálculo proposta por Decourt-Quaresma, segundo a qual temos: - atrito lateral desenvolvido rl = 10 x ( N/3 + 1 ) kPa - resistência de ponta rp = K x N´ onde: kPa N = SPT médio ao longo da profundidade da estaca N´ = média de valores de SPT na ponta da estaca, um metro acima e um abaixo K = obtido na tabela I Tabela I Solo Argilas Siltes Argilosos Siltes Arenosos Areias K 12 20 25 40 Para as fundações diretas, ou superficiais, na fixação da tensão admissível, foi adotada a expressão: Sadm = 12.5 x N x ( 1 + 0.1 x H ) onde: kPa N = SPT médio ao longo de 2B abaixo da cota de apoio da fundação B = lado ou diâmetro da fundação H = profundidade da fundação A Figura 1 retrata a influência dos valores de SPT na obtenção da resistência lateral de estacas. Para exemplificar, foi admitida estaca com diâmetro de 26 cm, submetida a carga de tração de 15 tf. Para um SPT médio de 2, o comprimento necessário para resistir ao esforço de tração será de 15,3 m e, caso o valor de SPT médio seja 4, a profundidade será reduzida para 10,3 m, ou seja, da ordem de 29 % a menos. Caso estejamos dimensionando uma fundação com 3 estacas por pé de torre, resultará uma economia superior a 45 metros lineares de estacas por torre. Basta multiplicar o custo da estaca e de sua cravação pela quantidade indicada para termos uma idéia da economia obtida com a realização de uma sondagem. As Figuras 2 e 3 apresentam a influência dos valores de SPT sobre a tensão admissível de fundações superficiais, tendo sido admitido, para efeito de comparação, um tubulão submetido a compressão de 40,0 tf, fazendo-se variar a profundidade de 3,0 a 5,0 metros, podendo-se perceber que a influência sobre a capacidade de carga da fundação é de pequena magnitude. Por outro lado, a variação do SPT introduz variações importantes sobre os valores de tensão admissível, as quais tem severa repercussão nos volumes de concreto e de escavação envolvidos. No caso dos tubulões, a variação no volume de concreto é significativa. Para o valor de SPT médio abaixo da base variando de 6 para 10, é possível redução do volume de concreto em cerca de 1,4 m3 por pé de torre, ou seja, mais de 5,0 m3 por torre. É algo para não ser desprezado. Enfim, a breve análise efetuada nos permite constatar que investimentos da ordem de R$ 600,00 a R$ 700,00 por torre, pode representar reduções de custo até 5 vezes o valor investido, ou mais, dependendo dos parâmetros que vierem a ser admitidos (?!) pelo projetista de fundação pois, visando preservar a segurança e a confiabilidade, no caso de inexistência de sondagens, devem ser adotados valores conservadores, com reflexos no custo final do empreendimento. Outros benefícios decorrentes das sondagens, conduzem para o desenvolvimento de projetos em consonância com as características do subsolo. A sondagem retrata a profundidade do nível de água, a presença de solos colapsíveis ou matacões, entre outros. Mas isto, fica para uma próxima atualização da página. Figura 1 Figura 2 Figura 3