EDUCAÇÃO INFANTIL E DIFERENÇA ANETE ABRAMOWICZ MICHEL VANDENBROECK (ORGS.) EDUCAÇÃO INFANTIL E DIFERENÇA P A P I R U S E D I T O R A Capa: Fernando Cornacchia Foto de capa: Rennato Testa Coordenação: Ana Carolina Freitas e Beatriz Marchesini Copidesque: Maria Lúcia A. Maier Diagramação: DPG Editora Revisão: Bruna Fernanda Abreu, Cristiane Rufeisen Scanavini e Isabel Petronilha Costa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Educação infantil e diferença/Anete Abramowicz; Michel Vandenbroeck (orgs.). – Campinas, SP: Papirus, 2013. Bibliografia. ISBN 978-85-308-1053-5 1. Diferenças individuais 2. Educação infantil 3. Ensino 4. Pedagogia 5. Professores – Formação I. Abramowicz, Anete. II. Vandenbroeck, Michel. 13-08812 CDD-372.21 Índice para catálogo sistemático: 1. Educação infantil 372.21 Exceto no caso de citações, a grafia deste livro está atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa adotado no Brasil a partir de 2009. Proibida a reprodução total ou parcial da obra de acordo com a lei 9.610/98. Editora afiliada à Associação Brasileira dos Direitos Reprográficos (ABDR). DIREITOS RESERVADOS PARA A LÍNGUA PORTUGUESA: © M.R. Cornacchia Livraria e Editora Ltda. – Papirus Editora R. Dr. Gabriel Penteado, 253 – CEP 13041-305 – Vila João Jorge Fone/fax: (19) 3272-4500 – Campinas – São Paulo – Brasil E-mail: [email protected] – www.papirus.com.br SUMÁRIO PRÓLOGO ................................................................................................. 7 Michel Vandenbroeck APRESENTAÇÃO..................................................................................... 9 Anete Abramowicz 1. ASPECTOS ECONÔMICOS, EDUCACIONAIS E SOCIAIS DO RESPEITO À DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................................. 13 Michel Vandenbroeck 2. ENTRE MIA COUTO E MICHEL VANDENBROECK: OUTRA EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA POR INVENTAR ..................... 27 Sandra R.S. Richter e Maria Carmen Silveira Barbosa 3. EDUCAÇÃO INFANTIL E DIVERSIDADE CULTURAL: PARA UMA PEDAGOGIA MACUNAÍMICA ....................................... 49 Ana Lúcia Goulart de Faria, Elina Elias de Macedo e Solange Estanislau dos Santos 4. QUILOMBOLAS E O LÚDICO: ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE UMA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS ............................................................ 71 Maria Walburga dos Santos 5. CRECHES E PRÉ-ESCOLAS EM BUSCA DE PEDAGOGIAS DESCOLONIZADORAS QUE AFIRMEM AS DIFERENÇAS .............................................................. 109 Ana Lúcia Goulart de Faria e Daniela Finco 6. MÃES IMIGRANTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A POSSIBILIDADE DE RECIPROCIDADE, CIDADANIA E DEMOCRACIA .......................................................... 125 Michel Vandenbroeck e Griet Roets 7. EDUCAÇÃO E DIFERENÇA: NA DIREÇÃO DA MULTIDÃO .................................................................................... 149 Fabiana de Oliveira e Anete Abramowicz 8. INFÂNCIA E DIVERSIDADE NAS ORIENTAÇÕES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL ................................. 169 Ligia Maria Leão de Aquino PRÓLOGO No verão de 2012 viajei ao Brasil, onde estive nas universidades de São Carlos, São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. Nessas instituições, encontrei pesquisadores e professores de diferentes partes do país. Mas chamar de praxis, inspirando-nos em Paulo Freire. Essa atitude de social, econômico e político. influenciada pelas “neurociências” e pela “educação baseada em evidências” (evidence-based education uma colocação em um mercado de trabalho altamente competitivo. Tratawhat works)? Educação infantil e diferença 7 servem os locais destinados à primeira infância? trabalhar com esse discurso dominante de evidence-based education, Tupi or not Tupi), que incorpora coisa, outra coisa. respeitar suas identidades, no plural: suas identidades nômades, múltiplas Michel Vandenbroeck 8 Papirus Editora APRESENTAÇÃO Educação infantil e diferença uma diferença sem hierarquias, sem normas e sem modelos, e que atue ao ponto de perder muito cedo toda e qualquer verdadeira liberdade de antirracismo, do multiculturalismo, do feminismo, entre outras, ou seja, tardiamente discutir diferenças, pois ach Educação infantil e diferença 9 temas centrais para as políticas públicas. aquilo com o qual fomos equipados como sujeitos para lidar com as modo, propostas como tolerância, paciência e consciência têm sido chave da possibilidade de ampliar o campo do capital que penetra cada Com esta obra, procuramos pensar uma educação não fascista currículo pautado no pensamento nômade e vê no espaço-tempo da aula a possibilidade do ato de criação. nessa perspectiva, 10 Papirus Editora falar, inventar, criar, dançar etc? do horrível e da aberração, mas não em um movimento de conversão A educação de crianças pequenas as coloca no espaço público, à ideia de mulher, de casal e de povo. Nessa educação, a professora novas formas de brincar podem ser brincadas, que músicas e que danças podem ser inventadas. Queremos pensar uma educação com a criança, no espaço público, em que todos possam ser afetados de maneira que criem novas redes de solidariedade e pensamento. Para pensarmos uma educação e pesquisa centradas na diferença, Educação infantil e diferença 11 saturar a vida com tanta identidade! capítulos direcionados para professores, pesquisadores e alunos que se interessem pelos temas da infância sob o recorte da diferença. Esperamos uma meditação sobre a infância” (Virno 2012, p. 34). Boa leitura! Anete Abramowicz BUTLER, J. e SPIVAK, G.C. (2009). Quién le canta al Estado-Nácion? Lenguage, política, pertenencia GUATTARI, F. (1985). A revolução molecular. Trad. Suely Belinha Rolnik. 2a ed. São Paulo: Brasiliense. VIRNO, P. (2012). “Infância e pensamento crítico”. Imprópria, n. 2, p. 34. 12 Papirus Editora 1 ASPECTOS ECONÔMICOS, EDUCACIONAIS E SOCIAIS DO RESPEITO À DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL1 Michel Vandenbroeck Introdução consenso sobre a crucial importância do investimento na educação de oportunidades. A educação infantil passou a receber atenção quando 1. Educação infantil e diferença 13 Barnes et al. Mistry et al. et al et al. pela diversidade. No entanto, o consenso de que a diversidade importa ou tratada, muito menos um consenso sobre como se deve lidar com ela. De fato, o discurso sobre diversidade se tornou tão presente na educação que corre o risco de perder o sentido. Numa modesta tentativa ampliar nossa percepção sobre a diversidade na educação infantil e, Uma perspectiva educacional sobre diversidade Como o Unicef corretamente afirma, vivemos em tempos que o Unicef chama de “a transição dos cuidados na primeira infância” (childcare transition) (Centro de Pesquisa Innocenti do Unicef 2008).* serviços de educação e cuidados na primeira infância nos países economicamente 14 Papirus Editora oriundas de famílias mais pobres. Para a maioria das crianças, a inscrição num espaço de atendimento à primeira infância representa um primeiro e à capacidade de a criança ser bem-sucedida na escola (Laevers 1997). Para todos os seres humanos e, especialmente, para todas as crianças causa disso, um currículo centrado na criança precisa ser um currículo centrado na família. A esse respeito, um currículo apropriado para a primeira implicando que a educadora (ou, ocasionalmente, o educador) aborde da criança, como resultado de uma convicção bem-intencionada de não Educação infantil e diferença 15 Souilamas e Rayna 2007 e 2008). essencialismo. Ele implica a dançarina ou que se alimente com as mãos. A rede europeia de Diversidade na Formação e Educação Infantil (Decet)2 oferece cinco interessantes princípios orientadores para um currículo de respeito à diversidade: toda criança, pai e membro da equipe deve sentir que pertence. Isso implica uma política ativa de levar em conta culturas de desenvolver os diversos aspectos de suas diferentes identidades. O que implica que o currículo fomente a construção de 2. 16 Papirus Editora pontes entre o ambiente familiar e o institucional, bem como todos podem participar como cidadãos ativos. Isso implica que formas institucionais de preconceito e discriminação. Isso inclui um estudo crítico sobre disponibilidade e políticas de acesso, bem como sobre discriminação estrutural. Uma perspectiva econômica tardias (Giddens 1998), e, portanto, uma transição da força de trabalho pautada na ação física para a ação cerebral, acompanhada pela crescente bem-estar econômico. Essa evolução levou a uma mudança de foco na Muitos estudos mostram o impacto positivo da educação infantil no desenvolvimento das crianças, especialmente para aquelas em situação pelo Instituto Nacional de Saúde e de Desenvolvimento Humano da NICHD) e pela Rede de Pesquisa sobre Cuidados na Primeira Infância Educação infantil e diferença 17 quando têm acesso à educação infantil de alta qualidade (Melhuish et al. et al. 2004), e muitos metaestudos têm mostrado efeitos nos Estados Unidos (Barnett 2011) e em países em desenvolvimento et al. 2011). Esses estudos levaram os economistas a avaliar o retorno dos investimentos na educação infantil e nos cuidados da primeira quantitativas na educação infantil, mas não nos ajuda a resolver questões qualitativas, incluindo a questão central de que tipo de Isso leva a um conceito baseado em evidências de educação que corre 18 Papirus Editora maneira correta para obter os resultados esperados. Não se espera que Starting strong II Starting strong, publicado em 2012, status de um futuro adulto, e, as perspectivas dos pais. et al. 2009), objeto de debate entre a esquerda e a direita políticas. Investir em de investimentos, e, portanto, ele pode prejudicar concepções sociais uma perspectiva mais social. Educação infantil e diferença 19