Condição de maturação e armazenamento dos frutos e desenvolvimento in vitro de plântulas de macaúba Leonardo Monteiro Ribeiro1, Queila de Souza Garcia2, Silma da Conceição Neves3, Priscila Oliveira Silva4, Itainá Gonçalves Andrade5. Introdução A palmeira macaúba - Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex. Martius (Arecaceae) é, dentre as plantas tropicais, uma das maiores produtoras de óleo [1]. O crescente interesse pelos óleos vegetais, inclusive visando a produção de biocombustíveis tem fomentado estudos visando subsidiar a utilização sustentável da espécie [2]. O estabelecimento de plantios comerciais de macaúba é cerceado por dificuldades na propagação, uma vez que as sementes apresentam dormência que faz a germinação ocorrer lentamente e em baixos níveis [1,2,3]. O cultivo de embriões in vitro constitui uma alternativa para a superação da dormência além de favorecer o avanço dos conhecimentos acerca do processo germinativo e das demandas fisiológicas das plântulas [4]. Através do cultivo in vitro de embriões zigóticos de macaúba extraídos de frutos coletados no solo, Tabai [3] obteve plantas prontas a serem transferidas para o viveiro após 16 semanas da inoculação. Não são encontrados, no entanto, na literatura trabalhos sobre a influência das condições de maturação e armazenamento dos frutos e o desenvolvimento e ocorrência de oxidação em embriões de macaúba. A oxidação dos embriões é considerada um dos principais problemas relacionados ao cultivo de embriões de palmeiras [3,5]. Por outro lado, o estabelecimento e a superação da dormência são associados tanto ao processo de formação quanto a condição de armazenamento do fruto e da semente [6]. Estudos que favoreçam a otimização do processo de cultivo de embriões in vitro de A. aculeata poderão contribuir para o desenvolvimento da tecnologia de propagação da espécie em condições de laboratório e viveiro. Neste sentido, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o efeito da condição de maturação e armazenamento de frutos de macaúba sobre a ocorrência de oxidação, a germinação de embriões e o desenvolvimento de plântulas in vitro. Material e métodos Foram utilizados neste estudo frutos oriundos de população de A. aculeata existente no campus da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em Montes Claros-MG. Os frutos foram obtidos em diferentes condições: imaturos, coletados antes da dispersão e cujas sementes apresentavam teor médio de 62 % de umidade (FIM); maduros, coletados após queda natural e armazenados por 60 dias à sombra (FAS) e maduros ________________ 1. Professor do Departamento de Biologia Geral, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Estadual de Montes Claros. Bolsista PCRH/FAPEMIG. E-mail: [email protected] 2. Professora do Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected] 3. Aluna do curso de Ciências Biológicas, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, ICV/Universidade Estadual de Montes Claros. E-mail: [email protected] 4. Aluna do curso de Ciências Biológicas, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Estadual de Montes Claros. E-mail: [email protected] 5. Aluna do curso de Ciências Biológicas, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Estadual de Montes Claros. E-mail: [email protected] Apoio financeiro: FAPEMIG coletados após queda natural e armazenados por 60 dias em refrigerador à 9ºC (FAR). As sementes foram extraídas utilizando-se torno manual de bancada, sendo os embriões retirados e dispostos em solução antioxidante (100 ppm de ácido ascórbico). Após desinfestação em solução de 0,25% de Cl por 10 minutos, em condições assépticas e câmara de fluxo laminar, os embriões foram inoculados em tubos de ensaio, com dimensões de 12 x 1 cm, contendo 2 mL do meio: Sais MS; 0,4 mg/L de tiamina; 1mg/L de piridoxina; 0,5 mg/L de ácido nicotínico; 100 mg/L de mio-inositol; 0,5 g/L de caseína hidrolizada; 3g/L carvão ativado; 30 g/L de sacarose; 6 g/L de ágar; pH ajustado para 5,7. O experimento foi estabelecido em delineamento inteiramente casualizado, com 3 tratamentos (condições de maturação e armazenamento dos frutos) e 6 repetições de 10 tubos de ensaio com um embrião. Os embriões foram mantidos em germinador na ausência de luz e temperatura de 25ºC por 30 dias e após este período foram submetidos a luz com irradiância de 45 µmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 horas de luz por mais 15 dias. A metodologia utilizada foi adaptada de Tabai [2]. Aos 30 dias de cultivo foi realizada a avaliação da ocorrência de contaminação microbiana e oxidação. A contaminação microbiana foi avaliada visualmente utilizando-se a morfologia das colônias para a diferenciação entre a contaminação bacteriana e fúngica. A oxidação foi avaliada pela constatação do escurecimento de estruturas do embrião ou plântula. Aos 45 dias foi realizada avaliação dos parâmetros relacionados ao desenvolvimento das plântulas (alongamento do pecíolo cotiledonar; emissão de raízes primárias e secundárias; emissão da primeira e segunda bainha plumular e emissão do eófilo). Os dados foram tomados por contagem e transformados em percentuais, sendo estes transformados em arco seno da raiz quadrada de x/100 para comparações. A análise estatística foi realizada através de análise de variância e quando constatada diferença significativa entre os tratamentos pelo teste F, utilizou-se avaliação por contrastes ortogonais para comparações entre as médias. Resultados e Discussão A Tabela 1 apresenta os resultados das avaliações. Verificaram-se ausência de contaminação fúngica nos tratamentos FAS e FIM, ausência de contaminação bacteriana no tratamento FIM e baixo nível em FAS. As contaminações, tanto bacteriana quanto fúngica, foram expressivas nos embriões e plântulas oriundos de FAR e significativamente superiores em relação às proporcionadas por FAS e FIM. A alta contaminação comprometeu o resultado da avaliação dos outros parâmetros e foi determinante para o pior desempenho do tratamento FAR, que proporcionou médias significativamente inferiores aos demais tratamentos. Melo [5] constatou que o nível de contaminação fúngica foi fundamental para o resultado da cultura in vitro de embriões de guariroba (Syagrus oleraceae (Mart.) Becc.). O autor relata percentual de 98,80% de contaminação em embriões obtidos de frutos maduros, mesmo com desinfestação com solução de 2% de Cl, sendo neste caso, a utilização de fungicidas imprescindível. No presente trabalho ficou evidenciado que a condição de armazenamento em refrigerador foi favorável ao desenvolvimento de microrganismos contaminantes e que a desinfestação com 0,25% de Cl não foi eficiente no seu controle. O nível de oxidação não variou estatisticamente entre plântulas e embriões dos tratamentos FAS e FIM. Tabai [3] considera que a oxidação é um dos principais problemas da cultura de embriões de macaúba e que a adição de carvão ativado é fundamental na prevenção do problema. No presente trabalho, considerou-se como oxidação todo escurecimento observado nos tecidos. Constatou-se que o uso de carvão ativado na concentração de 3 g/L não foi eficiente para a eliminação da oxidação. Todavia, evidenciou-se que, a oxidação concentrou-se na região do haustório e aparentemente não comprometeu de forma absoluta o desenvolvimento das plântulas, uma vez que plântulas apresentando o haustório oxidado desenvolveram raízes secundárias e eófilo. Estudos futuros poderão avaliar quantitativamente o efeito da oxidação no desenvolvimento de plântulas e testar outros agentes antioxidantes. O tratamento FIM proporcionou maiores percentuais de alongamento, emissão de raízes primárias e secundárias, emissão da primeira e segunda bainha plumular e eófilo. Não foi constatada, no entanto, diferença significativa entre os tratamentos FIM e FAS. Tabai [3], em trabalho objetivando a obtenção de calos a partir de embriões de macaúba maduros e imaturos, relata que, apesar de não ter procedido avaliação quantitativa, embriões oriundos de frutos imaturos mostraram maior propensão à germinação e ao desenvolvimento. No presente trabalho esta tendência não foi evidenciada na germinação (considerando-se como germinação o alongamento do embrião e a emissão de raízes primárias e ou da primeira bainha plumular), uma vez que os tratamentos FAS e FIM proporcionaram resultados próximos e não diferiram estatisticamente. Em relação ao desenvolvimento, verificou-se que, além do percentual de plântulas que emitiram raízes secundárias e eófilo terem sido maiores no tratamento FIM, as estruturas apresentaram visualmente maior crescimento. Pôde-se evidenciar no presente trabalho a precocidade do desenvolvimento in vitro de plântulas de macaúba em relação a outras palmeiras. Melo [5] não obteve enraizamento em plântulas de guariroba após 110 dias de cultivo. Silva [8] obteve plântulas de coqueiro (Cocos nucifera L.) com emissão de eófilo aos 90 dias de cultivo sendo que as mesmas se apresentaram em condições de transplante aos 120 dias. A partir dos resultados obtidos é possível concluir que o armazenamento em refrigerador proporcionou maior contaminação microbiana e em conseqüência piores resultados em relação à germinação e desenvolvimento de plântulas. Frutos imaturos e frutos armazenados à sombra proporcionaram mesmo nível de oxidação, alongamento e desenvolvimento inicial das plântulas. [2] [3] [4] [5] [6] Agradecimentos À FAPEMIG pela concessão de Bolsa PCRH. [7] Referências [1] SILVA, J. de C. 1994. Macaúba: fonte de matéria-prima para os setores alimentício, energético e industrial. Viçosa: CEDAF/DEF/UFV Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa p. 41. [8] LORENZI, G. M. A. C. 2006. Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. – Arecaceae: bases para o extrativismo sustentável. Curitiba, PR: Universidade Federal do Paraná. 154f. Tese (Doutorado em Ciências) – Universidade Federal do Paraná. TABAI, S. A. 1992. Propagação da palmeira macaúba Acrocomia aculeata (Jacq.) Loddiges através de métodos in vitro. Piracicaba, SP: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. 121f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade de São Paulo. HU, C.Y.; FERREIRA, A. G. 1998. Cultura de embriões. In: TORRES, A. C.; CALDAS, L.S.; BUSO, J. A. Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: Embrapa-SPI/EmbrapaCNPH, v. 1. p. 371-393. MELO, B. 2000. Cultivo de embrião in vitro da guarirobeira [Syagrus oleraceae (Mart.) Becc.]. Lavras, MG: Universidade Federal de Lavras. 117p. Tese (Doutorado em Agronomia) – Universidade Federal de Lavras. HARTMANN, H.T; KESTER, D.E.; DAVIES JR., F.T.; GENEVE, R.L. 1997. Plant propagation, principles and practices. 6.ed. New Jersey: Prentice-Hall. p. 177-216. SILVA, V.S. Regeneração in vitro de embriões de Cocos nucifera L. 2002. Piracicaba, SP. Scola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. 78p. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade de São Paulo. LEDO, A. da S.; LAMEIRA, O. A.; BENBADIS, A. K.; MENEZES, I. C.; LEDO, C. A. da S.; OLIVEIRA, M. do S. P. de. 2001. Cultura in vitro de embriões zigóticos de açaizeiro. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 23, n. 3, p 13-22. Tabela 1. Parâmetros avaliativos da contaminação microbiana, oxidação e desenvolvimento in vitro de embriões e plântulas de macaúba em função da condição de maturação e armazenamento dos frutos, expressos em percentuais. Contaminação Condição dos Frutos Imaturos (FIM) Armazenados à sombra (FAS) Armazenados em refrigerador (FAR) Bacteriana Fúngica 0b 2,67 b 0b 0b 51,6 a 78,33 a Oxidação 46,67 a 38,33 a 13,33 b Alongamento Primeira Segunda Raiz Raiz do Pecíolo Bainha Bainha Primária Secundária Plumular Plumular Cotiledonar 86,67 a 81,67 a 11,67 b 61,67 a 55,00 a 6,67 b 21,67 a 13,33 a 0b 70,00 a 55,00 a 8,33 b 50,00 a 48,33 a 6,67 b Eófilo 25,00 a 18,33 a 0b Média 33,33 17,22 32,78 60,00 41,11 11,67 44,44 35,00 14,44 Coeficiente de variação 32,95 16,35 24,56 25,32 33,13 91,12 33,29 33,01 69,39 Letras iguais na mesma coluna representam ausência de diferença significativa entre as médias constatada por análise por contrastes ortogonais à nível de 5% de probabilidade.