Impresso
Especial
1000013828-D R/CE
FIEC
CORREIOS
Publicação do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará
Ano IV n No 44 n JANEIRO/2011
Exportações
Hora de continuar
expansão
Mesmo ainda enfrentando consequências da crise e prejudicadas pela
desvalorização do dólar, exportações cearenses retomam a trajetória do
crescimento em 2010 e avistam horizonte promissor
3
Foto: Giovanni santos
Publicação do Sistema Federação das
Indústrias do Estado do Ceará
JANEIRO 2011 | No 44
........................................................................................
Sustentabilidade
08 Experiências DE SUCESSO
As ações de sustentabilidade
urbana realizadas na Suécia
nas últimas décadas foram
mostradas em encontro com
empresários na FIEC
Infraestrutura
12
Desafio digital
Governo do estado, prefeitura
de Fortaleza e empresas de
base tecnológica investem
em tecnologia da informação
e comunicação
Capa
A hora é de continuar a expansão
20
Após retomar a trajetória de crescimento
e alcançar novo recorde em suas
exportações em 2010, o estado do Ceará
se prepara para dar continuidade à
evolução do comércio internacional
Cajucultura
25 Incentivo e tecnologia
A boa performance
das exportações de
amêndoas é crucial
para garantir que o setor
primário sobreviva
Iniciação tecnológica
17
IEL inicia 2ª edição de projeto
Em parceria com o BNB,
a ideia é estimular a
interação entre unidades
de ensino e as micro e
pequenas empresas
Sistema FIEC
29
Mapa Estratégico
O Conselho de
Representantes aprovou as
diretrizes do Mapa Estratégico
que vai preparar o sistema
para os desafios do futuro
Ouro negro
32 O café no CEará
As primeiras mudas de café, que chegou a
liderar as exportações no estado, chegaram ao
Ceará no século 18
Seções
MensagemdaPresidência........5
Notas&Fatos..............................6
Inovações&Descobertas..........38
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 3
Fernandes, Geraldo Bastos Osterno Júnior, Hélio Perdigão Vasconcelos, Hercílio Helton e Silva, Ivan José Bezerra de Menezes, José
Agostinho Carneiro de Alcântara, José Alberto Costa Bessa Júnior, José Dias de Vasconcelos Filho, Lauro Martins de Oliveira Filho, Marcos
Augusto Nogueira de Albuquerque, Marcus Venicius Rocha Silva, Ricard Pereira Silveira e Roseane Oliveira de Medeiros.
CONSELHO FISCAL Titulares Francisco Hosanan Pinto de Castro, Marcos Silva Montenegro e Vanildo Lima Marcelo Suplentes Fernando
Antonio de Assis Esteves, José Fernando Castelo Branco Ponte e Verônica Maria Rocha Perdigão. Delegados da CNI Titulares Fernando
Cirino Gurgel e Jorge Parente Frota Júnior Suplentes Roberto Proença de Macêdo e Carlos Roberto Carvalho Fujita.
Superintendente geral do Sistema FIEC Paulo Studart Filho
Serviço Social da Indústria — sesi
CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Carlos Roberto Carvalho Fujita,
Marcos Silva Montenegro, Ricardo Pereira Sales e Luiz Francisco Juaçaba Esteves Suplentes José Moreira Sobrinho Representantes do Ministério
do Trabalho e Emprego Efetivo Célia Romeiro de Sousa Suplente Francisco Assis Papito de Oliveira Representantes do Governo do Estado do
Ceará Efetivo Denilson Albano Portácio Suplente Paulo Venício Braga de Paula Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado
do Ceará Efetivo Paulo de Tarso Teófilo Gonçalves Neto Suplente Eduardo Camarço Filho Representante dos Trabalhadores da Indústria no
Estado do Ceará Suplente Raimundo Lopes Júnior Superintendente Regional Francisco das Chagas Magalhães
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial — senai
CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Alexandre Pereira Silva, Ricard
Pereira Silveira, Francisco Túlio Filgueiras Colares e Pedro Jacson Gonçalves de Figueiredo Suplentes Álvaro de Castro Correia Neto, Paula Andréa
Cavalcante da Frota, Pedro Jorge Joffily Bezerra e Geraldo Bastos Osterno Júnior Representante do Ministério da Educação Efetivo Cláudio
Ricardo Gomes de Lima Suplente Samuel Brasileiro Filho Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado do Ceará Efetivo Elisa
Maria Gradvohl Bezerra Suplente Eduardo Camarço Filho Representante do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Francisco Assis Papito
de Oliveira Suplente Célia Romeiro de Sousa Representante dos Trabalhadores da Indústria no Estado do Ceará Efetivo Francisco Antônio
Ferreira da Silva Suplente Antônio Fernando Chaves de Lima Diretor do Departamento Regional Francisco das Chagas Magalhães
Instituto Euvaldo Lodi — IEL
Diretor-presidente Roberto Proença de Macêdo Superintendente Vera Ilka Meireles Sales
Coordenação e edição Luiz Carlos Cabral de Morais ([email protected]) Redação Ângela Cavalcante ([email protected]),
David Negreiros Cavalcante ([email protected]), G evan Oliveira ([email protected]) e Luiz Henrique Campos ([email protected]) Fotografia José Sobrinho e
Giovanni Santos Diagramação Taís Brasil Millsap Coordenação gráfica Marcograf Endereço e Redação Avenida Barão de Studart, 1980 — térreo. CEP 60.120-901.
Telefones (085) 3421-5435 e 3421-5436 Fax (085) 3421-5437 Revista da FIEC é uma publicação mensal editada pela Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia
(AIRM) do Sistema FIEC Coordenador da AIRM Luiz Carlos Cabral de Morais Tiragem 5.000 exemplares Impressão Marcograf
Publicidade (85) 3421-5434 e 9187-5063 — [email protected] e [email protected]
Endereço eletrônico www.sfiec.org.br/publicacao/revistadafiec
Revista da FIEC. – Ano 4, n 44 (jan. 2011) – Fortaleza : Federação das Indústrias do Estado do Ceará, 2008 v. ; 20,5 cm.
Mensal.
ISSN 1983-344X
1. Indústria. 2. Periódico. I. Federação das Indústrias do
Estado do Ceará. Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia.
CDU: 67(051)
4 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
MensagemdaPresidência
Roberto Proença de Macêdo
Nordeste unido
A economia do Nordeste tem tido índices de cres-
os estados nordestinos, poderá ser enriquecida com a concimento próximos aos percentuais chineses. Essa dinâmica tribuição dos empresários da indústria e de outros setores
regional, puxada pelo aumento de renda da população, vem econômicos. A adesão do empresariado a essa iniciativa
funcionando como força de atração de investimentos nacio- governamental será sem dúvida facilitada pelo fato de que
nais e estrangeiros, que estão chegando em escala crescente os recursos necessários já estão estipulados, as fontes de fiaos estados nordestinos para se colocarem mais perto dos nanciamento definidas e o projeto tem foco determinado.
O desafio colocado por esse cenário para nós empreconsumidores emergentes.
Crescendo mais do que a média nacional e liderada sários é de nos tornarmos mais competitivos a partir do
pelos estados do Ceará, Pernambuco e Bahia, nossa região melhor aproveitamento das nossas potencialidades e vanvem experimentando o início de um novo ciclo econômico tagens comparativas. Tenho certeza de que é do interesse
dos governantes contarem com
de prosperidade. Em convergência
a participação efetiva dos setores
com esse processo de crescimento,
O desafio colocado
produtivos na construção desse fuaumentamos nosso capital político
turo. Estou certo igualmente de que,
por conta da expressiva votação que
por esse cenário para
assim como a Federação das Indúsa candidata Dilma Rousseff teve no
nós
empresários
é
de
nos
trias do Estado do Ceará, as demais
Nordeste, tornando a região credora da atual Presidente da República tornarmos mais competitivos a federações nordestinas oferecerão o
melhor de sua colaboração na idene da bancada federal nordestina que
partir do melhor aproveitamento
tificação dos polos de produção,
lhe dá sustentação.
das
nossas
potencialidades
e
das matrizes de origem e destino,
O diferencial de votos conquisde demanda e oferta de produtos e
tados por Dilma Rousseff nos es- vantagens comparativas.
mão de obra capacitada, com vistas
tados liderados por Cid Gomes,
a fornecer subsídios para a montaEduardo Campos e Jaques Wagner
os credenciou politicamente a receber da Presidência a gem do sistema integrado de infraestrutura.
A construção da infraestrutura é um passo de grande
delegação de articular com os demais governadores do
Nordeste um projeto integrado para o desenvolvimento importância para a criação de um sistema autossustentável
da infraestrutura da região. Para isso, contaremos com R$ de desenvolvimento, mas só teremos um Nordeste realmente
20 bilhões, a serem financiados pelo Banco Nacional de competitivo se, além disso, nossas empresas se empenharem
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do no aumento da produtividade, da inovação e no atendimenNordeste (BNB), Banco Mundial, Banco Interamericano to completo das demandas dos nossos consumidores.
Este é o momento é de aproveitarmos plenamente a oporde Desenvolvimento (BID) e União, com contrapartida de
tunidade de união dos estados nordestinos, governantes,
cada um dos estados nordestinos.
A visão de federalismo cooperativo, com a construção de parlamentares e empresários, formando um bloco coeso em
uma agenda institucional que integrará o governo federal e defesa dos interesses do desenvolvimento regional.
“
“
Federação das Indústrias do Estado do Ceará — fiec
DIRETORIA Presidente Roberto Proença de Macêdo 1o Vice-Presidente Ivan Rodrigues Bezerra Vice-presidentes Carlos Prado, Jorge
Alberto Vieira Studart Gomes e Roberto Sérgio Oliveira Ferreira Diretor Administrativo Carlos Roberto Carvalho Fujita Diretor Administrativo
Adjunto José Ricardo Montenegro Cavalcante Diretor Financeiro José Carlos Braide Nogueira da Gama Diretor Financeiro Adjunto Edgar Gadelha
Pereira Filho Diretores Antonio Lúcio Carneiro, Fernando Antonio Ibiapina Cunha, Francisco José Lima Matos, Frederico Ricardo Costa
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 5
q ue
Notas&Fatos
a c on t e c e
no
Si s t ema
F I E C ,
na
Pol í t i c a
e
na
E c onomia
Interior do estado
ViraVida
Vendas
crescem mais
de 10%
Cine SESI Cultura em
14 cidades do CE
Projeto amplia
perspectivas de
mais 20 jovens
>> Cartas à redação contendo
comentários ou sugestões de
reportagens podem ser enviadas
para a Assessoria de Imprensa
e Relações com a Mídia (AIRM)
Avenida Barão de Studart, 1980,
térreo, telefone: (85) 3421-5434.
E-mail: [email protected]
A
edição 2011 do projeto Cine SESI Cultural já está na
estrada. Neste ano, a programação iniciou em janeiro
e vai passar por 14 municípios cearenses. Com uma
verdadeira maratona de filmes apresentada gratuitamente
em praça pública, o projeto leva cinema a lugares que
não possuem salas de projeção em funcionamento. O
roteiro inclui Viçosa, Frecheirinha, Ibiapina, Forquilha,
Acaraú, Paraipaba, Acarape, Baturité, Senador Pompeu,
Acopiara, Novo Oriente, Santana do Cariri, Várzea Grande
e Milagres. Em cada município as projeções são realizadas
durante três dias seguidos.
O Projeto ViraVida,
iniciativa do Conselho
Nacional do SESI
em favor de jovens
e adolescentes em
situação de risco
ou explorados
sexualmente, vai
beneficiar mais 20
jovens cearenses. Eles
participarão do curso
de Auxiliar de Pessoal e
Recepcionista, realizado
em parceria com o
Senac. A previsão é
que as aulas iniciem
até o fim de fevereiro.
Primeiro a implantar
o ViraVida no Brasil,
em junho de 2008, o
SESI/CE já mudou a
vida de 158 jovens que
participaram do projeto.
Unigráfica
Novo presidente quer unificar sindicatos do setor
O empresário Fernando Esteves assumiu
em 17 de janeiro a presidência do Unigráfica
com o objetivo de unificar os dois sindicatos
representativos do setor no estado.
Atualmente, além do Unigráfica, o Sigrace é
legalmente constituído como representante
do segmento. Fernando Esteves, que ficará
à frente do Unigráfica por dois anos, planeja
ainda dar ênfase à formação de mão de obra
para o setor. Para tanto, vai estreitar as
relações com o SENAI/CE.
6 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
Sindtrigo
Metalurgia
Conferência recebe
inscrições de
casOs inovadores
Nova diretoria quer
aumentar consumo de trigo
SENAI elabora
planejamento
para curso
Estão abertas as
inscrições para o envio
de casos concretos
e experiências reais
de inovação para
serem apresentados
na XI Conferência
Anpei de Inovação
Tecnológica, que
ocorrerá de 20 a 22
de junho em Fortaleza
e vai abordar o tema
Redes de Inovação e
Cadeias Produtivas.
O evento é uma
iniciativa da Associação
Nacional de Pesquisa
e Desenvolvimento
das Empresas
Inovadoras (Anpei),
em conjunto com
parceiros locais como
a FIEC, a Fundação
Edson Queiroz, o
Banco do Nordeste, o
Sebrae e a Secitece.
Os interessados em
submeter casos devem
enviar um resumo
estendido deles até 7
de março para os e-mails
[email protected] e
[email protected].
AGENDA
..............................................
n A solenidade de
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Em novembro de
2010 a indústria de
transformação cearense
continuou com resultados
positivos se comparado
com igual mês de 2009.
Na comparação com
outubro, praticamente
todas as variáveis
pesquisadas apresentaram
variação negativa.
O resultado reflete
acomodação após um
ciclo que registrou taxas
elevadas de crescimento
no primeiro semestre e
teve diminuição gradativa
do ritmo de crescimento
no segundo semestre
de 2010. O panorama
geral é favorável, uma
vez que as vendas totais
exibem crescimento
superior a 10% quando se
comparam os resultados
acumulados nos 11
meses do ano passado
frente aos números de
2009. As conclusões são
da pesquisa Indicadores
Industriais, realizada em
novembro pelo INDI em
parceria com a CNI.
Foto: HELDER FERRER
Indústria do CE
Em Fortaleza
entrega do Prêmio SESI
Qualidade no Trabalho
(PSQT) ocorrerá em 24
de março às 18 horas.
Informações:
(85) 3421-5852.
A
umentar o
consumo de trigo
e derivados é um
dos principais desafios
da nova diretoria do
Sindtrigo, que ficará
à frente do sindicato
até 2013. Segundo
o presidente Luiz
Eugênio Pontes,
a entidade planeja
realizar campanhas
de conscientização
para aumentar o
consumo do trigo.
“Todas as camadas sociais
têm acesso ao nosso
produto, que pode ser
um poderoso vetor de
soluções nutricionais
para a população”, afirma
Foto: JOSÉ SOBRINHO
O
Notas&Fatos
Luiz Eugênio. Entre
os obstáculos que têm
prejudicado o consumo
do alimento no Brasil,
o empresário aponta
a falta de subsídios na
importação de trigo.
O SENAI/CE, por meio
do Centro de Educação
e Tecnologia Alexandre
Figueira Rodrigues,
localizado em Maracanaú,
está elaborando curso
técnico em Metalurgia pela
metodologia de Formação
por Competências. As
primeiras turmas serão
iniciadas ainda em 2011,
possivelmente no começo
do segundo semestre. No
momento, está sendo
feita a análise do perfil
profissional do técnico
em metalurgia pelos
analistas educacionais
do SENAI. Após essa
etapa, será elaborado
o plano de curso para
aprovação no Conselho
Estadual de Educação.
N/NE
Governo prorroga isenção
de imposto até 2015
O
governo prorrogou
até 2015 a isenção do
Adicional do Frete para
a Renovação da Marinha
Mercante (AFRMM) para
produtos importados,
que têm como destino
portos do Nordeste e da
Amazônia. “O governo
tomou a decisão acertada
eliminando o acréscimo
imediato de 25% que
incide sobre o custo
do frete marítimo de
cargas desembarcadas
naquelas regiões”, afirma
o presidente do Conselho
Temático de Infraestrutura
da CNI, José de Freitas
Mascarenhas. Segundo ele,
a dispensa do pagamento
do adicional de frete
por mais cinco anos é
fundamental para a redução
dos custos das indústrias
que usam insumos
importados. A medida evita
o impacto que o término
de isenção causaria na
competitividade de diversos
segmentos industriais das
duas regiões, especialmente
aos que importam produtos
de baixo valor agregado.
CURTAS
--------------------n “Mais um sindicato
está se filiando à FIEC”.
O anúncio foi feito pelo
presidente Roberto Proença
de Macêdo durante a
segunda reunião ordinária da
diretoria plena da Federação,
no dia 17 de janeiro do
corrente ano. O Sindicato
das Indústrias de Energias
Renováveis do Estado do
Ceará (Sindirenováveis), que
já entrou com o pedido de
registro no Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE),
será comandado pelo
empresário Luiz Eduardo
Barbosa, presidente da
Bons Ventos.
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 7
Suécia
No início dos anos 60, a Suécia reconheceu que a perda rápida dos recursos
naturais tinha de ser combatida. Com o Brasil, tem construído proveitosas
parcerias por meio de acordos bilaterais envolvendo a questão ambiental
POR Luiz Henrique Campos
A
urbanização das cidades está cada vez mais ligada à questão do desenvolvimento econômico e cultural. A maioria
dos seis bilhões de pessoas do mundo vive nas cidades
ou próximo delas. O resultado desse crescimento urbano requer a necessidade urgente de planejamentos mais amplos e
ações de governança nos espaços geográficos. Com base nessa
concepção, o governo sueco e o Swedish Trade Council tomaram para si o desafio de apresentar em 2002, durante a Reunião
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de Johannesburgo, um conceito de desenvolvimento sustentável das cidades.
8 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
Tal esforço resultou na marca SymbioCity, que reflete
todo o conhecimento e experiência com relação à abordagem sueca para a questão da sustentabilidade. O processo
consiste na reunião de centenas de consultores, empresas
contratadas e fornecedores de sistemas suecos organizados
em diversas redes dedicadas a difundir a visão de urbanismo sustentável e tornar a distância até a implementação a
mais curta possível. Em dezembro passado, como parte dessa possibilidade de soluções em rede para lidar com a temática da sustentabilidade, uma delegação do governo sueco
“
Foto: Giovanni santos
Nossa
experiência
revela que os
melhores resultados
são alcançados
quando há o
envolvimento de
todos os parceiros.
“
Aliada da
sustentabilidade
urbana
esteve na Federação das Indústrias do Estado do
Ceará (FIEC) para apresentar um roadshow a empresários e gestores públicos de Fortaleza.
Segundo a embaixadora da Suécia no Brasil,
Annika Markovic, o seu país e o Brasil têm construído ótimas parcerias por meio de acordos bilaterais na questão do meio ambiente. Ela ressaltou
que o conceito de SymbioCity é marca registrada sueca na qual é mostrada a preocupação do
governo com a temática, tendo produzido boas
experiências mediante empresas sustentáveis.
“Essa nossa experiência revela que os melhores
resultados são alcançados quando há o envolvimento de todos os parceiros. Por isso queremos
compartilhar nossas experiências dentro desse
conceito no âmbito do desenvolvimento urbano
sustentável”, destaca a embaixadora.
De acordo com o arquiteto chefe da Sweco,
entidade que compõe a rede da SymbioCity, Ulf
Ranhagen, pensar de forma holística dentro do
conceito de sustentabilidade é procurar integrar
tecnologias urbanas obtendo mais com menos recursos. A ideia, ressalta, é encontrar vínculos urbanos escondidos em áreas bem conhecidas e que
tenham se tornado desafiadoras nessa perspectiva, como abastecimento de água, fornecimento de
comida, sistemas de transporte, coleta e tratamento de lixo e ameaças à fauna e a flora, entre outras.
Isso, destaca Ulf, sem citar o problema da mudança climática e suas causas a partir da emissão de
dióxido de carbono resultante de quase todas as
atividades econômicas.
Para o arquiteto, como os problemas ambientais geralmente são enfrentados de forma isolada
no contexto urbano, é preciso que haja reforço
para encontrar os vínculos escondidos. Como
exemplos, cita que o lixo doméstico é coletado e
depois depositado em aterros; a água do esgoto é
tratada em estações de tratamento residual; o congestionamento do tráfego é gerenciado com planejamento de tráfego e a poluição do ar é atacada
com tecnologia de limpeza de tubulação. “Isso
prova que cada situação relatada é vista isoladamente, quando poderia ser abordada de forma
conjunta. Sem a sinergia, o resultado são soluções
caras e pouco eficientes”, avalia Ulf Ranhagen.
Com base no conceito de SymbioCity, a consequência de ações isoladas no tratamento dos problemas urbanos é jogar fora dinheiro e energia. No
caso dos aterros, por exemplo, muita energia vem
sendo desperdiçada quando poderia estar sendo
aproveitada como recurso para a produção energética. Tudo isso poderia ser incentivado por meio da
criação de ciclos de reciclagem, onde se gerariam
mais benefícios e se reduziriam custos substanciais.
Annika Markovic,
embaixadora da Suécia no Brasil
Com relação à água, já há tecnologia moderna de
limpeza permitindo extraí-la de forma potável de
um quadro residual doméstico. Da mesma forma
que o lixo orgânico doméstico, a água poderia ser
também tratada e virar material para a produção
de biogás a ser utilizado como fertilizante.
Apesar da ideia de SymbioCity ter surgido
na década de 2000, a Suécia é pioneira no tratamento da questão sustentável. No início dos
anos 1960, o país reconheceu que a perda rápida
dos recursos naturais tinha de ser combatida.
Teve também papel preponderante na organização da primeira conferência das Nações Unidas
sobre o meio ambiente, realizada em Estocolmo,
em 1972. Durante a crise do petróleo dos anos
1970 e 1980, foi feito um esforço para encontrar
novas fontes de energia, criar novas maneiras
para isolar construções e desenvolver sistemas
automáticos de economia de energia. Como
consequência, desde os anos 1970, a dependência de petróleo para aquecimento e produção de
eletricidade na Suécia foi reduzida em 90%.
Outro dado digno de registro relacionado à
Suécia é que no período de 1990 a 2006, as emissões de dióxido de carbono foram reduzidas em
9% e o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou
44%. Também nos anos 1950 e 1960 ninguém de
bom senso ousaria mergulhar ou até mesmo colocar a mão nas águas de rios do centro de Estocolmo,
sendo até proibido por lei nadar ou pescar nesses
mananciais hídricos. Hoje, passados alguns anos e
graças a ações de despoluição levadas a efeito nessas
áreas, os banhistas podem ser encontrados em toda
parte e a pesca no centro de Estocolmo tornou-se
uma das mais procuradas atividades de lazer.
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 9
Transporte público
Cases de experiências sustentáveis na Suécia
por meio do SymbioCity
ônibus híbrido brasileiro. Os testes foram iniciados
ano passado, sendo o primeiro ônibus híbrido
desenvolvido pela marca para a América Latina. O
modelo combina um motor elétrico a um diesel,
que funcionam paralelamente. O maior diferencial
da nova tecnologia é que os dois motores são
utilizados para empurrar o ônibus, enquanto os
projetos anteriores utilizavam o motor a diesel
apenas como gerador de energia.
A empresa projeta a redução do consumo de
combustível para cerca de 35% e a emissão de
poluentes podendo atingir 90%, já que em boa
parte de sua utilização o ônibus trafega em baixa
velocidade ou está parado, pois somente o motor
elétrico alimenta os sistemas, não emitindo gases
nocivos ou qualquer ruído. O modelo será testado
inicialmente em Curitiba, durante três semanas
numa rota de 42 quilômetros pela cidade. Testes
em outras cidades também estão nos planos da
fabricante. Em dezembro a prefeitura do Rio de
Janeiro assinou acordo com a Volvo para uso futuro
do veículo de transporte de massa politicamente
correto. Além da capital fluminense, cidades como
São Paulo e Bogotá (capital da Colômbia) fazem
parte do programa piloto.
A Scania assinou com a
prefeitura de São Paulo acordo
para formar a primeira frota
de ônibus com combustível
renovável do país
Foto: ADRI FELDEN/ARGOSFOTO
C
om as discussões em torno do
meio ambiente virando o centro
das atenções na esfera urbana, o
transporte público passou a ser visto como
grande aliado nessa luta. Durante o evento
na FIEC, a Scania e a Volvo apresentaram
projetos que em breve estarão ganhando
as ruas das grandes cidades brasileiras
para gerar menos poluição nesses centros
urbanos. Em relação à Scania, a empresa vai
começar a produzir ônibus a biocombustível
no Brasil a partir de maio de 2011 utilizando
o etanol. No ano passado, em Curitiba, capital
do Paraná, uma experiência piloto iniciada em
2008 nos coletivos da capital paranaense movidos
totalmente a biodiesel mostrou a redução de 30%
no índice médio de monóxido de carbono e queda
de 25% de fumaça expelida no ar.
A Scania assinou também com a prefeitura
de São Paulo acordo para formar a primeira frota
de ônibus com combustível renovável do país. A
administração paulistana pretende adquirir 50
veículos movidos a etanol renovável, que devem
começar a transportar passageiros a partir de maio
próximo. O protocolo de intenções faz parte de
um conjunto de ações da prefeitura para diminuir
o nível de poluição do ar no município. Pela Lei
14.933/09 da cidade paulista, a administração
pública deve reduzir em 10% ao ano a utilização
de combustíveis fósseis (como gasolina e diesel,
derivados do petróleo), estabelecendo como meta
até 2018 que todos os ônibus de São Paulo devem
rodar com outras fontes de energia.
A Volvo está desenvolvendo o Projeto Brasil.
Trata-se de um ônibus híbrido, aliando tecnologia,
economia e meio ambiente, com a perspectiva
de reduzir em até 35% a emissão de CO². A ideia
é que em 2012 já esteja circulando o primeiro
Distrito modelo
- Nos anos 1990 o governo sueco criou o distrito modelo
Hammarby Sjöstad numa antiga área em que já existiram
outros projetos de cais e docas. As primeiras fases da
construção foram finalizadas em 2000 com 11 000
apartamentos, 25 000 habitantes e 35 000 locais de
trabalho. O distrito é hoje famoso por sua abordagem
de planejamento integrado em que cada aspecto foi
desenvolvido tendo em mente o todo. Os principais exemplos
são: sistemas automáticos subterrâneos de coleta de lixo;
o aquecimento e o resfriamento distritais são abastecidos
parcialmente pela coleta de lixo local e por trocadores de
calor em tratamento de água; água aquecida e eletricidade
geradas por energia solar; biogás oriundo da água de esgoto
doméstico e residual e construções eficientes com janelas de
vidro duplo, telhados ecológicos etc.
Água não é problema
- O tempo em que água era problema em Estocolmo é
coisa do passado. Somente com o lago Mälaren e outros
ao redor da cidade, foram gastos mais de três décadas
para a limpeza dos mananciais das águas residuais
domésticas, da poluição industrial e do rolamento
dos sistemas de tráfego. As técnicas de tratamento
se mostraram tão sofisticadas que até mesmo a água
residual doméstica pode servir como recurso para a
produção de água potável.
Economia de energia
- No distrito de Malmö, perto de Gothenburg, uma área
suburbana com 255 apartamentos dos anos 1970 está
sendo restaurada de modo que os custos com energia
sejam reduzidos pela metade. As construções novas utilizam
técnicas de isolamento levando em conta as chamadas obras
de energia passiva, nas quais as únicas fontes de energia
de calor são os aparelhos domésticos e o próprio calor dos
moradores. Nas construções, desde janelas com vidros triplos
a até a economia no aquecimento da água são otimizadas a
partir do cálculo do ciclo de vida dos custos de manutenção.
Lixo como riqueza
- Atualmente menos de 20% do lixo doméstico na Suécia é
depositado em aterros. Em Estocolmo, 75% de todo o lixo é
coletado para reciclagem ou é usado como combustível. No
lixo doméstico esse percentual sobe para 95%.
A Volvo desenvolve um ônibus
híbrido, aliando tecnologia,
economia e meio ambiente, com
a perspectiva de reduzir em até
35% a emissão de CO²
Aquecimento como energia
- Na fábrica Iggesund Paperboard, de papelão, conseguiu-se
reduzir em 75% a utilização do consumo de combustível fóssil
substituindo pelo aquecimento do lixo. Nos próximos anos
a intenção é substituir em 100% o consumo fóssil. O lixo é
oriundo dos processos industriais da própria empresa em
todas as suas instalações, desde a produção aos escritórios.
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 11
Ceará
Para dotar o estado de infraestrutura capaz de enfrentar os novos desafios
digitais, governo, prefeitura de Fortaleza e empresas de base tecnológica
investem em tecnologia da informação e comunicação
N
o mundo globalizado atual, no qual velocidade, processamento e transmissão de dados são fatores competitivos, praticamente todos os negócios têm de contar
necessariamente com algum nível de tecnologia de informatização e comunicação (TIC) se quiser prosperar. É o que
determina o boletim Radar do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) ao afirmar que para continuar crescendo o Brasil precisa ampliar os investimentos em TICs, que
incluem setores como equipamentos e serviços tecnologicamente avançados de informática e de comunicação.
Essas tecnologias contribuem de forma significativa para
os ganhos de produtividade em todos os setores da economia e têm importância estratégica para o desenvolvimento
12 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
de um país. De acordo com o documento, elas são responsáveis por parcelas importantes dos esforços privados em
pesquisa e desenvolvimento (P&D). O estudo do Ipea cita
os Estados Unidos como referencial, onde as empresas de
TICs respondem por cerca de 35% do total de P&D realizada pelas unidades privadas do país.
Em termos de América Latina (AL), nos últimos anos,
esse diagnóstico vem se solidificando de forma sustentável e
já apresenta números de destaque mundial. Estudo da consultoria Gartner Research aponta que a AL foi o segundo
principal destino para investimentos em TIC em 2010, com
gastos superiores a US$ 260 bilhões, 4,4% a mais do que
há dois anos. Para a empresa, o ritmo deverá continuar em
No Ceará
P
or aqui, a carta na manga do governo
estadual para entrar com força na era da
tecnologia é o projeto Cinturão Digital.
Iniciado em 2008, o programa, que busca
promover a inclusão digital de todo o estado,
está funcionando em regime experimental. O
empreendimento tem um aporte financeiro de
R$ 65 milhões e deverá contemplar as sedes de
todos os 184 municípios cearenses.
O empreendimento é uma gigantesca
rede de banda larga de alta velocidade, com
extensão de cerca de 3 000 quilômetros de
fibra ótica, a maior e mais veloz rede pública
do Brasil, cobrindo 90% da população urbana
cearense a uma velocidade de conexão de
10 Gbps (10 000 vezes um Mps – megabite
por segundo). Antes do cinturão, as conexões
compartilhadas iam até 16 Mps. O projeto
permitirá a interligação de escolas, hospitais,
postos de saúde, delegacias e demais órgãos
públicos. A transmissão inclui sinal sem fio e
tecnologia WiMax, além de transmissão via rede
elétrica, tecnologia conhecida como Power Line
Communication (PLC), caracterizada como uma
tecnologia de radiofrequência.
Testes realizados em 22 de dezembro
passado mostraram que nos municípios de
Sobral e Morada Nova foi possível baixar um
filme de duas horas de projeção em apenas 30
segundos no ponto central da rede. Nas duas
cidades, os órgãos do governo do estado estão
conectados por meio de rádio Wimax. Em breve,
será realizado leilão de concessão de parte
da infraestrutura para empresas privadas que
explorarão serviços digitais. Em contrapartida, as
empresas cobrirão o custeio de manutenção e a
atualização tecnológica da rede.
Em artigo publicado no jornal O Povo, o
governador Cid Gomes diz que o Cinturão
Digital se justifica, ainda, pela economia que
vai representar aos cofres públicos. Segundo
ele, o Ceará tem uma despesa anual de R$ 30
milhões com telefonia e internet. “Se levarmos
em consideração apenas os custos financeiros,
somente com a redução das despesas com
telecomunicações o investimento do Cinturão
Digital estará pago em apenas dois anos”, sustenta.
Cid Gomes afirma também que o governo
do estado não tem intenção de explorar o
empreendimento comercialmente. “Nosso objetivo
é licenciar empresas operadoras e provedoras de
internet para que elas ofereçam à população, a
preços acessíveis, serviços de acesso à internet
de alta velocidade.” Ele prevê que a ação vai
estimular o surgimento e o fortalecimento de
pequenos provedores privados, abrindo novas
oportunidades de negócio e de alternativa
econômica para o interior do estado.
“
Nosso objetivo
é licenciar
empresas operadoras e
provedoras de internet
para que elas ofereçam à
população mais serviços
de acesso à internet de
alta velocidade.
Cid Gomes,
governador do Ceará
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
“
Desafio digital
ascensão até 2014, quando o volume alcançará
US$ 326 bilhões em investimentos.
Segundo a consultoria, desse total, a previsão é que o Brasil tenha fechado 2010 com
cerca de US$ 100 bilhões de aportes em TIC, o
que representa 9,6% do Produto Interno Bruto
(PIB). Até 2014, o país deverá chegar a US$
128 bilhões em gastos na área, 10,3% do PIB.
Para 2011, pesquisa do Estudo de Tendências
de Investimentos, do Instituto Sem Fronteiras
(ISF), prevê que os investimentos em TIC devem crescer a taxas maiores que 10%. Os cálculos vislumbram um aumento de 10,3% nos
investimentos. Das mais de 700 empresas que
responderam à consulta, 65% pretendem elevar o montante de investimento em tecnologia
nas suas organizações.
Essa previsão de crescimento é resultado de
um ano de recuperação, já que o investimento em TIC cresceu 10,5% em 2010 em relação
a 2009, quando a crise econômica fez a taxa
chegar a 2,4%. Ainda segundo o levantamento, o mercado corporativo, sozinho, fará investimentos que devem chegar a R$ 61,9 bilhões
em 2011, e os projetos de Business Intelligence (ferramentas para coletar, analisar e extrair
informações) deverão receber a maior parcela
dos investimentos neste ano que começa.
60 anos | 13
Com o Cinturão Digital
haverá a oferta de
novos serviços
Na prática, segundo o presidente da Empresa
de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice),
Fernando Carvalho, gestor da iniciativa, entre os
benefícios do Cinturão Digital à população está
a oferta de novos serviços e uma significativa
redução nos valores de acesso à internet, além
da economia, como defende o governador,
com gastos de telecomunicações na conta do
governo. “As cidades não receberão apenas sinal
de internet, mas estarão prontas para usar mais
recursos de telefonia celular, videoconferência,
acesso 3G e TV por assinatura digital, entre outras
tecnologias”, explica Carvalho.
Em termos de gestão pública, as áreas mais
impactadas serão segurança, saúde e educação.
Em Fortaleza, devem ser ampliados, por exemplo,
os serviços de câmeras de vigilância. Nos
hospitais, pretende-se investir em projetos de
telemedicina, com novos recursos como prontuário
eletrônico e transmissão de exames e imagens
médicas. Dessa forma, haverá a possibilidade, por
exemplo, de ouvir a opinião de médicos em outras
cidades, evitando o deslocamento de pacientes.
Na educação, a obra será usada no ensino a
distância, principalmente em cidades em que o
estado tem poucos professores especializados,
como química, física e biologia. O Cinturão
Digital vai funcionar a partir de um modelo de
negócios sugerido pelo governo e a manutenção
será feita com a ajuda de empresas privadas,
selecionadas por meio de licitação, que poderão
obter o direito de uso das fibras e oferecer
serviços para cobrir o custeio da infraestrutura.
O governo estadual será responsável por levar a
internet a órgãos públicos, escolas, hospitais e
postos de saúde. Segundo Carvalho, empresas
como Oi, Embratel, Claro, Vivo e GVT, entre
outras, estão interessadas em explorar o serviço.
Mão de obra
I
naugurada em julho de 2010, uma iniciativa do
governo do estado denominada Universidade
do Trabalho Digital (UTD) faz parte do leque
de ações complementares ao Cinturão Digital
que visam dotar o Ceará não apenas de recursos
técnicos, mas também de mão de obra qualificada
para atuar na expansão dos serviços de TICs.
O projeto é uma parceria entre a Secretaria da
Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece)
e o Instituto Centec. Funciona nas dependências do
prédio do Cine São Luiz, no Centro de Fortaleza.
A UTD foi criada para realizar qualificação
profissional na área de tecnologia da informação,
promover inserção no mercado de trabalho e
apoiar empreendimentos e ideias criativas para
gerar negócios e dinamizar a economia. Em seis
meses, a UTD capacitou centenas de jovens em
cursos de formação especializada em tecnologia
da informação. Todos os cursos são gratuitos e
oferecem conteúdos avançados com 360 horas
de aula em PHP avançado, Linux avançado, Java
avançado, design gráfico, suporte e banco de
dados, conectividade e segurança da informação
e design de jogos.
Os cursos são voltados a jovens entre 16 a 29
anos, alunos da escola pública ou egressos que
tenham feito algum curso anterior de informática,
sendo 20% das vagas destinadas a estudantes do
4º semestre da área de tecnologia da informação
de universidades ou cursos tecnológicos. A UTD
também oferecerá cursos gratuitos para formação
básica nas ferramentas do BR Office (software
14 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
livre), além de apoio ao desenvolvimento de
projetos que visem ao empreendedorismo em
tecnologia da informação.
Nessa modalidade, serão apoiados dez
projetos durante cinco meses. Serão selecionados
30 alunos, sendo três por cada projeto inscrito
por um professor com equipe com três alunos.
Cada aluno terá direito a uma bolsa e cursos
de empreendedorismo de 60 horas. Ao final
dos cinco meses, caso o projeto avance, será
incubado em uma empresa parceira do projeto.
A UTD funciona nas
dependências do Cine São
Luiz, no Centro de Fortaleza
Prefeitura
E
m Fortaleza, a prefeitura e a Câmara
Municipal dispõem do Projeto de Lei 9585,
aprovado em dezembro de 2009, que cria
o Polo Tecnológico de Fortaleza (PTFOR) e o Polo
Criativo de Fortaleza (PCFOR). A iniciativa, que
pretende lançar o segundo centro tecnológico
destinado à área de TIC do Nordeste (o primeiro
fica em Recife), visa atrair para certas áreas da
cidade empresas que desenvolvam atividades
econômicas de base tecnológica e cultural.
De acordo com o autor da lei, vereador
Guilherme Sampaio, as empresas investidoras
serão beneficiadas por meio da concessão de
incentivos fiscais, mediante a prestação de
contrapartidas socioeconômicas por parte dos
beneficiários. “Nossa intenção é atrair empresas
via redução do Imposto Predial e Territorial Urbano
(IPTU), do Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza (ISS) e do Imposto sobre Transmissão de
Bens Imóveis (ITBI)”, explica Sampaio.
Na prática, a lei determina redução de 50% a
100% do IPTU. Caso haja a aquisição do imóvel,
a redução do ITBI pode variar de 80% a 100%.
Os serviços produzidos ou oferecidos serão
contemplados com a redução de 60% do ISS. A
novidade aqui é que o empreendedor depositará
30% da redução do ISS no Fundo Municipal de
Juventude para financiar políticas sociais voltadas
à capacitação de jovens.
Em contrapartida, a prefeitura, que conta com o
apoio do governo do estado, promoverá uma série
de ações que incluem a capacitação tecnológica
e profissional de jovens e adultos, a valorização
e qualificação urbana de imóveis de interesse
público e o redirecionamento produtivo de áreas
territoriais do município. As zonas escolhidas para
a implantação dos polos foi o Centro de Fortaleza
e os entornos do Centro Dragão Mar e da Avenida
Francisco Sá. Os empreendimentos que desejarem
participar do Polo Tecnológico ou do Polo Criativo
devem submeter seus projetos a uma comissão
da prefeitura, que avaliará se eles realmente se
enquadram nos parâmetros exigidos.
Prometidos para sair do papel neste ano, os
polos de tecnologia de Fortaleza devem significar
uma participação maior da capital cearense no
cenário nacional de TIC. Pelo menos é isso que
espera o empresário Ricardo Liebmann, da Secrel.
“Cremos que o Polo Tecnológico e o Polo da
Indústria Criativa de Fortaleza representarão um
estímulo ao crescimento do setor. O apoio dos
governos locais à área de TIC, traduzido no efetivo
funcionamento desses polos, é fundamental para
reduzirmos as vantagens de nossos concorrentes
de outras localidades, com seus polos em pleno
funcionamento e por estarem em mercados
maiores”, destaca Ricardo.
A Prefeitura de Fortaleza garante que nos
últimos seis anos vem trabalhando na inclusão
social e digital, com ações voltadas para a
juventude. Uma delas é o Proinfor, cujo objetivo
é qualificar e inserir os jovens no mercado de
trabalho na área de informática. O programa
é destinado a jovens e adultos oriundos de
escolas públicas, a partir da 9ª série do ensino
fundamental. O Proinfor tem a duração de
um ano e é composto por cursos na área do
Linux, BR Office, internet, Web Designer, Rede
de Computadores, Hardware e Programador.
Outro destaque é a Cooperativa Pirambu Digital.
Realizada em parceria com o Cefet, a iniciativa
beneficia jovens carentes da comunidade
e é reconhecida internacionalmente, tendo
representado o Brasil em um intercâmbio de
experiências de inclusão digital com a África
do Sul e a Índia.
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 15
Conhecimento tecnológico
Sucesso
16 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
Foto: JOSÉ SOBRINHO
O
Instituto Titan congrega as principais empresas cearenses de tecnologia
Ele afirma que essa taxa média está “bem” acima da anual
do setor de tecnologia da informação no Brasil na produção
de hardware, software e serviços, situada em torno de 10%,
segundo indicadores do Instituto Gartner. O Atlântico possui,
ainda, o selo CMMI5 do Software Engineering Institute (SEI)
e está entre as melhores empresas para trabalhar no Brasil,
segundo a revista Você S.A./Exame.
Em Fortaleza, são nove laboratórios que desenvolvem
programas para diversos setores, desde sistemas operacionais
até tecnologia de celulares e programas que rodam em
sistemas nos Estados Unidos, Ásia e Europa. Além da capital,
o Instituto possui filiais em Sobral e na cidade de São Paulo.
Genuinamente cearense, seus profissionais – engenheiros,
analistas de sistemas e programadores – fornecem soluções
tecnológicas para empresas de porte global como a norteamericana HP, a sueca Sony Ericsson e os grupos financeiros
Santander, da Espanha, e HSBC, da Inglaterra.
Outra empresa cearense que exporta tecnologia de TIC
para diversos estados é a Secrel, do empresário Ricardo
Liebmann. Com 20 anos de atividades, em 2009, a
instituição se associou à Formacenter, criando a Botployee
Consultoria em Automação e Software S/A, entidade
com tecnologia de padrão mundial para a automação
de processos organizacionais, detentora de recursos de
inteligência artificial voltados para ampliar e melhorar
serviços e reduzir custos de empresas de todos os portes.
Atualmente, o sistema integrado ERP, batizado de Nexgen,
e o HospLivre, software de gestão de hospitais, são as
atrações da empresa no mercado de TIC. O primeiro levou
três anos de estudos em tecnologia em web para ficar
pronto e tem foco exclusivo em empresas comerciais. O
HospLivre, que contou com apoio financeiro da Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep), resultou na criação da
empresa Avicena Sistemas de Saúde Ltda., voltada para
soluções de inteligência para o setor.
Foto: Giovanni santos
Ceará está entre os quatros
estados brasileiros nos quais
o governo mais investe na
modernização da máquina pública por
meio da tecnologia da informação.
Dados mostram que os investimentos
em TIC no Ceará vêm crescendo a uma
taxa anual de 13%. Só em 2009, o
estado contou com um orçamento de
mais de R$ 150 milhões.
Em 2010, segundo o diretor
de Tecnologia e Eventos do Grupo
de Gestores em Tecnologia da
Informação e Comunicação do
Ceará (GGTIC/CE), Manoel Ribeiro,
os investimentos das empresas
cearenses em projetos de Tecnologia
da Informação e Comunicação alcançaram valores próximos
a R$ 300 milhões. Para Ribeiro, esse montante prova que
“os empresários cearenses já descobriram que soluções
personalizadas em tecnologia reduzem custos e tornam
eficiente a cadeia produtiva”.
Números como esses, acompanhados de outros dados
sobre o crescimento da economia cearense, são justificativas
para que empresas de outros estados e até de fora do país
invistam no Ceará. Uma delas é a BRQ IT Services, que
chegou a fechar em 2008, com o Banco do Nordeste, o
maior contrato de prestação de serviços em TIC no Ceará,
no valor de R$ 26,5 milhões. A empresa abriu recentemente
uma fábrica de software na capital cearense, ampliando
seus pontos de presença que incluem Nova York e Madri.
Outra companhia, a iFactory, também montou sua fábrica
de software em Fortaleza e atualmente trabalha no projeto
de uma unidade em Quixadá com a intenção de transformar
a cidade do sertão central cearense em um polo de
profissionais de tecnologia.
Oportunidades como essas têm criado vagas de empregos
além do que o mercado local estava preparado para suprir.
Em 2009, em plena recuperação da crise econômica
mundial, o segmento de TIC no Ceará contabilizava pelo
menos 1 200 vagas não preenchidas para profissionais
qualificados, segundo estimativa do Instituto Titan – que
congrega as principais empresas cearenses de tecnologia. O
quadro ainda não mudou.
Entre as empresas locais que contribuem para colocar
o estado no quadro dos mais competitivos do país está
o Instituto Atlântico. Trata-se de um centro de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico localizado no bairro Cidade
dos Funcionários com dez anos de operação e taxa média
de crescimento anual de 24%. Segundo José Eduardo
Martins, superintendente do Instituto Atlântico, a empresa é
responsável pela geração de mais de 200 postos de trabalho
com mão de obra “altamente” qualificada.
IEL inicia 2ª edição
de projeto com BNB
A ideia é estimular a interação entre as unidades de ensino e as micro
e pequenas empresas, incentivando a transferência de conhecimento
e sua aplicação em suas atividades
O
Instituto Euvaldo Lodi (IEL/CE), instituição componente do Sistema Federação das Indústrias do Estado
do Ceará (Sistema FIEC), iniciou este ano a segunda
edição do projeto desenvolvido em parceria com o Banco
do Nordeste do Brasil (BNB) voltado a incentivar a iniciação tecnológica nas micro e pequenas empresas. O projeto
oferece bolsas de estudo a egressos dos centros de ensino no
estado para apoiar a disseminação do conhecimento tecnológico. A ideia, explica Aurineli Freitas, gerente da Área de
Estágio e Novos Talentos do IEL/CE, é estimular a interação
entre as unidades de ensino e as micro e pequenas empresas,
incentivando a transferência de conhecimento e sua aplicação nas atividades dessas unidades fabris.
Iniciado em 2009, o projeto procura sensibilizar as empresas a aderir à metodologia desenvolvida no trabalho. De
acordo com Leila Cristiane de Alcântara Ferreira, analista da
Área de Estágio e Novos Talentos do IEL, o processo de sensibilização se baseia nas demandas da própria empresa em
relação aos seus gargalos e às possibilidades de superá-los.
Com tal informação a seu dispor, o IEL passa a articular com
os centros de ensino a busca por professores e estudantes que
se adequem à necessidade do empreendimento.
A cada edição, a entidade seleciona 30 projetos para serem desenvolvidos. Cada um corresponde a uma empresa,
tendo um professor-orientador e um aluno a ser acompanhado. Como as demandas das empresas são específicas,
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 17
Foto: Giovanni santos
Rogério Frota: “Estágio
une a realidade do
mercado com a teoria da
universidade por meio de
casos práticos”
18 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
Antônio Mailton
Mendonça Nunes
participou do projeto
na empresa Panebox
Foto: Giovanni santos
Aurineli explica que a escolha do aluno a ser
orientado é do próprio professor. Segundo
ela, ninguém melhor do que ele para indicar
o estudante com capacidade para atender algo
tão específico. A ação dura seis meses e inclui a
realização de estudos, pesquisas e diagnósticos
feitos pelos alunos, sempre com acompanhamento do professor-orientador.
A bolsa mensal para cada um dos 30 estudantes participantes do projeto é de R$ 400,
paga pelo BNB ao longo de sua execução. Para
fazer parte, eles devem estar regularmente matriculados em cursos de graduação ou superior
tecnológico e apresentar bom desempenho acadêmico. Já os professores-orientadores, além de
selecionar os bolsistas, devem elaborar, em conjunto com os empresários, o plano de trabalho e
supervisionar a atuação dos jovens estudantes.
As empresas contempladas terão de dar contrapartida simbólica de R$ 65,00 por mês.
Em 2009, o projeto de iniciação tecnológica
IEL/BNB começou o trabalho com 30 empresas
e, ao final dos seis meses previstos, concluiu o
atendimento a 28 delas. As maiores demandas,
diz Leila Cristiane, foram para a área administrativa e ciências contábeis, com seis projetos
cada. Outros setores atendidos pelo projeto
foram publicidade e propaganda, marketing,
engenharia da produção, informática, design,
química, gestão ambiental, inovação tecnológica, engenharia mecânica, comércio exterior,
eletromecânica e tecnologia de alimentos.
Para 2011, as 30 empresas participantes contemplam demandas nas áreas de ciências contábeis, engenharia de pesca, engenharia de produção, marketing, informática, engenharia elétrica,
administração, publicidade e propaganda e engenharia de teleinformática. Nesta edição, o cur-
so de engenharia de produção foi o mais demandado, com oito empresas interessadas. Por outro
lado, as áreas administrativa (um projeto) e de
ciências contábeis (dois projetos) não repetiram
a demanda do ano de 2009, quando apareceram
no topo com seis projetos.
Aluno do 7º semestre da Faculdade Marista
do curso de Publicidade e Propaganda, Antônio
Mailton Mendonça Nunes participou do projeto
na empresa Panebox – Panificadora e Confeitaria Ltda. Antes refratário à ideia de estágios, ele
destaca que o período de seis meses no projeto
foi uma das melhores experiências que vivenciou. O resultado pode ser confirmado pela continuidade do trabalho na Panebox por mais seis
meses a pedido dos proprietários. Mailton diz
que a metodologia adotada permitiu não só ampliar conhecimentos, mas também enfrentar situações que ocorrem todos os dias na profissão.
Já o professor-orientador Rogério Frota Leitão, da Faculdade Christus, ressalta que o estágio une a realidade do mercado com a teoria da
universidade por meio de casos práticos demandados pelas próprias empresas. Além disso, lembra, permite que o estudante se familiarize com
problemas que ele tem de resolver a partir de outros conhecimentos acumulados. Rogério, que é
professor na área de custos, encaminhou a aluna
Cleane Ramos Paulinho para uma empresa de
beneficiamento têxtil. Ali, destaca, os próprios
donos e os funcionários se mostraram céticos
quanto a resultados positivos por causa de experiências anteriores. Agora, queriam a elaboração de um programa que mensurasse os custos
dos processos de produção em determinadas
etapas. Ao final, sublinha Rogério, a empresa se
mostrou satisfeita, tendo adotado as soluções de
mudança de rotina propostas no trabalho da estagiária. Hoje, Cleane trabalha em uma empresa
que também atua na área de custos.
SENAI e Correios formarão
4 355 jovens aprendizes
O
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI/CE), entidade do Sistema FIEC, vai iniciar
em março um trabalho dentro do programa Jovem
Aprendiz em parceria com a Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos (ECT). A iniciativa será desenvolvida com três
turmas em Fortaleza e Juazeiro do Norte (região do Cariri).
Segundo Iêda Evaristo, pedagoga da SENAI envolvida com o
projeto, os cursos são de assistente administrativo e deverão
durar dois anos. O público-alvo são jovens com idade entre
14 e 24 anos. A seleção para participação é feita pelos Correios, cabendo ao SENAI aplicar a metodologia de ensino.
A parceria do SENAI com os Correios faz parte de uma
ação nacional que visa preparar 4 355 jovens para o mercado
de trabalho. O acordo foi assinado em janeiro de 2011 e, além
do SENAI, inclui na iniciativa o Sistema Indústria, por meio
da Confederação Nacional da Indústria (CNI), do Serviço
Social da Indústria (SESI) e do IEL. Durante o curso, os jovens
terão aulas de comunicação e informação, gestão organizacional, matemática, organização de documentos e arquivamento,
entre outras disciplinas. A carga horária é de 20 horas semanais, sendo oito de aulas no SENAI e 12 desempenhando a
atividade profissional nos Correios.
Nas cinco primeiras semanas, os jovens receberão uma
preparação básica integral no SENAI, quando terão orientações sobre a vida profissional, ética e cidadania. Ao final do treinamento, eles estarão preparados para atuar em
empresas públicas e privadas, com a execução de rotinas
administrativas, organização de documentos e apoio logístico. Os jovens a serem atendidos no Brasil estão distribuídos por 116 localidades. O programa Jovem Aprendiz
faz parte da política para a juventude do governo federal,
tendo sido criado pela Lei 10 097/2000.
Comércio exterior
Ceará na rota certa
Após retomar a trajetória de crescimento em 2010, nosso estado se prepara para dar continuidade à evolução do seu
desempenho no comércio internacional. A FIEC, por meio do CIN, está pronta para apoiar as empresas
POR david negreiros
O
estado do Ceará esteve muito próximo de superar
em 2010 o seu recorde de exportações. Mesmo tendo de enfrentar obstáculos como a oscilação constante do câmbio, a comercialização dos produtos cearenses
no mercado internacional totalizou US$ 1,269 bilhão. A
maior marca em termos de valores exportados ainda pertence ao ano de 2008, quando as vendas alcançaram US$
1,276 bilhão. Na comparação com 2009, o aumento nas
exportações foi de 17,5%. Em um ano caracterizado pela
retomada do crescimento, o desempenho das exportações
cearenses só não foi melhor por causa da desvalorização
do dólar, que afetou a competitividade de diversos setores.
Outro problema foi a redução de demanda, registrada em
alguns mercados consumidores.
Para este ano, o superintendente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias
do Estado do Ceará (FIEC), Eduardo de Castro Bezerra Neto, afirma que não é possível fazer estimativas sem
conhecer o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
dos países que integram a União Europeia. “A variação no
PIB desses países é que irá determinar o nível de aumento
ou queda da demanda”, diz. Por outro lado, ele prevê que
a liderança das exportações do Ceará deverá continuar
com os setores de calçados, castanha de caju e couros.
Ao longo de 2011, o superintendente do CIN garante que
a FIEC continuará a apoiar tanto os exportadores que planejam ampliar sua participação no comércio internacional,
quanto os empresários que ainda não exportam, mas pretendem prospectar a inserção de seus produtos no exterior.
“Há mais de 11 anos o CIN contribui para a mudança de
atitude do empresariado nas suas relações com o mercado
externo, trabalhando para a criação de uma mentalidade
voltada ao comércio exterior”, sublinha Eduardo Bezerra.
Segundo ele, o CIN se reestruturou e, a partir de
2011, passa a incluir novos produtos e serviços no seu
portfólio. “A globalização da economia é feita em múltiplas direções e o CIN está evoluindo para essa multidimensão das relações internacionais, que não podem
restringir-se às exportações, mas incluem importações,
compras de equipamentos, transferência de tecnologia
e consórcios de negócios”, ressalta o superintendente.
Entre as novidades do órgão, destaca o apoio à internacionalização de investimentos das empresas cearenses, além de continuar a organizar missões empresariais
com foco na aquisição de bens de capital no exterior.
Nesse último exemplo, o objetivo é modernizar o processo produtivo das indústrias para torná-las mais competitivas nos mercados interno e externo.
Foto: Giovanni santos
Exportações do Ceará
Ano
Valores exportados
Var.(%)
2000 US$ 495.338.674
33,4
2001 US$ 527.668.107 6,5
2002 US$ 545.023.335 3,3
2003 US$ 762.602.719 39,9
2004 US$ 861.567.940 13,0
2005 US$ 933.589.116 8,4
2006 US$ 961.874.415 3,0
2007 US$ 1.148.357.273 19,4
2008 US$ 1.276.970.342 11,0
2009 US$ 1.080.166.034 -15,3
2010 US$ 1.269.498.551 17,5
Fonte: MDIC
20 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 21
EUA querem fortalecer relações
de negócios com o CE
22 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
A
com fornecedores para fechamento de negócio em
médio/longo prazo. As importações serão feitas
em regime de cooperação, representando ganhos
logísticos e maior margem de negociação com os
fornecedores chineses. Em outubro, foi a vez de
um grupo ligado ao Sindicato das Industrias de
Calçados e Vestuário de Juazeiro do Norte e Região
(Sindindustria) ir à China e a Taiwan. Dezesseis
empresários do setor calçadista, a maioria da
região do Cariri, participaram de três feiras – entre
elas a Canton Fair – para conferir novidades em
máquinas e insumos.
Segundo a coordenadora do CIN/FIEC,
Beatriz Bezerra, além de prospectar a aquisição
de maquinário a preços competitivos, os
cearenses tiveram a oportunidade de conhecer os
concorrentes asiáticos. “Eles puderam constatar
in loco o desafio que é competir com os produtos
da China e de Taiwan, dois grandes exportadores
de calçados”, afirma Beatriz.
Outro serviço oferecido pelo CIN com
boa aceitação em 2010 foram os cursos de
capacitação em comércio exterior: mais de
cem pessoas participaram de seis diferentes
treinamentos. A ideia é propiciar às empresas um
ambiente de aprendizagem intensiva em temas
relacionados ao mercado externo e agregar valor
a seus processos de inserção internacional. Para
2011, a previsão é realizar sete cursos de curta
duração, cujos temas serão definidos a partir das
demandas do empresariado.
Informações: (85) 3421-5420.
Canton Fair, na China
pesar de ter sido o epicentro da crise que abalou o mundo em 2008, os Estados Unidos da América (EUA) continuam como principal parceiro do Ceará no comércio
internacional. O mercado norte-americano é o principal destino dos produtos cearenses no exterior e ocupa o segundo
lugar na lista de países de origem das nossas importações. No
ano passado, as exportações do Ceará para os EUA totalizaram
US$ 344,8 milhões até o mês de novembro. Esse valor representou 30,3% das vendas internacionais do estado até aquele
momento. No mesmo período, as importações de produtos da
terra do Tio Sam ficaram em US$ 197,7 milhões.
As relações entre os dois mercados, entretanto, não se
restringem à compra e venda de mercadorias. Há empresas
instaladas em território cearense que são ligadas a corporações norte-americanas, a exemplo da Rigesa, subsidiária da
MeadWestvaco Corporation. Mais recentemente, o empresariado do Ceará passou a ser um player proativo internacionalmente e já existe indústria de DNA cearense – no caso a Santana Textiles – investindo na construção de fábrica nos EUA.
Em virtude desse relacionamento consolidado e com vistas a fortalecê-lo, os EUA demostraram interesse em instalar
uma Câmara Americana de Comércio no Ceará. A informação foi repassada no final de dezembro do ano passado ao
presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, pelo cônsul
dos EUA em Recife, Christopher Del Corso. Uma vez concretizada sua instalação no estado, a câmara dará impulso extra
aos negócios entre as duas partes. A expectativa é que haja
uma intensificação das trocas comerciais e um maior número
de associação entre empresários do Ceará e dos EUA.
“
A experiência nos
Estados Unidos foi
rica e certamente muda a
perspectiva com que passamos
a olhar para o país.
Foto: JOSÉ SOBRINHO
E
duardo Bezerra revela que
o estado do Ceará está
abrindo três novas frentes
de mercado na Europa em 2011:
Polônia, Suécia e Bélgica. Haverá
prospecções nesses países a fim de
identificar oportunidades de negócio
para as empresas cearenses. “No
caso específico da Polônia, o país
passa por uma situação melhor do
que as demais nações europeias.
Apesar da crise internacional, a
economia polonesa cresceu 4%
nos três primeiros trimestres do ano
passado”, afirma.
Ainda com foco em mercados
internacionais, o CIN definiu seu
calendário preliminar de missões
empresariais para 2011 focado na prospecção
de negócios e participação em feiras. Até o
fechamento desta edição da Revista da FIEC, foi
confirmada a organização de comitivas à Bélgica,
à região da Galícia (Espanha) e a Dunkerque
(França), além das missões que serão realizadas
em parceria com a Rede CIN da Confederação
Nacional da Indústria (CNI). Outras missões devem
ocorrer a partir de demandas dos sindicatos
ligados à Federação.
Explica Eduardo Bezerra que a participação
nessas viagens proporciona ao empresariado
a oportunidade de conhecer pessoalmente as
melhores práticas internacionais e discutir face a
face oportunidades de negócio. Em 2010, a FIEC
articulou seis missões empresariais, além de ter
auxiliado entidades parceiras na organização de
outras quatro comitivas. No total, 72 empresários
cearenses foram ao exterior prospectar negócios.
Entre as missões articuladas, destaque para as
que tiveram como destino as feiras Alimentária
(Barcelona), Filda (evento multissetorial em Angola)
e Canton Fair (China), para onde foram dois grupos.
Em abril, 21 empresários ligados ao Sindicato
das Indústrias Químicas, Farmacêuticas e da
Destilação e Refinação de Petróleo do Estado do
Ceará (Sindquímica), além de seis participantes
de outros setores, participaram da 107ª edição
da Canton Fair. Os industriais foram prospectar a
aquisição de máquinas, equipamentos e matériasprimas. Cerca de 33% dos participantes fecharam
negócios durante a missão e 91% fizeram contatos
“
Novos mercados
Karina Frota, analista do CIN
Outra prova de que as relações entre norte-americanos
e cearenses estão consolidadas foi o convite da Embaixada
dos EUA à analista do CIN, Ana Karina Frota, para ir ao país
em viagem de trabalho no mês de dezembro último. Durante 21 dias, ela participou de reuniões com representantes de
instituições públicas e privadas, como o Departamento de
Comércio, a USTDA (agência que visa promover o crescimento econômico e os interesses comerciais dos EUA nos
países em desenvolvimento), Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Departamento de Estado (assessora o
presidente na formulação e execução da política externa).
O objetivo foi conhecer o funcionamento dessas entidades e
abrir as portas para parcerias abrangentes ou pontuais, contatos para negócios etc.
“A experiência foi rica e certamente muda a perspectiva
com que passamos a olhar para os Estados Unidos, nos permitindo criar um novo direcionamento nas nossas ações diárias e
estratégicas”, afirma Karina Frota. A expectativa é que o aprendizado trazido pela representante da FIEC contribua para a
instalação da Câmara de Comércio Americana no Ceará.
Brasil: exportações devem manter ritmo
A
s exportações brasileiras fecharam 2010 no maior
nível da história. As vendas externas atingiram US$
201,9 bilhões no ano passado, superando o recorde de
US$ 197 bilhões registrado em 2008. As importações também foram recorde com US$ 181,6 bilhões. O maior resultado das compras externas havia sido igualmente em 2008,
com US$ 172,9 bilhões.
Em 2011, as exportações brasileiras deverão crescer em
ritmo próximo ao do ano passado, de acordo com estudo da
CNI. A entidade ainda estima um menor crescimento das importações: o ritmo de expansão da importação cairá de 35,6%
em 2010 para 23,3% em 2011. Por causa disso, a contribuição
do setor externo na variação do PIB cairá de 2,7 pontos percentuais em 2010 para dois pontos percentuais em 2011.
Segundo o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, o
Brasil acertou ao buscar novos parceiros comerciais no mercado internacional, como a China e o Irã, mas perdeu espaço em
mercados onde já atuava por causa da falta de competitividade.
Exportações brasileiras
2008
2009
2010
US$ 197 bilhões
US$ 153 bilhões
US$ 201,9 bilhões
Fonte: MDIC
“Abrir novos mercados, como na África e no Irã, faz parte da
política internacional e da busca de alternativas de mercado. O
que não podemos é perder mercados onde já estávamos porque, no comércio internacional, existe uma grande dificuldade
para recuperá-los”, avalia Robson Andrade.
Ele considera ainda que o crescimento da participação de
parceiros comerciais como a Argentina e a China é importante, ainda que os chineses comprem muitos produtos primários. “Qualquer exportação é importante, tanto a de commodities quanto a de manufaturados de valor agregado”, arremata
o presidente da CNI.
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 23
Cajucultura
Setor clama por
incentivo e tecnologia
A boa performance das exportações de castanha de caju é
fundamental para assegurar a sobrevivência do setor primário que
não se sustentaria sem a indústria
POR ÂNGELA CAVALCANTE
C
NÚMEROS DA
CAJUCULTURA
NO CEARÁ
Quantidade de
produtores – 57 000
Municípios
concentradores de
plantio de cajueiro – 42
Produção safra
2009/2010
– 135 000 toneladas
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Produção safra
2010/2011
– 50 000 toneladas
Fontes: CIN/CE e Sindicaju
24 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
om mais de 400 000 dos cerca de 700 000
hectares plantados de caju no Brasil,
uma participação estimada em 85% da
capacidade instalada de 450 000 toneladas
na indústria de castanha nacional e tendo
a amêndoa como o principal item da pauta
de exportação do estado, o Ceará enfrenta
o risco iminente de estagnação da cajucultura. Ano após ano, há perda sistemática de
produtividade, que culminou com a quebra
de mais de 60% da safra em 2010, fenômeno impulsionado sobretudo por fatores climáticos. Sem matéria-prima suficiente para
alimentar as empresas de beneficiamento da
castanha in natura, a perspectiva é de paralisação em massa do parque industrial já em
maio, com a suspensão temporária dos contratos de 10 000 trabalhadores.
Quem alerta é o presidente do Sindicato
das Indústrias de Beneficiamento de Castanha de Caju e Amêndoas Vegetais do Estado
do Ceará (Sindicaju), Lúcio Carneiro. Segundo ele, os maiores entraves enfrentados
no momento pela cajucultura no estado,
considerando o cenário macroeconômico,
são o câmbio, o sistema de tributação e a
política salarial vigente. “Esses componentes apontam para a situação triste na qual
se encontram as indústrias beneficiadoras.
Temos um custo alto na área do processamento da matéria-prima e uma conjuntura
contrária ao segmento. Necessitamos de desoneração fiscal e das reformas previdenciária e trabalhista, que não saem”, ressalta
Lúcio Carneiro.
No contexto da economia local, o empresário diz que o setor enfrenta outros graves problemas, como carência de investimento em
inovação tecnológica, falta de verba e realização de diagnósticos paliativos. “A área onde é
viável a substituição de copas dos cajueiros
não ultrapassa 30% do total de hectares plantados. Isso não resolve o problema dos nossos pomares. Mas, mesmo assim, a promessa
de verba para esse projeto é tão tímida que
levaríamos cem anos para substituir todas as
copas”, ressalta Lúcio Carneiro, que enxerga
a redenção da cajucultura a partir da implantação de novas tecnologias, a exemplo do
plantio de mudas de cajueiro anão precoce.
“Mas será que haverá verba para isso? Existem efetivamente interessados em investir
na cultura do caju, diante de tantos pontos
contrários?”, questiona.
O presidente do Sindicaju afirma que para
o setor industrial, a curto prazo, só existem
duas alternativas: ou o governo federal permite a importação de matéria-prima em
pequeno espaço de tempo, gerando uma
oferta permanente e em grande quantidade
para suprir a capacidade do parque, ou efetiva a Zona de Processamento de Exportação
(ZPE), reservando nela uma área para plantas de empresas beneficiadoras de castanha
de caju que quiserem se transferir para o local. Tais iniciativas devem estar associadas ao
apoio aos produtores para implementar novas tecnologias. A médio prazo, Lúcio Carneiro defende o reforço do plantio nacional,
com ajuda aos microprodutores.
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 25
V
isando evitar o desemprego de
aproximadamente 10 000 trabalhadores que
atuam no processamento da castanha no
Ceará e a manutenção da cadeia produtiva do caju,
que engloba no estado mais de 150 000 pessoas,
o segmento busca uma solução emergencial
oriunda dos governos, como a criação de um
crédito prêmio de exportação ou um mecanismo
“
“
Lúcio Carneiro,
presidente do Sindicaju
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Não existe
nada mais
cearense do que
o caju.
semelhante, como o crédito presumido federal ou
estadual. Lúcio Carneiro sugere que o crédito
ou o prêmio utilize recursos provenientes de
renúncia fiscal ou de um fundo soberano. “Só
vejo esses dois caminhos para vitaminarmos as
nossas exportações”, frisa.
Ele defende também a adoção de política de
desoneração para o setor com o aproveitamento
de créditos que há tempos não são devolvidos.
“Poderíamos pagar a Previdência Social com
créditos do Programa de Integração Social
(PIS) e da Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social (Cofins). Essa seria outra
forma emergencial de desonerar as empresas e
dar competitividade”, propõe o empresário, para
quem a boa performance das exportações de
amêndoas é fundamental a fim de assegurar a
sobrevivência do setor primário, o qual não se
sustentaria sem a indústria. O industrial afirma
que não imagina a economia do Ceará sem a
cajucultura. “Não existe nada mais cearense do
que o caju”, sublinha Lúcio Carneiro.
Produtores desestimulados
S
em o incentivo dos governos, os produtores
se sentem desestimulados e o cultivo do
caju tende a desaparecer, apesar de sua
incontestável importância à economia cearense e
nordestina. “O caju atualmente é a única cultura da
entressafra no nosso estado e está se acabando.
Será mais uma cultura a desaparecer...”, lamenta
o presidente do Sindicato dos Produtores de
Caju (Sincaju), Paulo de Tarso Meyer Ferreira. Ele
reconhece que fatores climáticos como a escassez
de chuvas, altas temperaturas e ventos fortes
agravaram o problema da cajucultura no ano
passado, mas lembra que muitas outras ações
simples podem ser empreendidas para tornar a
cultura do caju mais produtiva. “Nunca vi qualquer
cultura ser produtiva sem nutrientes no solo. É
preciso no mínimo limpar, podar, adubar, cortar
os galhos para combater os fungos. Mas com o
dólar baixo, o custo alto da energia e o peso dos
tributos, o produtor acaba se desestimulando”,
diz Paulo de Tarso.
Segundo ele, a cajucultura no Brasil sempre
esteve à margem do uso de tecnologias, sendo
esse o principal motivo da redução em sua
26 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
produtividade. “No estado do Ceará, chegamos a
sair de 700 quilos/hectare, no início da década
de 1970, para em torno de 250 quilos/hectare
atualmente”, pondera. O titular do Sincaju defende
que a solução para a cajucultura é o governo
incentivar a substituição da copa dos cajueiros
improdutivos pelo anão precoce – uma variedade
de cajueiro de menor porte, com maior resistência
e produtividade. “Existem 330 000 hectares
de cajueiro em total extrativismo. É necessário
ampliar o programa de substituição de copas. E
o governo precisa ajudar o pequeno e o médio
produtor também”, defende Paulo de Tarso.
João Baptista Ponte, presidente da Câmara
Setorial da Cadeia Produtiva da Cajucultura e
da Associação dos Cajucultores do Estado do
Ceará (Ascaju), reforça a urgência de apoio
institucional para ampliar a rentabilidade do
cultivo de caju por hectare no país. “De acordo
com os registros da Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce),
a média de produção das plantações de caju
no Brasil é de 347 quilos/hectare. Na Índia, a
média estimada é de 691. No Vietnã, 1 978
e, na Nigéria, 2 706. “Se
tivéssemos o mesmo nível de
produtividade, com 300 000
hectares de cajueiros, teríamos
uma produção de aproximada
de 800 000 toneladas”,
calcula João Baptista.
Em 2010, porém, as
chuvas escassas e irregulares,
além dos fortes ventos,
ocasionaram o retardamento
na fase de floração, reduzindo
significativamente o processo
de floração/frutificação, que
resultou na quebra histórica
da safra, culminando numa
safra 2010/2011 em torno
de 50 000 toneladas, com
perda de aproximadamente
62% em relação à safra 2009/2010 (135 000
toneladas). De acordo com João Baptista, o
Garantia Safra – uma ferramenta colocada à
disposição pelo governo para compensar as
perdas dos produtores – tem valor insignificante.
“Para o pequeno produtor, R$ 600 pode ajudar,
mas para o médio produtor não representa
nada”, reclama, lembrando que essa não é a
única limitação das ações governamentais: “Elas
não estimulam o crescimento da cajucultura no
país. Projetos de plantação de novos pomares
e de mudança de copa têm como padrão a
agricultura familiar”.
No âmbito estadual, João Baptista
reconhece que o governo tem incentivado a
substituição das copas, trocando as plantas de
grande porte pelos cajueiros anões precoces,
mas observa que o alcance do programa ainda
é limitado. Pelo incentivo oficial, pequenos
produtores podem adquirir as mudas do anão
precoce e pagar com a produção após quatro
anos. “Mas é para a agricultura familiar. O
médio e o grande não têm esse incentivo”,
denuncia. É por isso, afirma, que as florestas
de cajueiro anão precoce só representam 10%
da cobertura total no estado”, justifica o titular
da câmara setorial do caju e da Ascaju, que
propõe a criação de uma secretaria estadual
do agronegócio para cuidar exclusivamente da
área. “Essa secretaria seria um instrumento para
atender às demandas de todos. Não só dos
pequenos produtores, mas também dos médios
e grandes”, completa. Conforme João Baptista,
no Ceará existem 57 700 produtores rurais,
ocupando uma área de 334 617 hectares.
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Solução emergencial
FIEC aponta soluções
O
consultor Francisco Mavignier Cavalcante
França, que está desenvolvendo um
estudo sobre a cajucultura para o Instituto
de Desenvolvimento Industrial (INDI), órgão da
Federação das Indústrias do Estado do Ceará
(FIEC), aponta dez bandeiras para impulsionar
a competitividade da cajucultura cearense, que
englobam desde o investimento em pesquisa
e inovação até a expansão da participação do
estado nos mercados interno e externo.
Fatores climáticos como a
escassez de chuvas, altas
temperaturas e ventos fortes
agravaram o problema da
cajucultura em 2010
As dez bandeiras da cajucultura
1. Fomentar ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).
2. Utilização de tecnologias inovadoras viáveis.
3. Apoiar negócios inovadores.
4. Fortalecer os APLs de caju.
5. Priorizar os produtos e coprodutos consolidados e emergentes.
6. Fomentar a capacitação dos agentes produtivos.
7. Apoiar o empreendedorismo emergente.
8. Adotar novas estratégias empresariais.
9. Maximizar a utilização das políticas governamentais.
10. Expandir a participação no mercado interno e externo.
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 27
“
Falta o
produtor
se motivar e
investir na
cultura de forma
profissional.
“
Francisco Mavignier,
consultor
Francisco Mavignier explica que o primeiro
passo é fomentar ações de pesquisa,
desenvolvimento e inovação (PD&I). Em segundo
lugar, sugere a utilização de tecnologias inovadoras
viáveis. As bandeiras seguintes são apoiar negócios
inovadores, fortalecer os Arranjos Produtivos
Locais (APLs) de caju, priorizar os produtos e
coprodutos consolidados e emergentes, fomentar
a capacitação dos agentes produtivos, apoiar
o empreendedorismo emergente, adotar novas
estratégias empresariais, maximizar a utilização
das políticas governamentais e expandir a
participação no mercado interno e externo.
O consultor sugere como ações imediatas, para
atender às demandas mais urgentes dos agentes
produtivos da cajucultura cearense, a elaboração
e execução de um programa de promoção e
marketing do caju por meio de feiras, material de
divulgação, trade shows, propaganda institucional,
turismo, seminários etc. Outra iniciativa emergente
sugerida é a criação de um portal do caju na
internet, um jornal de periodicidade mensal.
Francisco Mavignier lembra que o cultivo do caju
é uma das raras atividades agrícolas do Ceará, ainda
competitiva e de importância econômica e social.
Segundo ele, falta o produtor se motivar e investir
na cultura de forma profissional. Ele arremata: o
mercado é crescente e há potencial para se produzir
800 quilos de castanha por hectare, aproveitando o
pedúnculo em sucos, doces e cajuína.
Perfil do setor
O
Atualmente o Brasil
ocupa o terceiro
lugar na produção
mundial de castanha
de caju in natura
agronegócio do caju tem a sua fonte
geradora no cajueiro, árvore típica do
Nordeste, cultivada em cerca de 700 000
hectares distribuídos nos estados do Ceará,
Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão e Bahia,
proporcionando uma safra anual de castanha
em torno de 320 000 toneladas.
A castanha de caju in natura é a matériaprima utilizada pela indústria de processamento,
que dela obtém a amêndoa de castanha de caju
(ACC), e extrai o líquido da casca da castanha
(LCC), produtos destinados à exportação.
Atualmente o Brasil ocupa o terceiro lugar na
produção mundial de castanha de caju in natura,
e também na oferta de amêndoas de castanha
de caju, sendo amplamente reconhecido pela boa
28 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
qualidade de suas amêndoas e, principalmente,
pela confiabilidade de seus fornecedores.
Na região Nordeste a cadeia produtiva
do caju é responsável por mais de 300 000
empregos, distribuídos na atividade agrícola,
industrial e serviços. O parque industrial é
composto por 12 unidades processadoras,
com capacidade de processar até 420 000
toneladas de ACC e 45 000 toneladas de LCC.
Dados do Centro Internacional de Negócios
(CIN) da FIEC revelam que no ano passado
as vendas externas cearenses de castanha de
caju somaram US$ 182,01 milhões. Apesar
da retração de 2,7% em relação às divisas
obtidas em 2009 (US$ 187,02 milhões) e da
queda no volume exportado no mesmo período
(de 38,49 milhões de quilos, em
2009, para 33,41 milhões de quilos,
em 2010), o produto figurou na
liderança da pauta de exportação do
estado, com participação de 14,3%
no total das vendas externas, que
somaram US$ 1,26 bilhão.
No contexto dos setores
exportadores, as vendas de amêndoa
e do líquido da castanha de caju
totalizaram US$ 191,07 milhões em
2010, colocando o segmento na viceliderança das exportações cearenses,
atrás apenas do setor de calçados,
englobando produtos de couro, plástico
e borracha. A comercialização externa
de todos os esses tipos de calçados
renderam ao estado no ano passado a
soma de US$ 403,46 milhões.
Sistema FIEC
Conselho aprova
diretrizes do Mapa
Estratégico
A intenção é deixar para o futuro um sistema profissionalizado para que o
destino do Sistema FIEC se torne independente de quem esteja à sua frente
O
Conselho de Representantes da Federação
das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC),
composto por membros da diretoria da
entidade e dos sindicatos filiados, aprovou no
final do mês de novembro de 2010 as diretrizes que nortearão o Mapeamento Estratégico e
o Planejamento Operacional do Sistema FIEC
para os próximos anos. As discussões em torno
da construção do Mapa Estratégico da FIEC vêm
se desenvolvendo há dois anos visando estabelecer um alinhamento com as diretrizes criadas
pelo Mapa Estratégico da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O planejamento nacional
aponta as prioridades que devem ser adotadas
pela indústria brasileira para que ela se torne
mais forte e dinâmica e possa assegurar, até
o ano de 2015, uma inserção expressiva
no comércio internacional.
Nesse sentido, o Planejamento
Estratégico do Sistema Indústria
implica objetivos comuns a todas
as federações de indústria e entidades estaduais do Serviço Social
da Indústria (SESI), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI) e Instituto Euvaldo Lodi
(IEL). A partir daí, a FIEC começou a
estabelecer seus encaminhamentos, que,
ao final de dois anos de intensa participação
e discussões entre suas Casas, sugeriram como
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 29
Foto: JOSÉ SOBRINHO
Mapa Estratégico do Sistema FIEC
Reunião do Conselho
de Representantes
principal novidade a elaboração dos indicadores
de desempenho corporativo, procurando, assim,
dar subsídios valiosos às tomadas de decisão na
entidade. A aprovação das diretrizes do Mapa
da FIEC (2010-2014) pelo Conselho de Representantes faz parte da primeira etapa do mapeamento estratégico. A segunda fase consistirá no
alinhamento de indicadores relativos aos objetivos e diretrizes estratégicos constantes dos mapas das Casas que constituem o Sistema FIEC
(SESI, SENAI, IEL, Instituto FIEC de Responsabilidade Social – FIRESO e Instituto de Desenvolvimento Industrial – INDI).
A missão do Sistema FIEC, proposta no
Mapa, é “promover a competitividade da indústria, intensificando o associativismo e a
consolidação de um ambiente empresarial com
excelência na gestão, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do Ceará”. Já a visão
de futuro do Sistema FIEC, que é como a entidade quer ser reconhecida numa visão de longo
prazo (cinco anos, no caso), é “ser referência
na representação da indústria e na oferta de
produtos e serviços de elevado valor agregado
que promovam competitividade, liderando a
criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento sustentável do Ceará”. De uma forma
bastante didática, podemos dizer que a missão
nos diz onde estamos e a visão de futuro nos
aponta aonde queremos chegar.
A estratégia com vistas à execução da missão
a que se propõe o Sistema FIEC, nos próximos
anos, define quatro perspectivas a serem trabalhadas: clientes, financeira, processos internos
e pessoas & tecnologia.
30 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
Para o presidente da FIEC,
Roberto Proença de Macêdo, a finalidade do Mapa Estratégico é
construir o “nosso destino de forma estruturada e com a certeza de
que possamos seguir adiante, independente do que possa ocorrer”,
fazendo referência às ameaças que,
de tempos em tempos, surgem no
Sistema S. Ele lembra que a discussão sobre o Mapa teve início em
sua primeira gestão e que os trabalhos vêm ocorrendo desde 2008,
com intensa participação. “Queremos com isso deixar para o futuro
uma entidade profissionalizada
para que seu destino se cumpra,
independente de quem esteja à sua
frente”, sublinha Roberto Macêdo.
Segundo o presidente da FIEC, a CNI deu o
primeiro passo ao estruturar seu Mapa Estratégico, provocando a responsabilidade das federações. “A iniciativa da representação nacional da
indústria deve ser vista como fundamental por
todas as federações por abrir a possibilidade de
promover o desenvolvimento sustentável do país
nas áreas de educação, capacitação técnico-profissional, inovação tecnológica, saúde, cultura,
lazer e esporte”, ressalta Roberto Macêdo, acrescentando que, durante o processo de discussão da
construção do Mapa, levou-se em consideração
o conjunto de todas as Casas visando contribuir
para a consolidação do Sistema Indústria.
O processo de discussão do planejamento
estratégico do Sistema FIEC é coordenado pela
Personal Consultoria, com o apoio de técnicos da
instituição por meio de um comitê representado
por todas as Casas. Desde o início, a metodologia se dá de forma participativa e com enfoque
sistêmico, contemplando sindicatos, federação e
suas entidades, em consonância com as orientações estratégicas da CNI. A partir das discussões
em grupo foram detalhados os mapas estratégicos do Sistema FIEC e da própria FIEC individualmente, sendo pormenorizadas as diretrizes
de orientação para a construção dos resultados
a serem alcançados. Em 26 de novembro do ano
passado, três dias antes da reunião do Conselho
de Representantes, foi realizado um workshop
de compartilhamento dos mapas estratégicos do
Sistema FIEC e da FIEC para os últimos ajustes
antes da aprovação final, com a participação de
membros da diretoria plena, presidentes de sindicatos e gestores das entidades e unidades.
Sustentabilidade
- Ampliar e diversificar receitas e fontes de recursos financeiros.
- Apoiar as empresas no acesso ao crédito, articulação de investimentos,
negócios e fomento às cadeias produtivas.
Representatividade
Transparência
- Fortalecer a representatividade, a defesa de interesses e o sindicalismo patronal.
Negócio
- Assegurar transparência nas ações e nos relacionamentos com
os sindicatos.
- Promover a elevação da competitividade das indústrias, com sustentabilidade.
Foco no cliente
Impacto social
- Assegurar a interiorização do Sistema FIEC.
- Atuar de acordo com as demandas da indústria e relacionar-se próativamente com os sindicatos.
- Contribuir para a inserção profissional e o bem-estar do público-alvo do
Sistema FIEC.
Focos de atuação
- Ampliar a atuação na saúde e segurança com foco na indústria, trabalhadores
e seus dependentes.
- Sensibilizar o industrial para a prática da gestão socialmente responsável.
- Promover a adoção de um estilo de vida saudável pelo trabalhador
da indústria.
- Ampliar a oferta de educação básica, empresarial, profissional e tecnológica.
- Intensificar ações voltadas ao empreendedorismo, soluções
tecnológicas e a inovação.
- Desenvolver estudos e pesquisas socioeconômicas e de mercado.
Excelência na gestão
- Alto desempenho.
- Captar e reter competências no Sistema FIEC.
Cultura sistêmica
- Fortalecer a cultura sistêmica.
Tecnologia e infraestrutura
- Assegurar a integração das informações, da comunicação e a utilização de
tecnologias adequadas e atualizadas.
- Promover o contínuo aperfeiçoamento da infraestrutura física e tecnologia.
História
Ouro negro
Regiões de plantação
de café no mundo.
Trazido para o Ceará no ano de 1745, o café
se adaptou bem às regiões serranas e em
pouco mais de cem anos chegou a ser o
primeiro produto da pauta de exportação
Por Gevan Oliveira
32 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
contrariar o Alcorão. Em 1526, a proibição foi
abolida e tanto a agricultura como o comércio
do café se desenvolveram em toda a península
arábica, até chegar à Turquia.
Nesse período, o café já era chamado de
“ouro preto” e, em busca de manter o monopólio, foi criado, na Turquia, um costume que
impedia a venda dos grãos para outros países e
continentes. O fato retardou a entrada da planta na Europa por várias décadas. No velho continente, quem primeiro divulgou as propriedades do café foi o alemão Leonard Rauwolf, que
teria conhecido a planta em suas viagens pelo
Oriente em 1592. Existem registros mostrando
que em Veneza, no fim do século 16, consumia-se café. Já para o continente americano, a planta parece ter sido levada em 1607 pelo capitão
John Smith, fundador da Virgínia.
No caminho para chegar ao Novo Mundo,
inclusive no Brasil, o café teria contado com a
ajuda do capitão francês Gabriel-Mathieu de
Clieu, responsável pela introdução da planta
na Martinica (região francesa no Caribe), entre 1720 e 1723. Da Holanda, mudas foram enviadas, em 1718, para o Suriname (país localizado no nordeste da América do Sul), de onde
as sementes foram levadas, em 1722, para a
Guiana (departamento ultramarino francês,
também localizado na América do Sul); daí,
por meio de Francisco Melo Palheta, chegaram as primeiras sementes e mudas ao Brasil,
em 1727, na região do Pará.
Brasil
O
café se deu muito bem no Pará e,
em 1731, já era plantado em vários
locais próximos de Belém. A primeira
exportação veio logo em seguida, em 1732 –
sete libras de café –, pelo barco Santa Maria
e, em 1734, a exportação já alcançava
3 000 arrobas. Em 1735, a Câmara
Municipal de Belém solicitou ao Reino de
Portugal uma medida bem conhecida nos
tempos atuais: leis protecionistas. Isso porque
o preço pago em Portugal era insuficiente para
manter o plantio, provocando o abandono de
muitos plantadores.
O café chega ao Ceará por volta do ano
1745. O contexto histórico era de seca no
sertão, inviabilizando as culturas tradicionais,
como o algodão, até então o principal
produto exportado. O capitão-mor de Sobral,
José de Xerez Furna Uchoa, é considerado
o primeiro a trazer mudas para o estado,
obtidas diretamente do Jardim das Plantas
de Paris. Dessas, apenas uma vingou e deu
origem aos cafezais alencarinos. Segundo o
empresário e escritor Cândido Couto Filho, no
livro Ciclos Econômico do Ceará, “a indústria
cafeeira surge nas regiões menos afetadas
pelas secas – as úmidas serranas – como um
projeto viável, assim como as indústrias de
descaroçamento de algodão, beneficiamento
de couro, óleos e velas”.
“
A indústria
cafeeira surge
nas regiões menos
afetada pelas secas –
as úmidas serranas.
“
D
iz a lenda que as cabras de um certo pastor de nome Kaldi, morador da
antiga Abissínia, hoje Etiópia, ficavam
alegres e saltitantes sempre que se alimentavam de uma frutinha de coloração amarelo-avermelhada. Curioso e esperto, Kaldi passou a perceber – isso por volta do ano 850 d.C
– que o consumo da tal frutinha era fonte de
motivação e ajudava seu rebanho a percorrer
longas distâncias com mais vigor. Passou, a
partir daí, a estimular seu uso contínuo.
Ainda segundo a tradição, o pastor teria comentado sobre o comportamento dos
animais a um monge da região, que decidiu
experimentar o fruto em seu monastério. Ele
começou a utilizá-lo na forma de infusão.
Percebeu que a bebida o ajudava a resistir ao
sono enquanto praticava os longos rituais de
leitura e orações. Essa descoberta reverberou
rapidamente entre os monastérios, criando uma demanda pela bebida. Para muitos,
trata-se de uma história verídica porque há
evidências mostrando que o café foi cultivado
pela primeira vez em monastérios no Yêmen
(região da Etiópia).
Documentado está que a planta foi levada
da província de Kaffa (daí a origem do nome
café), na Etiópia, para a Arábia. Na cidade santa dos muçulmanos, Meca, no início do século
16, o café já era bastante consumido, mas logo
foi condenado (e proibido) pelas seitas mais
ortodoxas do islamismo, sob a alegação de
Cândido Couto Filho,
empresário e escritor
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 33
“
Em 1845,
e em anos
subsequentes, o café
cearense levado à
Antuérpia (Bélgica)
foi classificado entre
as melhores espécies de
café Bourbon, Java e
Ceilão do mundo.
“
Nicolau Moreira,
na publicação Breves, de 1873
Praga popularmente conhecida como
broca do café, que comprometeu as
safras de 1954 e 1955
A muda (que vingou) trazida por Uchoa foi
plantada no sítio Santa Úrsula, na serra de
Meruoca, em 1747. De lá, sementes foram levadas
para a Serra Grande. A outra região serrana
a receber o ouro preto foi a do Araripe, cujas
primeiras mudas vieram de Pernambuco, em 1822.
Cândido Couto conta que o processo introdutório
do café no Ceará sucedeu-se de forma artesanal
e despretensiosa, muitas vezes apenas como uma
troca de presentes entre amigos.
“Algumas sementes oriundas do Araripe foram
doadas ao capitão Antônio Pereira de Queirós,
que as semeou no sítio Mungaípe, em Baturité.
Desses cafeeiros, Domingos da Costa e Silva colheu
sementes e as levou para a serra da Aratanha, no
sítio Serrinha, de onde seu irmão João da Costa
e Silva, em 1826, mudou alguns pés para a sua
propriedade de nome Imboaçu”, descreve Cândido
Couto, mostrando o modo inusitado de como o café
se espalhou no estado.
Para o escritor, é à família Albano, em especial a
José Antônio da Costa e Silva, pai do poeta Juvenal
Galeno, que o desenvolvimento do cultivo do café
no Araripe deve reconhecimento. Da mesma forma,
Filipe Castelo Branco, que em 1824 trouxe mudas
e sementes do Pará, e as plantou no sítio “Bagaço”,
é o responsável pela expansão da planta em
Guaramiranga, que anos mais tarde se tornaria um
dos principais produtores do fruto no Ceará.
Somente depois de cem anos de sua chegada,
a partir de 1846, é que o café entra na lista das
exportações da província. Registros do historiador
Barão de Studart dão conta que das safras de
1846 e 1857 foram exportados pelo porto de
Fortaleza 9 795 quilos. Nos dois anos seguintes,
as exportações subiram para 113 635 quilos. É
fato que a qualidade do café cearense era boa,
considerada melhor que a do Rio de Janeiro,
diferencial responsável pelo incremento da
produção e comércio local.
34 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
Na publicação Breves considerações sobre
a história e cultura do cafeeiro, publicada no
ano de 1873, Nicolau Moreira afirma que em
1845, e em anos subsequentes, o café cearense
levado à Antuérpia (Bélgica) foi classificado
entre as melhores espécies de café Bourbon,
Java e Ceilão do mundo, fato que se repetia em
diversos países europeus.
Nos tempos áureos, as exportações de café
superaram em valor as do algodão exatamente nos
anos de 1860, 1861, 1864, 1865, 1877 e 1878.
A partir de 1890, os dois gêneros mantiveram
mais ou menos o mesmo volume de exportações.
Somente após 1898, o algodão recuperou seu
status de principal produto de exportação. No
Ceará, essa cultura continuou rentável até o ano de
1922, quando uma série de fatores desfavoráveis
eclodiu dentro e fora do país. Entre os gargalos,
a superprodução no estado de São Paulo e uma
crise econômica nos Estados Unidos da América
(EUA), então maior mercado importador de café.
A consequência foi um decréscimo acentuado
na procura do produto e no preço, com graves
prejuízos para a economia brasileira, refletindo
negativamente na cafeicultura cearense.
Antes do final da década de 1920, no entanto,
houve recuperação dos preços e consequente
estabilização do mercado cafeeiro. Com isso, o
governo brasileiro incentivou a ampliação dos
plantios por meio de uma política de subsídios.
Com as medidas, o problema passou a ser outro:
o da superprodução, especialmente no período
de 1929 a 1934. Aliado a este novo percalço, o
aumento da concorrência internacional contribuiu
para baixar o preço do produto. O governo interveio
novamente, destruindo 34 milhões de sacas
de café, reduzindo o estoque nacional para 20
milhões. Essa política de incentivo e destruição de
estoque perdurou até o início da década de 1950.
No Ceará, a cafeicultura no final de 1950 e
início dos anos 1960 teve de enfrentar dois graves
problemas: a praga popularmente conhecida
como broca do café (Hypothenemu Hampei
Ferrari), que comprometeu as safras de 1954 e
1955; e o efeito das políticas governamentais,
de ordem institucional e financeira, que deveriam
beneficiar os cafezais de todo o país, mas que só
foram úteis em nosso estado em 1966, quando
o Instituto Brasileiro do Café (IBC), órgão criado
para fixar o preço e ajudar os produtores, passou
a adquirir os grãos das fazendas locais, como
forma de incentivo à produção.
A partir de 1970, as geadas e a praga
da “ferrugem” nos cafezais do Sul/Sudeste
ocasionaram a redução do parque cafeeiro
nacional, ameaçando não somente o
cumprimento dos compromissos internacionais
como também o abastecimento interno.
Esses fatos provocaram uma mudança na
política cafeeira do governo federal, com o IBC
incentivando a expansão da cultura em outros
estados não tradicionais, especialmente no
Nordeste, na Bahia, Pernambuco e Ceará.
Segundo Cândido Couto, o incremento
no Ceará ganhou ainda mais impulso com a
introdução de máquinas importadas, movidas a
vapor, roda de água ou a eletricidade. “Vestindo
as faldas da serra de Baturité – especialmente
os municípios de Guaramiranga, Pacoti e Baturité
–, multiplicaram-se os cafezais, transformando a
região no maior centro de produção no Ceará.”
Também na década de 1970 cresceram os
cafezais na Serra da Ibiapaba, nos municípios de
Ibiapina, São Benedito, Tianguá, Ubajara, Viçosa e
Ipu. No Cariri, tiveram destaque os produtores de
Missão Velha, Brejo Santo, Crato e Caririaçu. Serra
de Maranguape, Meruoca e Uruburetama também
viveram seus tempos áureos.
Tempos áureos
N
O processo de moagem
evoluiu bastante
o início do século 19, Baturité, a cerca
de cem quilômetros de Fortaleza,
teve na cultura do café sua principal
atividade econômica. Na época, o município
se tornou um importante produtor nacional,
chegando a deter 2% de toda a produção
brasileira e figurou entre aqueles mais
prósperos do estado. Há registros de que o
café baturiteense era um dos mais apreciados
nas cafeterias francesas.
A importância dessa economia era tanta
que, para escoar a safra, foi construída a
primeira ferrovia no estado – a Companhia
Cearense da Via Férrea de Baturité –,
interligando Baturité à capital. Entre os muitos
fatos emblemáticos que mostram a opulência
do período está a criação de uma moeda
própria para organizar o comércio. De bronze e
cunhada em Portugal, em 1895, por ordem do
proprietário do Sítio Bom Sucesso, fazendeiro
Luiz Manoel José d’Oliveira Figueiredo, a
moeda tinha lastro no café e funcionava como
promissória. Seus valores correspondiam a um
alqueire (128 litros), uma quarta (32 litros)
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 35
“
Francisco Luiz,
no livro As Moedas da Fazenda
Bom Sucesso
O café produzido no Maciço de
Baturité reergue-se graças ao
esforço de alguns produtores
e uma terça (oito litros). “Quem procurava
o Manoel para pilar café entrava na fila da
pilagem, deixava o café no Bom Sucesso e
levava as moedas”, descreve Francisco Luiz,
neto do velho Manoel Figueiredo, no livro As
Moedas da Fazenda Bom Sucesso.
A moeda circulou por todo o maciço e chegou
a várias regiões do sertão, como Quixadá. Era
popularmente conhecida como “borós” e também
servia para pagamento de mão de obra nas
grandes fazendas. A ideia era avançada, mas
as crises da época fizeram com que Manoel
abandonasse a inovação em poucos anos.
Fracassado e tendo que honrar suas dívidas em
dinheiro, suicidou-se em sua fazenda logo que
conseguiu pagar a todos os seus credores.
Mas a morte de seu Manoel não está
associada à crise do café, segundo Francisco
Luiz. O fracasso do seu avô teve origem numa
economia quase desconhecida da população
local: a borracha da maniçoba, árvore nativa que
produz látex idêntico às seringueiras da Amazônia.
Por estar no auge do consumo internacional, a
espécie trouxe riqueza rápida para os fazendeiros
que usavam o dinheiro do café para multiplicar os
lucros da borracha. “Nos roçados abandonados,
onde morria o café, a maniçoba nascia em
abundância, e assim a serra conheceu um ‘ciclo
da borracha’ desconhecido de muitos nos dias de
hoje”, relata Francisco Luiz.
36 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
Tal atividade, no entanto, teve vida curta.
A crise internacional da borracha ensejou
dificuldades financeiras nas pessoas envolvidas
com sua extração. Muitas delas, então, passaram
a procurar Manoel Figueiredo. “Corriam boatos de
sua fraqueza financeira e iam a ele para trocar
as moedas por café. Infelizmente, já não havia
café suficiente nos armazéns da Fazenda Bom
Sucesso para lastrear as moedas”. Antes de
morrer, porém, explica Luiz, “ele toma uma grave
decisão: vender terras para se capitalizar, saldar
suas dívidas e honrar e reaver as moedas que
tinham seu nome”. Essa é verdadeira história do
homem que pode ser considerado o precursor do
dinheiro social no país.
De forma geral, em todo o estado, a crise de
1929, os desmandos político-administrativos
do governo federal e a inevitável degradação
dos solos são apontados como causa da quase
extinção dessa atividade no Ceará.
do Maciço de Baturité, ganhou força em 2009
com a implantação de uma mini-indústria de
torrefação de café ecológico. A instalação da
fábrica, que funciona em regime de cooperativa,
faz parte de um projeto implantado há 15 anos
e visa recuperar a lavoura cafeeira na região. A
iniciativa é gerida pela Associação dos Produtores
Ecológicos do Maciço de Baturité (Apemb), em
parceria com o Centro de Educação Popular
em Defesa do Meio Ambiente (Cepema). Hoje,
beneficia mais de cem agricultores de sete
municípios do maciço, entre eles Redenção,
Guaramiranga e Mulungu (sede da mini-indústria)
O empreendimento tem capacidade de
torrar cerca de 20 toneladas de café por mês,
quantidade que atende à demanda da população
“
O café
ecológico
sairá com o selo
internacional de “Fair
Trade”, que, além de
garantir a qualidade
do produto, comprova
sua inserção na rede
de comércio justo.
Danilo Galvão
Segundo do Nordeste
A
À sombra dos ingás
A
tualmente, o café produzido no Maciço
de Baturité está se reerguendo graças à
persistência de alguns agricultores que
descumpriram as ordens do IBC, determinando,
na década de 1970, a derrubada de madeiras
nobres para o plantio do fruto (período em que
os cafezais do Sul e Sudeste foram atingidos
por geadas e pragas) e mantiveram o plantio
sombreado – técnica que protege o café da
exposição direta ao sol (modo convencional) e
não usa agrotóxico.
Entre essa “gente teimosa” estão os irmãos
Gerardo Queiroz Farias e Alfredo Farias Filho (com
85 e 102 anos, mas em plena forma e atividade),
cuja família há mais de um século mantem no
município de Mulungu a tradição de cultivar café
sob a sombra de ingazeiras – árvore típica de
Mata Atlântica. Remanescente da época de ouro,
Gerardo Farias pôde sentir novamente, há 13
anos, o doce sabor de ter seu produto apreciado
por especialistas europeus. É que parte da sua
produção artesanal foi parar nas xícaras de
famílias suecas, apreciadoras do café ecológico.
“Na época, ganhamos até um selo verde da
empresa sueca Arvid Nordquist”, relembra
Gerardo Farias, que atualmente cultiva mais de 30
hectares de café sob a floresta.
O cultivo sombreado, que há mais de 150
anos faz parte da cultura de parte dos agricultores
local. Segundo o presidente do Conselho Diretor
do Cepema, Danilo Galvão Peixoto Filho, o projeto
pretende ampliar as vendas para o mercado
nacional e até internacional. A ideia é que a
pequena empresa volte a escoar os produtos
para o exterior, como ocorreu nos anos de 1996
e 1997, quando a cooperativa exportou parte
de seus produtos para a Suécia (oportunidade
aproveitada pelos irmãos Farias). “Dessa vez,
o café ecológico não será mais enviado em
grão natural, mas sairá torrado, empacotado e
carregando o selo internacional de “Fair Trade”,
que, além de garantir a qualidade do produto,
comprova sua inserção na rede de comércio
justo”, explica Danilo Galvão. Dá até vontade de
tomar um (bom) cafezinho!
“
“
Quem
procurava o
Manoel para pilar
café entrava na fila
da pilagem, deixava o
café no Bom Sucesso e
levava as moedas.
No Ceará, a cultura do
café foi rentável até o
ano de 1922
pesar de praticamente importar quase todo o café que consome, o beneficiamento
do produto movimenta no Ceará em torno de R$ 15 milhões por mês, gerando 1 500
empregos diretos e cerca de 6 000 indiretos. Segundo presidente do Sindicato das
Indústrias de Torrefação e Moagem de Café do Estado do Ceará (Sindcafé), Jocely Dantas
de Andrade Filho, a produção mensal da indústria local gira em torno de 50 000 sacas,
que corresponde a 3 000 toneladas. Os números colocam o estado na posição de segundo
torrefador do Nordeste e quinto do país.
A matéria-prima beneficiada pelas torrefações cearenses é originária dos estados de Minas
Gerais, Bahia e Espírito Santo. Metade da produção cearense de café torrado e moído abastece
80% do mercado interno. Os outros 50% são exportados para estados do Norte e Nordeste. A
indústria de café do Ceará detém 5% do mercado nacional.
O CAFÉ NO CEARÁ
O beneficiamento do
café movimenta no
Ceará em torno de
R$ 15 milhões por mês,
gerando
1 500 empregos diretos
e cerca de
6 000 indiretos.
Os números colocam o
estado na posição de
segundo torrefador do
Nordeste e quinto do país.
Janeiro de 2011 | RevistadaFIEC
60 anos | 37
Inovaçoes
&Descobertas
Xarope de chocolate
Em dezembro passado,
cientistas britânicos deram
ao mundo uma notícia que
vai agradar aos doentes... por
chocolate. Eles anunciaram que
em dois anos deverá chegar
ao mercado um remédio para
tosse persistente à base do
alimento dos deuses. O remédio,
que contém teobromina – um
ingrediente encontrado no cacau
e no chocolate –, está em fase
final de testes. Os cientistas
acreditam que a substância
seja um terço mais eficiente
nessa tarefa do que a codeína,
a droga mais usada hoje para
combater a tosse. Além disso,
a teobromina causaria menos
efeitos colaterais do que os
tratamentos convencionais. A
pesquisa foi publicada na revista
da Federação das Sociedades
Americanas para Biologia
Experimental. Dez voluntários
em bom estado de saúde
participaram, tomando doses
de teobromina, de um placebo
ou de codeína, alternadamente.
Em seguida, foram expostos
a doses de capsaicina, uma
substância que provoca tosse.
As pessoas que tomaram a
teobromina tiveram de receber
uma dose cerca de 33% maior
de capsaicina do que as que
tomaram o placebo para terem
ataques de tosse. As que
tomaram codeína tiveram de
tomar doses maiores do que as
que haviam ingerido o placebo. A
tosse é considerada persistente
quando dura mais do que duas
semanas. O difícil vai ser parar
de tomar o remédio depois que
a tosse for embora.
Casa de papelão
Pesquisas realizadas no Departamento de
Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de
São Carlos (EESC), da USP, estão testando a eficácia
do papelão na construção civil. A intenção é mostrar
que ele pode ser usado em construções de apoio
nos canteiros de obras, pequenos depósitos e outros
“puxadinhos”. Para tanto, os pesquisadores construíram
uma célula-teste, em formato de um cubo medindo
cerca de 3x3x3 metros, equivalente a um volume de
27 metros cúbicos. De acordo com a pesquisadora
Gerusa Salado, os estudos com o papelão já vêm
sendo desenvolvidos no Japão, mas no Brasil é inédito.
A estrutura, segundo ela, resiste até cinco toneladas.
Utilizando uma resina impermeabilizante, a mesma
estrutura suportou até seis toneladas. Essa mesma
resina também torna o material resistente às chuvas
e à umidade. “Nossa construção experimental tem
resistido a todas as fortes chuvas desses últimos
tempos”, diz a pesquisadora. Quanto ao fogo, o
material ainda precisa ser avaliado em relação ao
tempo que o papelão pode levar para ser incinerado
e se o fogo pode se extinguir sozinho. O intuito das
pesquisas é que a estrutura possa ser utilizada para
habitações ou não, além de outros tipos de construção,
a exemplo de edifícios, como uma possibilidade de
substituição de materiais de alvenaria.
Calcinhas de lingerie
Toda mulher adulta já ouviu a recomendação
médica de que calcinhas de algodão são as mais
indicadas a fim de evitar o surgimento de fungos.
Para averiguar cientificamente tal afirmativa, uma
aluna do curso de Engenharia Têxtil do Centro
Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana)
realizou um estudo que comparou a umidade em
lingeries de poliamida e algodão. Os resultados
contradizem os médicos. No estudo, Maria Carolina
Garcia Peixoto, 23 anos, mostrou que as atuais
malhas sintéticas de calcinhas não contribuem para
o aumento da umidade e da temperatura local, ou
seja, o ambiente não fica propício ao crescimento
de fungos. Os ensaios foram realizados com cinco
tipos de malha de lingerie, sendo duas usadas nos
anos 1980 (poliamida com elastano em malha de
urdume e 100% algodão) e três atuais (poliamida
microfibra texturizada com elastano em malha
circular, malha de algodão com elastano e malha
de ordume com poliamida microfibra). Ao final
dos testes de gerenciamento de umidade, que
incluem permeabilidade ao vapor de água, Carolina
concluiu que a afirmação médica de que novos
tipos de malhas são favoráveis para o aumento
de fungos não é
válida, já que as
malhas atuais
tiveram o mesmo
desempenho
das malhas de
algodão usadas na
década de 1980.
Teclado e mouse de bambu
Esta é para agradar os que sonham com um
mundo ecologicamente correto. A empresa chinesa
Chinavision lançou no mercado um teclado e
mouse que são feitos inteiramente de bambu. Os
símbolos do teclado foram marcados a laser e,
segundo a fabricante, usar os produtos aumenta a
produtividade – só não explicou como. Eles afirmam
também que os equipamentos absorvem o suor do
usuário. Ambos, teclado e mouse, conectam-se ao
PC via porta USB e são compatíveis com Windows,
Linux e Mac. A novidade custa cerca de US$ 33.
40 | RevistadaFIEC 60 anos | Janeiro de 2011
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