Caracterização dos Pacientes com PSORÍASE de um Hospital Universitário da Região Sudeste 2 1 2 1 1 Gustavo Verardino, Simone Bezerra, Mario Chaves, Carolina Portela, Simone Renó, Sueli Carneiro 1,2 1. Serviço de Dermatologia e Curso de Pós-Graduação HUCFF-UFRJ e Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio de Janeiro 2. Serviço de Dermatologia e Curso de Pós-Graduação HUPE-UERJ e Faculdade de Ciências Médicas - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Fundamentos Objetivos A Psoríase é doença dermatológica freqüente que afeta de 1-3% da população gerando grande morbidade e causando impacto negativo na qualidade de vida. Possui base genética, com significativa variação étnica segundo vários estudos já publicados. Apresenta aspectos imunológicos complexos e se caracteriza morfologicamente por hiperproliferação queratinocítica. Além da pele pode acometer articulações, aparato ungueal e mucosas. Cada vez mais se comporta como doença sistêmica, com forte associação com outras condições clínicas como dislipidemias, Diabetes Mellitus e doença cardiovascular. No presente estudo foram ressaltados os aspectos epidemiológicos de uma população miscigenada de pacientes psoriásicos acompanhados no ambulatório de Dermatologia / doenças cutâneo-articulares de um hospital universitário. Analisar o perfil epidemiológico dos pacientes com psoríase atendidos no período de 1978-2007 através da observação das características da doença, associações e comorbidades. Métodos Estudo observacional, clínico-epidemiológico, do tipo transversal. Foram avaliados 213 pacientes com psoríase com prontuário ativo acompanhados no ambulatório de dermatologia geral e de doenças cutâneo-articulares de um hospital universitário no período de 1978-2007 que gerou um banco de dados com as características epidemiológicas: idade, sexo e escolaridade; morfotopografia das lesões cutâneas e acometimento articular, ungueal e de mucosas; co-morbidades e história familial; presença ou não de prurido; fenômeno de Koebner e fatores agravantes. Resultados A idade dos pacientes variou entre 12 e 82 anos, com média de 48,3 anos; houve predomínio do sexo masculino (58,6%). Em relação à cor, 121 (56,8%) pacientes eram brancos, 26 negros (12,2%) e 66 pardos (31%). O nível de escolaridade predominante em 164 (77%) pacientes foi igual ou menor ao 1º grau completo, seguido por até o 2º grau completo em 32 (15%) pacientes e 17 (8%) com nível superior. A história familial foi positiva para psoríase em 51 (24%) pacientes. Dentre as co-morbidades encontraram-se 25 (11,7%) pacientes com diabetes mellitus tipo II, 6 (3,1%) alcoolistas, 8 (3,75%) tabagistas, 25 (11,7%) com sintomas depressivos, 8 (3,75%) cardiopatas, 5 (2,3%) hepatopatas, 40 (18,7%) com alterações lipídicas e 7 (3,28%) com doenças da tireóide, sendo 6 com hipotireoidismo. Em relação à morfotopografia das lesões cutâneas, 137 (64,3%) apresentavam lesões no tronco, 133 (62,4%) nos membros superiores, 137 (64,3%) nos membros inferiores, 119 (56%) nos cotovelos, 98 (46%) nos joelhos, 54 (25,3%) na face, 32 (15%) em região palmoplantar, 56 (26,3%) em sacro, 24 (11,2%) em dobras, 4 (1,8%) em mucosas, 19 (9%) em genitália, 12 (5,6%) em conduto auditivo externo e 126 (60%) em couro cabeludo. Destes, 126 42 (33,3%) como placas e 55 (43,6%) com escamas. A forma em placas foi vista em 181 (85%) pacientes, a gutata em 27 (12,6%), pustulosa em 5 (2,3%). A simetria das lesões esteve presente em 180 (84,5%) pacientes. O prurido esteve presente em 141 indivíduos, moderado em 95 (44,6%) e intenso em 46 (21,6%). O acometimento ungueal foi evidenciado em 101 (47,4%) pacientes, e mostrou onicólise em 79 (78,2%), manchas de óleo em 28 (27,7%), pitting em 52 (51%), ceratose subungueal em 64 (63,96%) e onicorrexe em 2 (1,98%). A cavidade oral apresentou alteração em 14 (6,57%) indivíduos, marcada por língua fissurada em 13 e geográfica em 1 (7,1%). Episódios de eritrodermia foram observados em 62 (29%) pacientes. O acometimento articular foi observado em 62 (29%) pacientes, com ocorrência prévia à doença cutânea em 8 (12,5%), concomitante em 11 (18%) e posterior em 43 (69,5%). Doença articular periférica esteve presente em 52 (84,7%) pacientes, axial em 20 (32%) e presença de ambos em 6 (10%). As queixas de artralgia estiveram presentes em 44 (71%) e sinais de artrite franca ao exame foram detectados em 28 (45%) pacientes. Alguns fatores foram relacionados à piora do quadro cutâneo como estresse psíquico relatado por 187 (87,8%) pacientes, seguidos por traumas locais, com fenômeno de Koebner, em 66 (31%) e episódios infecciosos em 36 (17%). Distribuição anatômica das lesões cutâneas Morfologia das lesões cutâneas Co-morbidades Região Tronco Membros superiores Membros inferiores Cotovelos Joelhos Face Couro cabeludo Palmo-plantar Sacro Dobras Genitália Conduto auditivo externo Morfologia Placas Gutata Pustulosa Eritrodérmica Simetria Co-morbidades Diabetes Mellitus II Alcoolismo Depressão Cardiopatia Hepatopatia Hipertensão Arterial Dislipidemia Doença de Tireóide Pacientes 137 133 137 119 98 54 126 32 56 24 19 12 % 64,3 62,4 64,3 56 46 25,3 60 15 26,3 11,2 9 5,6 Pacientes 181 27 5 5 180 % 85 12,6 2,3 2,3 84,5 Correlação temporal entre acometimento cutâneo e articular Pacientes 25 6 25 8 5 79 40 7 % 11,7 3,1 11,7 3,75 2,3 37 18,7 3,28 Anterior 12,5% Concomitante 18% Posterior 69,5% Tipo de acometimento articular Discussão e Conclusões Embora a literatura relate igualdade entre os sexos, em nossa amostra observamos discreto predomínio do sexo masculino. A prevalência de brancos na população de psoriásicos também esteve presente em nosso estudo, mas como na população local o grau de miscigenação é alto este grupo foi responsável por 31% da amostra. A agregação familiar da doença em estudos prévios também foi demonstrada. Diversas condições têm sido associadas à psoríase, entre elas o tabagismo, alcoolismo, aumento de risco cardiovascular, diabetes mellitus, dislipidemias, depressão e outras doenças auto-imunes. Nesta amostra, etilismo e tabagismo parecem não ser significativos, enquanto a dislipidemia, diabetes e depressão mostraram uma associação forte. Em relação a outras doenças auto-imunes, 28% apresentavam doença de tireóide, sobretudo hipotireoidismo, e em alguns casos isolados, fibromialgia, lúpus discóide e vitiligo concomitantes. O tipo de psoríase também se correlaciona com de outras publicações, sendo o tipo mais comum a forma em placas (85%), seguida pela gutata (12,6%), que é maior que nas publicações internacionais, provavelmente pela maior prevalência de infecções estreptocócicas. A freqüência de alterações ungueais é variável (10-78%), com média 50% de pacientes atingidos, e na população estudada o acometimento chega quase a 50%, sendo mais comuns onicólise (78,2%) e pitting (51%). A proporção exata de psoriásicos que desenvolverão artrite é área de controvérsia, com estudos mostrando variação de 6% até 42%. Encontramos uma prevalência de 29% de artrite psoriásica, sempre relacionada à doença cutânea. Trauma local e infecção estreptocócica são os maiores fatores desencadeantes da doença, mas o estresse psíquico tem sido relacionado. Este último foi o principal fator (87,8%) que os pacientes relacionaram à piora da doença, seguidos por trauma local (31%) e episódios infecciosos (17%) em geral. Periférico 84,7% Axial 32% Ambos 10% [email protected] HUCFF-UFRJ