UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE GURUPI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO VEGETAL INFLUÊNCIA DE ÉPOCAS DE CULTIVO NA DETERMINAÇÃO DE FATORES DE PERDAS NA CULTURA DA MELANCIA ANIELLI SOUZA PEREIRA GURUPI-TO 2012 ANIELLI SOUZA PEREIRA INFLUÊNCIA DE ÉPOCAS DE CULTIVO NA DETERMINAÇÃO DE FATORES DE PERDAS NA CULTURA DA MELANCIA Dissertação apresentada à Universidade Federal do Tocantins - UFT, como parte das exigências do Programa de Pósgraduação em Produção Vegetal, para obtenção do título de Magister Scientiae. Aprovada em: 10/12/2012 _____________________________ Prof. Dr. Gil Rodrigues dos Santos Universidade Federal do Tocantins (Orientador) ______________________________ Prof. Dr. Renato de A. Sarmento Universidade Federal do Tocantins (Co-orientador) ______________________________ Prof. Dr. Ildon R. do Nascimento Universidade Federal do Tocantins (Avaliador) ______________________________ Dra. Artenisa Cerqueira Rodrigues PNPD/CAPES (Avaliadora) Ao meu pai, fonte inesgotável de dedicação, confiança orgulho e amor. À minha mãe por todo amor e carinho. À minha família. Ao André Henrique, pessoa especial e de grande importância. Dedico AGRADECIMENTOS A Deus pelo dom da vida, por guiar e iluminar meus caminhos, por me dar forças para continuar sempre. Ao meu pai Dário Pereira por sempre me incentivar a buscar novos caminhos, por sempre acreditar na minha capacidade, por me amparar e me dar conselhos sábios, por todo amor e dedicação e por deixar transparecer no brilho dos olhos o orgulho de minhas conquistas. A minha mãe Carmem, por todo seu amor, que mesmo de longe se faz presente. A minha madrasta Mariane e a todos os meus irmãos (em especial Lucas e Andrey, e minha cunhada Andressa) por acompanharem de perto minha caminhada, por serem “minha família”, por fazerem os meus momentos de descanso mais divertidos, por todo amor e carinho. Ao meu amor André Henrique pelo companheirismo, amor, paciência e dedicação. Por sempre acreditar em mim e me incentivar. Por participar direta e indiretamente do início ao fim da minha trajetória no mestrado e da construção deste trabalho. Sem você teria sido bem mais difícil. À Grande família (Tuca, Amarildo, Bruninha, Taisa, Din), por sempre me receberem e tornarem os momentos de férias tão especiais. Em especial ao meu cunhadinho, pelo grande auxílio com o inglês. Ao professor Dr. Gil Rodrigues dos Santos, meu orientador, por apostar na minha capacidade, pela confiança depositada, por toda orientação e ensinamento. Ao professor Dr. Marcelo Coutinho Picanço do departamento de entomologia da UFV por toda orientação, pela oportunidade, pela paciência e por grandes ensinamentos. Ao professor Dr. Renato de Almeida Sarmento pela oportunidade de participar do projeto com auxílio do PROCAD e pela co-orientação. Aos colegas e amigos do grupo de pesquisa de MID e do Laboratório de Fitopatologia pelas horas de trabalho, pelas dificuldades enfrentadas, por todo apoio braçal e intelectual, pelos momentos de descontração, pela amizade que fica. Em especial Cardon, Massara, Rex, Mateus, Marcella, Binha, Eve, Francis, Dalmarcia, Dione, com vocês tudo se tornou mais fácil e divertido. Aos amigos do mestrado, em especial a Larissa, Rebeca e André Froes por compartilhar dos momentos de tensão e pela amizade construída. Ao grupo de pesquisa do MIP da UFT pelo auxílio na coleta de dados, em especial ao Carlos Henrique e ao Cleibi. Aos grandes amigos do grupo de MIP da Universidade Federal de Viçosa pela recepção, pela amizade, pela grande ajuda, por todo conhecimento e ensinamento, principalmente ao pessoal da pós, em especial ao Jander e ao Tarcísio que me acompanharam mais de perto. Os trabalhos realizados foram peças fundamentais na conclusão desta etapa. A todos que me ajudaram em Viçosa, em especial à Paula Tatiana e à Ana Clara que tornaram os dias difíceis mais agradáveis. À banca examinadora pela contribuição na finalização do trabalho. Às meninas da secretaria do programa de pós-graduação em produção Vegetal, Érikinha e Welda. A todos que de alguma forma contribuíram para o início, o meio ou o fim dessa longa jornada que se finaliza com este trabalho. Agradeço! “O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos no mínimo fará coisas admiráveis.” (José de Alencar) SUMÁRIO RESUMO.................................................................................................................8 ABSTRACT .............................................................................................................9 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................10 2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................12 2.1. MELANCIA .....................................................................................................12 2.2. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA .......................................................................14 2.3. CULTIVARES .................................................................................................16 2.4. EXIGÊNCIAS DA CULTURA ..........................................................................17 2.5. FATORES QUE AFETAM A PRODUÇÃO .....................................................18 2.5.1. DISTÚRBIOS ABIÓTICOS ...................................................................18 2.5.1.1. PODRIDÃO APICAL .......................................................................19 2.5.1.2. RACHADURA NOS FRUTOS ........................................................19 2.5.1.3. FRUTOS DEFORMADOS E ABORTAMENTO DE FRUTOS .........20 2.5.1.4. QUEIMA DE SOL ...........................................................................20 2.5.1.5. FITOTOXIDEZ ................................................................................20 2.5.1.6. OCAMENTO DE FRUTOS .............................................................21 2.5.2. DISTÚRBIOS BIÓTICOS ...................................................................21 2.5.2.1. DOENÇAS ......................................................................................21 2.5.2.2. PRAGAS.........................................................................................23 2.6. TABELA DE VIDA ..........................................................................................23 3. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................26 3.1. INSTALAÇÃO DOS EXPERIMENTOS...........................................................26 3.2. AVALIAÇÃO DOS FATORES DE PERDA DA CULTURA DA MELANCIA ....27 3.2.1. PERDAS POR MORTALIDADE DE PLANTAS ....................................28 3.2.2. PERDAS POR ABORTAMENTO DE FLORES.....................................29 3.2.3. PERDAS DE FRUTOS E PRODUTIVIDADE ........................................29 3.2.4. DETERMINAÇÃO DAS PERDAS NOS COMPONENTES DE PRODUÇÃO DA CULTURA ...........................................................................29 3.2.4.1. ESTIMATIVA DE PERDAS POR MORTALIDADE DE PLANTAS NOS ESTÁDIOS VEGETATIVO E REPRODUTIVO ...................................30 3.2.4.2. ESTIMATIVA DE PERDAS POR FLORES .....................................31 3.2.4.3. ESTIMATIVA DE PERDAS EM FRUTOS .......................................31 3.3. ANÁLISE DOS DADOS ..................................................................................32 3.3.1. ANÁLISE DO EFEITO DO PERÍODO DE CULTIVO NA PRODUTIVIDADE E NAS PERDAS DA CULTURA .......................................32 3.3.2. DETERMINAÇÃO DO COMPONENTE CRÍTICO DE PERDAS NA CULTURA .......................................................................................................32 3.3.3. DETERMINAÇÃO DOS FATORES-CHAVE DE PERDAS NA CULTURA .......................................................................................................33 4. RESULTADOS ..................................................................................................33 5. DISCUSSÃO .....................................................................................................40 6. CONCLUSÃO ....................................................................................................44 7. REFERÊNCIAS .................................................................................................45 INFLUÊNCIA DE ÉPOCAS DE CULTIVO NA DETERMINAÇÃO DE FATORES DE PERDAS NA CULTURA DA MELANCIA Influence of growing seasons on the determination of factors of losses in the culture of watermelon RESUMO A melancia (Citrullus lanatus) é uma cucurbitácea de grande importância econômica e social. O Brasil ocupa o quarto lugar na produção mundial com uma produtividade média de 22,5 ton.ha -1. A produtividade estimada para a cultura está em torno de 45 ton.ha-1, porém vários fatores podem atuar para a ocorrência de perdas causando queda na produtividade e prejuízo para os produtores. O presente trabalho objetivou verificar a influência da época de plantio na ocorrência de perdas na cultura da melancia, identificando e quantificando os componentes de produção e os fatores-chave de perdas. Foram realizados 5 cultivos entre os anos de 2011 e 2012. A partir da germinação até a colheita, foram avaliados semanalmente os números e as causas de mortalidade de plantas, flores e frutos nas diferentes fases de desenvolvimento das plantas melancia. Os componentes de produção estudados foram plantas em estádio vegetativo, plantas em estádio reprodutivo, flores e frutos. Fatores de perdas parciais (k) e totais (K) foram calculados e através de análises de correlação de Pearson e regressão foram identificados os componentes críticos de produção e os fatores-chave de perdas para a cultura. A produtividade e as perdas para a cultura da melancia diferiram entre as épocas de cultivo. Os fatores que causaram mortalidade foram: doenças fúngicas, doenças bacterianas, insetos, abortamento de flores, danos fisiológicos e tamanho não comercial. Os componentes críticos e os fatores-chave de perdas foram diferentes quando comparados os cultivos. Plantas em estádios vegetativo e reprodutivo se apresentaram mais vezes como componente crítico e o ataque por doenças fúngicas foi o principal fator-chave de perdas para a cultura, sendo Fusarium sp. o principal fator-chave de perdas, atacando as plantas no estádio vegetativo. Palavras-chave: épocas de cultivo, componente crítico, fator-chave, produtividade, perdas. 8 ABSTRACT The watermelon (Citrullus lanatus) is a cucurbit of great economic and social importance. Brazil occupies the fourth place in the world production with an average productivity of 22,5 ton.ha -1. The estimated productivity for the culture is about 45 ton.ha-1; however, several factors may act to the occurrence of losses causing drop in productivity and injury to producers. This study aimed to verify the influence of the planting time on the occurrence of losses in the culture of watermelon, identifying and quantifying the production components and the key factors of losses. Five cultivations were performed between the years of 2011 and 2012. From the germination until the harvest, the numbers and the causes of mortality of plants, flowers and fruits in the different stages of watermelon crop development were assessed weekly. The components of production studied were: plants in the vegetative stage, plants in the reproductive stage, flowers and fruits. Factors of partial (k) and total (K) losses were calculated and through Pearson’s correlation analysis and regression were identified the critical components of production and the key factors of losses for crop. The productivity and the losses for watermelon crop differed between the growing seasons. The factors that caused mortality were: fungal diseases, bacterial diseases, insects, abortion of flowers, physiological damages and non-commercial size. The critical components and the key factors of losses were different when compared the cultivations. Plants in the vegetative and reproductive stages presented themselves more times as critical components and the attack by fungal diseases was the main key factor of losses for the crop, being Fusarium sp. the principal key factor of losses, attacking in the vegetative stage. Keywords: growing seasons, critical component, key factor, productivity, losses. 9 1. INTRODUÇÃO A melancia (Citrullus lanatus) é uma cucurbitácea tropical de ciclo curto de origem africana bastante consumida nas épocas mais quentes do ano. Apresenta grande importância econômica e social, especialmente para a agricultura familiar, a qual se enquadra a maioria dos produtores (CAVALCANTE et al., 2010; NASCIMENTO et al., 2011). Dentre os países produtores, o Brasil ocupa o quarto lugar com uma produção de mais de dois milhões de toneladas e produtividade média de 22,5 ton.ha-1, ficando atrás da China, do Irã e da Turquia. Dos estados produtores, o Rio Grande do Sul é o maior produtor e contribui com cerca de 20% da produção nacional. O estado do Tocantins, com uma produção de 90.580 toneladas e produtividade de 25 ton.ha -1 em 2011, contribui com aproximadamente 4,5% do total nacional, sendo o oitavo estado no ranking nacional (IBGE, 2011). Filgueira (2008) aponta uma produtividade para a cultura da melancia em torno de 45 ton.ha-1, bem acima da média nacional, mostrando que grandes perdas ocorrem durante o cultivo da melancia. Vários fatores podem atuar para a ocorrência de perdas em culturas e a combinação desses fatores pode ocasionar maiores prejuízos (LOOS et al, 2004). Dentre os fatores limitantes à produção, as doenças provocam grandes perdas na produtividade e na qualidade dos frutos (SANTOS et al., 2005). O ataque de insetos também é uma importante limitação à cultura, levando a alto uso de inseticidas e altos custos de produção. Estes insetos podem provocar danos na planta através da herbivoria ou através da disseminação de vírus e toxinas (BANDAS et al., 2004; STURZA et al., 2011). Além de doenças e pragas, há também fatores abióticos, como danos mecânicos, fatores fisiológicos e 10 deficiencia de nutrientes, que podem causar perda total da safra se medidas preventivas se não forem tomadas (SANTOS et al., 2009). A identificação dos principais fatores que ocasionam essas perdas, bem como da época de desenvolvimento em que a planta é mais susceptível à esses distúrbios é uma ferramenta que pode auxiliar em uma produção com menor risco e maior produtividade (LOOS et al., 2004). Tabela de vida é uma ferramenta que foi adaptada por Picanço (1992) e vem sendo aprimorada para diversas culturas a fim de facilitar a identificação dos fatores de perdas e a associação destes com o estádio de desenvolvimento da planta (LOOS et al, 2004; BACCI et al., 2006). Para isso, modelos de estimativas de perdas levando em consideração diferentes componentes de produção vêm sendo utilizados a fim de determinar o componente crítico de perdas, que é o componente de produção que ocasiona maior impacto sobre as perdas na cultura, e o fator-chave de perdas da cultura, que é aquele que se apresenta como principal causa de perdas no componente crítico (VARLEY & GRADWELL, 1960; PICANÇO, et al., 2004; LOOS et al., 2008). O presente trabalho objetivou verificar a influência da época de plantio na ocorrência de perdas na cultura da melancia, identificando e quantificando os componentes de produção e os fatores-chave de perdas. 11 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. MELANCIA Originária das regiões secas da África Tropical e tendo seu centro de diversificação secundário no sul da Ásia, a melancia (Citrullus lanatus) é derivada provavelmente da variedade C. lanatus var. citroides existente na África Central, sendo que sua domesticação ocorreu na África Central onde a melancia é cultivada há mais de 5000 anos. Embora estudos evidenciem que o Nordeste do Brasil é um centro de diversidade da espécie, a cultura foi introduzida na América no século XVI, provavelmente pelos escravos (PUIATTI E SILVA, 2005; SANTOS, 2010). Pertencente à família Cucurbitaceae, a melancia é uma hortaliça de grande expressão econômica e social que apresenta versatilidade na forma de consumo (in natura, sucos, drinks, geléias, doces, molhos e saladas), possuindo propriedades terapêuticas e nutricionais que aumentam o interesse do consumidor pelo seu fruto (DIAS et al., 2006). O alto teor de umidade (93%) confere uma sensação de refrescância e esta grande quantidade de água destaca seu potencial diurético, melhorando o funcionamento renal do indivíduo. Apresenta também outras importantes propriedades nutricionais aliadas à ampla gama de oferta de nutrientes, como pode ser observado na Tabela 1 (PORTELA, 2009). Além disso, destaca-se por ser uma fonte natural de licopeno, um carotenóide responsável pela cor vermelha de frutos, com grande capacidade antioxidante (GOMES, 2009). 12 Tabela 1. Valores dos componentes disponíveis em 100 gramas de polpa de melancia (Citrullus lanatus) in natura. Componentes Quantidade Unidade Umidade 91,85 % Proteína 0,63 % Gordura 0,20 % Carboidratos 7,13 % Fibras 0,20 % Vitamina A 100,00 mcg (retinol) Tiamina 10,02 mg Riboflavina 0,03 mg Niacina 0,20 mg Ácido ascórbico 7,37 mg Cálcio 7,33 mg Fósforo 11,33 mg Sódio 5,80 mg Potássio 81,90 mg Magnésio 10,10 mg Ferro 0,31 mg Zinco 0,10 mg Cobre 0,03 mg Fonte: PORTELA, 2009. A melancia é uma planta herbácea de ciclo anual que varia de 70 a 120 dias, dependendo das condições ambientais e da cultivar utilizada. Possui hábito de crescimento rasteiro, com várias ramificações que alcançam até cinco metros 13 de comprimento. São plantas de reprodução cruzada (alógamas), não perdendo o vigor quando ocorre autofecundação. Possui sistema radicular superficial, extenso, com um predomínio de raízes nos primeiros 60 cm do solo (FILGUEIRA, 2008). Possui folhas ovais divididas em três lobos, apresentando estruturas em espiral presas ao caule, denominadas “gavinhas”. Os frutos são arredondados ou alongados, de casca lisa, verde ou rajada por manchas amareladas, sendo considerados de grande porte com peso variando entre 10 e 25 kg, dependendo das condições de cultivo (PORTELA, 2009). 2.2. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA Cultivada em vários países do mundo, estima-se uma produção total de, aproximadamente, 23 milhões de toneladas de frutos (COSTA & LEITE, 2007; SOUZA, 2008). Quando comparada a outras hortaliças, a melancia tem fácil manejo e menor custo de produção, sendo cultivada principalmente por pequenos produtores e constituindo-se em importante cultura para o Brasil pela demanda intensiva de mão-de-obra rural. Do ponto de vista social, gera renda e empregos, e ajuda a manter o homem no campo, além de ter um bom retorno econômico para o produtor (ROCHA, 2010). No Brasil, desde o século XVI, esta planta encontrou excelentes condições de desenvolvimento, tornando-se uma das mais importantes oleráceas produzidas e comercializadas (TORRES, 2007). Entre os países em desenvolvimento, o Brasil destaca-se como um grande produtor e grande exportador desse fruto. De acordo com os dados da FAO (2012), em 2010 o Brasil figurou como o quarto produtor mundial de melancia com mais de dois milhões de toneladas produzidas. 14 Segundo IBGE (2011), entre os principais estados produtores de melancia no Brasil o Rio Grande do Sul contribui com a maior produção. O Tocantins, apesar de ter aumentado sua produção em relação ao ano de 2010, caiu do sexto para o oitavo estado produtor, com uma produção de 90.580 t e um rendimento de mais de 25 mil kg.ha-1 para o ano de 2011 (Tabela 2). Tabela 2. Produção de melancia nos principais estados brasileiros no ano de 2011. Estado Produção (t) Área colhida (ha) Produtividade (ton.ha-1) RS 421.647 17.902 23,55 BA 292.432 16.002 18,25 GO 272.650 8.532 31,95 SP 242.586 8.352 29,05 PA 120.909 5.252 23,02 PR 107.376 4.207 25,52 PE 97.716 4.565 21,41 TO 90.580 3.553 25,49 RN 84.501 4.223 20,01 PI 76.923 2.990 25,73 AM 72.538 4.984 14,55 MG 58.461 2.016 28,99 CE 56.910 1.621 35,11 Fonte: IBGE, 2011. No Tocantins, existem condições favoráveis de clima, solo e água, o que o torna um estado com grande potencial para a exploração da cultura (SANTOS et 15 al., 2010). As principais regiões de cultivo em área irrigada no estado estão localizadas nas várzeas nos municípios de Formoso do Araguaia e Lagoa da Confusão (SANTOS, 2010). No Brasil, o tamanho e formato do fruto, coloração da polpa, teor de sólidos solúveis e presença ou ausência de sementes são as principais características avaliadas pelo mercado consumidor (RAMOS et al., 2009; RAMOS et al., 2012). Por isso, as principais cultivares utilizadas pelos produtores possuem elevada produtividade de frutos que são caracterizados pelo formato redondo e coloração vermelho intenso da polpa (CARVALHO, 1999). 2.3. CULTIVARES No mercado há a disponibilidade de muitas cultivares de melancia, as quais possuem características variáveis de forma, tamanho e cor, além da capacidade de atingir as características desejadas quando submetidas a diferentes condições de produção (NETO et al., 2010). As principais cultivares existentes no Brasil são de origem americana ou japonesa, sendo disponibilizados também alguns híbridos de melancia sem sementes (Tabela 3) (NASCIMENTO et al., 2011). Porém, as cultivares do tipo “Crimson Sweet” são as mais cultivadas em todo o Brasil e consumidas, principalmente, na forma in natura. Essas cultivares se caracterizam por apresentar frutos de formato arredondado, sendo considerados de melhor qualidade os de tamanhos médio e grande, possui casca de cor clara com estrias verde-escuras e polpa vermelho intenso muito doce, tendo a desvantagem de serem muito susceptíveis a doenças (CARVALHO, 1999; PORTELA, 2009). 16 Tabela 3. Algumas cultivares de melancia comercializadas no Brasil e suas principais características. Cultivar Tipo Fruto Coloração Externa Formato Crimson Sweet O.P. Verde escura com estrias Redondo Nova Crimson O.P. Verde escura listrada Redondo Mickylee PVP O.P. Verde clara Redondo Preciosa O.P. Verde clara Redondo Crimson Select O.P. Verde escura com estrias Arredondado Electra Híbrida Verde escura com estrias Arredondado Georgia Híbrida Verde escura com estrias Arredondado Top Gun Híbrida Verde escura com estrias Redondo-ovalado Manchester Híbrida Verde escura com estrias Redondo Karistan Híbrida Verde escura com estrias Globular Phedra Híbrida Verde escura com estrias Globular Shadow Híbrida Triplóide Verde escura Redondo-ovalado Olímpia Híbrida Verde escura com estrias Redondo-ovalado Denver F1 Híbrida Verde escura com estrias Redondo Ferrari F1 Híbrida Verde escura com estrias Redondo-ovalado Fonte: NASCIMENTO et al., 2011. O.P.: cultivares de polinização aberta. 2.4. EXIGÊNCIAS DA CULTURA As principais exigências da cultura da melancia são temperaturas em torno de 23 a 28°C, baixa umidade, dias longos e quentes e noites quentes. Esses fatores interferem diretamente no desenvolvimento da planta, sendo que qualquer alteração pode causar distúrbios que levam a uma grande redução na produtividade da cultura. Para a cultura da melancia estima-se um rendimento de 40 a 55 t.ha-1 (FILGUEIRA, 2008), o que mostra que no Brasil a ocorrência de perdas é de aproximadamente 50%, quando comparado com as produtividades 17 obtidas como visto na Tabela 1. Dias et al. (2006), avaliando linhas de melancia originadas do cruzamento entre a cultivar Crimson Sweet e o híbrido CPATSA 85030 com resistência ao oídio, encontrou produtividades entre 33.6 a 67 t.ha -1, sendo a encontrada uma média de 42,7 t.ha-1 para a cultivar Crimson Sweet. 2.5. FATORES QUE AFETAM A PRODUÇÃO Uma série de fatores, bióticos ou abióticos, pode ocasionar distúrbios na cultura da melancia, prejudicando a sua produção e causando perdas, sendo que quando ocorridos em conjunto, esses fatores podem levar a perdas com maior intensidade. Assim, o emprego de técnicas que identifiquem e quantifiquem os fatores de perdas nas culturas é uma ferramenta que pode minimizar os prejuízos, auxiliando em uma produção com menos risco e maior produtividade (LOOS et al., 2004; BACCI, 2006). Os fatores de perdas são bastante variáveis de uma cultura para outra, bem como de um plantio para outro, uma vez que a produção de uma espécie vegetal depende do seu genótipo e das condições ambientais às quais é submetida, sendo que fatores associados ao clima, ao solo e aos métodos de cultivo podem ser responsáveis pela predisposição de plantas a esses distúrbios (BERGAMIM FILHO et al., 1995). Dentre os principais distúrbios ocorridos na cultura da melancia podemos destacar: 2.5.1. DISTÚRBIOS ABIÓTICOS 18 São considerados como distúrbios abióticos os danos causados por fatores ambientais e condições inadequadas de manejo, como clima, solo, deficiência de nutrientes, polinização insuficiente, déficit de água. Dentre as principais estão podridão apical, rachadura de frutos, deformação de frutos, abscisão de frutos, queimadura de sol e fitotoxidez. 2.5.1.1. PODRIDÃO APICAL A podridão apical, também conhecida como fundo preto, é um distúrbio que está relacionado principalmente com disponibilidade, absorção, translocação e acúmulo de cálcio. Os sintomas da podridão aparecem em frutos de diversos tamanhos, sendo mais comuns na fase inicial do desenvolvimento desses frutos. Inicialmente são verificadas manchas aquosas na região apical que evoluem e aumentam, formando uma mancha maior em toda a região apical. A extremidade do fruto torna-se escura e achatada levando a uma podridão preta, onde pode ocorrer infecção por fungos e bactérias, inutilizando os frutos para o comércio (SANTOS et al. 2005a; COSTA & LEITE, 2007; SOUZA, 2008; SANTOS et al., 2011). 2.5.1.2. RACHADURA NOS FRUTOS Este distúrbio é causado principalmente por desequilíbrio hídrico, quando os frutos são submetidos a períodos de seca seguidos por período de chuva ou irrigação excessiva, provocando uma rachadura na casca do fruto no sentido longitudinal (SANTOS et al., 2005a; SANTOS et al., 2011). 19 2.5.1.3. FRUTOS DEFORMADOS E ABORTAMENTO DE FRUTOS Os frutos, quando formados, apresentam deformações com crescimento desigual. Já a abscisão de frutos ocorre naturalmente na melancia, porém, quando em excesso pode ocasionar grandes perdas na produtividade. Estes distúrbios podem ser causados por vários fatores como desequilíbrio hídrico, deficiência de boro, ataque de pragas e doenças, deficiência nutricional ou deficiência na polinização (SANTOS et al., 2005a; SOUZA, 2008; SANTOS et al., 2011). 2.5.1.4. QUEIMA DE SOL A queimadura da casca dos frutos de melancia provocada pelo sol causa manchas claras que depois adquirem coloração escura, reduzindo o brilho natural do fruto e essas manchas podem ser sofrer invasão de microrganismos saprófitas causando podridão. A principal causa deste distúrbio é a desfolha causada por doenças fúngicas ou deficiência de nutrientes, o que deixa os frutos descobertos e mais expostos a ação dos raios solares (SANTOS et al., 2005a; SOUZA, 2008; SANTOS et al., 2011). 2.5.1.5. FITOTOXIDEZ A aplicação de defensivos agrícolas de maneira inadequada (concentração errada, produto não recomendado, mistura de diferentes produtos sem o devido conhecimento) pode causar lesões em frutos e folhas jovens, que são órgãos muito sensíveis na fase inicial de desenvolvimento. Nos frutos este distúrbio pode 20 causar entumescimento na casca ou aborto. Já nas folhas o sintoma depende do produto utilizado e da dose, sendo comum observar enrugamento e clorose sobre o limbo, além de causar retardo no desenvolvimento e endurecimento da região do caule quando o produto for aplicado na fase de plântulas (SANTOS et al., 2005a; SANTOS et al., 2011). 2.5.1.6. OCAMENTO DE FRUTOS Causado principalmente por estresse hídrico e adubação inadequada, este distúrbio causa abertura de espaços na polpa que vão desde pequenas fissuras até grandes buracos, deixando a polpa com um aspecto rejeitado pelo consumidor. A ocorrência deste distúrbio é mais comum em híbridos sem sementes, porém algumas cultivares tem menor predisposição, como os híbridos “Nova” e “Top Gun” (SOUZA, 2008). 2.5.2. DISTÚRBIOS BIÓTICOS 2.5.2.1. DOENÇAS Dentre os fatores limitantes à produção, as doenças (Tabela 4) são as principais causas de perda na produtividade e na qualidade dos frutos (SANTOS, 2005; GICHIMU, 2008). Entre as principais doenças, destaca-se a podridão gomosa, causada pelo fungo Didymella bryoniae, cujas perdas provocadas na produtividade da melancia podem chegar a mais que 40% sob alto nível de inóculo e condições ambientais favoráveis (SANTOS et al., 2005). 21 Tabela 4. Principais doenças de ocorrência na cultura da melancia. Doença Agente Causal Fúngicas Cancro das hastes Didymella bryoniae (podridão gomosa) Podridão-do-colo Macrophomina sp. Oídio Podosphaera xanthii: fase perfeita; Oidium sp.: fase imperfeita Míldio Pseudoperonospora cubensis Antracnose Colletotrichum lagenarium Murcha-de-fusarium Fusarium oxysporum Outras Watermelon mosaic vírus (WMV-2) Papaya ringspot vírus – watermelon (PRSV-W) Viroses Zucchini yellow mosaic virus (ZYMV) Cucumber mosaic virus (CMV) Zucchini lethal chlorosis virus (ZLCV) Galhas Meloidogyne sp. Mancha-aquosa Acidovorax avenae subsp. citrulli Fonte: Costa & Leite, 2007; Souza, 2008; Santos et al., 2011. De acordo com Roberts e Kucharek (2009), os frutos de melancia são, em sua maioria, ameaçados por fungos patogênicos, sendo transmitidos pela semente ou pelo solo. Esses fungos causam prejuízos na germinação e no vigor das mudas, resultando em baixa produtividade e baixo rendimento. 22 Anjorin (2009), avaliando o efeito de fungos transmitidos pela semente na germinação e no crescimento de plântulas de melancia, observou uma porcentagem de germinação (46,67%) em sementes inoculadas com Mucor racemosus e Rhizopus nigricans, sendo considerada baixa quando comparada com a testemunha (88,33%). 2.5.2.2. PRAGAS Diversos insetos são encontrados causando danos na cultura da melancia, sendo que sendo que a maior ou menor importância de cada uma delas varia de acordo com a região e a época de plantio. Dentre os principais insetos-praga podemos destacar: Mosca Branca (Bemisia tabaci), Pulgão (Aphis gossypii), Vaquinha (Diabrotica speciosa), Broca das Cucurbitáceas (Diaphania sp.), Lagarta Rosca (Agrotis ipsilon) e tripes (Frankliniella schultzei, Thrips palmi e Thrips tabaci. Essas espécies de insetos atacam a cultura da melancia, sendo que a maior ou menor importância de cada uma delas varia de acordo com a região e a época de plantio (COSTA & LEITE, 2007; SOUZA, 2010). O sistema de controle convencional de pragas tem consequências como os efeitos deletérios sobre o ambiente, além dos desafios econômicos. Uma alternativa para o controle convencional de pragas é a adoção do manejo integrado de pragas (MIP), preservando e aumentando os fatores de mortalidade natural, através da combinação de várias práticas de gestão de controle de forma compatível (PICANÇO et al., 2007). 2.6. TABELA DE VIDA 23 O reconhecimento dos fatores de perdas nas culturas, bem como suas principais fontes e condições que favorecem sua progressão auxiliam na tomada de decisões mais assertivas para o uso correto e efetivo de procedimentos de controle. Tabelas de vida são ferramentas utilizadas em estudos de dinâmica populacional que auxiliam nas estratégias de manejo integrado de pragas. Porém, esta ferramenta foi aprimorada por pesquisadores como Harcourt (1970), Chandler (1984) e Picanço (1992), para sua utilização em culturas. Esta ferramenta possibilita a identificação e a quantificação dos componentes de perdas e das causas diretas de perdas na produção, buscando alternativas que possam minimizá-las (PICANÇO et al., 1997, LOOS et al., 2004; LOOS et al., 2007; LOOS et al., 2008). Adaptado de um modelo proposto por Varley e Gradwell (1960), Picanço (1992), estudando perdas na cultura da ervilha, desenvolveu um modelo de tabela de vida que tem por objetivo a determinação de perdas por unidade de área para cada componente de produção, a identificação do componente crítico e do fatorchave de perdas na cultura. O componente crítico é um fator que explica a maior proporção da variação da perda total da safra, ou seja, o componente que sofre as maiores perdas. O fator chave de perda é outro que mostra a correlação mais forte com perdas no componente crítico, ou seja, o fator que leva a maiores perdas no componente crítico do rendimento. Por isso, a tabela de vida da cultura identifica e quantifica os fatores de perda, permitindo a procura por alternativas que os reduzam (BACCI et al., 2006). A partir das médias de perdas em produtividade a tabela de vida é construída para cada parcela. Para confecção da tabela de vida é realizado um levantamento de dados durante todo o cultivo. Em cada estágio de 24 desenvolvimento da planta, são avaliadas as perdas (de plantas, flores e frutos), bem como os fatores que levam a essas perdas (HANCOURT, 1970; CHANDLER, 1984; PICANÇO, 1992). Em estudo de identificação e quantificação dos componentes de perdas de produção do tomateiro, Loos et al. (2004) observou as maiores perdas no componente planta, na fase reprodutiva, devido à incidência de vírus do tipo TSWV. Por outro lado, Picanço et al. (2007), determinando o componente crítico de produção dos principais fatores de perda na cultura do tomate, observou que o componente mais crítico foi o fruto, com perdas devido ao ataque de pragas, principalmente. Avaliando a intensidade de perdas em cultivares de milho em cultivo de safrinha, Picanço et al. (2003) determinaram como componente de produção em que mais ocorreram perdas como sendo o grão, seguido de abortamento de óvulos, mortalidade de plantas e não formação de espigas. As causa de mortalidade de plantas foram a não-emergência, corte de plântulas por pragas e morte por doença fúngica e as causas de perdas nos grãos foram o ataque de pragas. Para a cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris), Leite et al. (1996) estudou os componentes de produção quando utilizado inseticidas sistêmicos durante o cultivo e determinou que o componente que mais sofreu perdas foi a vagem (devido ao ataque de pragas), seguido da mortalidade de plantas na fase vegetativa e grãos (por ataque de fungo). A flutuação de perdas totais foi mais influenciada pela mortalidade de plantas seguida pelo abortamento de flores. Poucos ainda são os estudos de levantamento de fatores de perdas em culturas utilizando a tabela de vida como ferramenta, mas essa metodologia vem como um adicional para recomendar medidas que reduzam as perdas e, 25 consequentemente, aumente a produtividade, aumentando lucros na produção agrícola. 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. INSTALAÇÃO DOS EXPERIMENTOS Foram realizados cinco cultivos entre os anos de 2011 (1-Abril/Junho, 2Junho/Setembro, 3-Setembro/Dezembro) e 2012 (4-Fevereiro/Abril, 5- Maio/Agosto). Os experimentos foram conduzidos na Estação Experimental da Universidade Federal do Tocantins, Campus Universitário de Gurupi, localizado a 11º 43’ S e 49° 04’ W, com altitude média de 287 m. Foram feitas análises de solo para correções da fertilidade de acordo com recomendação para cultura (FILGUEIRA, 2008). O preparo do solo foi feito de forma convencional, com uma aração e duas gradagens. As sementes foram adquiridas em comércio local, sendo utilizada a cultivar do tipo Crimson Sweet. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 12 repetições e cada parcela foi constituída por 16 covas com espaçamento de 2,0 x 2,0 m. Foram semeadas plantadas cinco sementes por cova, sendo realizado desbaste 30 dias após a germinação, deixando-se duas plantas por cova. Foi realizada adubação de cobertura com Uréia (45% de N) e Cloreto de Potássio (60% de K) aos 20 dias após o plantio e capina manual aos 25 e 40 dias após o plantio. A variação sazonal da região durante os cinco períodos de cultivo está apresentada na Figura 1. 26 Figura 1. Variação sazonal dos elementos climáticos durante cinco épocas de cultivo de melancia em Gurupi-TO. 3.2. AVALIAÇÃO DOS FATORES DE PERDA DA CULTURA DA MELANCIA 27 A partir da germinação até a colheita, foram avaliados os números e as causas de mortalidade de plantas, flores e frutos nas diferentes fases de desenvolvimento das plantas de melancia. Foram determinados para avaliação quatro componentes de produção: planta em estádio vegetativo (a partir germinação até antes do início da floração), plantas em estádio reprodutivo (a partir da floração até o fim do cultivo), flores e frutos. 3.2.1. PERDAS POR MORTALIDADE DE PLANTAS Foi avaliada a perda de plantas no estádio vegetativo a cada dois dias e no estádio reprodutivo a cada sete dias, por meio de um levantamento das plantas mortas em cada parcela e das suas causas, identificando o fator de perda. As plantas mortas devido ao fator doença fúngica foram coletadas e levadas para avaliação no Laboratório de Fitopatologia da Universidade Federal do Tocantins - Campus de Gurupi. Para identificação do patógeno, fragmentos de lesão foram retirados da planta morta e lavados em água corrente. Em seguida, foi realizada assepsia em solução de álcool 70% por 30 segundos, seguido de solução de hipoclorito de sódio 1% por 40 segundos, seguido de três lavagens em água destilada estéril. O isolamento foi feito em placas de Petri contendo meio de cultura BDA (Batata Dextrose Ágar) incubadas a 25°C por sete dias. Após este período os patógenos foram identificados. Para identificação do agente causador de morte devido ao fator insetos, foi levado em consideração o tipo de lesão na planta e os insetos encontrados nas avaliações. 28 3.2.2. PERDAS POR ABORTAMENTO DE FLORES Em cada parcela foram marcadas 10 flores femininas em plantas aleatórias. Estas flores foram acompanhadas até a colheita, sendo avaliadas as flores mortas e causas de mortalidade dessas flores. Para determinação do número de flores por planta, uma planta por parcela foi separada, sendo realizada a contagem de todas as flores nascidas. 3.2.3. PERDAS DE FRUTOS E PRODUTIVIDADE Os frutos perdidos foram contabilizados e foram avaliadas as causas das perdas. Distúrbio fisiológico foi determinado como o fator de perda quando não foi identificada outra causa. Os frutos sadios foram colhidos, pesados e separados em frutos totais e frutos comerciais (peso acima de 5 kg). Para obtenção da perda em produtividade, o número de frutos perdidos foi multiplicado pelo peso médio dos frutos colhidos em cada parcela. 3.2.4. DETERMINAÇÃO DAS PERDAS NOS COMPONENTES DE PRODUÇÃO DA CULTURA As perdas nos componentes de produção foram estimadas em cada parcela de acordo com metodologia proposta por Picanço (1992). Os valores foram convertidos para ton.ha-1. A produtividade em cada componente de produção foi estimada utilizando as fórmulas: 29 Lx (planta em estádio vegetativo) = Pl x Fl/Pl x Pfr Lx (planta em estádio reprodutivo) = Pl x Fl/Pl x Pfr Lx (flores) = Pl x Fl/Pl x Pfr Lx (frutos totais) = Plc x Frt/Pl x Pfr Lx (frutos comerciais) = Plc x Frc/Pl x Pfr em que Pl = número médio de plantas no início de cada fase; Fl/Pl = número total de flores/planta; Pfr = peso médio dos frutos; Plc= número médio de plantas na colheita; Frt/Pl = número médio de frutos totais/planta e Frc/Pl= número médio de frutos com peso comercial por planta. A perda em cada componente foi estimada somando as perdas nos seus fatores. A porcentagem de perda total foi calculada utilizando a seguinte fórmula: %Per = 100 - % Prod, em que %Per = porcentagem de perdas; %Prod = porcentagem de produtividade real em relação à produtividade estimada no início do cultivo (Lx planta em estádio vegetativo). 3.2.4.1. ESTIMATIVA DE PERDAS POR MORTALIDADE DE PLANTAS NOS ESTÁDIOS VEGETATIVO E REPRODUTIVO As perdas em cada fator de mortalidade foram estimadas para os dois estádios usando a fórmula: 30 dxi = Plmi x Fl/Pl x Pfr em que dxi = estimativa de perda por cada fator de mortalidade (i); Plmi = número de plantas mortas por cada fator; Fl/Pl = número total de flores/planta; Pfr = peso médio dos frutos; (i) = fator de mortalidade em cada componente. 3.2.4.2. ESTIMATIVA DE PERDAS POR FLORES As perdas no componente flores foi estimada usando a seguinte fórmula: dxFl = (%FlAb x Fl/Pl)/100 x Pfr em que dxFl = estimativa de perda no componente flores; %FlAb = porcentagem de flores femininas abortadas na parcela; Fl/Pl = número total de flores/planta; Pfr = peso médio dos frutos. 3.2.4.3. ESTIMATIVA DE PERDAS EM FRUTOS As perdas em cada fator de mortalidade no componente frutos foram estimadas usando a seguinte fórmula: dxFri = Frtpi x Pfr 31 em que: dxFri = estimativa de perda em cada fator de perda (i) no componente frutos; Frtpi = número de frutos perdidos em cada fator de perda; Pfr = peso médio dos frutos. 3.3. ANÁLISE DOS DADOS 3.3.1. ANÁLISE DO EFEITO DO PERÍODO DE CULTIVO NA PRODUTIVIDADE E NAS PERDAS DA CULTURA Para a análise do efeito do período de cultivo na produtividade e nas perdas, os dados foram submetidos à análise de variância. As médias foram comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2000). 3.3.2. DETERMINAÇÃO DO COMPONENTE CRÍTICO DE PERDAS NA CULTURA Foram calculados fatores de perdas parciais (k = log dx) e totais (K=∑k), em que dx = estimativa de perdas calculadas para cada componente de produção e cada fator de perda, conforme exposto anteriormente. Foi realizada análise de correlação de Pearson entre os valores de k e K para cada componente e cada fator de perdas. Foi considerado como componente crítico de perdas na produção aquele cujo fator de perdas parciais apresentou correlação significativa (p<0,05) com o fator de perdas totais. A análise de regressão linear foi utilizada como critério auxiliar na identificação do componente crítico de perdas quando as perdas de 32 dois ou mais componentes apresentaram correlação significativa com as perdas totais. O componente de produção, cuja curva de regressão apresentou maior coeficiente angular, foi considerado como componente crítico de perda (PICANÇO et al., 2004). 3.3.3. DETERMINAÇÃO DOS FATORES-CHAVE DE PERDAS NA CULTURA Para se determinar o fator-chave de perdas da cultura, foi utilizado o mesmo procedimento descrito anteriormente, levando em consideração os fatores de perdas parciais (k) e total (K) dentro do componente considerado como crítico. Se no componente houve apenas uma causa de perdas esta foi considerada diretamente como o fator-chave. Os fatores-chave que apresentaram mais de um agente causador de perdas foram desdobrados sendo realizadas análises de correlação e regressão (quando necessária) entre os valores de k e K dentro do fator-chave de perdas. 4. RESULTADOS A produtividade média encontrada para a cultura da melancia diferiu entre as épocas de cultivos (F4;55 = 32,845 e p<0,0001). Nas épocas de abr/jun-2011 e jun/set-2011 foram encontradas as maiores produtividades, 22,6 e 32,4 ton ha-1 respectivamente. Nas demais épocas (set/dez-2011, fev/abr-2012 e mai/ago2012) as produtividades foram de 1,1, 0,3 e 11,3 ton ha-1, respectivamente. As perdas em produtividade foram altas e diferiram em todos os cultivos (F4;55 = 28,518 e p<0,0001). As maiores perdas, que foram de 98,14% e 96,44%, ocorreram nas épocas fev/abr-2012 e set/dez-2011, respectivamente. Nas épocas 33 de abr/jun-2011, jun/set-2011 e mai/ago-2012 as perdas foram de 69,85, 64,61 e 85,07%, respectivamente (Figura 2). Figura 2. (A) Produtividade média (ton.ha-1) e (B) porcentagem total de perdas na cultura da melancia em cinco épocas de cultivo. As colunas seguidas por pelo menos uma letra minúscula igual possuem médias que não diferem, entre si, pelo teste de Tukey a p<0,05. 34 Os fatores de perda na produtividade foram identificados para cada componente de produção. Os fatores de mortalidade de plantas em estádio vegetativo foram doenças fúngicas (tendo como patógenos Fusarium sp., Pythium sp., Rhizoctonia sp. e Curvularia sp), doenças bacterianas e inseto (vaquinha Diabrotica speciosa). No estádio reprodutivo a mortalidade de plantas foi causada por doenças fúngicas (crestamento gomoso, tendo como patógeno Didymella bryoniae e míldio, tendo como patógeno Pseudoperonospora cubensis). O fator de perda de flores foi abortamento. Para frutos os fatores de perdas foram doenças fúngicas (Didymella bryoniae e Pseudoperonospora cubensis), insetos (broca das cucurbitáceas - Diaphania sp.), danos fisiológicos (podridão apical, distúrbios fisiológicos, rachadura e fruto murcho) e tamanho não comercial, sendo que não houve ocorrência de todos os fatores em todos os cultivos. No estádio vegetativo as doenças fúngicas e bacterianas causaram lesão necrótica no colo da plântula resultando em tombamento e morte. Os insetos causaram mortalidade das plântulas através do raspamento e corte do caule. No estádio reprodutivo as doenças fúngicas causaram seca gradativa das folhas levando a seca completa e mortalidade das plantas. O abortamento causou queda natural das flores. A podridão apical ocasionou uma lesão necrótica escura no fundo do fruto conhecida como “fundo preto”. A rachadura causou uma abertura na casca do fruto ocorrida em diferentes estádios levando a perda. Frutos que ao final do ciclo não atingiram o peso comercial (acima de 5 kg) foram considerados perdidos por tamanho não comercial. A Figura 3 representa os valores dos coeficientes de correlação e das inclinações das curvas de regressão entre as perdas totais e as perdas parciais nos componentes de produção. 35 Figura 3. Determinação do componente crítico de perdas da melancia utilizando correlações de Pearson e a inclinação das curvas de regressão das perdas parciais em função das perdas totais em cinco épocas de cultivo: (A) abril/junho2011, (B) junho/setembro-2011, (C) setembro/dezembro-2011, (D) fevereiro/abril2012, (E) maio/agosto-2012. *Correlação significativa pelo teste t (p<0,05). Δ Componentes de produção que apresentaram curvas com maior inclinação, segundo seu intervalo de confiança a 95% de probabilidade. 36 A análise de correlação (p<0,05) mostrou significância entre as perdas parciais e perdas totais dos seguintes componentes: plantas em estádio vegetativo e plantas em estádio reprodutivo nos cultivos abr/jun-2011 e jun/set2011; plantas em estádio vegetativo, plantas em estádio reprodutivo e flores no cultivo set/dez-2011; plantas em estádio vegetativo e frutos no cultivo fev/abr2012; e plantas em estádio reprodutivo e frutos no cultivo mai/ago-2012. Destes componentes, os que apresentaram maior inclinação da curva de perdas foram plantas em estádio vegetativo e plantas em estádio reprodutivo no cultivo abr/jun2011; plantas em estádio vegetativo no cultivo jun/set-2011; flores no cultivo set/dez-2011; plantas em estádio vegetativo e frutos no cultivo fev/abr-2012; e plantas em estádio reprodutivo no cultivo mai/ago-2012, sendo estes considerados os componentes críticos de perdas para a cultura da melancia nos respectivos cultivos. No cultivo abr/jun-2011 os fatores de perda que apresentaram correlação significativa (p<0,05) das perdas parciais com as perdas totais foram doenças fúngicas nos dois componentes críticos (Tabela 5). No componente plantas em estádio vegetativo os fatores Fusarium sp. e Pythium sp. foram os que apresentaram correlação significativa com a perda total em doenças fúngicas e ambos apresentaram curvas de regressão com maior inclinação, segundo seu intervalo de confiança a 95% de probabilidade, sendo estes os fatores-chave de perdas neste estádio. No componente plantas em estádio reprodutivo o fatorchave de perdas foi Didymella bryoniae, patógeno causador da doença crestamento gomoso (Tabela 6). 37 Tabela 5. Determinação dos fatores-chave de perdas da cultura da melancia utilizando correlação de Pearson e regressão linear entre as perdas parciais dos fatores e as perdas totais nos componentes críticos de produção. Ano Cultivo Componente crítico PlVg 2011 Abril/Junho PlRp Junho/Setembro Setembro/Dezembro PlVg Fl 2012 PlVg Fevereiro/Abril Frt Maio/Agosto PlRp Fator-chave Coeficiente de correlação Inclinação da curva de regressão Intervalo de confiança Doenças fúngicas 0,71444* Doença bacteriana 0,36077 - - Inseto 0,41950 Doenças fúngicas 1,00* - - Doenças fúngicas 0,65470* 0,52190§ 0,19041 - 0,85340 Inseto 0,61169* 0,47810 § 0,14660 - 0,80959 Abortamento 1,00* - - Doenças fúngicas 0,84203 - - Doença bacteriana 0,20759 - - Inseto 0,77731* 0,08686 -0,00428 - 0,17800 Danos fisiológicos 0,87364* 0,26313§ 0,12898 - 0,39728 Tamanho não-comercial -0,04102 - - 1,00* - - Doenças fúngicas *Fatores-chave de perdas que apresentaram correlação significativa (p<0,05). § Fatores-chave de perdas que apresentaram curvas de regressão com maior inclinação, segundo seu intervalo de confiança a 95% de probabilidade. PlVg: Planta em estádio vegetativo; PlRp: Planta em estádio reprodutivo; Fl: Flores; Frt: Frutos. 38 Tabela 6. Desdobramento dos fatores-chave de perdas da cultura da melancia utilizando correlação de Pearson e regressão linear entre as perdas parciais e as perdas totais. Ano Cultivo 2011 Abril/ Componente crítico PlVg Inclinação da curva de regressão Intervalo de confiança 0,72472* 0,38456§ 0,21070 – 0,55842 Pythium sp. 0,73356* 0,40360 § 0,22469 – 0,58252 Rhizoctonia sp. 0,56178 - - Didymella bryoniae 1,00* - - Fusarium sp. 0,77743* - - Pythium sp. 0,55569 Curvularia sp. 0,29559 Fusarium sp. 0,66658* - - Rhizoctonia sp. 0,57102 Danos fisiológicos Podridão apical 0,82140* 0,57969§ 0,36067 – 0,79870 Rachadura 0,73723* 0,42031 § 0,20130 – 0,63933 Doenças fúngicas Pseudoperonospora cubensis 1,00* - Doenças fúngicas Junho Junho/ Setembro PlRp Doenças fúngicas PlVg Doenças fúngicas PlVg Fevereiro/ 2012 Coeficiente de correlação Fator-chave Doenças fúngicas Abril Frt Maio/ Agosto PlRp Fusarium sp. *Fatores-chave de perdas que apresentaram correlação significativa (p<0,05). § - Fatores-chave de perdas que apresentaram curvas de regressão com maior inclinação, segundo seu intervalo de confiança a 95% de probabilidade. PlVg: Planta em estádio vegetativo; PlRp: Pl anta em estádio reprodutivo; Fl: Flores; Frt: Frutos. 39 No cultivo jun/set-2011 os fatores de perdas que apresentaram correlação significativa foram doenças fúngicas (tendo Fusarium sp. como fator-chave) e o inseto Diabrotica speciosa. Já no cultivo set/dez-2011 o fator-chave de perdas foi abortamento de flores. No cultivo fev/abr-2012 os fatores que apresentaram correlação significativa foram doenças fúngicas (tendo Fusarium sp como fatorchave de perda) e danos fisiológicos (tendo podridão apical e rachadura de frutos como fatores-chave de perdas). No cultivo mai/ago-2012 Pseudoperonospora cubensis foi o fator-chave de perdas para a cultura (Tabelas 5 e 6). 5. DISCUSSÃO As produtividades nos cultivos abr/jun-2011 e jun/set-2011 foram as maiores e foram superiores a média nacional registrada para a cultura da melancia para o ano de 2011, que foi de 22,49 ton ha-1 (FAO, 2012). Porém ficaram abaixo da média prevista para a cultura que é de 45 ton.ha -1 de acordo com Filgueira (2008). Nos cultivos set/dez-2011 e fev/abr-2012 as produtividades ficaram muito abaixo da média nacional e o cultivo mai/ago-2012 apresentou uma produtividade intermediária, quando comparada as demais. As quedas nas produtividades foram causadas pela ocorrência de perdas na cultura, sendo que, nos cultivos em que ocorreram as menores perdas ocorreram as maiores produtividades. Assim, o período recomendado para o cultivo de melancia está entre abril e setembro, sendo recomendado o plantio no máximo até o início do mês de julho. Dos componentes de produção, plantas em estádio vegetativo e plantas em estádio reprodutivo foram os mais considerados como críticos. Como nestes 40 componentes ocorre perda da planta inteira e uma planta poderia gerar várias flores e, consequentemente, vários frutos, as perdas se destacam em intensidade. Ou seja, a perda de uma planta pode equivaler a grandes perdas em flores e frutos. Os fatores que estão ligados a esses componentes são doenças e pragas. Assim, medidas de controle destes fatores devem ser planejadas de forma a diminuir a intensidade dos ataques. Bacci et. al. (2006) avaliando a cultura do pepino, identificaram flores e frutos como componentes críticos, tendo abortamento de flores, tamanho não comercial e ataque por Diaphania sp. como fatores-chave de perdas. Loos et. al. (2007), identificaram plantas como componente crítico para a cultura do tomate, tendo a ocorrência de viroses (TSWV – Tomato Spotted Wilt Virus) como fator-chave de perdas. O ataque de doenças fúngicas foi o principal fator-chave de perdas para a cultura da melancia, tanto no estádio vegetativo quanto no reprodutivo. No estádio vegetativo o principal agente foi Fusarium sp. Os agentes causais das doenças no estádio vegetativo (Fusarium sp. e Phytium sp) são considerados fungos de solo, que podem ser introduzidos por sementes contaminadas, sendo relatados causando tombamento de plântulas (“damping-off”) em diversas culturas como tomate, beterraba, algodão, pepino (MICHEREFF et al., 2005; PATRÍCIO et al., 2007; CHITARRA et al, 2008; MAZARO et al., 2009; AL-MAWAALI et al., 2012). Os fungos que ocorreram no estádio reprodutivo (Didymella bryoniae e Pseudoperonospora cubensis) são os agentes causadores das principais doenças da melancia, crestamento gomoso e míldio, respectivamente (SANTOS et al., 2005 e 2005a; SANTOS et al., 2009; COHEN & RUBIN, 2012). O crestamento gomoso causa grandes perdas (podendo chegar a 40%) na produtividade e na qualidade dos frutos sob alto nível de inóculo e condições ambientais favoráveis (SANTOS, 2005; SANTOS et al., 2011a). Estudos realizados por Santos et al. 41 (2005a) mostraram que o aumento da incidência da doença nas folhas resultou em perda direta na produtividade, havendo um decréscimo de 19,2% na produtividade da melancia devido ao crestamento gomoso, representando cerca de 10,3 t/ha. Os resultados observados evidenciam a necessidade de controle das doenças desde o início do desenvolvimento das plantas. Atualmente são utilizados produtos químicos para minimizar as consequências desses ataques. Porém, é notória a diminuição do controle quando se faz uso prolongado do mesmo produto na mesma área, devido ao desenvolvimento de resistência por parte do patógeno. Outros métodos vem sendo empregados, juntos ou não, com a utilização de produtos químicos, visando um aumento no controle de doenças. Dentre eles se destaca o uso de cultivares resistentes, a rotação de culturas, menores densidades de plantio, dentre outros. Nos cultivos que apresentaram as maiores perdas (set/dez-2011 e fev/abr2012) foram apresentados os maiores índices pluviométricos e altas umidades, o que mostra que água em excesso prejudica a cultura da melancia. Porém, os componentes críticos foram diferentes nos dois cultivos. Isto pode ser justificado pela diferença na distribuição das chuvas. Altas umidades favorecem o aparecimento de doenças (COSTA & LEITE, 2007), contribuindo para um baixo desempenho da planta, porém, outros fatores foram observados como críticos quando submetidos a esta condição climática. No cultivo set/dez-2011 as chuvas ocorreram com maior intensidade a partir do estádio reprodutivo, podendo ter aumentado a queda de flores por ação direta da água. A perda de flores também ocorre por abortamento natural ou causado por fatores como não polinização, baixa produção de carboidratos e ataque de pragas e doenças (BACCI et al., 2006), além de baixa ação dos insetos 42 polinizadores e lavagem do pólen quando ocorre maior intensidade de chuvas. Neste cultivo ocorreu maior ataque por doenças (cerca de 75% de área foliar afetada), que apesar de não ter causado perda direta de plantas pode ter influenciado no abortamento das flores. O ataque de doenças e pragas, quando em grau elevado, causa grande diminuição na área foliar das plantas. Como a fotossíntese depende da área foliar, esta diminuição compromete a produção de fotoassimilados e sua distribuição na planta, prejudicando seu desenvolvimento, podendo ser causa de abortamento de flores (BACCI, 2006; BARROS, 2010). Já em fev/abr-2012 as chuvas se concentraram no início do cultivo. Isto pode ter favorecido a incidência de Fusarium sp., uma vez que alta umidade favorece o aparecimento de doenças, levando a elevadas perdas no estádio vegetativo. Além disso, podridão apical e rachadura de frutos também foram fatores-chave de perdas neste cultivo. Apesar da alta umidade favorecer a distribuição de cálcio nas plantas, a alta concentração de chuvas pode causar lixiviação de nutrientes do solo, entre eles o cálcio (OLIVEIRA et al., 1991). A planta é altamente exigente em relação a este nutriente, que permite a formação de uma parede celular resistente nos frutos. Em nível baixo de cálcio no solo, há a ocorrência de apodrecimento do fundo do fruto, conhecida como podridão apical ou fundo preto (MEDEIROS et al., 2006; NUNES, 2006). A rachadura de frutos ocorre principalmente devido ao manejo inadequado da irrigação. Quando os frutos são expostos a altas temperaturas e recebem irrigação logo em seguida ocorre um choque-térmico que leva a uma abertura na casca, deixando os frutos impossibilitados de serem comercializados (SANTOS et al., 2011). As condições de clima ameno a quente, dias longos, baixa umidade e temperaturas entre 18 e 28°C são favoráveis ao desenvolvimento da cultura 43 (COSTA & LEITE, 2007; DOMINGOS, 2003; RESENDE et al., 2006, FILGUEIRA, 2008). No Tocantins, quando levado em consideração a temperatura, pode-se plantar o ano todo, porém deve ser evitado o período onde há ocorrência de períodos de chuva em excesso. 6. CONCLUSÃO Vários fatores podem se apresentar como críticos para a produção de melancia, sendo sua importância determinada de acordo com a época de cultivo. A época de plantio influencia na produtividade, nas perdas e nos fatores que causam perdas na cultura da melancia. Épocas com maior incidência de chuvas não são recomendadas para o cultivo de melancia, pois ocorrem perdas muito grandes provocadas por vários fatores, sendo Fusarium sp. e Pythium sp. os principais fatores de ocorrência dessas perdas. A diversidade do ambiente dificulta a identificação de um fator de perdas determinante, porém doenças fúngicas é um fator de importância, pois causaram perdas significativas em todos os cultivos de melancia. Fungos habitantes de solo são mais importantes para a melancia, no estádio vegetativo das plantas e os fungos causadores de crestamento gomoso e míldio são mais importantes no estádio reprodutivo. 44 7. REFERÊNCIAS AL-MAWAALI, Q. S.; AL-SADI, A. M.; HHAN, A. J.; AL-HASANI, H. D.; DEADMAN, M. L. Response of cucurbit rootstocks to Pythium aphanidermatum. Crop Protection, v. 42, p. 64-68, 2012. ANJORIN, S. T.; MOHHAMMED, M. Effects of seed-borne fungi on germination and seedling growth of watermelon (Citrullus lanatus). Journal of Agriculture & Social Sciences, v. 5, n. 3, p. 77-80, 2009. BACCI, L. PICANÇO, M. C.; GONRINGA, A. H. R.; GUEDESB, R. N. C.; CRESPOB, A. L. B. Critical yield components and key loss factors of tropical cucumber crops. Crop Protection, v. 25, p. 1117-1125, 2006. BANDAS, L. D. C.; CORREDOR P., S.; CORREDOR S., G. Efecto de la asociación patilla (Citrullus lanatus) com maíz (Zea mays) sobre la población y el daño causado por três insectos plaga y el rendimento de estos cultivos em la Ciénaga Grande de Lorica, Córdoba. Revista Colombiana de Entomologia, v. 30, n. 2, p. 161-169, 2004. BARROS, E. C. Impacto e fatores determinantes de pragas em Phaseolus vulgaris. Tese (Departamento de Fitotecnia) – Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2010. 45 BERGAMIM FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. Manual de fitopatologia: Princípios e Conceitos. 3 ed. São Paulo: Ceres, 1995. 919 p. CARVALHO, R. N. Cultivo de melancia para agricultura familiar. Brasília: Embrapa-SPI, 1999. 127 p. CAVALCANTE, I. H. L.; ROCHA, L. F.; SILVA JÚNIOR, G. B.; AMARAL, F.H. C.; FALCÃO NETO, R. e NÓBREGA, J. C. A. Fertilizantes orgânicos para o cultivo da melancia em Bom Jesus-PI. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, Recife, v. 5, n. 4, p. 518-524, 2010. CHANDLER, L. Crop life table studies of the pests of beans (Phaseolus vulgaris L.) at Goiânia-GO. Revista Ceres, Viçosa, v.31, n.176, p.284-298, 1984. CHITARRA, L. G.; GOULART, A. C. P.; ZORATO, M. F. Tratamento de sementes de algodoeiro com fungicidas no controle de patógenos causadores de tombamento de plântulas. Revista Brasileira de Sementes, v. 31, n. 1, p.168-176, 2008. COHEN, Y.; RUBIN, A. E. Mating type and sexual reproduction of Pseudoperonospora cubensis, the downy mildew agent of cucurbits. Eur J Plant Pathol, v. 132, p. 577–592, 2012. COSTA, N. D.; LEITE, W. M. Manejo e conservação do solo e da água: potencial agrícola do solo para o cultivo da melancia. Barreiras: Embrapa Semi-Árido, 2007. 15 p. 46 DOMINGOS, P. F. A. Cultura da melancia. Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, 2003. Disponível em: http://www.dalmeida.com/hortnet/Melancia.pdf Acesso em: 10/06/2012. FAO. Food and Agricultural commodities production – Countries by commodity, 2010. Disponível em: http://faostat.fao.org/site/339/default.aspx Acesso em: 24/11/2012. FILGUEIRA. F. A. R. Novo Manual de Olericultura: Agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 3 ed. Viçosa: UFV, 2008. 421p. GOMES, F. S. Concentração de licopeno de suco de melancia através de processos de separação por membranas. 2009. Tese (Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos). Instituto de Tecnologia, Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2009. HARCOURT, D.G. Crop life tables as a pest management tool. Canadian Entomologist, v.102, n.8, p.950-955, 1970. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. Culturas temporárias e permanentes. Produção agrícola municipal, Rio de Janeiro, v. 38, p.1-97, 2011. LEITE, G. L. D.; PICANÇO, M.; MADEIRA, N. R.; ZANUNCIO, J. C. Efeito de inseticidas sistêmicos aplicados no solo na produção do feijoeiro. Bragantia, Campinas, v. 55, n. 2, p. 279-287, 1996. 47 LOOS, R. A.; SILVA, D. J. H.; FONTES, P. C. R.; PICANÇO, M. C.; GONTIJO, L. M.; SILVA, E. M.; SEMEÃO, A. A. Identificação e quantificação dos componentes de perdas de produção do tomateiro. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 22, n. 2, p. 238-242, abr-jun, 2004. LOOS, R. A.; SILVA, D. J. H.; PICANÇO M. C.; FONTES, P. C. R.. The use of crop life tables as a tomato yield LOOS management tool. Acta Scientiarum Agronomy, Maringá, v. 29, n. 4, p. 573-579, 2007. LOOS, R. A; SILVA, D. J. H.; FONTES, P. C. R.; PICANÇO, M. C. Identificação e quantificação dos componentes de perdas de produção do tomateiro em ambiente protegido. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 26, n. 2, p. 281-286, abr-jun, 2008. MAZARO, S. M.; JUNIOR, A. W.; SANTOS, I.; CITADIN, I. POSSENTI, J. C.; GOUVÊA, A. Controle do tombamento de plântulas de beterraba e tomate pelo tratamento de sementes com quitosana. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 44, n. 11, p. 1424-1430, nov, 2009. MEDEIROS, R. D.; FERREIRA, G. B.; COSTA, M. C. G.; ALVES, A. B. Nutrição Mineral, Correção do Solo e Adubação da Cultura da Melancia em Roraima. Boa Vista, Circular técnica-Embrapa, 2006. MICHEREFF, S. J.; ANDRADE, D. E. G. T.; MENEZES, M. Ecologia e manejo de patógenos radiculares em solos tropicais. Recife, UFRPE, Imprensa Universitária, 2005. 398 p. 48 NASCIMENTO, I. R.; SANTOS, G. R.; MALUF,W. R. Melhoramento genético e cultivares de melancia. In: SANTOS, G. R.; ZAMBOLIN, L. Tecnologias para produção sustentável da melancia no Brasil. 1 ed. Viçosa: UFV, 2011. 268 p. NETO, I. S. L.; GUIMARÃES, I. P.; BATISTA, P. F.; AROUCHA, E. M. M.; QUEIRÓZ, M. A. Qualidade de frutos de diferentes variedades de melancia provenientes de Mossoró – RN. Revista Caatinga, Mossoró, v. 23, n. 4, p. 14-20, out.- dez., 2010. NUNES, J. Blossom end rot due to calcium deficiency. Western Farm Press, v. 28, n. 10, apr, 2006. OLIVEIRA, A. S.; LEÃO, M. C. S.; OLIVEIRA, H. G.; PEREIRA, O. J. Ocorrência da podridão apical em frutos de melancia submetidos a diferentes períodos de deficiência hídrica no solo. Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 22 n. 1-2, p. 121125, jun/dez, 1991. PATRICIO, F. R. A.; KIMATI, H.; NETO, J. T.; PETENATTI, A.; BARROS, B. C. Efeito da solarização do solo, seguida pela aplicação de Trichoderma spp. ou de fungicidas, sobre o controle de Pythium aphanidermatum e de Rhizoctonia solani AG-4. Summa Phytopathologica, Botucatu, v. 33, n. 2, p. 142-146, 2007. PICANÇO, M. C. Entomofauna e danos das pragas associadas à cultura de ervilha (Pisum sativum L.), em quatro épocas de plantio e 54 cultivares. 1992. 310 f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1992. 49 PICANÇO, M.; FALEIRO, F. G.; FILHO, Â. P.; MATIOLI, A. L. Perdas na produtividade do tomateiro em sistemas alternativos de controle fitossanitário. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, n. 2, p. 88 - 91, nov. 1997. PICANÇO, M. C.; GALVAN, T. L.; GALVÃO, J. C. C.; SILVA, E. C.; GONTIJO, L. M. Intensidades de perdas ataque de insetos-praga e incidência de inimigos naturais em cultivares de milho em cultivo de safrinha. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 27, n. 2, p. 339-347, mar-abr, 2003. PICANÇO, M. C.; SEMEÃO, A. A.; GALVÃO J. C. C.; SILVA É. M.; BARROS, E. C. Fatores de perdas em cultivares de milho safrinha. Acta Scientiarum. Agronomy, v. 26, n. 2, p. 161-167, 2004. PICANÇO, M. C.; BACCI, L.; CRESPO, A. L. B.; MIRANDA, M. M. M. e MARTINS, J. C. Effect of integrated pest management practices on tomato production and conservation of natural enemies. Agricultural and Forest Entomology, v. 9, n. 4, p. 327-335, nov, 2007. PORTELA, J. V. F. Estudo dos aspectos tecnológicos e de qualidade envolvidos no aproveitamento da casca e da polpa da melancia (Citrullus lanatus Schrad). 2009, 132 f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) Centro de Tecnologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009. PUIATTI, M.; SILVA, D. J. H. Cultura da melancia. In: FONTES, P. C. R. Olericultura: teoria e prática. Viçosa-MG: UFV, 2005. p. 385-406. 50 RAMOS, A. R. P.; DIAS, R. C. S.; ARAGÃO, C. A. Densidades de plantio na produtividade e qualidade de frutos de melancia. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 27, n. 4, p. 560-564, out-dez, 2009. RAMOS, A. R. P.; DIAS, R. C. S.; ARAGÃO, C. A.; BATISTA, P. F.; PIRES, M. M. L. Desempenho de genótipos de melancia de frutos pequenos em diversas densidades de plantio. Horticultura Brasileira, v. 30, n. 2, p. 333-338, abr-jun, 2012. RESENDE, G. M.; COSTA, N. D.; DIAS, R. C. S. Cultivo de melancia – Plantio. Sistemas de produção, 4. Embrapa Semi-Árido, dez., 2006. Disponível em: http://www.cpatsa.embrapa.br:8080/sistema_producao/spmelancia/plantio.htm Acesso em: 29/10/2012. ROBERTS, P.; KUCHAREK, T. Watermelon. Plant Disease Management Guide, University of Florida, v. 3, n. 55, 2009. ROCHA, M. R. Sistemas de cultivo para a cultura da melancia. 2010, 76 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo) – Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2010. SANTOS, G. R. Biologia, epidemiologia e manejo do crestamento gomoso do caule da melancia, causado por Didymella bryoniae. Tese (Departamento de Fitopatologia) – Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília, Distrito Federal, 2005. 51 SANTOS, G. R.; CAFÉ-FILHO, A. C.; SABOYA, L. M. F. Controle químico do crestamento gomoso do caule em melancia. Fitopatologia Brasileira, v. 30, p. 155163, 2005. SANTOS, G. R.; CAFÉ-FILHO, A. C.; LEÃO, F. F.; CÉSAR, M.; FERNANDES, L. E. Progresso do crestamento gomoso e perdas na cultura da melancia. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 23, n. 2, p. 228-232, abr-jun, 2005a. SANTOS, G. R.; CASTRO NETO, M. D.; ALMEIDA, H. S. M.; RAMOS, L. N.; SARMENTO, R. A.; LIMA, S. O.; ERASMO, E. A. L. Effect of nitrogen doses on disease severity and watermelon yield. Horticultura brasileira, v. 27, n. 3, jul-set, 2009. SANTOS, G. R.; CASTRO NETO, M. D.; CARVALHO, A. R. S.; FIDELIS, R. R.; e AFFÉRRI, F. S.; Fontes e doses de silício na severidade do crestamento gomoso e produtividade da melancia. Bioscience Journal, Uberlândia, v. 26, n. 2, p. 266272, mar-apr, 2010. SANTOS, L. B. Caracterização agronômica e físico-química de famílias de melancia tipo Crimson Sweet selecionados para reação de resistência ao Papaya ringspot virus (PRSV-W). Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) – Universidade Federal do Tocantins, 2010. SANTOS, G. R.; ZAMBOLIN, L.; COSTA, H.; CAFÉ-FILHO, A. C. Doenças fúngicas, bacterianas e abióticas. In: SANTOS, G. R.; ZAMBOLIN, L. Tecnologias para produção sustentável da melancia no Brasil. 1 ed. Viçosa: UFV, 2011. 268 p. 52 SANTOS, G. R.; LEÃO, E. U. ; CASTRO, H. G.; NASCIMENTO, I. R.; SARMENTO, R. A.; e SARMENTO-BRUM, R. B. C. Crestamento gomoso do caule da melancia: Etiologia, epidemiologia e medidas de controle. Journal of Biotecnology Biodiversity, v. 2, n. 2, may, 2011a. SOUZA. F. F.; Cultivo da melancia em Rondônia. Embrapa Rondônia, Porto Velho: 2008. 103 p. SOUZA, C. R. Impacto de inseticidas sobre artrópodes do dossel e da superfície do solo na cultura da melancia. 66 f. 2010. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal). Universidade Federal do Tocantins, Gurupi, 2010. STURZA, V. S.; DORFEY C.; PONCIO, S.; DEQUECH, S. T. B. e BOLZAN A. First record of larvae of Allograpta exotica Wiedemann (Diptera, Syrphidae) preying on Aphis gossypii Glover (Hemiptera, Aphididae) in waterme lon in Brazil. Revista Brasileira de Entomologia, v. 55, n. 2, junho, 2011. TORRES, S. B. Germinação e desenvolvimento de plântulas de melancia em função da salinidade. Revista Brasileira de Sementes, v. 29, n. 3, p. 77-82, 2007. VARLEY, G.C.; GRADWELL, G.R. Key factors in population studies. Journal of Animal Ecology, v. 29, n. 2, p. 399-401, 1960. 53