IX ENCONTRO NACIONAL DA ECOECO
Outubro de 2011
Brasília - DF - Brasil
ANÁLISE SOBRE A EVOLUÇÃO DA BIOELETRCIDADE POR MEIO DA BIOMASSA DA
CANA-DE-AÇÚCAR E O COMPORTAMENTO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO EM RELAÇÃO A
INVESTIMENTOS NO SETOR DE COGERAÇÃO DE ENERGIA
RAFAEL LAVRADOR SANT ANNA (UNB) - [email protected]
ECONOMISTA, MESTRANDO EM AGRONEGÓCIOS (PROPAGA-UNB)
Título: Análise sobre a evolução da bioeletrcidade por meio da biomassa da
cana-de-açúcar e o comportamento do setor sucroalcooleiro em relação a
investimentos no setor de cogeração de energia
Eixo Temático: A Economia Verde e as Inovações Tecnológicas Ambientais
RESUMO
A preocupação com o meio ambiente tem destaque freqüente e intenso em todos
os meios de comunicação nos últimos tempos, principalmente devido ao
aquecimento global. Para que ocorra uma diminuição do aquecimento global, se
faz necessário novas formas de energia. O presente estudo aborda estas questões
ao mencionar a produção de energia elétrica por meio da biomassa da cana-deaçúcar e de seus benefícios ao meio ambiente. O principal objetivo do estudo é
analisar a evolução da geração de energia elétrica através da biomassa da cana-deaçúcar e sua importância ambiental e econômica. A abordagem metodológica do
estudo constitui-se de pesquisas bibliográficas, bem como pesquisa de campo.
Foram realizadas visitas a várias usinas no noroeste do estado de São Paulo. A
partir dos dados obtidos e de conversas informais com especialistas da área
realizou-se um estudo de caso. A partir deste, concluiu-se que a produção de
bioeletricidade por meio da biomassa da cana-de-açúcar vem aumentando muito
nos últimos anos apresentando um retorno muito satisfatório para os empresários.
Palavras-chave: Bioeletricidade, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL), Cogeração, PROINFA, Cana-de-açúcar.
ABSTRACT
Concern for the environment has highlighted frequent and intense in all the media
in recent times, mainly due to global warming. In order to have a reduction of
global warming, it is necessary new forms of energy. This study addresses these
questions by referring to the production of electricity through biomass of cane
sugar and its benefits to the environment. The main objective of the study is to
analyze the evolution of electricity generation through biomass of cane sugar and
their economic and environmental importance. The methodological approach of
the study consisted of literature searches and field research. Visits were made to
various plants in the northwestern state of São Paulo. From the data obtained and
informal conversations with experts in the field there was a case study. From this
it was concluded that the production of bioelectricity through the biomass of cane
sugar has been increasing in recent years showing a very satisfactory return for the
business.
KEYWORDS: Bioelectricity, Clear
Cogeneration, PROINFA, Cane sugar.
Development
Mechanism
(CDM),
Introdução
Diante de uma conjuntura mundial de crise energética, que
provavelmente manter-se-á por um bom tempo, o aprimoramento da eficiência
energética e uma ampliação na participação de fontes renováveis de energia na
matriz energética são condições essenciais para assegurar o suprimento energético
com sustentabilidade ambiental.
Nesse sentido, a possibilidade de maximizar
a geração de energia através da biomassa da cana-de-açúcar torna-se uma
oportunidade indiscutível de expansão do setor sucroalcooleiro. Levando em
conta a atual estrutura do setor elétrico brasileiro e as perspectivas de ampliação
da produção sucroalcooleira, em especial com o etanol como um bem substituto
ao petróleo, pode-se construir um cenário extremamente favorável à produção e
comercialização de energia elétrica em larga escala. (CASTRO; DANTAS;
LEITE; BRANDÃO, 2008).
“A energia da cana-de-açúcar vem aumentando e
ganhando relevância na matriz energética brasileira desde
a década de 1970 devido à utilização de etanol como
combustível em veículos leves. Esta foi uma resposta
brasileira à crise do petróleo deflagrada em fins de 1973.
No entanto, a energia contida na cana-de-açúcar é muito
superior àquela que vem sendo produzida e
comercializada.”
(CASTRO;
DANTAS;
LEITE;
BRANDÃO, 2008, p.7).
Além da importância na fabricação de etanol, a cana-deaçúcar passa a se destacar na condição de importante fonte energética, pelo grande
potencial de produção de energia elétrica a partir do aproveitamento de sua
biomassa. A bioenergia assume hoje um papel relevante na composição da matriz
energética brasileira e a biomassa do setor sucroalcooleiro tem grande
contribuição a oferecer.
Assim, faz-se necessário entender como o setor sucroalcooleiro
está se comportando diante dessa oportunidade. Para isso, este estudo tem como
pressuposto responder ao seguinte questionamento: qual é o comportamento do
setor sucroalcooleiro em relação a investimentos no setor de cogeração de energia.
Sabendo da importância estratégica de novas formas de energia
e da relevância nas políticas nacionais, o estudo tem como objetivo geral analisar
a evolução da geração de energia elétrica através da biomassa da cana-de-açúcar,
onde o foco será analisar como os dois principais fundamentos do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL), econômico e ambiental, estão relacionados com
a produção sustentável e ampliação da competitividade ao setor sucroalcooleiro.
O estudo pretende abordar algumas questões importantes,
como: analisar a tendência crescente de mercado para o comércio de energia
elétrica através das usinas termoelétricas de biomassa de cana-de-açúcar; verificar
a importância estratégica para a competitividade no setor sucroalcooleiro, através
do mercado de bioeletricidade e créditos de carbono; verificar se a bioeletricidade
pode trazer taxas de retornos consideráveis, fazendo que com que investimentos
no setor se tornem cada vez mais atraentes; analisar a importância de políticas
públicas para ampliar um setor estratégico, o da energia elétrica, verificando se a
bioeletricidade através da cana-de-açúcar tem um grande potencial para suprir a
constante necessidade de novas fontes de energia.
Essa oportunidade de crescimento da competitividade e
exploração de um novo mercado ao setor sucroalcooleiro é apoiada por programas
do governo federal, como o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de
Energia Elétrica (PROINFA). O PROINFA é um importante instrumento para a
diversificação da matriz energética nacional, garantindo maior confiabilidade e
segurança ao abastecimento. (MME, 2010).
O estudo tem como pressuposto primordial ampliar, de modo
mais intrínseco, o conhecimento no que diz respeito a essa nova oportunidade de
negócio ao setor sucroalcooleiro, a bioeletricidade gerada pela biomassa da canade-açúcar.
Metodologia
O estudo foi construído apoiado em pesquisas bibliográficas,
com consultas a livros utilizados na formação acadêmica, artigos publicados em
revistas especializadas que trabalham o tema abordado, e principalmente o uso
dos sites do governo e da UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar).
Também foi realizada uma análise da tese de mestrado elaborada por Luiz
Augusto Meneguello (MENEGUELLO, 2006).
Além disso, foi realizada uma pesquisa de campo, que
compreendeu visitas a dez usinas no noroeste do estado de São Paulo, porém
devido à falta de disponibilidade dos responsáveis em algumas unidades, só foi
possível realizar-se estudo de caso em apenas duas unidades. Desta forma foram
efetuados dois estudos de casos. O primeiro na Usina Vale do Rosário, onde
foram obtidos dados para a realização do cálculo da Taxa Interna de Retorno
(TIR). O segundo foi uma vista na Usina Colombo, onde acompanhado de um
engenheiro foi possível acompanhar todos os processos de produção, desde a
entrada da cana na usina, até a chegada da energia na subestação.
Bioeletricidade: importância do processo de cogeração de energia através da
cana-de-açúcar
Acerca do setor sucroalcooleiro, os autores Rodrigo Marcelo
Leme, Kamyla Borges da Cunha e Arnaldo Walter discutem que:
“O setor sucroalcooleiro é dos mais importantes na
economia brasileira. Há, atualmente, cerca de 300 usinas e
destilarias operando ao redor do país, principalmente nas
Regiões Sudeste e Nordeste. O Estado de São Paulo
destaca-se no número de usinas e destilarias, produção de
açúcar e álcool, e na cogeração de eletricidade. Cerca de
metade das usinas e destilarias do país localizam-se nesse
Estado.” (LEME; CUNHA; WALTER, 2009, p.2).
Praticamente em quase todas as usinas e destilarias do Brasil, é
realizado cogeração de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar em suas
instalações durante o período da safra. Mesmo com a auto-suficiência em energia
elétrica, a geração de excedentes é ainda bastante limitada. A principal razão é que
não houve intenção de produção de excedentes quando da instalação das usinas e
destilarias. A grande maioria delas possui instalações relativamente antigas que
operam aquém do potencial técnico existente, considerando-se a quantidade de
biomassa residual gerada e as novas tecnologias disponíveis. O interesse na
produção de eletricidade excedente teve início em meados da década de 1980,
estando concentrado atualmente no Estado de São Paulo, onde seguramente a
maior parte dele é produzido. (LEME; CUNHA; WALTER, 2009).
Os projetos de geração de eletricidade a partir da queima do
bagaço de cana-de-açúcar representam um diferencial para o desenvolvimento
sustentável no País. Segundo avaliação do Instituto Brasil Acende, os canaviais
brasileiros existentes poderiam gerar energia equivalente a cerca de 14.000 MW.
É uma capacidade semelhante à da usina hidrelétrica de Itaipu à disposição dos
agentes privados, esperando para ser desenvolvida. (UNICA, 2010).
Segundo Castro e Dantas (2008), a bioeletricidade é uma
energia renovável produzida através do eficiente processo de cogeração e gerada
próximo ao centro de carga, o que é compatível com a segurança energética ao
reduzir as perdas na geração e na rede, e com a sustentabilidade ambiental por ser
produzida a partir de um recurso renovável e com elevada eficiência. Além disso,
por ser fonte de geração distribuída, a bioleletricidade também reduz os impactos
ambientais, ainda que pequenos, oriundos da expansão da rede de transmissão.
(CASTRO; DANTAS; LEITE; BRANDÃO, 2008).
Cabe lembrar, que a bioeletricidade sucroalcooleira tem um
diferencial importante em relação às demais fontes renováveis de energia, pois ela
utiliza como combustível um resíduo da produção de álcool e açúcar.
“A energia da cana tem relevante participação na matriz
energética brasileira devido ao consumo do álcool
combustível em larga escala desde o fim dos nãos 70.
Contudo, o potencial energético da cana é muito superior a
energia contida no álcool combustível. Uma tonelada de
cana-de-açúcar contém energia primária equivalente à
energia presente em 1,2 barris de petróleo. Desde
potencial energético, a sacarose a partir da qual se produz
o álcool possui apenas 1/3 da energia da cana, os outros
2/3 estão contidos no bagaço e na palha. Logo, nota-se o
potencial para a geração de bioeletricidade a partir da
biomassa da cana-de-açúcar.” (CASTRO; DANTAS;
LEITE; BRANDÃO, 2008, p.50).
Ainda tímida diante do potencial, a cogeração seguramente vai
crescer exponencialmente e se consolidar como fonte importante de energia.
Atualmente, a participação da bioeletricidade na matriz energética brasileira é de
3%, o que equivale a aproximadamente 1.400 MW médios. Em 2020, serão
14.400 MW. Segundo dados da Associação Paulista de Cogeração de Energia
(Cogen-SP), o setor sucroalcooleiro deverá investir R$ 45 bilhões até 2015 em
projetos de cogeração. (UNICA, 2010).
Quanto maior o incentivo à produção de etanol e açúcar, maior o
potencial de energia elétrica gerada a partir da queima do bagaço. Somente entre
2005 e 2007, a energia elétrica gerada a partir da biomassa no Brasil cresceu
aproximadamente 20%. (UNICA, 2010).
A safra de cana-de-açúcar cresce consideravelmente a cada ano,
devendo chegar à impressionante marca de 730 milhões de toneladas em 2010,
segundo estimativas recentes. A cogeração pode ser um dos grandes pilares do
setor elétrico brasileiro. Sendo assim, o desenvolvimento da cogeração no país
terá o efeito benéfico de alavancar a indústria brasileira de equipamentos, pois as
usinas de cogeração usam tecnologia 100% nacional. Desde as caldeiras, turbinas,
o projeto de engenharia utilizado, o insumo (cana-de-açúcar), todos os
componentes são brasileiros. (UNICA, 2010).
Com
essa expansão
da tecnologia
nacional,
o
Brasil
transformou-se no maior especialista de geração de energia elétrica por meio da
biomassa. Equipar usinas de açúcar e álcool para gerar energia a partir da queima
do bagaço de cana no futuro será um fator preponderante de geração de empregos
e renda, aumentando a ocupação da capacidade industrial brasileira. (UNICA,
2010).
A cogeração também cria uma oportunidade para a venda de
créditos de carbono. O conselho da Organização das Nações Unidas (ONU) que
avaliza mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) aprovou mais de 140
projetos brasileiros de geração de energia, aproximadamente a metade deles de
cogeração. (BATISTA, 2007).
Além disso, pode-se destacar que há uma complementaridade
única entre a energia elétrica gerada a partir de hidrelétricas e a partir do bagaço
de cana. O regime de chuvas nas regiões Sul e Sudeste concentra a maior
freqüência de precipitações de novembro a abril. Nos demais meses, os
reservatórios das hidrelétricas ficam reduzidos e diminuem a produção de
eletricidade, algumas vezes a níveis preocupantes, obrigando o acionamento de
usinas termelétricas movidas a gás natural. Na cultura de cana-de-açúcar, por sua
vez, a safra se desenvolve predominantemente entre abril e novembro, ou seja,
teríamos uma carga adicional de energia gerada a partir do bagaço justamente
quando o regime de chuvas nos principais centros consumidores é menor,
mostrando a importância estratégica do investimento na bioeletricidade através da
queima do bagaço da cana-de-açúcar, e a justificativa de políticas públicas para
incentivar o setor. (UNICA, 2010).
“Além da complementaridade à geração hídrica, a
bioeletricidade apresenta externalidades positivas no
âmbito ambiental. Entretanto, tem se verificado uma
considerável inércia por partes dos agentes que investem
nesta atividade econômica. As causas desta inércia estão
associadas ao fato de que a comercialização de energia
elétrica não é o core business dos agentes do setor
sucroalcooleiro. Na produção de álcool e açúcar eles
operam com altas taxas de retorno, bem superiores às
taxas de retornos verificadas no setor elétrico. Desta
forma, é necessária a implementação por parte do Estado
de políticas e instrumentos promotores da inserção da
bioeletricidade sucroalcooleira. (CASTRO; DANTAS;
LEITE; BRANDÃO, 2008, p.9).
ESTUDOS DE CASO: Usina Vale do Rosário e Usina Colombo
Para explicar melhor o estudo de caso, algumas definições de
análise econômica precisam ser explicadas, entre elas está a TIR.
A Taxa Interna de Retorno (TIR) é definida como a taxa de
desconto que iguala a zero o Valor Presente Líquido (VPL) dos fluxos de caixa do
projeto. A TIR é calculada para determinar se a rentabilidade do projeto excede
uma mínima taxa de retorno aceitável, freqüentemente chamada de taxa de
atratividade. A vantagem da TIR é que, diferentemente do VPL, seus resultados
de porcentagem permitem comparar projetos de tamanhos diferentes com
facilidade. (ASSAF, 2000).
Usina Vale do Rosário
A Santelisa Vale S/A é uma das maiores produtoras de açúcar e
etanol do mundo, além de ser pioneira na cogeração de energia elétrica, a partir do
bagaço de cana. Com mais de 70 anos de credibilidade, seu foco de negócios visa
a liderança na oferta de soluções em energia limpa e renovável. Baseada em um
forte conceito de governança corporativa e referência em tecnologia, a companhia
tem em sua composição societária as famílias Biagi e Junqueira, os investidores
Goldman Sachs e BNDESPAR, além de demais acionistas.
Suas unidades localizadas no estado de São Paulo processam 18
milhões de toneladas de cana por ano, atingindo uma produção de 800 milhões de
litros de etanol e 25 milhões de sacas de açúcar de 50 kg, comercializados por
meio de sua trading company.
Já a cogeração de energia elétrica vinda da biomassa, além de
manter a auto-suficiência dos complexos industriais, proporciona um excedente
exportado de 400 mil Mwh, suficiente para atender uma cidade com mais de 1
milhão de habitantes. Em ritmo de crescimento sustentável, a Santelisa Vale
também tem firmado importantes parcerias na busca da diversificação de seus
negócios, da ampliação de seu portfólio e do fortalecimento de mercado.
Na safra 2008/2009 a Usina Vale do Rosário, que pertence ao
grupo Santaelisa Vale S/A produziu 5.992.940 toneladas de cana-de-açúcar,
359728 toneladas de açúcar, 245.257 mil litros de álcool, e com esses dados se
tornou a 5ª maior usina em produção de cana-de-açúcar do Brasil.
Os dados disponibilizados são da Usina Vale do Rosário, que
localiza-se na cidade de Morro Agudo – SP, os dados concedidos pela empresa
são referentes a safra do ano de 2004, lembrando que a safra foi de Abril a
Novembro e teve aproximadamente 230 dias. Abaixo na Tabela 1 podemos
visualizá-los.
TABELA 1 - Safra média ano de 2004
Produto
Cana de Acúcar
Açúcar
Álcool
Bagaço
Energia
Quantidade
5.280.000 ton
400.000 ton
197.000 m³
1.375.000 ton
230.000 MWh
Fonte: SANTAELISAVALE, 2008, p.5.
O processo de expansão da parte energética da Usina Vale do
Rosário pode ser dividido em quatro fases, e começou em 1994 que devido a
grande sobra de bagaço e baixo preço de venda para esse bagaço, e um interesse
da concessionária CPFL, surgiu uma nova opção comercial para a sobra de
bagaço.
A primeira fase começou com a implementação de turbina de
contra-pressão e 21 bar e com temperatura de 280°. Além disso ocorreu a troca
gradual das turbinas a vapor de simples-estágio da Casa de Força de 60% de
eficiência térmica, por turbinas múltiplo-estágio de alta eficiência (82,5%) e baixo
consumo específico; maior conscientização e desenvolvimento operacional; busca
por melhores tarifas e contratos de longo prazo; contrato de 10 anos com a CPFL
para a venda de 4MW.
A segunda fase que ocorreu de 1995 a 1997, ficou marcada com
a aquisição de duas caldeiras de contrapressão de 44bar e com temperatura de
430°; aquisição de um turbo - gerador de 12MW; construção de Subestação de
138KV e 16 Km de linha de transmissão até a cidade de Orlândia; contrato de 10
anos com a CPFL para a venda de 15 MW.
Na terceira fase que foi 1998 a 2001, foi adquirido um turbogerador-condensador de 15MW; ocorreu a substituição de 2 geradores de 4MW
por 2 de 6MW; aumento da potência da Subestação de 21 MVA para 42 MVA;
contrato de 10 anos com a CPFL para uma venda total de 30MW.
Na última fase, que foi de 2001 a 2005, aconteceu a aquisição de
dois turbo-extração-condensação de 25MW; aquisição de uma caldeira de 200
tv/h de 65 bar e 515° de temperatura; aumento da potência da Subestação de
138KV de 42 MVA para 84 MVA.Nas tabelas abaixo nota-se a evolução dos
investimentos dessa companhia, a sua TIR, os investimentos e alguns custos.
TABELA 2 - Custo Médio do KW Instalado
Fase
1
Tipo
Contra - Pressão
(21 Kgf/cm²)
Contra - Pressão
1+2
(44 Kgf/cm²)
1+2+3
Contra - Pressão, Condensação
(44 Kgf/cm²)
Extra Condensação
1+2+3+4
(67 Kgf/cm²)
Fonte: SANTAELISAVALE, 2009, p. 9
Potência
Vendida
(KW)
Índice
Investimento
Indicador
(KWh/tc)
(R$)
(R$/KW)
4000
5,7
2000000
500
16500
18,3
138000000
836
30000
33,2
22400000
747
65000
60,2
64000000
990
TABELA 3 Cálculo da Taxa Líquida de Retorno para 1KW instalado e 5200
horas de venda
Fases
1
1+2
1+2+3
1+2+3+4
Custo Médio
(R$/MWh)
9,65
8,5
21,05
25,85
Tarifa
(R$/MWh)
55
55
67
92
Retorno de 1KW
(R$/KW)
235,8
241,8
239
344
Investimento de 1 KW
(R$/KW)
500
836
747
990
TIR (%)
47
29
32
35
Fonte: SANTAELISAVALE, 2009, p. 10
Após realização do cálculo do custo médio de cada MWh, da
TIR por hora, pode-se dizer que apesar do custo médio ter aumentado nas duas
últimas fases de investimentos da empresa, o retorno para cada 1 kw continua
sendo atrativo. A TIR nos garante isso, pois nas duas ultimas fases obtêm-se uma
TIR de 32% e 35% respectivamente, o que mostra um retorno aceitável.
Usina Colombo
A Usina Colombo se localiza no município de Ariranha-SP na
fazenda Bela Vista. O Grupo Colombo investe na qualidade dos seus produtos
com padrão internacional do sistema de qualidade em conformidade com os
requisitos da norma NBR ISO 9001 e mantém um sistema de gestão ambiental
certificado pelo NBR ISO 14000.
O Grupo Colombo possui três unidades para moagem da cana,
uma em Ariranha-SP, outra em Palestina-SP, e a última em Santa Albertina-SP.
A única das três usinas do grupo que fornece energia para a rede nacional de
energia é a situada na fazenda Bela Vista, em Ariranha-SP. A unidade de Ariranha
possui três geradores, um de 21bar, outro de 44bar e o último de 65bar.
A visita realizada a esta usina foi no mês de julho de 2009, na
unidade localizada em Ariranha, onde a visita foi acompanhada de um dos
engenheiros responsáveis pela parte elétrica da usina, o engenheiro Paulo
Novellini. Através do seu acompanhamento, foi possível visualizar como ocorre
todo o processo de produção de energia dentro da usina, visitar os geradores e os
painéis de controle de energia de todos os setores da usina.
A Usina possui um contrato com a CPFL para a venda de
energia. Essa parceria começou no ano de 2001, onde devido ao problema de crise
energética no Brasil, a usina decidiu investir nesse novo mercado, e através da
parceria foi construída uma subestação de energia na Usina Colombo.
O contrato de fornecimento para a CPFL de 20 MW, o que no
final do mês aproximadamente nos dá uma geração de 14400 MWh. Caso a Usina
não forneça essa quantia de energia no mês, são obrigados a pagar uma multa pelo
não cumprimento do contrato, mas caso essa geração for a mais, a CPFL compra
essa quantia por uma preço pré-acordado no contrato.
Por motivos de política interna, a Usina não pode disponibilizar
os dados de seu faturamento com a venda de energia, porém foi possível a
visualização de futuros investimentos da Usina para o setor de produção de
energia elétrica. Até 2012 a Usina pretende ficar com os mesmo três geradores, só
que mais potentes, agora com um de 44bar, e os outros dois geradores serão de
65bar, o que vai possibilitar um melhor aproveitamento da capacidade instalada e
do bagaço produzido pela usina, pois quanto maior a pressão nas caldeiras, maior
a eficiência.
Análise da Pesquisa de Meneguello
Os dados analisados a seguir são provenientes da pesquisa de
campo realizada por Luiz Augusto Meneguello (MENEGUELLO, 2006) em sua
apresentação para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional e
Meio Ambiente apresentado ao Centro Universitário de Araraquara.
A seleção das empresas foi de modo aleatório e estas foram
contatadas por telefone para obtenção da concordância em participarem da
pesquisa. Depois de aceitarem o convite para a participação e tendo obtido o
acesso aos profissionais determinados pelas empresas o formulário foi enviado
por correio eletrônico.
Os profissionais que responderam à pesquisa foram diretores,
gerentes e supervisores da área industrial. Apenas numa usina foi feita entrevista
pessoalmente com um de seus proprietários. Para todos os consultados foi
assegurado o sigilo com relação à identificação das empresas e dos informantes,
garantindo que as informações recebidas seriam utilizadas apenas com a
finalidade acadêmica. (MENEGUELLO, 2006).
A seguir é possível verificar como se desenvolve atualmente a
atividade de geração de energia elétrica nas usinas pesquisadas. Na Tabela 4, além
das informações sobre a comercialização da energia elétrica, apresenta-se também
a opinião das empresas com relação a esta atividade e a relação das empresascliente na venda de energia elétrica. (MENEGUELLO, 2006).
TABELA 4 Comercialização de energia elétrica pelas usinas pesquisadas
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 6
A comercialização de energia elétrica já é realizada atualmente
por aproximadamente 41 % das usinas pesquisadas. Porém, a grande maioria (73
%) afirmou que a atividade é considerada como uma oportunidade de novos
negócios para a empresa sendo que as demais encaram esta produção apenas
como redução de seus custos. As figuras 2 e 3 mostram a posição das usinas
pesquisadas quanto a estas questões. (MENEGUELLO, 2006).
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 69
FIGURA 2 Porcentagem das usinas pesquisadas que comercializam energia
elétrica excedente
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 70
FIGURA 3 Opinião das usinas pesquisadas com relação à comercialização
de energia elétrica.
Analisando-se os clientes da venda de energia elétrica
comercializada pelas usinas pesquisadas, pode-se afirmar que apenas duas usinas
dentre as pesquisadas não vendem a energia elétrica para a concessionária local,
porém, vendem para a ELETROBRÁS, sendo estas as únicas usinas pesquisadas
que fazem parte do PROINFA. A Figura 4 apresenta a divisão das empresascliente entre as usinas pesquisadas. (MENEGUELLO, 2006).
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 71
FIGURA 4 Empresas-cliente na venda de energia elétrica entre as usinas
pesquisadas.
Segundo Meneguello:
A venda realizada apenas para as concessionárias locais e
para a ELETROBRÁS demonstra que o fornecimento de
energia elétrica diretamente aos consumidores finais,
como previsto no “Novo Modelo do Setor Elétrico”,
instituído pelo Ministério das Minas e Energia no ano de
2003, na prática, ainda não se concretizou entre as usinas
pesquisadas, pois a maioria está comercializando energia
elétrica apenas em âmbito local. Este fato provavelmente
está relacionado com o pequeno período em que esta
atividade esta regulamentada. Acredita-se que no futuro as
vantagens oferecidas por este novo modelo serão melhor
aproveitadas pelos produtores. (MENEGUELLO, 2006, p.
71)
Com a possibilidade do mercado brasileiro de energia elétrica,
as tendências apresentadas pelos produtores do setor sucroalcooleiro para esta
atividade representam um dado importante para o planejamento da matriz
energética brasileira.
O interesse pela produção comercial de energia elétrica foi
confirmado por 68% das usinas pesquisadas, e metade destas já comercializa sua
produção excedente. A possibilidade de novas receitas é apontada como o
principal motivo para este interesse. Dentre os 27 % que afirmaram não ter
interesse pela produção comercial de energia elétrica, metade apontou o alto
investimento necessário como o motivo para sua falta de interesse, a outra metade
afirmou não ter o interesse pela geração comercial de energia elétrica, pois
preferem manter o foco da empresa na produção de açúcar e álcool. Apenas 5 %
das usinas não responderam a esta questão. (MENEGUELLO, 2006).
Na Figura 5 estão indicadas as porcentagens de interesse das
usinas pesquisadas pela produção comercial de energia elétrica.
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 73
FIGURA 5 Porcentagem das usinas pesquisadas que têm interesse pela
produção comercial de energia elétrica.
Apesar de 68 % das usinas afirmarem ter interesse pela
produção comercial de energia elétrica, uma porcentagem menor (59 %) tem
intenção de fazer investimentos imediatos no aumento de sua capacidade de
geração. Destaca-se que dentre as usinas que já comercializam energia elétrica, 78
% têm interesse em aumentar sua produção, evidenciando que estas empresas
constataram ser esta uma atividade rentável para elas.
As Figuras 6 e 7 apresentam as opiniões dos produtores quanto
a essas questões.
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 74.
FIGURA 6 - Intenção das usinas pesquisadas em fazer investimentos
imediatos para aumento da capacidade de geração de energia
elétrica
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 75
FIGURA 7 - Motivação das usinas pesquisadas para o aumento imediato na
capacidade de geração de energia elétrica
A elevada porcentagem, dentre as usinas pesquisadas, dispostas
a fazer investimentos imediatos no aumento de sua capacidade de geração de
energia elétrica demonstra que uma parte dos empresários do setor tem uma visão
mais moderna de seus negócios e pretende diversificá-los aproveitando as
oportunidades oferecidas pelo mercado de energia elétrica. O fato destas mesmas
empresas não terem aderido de forma mais intensa ao PROINFA demonstra que
os empresários estão fazendo uma aposta de que conseguirão, no mercado, preços
melhores do que os oferecidos pelo programa do governo. (MENEGUELLO,
2006).
O interesse das usinas pesquisadas em participar do PROINFA
foi muito baixo, apenas duas usinas participam do programa. Duas outras usinas,
que atualmente já comercializam energia elétrica, disseram que o motivo pela sua
falta de interesse na participação foi o preço oferecido pela ELETROBRÁS para a
energia elétrica produzida, considerado muito baixo por estas usinas. Por outro
lado, o interesse demonstrado pelas usinas em participar do mercado de créditos
de carbono estabelecido pelo Protocolo de Quioto é mais acentuado. Dentre as
usinas pesquisadas 45 % já possuem projeto e estão participando deste mercado,
em geral são as maiores usinas entre as pesquisadas. Dentre as usinas que ainda
não participam, 50 % delas pretendem desenvolver, no futuro, um projeto para
participação. A Tabela 12 e as Figuras 11 e 12 mostram estes dados.
(MENEGUELLO, 2006).
TABELA 6 - Interesse das usinas pesquisadas pela participação no
PROINFA e no mercado de créditos de carbono
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 76
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 77
FIGURA 8 - Participação das usinas pesquisadas no mercado de créditos de
carbono
Fonte: MENEGUELLO, 2006, p. 78
FIGURA 9 - Intenção de participar no mercado de créditos de carbono, entre
as usinas pesquisadas que ainda não participam
A possibilidade de participar no mercado de créditos de carbono
apresenta-se como mais um atrativo para as usinas de açúcar e álcool investirem
na geração bioeletricidade, pois se torna mais uma fonte de renda que auxilia a
empresa a viabilizar seus investimentos.
Observando a Tabela 6 pode-se notar que dentre as usinas
pesquisadas, as duas que participam do PROINFA também participam do
mercado de créditos de carbono, mostrando que estas usinas aproveitaram as
recentes oportunidades surgidas no mercado para viabilizar a atividade de geração
de energia elétrica. Também podemos observar que as maiores usinas, em termos
de produção de cana-de-açúcar moída, são aquelas que têm interesse neste
mercado, já possuindo projeto de participação ou planejando elaborá-lo no futuro.
(MENEGUELLO, 2006).
Conclui-se que o mercado de créditos de carbono está sendo
encarado como mais uma oportunidade de mercado, e um fator que vem
incentivar os investimentos das usinas do setor sucroalcooleiro na geração
comercial de energia elétrica.
CONCLUSÃO
A evolução da produção de energia elétrica através da biomassa
da cana-de-açúcar teve um considerável crescimento, o que ficou claro com os
estudos de casos realizados. A bioeletricidade sucroalcooleira é uma energia
renovável produzida através do eficiente processo de cogeração. É compatível
com a segurança energética ao reduzir as perdas na geração e na rede e com a
sustentabilidade ambiental por ser produzida a partir de um recurso renovável e
com elevada eficiência. Além disso, a bioeletricidade também reduz os impactos
ambientais.
É grande o interesse das empresas do setor sucroalcooleiro na
produção comercial de energia elétrica, o que foi confirmado por 68 % das usinas
pesquisadas, que apontaram como seu principal motivo a possibilidade de nova
fonte de receita para as usinas.
A participação das usinas de açúcar e álcool no PROINFA é
baixa, apenas 9 % entre as pesquisadas participam do programa. Um dos
principais motivos que desestimulou a participação do setor sucroalcooleiro no
PROINFA foi o preço oferecido pela ELETROBRÁS que estava abaixo das
expectativas do setor, porém pode-se observar que estes preços aliados a garantia
de compra da energia produzida pelo período de 20 anos garantem a remuneração
do investimento.
A comercialização de energia elétrica já é realizada atualmente
por aproximadamente 41 % das usinas pesquisadas, e a grande maioria (73 %)
afirmou que a atividade é considerada como uma oportunidade de novos negócios,
o que nos mostra a visão expansionista dos empresários.
O mercado de créditos de carbono pode ser uma oportunidade
que virá a contribuir em muito para o setor sucroalcooleiro no Brasil, não só pela
possibilidade de mais uma fonte de renda para o setor, obtida com a venda dos
Certificados de Emissões Reduzidas e a venda de bioeletricidade, como também
na melhora de sua imagem perante a opinião pública, pois com fim das queimadas
ocorrerá uma significativa contribuição para a melhoria das condições ambientais
nas regiões da cultura da cana.
Além da possibilidade de contribuição para a redução dos Gases
do Efeito Estufa, o setor sucroalcooleiro pode também contribuir para a
diversificação e descentralização da matriz energética brasileira, pois o potencial
energético disponível com o aproveitamento da biomassa é significativo e pode
tornar-se o terceiro segmento de negócios para as usinas de cana-de-açúcar.
REFERÊNCIAS
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Paulo: Atlas, 2000.
BATISTA, Fabio Rodrigo Siqueira. Estimação do Valor Incremental do Mercado
de
Carbono nos Projetos de Fontes Renováveis de Geração de Energia Elétrica no
Brasil: Uma Abordagem pela Teoria das Opções Reais. 199p. São Paulo: Bolsa de
Mercadorias & Futuros, 2007.
CASTRO, N. J.; DANTAS, G. A.; LEITE; A. L. S.; BRANDÃO; R..
Bioeletricidade e a indústria de álcool e açúcar: possibilidades e limites. Rio de
Janeiro: Synergia: GESEL, UFRJ, 2008.
LEME, R. M.; CUNHA, K. B.; WALTER, A.. Adicionalidade em projetos de
MDL e a cogeração no setor sucroalcooleiro brasileiro. Disponível em:
<http://www.feagri.unicamp.br/energia/agre2004/Fscommand/PDF/Agrener/Trab
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MENEGUELLO, Luiz Augusto (2006). O setor sucroalcooleiro e a utilização da
biomassa da cana-de-açúcar como fonte alternativa de energia. Disponível em:
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Disponível
Acessado
em:
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UNICA, União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo. Açúcar e
álcool do Brasil Commodities da Energia e do Meio Ambiente. Maio de 2004.
Disponível em: <http://www.unica.com.br>. Acesso em 15 abr. 2009.
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análise sobre a evolução da bioeletrcidade por meio da biomassa