PAPÉIS ACTANCIAIS EM RELATOS DE HISTÓRIAS DE VIDA E
FORMAÇÃO - ANÁLISE SEMIÓTICA DE NARRATIVAS
AUTOBIOGRÁFICAS DE DOCENTES EM FORMAÇÃO NO PARFOR
Marinalva Dias de Lima1; Luiza Helena Oliveira da Silva2 Glauciléia Fontoura Nabarro
¹ Graduanda em Letras na Universidade Federal do Tocantins e bolsista do PIBIC/CNPq
[email protected]
² Orientadora do Curso de Letras na Universidade Federal do Tocantins, campus de Araguaína;
[email protected]
[email protected]
Introdução
Este trabalho é parte das discussões e análises realizadas em nosso relatório, onde através de
uma análise semiótica procurou-se compreender as regularidades e algumas especificidades que
perpassam nos relatos autobiográficos de quatro professoras em formação matriculadas no curso de
Letras/Parfor da UFT, campus de Araguaína.
O PARFOR (Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica) é um plano
que oferece uma segunda licenciatura para professores que tem formação em uma determinada área
e atuam em outra. Ou então, proporciona uma qualificação docente através do oferecimento de
cursos de graduação a professores que já atuam na Educação Básica sem terem obtido diploma de
curso superior (BRASIL, 2012). As quatro professoras que concederam seus depoimentos orais
trabalham na rede pública de ensino, e embora sejam de outras cidades, atualmente todas residem
em Aragominas, pequena cidade localizada no norte do Tocantins com uma população de
aproximadamente 5.882 habitantes (IBGE - Censo 2010).
Para alcançar os objetivos deste trabalho utilizamos as contribuições advindas da semiótica
discursiva, teoria que se interessa pela significação do texto, na qual, procura descrever e explicar o
que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz, além de organiza-lo como uma totalidade de
sentido e determinar o modo de produção desse sentido (BARROS, 2001, p. 21). Para a semiótica,
todos os textos possuem uma estrutura interna organizada como uma narrativa. Entretanto, essa
narrativa não deve ser entendida como simples descrição de fatos em uma determinada sequência,
mas como uma estrutura de significação, na qual se depreende a narratividade, que é uma
transformação de estados, de situações, operada pelo fazer transformador de um sujeito, que age no
e sobre o mundo em busca de certos valores investidos (objetos), podendo ser também uma
sucessão de estabelecimentos e de rupturas de contratos entre um destinador e um destinatário, de
que decorrem a comunicação e os conflitos entre sujeitos e a circulação de objetos-valor (BARROS,
2001, p. 37). Em outros termos, as estruturas narrativas simulam a história da busca de valores, da
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procura de sentido, que organizada hierarquicamente, forma o percurso gerativo de sentido. Esse
percurso corresponde a uma sucessão de patamares, em que cada um, de forma própria, mostra
como se produz e se interpreta o sentido, num processo que vai do mais simples ao mais complexo
(FIORIN, 2008, p.20). Esses patamares do sentido equivalem a três níveis, sendo eles: o
fundamental, o narrativo e o discursivo.
O nível fundamental é o mais profundo, e é onde encontramos os conceitos fundamentais
organizados em uma oposição. No nível discursivo encontramos os elementos mais concretos e
complexos.
Nossas análises incidirão basicamente sobre o nível narrativo, é nele que ocorre a
organização e o desenvolvimento dos elementos que estruturam a narrativa. Para FIORIN (2008) os
textos não são narrativas mínimas, ao contrário, são narrativas complexas que se estruturam numa
sequência canônica, compreendendo quatro fases: a manipulação, a competência, a performance e a
sanção.
São essas fases que nos permite entender a ação do sujeito inscrito no texto. Nesse caso, o
relato utilizado é o autobiográfico, que tem como função principal apontar uma realidade individual
complexa, atrelada à subjetividade e ainda possibilitar a socialização de experiências e
conhecimentos, libertando o sujeito de um isolamento (JOSSO, 2007, p. 415). A construção
autobiográfica é feita através da memória, que proporciona uma relação das práticas do presente
com o passado e, ao mesmo tempo, pode interferir nos processos futuros. Pela memória, o passado
não só vem à tona como também se mistura com as lembranças imediatas de forma singular e
seletiva pelo sujeito que a retoma. Sendo assim, esse passado só estará plenamente elaborado no
instante em que estiverem eliminadas as causas do que passou, de forma que o encantamento do
passado pode manter-se até hoje unicamente porque continuam existindo suas causas. (ADORNO
(1995) apud CATANI (1998, p. 121)).
Na vida dessas professoras há uma série de acontecimentos que denunciam a realidade desse
grupo social, pois a partir do momento que esse sujeito toma a palavra e pode falar de si, de suas
angústias, de seu percurso individual de sujeito, ele também expressa valores que compartilha
socialmente. (SILVA & RAMOS JR, 2012, p.124). E é através da história oral, recurso que dá voz a
sujeitos historicamente silenciados, que a realidade de muitas mulheres é revelada: o casamento
muito cedo, como forma de garantir a saída de casa; a proibição para estudar porque mulher não
precisaria disso; a dificuldade de estudar numa outra cidade quando não se tem com quem deixar os
filhos ou ainda um deles está sendo amamentado (OLIVEIRA, 2012, p.06).
Toda essa problemática referente a gênero, nos permite compreender, portanto, que todos
esses relatos trazem diversos traços comuns, a ponto de podermos pensar numa macronarrativa, ou
seja, no cruzamento das narrativas de formação em que os elementos em comum vão se traduzindo
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numa história coletiva, num destino compartilhado (SILVA & RAMOS JR, 2011), e que por fim,
permite aos docentes uma profunda reflexão da prática e um compartilhamento de experiências
individuais que constroem uma narrativa abrangente.
Objetivos
1.1.
Objetivo Geral:
Esta pesquisa tem por objetivo analisar e descrever, em uma perspectiva semiótica, os relatos
autobiográficos de professoras do PARFOR, agindo como uma ferramenta de profunda reflexão da
prática docente e se consolidando como um instrumento de formação crítica.
1.2.
Objetivos Específicos:
 Analisar relatos autobiográficos de quatro docentes matriculados no curso de Letras do
campus da UFT/Araguaína, na modalidade Parfor;
 Analisar, sob a perspectiva da semiótica discursiva, os papéis actanciais assumidos pelos
sujeitos da pesquisa em suas histórias de vida e de formação;
 Analisar as especificidades e as regularidades que caracterizam os relatos dos sujeitos da
pesquisa em relação a suas histórias de formação e atuação docente.
Metodologia
Como parte de um projeto maior (MEMÓRIA E DISCURSO: análise de relatos
autobiográficos de professores matriculados em curso de graduação em regime semipresencial), a
pesquisa dará continuidade à análise de relatos de quatro professoras matriculadas no curso de
Letras/Parfor da UFT, campus de Araguaína. Enquanto numa fase anterior (2011/2012) foi
privilegiado o nível discursivo (aspectos concernentes à figurativização e tematização) por
(OLIVEIRA, 2012), a pesquisa agora atua sobre o nível narrativo, mais precisamente considerando
os papéis actanciais assumidos por docentes em seus relatos, analisando as perspectivas de
protagonismo e/ou assujeitamento que se depreendem dos relatos autobiográficos. Tais relatos
foram gerados em entrevistas semiabertas e individuais de quatro docentes no ano de 2011,
transcritos por membros do grupo de pesquisa (GESTO) por meio de gravações de áudio e
audiovisuais, na cidade de Aragominas, norte do Tocantins. Os critérios de seleção dos sujeitos
foram estabelecidos por membros do GESTO sendo eles:
A. São mulheres;
B. São professoras cursando a licenciatura em Letras pelo regime do PARFOR;
C. Atuam na educação básica como docente;
D. Elas residem na mesma cidade, no norte do Tocantins e aceitaram colaborar com a
pesquisa.
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O grupo estabeleceu um roteiro flexível, privilegiando a formação de professores em que as
entrevistas duraram cerca de uma hora cada. Essa pesquisa é de cunho predominantemente
qualitativo e interpretativista na análise dos relatos, tendo sido constituído por depoimentos orais de
natureza autobiográfica. Fizemos também um levantamento bibliográfico sobre autores que
trabalham no campo biográfico, especialmente, Josso (2007) e Catani (1998), para a história oral,
memória e historicidade utilizamos Silva e Ramos Jr (2011, 2012), e como base para a semiótica
discursiva utilizamos teóricos como Fiorin (2008) e Barros (2001, 2005).
Para fins de apresentação dos resultados, utilizamos os mesmos nomes fictícios dados aos
sujeitos da pesquisa por (OLIVEIRA, 2012), (Joelma, Felícia, Vanusa e Linda) visando à
preservação de suas identidades.
Resultados e discussão
Por proporcionar ao sujeito uma reflexão individual, profissional, cultural e social a
memória constitui-se como elemento resgatado sob a forma de lembranças e permite “explicitar as
dimensões do passado que pesam sobre as situações atuais”. (JOSSO, 2007, p.414). Essas
dimensões que até hoje influenciam, comparecem atreladas as consequências da escolha da
profissão e marcam as quatro narrativas. Os fatores que marcam as narrativas são identificados
como sociais, econômicos, políticos e pessoais. Dessa forma procuramos descrever as regularidades
que perpassam em todos os relatos e algumas especificidades, através de uma análise semiótica. Há
principio é necessário estabelecer uma breve abordagem do nível narrativo, relevando os aspectos
que consideramos essenciais para a compreensão e análise das biografias selecionadas para este
trabalho.
No nível narrativo, temos uma estrutura que simula o fazer do homem sobre o mundo. Na
qual, há um programa narrativo, sendo ele uma unidade operatória elementar da organização
narrativa de um texto (BARROS, 2005, p. 20-23). E segue as seguintes etapas:
1) o sujeito (destinatário) é manipulado, através de sedução, tentação, intimidação ou provocação,
por um destinador à fim de obter determinado objeto-valor.
2) o sujeito, que é o destinatário da manipulação, na fase da competência acredita ter o poder de
executar uma performance;
3) o destinatário executa uma performance;
4) o destinador sanciona a performance do destinatário, concedendo-lhe uma espécie de premiação
ou punição. (FIORIN, 2008, p. 29-31). A proposição de tal modelo facilita a decomposição do
discurso e possibilita a comparação de narrativas diferentes (BARROS, 2001, p.36). Levando em
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conta tal afirmação abordaremos os elementos constitutivos do nível narrativo de forma isolada,
discutindo um por vez.
O Manipulador:
O destinador-manipulador é o sujeito que atua sobre outro, lembrando que esse sujeito é um
papel narrativo e não uma pessoa (FIORIN, 2008), podendo ser qualquer elemento que controle a
situação. Em nossas análises, atribuímos ao contexto histórico a denominação de manipulador,
devido ao fato de serem escassas as oportunidades de emprego na cidade de Aragominas, os
sujeitos não têm outras opções de emprego e são direcionados à carreira docente, profissão que
garante emprego para quem vive nessa cidade. Como vemos nos quatro relatos a seguir:
1) Na época era a melhor coisa que tinha era ser professora, até hoje é, ou você trabalha
para o Município ou para o Estado, aqui não tem comércio forte, não tem uma
indústria, uma fábrica, não tem nada pra você fazer, até hoje não tem muita coisa para
você fazer, ou você trabalha na escola ou na prefeitura se não for você tem que sair
fora. (Vanusa).
2) Era interessante [ser professora] porque... no caso somente as escolas dá
emprego...aqui em Aragominas. (Linda).
3) [Ser professora] era a única coisa que tinha... em Aragominas como sempre [...]a
prefeitura esses dois coleginhos esse e aquele lá na praça (Joelma).
4) O jovem termina o ensino médio ele já tenta fazer outras coisas, sair, [...] terminou o
ensino médio e ele teve a oportunidade de entrar na educação, ele entra e não sai mais
[...] não tem outro jeito mesmo. (Felícia).
É notório o assujeitamento dos indivíduos a essa lógica social, em que o contexto da própria
cidade os envolve de tal forma na área educacional que o “ser professor”, acaba sendo praticamente
a única opção de quem necessita trabalhar e deseja continuar habitando na cidade. É o contexto
histórico de Aragominas que determina os valores que serão visados pelos sujeitos. Levando em
conta essa regularidade que perpassa os quatro relatos, denominamos em todos os programas
narrativos abordados neste trabalho, o contexto histórico, como destinador-manipulador, já que é
ele que conduz os sujeitos à formação docente.
Manipulação:
A manipulação é a fase em que o destinador apresenta ao destinatário uma espécie de
contrato, podendo efetuar-se de forma implícita, nisso há uma persuasão que tem como objetivo
convencer o destinatário a aceitar o contrato (BARROS, 2005, p.31). Por trás do relato de Felícia,
destaca-se um discurso bastante difundido:
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“Diziam que [o estudo] era a única coisa que a pessoa tinha e que ninguém tirava”.
(Felícia)
Essa afirmação mostra o estudo como único meio de alcançar determinado objeto-valor e ele
aparece de forma tão contundente, que volta a repetir-se, só que agora aparece na voz dos sujeitos:
“A educação é o melhor caminho, sem educação você não vai chegar a lugar
nenhum”. (Vanusa).
“E eu disse que um dia eu ia vence que um dia eu ia estuda que um dia eu ia ser
alguém na vida”. (Joelma).
Nos trechos citados acima, notamos que os sujeitos acreditam no valor da educação, esse
crer é de fundamental importância para que haja a manipulação, pois é necessário que o destinatário
compartilhe dos mesmos valores do manipulador (Quadro axiológico). Sendo assim, nesse
momento o manipulador doa ao destinatário os valores modais do querer-fazer e do dever-fazer.
Como são destacados (negrito) nos trechos a seguir:
“Eu queria fazer era isso, eu tinha que fazer, aí eu falei eu vou estudar porque
através do estudo é que eu vou fazer a diferença”. (Vanusa).
“E quero aprender e quero fazer e terminar a faculdade”. (Felícia).
O querer-fazer aparece de forma bem clara nos trechos, já o dever-fazer aparece marcado no
“tinha que fazer” que se constitui como uma obrigação, uma necessidade, portanto, um dever-fazer.
Esse dois valores modais constroem também nesses relatos, um posicionamento de sujeitos
determinados prontos a realizarem seus desejos.
Os Anti-sujeitos e os Adjuvantes:
A partir do momento que os sujeitos recebem a competência, eles podem sofrer influências
negativas por parte de alguns anti-sujeitos, que tem como objetivo impedi-los de alcançar o objetovalor. Podendo também, sofrer influências positivas, por parte dos adjuvantes que tem por objetivo
auxilia-los a alcançarem esse objeto-valor. Um dos principais anti-sujeitos presente nas narrativas é
a situação econômica, como vemos nos dois relatos:
“Aí a gente sempre foi muito pobre assim, a gente tinha dificuldade em conciliar
trabalho e escola, era uma luta para estudar, a gente ia e voltava todo dia, não tinha
bicicleta, não tinha cavalo, não tinha nada”. (Vanusa)
“Sempre fomos muito pobres e a gente vivia situações muito difícil, meu pai
trabalhava em derrubadas”. (Felícia).
A falta de recursos financeiros a todo o momento constrói uma barreira entre os sujeitos e o
objeto valor (estudo), o relato de Vanusa evidencia a necessidade de trabalhar para sobreviver,
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estabelecendo uma crítica relação na conciliação entre trabalho e escola, chegando ao ponto de
comparar o estudo a uma luta. Já no relato de Felícia, ao afirmar que o pai trabalhava em
derrubadas, a realidade do trabalhador rural é revelada denunciando a dificuldade de prover o
sustento para a família.
Outro anti-sujeito presente nas narrativas é a família, como vemos a seguir:
“Meu marido não gostava que eu estudasse, eu saía para estudar e quando chegava
a porta estava trancada ele não deixava eu entrar”.(Vanusa).
“A minha mãe não deixava eu estudar [...] ela disse que até aquela idade ela tinha
tudo não precisava de estuda que quem estudava era pra ser rapariga vagabunda”.
(Joelma).
No excerto de Vanusa o marido destaca-se como anti-sujeito, criando uma situação de
intolerância ao mantê-la fora de casa por ela ter ido buscar conhecimento. Já no excerto de Joelma,
é a mãe que se revela como anti-sujeito desqualificando o estudo e afirmando que as mulheres que
estudam são pessoas sem moral.
No entanto, a família nem sempre se constitui como anti-sujeito, em alguns relatos ela
aparece como adjuvante:
“Eu tive sempre o incentivo da minha mãe, né? Embora os meus pais eram
analfabetos [...] eles me incentivaram muito a estudar”.(Felícia).
“Minha irmã ficava com meu filho, a minha irmã sempre me ajudou”. (Vanusa).
Apreende-se do excerto de Felícia que mesmo os pais não convivendo com a escola
(analfabetos) eles a apoiaram na vida estudantil, sendo conhecedores desse valor da educação.
Quanto ao relato de Vanusa, o adjuvante (irmã) a auxilia nas particularidades do cotidiano fazendo
toda a diferença em sua vida.
Outro adjuvante que marca um dos relatos é uma diretora:
“Tinha uma diretora que gostava muito de mim e quis ajudar, na minha vida tive
muitas pessoas boas”. (Vanusa)
Nesse trecho vemos o papel da diretora na vida de Vanusa que foi o de ajuda-la a percorrer o
trajeto escolar, mas nem sempre é assim, já que temos também algo surpreendente nas narrativas,
que é uma professora sendo um anti-sujeito:
“A professora me marcava muito, eu me sentia perseguida, eu chorava pra não ir
pra escola [...] e a professora era muito ruim, ela falava pra minha mãe que eu era
ruda”. (Felícia).
A desmotivação e a perseguição são comportamentos não condizentes com o perfil que esse
profissional deveria adotar, pois ao pertencer à área da educação deveria apoiar e incentivar Felícia
a continuar seu percurso escolar.
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Performance e Sanção:
Nessa fase os sujeitos executam a performance de estudar e tornarem-se professoras. Sendo
imediatamente sancionadas de forma positiva pelo destinador-julgador, obtendo então o objetovalor identificado como o emprego de professor:
“Terminei o ensino médio que foi o magistério, quando eu terminei, quando eu já
terminei eu já assumi uma sala de aula, [...] tive meu primeiro emprego”. (Felícia)
“Eu já tinha magistério eu já tava estudando quando eu cheguei nessa cidade
precisou de professor ai eu tinha o segundo grau[...].Você já começa amanhã tá
precisando urgente de professor”.(Joelma)
Há nos excertos certa prontidão na aquisição do emprego, nos dois primeiros relatos isso é
marcado no advérbio de tempo “já”, como afirma Felícia “eu já terminei eu já assumi uma sala” e
no relato de Joelma ao dizer “Você já começa amanhã”, indicando a instantaneidade da sanção.
Conclusão
Após analisarmos as biografias, percebemos o quanto um problema individual se torna
comum às demais, de forma que criam dentro da semiótica apenas um percurso narrativo revelando
os inúmeros valores extraídos de cada relato, até porque para a Semiótica francesa, até o silêncio
produz sentido, então o que dizer de relatos autobiográficos que permitem ao leitor “pensar,
sensibilizar-se, imaginar e emocionar-se” diante de depoimentos que não só “auxiliam no processo
de formação, como também coopera na revisão dos percursos”. (JOSSO, 2007, p. 414).
Além de denunciar problemas sociais, como é o caso da cidade de Aragominas que por ter
uma reduzida oferta de empregos, restringe aos habitantes o direito a escolha da profissão, os
conduzindo a carreira docente.
A autobiografia também conduz o indivíduo a uma superação de problemáticas individuais e
comuns, ela é uma ferramenta que dá capacidade para resolver e tratar de tudo o que é imprevisível,
um instrumento que concede voz aos professores, denunciando problemas desse grupo social e
concedendo espaço a quem mais quiser usufruir de seus benefícios.
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Marinalva Dias de Lima, Luiza Helena Oliveira da Silva e