MEDIDAS DE ENERGIA NO ENSAIO SPT Edgar Odebrecht1, M.Sc.; Marcelo M. Rocha2 Ph.D.; George de Paula Bernardes3, D.Sc.; Fernando Schnaid2, Ph.D. RESUMO O presente trabalho descreve o equipamento desenvolvido para a aquisição de sinais de força e aceleração em hastes de sondagem SPT decorrentes da aplicação de um golpe do martelo e a sub-seqüente determinação da energia transmitida à composição. Apresenta-se também um programa computacional desenvolvido em diferenças finitas que simula numericamente a propagação de ondas nas hastes de cravação. O trabalho é ilustrado com resultados de campo e de simulação numérica em ensaios realizados em hastes de comprimentos distintos. Baseados nas medidas de energia efetua-se uma análise crítica da interpretação dos resultados do ensaio SPT e conclui-se que para hastes longas a penetração é função da primeira onda de compressão, enquanto que para hastes curtas os golpes sub-seqüentes à primeira onda tem influência na cravação do amostrador. Valores de energia transferida às hastes obtidos em equipamentos de uma empresa que segue rigorosamente a norma brasileira são ligeiramente superiores aos consagradas atualmente na literatura nacional. ABSTRACT This paper presents an equipment developed to measure load and acceleration that results from each hammer impact on SPT rods and subsequent evaluating the energy transfer mechanism in SPT tests. In addition a numerical programme designed to the interpretation of the wave equation is introduced and adopted to analyze field measurements of transferred energy for two different rod length. Preliminary results indicate that transferred energy in a long rod depends solely on the first compression wave whereas for short length subsequent impacts have to be considered. Finally an observation is made that the average energy transferred in SPT tests is marginally higher that values reported in the Brazilian literature. PALAVRAS-CHAVES Investigação Geotécnica - Sondagem SPT – Fundações INTRODUÇÃO A prática da engenharia demonstra que o SPT é uma ferramenta amplamente utilizada no Brasil e em outros países da Europa, Ásia e América do Norte. Sabe-se que a grande maioria dos projetos de fundações está fundamentada nesse tipo de investigação geotécnica. Entretanto, a própria literatura aponta para inúmeras falhas e deficiências do ensaio (e.g. Schmertmann & Palacios, 1979; Belincanta, 1998). Abordagens modernas de ensaio SPT sugerem que a medida de energia no SPT é fator fundamental à transposição de experiências entre a prática desenvolvida em diferentes locais, (Seed et al., 1985; Skempton, 1986).Vários são os trabalhos publicados na literatura sobre o assunto, destacando-se os trabalhos de Schmertmann & Palacios (1979), Kovacs (1979), Kovacs et al. (1982). O Brasil também apresentou contribuições relevantes sobre o tema com os trabalhos de Belincanta (1985, 1998), porém esta técnica não foi ainda difundida na prática nacional, e há alguns questionamentos quanto à cravação do amostrador no solo e a influência do comprimento da haste no valor do Nspt. Para permitir um estudo mais aprofundado sobre o ensaio e compreender o processo de cravação do amostrador no solo, foi desenvolvido um equipamento composto de uma célula de carga e de dois acelerômetros, bem como todo o sistema de aquisição de sinais. Paralelamente foi desenvolvido um programa computacional, baseado na técnica de diferenças finitas, no qual foi implementada a equação que descreve o comportamento dinâmico das partículas de uma barra. O trabalho apresenta o equipamento desenvolvido, descreve o programa computacional, mostra resultados de ensaios de campo com a respectiva simulação numérica e efetua uma análise crítica dos resultados obtidos à luz do conhecimento atual do ensaio SPT. ABORDAGEM TEÓRICA Quando uma força é aplicada dinamicamente em uma barra elástica, há a formação de uma onda longitudinal de compressão que se propaga ao longo da barra, transmitindo a força. A equação que descreve esse fenômeno é encontrada na literatura (Timoshenko & Goodier,1970). A aplicação do problema de propagação de ondas de tensão em estacas e hastes de sondagem é abordada por diversos autores (e.g. Smith, 1960; Skov, 1982; Bernardes, 1989; Belincanta, 1985). ____________________________________________________________ 1 2 3 Prof. Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC – Aluno de doutorado da UFRGS Prof. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS Prof. Universidade Estadual de São Paulo – UNES - FEG Não é objetivo deste trabalho a apresentação detalhada das equações que descrevem matematicamente o fnômeno da propagação de uma onda, em uma haste, gerada pela ação de um golpe do martelo. As deduções completas das equações que regem o fenômeno podem ser obtidas na literatura (e.g. Caderno de Engenharia da UFRGS “Medidas de energia no ensaio do SPT”). Encontra-se também nesse caderno exemplos numéricos calculados passo a passo o que facilita a compreensão do problema. As equações essenciais à descrição da propagação de uma onda em uma barra são descritas a seguir. A Equação 1 descreve a força teórica transferida para a haste devido à ação do golpe do martelo, onde: Vo= velocidade do martelo no instante do impacto; r = Zh/Zp (Zh = impedância da haste e Zp = impedância no martelo); Z = EA/c ⇒ E=módulo de Elasticidade do aço; A = área da seção da haste “h” ou do martelo “p” e c=velocidade de propagação da onda no aço. “n” = número inteiro, dado em função do tempo decorrido após o impacto, que representa o número de vezes que a onda de tensão gerada no instante do impacto percorreu a distância de duas vezes a altura do martelo (L). 2n(L/c)<t<2(n+1)(L/c) Zh 1 − r Fhn = Vo 1+ r 1+ r n 1 A onda de compressão gerada pela ação do golpe produz uma deformação na haste que se propaga com uma determinada velocidade. A soma da energia de deformação e cinética resulta na energia total (Eri) contida na haste. Eri = Ac c σ 2 dt = F 2 dt ∫ AE ∫ E 2 Como existe uma relação direta entre força e velocidade da partícula [F = Zh v = (EA/c) v →onde v = velocidade da partícula pode-se reescrever a equação 2: 2 c EA 2 EA 2 Eri = v dt v dt = ∫ AE c c ∫ 3 ou ainda: Eri = c Ac EA FFdt = vFdt = ∫ Fvdt ∫ E ∫ c AE 4 Portanto para se obter a energia (Eri) é suficiente integrar a função de F2, Fv ou v2 no intervalo de tempo em que está compreendida a onda. Segundo as recomendações internacionais, como também a ASTM (1986) D4633-86, o intervalo de integração para o cálculo da energia é ∆t = 2l/c (onde l = comprimento da haste). Este procedimento desconsidera o efeito de golpes subseqüentes que auxiliam na cravação do amostrador, como mostrado posteriormente. No caso extremo, de hastes muito curtas, o intervalo de integração é reduzido com a conseqüente redução do valor da energia. Nesta situação a literatura, acima citada, introduz um fator de correção denominado K2. Adicionalmente o valor de Eri é corrigido pelo fator que leva em consideração a posição da instrumentação e a velocidade de propagação da onda. (K1 e Kc respectivamente). EQUIPAMENTO Para permitir a determinação da energia transferida à haste, e compreender o mecanismo de propagação da onda de compressão com a conseqüente cravação do amostrador foi desenvolvido um equipamento composto de uma célula de carga e dois acelerômetros. O sistema pode ser visualizado na Foto 1 e é composto por micro computador (1) que possui uma placa A/D (analógico/digital); um condicionadores e 1 amplificadores de sinal (6); um conjunto de baterias para alimentar o circuito e a célula de carga (3); um osciloscópio para visualização do sinal em tempo real (2); uma borneira para permitir as conexões e derivações dos 5 cabos (4) e a célula de carga (5). Os detalhes da célula de carga e da fixação dos acelerômetros podem ser conferidos Foto 1 – Equipamento. na Foto 2. 2 3 4 6 Célula de carga A célula de carga foi confeccionada em aço inoxidável martensítico de nome comercial, VC – 150, fornecido pela empresa VILLARES, cuja composição é de 0.35% de Carbono e de 13% Cromo. Após a usinagem, a peça recebeu um tratamento térmico a fim de eliminar as tensões induzidas durante o processo de usinagem. No centro da célula de carga foram colados os extensômetros formando uma ponte de Wheastone completa, sendo cada extensômetro é do tipo roseta de 90 graus (modelo PA-06-125TG-350-LEN fornecidos pela Excel Engenharia de Sensores Ltda), montados diametralmente opostos. A utilização de 8 extensômetros tem por objetivo minimizar o efeito da excentricidade, que é elevada no caso de carregamento dinâmicos em hastes de sondagem. 30cm 3,34cm Foto 02 A – Célula de Carga Foto 02 B – Detalhe Extensômetros Foto 02 C – Detalhe Acelerômetros Foto 2 – Célula de carga com detalhes dos extensômetros e dos acelerômetros. Acelerômetros O acelerômetro deve suportar as acelerações geradas pela passagem da onda que são da ordem 5,0 kG. O acelerômetro escolhido foi o da marca Brüel & Kjaer, modelo 4375S, indicado para as altas freqüências, com uma faixa de variação de 100µG até 10kG para condições de trabalho. O projeto contempla a utilização de dois acelerômetros instalados diametralmente opostos na hastes do SPT. A utilização de dois acelerômetros é indicada devido a uma eventual excentricidade do golpe, que por vezes faz como que um dos sinais, ou ambos, seja prejudicado, e eliminado. A Foto 2 C apresenta o detalhe de fixação dos acelerômetros. Amplificador e Condicionador de Sinal da Célula de Carga A velocidade de propagação da onda na haste de sondagem é de 5120m/s. Dependendo do comprimento da haste, o tempo necessário para que a onda alcance o amostrador e retorne pode variar de 4 a 10 milisegundos. Para que a curva adquirida tenha uma definição aceitável, ela tem no mínimo 40 pontos. Nesse caso a taxa de amostragem, para um evento de 4ms, é de 10kHz, entretanto, taxas de aquisição maiores são desejadas. O condicionador e o amplificador deverão ser capazes de operar com estas freqüências. Do condicionador, o sinal é enviado a uma placa A/D que permite o registro do sinal em um micro computador ou para um osciloscópio que permite a visualização do sinal em tempo real. O circuito desenvolvido tem como fonte de alimentação duas baterias de 12 volts e 1,2 ampére por hora ligadas em simetria. Um circuito regulador filtra e estabiliza a tensão em 8 volts alimentando a ponte de Wheastone. O sinal de retorno da ponte, em milivolts, é amplificado cerca de 1200 vezes. Este sinal é então visualizado no osciloscópio e registrado no micro computador do tipo “Notebook”, para processamentos futuros. Amplificador e Condicionador de Sinal dos Acelerômetros Os acelerômetros utilizados, cuja especificação está indicada acima são, do tipo peizoelétricos. O sinal de carga elétrico gerado com o acelerômetro 4372S para uma solicitação de aproximadamente 5000 G pode chegar a 25V e para ser registrado em um microcomputador, deve ser deamplidicado. O fator de deamplificação é que indicará a escala de trabalho do acelerômetro. A fornecedora dos acelerômetros Brüel & Kjaer fornecem amplificadores a um custo elevadíssimo com uma grande gama de escalas permitindo amplificar e deamplificar o sinal de carga dos acelerômetros. No presente trabalho foi desenvolvido um circuito de deamplificação específico para os acelerômetros utilizados. Cartão Analógico Digital O sinal condicionado e devidamente amplificado é adquirido no micro computador através de um cartão analógico digital. A placa adquirida é uma PCM-DAS-16D/16, da ComputerBoard. Esta Placa permite a aquisição de sinais com uma taxa de aquisição de até 300kHz. A taxa de aquisição utilizada é de 16kHz e pode ser facilmente alterada via o programa de aquisição de sinal. Programa de Aquisição de Sinal Para a aquisição de sinal foi elaborado em programa de micro computador utilizado o software da Herwal Packer denominado de HPVEE versão 5.1. MODELAGEM NUMÉRICA Com o objetivo de investigar o comportamento da onda de tensão que percorre a haste de sondagem devido à ação do golpe do martelo foi implementado um programa de micro computador. O programa desenvolvido inicialmente por Rocha (1989), foi adaptado no presente trabalho para a situação unidimensional e acrescido de uma barra para simular o martelo. Esta barra (martelo) desloca-se ao longo do tempo, pela ação da gravidade, até atingir a haste dando início a todo o processo de cravação do amostrador. O programa foi desenvolvido em diferenças finitas e implementado em linguagem FORTRAN. Considera-se uma grande vantagem do programa a possibilidade de se conhecer a qualquer instante e em qualquer ponto da haste ou do martelo os valores de força, aceleração, velocidade e deslocamento. Desenvolvimento Teórico Seja um ponto de massa “m” sujeito a uma solicitação dinâmica, em um instante t qualquer; aplicando-se o princípio de D’Alembert obtém-se a equação de equilíbrio dinâmico deste ponto: f I (t ) + f D (t ) + f S (t ) = f (t ) 5 onde fI é a força inercial da massa, fD é a força de amortecimento dinâmico e fS é a força elástica. Cada uma das forças representadas na parte esquerda da equação 5, são função do deslocamento da partícula u(t) ou de suas derivada • •• no tempo, v(t ) = u (t ) e a (t ) = u (t ). De acordo com a segunda lei de Newton a força inercial é o produto da massa e aceleração. •• f I (t ) = m u (t ) 6 A força de amortecimento dinâmico é dada pelo produto do coeficiente de amortecimento dinâmico (k) pela velocidade do ponto. • f D = k u (t ) 7 Finalmente a força elástica é obtida a partir da deformação de cada barra. Substituindo as equações 6 e 7 em 5 tem-se: •• • m u (t ) + k u (t ) = f (t ) − f S (t ) 8 A equação 8 pode ser resolvida numericamente através do método de diferenças finitas. Para tanto, faz-se necessário discretizar a haste e o martelo em segmentos cujas massas (mi) estão idealmente concentradas em pontos sucessivos, conforme indicado na Figura 1. MARTELO Vo Reação (R) r : : 4 3 A EAM Q Ru J V B 2 i=1 mi j=1 mj Ru 2 O 3 4 : : HASTE C Deformação EAH ∆ : : R Recalque Deformação permanente Constante de mola K' Damping (J) s R A) B) Figura 1 – A) Discretização da haste e do martelo; B) Modelo de Smith. Discretização Por conveniência de implementação do programa, a força elástica é determinada internamente a cada passo de iteração. O coeficiente de mola é obtido pelo produto do módulo de elasticidade pela área da seção da haste. Modelo Constitutivo do Segmento das Hastes A força fS(t) é determinada a partir da deformação de cada barra. A equação 9 descreve a lei que determina a força elástica f S = EAε = EA −0 ∆ = EA 0 9 Condição de Contorno no Contato entre o Martelo e a Haste A barra que representa o martelo, após dado o início ao programa, cai em queda livre até que o ponto inferior que discretiza o martelo ultrapasse o ponto superior que discretiza a haste. Nesse instante o programa implementado efetua a média das posições destes dois pontos e atualiza a posição destes pontos com este valor médio calculado. É também determinado o momentum gerado pelo choque, a partir dele calculado a deformação correspondente e aplicado igualmente na haste e no martelo. Esta deformação imposta desta forma gera tanto na extremidade inferior do martelo como na extremidade superior da haste a força que dará origem a onda de força que percorre a haste e o martelo. Observa-se que o choque entre o martelo e a haste é considerado perfeito, não sendo introduzido nenhum tipo de perda. Modelo de Smith A extremidade inferior da haste receberá uma força de reação do solo (R) conforme indicado na Figura 1. Esta força é determinada com base no modelo de Smith original, onde as propriedades do solo são representadas pela resistência última (Ru); deformação elástica denominada de “quake” (Q) e “damping” (J). RESULTADOS A Figura 2 apresenta o resultado de sinais de força obtidos com o equipamento apresentado. Em negrito e linha contínua é apresentado o sinal de força obtido pela célula de carga. Em linha contínua e fina é apresentado o sinal de força obtido pela multiplicação da velocidade pela impedância da haste (F = v Zh). Neste caso a velocidade foi obtida pela integração do valor médio dos sinais dos acelerômetros. Adicionalmente apresenta-se a curva resultante da equação 1 para uma haste de comprimento infinito (linha tracejada e em negrito). Observa-se que para este caso, haste longa, a curva obtida com a equação 1 é idêntica à obtida com o auxílio da instrumentação e se matem paralela até valores de força pequenos, ou seja, quase toda a energia contida no martelo é transferida para a haste. A Figura 3 apresenta o sinal de força adquirido pela célula de carga e os dois sinais de força obtidos a partir dos registros dos acelerômetros (F = v Zh onde v é obtido através da integração do sinal de aceleração) para uma haste de 12m. Observa-se, neste caso, que decorrido o tempo 2l/c o sinal de força registrado deixa de ser paralelo ao da equação 01. Conforme preconiza a literatura, para o cálculo da energia, a integração da equação 2, 3 ou 4 dar-se-ia até este ponto. Entretanto, observa-se um golpe secundário que se inicia decorridos aproximadamente 0.015 segundos. Este segundo golpe é idêntico ao primeiro, mas de menor intensidade, possuindo, com tudo, valores representativos que devem ser computados no cálculo da energia transferida à haste. Estudos efetuados tem demonstrado que o intervalo de tempo entre o término do primeiro golpe e o início do segundo é função da resistência do solo. Quanto menor a resistência do solo maior é o tempo de cravação do amostrador (deslocamento no sentido descendente) e conseqüentemente, maior será o necessário para que o martelo volte a entrar em contato com a haste. 70.00 FORÇA EQUAÇÃO 01 60.00 50.00 For a (kN) 40.00 SINAL DE FORÇA 30.00 FORÇA = V Zh 20.00 10.00 0.00 -10.00 -20.00 -30.00 0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 Tempo (seg) Figura 2 – Sinal real de um ensaio de SPT em uma haste de 28m. 0.025 0.030 0.035 0.040 PRIMEIRO GOLPE 70.00 FORÇA = V Zh ACELERÔMETRO 1 ACELERÔMETRO 2 60.00 For a (kN) 50.00 FORÇA EQUAÇÃO 01 40.00 SEGUNDO GOLPE 30.00 SINLA DE FORÇA 20.00 TERCEIRO GOLPE 10.00 0.00 -10.00 0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 0.025 0.030 0.035 0.040 Tempo (seg) Figura 3 – Sinal de real de um ensaio de SPT em uma haste de 12m. Na Figura 4 apresenta-se o mesmo sinal da Figura 3, entretanto, eliminando-se os intervalos de tempo entre os golpes. Adicionalmente é apresentado o gráfico gerado pela equação 1. O resultado desta operação para o sinal de força da haste de 12m correspondente ao resultado de uma haste longa (Figura 2). Portanto, o intervalo de tempo de integração, para o cálculo da energia, deve ser tal que considera os golpes subseqüentes em desacordo com a ASTM (1986) D4633-86 e ao procedimento internacional (ISSMFE 1989). Aoki & Cintra (2000) também concluíram, entretanto de forma analítica através da aplicação do princípio de Hamilton, que a definição da eficiência de energia atualmente preconizada pela recomendação internacional para o SPT não está correta. Os citados autores recomendam uma nova definição de eficiência para o SPT e esta deve estar relacionada com o trabalho efetivamente realizado para a penetração permanente do amostrador. Estudos experimentais estão sendo realizados neste sentido pelos autores do presente trabalho. A Figura 5 (A) apresenta novamente o sinal da Figura 3 onde é apresentado de forma sobreposta o resultado da simulação numérica efetuada com a metodologia e programa desenvolvido. A Figura 5 (B) apresenta a trajetória da parte inferior do martelo e da parte superior da cabeça de bater. Nesta figura é possível verificar os instantes em que o martelo esteve em contado com a haste transferindo energia. Observa-se nitidamente que o segundo golpe auxilia na cravação do amostrador. Chama-se a atenção que durante o segundo e parte do terceiro golpe o martelo e a haste estão em movimento descendente. Portanto, estes golpes sub-seqüentes não pode ser confundido com o que normalmente é visualizado em campo e denominado de ricochete, onde o martelo visualmente tem um movimento de subida e volta a cair sobre a haste. Neste caso o golpe decorrente do ricochete não contribui para a cravação do amostrador. Este fenômeno pode ser visualizado na Figura 5 (B) a partir do tempo 0,030 segundos. Destaca-se que não é possível visualizar em campo os intervalos em que o martelo não esteve em contato com haste a não ser quando se refere ao ricochete. Observa-se também na Figura 5(A) a resposta numérica decorrente da presença das luvas. Esta resposta pode também ser observada no sinal real. 70.00 60.00 PRIMEIRO GOLPE For a (kN) 50.00 SEGUNDO GOLPE 40.00 30.00 20.00 FORÇA EQUAÇÃO 01 TERCEIRO GOLPE 10.00 0.00 -10.00 0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 0.025 0.030 0.035 0.040 Tempo (seg) Figura 04 – Sinal de Força da Figura 03 retirando-se os intervalos de tempo entre o primeiro e segundo golpe e entre o segundo e terceiro golpe. A Figura 5 (C) apresenta o resultado da dupla integração dos sinais de aceleração (deslocamento) e o resultado do deslocamento da cabeça de bater obtido através da simulação numérica. Os autores salientam que a simulação de deslocamento apresentada é a melhor de uma série e ensaios efetuados indicados que pode haver limitações para o modelo de Smith adotado nas simulações. 70.00 RESPOSTA DA PRESENÇA DAS LUVAS 60.00 For a (kN) 50.00 40.00 SINAL DE FORÇA REAL 30.00 SINAL DE FORÇA SIMULAÇÃO NUMÉRICA 20.00 10.00 0.00 -10.00 Cota da cabe a de bater (m) Cota da Cabe a de bater (m) 0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 0.025 0.030 0.035 0.040 0.035 0.040 Tempo (seg) - (A) 12.005 12.000 TRAJETÓRIA DO MARTELO 11.995 TRAJETÓRIA DA CABEÇA DE BATER 11.990 11.985 11.980 0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 0.025 0.030 Tempo (seg) - (B) 12.000 11.995 11.990 SIMULAÇÃO NUMÉRICA 11.985 ENSAIO REAL 11.980 11.975 0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 0.025 0.030 0.035 0.040 Tempo (seg) - (C) Figura 05 – Resultado da Simulação Numérica. As Tabelas 2 e 3 apresentam os valores de energia transferidos à haste obtidos para os sinais das Figuras 2 e 3 respectivamente. Estes resultados são dados isolados e não podem ser considerados como valores médios, entretanto, os mesmos apontam para valores de energias maiores dos preconizados usualmente na literatura brasileira. Este fato pode ser comprovado visualmente nas Figuras 2 e 3 onde o resultado da equação 1 está muito próximo do sinal real. Estes sinais foram obtidos com equipamento da Geoforma Engenharia que está rigorosamente de acordo com a norma brasileira, ou seja, martelo tipo pino guia com coxim de madeira, cabo de sisal, cabeça de bater com 3,6kg, haste com 3,23kg/m. Observa-se no equipamento citado que a roldana, localizada no alto do tripé de sondagem, possui dois rolamentos ao invés de mancal ou de um simples apoio sobre o eixo, implicando em uma redução representativa do atrito entre o eixo e a roldana. E* = energia potencial nominal do martelo padrão de 65 kg caindo de uma altura de 75 cm (E*=474J segundo IRTP/ISSMFE; ER = eficiência de energia transferida à haste (ER=Er/E*); ERcor = eficiência de energia transferida à haste corrigida pelos coeficientes K1 e K2. Tabela 2 – Cálculo de energia para a haste de 28m Equação K1 K2 E* (J) 2 → Er=f(F2) 3 → Er=f(v2) 4 → Er=f(Fv) 1,000 1,003 474 Intervalo de integração De 0 até 2l/c Er (J) ER(%) ER cor (%) 370 77 77 474 89 89 412 86 86 Intervalo de integraçao De 0 até infinito Er (J) ER (%) - Intervalo de integração De 0 até 2l/c ER (%) ER cor (%) Er (J) 357 74 78 341 71 79 342 71 79 Intervalo de integraçao De 0 até infinito Er (J) ER (%) 450 94 398 83 400 84 Tabela 3 – Cálculo de energia para a haste de 12m Equação K1 K2 E* (J) 2 → Er=f(F2) 3 → Er=f(v2) 4 → Er=f(Fv) 1,003 1,101 474 CONCLUSÕES O equipamento e softwares desenvolvidos e apresentados demonstram o domínio tecnológico alcançado e com poucas modificações será possível utilizá-lo para ensaios de integridade e de carregamento dinâmico em estacas. Além de facilidades para o desenvolvimento de outros ensaios tais como o cone sísmico e cross hole. Devido ser o sistema totalmente aberto os sinais obtidos são armazenados em arquivos ASC-II podendo ser facilmente manipulados e intercambiados em programas de uso comercial tais como o ECXEL ou ainda servirem de arquivos de dados para outros programas. Este fato permite ainda que o sinal seja filtrado numericamente através de programas específicos. O programa de micro computador que simula numericamente a propagação da onda através da haste devido à aplicação de um golpe do martelo apresentou resultados satisfatórios na simulação de ensaios reais. Através do uso do programa foi possível verificar que para hastes curtas os golpes subseqüentes à primeira onda de compressão são importantes na cravação do amostrador e devem ser considerados no cálculo da energia transferida à haste, ou seja, a integração da equação 2, 3 ou 4 deverá ser efetuada no intervalo de tempo de zero até o infinito. Os valores de energia computados apontam para valores ligeiramente superiores aos preconizados na literatura. O cálculo da energia deve ser revisto no que diz respeito ao intervalo de integração e na utilização coeficientes K1 e K2. Para hastes curtas os golpes subseqüentes do martelo são importantes na cravação do amostrador. AGRADECIMENTOS A equipe técnica agradece ao CNPq pelos recursos conferidos pelo projeto de pesquisa 46.1373/00-9; ao PICD pela bolsa de capacitação de docente ao nível de doutorado do Prof. Edgar Odebrecht; ao Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEC - UFRGS) pelo apoio financeiro; a Universidade Estadual do Estado de Santa Catarina – UDESC e a Geoforma Engenharia pelo apoio financeiro e na realização dos ensaios. BIBLOGRAFIA • ABNT (1980) Execução de sondagens de simples reconhecimento dos solos. NBR 6484/80. • AOKI, N.; CINTRA, J.C.A. 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