UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR NÚCLEO DE SAÚDE - NUSAU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL – PGBIOEXP CENTRO DE ESTUDOS DE BIOMOLÉCULAS APLICADAS À MEDICINA – FIOCRUZ RONDÔNIA JOÃO GABRIEL RIBEIRO ANÁLISE PROTEÔMICA DE ANTÍGENOS DE MEMBRANA DE Leishmania amazonensis PORTO VELHO-RO 2012 JOÃO GABRIEL RIBEIRO ANÁLISE PROTEÔMICA DE ANTÍGENOS DE MEMBRANA DE Leishmania amazonensis Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental da Universidade Federal de Rondônia, como requisito para obtenção do título de mestre em Biologia Experimental. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Guerino Stabeli Porto Velho - RO 2012 FICHA CATALOGRÁFICA BIBLIOTECA CENTRAL PROF. ROBERTO DUARTE PIRES Ribeiro, João Gabriel. R484a Análise proteômica de antígenos de membrana de Leishmania Amazonensis. / João Gabriel Ribeiro. Porto Velho, Rondônia, 2012. 70f. Dissertação (Mestrado em Biologia Experimental) – Núcleo de Saúde (NUSAU), Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental, Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2012. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Guerino Stabeli. 1. Leishmania Amazonensis. 2. Análise Proteômica. 3. Proteolipossomos. 4. Imunorreatividade. 5. Imunoproteômica. I. Título. CDU: 573 Bibliotecária Responsável: Eliane Gemaque / CRB 11-549 RIBEIRO, J. G. Análise proteômica de antígenos de membrana de Leishmania amazonensis. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental da Universidade Federal de Rondônia, como requisito para obtenção do título de mestre em Biologia Experimental. Aprovado em:_____/ _____/_____ BANCA EXAMINADORA: _______________________________________ Nome Titulação Instituição _______________________________________ Nome Titulação Instituição _______________________________________ Nome Titulação Instituição "As we conquer peak after peak we see in front of us regions full of interest and beauty, but we do not see our goal, we do not see the horizon; in the distance tower still higher peaks, which will yield to those who ascend them still wider prospects, and deepen the feeling, the truth of which is emphasized by every advance in science, that 'Great are the Works of the Lord'." (J.J. Thomson, Nature, v. 81, p. 257, 1909). Às pessoas que dedicaram suas vidas a fazer a minha vida melhor, minha mãe Sandra, minhas irmãs Débora e Nídia. A Tia Cida que sempre se fez presente em todas as etapas da minha vida e ao meu padrasto Francisco. Aos meus sobrinhos que são fontes inesgotáveis de alegria Mateus, Júlia e a Isabela Estelita, dedico. Dedico à minha noiva, Ivie Ribeiro Barcelos. AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Rodrigo Guerino Stábeli por me receber como seu aluno de pós-graduação, por sua grande paciência e dedicação. Por investir em minha capacitação e por sua postura humana frente às adversidades. Agradeço por providenciar e oportunizar o CEBio, onde pude encontrar o meu caminho: a análise proteômica. Agradeço a Dra. Marcelle Colhone e ao Dr. Pietro Ciancaglini, por compartilhar conosco este trabalho tão rico, pela colaboração e pelo envio das amostras. Agradeço ao amigo Msc. Anderson Makoto Kayano, por compartilhar o entusiasmo pela ciência, pelas incontáveis ajudas em experimentos tão diversos, bem como na execução de vários deles quando não foi possível para mim. E por me ensinar os fundamentos daquelas que se tornaram minhas principais ferramentas de trabalho, a eletroforese em gel de poliacrilamida e immuno-blotting. As informações adicionais que foram surgindo sobre as peculiaridades das amostras, sem dúvida foram consolidadas durante nossas conversas no laboratório. Por ser parceiro no aprendizado da Química de Edman. Agradeço por suas dedicadas visitas enquanto estive fora do laboratório. Agradeço aos colegas de laboratório do CEBio, Kayano, Leandro e Rodrigo que participaram na obtenção dos resultados que estão presentes nesta dissertação. Agradeço ao Prof. Dr. Leonardo Calderon por seus esforços a frente do Laboratório, e mais recentemente, ao Prof. Dr. Andreimar Soares por ingressar ao laboratório e propulsionar o CEBio, com toda a sua paciência, atenção, disponibilidade e por suas contribuições, respectivamente, a este trabalho. Agradeço ao Dr. Roberto Nicolette, por sua atenção, pelas sugestões e contribuições ao presente trabalho. Agradeço a Dra. Carla Celedonio por sua suas sugestões, contribuições e conversas sobre proteínas de membrana. Agradeço ao Dr. Carlos Roberto Alves e a Dra. Patrícia Watanabe por suas contribuições e atenção. Agradeço aos companheiros de laboratório pela convivência ao longo destes anos, Prof. Msc. Antônio Coutinho Neto, Angela, Ângelo, Cleópatra, Kaynara, Kayena, José, Tiago, Rafaela, Roniele, George, Débora, Marjorie, Gizele, Denis e à galera que está chegando ao CEBio. Agradeço ao pessoal do Laboratório de Bioinformática e Bioestatística, pela sempre boa disposição em me ajudar com computadores, programas e discussões científicas. O meu muito obrigado, Andrei, Beto, Dr. Fernando Zanchi, PH e Dr. Ricardo. Agradeço ao pessoal do Laboratório de Bioquímica do IPEPATRO, na pessoa da Profa. Dra. Juliane Zuliane, pelos materiais compartilhados e pela força. Agradeço à todos os Professores, alunos e funcionários das unidades IPEPATRO e CEPEM pelas contribuições e vivência, especialmente aos meus colegas de turma/disciplinas Msc. Sulamita Setubal, MSc. Cezarino, MSc, Fernanda Bay, MSc. Elis e também à MSc. Joana, a todos o meu mais sincero obrigado e um grande abraço! Agradeço à minha amiga por ter me acompanhado durante estes anos, sendo família para mim na maior parte deste período, por sua grande generosidade, sem a qual este trabalho não teria sido realizado. Muito Obrigado Sandra Barcelos. Agradeço a Dra. Lucilene Delazari dos Santos, antes de tudo por sua presteza, por ajudar sem esperar em troca. Sou grato por sua grande contribuição para minha formação em análise proteômica Agradeço ao Prof. Dr. Mário S. Palma pelas oportunidades de ser aluno em disciplina e curso, por me receber no Laboratório de Biologia Estrutural e Zooquímica LBEZ para realização de trabalhos que constam nesta dissertação. Agradeço a Dra. Bibiane Monson de Souza pela realização das análises no LCMSIT-TOF. Agradeço aos colegas da UNESP que me receberam tão bem e logo se tornaram bons amigos: Alessandra, Analy, Beto, Daniel, Dom e Nicoli. Agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelas bolsas concedidas. RESUMO A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença negligenciada, com alta incidência no Brasil, para a qual ainda não se dispõe de vacina ou diagnóstico eficiente. Proteolipossomos construídos a partir de frações enriquecidas em proteínas de membrana de Leishmania amazonensis apresentaram efeito imunoprotetor quando inoculados em camundongos BALB/c. Os mesmos proteolipossomos foram utilizados na confecção de um nanobiosensor de diagnóstico diferencial que é capaz de reconhecer e diferenciar soro de camundongos infectados por L. amazonensis ou Trypanosoma cruzi, resolvendo o problema atual de imunorreatividade cruzada entre LTA e Doença de chagas no diagnóstico sorológico convencional. Porém, as proteínas imunogênicas empregadas ainda não haviam sido identificadas. Neste trabalho, estas proteínas foram parcialmente identificadas através de técnicas proteômicas. As proteínas de membrana extraídas de promastigotas de L. amazonensis e aquelas inseridas nos proteolipossomos foram submetidas à eletroforese em SDS-PAGE e a imunnoblotting revelado com o soro de camundongos BALB/c reativos, respectivamente. Os spots revelados correspondentes foram submetidos à digestão tríptica em gel e análise por espectrometria de massas em LCMS-IT-TOF. Os resultados obtidos foram analisados por meio de bancos de dados de espectros de massa de peptídeos e proteínas utilizando o programa MASCOT®. Desta forma, doze proteínas foram identificadas com score significativo, sendo que sete proteínas apresentaram correlação com bandas imunogênicas em immuno-blotting. As bandas de gel e as proteínas identificadas foram: Banda PMLA2 de 82,3 kDa, proteína zinco carboxipeptidase hipotética (GI 68128818); banda PMLA4, de 51,1 kDa, proteína hipotética de função desconhecida (GI 68129375), possivelmente integral à membrana; PMLA5 de 46,4 kDa, cuja identificação resultou em duas proteínas, a proteína de membrana similar à tuzina de L. major, (GI 68129360) e a proteína hipotética (GI 68129375); PMLA20 de 56,4 kDa, proteína de membrana GILP galf transferase (GI 68128797) e a cisteíno peptidase com função de ubiquina hidrolase C-terminal (GI 68129587); PMLA8 de massa molecular próxima 10 kDa resultou na identificação da proteína ATPase aminofosfolipídeo translocadora tipo-P (GI 68127901). Outras cinco proteínas presentes nas amostras foram identificadas, sendo três proteínas hipotéticas de L. major (GI 68129000, GI 68129370, GI 68129049873) e duas proteínas solúveis de L. amazonensis (tubulina-β, GI 68128896 e manose fosfato isomerase, GI 155675728). Novos estudos imuno-bioquímicos deverão ser realizados para expandir e validar a identificação de antígenos. Palavras-chaves: Leishmania amazonensis, análise roteômica, proteolipossomos, imunorreatividade, imunoproteômica. ABSTRACT American cutaneous leishmaniasis (ACL) is a neglected disease with high incidence in Brazil, for wich one do not have an effective vaccine or an efficient diagnostic has been still studied. Proteoliposomes constructed with Leishmania amazonensis membrane proteins were able to produce immunoprotective effect when inoculated into BALB/c mice. The same proteoliposomes were used to make a differential diagnosis nanobiosensor which was effective in recognizing serum of Balb/c mice infected. This nanobiosensor showed selective immunoreactivity with Trypanosoma cruzi resolving the current cross-immunoreactivity between ACL and Chagas disease in conventional serological diagnosis. However, the immunogenic proteins used for proteoliposomes constructs were not been identified. In this work, these proteins were identified throught proteomic techniques. Membrane proteins extracted from L. amazonensis promastigotes and those inserted in proteoliposomos were submited to electrophoresis on SDS-PAGE and immuno-blotting revealed with the serum from reactive BALB/c mice, respectively. The corresponding spots revealed were submitted to in gel tryptic digestion and mass spectrometry analysis using a LCMSIT-TOF. The results obtained were analyzed through databases of mass spectra of peptides and proteins using the software MASCOT®. Thus, twelve proteins were identified with significant score, and seven proteins correlated with immunogenic bands in immuno-blotting. The bands of gel and the proteins identified were: A 82,3 kDa gel band PMLA2, putative zinc carboxypeptidase putative (GI 68128818); 51,1 kDa gel band PMLA4 hypothetical protein with unknown function (GI 68129375), probabily an integral membrane protein; From the 46,4 kDa gel band PMLA5 two proteins were identified, the L. major tuzin-like protein (GI 68129360) and a hypothetical protein with unknown function (GI 68129375); From the 56,4 kDa gel band PMLA4 two proteins were identified, membrane protein GILP GALF transferase (GI 68128797) and cysteine peptidase with C-terminal ubiquitine hydrolase putative function (GI 68129587); From the 10 kDa gel band PMLA8, P-type aminophospholipid translocase (GI 68127901). Five other proteins present in the samples were identified, three L. major like hypothetical proteins major (GI 68129000, GI 68129370, GI 68129049873) and two soluble proteins from L. amazonensis (tubulin-β, GI 68128896 and manose fosfato isomerase, GI 155675728). New immune-biochemical studies will be performed to expand and validate the identification of antigens. Keywords: Leishmania amazonensis, immunoreactivity, immunoproteomics. proteomic analysis, proteoliposomes, LISTA DE FIGURAS Figura 1: Ciclo biológico de Leishmania sps. . .......................................................... 21 Figura 2: Âncora de Glicosilfosfatidil-inositol.. ........................................................... 40 Figura 3: Perfil eletroforético em SDS-PAGE a 12,5%T comparativo por coloração em azul de coomassie e nitrato de prata de EBS e Proteolipossomos. .................... 41 Figura 4: Perfil eletroforético em SDS-PAGE de EBS e Proteolipossomos .............. 42 Figura 5: Perfil eletroforético em SDS-PAGE e Immuno-blotting. ............................. 44 Figura 6: Immuno-blotting de EBS e GPI. ................................................................. 45 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Identificação proteômica de proteínas de Extrato Bruto Solubilizado de membrana de L. amazonensis.............................................................................................48 Tabela 2: Identificação proteômica nos géis de EBS de proteínas de membrana de L. amazonensis. ......................................................................................................................... 49 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS %T: Porcentual de poliacrilamida total APC: Células apresentadoras de antígenos CBB: Coomassie Brilliant Blue R-250 DTN: Doenças Tropicais Negligenciadas DTT: Ditiotreitol EBS: Extrato bruto solubilizado ESI: Ionização por eletronebulização ESI-IT-TOF-MS: Espectrômetro de massas de ionização por eletronebulização, armadilha de íons e analisador tempo de vôo GI: Identificação de gene GPI: âncora de glicosil-fosfatidilinosiltol GRAVY: índice de hidrofobicidade médio GM-CSF: fator de estimulação de colônias de granulócitos e macrófagos iNOS: enzima óxido nítrico sintase induzível LdMT: Transportador de milfetosina de L. (L.) donovani LPG: Lipofosfoglicano LPS: Lipopolissacarídeo LTA: Leishmaniose tegumentar americana LCMS-IT-TOF: Cromatógrafo líquido em escala semi-micro acoplado a um espectrômetro de ionização de eletronebulização, armadilha de íons e analisador de tempo de vôo MS/MS: Espectro de massas seqüencial (in tamdem) m/z: relação entre massas e cargas NO: óxido nítrico PACAP: Polipeptídeo ativador da adenilato-ciclase pituitária pI: Ponto isoelétrico 13 PMF: impressão digital de massas de peptídeos PPG: proteofosfoglicano PVDF: Fluoreto de polivinilideno 14 SUMÁRIO RESUMO .................................................................................................................................... 8 ABSTRACT ................................................................................................................................ 9 LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ 10 LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................. 12 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15 1.1. DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS............................................................................... 15 1.2. LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICA - LTA ..................................................................... 16 1.3. A RESPOSTA IMUNOLÓGICA CONTRA LEISHMANIA SPS. ....................................................... 22 2. OBJETIVO ......................................................................................................................... 31 3. MÉTODOS............................................................................................................................ 32 3.1. ELETROFORESE EM CONDIÇÃO DESNATURANTE (SDS-PAGE) ............................................ 32 3.2. IMMUNO-BLOTTING .............................................................................................................. 33 3.3. DIGESTÃO TRÍPTICA EM GEL DE POLIACRILAMIDA DAS BANDAS PROTÉICAS ......................... 34 3.4. ESPECTROMETRIA DE MASSAS SEQUENCIAL (MSMS) DOS FRAGMENTOS PEPTÍDICOS ...... 35 3.5. IDENTIFICAÇÃO AUTOMÁTICA DAS PROTEÍNAS ................................................................... 36 3.6. ANÁLISE IN SILICO DAS SEQUÊNCIAS DE AMINOÁCIDOS IDENTIFICADAS ............................. 37 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 39 4.1. ELETROFORESE EM CONDIÇÃO DESNATURANTE SDS-PAGE ............................................ 40 4.2. IMMUNO-BLOTTING............................................................................................................ 43 4.3. IDENTIFICAÇÃO PROTEÔMICA E CARACTERIZAÇÃO DAS SEQUÊNCIAS DESCONHECIDAS ..... 45 5. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS ................................................................................... 59 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 60 APÊNDICE A............................................................................................................................ 69 15 1. INTRODUÇÃO 1.1. Doenças tropicais negligenciadas As doenças infecciosas compõem umas das principais causas de morbimortalidade (WHO, 2010) e são responsáveis por aproximadamente 26% das mortes entre a população mundial (MOLINARI, 2009). Dentre estas, as doenças transmissíveis por vetores são muito mais prevalentes nas regiões tropicais e subtropicais devido ao clima favorável a proliferação dos vetores como, por exemplo, moscas e flebotomíneos (HOTEZ et al., 2007). Sob o termo coletivo de doenças tropicais negligenciadas (DTN), aceitam-se as asserções de que são doenças que afetam os mais pobres e não possuem tratamento e controle eficazes (IFPMA, 2003). Nas regiões tropicais próximas ao Equador se concentram um sexto da população mundial em comunidades rurais remotas, favelas urbanas e populações desalojadas (FEASEY et al., 2010) Estima-se que 2,7 bilhões de pessoas vivam em áreas de risco de DTN’s na América latina, África subsaariana e Ásia, com renda de menos de U$ 2,00 (dois dólares americanos) por dia, falta de acesso a saneamento básico e sistema de atenção a saúde (HOTEZ et al., 2007; FEASEY et al., 2010). A organização mundial de saúde (OMS) categoriza doenças relacionadas à pobreza, levando em consideração os fatores sócio-econômicos das populações afetadas como desnutrição, analfabetismo, discriminação de gênero, debilidade do sistema imune e carência de recursos (WHO, 2010). Os países pertencentes às áreas tropicais endêmicas possuem ocorrência de ao menos cinco DTN’s e é comum a co-infecção por dois parasitas diferentes (LINDOSO; LINDOSO, 2009). Não existe uma definição amplamente aceita na qual são listadas as doenças tropicais negligenciadas. Fato indiscutível, porém, é a necessidade de tratamentos diagnósticos mais seguros e eficazes para leishmanioses, doença do sono africano e doença de chagas (MITROPOULOS; KONIDAS; DURKIN-KONIDAS, 2010). Aproximadamente 500 milhões de pessoas estão em áreas de risco, 20 milhões estão infectadas com os patógenos causadores destas doenças, estimando-se 16 mortalidade de 100 mil pessoas por ano (TARLETON et al., 2007). Os únicos recursos terapêuticos para estas três doenças são medicamentos de uso parenteral que necessitam de múltiplas administrações, possuem graves efeitos colaterais e têm diminuição da eficácia devido ao surgimento de resistência (IFPMA, 2003). Em termos monetários, os investimentos em projetos de controle de doenças tropicais negligenciadas não passam dos 0,6% do total dos recursos investidos em saúde no mundo (MOLINARI, 2009). Em pesquisa e desenvolvimento farmacêutico de doenças infecciosas, 80% do volume de recursos despendidos são direcionados às chamadas "três grandes doenças" HIV/AIDS, malária e tuberculose (LIESE; ROSENBERG; SCHRATZ, 2010). Doenças não infecciosas como doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e desordens autoimunes são um campo de maior exploração econômica, pois na última década, deslocou o interesse da indústria farmacêutica em relação às doenças infecciosas (MOLINARI, 2009). Apesar das altas taxas de incidência, morbidade e mortalidade, para algumas destas doenças tropicais como hanseníase, oncocercose e filariose linfática, existem tratamentos eficazes (WHO, 2010). Paradoxalmente, não existem políticas públicas eficientes de controle, prevenção e assistência a saúde que assegurem o acesso e manutenção do tratamento pela maioria dos enfermos (IFPMA, 2003). O surgimento de resistência aos medicamentos de primeira e segunda linha utilizados no combate aos agentes infecciosos acentua a necessidade de maiores investimentos em pesquisa de novos agentes terapêuticos (MOLINARI, 2009; WHO, 2010). A mesma urgência de desenvolvimento tecnológico contempla diagnóstico confiável, rápido e de baixo custo de patologias tropicais (PERINOTO et al., 2010). 1.2. Leishmaniose tegumentar america - LTA A leishmaniose é uma doença de caráter zoonótico que acomete o homem e diversas espécies de animais silvestres e domésticos (BRASIL, 2006). Manifesta-se de diferentes formas clínicas, entre cutânea, muco-cutânea e visceral. Afeta cerca de 12 milhões de pessoas em 88 países, sendo que 350 milhões de pessoas vivem em áreas de risco. Possui incidência anual de aproximadamente 2 milhões de novos casos, destes 1,5 milhões de casos de leishmaniose cutânea e 500 mil casos de leishmaniose visceral (MITROPOULOS; KONIDAS; DURKIN-KONIDAS, 2010). 17 Dentre os 88 países, todos fazem parte da área de abrangência da doença nas regiões geográficas como o noroeste da Índia e Paquistão, o Oriente Médio, o sul da Rússia, regiões litorâneas dos países do Mediterrâneo, além das regiões norte, oeste e centro-oeste do continente africano. Ocorre também no México, na América Central e na América do Sul, excetuando-se o Chile. No Brasil a maior incidência ocorre na região amazônica (BRASIL, 2010). A Leishmaniose tegumentar americana (LTA) pode ser considerada como exemplo de doença relacionada à pobreza (WHO, 2010). É uma doença que afeta a pele e mucosas e causa desfiguração no homem. As feridas ulcerosas na pele, cicatrizes e deformações implicam em questões psicossociais nos doentes (GONTIJO; CARVALHO, 2003; WHO, 2010). As condições de pobreza agravam o risco para os indivíduos não infectados e também a progressão da enfermidade dos indivíduos infectados. A própria doença leva ao empobrecimento da família devido à ocorrência de debilidade funcional e morte dos componentes familiares economicamente ativos (WHO, 2010). A manifestação clínica mais comum é a leishmaniose cutânea localizada, caracterizada pela presença de úlceras em áreas expostas da pele, passíveis de coinfecções, com tendência à cura espontânea em um período variável entre alguns meses e poucos anos, no fim do qual ocorrem cicatrizes. As manifestações cutâneas disseminadas e difusas são menos frequentes, porém mais graves do que a forma localizada. A manifestação cutânea disseminada é caracterizada por centenas de nódulos não-ulcerosos, que acometem frequentemente a face e o tronco, não tende a cura espontânea, porém apresenta resposta considerável à terapêutica empregada. Em 30% dos casos ocorre acometimento mucoso concomitante e coinfecção com HIV (BRASIL, 2010). A manifestação cutânea difusa ocasiona grave desfiguração da aparência, devido à formação de placas e múltiplas nodulações não ulcerosas sobre grandes extensões cutâneas, além de não haver resposta terapêutica considerável, ocorrendo em pacientes com anergia a antígenos de Leishmania (BRASIL, 2010). O diagnostico clínico de leishmanioses, particularmente leishmaniose cutânea é difícil devido à ocorrência de doenças de espectros clínicos semelhantes, mas de causas diferentes, como hanseníase, câncer de pele, tuberculose e micoses cutâneas, por exemplo, em áreas endêmicas de leishmanioses (REITHINGER et al., 2007). 18 Os métodos diagnósticos parasitológicos padrões são exame microscópico de aspirados de biopsias corados em Giemsa, exame histopatológico de biopsias fixadas de lesões ou ainda culturas obtidas de aspirados ou triturados de biopsias. Os métodos microscópicos são mais comuns porque possuem custo relativamente baixo, e métodos mais sofisticados são raramente encontrados nos sistemas de atenção à saúde dos países nas áreas endêmicas. Os métodos de cultura são mais informativos quanto à espécie do agente etiológico, mas requerem maior capacitação técnica e maior tempo para produção dos resultados, além de serem mais caros (REITHINGER et al., 2007). Estes métodos possuem sensibilidade variável e apresentam limitações quanto à carga parasitária no material biológico analisado. Embora existam métodos moleculares altamente sensíveis, mesmo frente a amostras de baixa carga parasitária, baseados em PCR, este tipo de procedimento requer substancial infraestrutura laboratorial, alto nível de capacitação técnica e são de alto custo, o que os tornam inviáveis na maioria dos países em áreas endêmicas de leishmaniose. O diagnóstico sorológico apresenta problemas de sensibilidade, especificidade e não permite distinção entre infecções atuais ou anteriores (REITHINGER et al., 2007). Particularmente, há um problema de imunorreatividade cruzada entre antígenos de L. amazonensis e T. cruzi que ocasionam identificações falso-positivas dificultando o resultado conclusivo do diagnóstico (PERINOTO et al., 2010). Embora existam quimioterápicos para leishmanioses, os medicamentos usados são caros, limitados e tóxicos. Além do mais, os tratamentos quimioterápicos disponíveis são ameaçados por resistência às drogas pelos parasitas. A prevenção das leishmanioses, assim como todas as doenças infecciosas, é superior ao tratamento devido ao acometimento da saúde do paciente, bem como a desfiguração causada no decorrer de algumas manifestações clínicas da leishmaniose. Uma vacinação profilática pode provar ser a estratégia mais efetiva ao controle da infecção e dispersão deste grupo de doenças (DUNNING, 2009). No entanto, até o momento não existe relatos sobre uma vacina efetiva para qualquer forma de leishmaniose humana. Os patógenos causadores da LTA são parasitas protozoários digenéticos do gênero Leishmania sp., pertencentes à ordem kinetoplastida e família Trypanosomatidae (CUNNINGHAM, 2002). Existem sob duas formas morfológicas principais, de acordo com seu estágio de desenvolvimento no vetor como 19 promastigotas flageladas e como amastigotas não flageladas em relação parasitária com células do sistema fagocítico mononuclear dos hospedeiros vertebrados (CUNNINGHAM, 2002). A transmissão ao homem e animais silvestres ocorre pela picada das fêmeas de flebotomíneos (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae), de aproximadamente 30 espécies pertencentes aos gêneros Lutzomya e Psychodopygus. A exceção é a espécie Leishmania major que pode também ser transmitida por pequenos roedores (CUNNINGHAM, 2002). O parasita L. (L.) amazonensis é endêmico em locais onde existem florestas primárias e secundárias nas cinco regiões do Brasil, como nos estados de Rondônia, Amazonas, Tocantins, Pará e Maranhão na Amazônia Legal; na Bahia na região nordeste; em Goiás no Centro-Oeste; São Paulo e Minas Gerais no Sudeste e no Estado do Paraná na região Sul. Além do hospedeiro humano, evidências experimentais sugerem que os roedores Proechymis e o Oryzomys são reservatórios de transmissão do parasito L. (L.) amazonensis. Em Rondônia e no Amazonas seus vetores são os flebotomíneos L. reducta, L. olmeca nociva e, principalmente L. flaviscutellata. Este flebotomíneo tem ampla distribuição geográfica, além dos estados onde há distribuição de L. (L.) amazonensis, abrangem os demais estados da região norte, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal (BRASIL, 2007). Aproximadamente vinte e uma espécies podem infectar mamíferos (BRASIL, 2010). Nas Américas são reconhecidas onze espécies dermotrópicas causadoras da doença humana e oito espécies que podem infectar somente animais. Destas sete espécies foram identificadas no Brasil, seis do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. As mais importantes causadoras de doenças são Leishmania (Viannia) braziliensis, L. (L.) amazonensis e L. (V.) guyanensis. (BRASIL, 2007). Dentre os agentes etiológicos de leishmaniose, Leishmania (L.) amazonensis merece atenção devido à amplitude e gravidade das manifestações clínicas que apresenta (BARRAL- NETTO; BARRAL, 1987; PEREIRA; ALVES, 2008), dentre elas leishmaniose cutânea localizada, disseminada e a forma cutânea difusa (BRASIL, 2010). Em relação à morfologia dos parasitos do gênero Leishmania ao longo de seu ciclo biológico, as principais diferenças são as dimensões das células e a estrutura 20 do flagelo que nas promastigotas se estendem para além da superfície celular, enquanto que nas amastigotas fica confinado na bolsa flagelar (BRASIL, 2006). As promastigotas são fusiformes e detentoras de flagelo na parte anterior do corpo celular. Possuem medidas variáveis em torno de 10 a 15 pm de comprimento e 1,53,5 µm em sua parte mais larga. A amastigota não flagelada pode ter formato esférico, oval ou fusiforme de diâmetros de 1,5 a 3,0 x 3,0 x 6,5 µm (GLEW et al. 1988; BRASIL, 2006). Ambas as formas possuem um núcleo grande que ocupa a maior parte do volume intracelular e um plastídeo associado à estrutura mitocondrial, chamado de cinetoplasto (BRASIL, 2006). Em seu interior há uma rede compactada de DNA circular que compõe cerca de 30% do DNA do parasita (SIMPSON, 1968; DE SOUZA; ATTIAS; RODRIGUES, 2009; FLEGONTOV et al., 2009; HORIKAWA, 2010). Na matriz citoplasmática estão contidos o Golgi, o retículo endoplasmático, ribossomos, vacúolos e inclusões. A membrana plasmática é associada à microtúbulos no lado citoplasmático (BRASIL, 2006). O início do ciclo de vida pode ser considerado a partir do repasto sanguíneo das fêmeas dos flebotomíneos (Figura 1). Após a picada no hospedeiro vertebrado infectado, o mosquito é contaminado pela ingestão de sangue contendo monócitos e macrófagos infectados. No intestino do mosquito os parasitas diferenciam em promastigotas e iniciam intensa reprodução assexuada por fissão binária (DE ARAÚJO SOARES et al., 2003). As formas promastigotas se subdividem em formas promastigota procíclica proliferativa extracelular alongada que se fixa a parede do intestino ou forma estacionária infectante promastigota metacíclica encontrada na foz e na parte anterior do intestino, que não possui capacidade de se fixar na parede do intestino e migra para partes do aparelho bucal e então ao local da inoculação no hospedeiro vertebrado (CUNNINGHAM, 2002; ALMEIDA et al., 2003; REAL, MORTARA; RABINOVITCH, 2010). 21 Estágio no inseto vetor Divisão no intestino e migração ao proboscídeo Repasto sanguíneo As amastigotas se transformam em promastigotas dentro do intestino Ingestão de célula parasitada Estágios no hospedeiro vertebrado As promastigotas são fagocitadas por macrófagos As promastigotas se transformam em amastigotas dentro dos macrófagos As amastigotas se multiplicam nas células de vários tecidos, incluindo macrófagos Repasto sanguíneo Figura 1: Ciclo biológico de Leishmania sps. no hospedeiro vertebrado e no inseto vetor (modificado de http://www.cdc.gov/parasites/leishmaniasis/biology.html). No próximo repasto sanguíneo, após a picada do mosquito na pele do vertebrado, uma pequena poça de sangue é formada quando a fêmea ingere sangue. As promastigotas infectantes são expelidas nesta poça de sangue, adentrando o corpo do hospedeiro vertebrado (KANE; MOSSER, 2000). Este período de multiplicação e diferenciação ocorre entre quatro a sete dias, e coincide com o período de maior infectividade em relação a picadas dos mosquitos, após o qual as formas infectantes em alta densidade migram à válvula cardíaca. Aproximadamente, entre uma e mil promastigotas metacíclicas são regurgitadas neste evento (ALMEIDA et al., 2003). As formas promastigotas metacíclicas, por intermédio de uma diversidade de proteínas de superfície se ligam a receptores dos macrófagos. O processo de entrada no macrófago pode ser auxiliado por proteínas do complemento e anticorpos presentes no soro do hospedeiro. Subsequentemente 22 ocorre a formação do vacúolo parasitóforo (VP) encerrando o parasito. O VP então se funde com os lisossomos formando o fagolisossoma (BRODSKYN et al., 2003). Após a incorporação aos fagolisossomos, as promastigotas diferenciam-se em formas amastigotas. As amastigotas se proliferam e após a lise do macrófago infectam as células vizinhas (CUNNINGHAM, 2002). Fatores quimiotáticos presentes na saliva do mosquito atraem maior quantidade de células fagocíticas ao local da mordida, aumentando o número de células infectadas. No mecanismo das espécies dermotrópicas de Leishmania, as lesões permanecem na pele, mas nos mecanismos das espécies viscerotrópicas, os parasitos se dispersam da lesão de pele inicial ao fígado, baço e medula óssea. Os parasitos replicam intensamente dentro das células retículo – endoteliais, rompem e dispersam-se através da infecção das células fagocíticas adjacentes, dentro do mamífero hospedeiro. O mecanismo pelo qual o rompimento dos macrófagos infectados ocorre, ainda não está elucidado. Não há evidências conclusivas sobre um possível papel efetor das células do hospedeiro, se são fisicamente rompidas pela infecção ou se sofrem apoptose (PONTE-SUCRE, 2003). Os sintomas humanos de leishmaniose são os efeitos do rompimento destas células. Na ocorrência de uma nova picada de fêmea de flebotomíneo para alimentação de sangue, os macrófagos infectados são reinoculados, dando prosseguimento ao ciclo de biológico do parasita (KANE; MOSSER, 2000). 1.3. A resposta imunológica contra Leishmania spp. O início da relação parasita-hospedeiro pode ser considerado como o momento da picada do flebotomíneo na pele do hospedeiro vertebrado. A pequena poça de sangue é formada por efeito mecânico do probóscide além de componentes da saliva, como a enzima hialuronidase (ALMEIDA et al., 2003). A indução de resposta imune de hipersensibilidade do tipo tardia pela saliva do flebotomíneo é descrita, levando em consideração a existência de correlação entre níveis de IgG1 e IgE antiglândula salivar e resposta hipersensitiva do tipo tardia a antígenos de Leishmania em crianças de áreas endêmicas de leishmaniose visceral (GOMES et al., 2002). A resposta imune inata em leishmaniose é primeiramente mediada por neutrófilos, monócitos/macrófagos e células dendríticas (OKWOR; UZONNA, 2009), 23 sendo que o macrófago ativado é a principal célula efetora da morte do parasita na forma amastigota e promastigotas opsonizadas pelo complemento ou imunoglobulinas. A ativação dos macrófagos é feita principalmente por linfócitos T auxiliares, que após a apresentação de antígenos podem se diferenciar em duas subpopulações de linfócitos TH1 e TH2, ambas com atuação na modulação da resposta imune, além das demais células apresentadoras de antígenos (APC) (BRASIL, 2006). As formas promastigotas procíclicas no ambiente extracelular ficam sujeitas a ação de componentes da imunidade inata do hospedeiro como fatores do sistema complemento, podendo ocorrer à liberação de antígenos imunorreguladores. As formas amastigotas são liberadas após a fissão da célula hospedeira e interagem com células do sistema imune, podendo ser fagocitadas e apresentar peptídeos antigênicos via receptores de superfície MHC (PEREIRA; ALVES, 2008). Estudos em modelos experimentais murinos de infecção por L.(L.) major evidenciaram que existe uma relação de desequilíbrio entre resposta mediada por linfócitos TH1 e TH2, que resultaria na resistência ou suscetibilidade do hospedeiro à infecção. Este modelo serve como base para a compreensão da relação parasitahospedeiro de diversas doenças infecciosas (BRASIL, 2006). Entre os parasitas do gênero Leishmania, a resposta imune do hospedeiro mediada por linfócitos TH1 mediante a apresentação de antígenos por uma célula fagocítica infectada, através da secreção de citocinas características como IL-2, IFNγ, IL-12 e TNF-α pode conferir resistência ao hospedeiro vertebrado devido ao direcionamento de mecanismos celulares de morte dos parasitos efetivos como fagocitose. Por outro lado, o estabelecimento de resposta por células TH2, que secretam citocinas como IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, TGF-β, pode direcionar a mecanismos humorais relacionados à eosinófilos, IgE e IgG1, que acarreta o desenvolvimento da infecção (CUNNINGHAM, 2002; ALMEIDA et al., 2003; PEREIRA; ALVES, 2008; SAKTHIANANDESWAREN; FOOTE; HANDMAN, 2009; COELHO et al., 2010). A relação TH1/TH2 em L.(L.) amazonensis é controversa nos modelos murinos de infecção, sendo fortemente associada ao perfil genético das linhagens de camundongos utilizadas, bem como as características fenotípicas intrínsecas destes em relação à resposta TH1 de camundongos resistentes. Mas as hipóteses para o fenótipo suscetível variam entre reposta TH2 intrinsecamente predominante, tanto 24 como ausência de resposta TH1 ou ainda por uma resposta misturada entre TH1 e TH2 (PEREIRA; ALVES, 2008). Em relação ao modelo de infecção, os camundongos C57BL/6 infectados por L.(L.) major desenvolvem uma resposta TH1 e fenótipo de resistência. Os camundongos BALB/c desenvolvem uma resposta TH2 e infecção crônica progressiva. E, os camundongos deficientes em proteínas especificas, por eliminação genética ou mediada por anticorpos, apresentam o papel central de citocinas especificas incluindo INF-γ, IL-4, IL-10 e IL-12 na proteção. Desta forma, os camundongos BALB/c são importantes modelos de suscetibilidade a infecção, e os camundongos C57BL/6 são modelos de resistência a doença e seus determinantes. O hamster sírio é considerado como um modelo mais representativo para o estudo do lado progressivo da doença humana, porque, apesar da resposta imune TH1 do hamster, ele desenvolve doença progressiva por causa da atividade de iNOS reduzida (BIRNBAUM; CRAFT, 2011). Além disso, alguns estudos colocam em questão se o fenótipo TH1 predominante de células T CD4 + é indicativo absoluto de proteção contra infecções de L.(L.) amazonensis, demonstrando que o paradigma TH1/TH2 permanece inexplicado para L.(L.) amazonensis (PEREIRA; ALVES, 2008). A hipótese de que os parasitos do gênero Leishmania são capazes de modular a resposta imune do hospedeiro a fim de promover o desenvolvimento e estabelecimento da infecção é amplamente aceita e descrita, sendo geralmente associada ao favorecimento de resposta mediada por linfócitos TH2 (ALMEIDA et al., 2003; PEREIRA; ALVES, 2008; SILVEIRA et al., 2009; COELHO et al., 2010). Os neutrófilos secretam citocinas como IL-12 e TGF-β e podem apresentar antígenos via MHC de classe II na presença do fator de estimulação de colônias de granulócitos e macrófagos - GM-CSF. É possível que neutrófilos infectados apoptóticos constituam uma fonte inicial de antígenos para células dendríticas. As células dendríticas maduras não são capazes de ingerir promastigotas, entretanto, estas células fagocitam e armazenam amastigotas. Peptídeos antigênicos liberados neste processo podem ser usados por APC no processo de reconhecimento antigênico (ALMEIDA et al., 2003). Há evidências de que cisteíno-proteases em L.(L.) amazonensis inibem a apresentação de antígenos pela clivagem de moléculas de MHC de classe II no vacúolo parasitóforo, sugerindo um mecanismo imunorregulatório potencial do 25 parasita e que a resposta imune adaptativa pode ser conduzida por moléculas do MHC de classe I durante a infecção murina, levando a ativação de células T CD8+ durante infecções (PEREIRA; ALVES, 2008). De modo geral, a ativação dos macrófagos infectados é relacionada à citocina IFN-γ, autócrina ou produzida por linfócitos T auxiliares, também, como mencionado anteriormente por linfócitos T CD4+ e CD8+; citocinas como IL-12, IFN-γ, TNF-α, linfotoxinas e algumas quimiocinas produzidas por macrófagos são envolvidos na ativação de macrófagos (BRASIL, 2006). A produção de IL-12 por células dendríticas e macrófagos levam linfócitos T naive a se diferenciar em células TH1 e induz a produção de IFN-γ por células T e células NK. A ação conjunta de INF-γ e TNF-α, ativa o gene iNOS, resultando na produção de NO (CUNNINGHAM, 2002). O fato de que pessoas infectadas adquirem imunidade contra reinfecções indica a viabilidade do desenvolvimento de uma vacina (NAGIL; KAUR, 2011). A primeira geração de vacinas para leishmaniose compreende o uso de parasitas mortos ou atenuados, de espécies unitárias ou misturas com ou sem adjuvantes. Outra abordagem neste sentido é o uso de parasitas modificados geneticamente para conter genes sensíveis a drogas ou depleção de genes essenciais à sobrevivência posterior do parasita, conhecida como cassetes suicidas (NAGIL; KAUR, 2011). Questões de segurança e produção em larga escala limitam o uso de vacinas de parasitas atenuados. Embora existam preparações seguras de vacinas com parasitas mortos, que possuem razoável imunogenicidade e algumas evidências de proteção, ainda não existe uma vacina profilática eficaz (NAGIL; KAUR, 2011). As vacinas de segunda geração são baseadas na aplicação de subunidades definidas de antígenos. Diversas tecnologias são empregadas na produção e direcionamento destas subunidades definidas tais como síntese química, expressão recombinante, parasitas Leishmania sps. geneticamente modificados, bactérias ou vírus carreando genes de antígenos de Leishmania, e frações nativas purificadas de parasitas (NAGIL; KAUR, 2011). O desenvolvimento de vacinas de segunda geração para Leishmania tem incluído proteínas recombinantes, poliproteínas, vacinas de DNA, formulações 26 lipossomais e sistema de entrega de vacinas baseados em células dendríticas (EVANS; KEDZIERSKI, 2011). Desta forma o desenvolvimento de vacinas de segunda geração é baseado na identificação de proteínas através de purificação de classes particulares, como proteínas envolvidas na infecção ou que interferem em funções do sistema imune, tais como produção de citocinas, apresentação de antígenos ou ativação celular. Por exemplo, proteínas envolvidas na invasão do parasita à célula hospedeira como protéinas de superfície ancoradas por glicosilfosfatidilinositol. Outra categoria de proteínas utilizadas são aquelas presentes em ambos os estágios celulares promastigota e amastigota ou proteínas presentes em apenas um destes estágios (SOTO et al., 2009). Existem trabalhos envolvendo proteínas selecionadas por “screening genômico”, isto é, sequências de genes em fase aberta de leitura cujas sequências deduzidas de aminoácidos contêm epítopos antigênicos conhecidos, assim como o desenho de proteínas recombinantes contendo epítopos antigênicos de várias proteínas diferentes (SOTO et al., 2009). A primeira vacina aprovada para leishmaniose visceral canina, leishmune® é uma fração purificada chamada ligante fucose-manose (FML) e saponina como adjuvante, e foi caracterizada como um complexo antigênico de L. donovani e o principal antígeno é NH36, uma enzima envolvida na construção do DNA do parasita (DUNNING, 2009). Em seu artigo de revisão, Nagil e Kaur (2011) listaram 17 antígenos definidos de Leishmania empregados em vacinas: “Os antígenos definidos empregados nestas vacinas incluem: a glicoproteína 63 (gp63), glicoproteínas de membrana 46 (gp46 ou M-2), ligante de fucose manose (FML), Homólogo de Leishmania de receptores de cinase C ativada (p36 ou LACK), NH36, quimera Proteína Q, Cisteíno protease (CP)B e CPA, GRP78, antígenos LD1, proteína B1 hidrofílica e acilada de superfície (HASPB1), LCR1, proteína salivar 15 (SP15), antígeno de superfície de promastigota 2 (PSA-2), A-2, histona H1, MML, Fator de crescimento e iniciação de Leishmania (LeIF),Homólogo de L. major de proteína-1 eucariótica induzida por estresse (LmSTI1), Homólogo de L. major de antioxidante tiol-específico eucariótico (TSA) e Leish-111f.” Apesar deste número de antígenos definidos conhecidos, apenas uma vacina de segunda geração está em estágio avançado de desenvolvimento. Esta é a vacina LEISH-F1 +MPL-SE, conhecida anteriormente como Leish-111f, é composta de três 27 poliproteínas recombinantes junto com os adjuvantes, lipídio monofosforil e esqualeno em uma emulsão estável (MPL-SE) (MODABBER, 2010). Atualmente em fase II de testes clínicos (SOTO et al.,2009). Além desta, existem outras três vacinas em fase de testes pré-clínicos na Europa, uma delas é a vacina sintética RAPSODI e as outras duas são vacinas de DNA como a LEISHDNAVAX (MODABBER, 2010). Recentemente, estudos in vitro realizados por Colhone e colaboradores (2009) demonstraram que o estímulo produzido por uma fração de proteínas ancoradas por GPI de membrana de L. (L.) amazonensis e proteolipossomos construídos a partir desta fração reduziram o percentual de infecção a macrófagos peritoneais murinos e o percentual de células amastigotas intracelulares (COLHONE et al., 2009). Os resultados do experimento de viabilidade celular e a observação de maior produção de NO nas culturas de macrófagos submetidas aos estímulos, evidenciam que os macrófagos foram ativados para matar o parasita intracelular Leishmania (L.) amazonensis. Associadamente, os proteolipossomos e a fração protéica utilizada para sua confecção induziram imunidade protetora em camundongos BALB/c de 50% e 60% respectivamente, após desafio com 104 formas promastigotas de L. (L.) amazonensis após 14 semanas (SANTOS et al., 2009). Os proteolipossomos foram imobilizados em eletrodos interdigitalizados, por uma técnica que envolve várias camadas em um filme poroso que permite confinamento de carga gerada nas reações biológicas e consequentemente, detectar variações na resposta elétrica. Os eletrodos foram capazes de detectar anticorpos específicos purificados, soro total de camundongos infectados com L. amazonensis e soro de camundongos infectados com T. cruzi diluídos a concentrações inferiores a 10-5 mg/mL com poder de distinção entre os dois soros totais, sem apresentar reatividade cruzada (PERINOTO et al., 2010). Estes resultados demonstram o potencial deste sistema mimético de membrana carregado com antígenos para o desenvolvimento de produtos biotecnológicos para o tratamento e diagnóstico de leishmanioses. Contudo, as proteínas de membrana do extrato bruto e as proteínas de membrana solubilizadas nos proteolipossomos mencionados ainda não foram identificadas.Embora exista certo número de estudos sobre as propriedades imunogênicas de proteínas de Leishmania sps. e sua viabilidade como candidatos para biomarcadores de diagnóstico e propósitos vacinais contra leishmanioses, informações no papel 28 funcional de antígenos de imunodiagnóstico relevantes são menos abundantes (KUMARI et al., 2008). A proteômica pode ser vista como uma abordagem experimental para explicar a informação contida nas sequências genômicas em termos de estrutura, função, e controle de processos biológicos e vias (AEBERSOLD; GOODLETT, 2001), seguindo o dogma central da biologia molecular: DNA → RNA → Proteínas (WATSON; SPARKMAN, 2007). Os principais mecanismos de regulação gênica em tripanosomatídeos são pós-transcricionais, principalmente pós-traducionais. A modulação pós-transcricional e pós-traducional de mRNA maduro e os níveis protéicos parecem ser realizadas por regulação da estabilidade do DNA, a taxa de iniciação de tradução e o tunover protéico. Em função de aumento da estabilidade das proteínas geradas, ocorrem diversas modificações pós-traducionais em proteínas de Leishmania sps. tais como acetilação, piroglutamilação N-terminal, deamidação, glicosilação, lipidação, como, por exemplo, a produção de proteínas ancoradas a membrana plasmática por domínios de glicosil-fosfatidilinositol. Tais modificações ocasionam efeitos de regulação de função, localização celular, atividade e interações moleculares. Outro aspecto relevante do ponto de vista da análise dos produtos gênicos é o fato de que 62%, 50%, e 50% dos genes sequenciados em Leishmania sp, T. cruzi e T. brucei respectivamente, não possuem função anotada (CUERVO et al., 2010). As tecnologias proteômicas viabilizam estudos funcionais de proteínas de Leishmania sps. a nível de organela e célula total (KUMARI et al., 2008). A proteômica é um campo de pesquisa emergente facilitado por numerosos avanços nos últimos anos em separação de proteínas, espectrometria de massas, sequenciamento e anotação de genomas e algorítimos de busca de proteínas.Atualmente a espectrometria de massas é a ferramenta mais importante da proteômica (AEBERSOLD; GOODLETT, 2001). Nos últimos anos, houve o surgimento de vários estudos utilizando abordagens proteômicas com o objetivo de elucidar as bases moleculares de processos fisiopatológicos da Leishmania. As técnicas de eletroforese bidimensional e immuno-blotting dos géis bidimensionais de extratos totais de proteínas solúveis de parasitas Leishmania donovani, associadas à espectrometria de massas, têm sido empregadas para identificação de antígenos diferenciais de pacientes humanos (FORGBER et al., 2006), ou para identificação de proteínas reguladas 29 diferencialmente em amastigotas axênicos e promastigotas de L. panamensis na faixa de pH de 5-7 (WALKER et al., 2006). Costa e colaboradores (2011) avaliaram o perfil proteômico solúvel total diferencial de Leishmania chagassi nas formas promastigota e amastigota, utilizando a tecnologia de altíssima reprodutibilidade 2-D DIGE (do inglês 2-D Difference gel electrophoresis) na qual marcações fluorescentes de comprimentos de ondas diferentes são utilizadas para análise de duas amostras no mesmo gel. Assim como a elucidação de mecanismos de secreção possivelmente envolvidos na virulência do parasita, através da identificação de proteínas diferencialmente secretadas no estágio promastigota (CUERVO et al., 2009), ou ainda a comparação de proteínas solúveis totais dos parasitas L. major e L. amazonensis no estágio promastigota (BROBEY et al., 2006). As estratégias proteômicas podem utilizar da combinação de técnicas clássicas de fracionamento de organelas e técnicas proteômicas para detecção de proteínas pouco abundantes e sub-representadas em análises de proteínas totais, tais como proteínas do peroxissomo ou proteínas de superfície (CUERVO et al., 2010). A investigação de mecanismo de secreção envolvendo exossomas, por exemplo, foi realizada utilizando fracionamento protéico, isolamento dos exossomos, marcação peptídica para análise quantitativa em condições diferenciadas de secreção, digestão com tripsina dos exossomos e subsequente análise por LCMS/MS com busca em bancos de dados dos espectros dos fragmentos para comparação entre as espécies L. donovani (Sudan S2), L. mexicana (MNYC/BZ/62/M379) e L. major (MHOM/IL/80/Friedlin) (SILVERMAN et al., 2010). A despeito do número de trabalhos envolvendo proteínas de Leishmania, publicações sobre análise proteômica de proteínas de membrana plasmática e de superfície de Leishmania são escassas. Dois trabalhos apenas apresentam eletroforese bidimensional de proteínas de membrana ou superfície celular de Leishmania. Contudo, não se trata da obtenção do perfil de proteínas totais de membrana resolvidas por eletroforese bidimensional e ensaiadas com soro por immuno-blotting dos géis bidimensionais. Bhowmick e Ali (2009) descreveram a identificação de antígenos de membrana a partir da separação de extrato total de proteínas de L. donovani utilizando SDSPAGE e immuno-blotting. As bandas protéicas reativas ao soro de pacientes infectados foram eletroeluídas e as proteínas contidas nas bandas foram resolvidas 30 por eletroforese bidimensional. Os spots protéicos foram recortados, submetidos à proteólise e analisados por espectrometria de massas MALDI-TOF/TOF. Kamoun-Essghaier e colaboradores (2005) descreveram a identificação de proteínas imunorreativas de uma fração de proteínas de membrana de 30 a 36 kDa de promastigotas de Leishmania infantum por duas abordagens. Pela primeira abordagem, bandas protéicas coradas em azul de Coomassie que foram especificamente reativas com soro de pacientes de leishmaniose visceral, foram cortadas do gel e submetidas à digestão enzimática. Os peptídeos obtidos foram sequenciados por Degradação de Edman em um sequenciador automatizado. As sequências foram atribuídas às proteínas a proteína mitocondrial integral transportadora de ADP-ATP de L. major, uma NADH citocromo redutase b5 hipotética e uma proteína mitocondrial transportadora hipotética. A segunda abordagem consistiu na utilização de eletroforese bidimensional combinada a espectrometria de massas acoplada a nanocromatografia – nanoLC-MS/MS. Para tal foi utilizado um espectrômetro de massas de ionização electrospray e análise de massas Quadrupole-Time Of Flight – QTOF. Seis spots compreendidos entre os valores de pH de 6,7 a 7,4 e de massas de 30-36 kDa corresponderam as proteínas: subunidade β da proteína de ligação de guanidina a nucleotídeos, antígeno homólogo ao receptor da proteína kinase C – LACK e a um provável membro da família de aldeído-redutase. Um spot foi identificado como uma provável ubiquinolcitocromo C redutase (EC 1.10.2.2). Outros spots foram identificados como formas truncadas do fator de elongamento 1α. Os autores deste trabalho registraram patentes dos antígenos viáveis para a produção de um kit diagnóstico pra leishmaniose visceral, contendo as proteínas identificadas (United States Patent Application 2006021105). 31 2. OBJETIVO O objetivo deste trabalho foi identificar proteínas antigênicas de membrana de Leishmania amazonensis, com potencial uso para a construção de protótipos vacinais e diagnósticos. 32 3. MÉTODOS As amostras utilizadas foram extratos de proteínas de membrana de L.(L.) amazonensis (IFLA/BR/67/PH8), quantificadas pelo método de Lowry possuindo concentração protéica variável. O primeiro lote de amostras obtido possuía concentração protéica de 0,5 mg/mL e o segundo lote 6 mg/mL. Além das amostras supracitadas, o soro de camundongos BALB/c infectados pelo parasita L.(L.) amazonensis foram cedidos pela Dra. Marcelle Colhone e Dr. Pietro Ciacanglini do Laboratório de nanotecnologia e sistema miméticos de membrana do Depto de Química da FFCLRP-USP. A digestão com tripsina das proteínas em gel e as análises em espectrômetro de massas LCMS-IT-TOF de amostras foram realizadas pela Dra. Bibiane Monson de Souza, sob a coordenação do Prof. Dr. Mário Sérgio Palma. 3.1. Eletroforese em condição desnaturante (SDS-PAGE) A massa molecular aparente das proteínas foi determinada pelo método descrito por Laemmli (1970), utilizando-se do sistema Hoefer Mini-VE (Amersham Biosciences – GE), que produz géis de 8 x 9 cm. Inicialmente, foi utilizado 5%T de poliacrilamida no gel de empilhamento e 12,5%T no gel de separação. As amostras foram secas e adicionadas a 15 µL de tampão de amostra contendo 20% (m/v) de dodecil sulfato de sódio – SDS, 87% (v/v) de glicerol, ditiotreitol a 5,26% (m/v), azul de bromofenol, solução de Tris pH 6,8 a 6,23% (v/v) e então levadas ao banho-maria a 100ºC por 5 minutos e aplicadas no gel. Padrões de peso molecular foram utilizados nos géis para determinar a mobilidade relativa de cada proteína. Para a visualização das proteínas fracionadas no SDS-PAGE, o gel foi corado pela prata segundo o método descrito por Blum e colaboradores (1987), ou corados por Coomassie Coloidal G-250 e Coomassie Brilliant Blue R-250 (CBB) em aplicações de amostra de 30 e 40 µg de proteínas. Após a corrida eletroforética, os géis foram colocados em solução fixadora, constituída de ácido acético 10% (v/v), metanol 40% (v/v) e água, por 30 minutos, e subsequentemente, em solução de corante por 12 h. 33 3.2. Immuno-blotting A técnica de eletrotransferência do experimento de immuno-blotting foi executada de acordo com o método de Towbin e Gordon (1979), com a substituição da membrana de nitrocelulose por polivinilfluorideno (PVDF). As alíquotas de extrato bruto solubilizado de membrana plasmática de L. (L.) amazonensis na forma promastigota foram submetidas à eletrotransferência do gel de poliacrilamida para membrana de PVDF em solução tampão de transferência composta por Tris 20 mM, Gly 192 mM, SDS 0,1% (m/v), pH 8,3 em metanol a 10% (v/v), utilizando-se da cuba de eletrotransferência Semi-Dry TE 70 (Amersham Biosciences – GE). Após a medição do comprimento e altura verificou-se que os géis de separação possuíam as dimensões de 8,6 x 8,4 cm e foram utilizadas estas medidas para recorte das membranas de PVDF. As membranas recortadas foram imersas em metanol para ativação por 1 minuto, depois em água por 5 minutos e em seguida, as membranas foram imersas no tampão de eletrotransferência por 10 minutos juntamente com 6 folhas de papel filtro recortadas em dimensões idênticas as das membranas de PVDF. O gel de poliacrilamida foi imerso no tampão de eletrotransferência por 30 minutos para equilíbrio neste tampão. As folhas de papel, gel de poliacrilamida e membrana de PVDF foram levados para a cuba de eletrotransferência e empilhados na superfície do cátodo da cuba, colocando-se primeiro as 3 folhas de papel filtro, em seguida o gel, subsequentemente a membrana e outras 3 folhas de papel filtro. Os parâmetros elétricos foram 50 V, 70 mA por 1 a 10 minutos para os géis com dimensões de 8,6 x 8,4 cm. Ao adicionar as folhas utilizou-se de um tubo de plástico para retirada de bolhas de ar que possivelmente diminuiria a eficiência da transferência das proteínas. Após a eletrotransferência, a membrana de PVDF foi imersa em solução tampão TBS-Tween 20 a 0,1% (v/v) pH 7,4, 3 vezes de 5 minutos. Em seguida, a membrana foi imersa em 100 mL de tampão TBS-Tween 20 a 0,1% (v/v) e leite em pó desnatado 5% (m/v) em temperatura ambiente por 30 minutos. Após este período a membrana foi lavada com tampão TBS-Tween 20 a 0,1% (v/v) 3 vezes de 5 minutos para retirada do excesso de leite. A solução de anticorpos primários foi feita pela solubilização de soro total de camundongos infectados por L. amazonensis em TBS-Tween 20 a 0,1% (v/v) e leite em pó 5% (m/v) a concentração de 1:75 (v/v) ou 34 1:50 (v/v). À membrana (8,6 x 8,4 cm) foi adicionada 25 mL da solução descrita acima e submetida à agitação por 18 horas a 4°C. Após essa etapa, a membrana foi lavada com 20 mL de TBS-Tween 20 a 0,1% (v/v) pH 7,4, por três vezes durante 10 minutos para remoção de anticorpos em excesso. A seguir, a membrana foi incubada com a solução de anticorpo secundário na diluição de 1:1000 em TBS-Tween 20 a 0,1% (v/v) por 1 hora, em temperatura ambiente. Após essa etapa, a membrana foi lavada com 20 mL de TBSTween 20 0,1% (v/v) pH 7,4 por três vezes durante 10 minutos cada lavagem a temperatura ambiente. Em sequência, a membrana foi submetida à revelação por substrato cromogênico 4-Cloro-1-Naftol na seguinte solução: 6mg de 4-cloro-1naftol, 1 mL de metanol, 10 mL de solução TBS pH 7,4 e 50 µL de peróxido de hidrogênio a 30 volumes. 3.3. Digestão tríptica em gel de poliacrilamida das bandas protéicas Com base nos resultados do immuno-blotting foi feito um gel SDS PAGE corado em Solução de Coomassie Coloidal G-250 com 150 µg de conteúdo protéico em cada poço, dos quais foram recortados seis pedaços, descorados e submetidos à digestão tríptica em gel, de acordo com o método de Shevchenko (1996). Os extratos correspondentes a 18 bandas recortadas foram armazenados a 80ºC e subsequentemente submetidas à análise em um sistema de cromatografia líquida em fase reversa acoplada a um espectrômetro de massas híbrido com ionização por eletronebulização (Electrospray-ESI), armadilha de íons (Ion Trap-IT) e analisador do tipo tempo de vôo (Time off flight – TOF), LCMS-IT-TOF (SHIMADZU, Kyoto, Japão), conforme descrito a seguir. As bandas foram recortadas sobre uma superfície de vidro limpa, utilizandose um bisturi com troca de lâmina a cada banda, luvas sem talco, touca e máscara a fim de evitar contaminação. O primeiro experimento foi realizado em sala fechada e o segundo em uma capela de fluxo laminar. Os recortes foram transferidos para micro tubos de propileno com capacidade de 1,5 mL (eppendorf®) e imersos em água deionizada ultra-pura sob agitação constante, por 5 minutos. Em seguida foi executada a seguinte sequência de trocas de soluções: 100 µL de água durante 5 minutos; 35 100 µL de solução descolorante constituída de dihidrogeno carbonato de amônio 100 mM 50% (v/v) e acetonitrila 50% (v/v); 50 µL de água por 5 minutos; 50 µL de acetonitrila até o momento em que os pedaços de gel ficaram brancos e opacos. Os tubos foram submetidos à centrifugação a vácuo por 10 minutos. A solução meio reacional de digestão foi preparada a partir de 52 µL uma solução estoque de tripsina a concentração de 200 ng/µL adicionada a 988 µL de solução de dihidrogeno carbonato de amônio 50 mM/acetonitrila 10% (v/v). Para cada pedaço de gel de 1 mm3 foi adicionado 1 µL de solução de digestão, depois foi adicionada solução de dihidrogeno carbonato de amônio 50 mM até cobrir os pedaços de gel nos tubos, em banho de gelo e então acondicionados em banho de água com controle termostático de temperatura a 37ºC por 18 horas. A reação de digestão tríptica foi terminada pela adição de 0,6 µL de uma solução ácido fórmico/ água 1/3 (v/v) a cada tubo, pela inativação da tripsina devido à acidificação do meio reacional. O sobrenadante foi removido, adicionado a outro tubo com marcação correspondente e aos tubos contendo os recortes foram adicionados em cada 30 µL de solução de extração constituída de acetonitrila 50% (v/v), ácido fórmico 5% (v/v), água e após 45 minutos em banho de gelo foram submetidos a banho de ultra-som por 5 minutos e o sobrenadante foi recolhido para os tubos correspondentes. A extração foi repetida a fim de alcançar bom rendimento, em seguida adicionou-se 30 µL de solução contendo acetonitrila a 90% (v/v) e Ácido fórmico a 5% (v/v). Após 5 minutos o sobrenadante foi recolhido aos tubos e foram concentrados em centrífuga speedvac®. 3.4. Espectrometria de massas sequencial (MSMS) dos fragmentos peptídicos As amostras, obtidas a partir da digestão em gel com tripsina, foram analisadas através de análises de massas com a utilização do sistema LCMS-IT-TOF. Foi utilizado o sistema UFLC (SHIMADZU) acoplado diretamente (on line) ao espectrômetro de massas, contendo duas bombas LC-20AD, detector de arranjo de diodos SPD-M20A, amostrador automático SIL-20AHT e forno para coluna CTO-20A. A análise da amostra foi realizada sob gradiente de acetonitrila de 5 a 90% (v/v), contendo 0,1% de TFA (v/v), 36 por 90 minutos, utilizando-se uma coluna C-18 Shim-pack XR-ODS (3 x 100 mm), com poros de 120 Å, com partículas de 2,2 µm (SHIMADZU). A eluição dos componentes foi monitorada por absorbância ultravioleta a 214 nm através do sistema UFLC (SHIMADZU), com fluxo de 0,2 mL/min, durante 90 minutos. Os eluentes foram analisados no modo positivo (ESI+) contínuo, durante todo o experimento. A obtenção dos espectros de massas foi realizada em um Espectrômetro de Massas com fonte ESI, do tipo “Ion Trap-Time of Flyght” (IT-TOF SHIMADZU). O software LCMS solution (SHIMADZU) foi utilizado para controle de aquisição e análise de dados. Durante todos os experimentos a voltagem na agulha foi 4,5 kV e a voltagem no cone a 3,5 V. O fluxo de gás secante (Nitrogênio) foi de 100 L/h e o fluxo de gás nebulizador (Nitrogênio) de 1.5 L/hora. A detecção no espectrômetro de massas foi realizada com varreduras feitas no intervalo de m/z 200 a 4000 Da, com uma resolução de aproximadamente 15.000; o sistema de aquisição de dados foi operado em modo positivo contínuo. Os experimentos de espectrometria de massas sequenciais, ou seja, de fragmentação peptídica (MS2 ou MS/MS) foram realizados utilizando os mesmos parâmetros dos experimentos de MS. Foi utilizado Argônio como gás de colisão a uma pressão de 100 kPa. Os íons produzidos através dos experimentos MS/MS foram aprisionados e acumulados durante 50 msegs no íon trap, utilizando-se uma energia de colisão de 50% e frequência de 30 kHz. Os espectros de massas obtidos foram analisados primeiramente com as ferramentas do programa LCMS solution (SHIMADZU), utilizado para controle de aquisição, análise de dados e intermediação da identificação automática de proteínas em bancos de dados. 3.5. Identificação automática das proteínas A identificação proteômica por impressão digital de mapa de peptídeos foi realizada de acordo com o método de Pappin e colaboradores (1996), e a identificação probabilística baseada em comparação de espectros MS/MS não interpretados foi realizada de acordo com o método algorítmico de Perkins e colaboradores (1999) implementado no pacote de programas MASCOT®. Em ambos os modos de identificação mencionados, a informação do sequenciamento genômico dos organismos é utilizada pelo programa para simular 37 os resultado dos experimentos proteômicos e possibilitar comparação com os resultados experimentais reais, cujo resultado indica probabilidade alta de identificação da proteína. O programa pode utilizar as sequências gênicas através de servidores remotos em bancos de dados biológicos na rede mundial de computadores como o SWISSPROT e o NCBI, ou hospedar as informações em servidores locais que propiciam maior controle sobre o modo e o conteúdo do banco consultado em cada análise. As amostras consistiram de misturas de polipeptídeos parcialmente separadas em eletroforese e gel de poliacrilamida unidimensional e submetidas à digestão com tripsina, compondo possivelmente uma mistura de peptídeos de proteínas diferentes, submetidas à cromatografia em fase reversa acoplada a espectrometria de massas. A modalidade de busca utilizada no programas MASCOT® foi MS/MS ion search, levando em conta a análise de mistura de peptídeos na pontuação probabilística da identificação - MudPit score. Os parâmetros utilizados foram 2 clivagens de tripsina perdida, oxidação de metionina como modificação variável uma vez que a interação com os fatores de catálise e iniciação de polimerização de poliacrilamida, APS e TEMED tornam o suporte de poliacrilamida um ambiente oxidante aos polipeptídeos; carbamidometilação como modificação fixa, dado que uma vez que as proteínas são submetidas a esta reação, pelo uso do reagente Ácido Iodoacético como etapa prévia a digestão com tripsina, tolerância de massas do peptídeo de 0,6 Da e tolerância de massas do fragmento do MS/MS 1,2 Da. 3.6. Análise in silico das sequências de aminoácidos identificadas Após a identificação das proteínas, com seus códigos de acessos foram realizadas buscas nos bancos NCBI (PRUITT et al., 2009) e UniprotKB (JAIN et al., 2009), a fim de verificar anotações de informações experimentais ou inferência eletrônica de funções através das sequencias, sobre as estruturas proteínas envolvidas. Os bancos Gene Ontology (ASHBURNER et al., 2000), TriTrypDB (AURRECOECHEA et al., 2009) e ORTHOMCL (LI; STOECKERT; ROOS, 2003) foram consultados em relação a anotações de possíveis processos biológicos das proteínas identificadas. Após a identificação das proteínas, as sequências das 38 proteínas desconhecidas foram utilizadas para predição teórica das propriedades físico-químicas como massa molecular, pI, e índice de hidrofobicidade pelo programa ProtParamTools (http://ca.expazy.org/tools/protparam.html) (WILKINS et al., 1999). A identificação de possíveis domínios estruturais foi obtida pelo programa SMART (Simple Modular ArchitectureResearch Tool) (http://smart.embl- heidelberg.de/) (SCHULTZ et al., 1998) e Interpro (http://www.ebi.ac.uk/Tools/ InterProScan/) (APWEILER et al., 2001). A predição de segmentos transmembrânicos foi realizada pelos programas THMM 2.0 (www.cbs.dtu.dk/services/SignalP/) (EMANUELSSON et al., 2007), PSORT II (http://psort.hgc.jp/form2.html) (NAKAI; HORTON, 1999) e SOSUI (http://bp.nuap.nagoya-u.ac.jp/sosui/) (HIROKAWA; BOON-CHIENG; MITAKU, 1998). A identificação de possível peptídeo-sinal foi feita através do programa SignalP (http://www.cbs.dtu.dk/services/SignalP/) (BENDTSEN et al., 2004). O alinhamento de sequências foi feito através do (http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi) (ALTSCHUL et al., 1990). programa BLAST 39 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A solubilização das proteínas de membrana do parasita e a confecção dos proteolipossomos foram realizadas previamente conforme descrito por Colhone e colaboradores (2008). Brevemente, o tratamento da fração de membrana plasmática, obtida após ultracentrifugação, com o detergente Triton X-114, foi utilizado para extração de proteínas de membrana com âncoras de glicosil-fosfatidilinosiltol (GPI) com presença confirmada através de ensaio enzimático conforme descreve Colhone e colaboradores (2008), que foram relatadas como mediadoras em interação celular parasita-hospedeiro. Estas macromoléculas apresentam componentes não protéicos constituídos geralmente de carboidratos, lipídios e glicolipídios com longas cadeias carbônicas que podem aumentar o seu caráter hidrofóbico. A figura 2 representa uma proteína enfatizando a estrutura de sua âncora de GPI (PAULICK; BERTOZZI, 2008). 40 Figura 2: Âncora de Glicosilfosfatidil-inositol. (Adaptado de PAULICK; BERTOZZI, 2008). A abordagem adotada priorizou identificar as proteínas de membrana com atividade imunogênica dentre os componentes do EBS de proteínas de membrana do parasita L. (L.) amazonensis na fase promastigota. 4.1. Eletroforese em condição desnaturante SDS-PAGE Foram realizados géis de poliacrilamida SDS-PAGE com as amostras de EBS de células no estágio de promastigotas. Os géis com 40 µg de proteínas foram corados com solução de prata de acordo com o método de Blum e colaboradores (1987), os géis com aplicação de amostra de 80 µg, 140 µg e 150 µg foram revelados em CBB. Como observado na figura 3, não houve perfil inicial de separação de proteínas. Desta forma foi obtido melhor separação de bandas do que nos géis 41 anteriores, submetendo a amostra à desnaturação em tampão contendo SDS e DTT a temperatura de 37ºC por 30 minutos. Melhor perfil de separação foi obtido aplicando quantidades menores de amostra por poço, como 85 µg conforme pode ser visto na figura 4. De acordo com Lee e colaboradores (2005), proteínas de membrana podem formar agregados com o detergente dodecil sulfato de sódio SDS quando submetidos a banho de água fervente, o que justificaria em parte a ineficiência de separação observada nos experimentos com desnaturação à temperatura de ebulição. Figura 3: Figura 3: Perfil eletroforético em SDS-PAGE a 12,5%T comparativo por coloração em azul de coomassie e nitrato de prata de EBS e Proteolipossomos. Raias: 1 - Padrões de peso molecular de 14 – 97 kDa; 2 – Extrato bruto solubilizado (EBS), 40 µg; 3 – Proteolipossomos, 40 µg; 4 – EBS, 150 µg; 5 – Proteolipossomos, 150 µg. A: corados em prata; B: corados em CBB. 42 kDa 1 2 3 116 97,2 66,4 42,7 34,6 27 14.3 Figura 4: Perfil eletroforético em SDS-PAGE 12,5%T. Raias: 1- Padrões de peso molecular de 14 – 97 kDa; 2 e 3- EBS, 85 µg. Ambas amostras desnaturadas por SDS e DTT a 37ºC por 30 minutos. Nos géis com concentração de poliacrilamida total de 12,5%T foram observados sinais no início dos poços de aplicação, evidenciando a presença de proteínas que não migraram na corrida eletroforética, diferindo do perfil de um gel com 10%T no qual foi observada a presença de novas bandas no nível superior do gel e ausência de sinal no início do gel de separação conforme evidenciado pela comparação das imagens dos géis acima mencionados, assim como a menor resolução das bandas mais baixas no gel de 10%T do que no gel de 12,5%T. Schagger e von Jagow (1987) descreveram a separação de proteínas em gel de poliacrilamida com sistema tampão baseado em tricina, cuja resolução é melhorada e uniforme para proteínas em amplitude de massas de 1 a 100 kDa, o qual se apresenta como uma alternativa ao problema de resolução em diferentes concentrações de poliacrilamida. Baldwin e colaboradores (1993) e Fivaz e colaboradores (2000) relataram melhor eficiência de separação clivando as âncoras de glicosil fosfatidil inositol antes da separação eletroforotética em sistemas 1D e 43 2D, respectivamente, através do uso da enzima PI-PLC II e uso de PGNase F para remoção de ligações N-açúcar, com a obtenção de géis com boa separação eletroforética de proteínas. Os autores destes trabalhos atribuíram a eficiência de separação das proteínas de membrana após a clivagem das caudas lipídicas e glicolipídeos as propriedades conferidas como hidrofobicidade total diminuída, que resultaram em maior interação do detergente SDS com a molécula com consequente melhora da eficiência de migração diferencial no campo elétrico, melhor desenovelamento e desnaturação, menor interação com a matriz de poliacrilamida do gel e minimização de interação por hidrofobicidade intermolecular e agregação. A estratégia preferencial de análise em larga escala de proteínas de membrana, em linhas gerais consiste de separação por SDS-PAGE seguida de digestão em gel das proteínas dos spots, purificação dos peptídeos digeridos através de 2D-UPLC ou RP-UPLC, aplicação dos fragmentos purificados em placa de MALDI-TOF/MS para análise por PMF e sequenciamento de novo através de MS/MS (BODNAR, et al., 2003; WU et al., 2003; WU; YATES, 2003; YATES et al., 2005). As limitações dessa abordagem residem no número de proteínas presentes em uma mesma banda devido à complexidade da mistura de proteínas de membrana, que geram escores baixos na identificação em bancos de dados. A diminuição do número de proteínas presentes em uma banda/spot poderia ser obtida com a otimização da separação eletroforética que pode ser realizada através de variações nas técnicas utilizadas uni e bidimensional SDS-PAGE e IEF/SDS-PAGE, respectivamente. Alguns exemplos são, o sistema descontínuo de Laemmli (1970) em condição desnaturante glicina-SDS-PAGE e/ou a substituição da focalização isoelétrica em gradientes imobilizados de pH na eletroforese bidimensional por um método alternativo como 16-BAC/SDS-PAGE e CTAB/SDS-PAG (RABILLOUD et al., 1999; MOLLOY, 2000; SANTONI; MOLLOY; RABILLOUD, 2000; SCHAGGER, 2003). 4.2. Immuno-blotting Foram produzidos géis com 80 µg de cada amostra que foram submetidos à eletrotransferência para membrana de PVDF. Previamente ao immuno-blotting, 44 foram feitos dois géis carregados com 40 µg de proteínas totais e 40 µg de proteolipossomos, após coloração em prata apresentaram distribuição espacial idêntica das proteínas, como é observado na figura 5. 1 2 3 A 4 5 , 6 B Figura 5: Perfil eletroforético em SDS-PAGE e Immuno-blotting a 12,5%T. Raias: 1 e 3Padrões de peso molecular de 14 a 97 kDa; 2 e 5 – Proteolipossomos, 40 µg; 4 e 6 - EBS, 40 µg. A: Géis corados em prata; B: Immuno-blotting revelado em 4-Cloro-naftol. . A amostra empregada no immuno-blotting foi o EBS apenas. Devido a baixa concentração protéica da fração rica em GPI não foi realizado repetição do immunoblotting com esta amostra. A eletroforese em gel de poliacrilamida em presença de SDS com tampão baseado em tricina possui menor conteúdo de cross-linker e seus criadores relatam melhor eficiência de eletrotransferência de proteínas do que em um gel com sistema tampão baseado em glicina (SCHAGGER; VON JAGOW, 1987). Os anticorpos produzidos através da inoculação dos proteolipossomos em camundongos são específicos para as proteínas que foram incorporadas aos lipossomos, no entanto, a separação parcial em gel unidimensional obtida não é suficiente para avaliação do perfil imunogênico, conforme pode ser observado na figura 6. Será necessário realizar novos ensaios de immuno-blotting revelando géis com perfil de separação adequado para diferenciação de quais proteínas apresentam imunorreatividade. 45 1 2 3 4 5 Figura 6: Immuno-blotting de EBS e GPI. Raias: 1 e 3 - Padrões de pesos moleculares de 7 a 175 kDa.; 2- EBS, 80 µg; 4 – EBS, 40 µg; 5 – Fração GPI, 80 µg. Separado em gel de 12,5%T, immuno-blotting revelado em substrato cromogênico 4-cloro-naftol. 4.3. Identificação proteômica e caracterização das sequências desconhecidas Através da técnica de a cromatografia em fase reversa em escala semi-micro acoplada a um espectrômetro de ionização por eletronebulização (electronspray) LCMS-IT-TOF, proteínas de 18 bandas de géis foram processadas e submetidas à análise em, possibilitando a identificação de 12 proteínas por de comparação de espectros MS/MS não interpretados através do pacote MASCOT®. 46 As amostras de extrato de proteínas de membrana usadas na confecção dos proteolipossomos foram precipitadas e ressuspensas em solução tampão Tris-HCl 62,5 mM, pH 6,8 contendo 0,2% SDS (m/v) e submetidas à eletroforese 1D SDSPAGE. Em cada lote, um dos géis foi corado em 0,025% (m/v) azul de Coomassie R-250 e o outro submetido à immuno-blotting. A imunodetecção foi realizada com o uso do soro dos camundongos desafiados contra infecção por L.(L.) amazonensis, anti-IgG de camundongo produzido em coelho conjugado com peroxidase como anticorpo secundário e revelação em substrato cromogênico 4-Cloro-naftol. O perfil de proteínas apresentou 18 bandas de massas entre 17 e 106 kDa bem distinguíveis, dentre as quais 6 apresentaram sinal indicando imunogenicidade em immuno-blotting, cujas bandas de géis corados em azul de coomassie correlacionadas através dos fatores de retenção (RF) foram cortadas do gel, digeridas com enzima tripsina e submetidas à cromatografia líquida de alta eficiência em fase reversa acoplada a um espectrômetro de massas do tipo ESI-IT-TOF. Através da identificação em bancos de dados utilizando o software MASCOT® (PERKINS et al., 1999) na modalidade “MudPIT”, 12 proteínas foram identificadas com pontuação estatística significativa. Dentre as proteínas identificadas, as proteínas obtidas a partir de recortes de bandas de géis, relacionadas a bandas imunogênicas em immuno-blotting obteve-se proteínas de superfície, proteínas integrais de membrana conhecidas, novas proteínas e até mesmo proteínas solúveis. Tais como uma zinco metalo-protease, cisteíno-protease do tipo ubiquitinase, uma ATPase de superfície translocase do tipo P , proteína similar a GIPL galf transferase, além de uma proteína pouco conhecida potencialmente de superfície identificada também em Leishmania (L.) major e T. cruzi denominada Tuzin-like protein. Duas proteínas solúveis foram identificadas na amostras, a manose fosfato isomerase de L. (L.) amazonensis, uma proteína utilizada na discriminação de cepas e espécies de parasitas Leishmania spp. e uma tubulina-β geralmente associada a um complexo no microtúbulo, muito abundante no citoplasma e presente em todas as frações subcelulares de extratos protéicos. Além destas, outras cinco proteínas de função desconhecida foram identificadas por similaridade a sequências de L. (L.) major e suas estruturas primárias foram parcialmente caracterizadas por ferramentas de alinhamento múltiplo e predição de propriedades físico-químicas de proteínas. 47 Na Tabela 1 foram apresentadas as proteínas identificadas relacionando à banda do gel, o código de acesso, a pontuação probabilística da identificação em banco de dados e a sequência do peptídeo cujo espectro de MS/MS confere com o espectro MS/MS deduzido de um peptídeo tríptico teórico das sequencias protéicas dos organismos presentes no banco de dados consultado. Na Tabela 2 foram relacionadas às bandas dos géis e das membranas de immuno-blotting e a identificação das proteínas. 48 Tabela 1: Identificação proteômica de proteínas de Extrato Bruto Solubilizado de membrana de L. amazonensis. Banda Proteína Código de acesso Mascot Score* Score threshould** Sequências peptídicas PMLA2 metallo-peptidase, Clan MC, Family M14; zinc carboxypeptidase, putative 68128818 29 25 R.DAAGAQLHHTR.S PMLA4 hypothetical protein, unknown function [Leishmania major strain 68129375 24 21 R.LSSVPGMCDGCGAIK.N + Oxidation (M) PMLA5 tuzin-like protein [Leishmania major strain Friedlin] 68129360 26 20 R.GATVK.A 68129099 21 20 R.TGVAGLYLQVDR.Q 68128797 22 20 R.GRPLK.V 68129587 22 20 K.ESQEK.W 68127901 22 21 K.QDTATLATVR.R 68129000 21 20 K.LCATFEK.F 68129370 21 20 R.GKAYK.I 68129049 23 20 R.GTPQPATRR.A hypothetical protein, conserved [Leishmania major strain Friedlin GIPL galf transferase, putative [Leishmania major PMLA20 strain Friedlin] cysteine peptidase, Clan CA, family C19, putative; PMLA20 ubiquitin hydrolase, putative [Leishm phospholipid-translocating P-type ATPase PMLA8 (flippase), putative PMLA5 hypothetical protein, conserved [Leishmania major strain Friedlin] hypothetical protein, conserved [Leishmania major PMLA22A strain Friedlin] hypothetical protein, conserved [Leishmania major PMLA1 strain Friedlin] PMLA21A PMLA6 beta-tubulin [Leishmania major strain Friedlin] 68128896 27 25 K.LAVNLVPFPR.L PMLA1A mannose phosphate isomerase [Leishmania amazonensis] 155675728 15 12 K.GLTNDK.S *Mascot score: pontuação probabilística de identificação. **Score limiar: Probabilidade de a identificação ocorrer ao acaso (p> 0,005). 49 Tabela 2: Identificação proteômica nos géis de EBS de proteínas de membrana de L. amazonensis. BANDA RF GEL* MM GEL (kDa)** RF BLOT* MM BLOT (kDa)** NOME Código de acesso*** PMLA2 0,336170213 82,33 0,332869081 10,64 metallo-peptidase, Clan MC, Family M14; zinc carboxypeptidase, putative 68128818 PMLA4 0,53106383 51,13 0.495821727 65,99 hypothetical protein, unknown function [Leishmania major strain 68129375 PMLA5 0,570212766 46,47 0,622562674 45,47 tuzin-like protein [Leishmania major strain Friedlin] 68129360 hypothetical protein, conserved [Leishmania major strain Friedlin 68129099 PMLA5 PMLA20 0,541385435 56,42 0,495821727 65,99 PMLA20 PMLA8 0,837446809 PMLA21A 0,552753108 0,85097493 54,82 PMLA22A PMLA1 0,225531915 PMLA6 0,774468085 PMLA1A 28,2 23,25 GIPL galf transferase, putative [Leishmania major strain Friedlin] cysteine peptidase, Clan CA, family C19, putative; ubiquitin hydrolase, putative [Leishm phospholipid-translocating P-type ATPase (flippase), putative 68128797 68129587 68127901 hypothetical protein, conserved [Leishmania major strain Friedlin] 68129000 hypothetical protein, conserved [Leishmania major strain Friedlin] 68129370 hypothetical protein, conserved [Leishmania major strain Friedlin] 68129049 beta-tubulin [Leishmania major strain Friedlin] 68128896 mannose phosphate isomerase [Leishmania amazonensis] 155675728 *RF: Fator de retenção das bandas dos géis ou do immuno-bloting. **MM: Massa molecular calculada das bandas dos géis ou do immuno-blotting; ***Código de acesso ao NCBI. 50 Os valores dos fatores de retenção das bandas da membrana de immunoblotting e do gel de eletroforese submetido à análise, respectivamente, RFs de 0,332869081 e 0,336170213, evidenciam a imunogenicidade da proteína identificada da banda PMLA2, sendo uma proteína similar ao produto gênico predito de uma zinco-carboxi peptidase de L (L.). major correlacionada a um sinal antigênico do immuno-bloting revelado com soro de camundongos infectados por L. (L.) amazonensis. Até o presente momento, esta proteína não foi depositada em bancos de dados de L.(L.) amazonensis. A sequência do gene identificado indica uma metalopeptidase da família M14 e um domínio Nna1-símile que é relacionado à ligação de ATP/GTP. No genoma de L.(L.) major, 16 famílias de metalopeptidases são representadas. Metalopeptidases incluem aminopeptidases, carboxipeptidases e dipeptidases. Muito pouco destas proteínas tem sido estudadas, exceto por gp63, uma zinco-metaloprotease ancorada à membrana plasmática por glicosilfosfatidil inositol, que tem efetividade bem descrita em infecção e virulência de muitos tripanossomídeos. A maioria dos estudos que descrevem atividade de metaloprotease de Leishmania sps. está relacionada à atividade de gp63 (BESTEIRO et al., 2007). O alinhamento da sequência, através do programa BLAST, evidenciou proteinas com identidade de 76 a 93% nos organismos relacionados como L. donovani (93%), L. infantum (93%), L. mexicana (89%) e L. braziliensis (76%). A aplicação de restrição as sequências de L. amazonensis não resultou em sequências similares. O alinhamento de sequências no Blast resultou na identificação de 14 domínios conservados relacionados à subfamília M14 do CLAN MC no banco de dados MEROPS, pertencentes a Metalocarboxipeptidases (MCPs). Estas são exopeptidases que catalizam a hidrólise de aminoácidos do C-terminal do substrato. A banda de gel PMLA4 e sua correspondente em immuno-blotting apresentaram os seguintes valores de RF 0,53106383 e 0,495821727, respectivamente. Conforme mencionado anteriormente, a identificação proteômica automatizada por comparação a banco de dados leva em consideração produtos gênicos preditos, que não necessariamente possuem evidência experimental anterior em nível de proteína. Isto pode proporcionar que sejam identificadas nas amostras, proteínas experimentalmente inéditas, geralmente com funcionalidade desconhecida. 51 A sequência de resíduos de aminoácidos do produto gênico desconhecido foi utilizada para a predição das propriedades físico-químicas. A sequência possui 416 resíduos de aminoácidos, peso molecular de 43,94 kDa, ponto isoelétrico – pI de 8,5 e índice de hidrofobicidade médio (GRAVY) de 0,112. Foi predita hélice transmembrana de 17 resíduos na posição de 376 a 392 e 373 a 395 pelas ferramentas PSORT e SOSUI, respectivamente. Não houve predição de peptídeo sinal com valores estatisticamente significativos. Não houve identificação de domínios estruturais ou motivos pelas ferramentas SMART e Interpro. O alinhamento de sequência pela ferramenta Blastp, apresentou genes de função desconhecida com similaridades acima de 97% em L. donovani, L. infantum, L. mexicana e L. braziliensis. A banda PMLA5 com banda correspondente de sinal imunogênico no immuno-blotting, apresentaram os seguintes valores de RF 0,5702127 e 0,622562674, respectivamente. O peso molecular aparente foi de 45 kDa. A identificação proteômica resultou em duas proteínas, sendo uma previamente conhecida como Tuzina e a outra de função desconhecida. Os domínios conservados encontrados pelo Blastp foram domínios relacionados a caracterização de tuzina. A sequência identificada da proteína similar a tuzina de L. major possui 664 resíduos, peso molecular teórico de 71,88 kDa, valor de (pI) teórico 9,09 e valor de GRAVY -0,007. Foi predita 1 hélice transmembrana na posição 315-331 e na posição 313-333 pelas ferramentas PSORT e SOSUI, respectivamente. Não houve predição de peptídeo sinal. Não houve identificação de domínios ou motivos. TEIXEIRA e colaboradores (1995) descreveram um novo gene, que codifica uma proteína de 45 kDa em T. cruzi, adjacente a sequência gênica de amastina, que codifica uma proteína de superfície. O papel de tuzina em parasitos cinetoplastida ainda é desconhecido. Do ponto de vista estrutural, a sequência de amastina é uma glicoproteína de 174 resíduos de aminoácidos e possui quatro domínios hidrofóbicos distintos de 20-30 resíduos cada, sugerindo ser 4 passagens transmembrana. A sequência de amastina é altamente hidrofóbica enquanto que tuzina é altamente carregada. A relativamente baixa abundância de seu mRNA sugere que tuzina é uma proteína rara, de difícil detecção em immuno-blotting de frações subcelulares ou em ensaios de imunolocalização celular. Também não é conhecida relação 52 fisiológica ou estrutural entre amastina e tuzina. O genoma de T. cruzi contém 12 membros de amastinas, oito dos quais são arranjados em grupos re repetição alternada com genes de tuzina. Tuzina é uma proteína G-símile cujo nível de mRNA é constitutivo durante o ciclo de vida de T. cruzi (TEIXEIRA; KIRCHHOFF; DONELSON, 1995). As amastinas são a maior família de genes de proteínas expressas na superfície em Leishmania spp. São expressas pelos parasitas no estágio intracelular no hospedeiro. Assim como em T. cruzi, em L. (L.) major, o maior arranjo de amastina, que compreende de 21 a 54 genes é alternado com unidades de repetição de genes de tuzina. Em relação aos parasitos Leishmania cujos projetos genoma foram concluídos é reportado diferença nas sequências gênicas do arranjo de amastina e tuzina. Apesar de similar na organização, o arranjo amastina-tuzina e parece ser reduzido em tamanho, no mínimo pela metade em L. (L.) braziliensis. Em contraste a expressão de gp63, que é codificada por um agrupamento de genes de repetição, parece ser quatro vezes maior em L. (L.) brazilienses em comparação a L.(L.) major ou a L. (L.) infantum (PEACOCK et al., 2007). L. (L.) major possui 57 genes de amastina, muitos dos quais são alocados em agrupamentos de repetição em vários cromossomos, mas genes de tuzina são encontrados apenas em 3 loci, nos cromossomos 8, 34 e 36 (IVENS et al., 2005). O papel de tuzina ou amastina em L.(L.) amazonensis ainda é desconhecido. A segunda identificação protéica, resultante da banda PMLA5, foi uma proteína nova em Leishmania (L.) amazonensis e de função desconhecida em espécies do gênero Leishmania. Informações a respeito deste gene estão depositadas na base de dados UniprotKB sob o código de acesso “Q4Q3S2” e apresenta anotação do Gene Ontology de motivo de ligação a zinco obtido por inferência eletrônica da sequência. Este gene também está depositado na base TriTrypDB com a entrada “LmjF.33.2640”, que indica seus genes ortólogos nos organismos Leishmania braziliensis, Leishmania infantum, Leishmania mexicana, Trypanosoma congolense e Trypanosoma cruzi, e todos têm função desconhecida. Este registro ainda apresenta anotações do Gene Ontology de função molecular de ligação a íon de zinco, componente celular cobertura de vesícula COP II, além dos processos biológicos “transporte mediado por vesícula do RE ao GOLGI” e “transporte intracelular de proteínas”. 53 O resultado da análise pelo programa SMART apresenta um domínio na região de 192-245, chamado “LIM” cuja referência no banco Interpro indica pertencer a uma família de domínios de ligação a zinco. Este domínio está presente em proteínas de ligação a actina em humanos (ABLM1_HUMAN, O14639 UniprotKB) e proteína ricas em cisteína (CRIP1) (CRIP1_BOVIN, Q56K04 UniprotKB). A banda de gel PMLA20 e sua correspondente com sinal imunogênico no immuno-blotting, apresentaram os seguintes valores de RF 0,541385435 e 0,495821727, respectivamente. Os pesos moleculares aparentes foram 65,99 e 56,42 kDa, respectivamente. A análise da amostra oriunda desta banda resultou na identificação de uma proteína integral de membrana, conhecida como Galf transferase, e uma Cisteínopeptidase, semelhantes aos produtos gênicos de L. (L.) major. As Galf transferases são proteínas transmembranas do tipo II com caudas citoplasmáticas básicas e curtas no N-terminal, em torno de 20 resíduos, seguido por domínio transmembrana e um domínio C-terminal DXD canônico de glicosiltransferases. As transferases são localizadas no Golgi. Estas enzimas participam da síntese de glicosilinositol fosfolípides em L. (L.) major (ZHANG et al., 2004). Ainda no Golgi, UDP-α-Galf é adicionado ao LPG e/ou GIPL por Galactofuranosil transferases (GalfTs). A Galft mais bem estudada é aquela associada ao gene LPG-1 em L. (L.) major e L.(L.) donovani, que adiciona o β-Galf a estrutura esqueleto de LPG. A proteína codificada por LPG-1 é uma metaloglicosil transferase com estrutura de motivos conservada, incluindo uma calda citoplasmática, um domínio transmembrana e um motivo DXD de ligação a metal. Além do mais, LPG-1, parece ser responsável pela adição de Galft ao LPG somente e não estar envolvido na adição de Galf aos GIPL’s, bem como uma linhagem experimental deste parasita com depleção do gene de LPG-1 apresentou virulência atenuada (OPPENHEIMER; VALENCIANO; SOBRADO, 2011). Além de seu papel na síntese glicosilinositol fosfolípides, até o momento não há descrição de experimentos em nível de proteína, de GILP galf transferases de L. (L.) amazonensis exercendo interação antigênica direta em hospedeiros vertebrados. A segunda proteína identificada a partir da banda PMLA20 é uma proteína nova com função ubiquitina C-terminal hidrolases putativa. 54 Após a conclusão do projeto genoma de L. (L.) major, foram identificados dois homólogos de aspartato peptidase que clivam proteínas de membrana do tipo I e II, no entanto, os tripanossomídeos não possuem aspartato-peptidases pepsina-símile. Por outro lado, muitas enzimas da família das cisteíno-proteases como papaína e calpaína, assim como ubiquitina C-terminal hidrolases são expressas nestes organismos (IVENS et al., 2005). Estima-se que podem ser codificadas 65 cisteínoproteases em L. (L.) major, agrupadas em quatro classes e treze famílias, dentre as quais, dezenove genes codificam cisteíno-proteases envolvidas na ubiquinação. Os membros das famílias de C12 a C19 são ubiquitina C-terminal hidrolases (MOTTRAM; COOMBS; ALEXANDER, 2004). Enzimas deubiquitinadoras são um grande grupo de proteases que clivam proteínas ubiquitinadas ou ubiquitina-símile em diversos processos celulares, como por exemplo, na degradação de proteínas dependente de lisossoma e proteossoma (Turcu et al., 2009). As cisteíno-proteases são importantes fatores de virulência em Leishmania spp, sendo que são preferencialmente expressas em promastigotas metacíclicos de L.(L.) amazonensis do que em promastigotas procíclicos. (SOARES et al., 2003). O papel imunomodulatório de cisteíno-proteases parasitos Leishmania spp. ainda não está totalmente esclarecido. As cisteíno-proteases de L.(L.) mexicana e L. (L.) amazonensis têm sido implicadas na inibição de apresentação de antígenos por degradação de moléculas MHC de classe II no vacúolo parasitóforo. É bem descrita a atividade característica de cisteíno-peptidase de uma ubiquitina carboxi-terminal hidrolase integral a membrana externa de mitocôndrias por hélice transmembrana, pertencente à família C19 em Homo sapiens. Ocorrem em células do tecido esquelético, pâncreas, fígado e rim (NAKAMURA; HIROSE, 2008). Em uma consulta ao banco de dados OrthoMCL, é registrado a predição de 60 peptídeos antigênicos ao gene homólogo em L. (L.) major. O papel das ubiquitino hidrolases na relação parasita-hospedeiro em L. (L.) amazonensis ainda não foi elucidado. O gene de L. (L.) major identificado possui genes ortólogos em L. (L.) braziliensis, L. (L.) infantum, L. (L.) mexicana, T. brucei, T. brucei gambiensi, T. cruzi e T. vivax. Embora existam relatos de ubiquitina C-terminal hidrolases em experimentos com L. (L.) amazonensis, não há uma sequência depositada nos bancos de dados NCBI e UniprotKB, o que sugere ausência de trabalhos publicados em que ocorre caracterização em nível de proteína. 55 Da banda PMLA8 foi identificada a proteína integral de membrana ATPase translocadora de fosfolipídeos tipo-P de L. (L.) major. O cálculo do peso molecular aparente, em função do fator de retenção das bandas eletroforéticas, foi realizado através de interpolação gráfica, em que foi atribuído ao eixo de Y os valores de logaritmo de peso molecular aparente, e ao eixo de X, os valores em cm dos RF’s (Apendice A). Os valores dos RF’s das amostras têm que assumir valores intermediários ao intervalo formado pelos RF’s dos padrões de calibração para ser considerados estatisticamente significantes. Uma banda de gel de eletroforese apresentou valor de RF inferior a banda do menor padrão de calibração, cuja diferença numérica foi de 0,02383 e, consequentemente não pode ser matematicamente relacionada à sua correspondente no immuno-blotting. Contudo, a inspeção visual demonstra que esta banda tem posição semelhante a quarta banda imunogênica. Estudos sobre o mecanismo de ação da droga leishmaniscida Milfetosine, demonstraram que ocorre atividade de translocação direcionada para dentro, através da membrana plasmática de L. (L.) donovani. ATPases tipo-P foram relacionadas a esta atividade, assim como na translocação de fosfolipídios (PEREZVICTORIA et al., 2006). As P4 ATPases possuem papel essencial na formação de vesículas de transporte, como vesículas endocíticas (PAULUSMA; ELFERIK, 2010) e também na manutenção da distribuição assimétrica de fosfolipídeos na membrana de eucariotos, como fosfatidilserina, fosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina. A exposição de fosfatidilserina à face externa da membrana facilita a fagocitose por macrófagos (TANAKA; FUJIMURA-KAMADA; YAMAMOTO, 2010). As ATPases tipo-P são um grupo de bombas que contêm um motivo diagnóstico de fosforilação [DKTGTLT], localizado no centro hidrofílico do polipeptídeos, no qual é formado um intermediário aspartil-fosfato durante a hidrólise de ATP. Algumas P4-ATPases formam um complexo com uma subunidade-β não catalítica da família de CDC50 (TANAKA; FUJIMURA-KAMADA; YAMAMOTO, 2010). Estudos em infecção experimental por L. (L.) donovani sugerem que formas amastigotas do parasita pode se favorecer da regulação de perda de assimetria da membrana e exposição de fosfatidilserina para invadir e sobrevier em macrófagos. No entanto, ainda não é claro se a exposição de fosfatidilserina é mandatória 56 para a invasão da célula hospedeira e se a exposição de outros lipídeos também pode facilitar a infectividade. Foi demonstrado que o transportador de milfetosina de L. (L.) donovani (LdMT) forma um complexo estável com a proteína similar a CDC50 LdRos3 de importância fundamental para manutenção de assimetria de fosfolipídeos de membrana. No mesmo trabalho é reportado que em promastigotas de L. (L.) donovani a exposição de fosfatidilserina não é obrigatória para a infecção e também que a redistribuição de fosfatidiletanolamina à face externa da bicamada não facilita a invasão à célula hospedeira (WEINGÄRTNER et al., 2010). Recentemente, o gene para uma P4-ATPase foi identificado em L. (L.) amazonensis, porém um possível papel em mecanismo apoptótico não está esclarecido (HORIKAWA, 2010). Do mesmo gel, cinco bandas adicionais foram submetidas à identificação, sendo que duas apresentaram RF’s fora do intervalo dos calibrantes, e as outras duas não são correspondentes a bandas imunogênicas no immuno-blotting. Destas amostras foram identificadas duas proteínas solúveis, e duas proteínas de características ainda desconhecidas. Da banda eletroforética PMLA21A de RF 0,552753108 e massa molecular aparente de 54,82 kDa foi identificada uma proteína desconhecida semelhante a proteína de L. major (gi: 68129000). Novos ensaios de immuno-blotting são necessários para confirmar a correlação imunogênica desta banda, no entanto, o valor de RF mais semelhante é o da segunda banda imunogênica 0,495821727. A sequência da proteína identificada de L. major possui 204 resíduos de aminoácidos, peso molecular teórico de 22,31 kDa , pI teórico de 6,16 e GRAVY de 0,132. A sequência não apresentou peptídeo-sinal, hélices trans-membrana e sítios de ligação de âncoras de GPI. Não foram encontrados domínios na análise com os programas SMART, Prosite e Interpro. O registro do gene no UniprotKB não apresenta informação estrutural ou funcional. A análise no BLAST apresentou 10 genes homólogos de função desconhecida com similaridade acima de 94% em cepas das espécies L. infantum, L. donovani, L. mexicana, L. braziliensis, T. cruzi, T. vivax e T. brucei. Apresentou 47% de similaridade (E-value 0,16) com a proteína polysacharide deacetylase de Roseiflexus spp. (GI 148658101). 57 O registro desta proteína inferida eletronicamente a partir da sequência de nucleotídeos no UniprotKB (A5V0F3) apresenta anotações oriundas do Gene Ontology de função molecular atividade de hidrolase em ligações C-N, porém não de peptídeos e de processo biológico de macromolécula de parede celular de processo catabólico. Da banda de gel PMLA22A, a proteína desconhecida similar a de L. major (GI 68129370) foi identificada a partir do peptídeo R.GKAYK.I A sequência do produto gênico possui 1039 resíduos de aminoácidos, peso molecular aparente de 113,46 kDa, pI de 6,45 e GRAVY -0,366. A análise no Interpro apresentou o domínio Zeta toxinP-loop hydrolase (IPR01488), também encontrada na família de domínios IPR008431 Cyclic nucleotide phosphodiesterase. Este domínio possui anotação oriunda do Gene Ontology de função ligação a ATP (GO:0005524) e de processo de matar células (GO:0001906). Este domínio também foi identificado como pertencente à superfamília de domínios P-loop containing nucleoside triphosphate hydrolases (http://supfam.org/SUPERFAMILY/cgi-bin/scop.cgi?ipid=SSF52540). O registro do gene (LmjF.341990) no banco EupathDB apresenta genes ortólogos em L. braziliensis, L. infantum, L. mexicana, T. brucei, T. cruzi e T. vivax. O resultado do alinhamento de sequências, através do programa BLAST, apresentou 13 genes semelhantes de função desconhecida, com similaridades entre 64% e 100%, demonstrando que se trata de uma sequência relativamente conservada entre eucariotos. A banda eletroforética PMLA1 obteve o RF de 0,225531915, que está fora do intervalo de valores de RF dos padrões de calibração usados. No entanto, a fim de obter mais informações sobre a composição de proteínas do extrato bruto solubilizado da fração de membrana de L. amazonensis, esta banda foi recortada e submetida à identificação proteômica. O resultado obtido foi a identificação de uma proteína de função desconhecida similar a L. major (GI 68129049). A sequência possui 873 resíduos de aminoácidos, peso molecular aparente de 92,12 kDa, pI teórico de 6,52 e GRAVY 0,039. Da análise da sequência pelo programa SMART foi identificado o domínio de repetições WD40 (IPR001680). A anotação do domínio descreve ser composto de motivos de 40 resíduos, frequentemente terminados em um dipeptídeo Trp-Asp, que 58 atuam como um sítio para interação proteína-proteína, geralmente na montagem de complexos protéicos. O registro do gene no EupathDB (LmjF33.2150) apresenta genes ortólogos e parólogos de função desconhecida em L. braziliensis, L. infantum, L. mexicana, T. brucei, T. congolensi, T. cruzi e T. vivax. Da banda de gel PMLA6, houve a identificação da proteína tubulina-β de L. amazonensis (GI 68128896). Mesmo se tratando de uma fração de membrana, é plausível a identificação de uma tubulina-β, uma vez que os tripanosomatídeos possuem uma rede subpelicular de microtúbulos, os quais são formados por heterodímeros de tubulinas α e β, que envolve todo o corpo celular do parasito (GUERCIO, 2009). Assim como os microfilamentos, estão tão fortemente associados a membrana plasmática que estes dois componentes da superfície da célula permanecem associados mesmo depois da lise do protozoário e/ou isolamento enriquecimento da fração membranar (revisto por GULL et al., 1999; DE OLIVEIRA, 2008). Além destes, são encontradas outras três estruturas microtubulares nos tripanosomatídeos: o axonema flagelar, o corpo basal e os eixos mitóticos (KOHL; GULL, 1998; DE OLIVEIRA, 2008). Finalmente, da banda de gel PMLA1A, a proteína manose fosfato isomerase de L. amazonensis (GI 155675728) foi identificada. Esta é uma proteína bem caracterizada de L. amazonensis, uma isoenzima utilizada na caracterização filogenética de cepas de Leishmania spp. O registro desta proteína no UniprotKB apresenta anotações de atividade catalítica de conversão de D-manose-6-fosfato a D-frutose-6-fosfato e possui de íons de zinco como co-fator. 59 5. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS As técnicas de análise proteômica para proteínas solúveis não são prontamente aplicáveis a proteínas de membrana, requerendo tratamento de amostra e condições de corrida eletroforética diferenciadas para eletroforese unidimensional. Frente à complexidade das amostras constituídas de proteínas de membrana, abordagem de análise de proteínas parcialmente fracionadas em gel de eletroforese por cromatografia de alta eficiência acoplada à espectrometria de massas foi bem sucedida na identificação de proteínas de membrana de L. (L.) amazonensis; As melhores condições experimentais obtidas para SDS-PAGE foram gel de 10 %T, desnaturação de amostra com SDS e DTT a 37 ºC por 30 minutos e carga de 85 µg de proteínas por poço, imersão da cuba eletroforética em banho de gelo durante o período da eletroforese. É necessário avaliar procedimentos de extração de amostra, minimizando o teor iônico e/ou salino das preparações, para a análise por eletroforese bidimensional IEF/SDS-PAGE das proteínas constituintes das frações extraídas em detergente não-iônico Triton X-114 de membrana de L. (L.) amazonensis, assim como tratamento enzimático prévio para remover âncoras de GPI de parte lipídicas das moléculas previamente a corrida em gel e remoção de parte lipídicas das moléculas; Foram identificadas doze proteínas de frações de membrana de L. (L.) amazonensis utilizadas na construção de proteolipossomos e na confecção de um biosensor nanoestruturado para diagnóstico diferencial de leishmaniose com sinal em immuno-blotting. Foram identificadas sete proteínas com atividade imunogênica observável em immuno-blotting. Sendo quatro proteínas integrais de membrana, duas de função ainda desconhecida. Uma proteína associada a vesículas de transporte e duas proteases, possivelmente envolvidas na infectividade do parasita; Adicionalmente foram identificadas outras três proteínas desconhecidas da fração de membrana de L. amazonensis, além de duas proteínas solúveis. É necessário produzir resultado de immuno-blotting com melhor perfil de separação de proteínas, para evitar dúvidas sobre qual proteína presente na banda apresenta atividade imunogênica, bem como expandir a detecção de proteínas antigênicas. 60 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AEBERSOLD, R.; GOODLETT, D.R. Mass spectrometry in proteomics. Chem Rev. v. 101, n. 2, p 269-295, 2001. ALBERTS, B. et al. Biologia Molecular da Célula, 4a Edição, Porto Alegre, Ed Artes Médicas, 2004. ALEXANDERSSON, E. et al. Plasma Membrane Proteomics. In: SAMAJ, J.; THELEN, J.J. (Eds). Plant Proteomics, Berlin, p. 186-202, 2007. ALMEIDA, M.C. et al. Leishmanial Infection: Analysis of its First Steps. A Review. Mem. Inst. 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GEL (cm) 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 11,75 ME (cm) RF 2,65 3,95 5,12 6,24 6,7 9,1 9,56 9,84 2,89 3,21 4,37 5,75 6,88 8,04 9,67 0,225531915 0,336170213 0,435744681 0,53106383 0,570212766 0,774468085 0,813617021 0,837446809 0,245957447 0,273191489 0,371914894 0,489361702 0,585531915 0,684255319 0,822978723 log(PM) antilog 4,9156 4,8099 4,7087 4,6672 4,4503 4,4088 82337,94052 64550,55788 51132,85003 46472,92417 28203,30474 25633,0332 5,064458 4,9876663 4,8221681 4,7450748 4,6304279 4,5390761 4,4313638 a b c Estatísticas e interpolação gráfica calculadas com o software BioEstat 5.0 Fontes de variação GL SQ Regressão 1 0.3133 Erro 5 0.0075 Total 6 0.3208 F (regressão) = Variável dependente = Variável independente = Média (X) = Média (Y) = Coef. de Determinação (R2) = R2 (ajustado) = Coeficiente de Correlação = Intercepto (a) = Coef. de Regressão (b) = IC 95% (a) IC 95% (b) Equação 2,084,692 Coluna 1 Coluna 2 0.4962 47,457 0.9766 0.9719 0.9882 52,725 -10,616 5.171 a 5.374 -1.251 a -0.873 Y' = a + bX GEL1 5,2725 -1,062 -0,988 QM 0.3133 0.0015 --- p = 0.0002 t = 134.1135 t = -14.4385 p < 0.0001 p < 0.0001 70 Banda PMLA20 PMLA21a 212000 158000 116000 97200 66400 55600 42700 34600 27000 20000 log(Pmcal) 5,326336 5,198657 5,064458 4,987666 4,822168 4,745075 4,630428 4,539076 4,431364 4,30103 COMP. ME (cm) GEL (cm) 28,15 15,24 28,15 15,56 28,15 2,33 28,15 4,76 28,15 6,74 28,15 8,26 28,15 11,11 28,15 14,43 28,15 16,83 28,15 23,21 28,15 23,21 28,15 27,62 RF 0,541385 0,552753 0,082771 0,169094 0,239432 0,293428 0,394671 0,512611 0,597869 0,824512 0,824512 0,981172 log(PM) antilog 4,7515 56428,69 4,7392 54825,95 5,326336 5,198657 5,064458 4,987666 4,822168 4,745075 4,630428 4,539076 4,431364 4,30103 71 Fontes de variação Regressão Erro Total GL 1 8 9 SQ 0.9943 0.0318 10,261 F (regressão) = Variável dependente = Variável independente = Média (X) = Média (Y) = Coef. de Determinação (R2) = R2 (ajustado) = Coeficiente de Correlação = Intercepto (a) = Coef. de Regressão (b) = IC 95% (a) IC 95% (b) Equação 2,504,083 Coluna 1 Coluna 2 0.4920 48,046 0.9690 0.9652 0.9844 53,348 -10,775 5.245 a 5.425 -1.234 a -0.920 Y' = a + bX p < 0.0001 QM 0.9943 0.0040 --- t = 136.8608 p < 0.0001 t = -15.8243 p < 0.0001 72 Banda BANDA1 BANDA2 BANDA3 BANDA4 175000 80000 58000 46000 30000 25000 17000 log(PM) 5,24303805 4,90308999 4,76342799 4,66275783 4,47712125 4,39794001 4,23044892 COMP. GEL (cm) ME (cm) 7,18 2,39 7,18 3,56 7,18 4,47 7,18 6,11 7,18 1,64 7,18 2,91 7,18 3,39 7,18 4,35 7,18 5,52 7,18 6,16 7,18 6,91 RF 0,332869081 0,495821727 0,622562674 0,85097493 0,228412256 0,405292479 0,472144847 0,605849582 0,768802228 0,857938719 0,962395543 Fontes de variação Regressão Erro Total GL 1 5 6 SQ 0.6787 0.0172 0.6959 F (regressão) = Variável dependente = Variável independente = Média (X) = Média (Y) = Coef. de Determinação (R2) = R2 (ajustado) = Coeficiente de Correlação = 1,970,158 Coluna 1 Coluna 2 0.6144 46,683 0.9752 0.9703 0.9875 p = 0.0003 Intercepto (a) = 54,518 Coef. de Regressão (b) = -12,753 IC 95% (a) IC 95% (b) Equação 5.297 a 5.606 -1.509 a -1.042 Y' = a + bX t= 90.7576 t=14.0362 log(PM) 5,0273 4,8195 4,6578 4,3666 5,243038049 4,903089987 4,763427994 4,662757832 4,477121255 4,397940009 4,230448921 QM 0.6787 0.0034 --- p< 0.0001 p< 0.0001 antilog 106487,8356 65993,32343 45477,85786 23259,47994